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Introdução a Economia I

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Introdução à Economia I 
Ano lectivo de 2020 
Licenciaturas em Economia e Gestão de Empresas 
Introdução: A Ciência Económica 
1 
 
 
A constituição da economia como um corpo próprio sistematizado não começou há 
muito tempo já que os primeiros contributos principais são posteriores à primeira 
metade do séc. XVIII. 
 
Na apresentação de uma disciplina científica – neste caso a Economia – é necessário 
saber identificar o seu objecto de estudo e provar que o seu método de estudo lhe 
confere o carácter de ciência. A economia é uma ciência1 que tem um método e objecto 
próprios, tal como é exigido às restantes ciências. 
 
Mas, a economia não é uma ciência exacta porque, por exemplo, não se pode prever 
com precisão o rendimento nacional do próximo ano – tal como os meteorologistas não 
podem prever o estado do tempo da próxima semana com tanta precisão como o fazem 
para depois de amanhã. Nenhuma empresa é tão imprudente que consulte astrólogos em 
vez de especialistas em econometria e tente adivinhar atirando moeda ao ar. Neste 
capítulo irão ser analisados objecto e o método de estudo da ciência económica. 
 
A economia estuda certos aspectos da actividade humana, certas relações entre Homens, 
tendo por fim a satisfação das necessidades, sobretudo as materiais. E como se define o 
termo necessidades? 
 
Muitas vezes cada indivíduo sente o desejo de dispor de um meio capaz de fazer 
desaparecer uma sensação desagradável ou de manter ou aumentar uma sensação 
agradável. Diz-se que esse desejo é uma NECESSIDADE. Necessidade é, portanto, um 
estado de insatisfação ou carência. 
 
 
1 Ciência – actividade de produção de conhecimento. É uma actividade bem identificável nas 
sociedades modernas por estarem relacionadas com instituições (universidades, laboratórios,...), 
investimentos e progressos técnicos que, desde a revolução industrial do séc XIX, transformaram a vida 
quotidiana de cada cidadão. 
 
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É importante referir que uma necessidade nada tem a ver com o facto de ser moralmente 
desejável. Ela apenas se analisa sob uma perspectiva económica. 
 
Classificação das necessidades: 
 
1. Quanto à sua importância 
2. Quanto ao seu custo 
3. Quanto ao número de pessoas que as sentem 
 
1. Quanto à sua importância as necessidades dividem-se em necessidades 
primárias e necessidades secundárias – Todas as pessoas fazem uma 
escolha dos produtos a comprar, tendo em atenção as necessidades que 
sentem. Naturalmente, irão satisfazer em primeiro lugar as necessidades 
ligadas à sua sobrevivência – alimentação, saúde, habitação, etc. – e só 
depois aquelas que se relacionam mais com a qualidade da sua vida – 
transporte, vestuário, cultura, etc. – e que não apresentam a mesma urgência 
que as primeiras na sua satisfação. Pode-se dizer que as necessidades de 
alimentação, saúde, habitação são necessidades primárias, isto é, é necessário 
satisfazê-las com prioridade. As necessidades de transporte, vestuário e 
cultura são necessidades secundárias pois a sua não satisfação não ameaça de 
imediato a vida das pessoas. 
 
2. Quanto ao seu custo as necessidades dividem-se em necessidades 
económicas e não económicas – Por exemplo, a necessidade de respiração 
não exige o dispêndio de qualquer quantidade de moeda ou de outra riqueza 
para ser satisfeita, porque o ar atmosférico existe na natureza em quantidades 
ilimitadas. Diz-se, neste caso, que se trata de uma necessidade não 
económica. Ao contrário, com a necessidade de alimentação o consumidor 
vê-se obrigado a despender moeda ou outra riqueza, ou ainda a trabalhar, no 
sentido de obter os bens que necessita para se alimentar, já que estes bens 
são normalmente escassos. Diz-se então que se trata de uma necessidade 
económica. 
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3. Quanto ao número de pessoas que as sentem as necessidades dividem-se 
em necessidades individuais e colectivas – Cada indivíduo tem 
necessidades próprias sendo impossível reunir pessoas que sintam 
exactamente as mesmas necessidades. Tal facto é consequência da natureza 
subjectiva dos indivíduos. No entanto, apesar de cada indivíduo sentir 
necessidades próprias, o facto de viver em conjunto com outros indivíduos 
faz com que se reflictam os anseios e as necessidades dos grupos em que se 
encontram integrados (do seu sector sócio-profissional, do seu bairro, do seu 
país…). As necessidades individuais são aquelas que dizem respeito à 
própria pessoa enquanto considerada isoladamente. As necessidades 
colectivas são aquelas que atingem a comunidade e resultam da vida social – 
necessidade de segurança, justiça, de comunicação, etc. 
 
Muito embora todas as pessoas experimentem necessidades, nem todas se sentem em 
igual número. Isto porque as necessidades se relacionam com as condições de vida, com 
a sua distribuição geográfica (zonas rurais ou zonas urbanas), com o seu 
desenvolvimento cultural, etc. 
 
Além disso, os indivíduos sentem necessidades diferentes consoante a época histórica 
em que vivem. A posse de certos bens como a televisão, o telefone e a utilização de 
outros com as auto-estradas são necessidades próprias de uma época que se vêm 
acrescentar às necessidades sentidas noutras épocas mais recuadas. Os meios de 
comunicação em geral, e em especial a publicidade por eles veiculada, através dos 
efeitos de imitação, vieram acelerar o processo de criação e de difusão de cada vez mais 
necessidades. 
 
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NA VERDADE, CADA INDIVÍDUO SENTE UM NÚMERO CADA VEZ 
MAIOR DE NECESSIDADES. DAÍ ELAS SEREM ILIMITADAS2. 
 
Os meios capazes de satisfazer as necessidades designam-se genericamente de BENS. 
Nem sempre as necessidades são satisfeitas pela utilização directa de bens materiais. 
Efectivamente a satisfação de algumas necessidades é conseguida através do exercício 
de determinadas funções, isto é, através de SERVIÇOS. 
 
Assim, por exemplo a necessidade de alimentação é satisfeita com a ingestão de 
alimentos – bens materiais – em certas doses ou quantidades que façam desaparecer a 
sensação desagradável de fome. Mas, perante um estado de doença, recorre-se a um 
médico que presta um serviço, diagnosticando a doença e receitando os medicamentos a 
utilizar para a sua cura. 
 
Tal como as necessidades também os bens ou serviços podem ser classificados da 
seguinte forma: 
 
Classificação de bens: 
 
1. Bens livres 
2. Bens económicos 
2.1 Quanto à sua duração 
2.2 Quanto à sua função 
2.3 Quanto às suas relações recíprocas 
 
1 Bens livres – bens que existem em quantidades superiores às 
necessárias para a satisfação de todas as carências desses bens pelo 
 
2 Mas ao se reconhecer que as necessidades são verdadeiramente em número e natureza ilimitada 
isso não significa que “o homem” quando tomado individualmente tenha de consumir quantidades 
ilimitadas para ficar satisfeito. Em geral, a partir de certa quantidade consumida, a satisfação que resulta 
do consumo de quantidades adicionais vai diminuindo, ao ponto de, a partir de certo consumo, se atingir a 
saturação e, a partir daí, a satisfação que se associa a essas quantidades adicionais passa a constituir um 
verdadeiro sacrifício. 
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Homem. A estes bens não é atribuída utilidade económica3. Isto 
significa que qualquer indivíduo os pode adquirir e utilizar sem ter de 
entregar moeda ou trabalho em troca. Exemplo: ar atmosférico, água 
do mar, gelo nas regiões polares, pastagens em regiões húmidas e 
pouco povoadas.2 Bens económicos – a maioria dos bens existe na Natureza em 
quantidades limitadas, sendo por isso escassos. A escassez dos bens 
resulta da diferença entre a quantidade necessária e a quantidade 
existente desse bem. São os bens económicos já que o indivíduo para 
os poder adquirir e utilizar tem que entregar moeda ou trabalho em 
troca. 
2.1 Quanto à sua duração – bens duradouros são aqueles que são 
utilizados por diversas vezes – vestuário, máquinas, etc. – os bens 
não duradouros são aqueles que são só utilizados por uma vez – 
pão, gasolina, medicamentos, etc. 
2.2 Quanto à sua função – Bens de consumo que são os que 
satisfazem directamente as necessidades – alimentos, calçado, 
casas; e os bens de produção que são aqueles que são utilizados 
na obtenção de outros bens – máquinas, combustíveis, madeiras, 
etc. 
2.3 Quanto às suas relações recíprocas – bens substituíveis ou bens 
substitutos são os que podem ser substituídos por outros bens na 
sua utilização, satisfazendo a mesma necessidade – óleo de 
girassol pelo óleo de milho, café pela cevada torrada, etc. – bens 
complementares são aqueles que exigem outro bem para que a 
sua utilização conjunta satisfaça determinada necessidade – 
automóvel e a estrada, sabão e a água. 
 
 
3 Um bem útil é o bem susceptível de satisfazer uma necessidade. Utilidade é uma qualidade dos 
bens materiais e serviços. 
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OPONDO-SE À CARACTERÍSTICA ILIMITADA DAS NECESSIDADES 
EXISTE A ESCASSEZ, OU SEJA, OS BENS DISPONÍVEIS PARA 
SATISFAZER AS NECESSIADES ILIMITADAS SÃO ESCASSOS. 
 
Os bens e serviços, ou seja, os recursos naturais e os meios de produção, existem em 
quantidade limitada e esta escassez implica a impossibilidade de estes bens e serviços 
disponíveis satisfazerem as necessidades presentes. 
 
Mas, não se pense que uma relativa abundância de factores de produção, trabalho 
humano e recursos naturais, significa uma prosperidade para a sociedade que os possui. 
A existência de maiores quantidades daqueles factores de produção não significa 
necessariamente menor desequilíbrio entre as necessidades e a sua satisfação. A 
realidade de alguns países subdesenvolvidos é a este propósito bem elucidativa. Outro 
exemplo é o facto de, na época actual, serem os países mais industrializados – Europa, 
Canadá, EUA – que exportam os produtos primários (agricultura e pecuária). 
 
Além disso, a organização económica dos países assume um papel importante na 
redução do desequilíbrio entre as necessidades ilimitadas e os meios da sua satisfação 
que existem em quantidades limitadas. Como exemplo positivo estão os NIC – New 
Industrialized Countries – e, como negativo alguns países da América Latina e África. 
 
SÓ EXISTE PROBLEMA ECONÓMICO QUANDO EXISTE ESCASSEZ E 
CONSEQUENTEMENTE ESCOLHA 
 
Se pudessem ser produzidas infinitas quantidades de qualquer bem ou se as 
necessidades humanas pudessem ser totalmente satisfeitas, não haveria necessidade de 
preocupação com o uso eficiente dos recursos humanos e dos factores de produção. Não 
haveria necessidade de se economizar no consumo ou de existirem preocupações com a 
repartição do rendimento e a economia deixaria de ser uma ciência vital. 
 
Daqui decorre o principalmente problema em Economia, ou seja, qualquer problema 
económico resume-se a uma destas perguntas: 
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QUE PRODUZIR? 
COMO PRODUZIR? 
PARA QUEM PRODUZIR? 
 
O que determina a produção dos bens numa economia? A afectação dos recursos 
escassos entre os usos alternativos (brevemente designada afectação de recursos) 
determina as quantidades destes bens. Importa por isso realçar que a escolha de 
produção de uma dada combinação de bens significa a escolha de uma afectação 
particular de recursos entre as indústrias e regiões que produzem bens. Deve também 
notar-se que os recursos escassos devem ser utilizados eficientemente. Em 
consequência, a escolha dos métodos de produção disponíveis constitui uma questão 
relevante. Isto levanta o problema de como é que os bens são produzidos. Os métodos 
de produção utilizados são eficientes ou ineficientes? Põe-se igualmente o problema de 
se saber a relação entre a produção e o consumo de bens pelos cidadãos da sociedade. 
Os economistas procuram compreender o que determina a distribuição da produção 
nacional entre as pessoas. Quem obtém muito, quem obtém pouco e porquê? 
Consumirão as pessoas exactamente o que se produz? Ou será que as trocas 
internacionais conduzem ao consumo de uma combinação de bens diferente? Ou seja, a 
resposta a estas perguntas define o OBJECTO DE ESTUDO da economia. 
 
ECONOMIA 
É A CIÊNCIA QUE ESTUDA COMO AS PESSOAS E A SOCIEDADE 
ESCOLHEM O EMPREGO DE RECURSOS ESCASSOS, QUE PODEM TER 
USOS ALTERNATIVOS, DE FORMA A PRODUZIR VÁRIOS BENS E 
DISTRIBUÍ-LOS PARA CONSUMO, AGORA E NO FUTURO, ENTRE AS 
VÁRIAS PESSOAS E GRUPOS NA SOCIEDADE. 
 
Na verdade, a produção, é certamente das mais importantes actividades humanas pois 
permite a obtenção de bens e serviços necessários à satisfação das necessidades. Apesar 
de existirem na Natureza muitos bens em forma directamente consumíveis pelo 
indivíduos – os bens primários como a fruta, legumes, etc. – existem inúmeros bens que 
não podem ser consumidos na sua forma original, ou seja, só a sua transformação 
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permite a sua utilização – petróleo, cobre, ferro, etc. Os Homens vão agir na produção, 
nas trocas e no consumo, vão criar pelo seu comportamento, espontâneo ou não, as 
instituições económicas e também políticas que melhor podem ter em conta os seus 
interesses individuais e de grupo. 
 
 
EXISTÊNCIA DE UM VASTO CAMPO DE DISCUSSÃO, DE OBSERVAÇÃO E 
INTERPRETAÇÃO, E DE RESPOSTAS DIFÍCEIS (MAS FELIZMENTE NÃO 
IMPOSSÍVEIS) ÀS ALTERNATIVAS POSSÍVEIS DE ACÇÃO E DECISÃO. 
 
Os mesmos problemas económicos podem ser vistos de forma bastante diferente pelos 
agentes sociais directamente interessados nas diferentes soluções e também pelos 
próprios economistas. A apreensão do “objecto” por diferentes “sujeitos” não conduz 
nas ciências sociais à ausência de ambiguidades, antes pelo contrário, aquilo por que os 
agentes económicos se interessam depende da sua posição como agentes económicos. 
 
EXEMPLO: 
Face a uma hipótese de desvalorização da moeda nacional4, os economistas quando 
questionados acerca da necessidade da referida desvalorização, têm opiniões 
divergentes: 
1. Os favoráveis advogam o facto de a não desvalorização implicar o 
aumento dos preços das exportações logo, redução do volume 
exportado e assim do emprego; 
2. Os não favoráveis consideram a desvalorização como um “desbotar” 
da bandeira nacional – preconceito ideológico. Entendiam que a não 
desvalorização não prejudicaria as exportações e, que a ser feita, 
apenas provocaria a subida do preço das importações o que teria 
 
4 É normal quando existe inflação num país existir desvalorização da moeda, para assim garantir 
a competitividade. 
Desvalorização define-se como a redução do preço oficial da moeda de um país em relação a 
moedas de outros países ou em termos de ouro – é necessária menos moeda estrangeira para a mesma 
moeda nacional, isto é, é necessária mais moeda nacional para a mesma moeda estrangeira. A 
desvalorização implica o aumento das exportações e consequente aumento de competitividade. Por outro 
lado, implica um aumento do preço das importações e consequente redução de emprego. 
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efeitos prejudiciais na taxa de inflação.E posteriormente as medidas de 
política económica conducentes à diminuição da taxa de inflação 
teriam efeitos nefastos no emprego. 
 
Além disso, os economistas são acusados de serem indecisos. Em particular, o brilhante 
John Maynard Keynes foi acusado de ter opiniões voláteis. Quando uma comissão real 
questionou cinco economistas sobre uma questão, disse-se que tinha obtido seis 
respostas – duas de Mr. Keynes. O próprio Keynes não se arrependia nada quando 
questionado sobre o assunto. Ele dizia. “Se a minha informação se altera, altero a minha 
opinião. O que faria você?”. Ele não queria ser como um relógio parado que está certo 
apenas duas vezes por dia. 
 
Daqui resulta que a tarefa do economista é a de inventariar, não só os argumentos 
expostos, mas também os que deveriam sê-lo por direito próprio. A regra de ouro é 
inventariar as questões e não ter medo do que logicamente se ousa admitir, ou seja, 
inventariar – conseguir compreender todas as questões sobre um assunto – 
independentemente de onde o inventário que cada um possui o possa levar. 
 
Até aqui ficou claro que: 
1. A “economia” depara-se com um vasto campo de discussão, de 
observação e interpretação, e de respostas difíceis – mas felizmente 
não impossíveis – às alternativas possíveis de decisão e acção; 
2. Uma característica incontestável com a qual sempre cada um se 
depara, é a da “escassez” das coisas e serviços, de nada adiantando 
ignorar tal realidade. 
 
O economista procura descobrir leis objectivas que expliquem os factos pelos quais se 
interessa. Nessa procura de leis deve aplicar um método de investigação científica que 
tem uma natureza indutiva-dedutiva. O MÉTODO da ciência económica é um 
MÉTODO DE NATUREZA INDUTIVA-DEDUTIVA. 
 
Existem TRÊS FASES A DISTINGUIR no método da ciência económica: 
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1. Observação; 
2. Indução; 
3. Dedução 
 
 
 
OBSERVAÇÃO: 
A observação é uma das maiores fontes de conhecimento económico. Nesta fase o 
economista deverá proceder à investigação de toda a informação disponível sobre os 
factos sociais que lhe possam interessar, devendo sistematizar essa informação. 
 
A informação disponível é a matéria-prima de cada economista já que é nela que cada 
um terá de se basear. As leis económicas são fundamentadas na observação. O 
economista depende da organização de informação, sobretudo a de natureza 
quantificada (a que dá origem a números). 
 
É importante salientar que os factos não são independentes dos valores de cada 
indivíduo. A moral, a maneira de cada um encarar o mundo, leva a escolher certos 
factos em detrimento de outros. 
 
Os próprios factos quando surgem como informação quantificada já revelam o interesse 
antecedente na sua escolha. Mas, ainda assim uma das maiores fontes de conhecimento 
é a observação dos assuntos económicos. O interesse perfeito da actividade económica 
baseia-se no uso de dados económicos e na análise estatística. Os governos e as 
empresas publicam inúmeros dados que podem ajudar a analisar quantitativamente o 
comportamento económico. 
 
Enquanto o tratamento dessa informação exige técnicas avançadas de probabilidades e 
econometria, a compreensão dos resultados exige apenas a leitura atenta e bom senso. 
 
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No entanto, a subjectividade que cada um leva para o estudo do mundo é um obstáculo 
que se deve ter em conta. Pessoas que vivem no mesmo planeta podem ter percepções 
económicas fundamentalmente diferentes. 
 
INDUÇÃO: 
Através da abstracção, e tendo em conta o objecto de estudo, deve-se procurar 
interpretar as observações anteriormente feitas. Ou seja, o economista deve elaborar 
hipóteses que fundamentem as relações de causalidade e cuja verificação depende 
sobretudo da comparação com factos sociais idênticos. As hipóteses propostas devem 
estar de acordo com as leis estabelecidas e com as observações que dispõe. 
 
Utiliza-se, desta forma o processo indutivo já que se observa o problema de uma forma 
quantitativa e qualitativa de modo a formular hipóteses. 
INDUÇÃO inclui: 
1. Análise económica quantitativa e qualitativa dos dados disponíveis; 
2. Abstracção durante o processo de formulação das hipóteses; 
3. Comparação com acontecimentos idênticos. 
 
DEDUÇÃO: 
Os resultados, ou seja, as conclusões conseguidas através das hipóteses devem ser 
confrontados não só com as observações conhecidas sobre os mesmos fenómenos mas 
também com as leis já existentes (realidade). Trata-se de um processo dedutivo. 
 
O facto de as leis obtidas por hipótese estarem sempre dependentes do confronto com a 
experiência diz-se que têm um carácter probabilístico ou transitório. Isto significa que a 
teoria elaborada através do processo dedutivo e a partir de hipóteses formuladas pode ou 
não se verdadeira. Quando confrontada com a realidade a teoria pode ser rejeitada, isto 
porque a realidade é algo mais dilatado do que os dados de que estão inicialmente à 
disposição, quando a teoria foi formulada. 
 
Esse confronto com a realidade trata-se da de uma análise de consistência externa já que 
pretende verificar se o modelo explica a realidade, ou seja, se é capaz de prever os 
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acontecimentos de acordo com a teoria elaborada. Também há a necessidade de uma 
análise da consistência interna, isto é, análise da lógica. 
 
Quando o consenso relativamente aos novos conhecimentos não é obtido isso pode 
significar que ou, mais informações são necessárias para uma opinião conclusiva ou que 
a hipótese é sustentada por conhecimentos que são, eles próprios, contestáveis. 
No final, os conhecimentos da ciência económica devem tanto explicar os 
comportamentos dos indivíduos – isoladamente e em grupo – como prever esses 
mesmos comportamentos. 
 
No entanto, o carácter transitório de alguns conhecimentos adquiridos na economia 
durante esta última fase da dedução não significa que as teorias existentes hoje 
desapareçam amanhã ou depois. As diferentes escolas existentes vão integrando os 
novos conhecimentos de acordo com o seu núcleo central de hipóteses sobre o 
funcionamento das economias. Elas não desaparecerão mas continuarão a integrar 
novos conhecimentos, novas hipóteses, à custa de novas observações e novas deduções 
sobre o comportamento dos Homens. 
 
Já dizia o físico Max Planck, prémio Nobel: “Esta experiência também me deu a 
oportunidade de constatar um facto – extraordinário na minha opinião. Uma nova 
verdade científica não triunfa pelo convencimento dos seus opositores, esclarecendo-os, 
mas antes porque esses opositores acabam por morrer e surge uma nova geração que 
com ela está familiarizada”. 
 
Esquematicamente: 
 
Do particular para o geral 
 
Do geral para o particular 
 
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Análise de ideias 
 
 
INDUÇÃO 
 
 
Elaboração de 
hipóteses 
 
Hipóteses 
formuladas 
 
 
DEDUÇÃO 
 
 
Elaboração de 
conclusões 
 
Apesar da economia ser uma ciência, não é possível utilizar o método experimental 
(experimentação das hipóteses), método tão comum nas demais ciência exactas mas que 
não pode ser utilizado na economia para obter leis económicas. Os economistas não 
podem medir as variáveis económicas com a precisão que os cientistas físicos atingem 
na quantificação da massa, da velocidade ou da distância. Além disso, é difícil 
reproduzir a economia real num laboratório. Não é possível provocar um choque 
petrolífero para analisar as consequências. As experiências controladas5em economia, 
embora sejam por vezes possíveis não podem ser repetidas. 
Exemplos: 
Experiências mais ou menos controladas podem ser feitas pelos economistas. A título de 
exemplo está a “Experiência de New Jersey” 1969 – 72. Procurava-se saber se os mais 
pobres estariam mais ou menos dispostos a trabalhar com mais ou menos transferências 
a seu favor. A experiência motivou a criação de processos de investigação científica e 
conduziu à conclusão de uma relação ténue entre a disposição a trabalhar e as 
transferências públicas de carácter social. 
 
Ao nível tecnológico as experiências nas empresas também existem e exemplo disso são 
as alterações em certas secções das unidades de produção, para mais tarde os seus 
 
5 Experiências controladas – o cientista estabelece uma experiência controlada ao dividir a 
população em dois ou mais grupos, cada um dos quais é tratado exactamente da mesma forma, excepto no 
que respeita a um único facto. O cientista quantifica então o impacto do factor em análise, mantendo as 
restantes influências constantes. 
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resultados serem alargados às restantes secções. Nestas experiências são também outras 
questões que estão em causa como por exemplo, novos ambientes de trabalho. 
 
Nos ex-países socialistas, as reformas também eram primeiro objecto de experiências 
em algumas unidades ou regiões e, só depois da avaliação dos seus resultados, novas 
medidas eram propostas e a experiência alargada. 
 
Também na condução de políticas económicas, certas actuações dos governos nas 
escolhas dos valores mais correctos das variáveis que controlam têm também a natureza 
de experiências controladas. O mesmo acontece com algumas actuações de empresas na 
determinação do preço ou do tipo de produto que vendem. 
 
Mas, apesar das possibilidades de realizar experiências, está-se muito longe de poder 
dizer que a economia pode ser considerada como uma ciência experimental. Por isso, 
deve-se continuar a insistir que para além das deduções que possam ser feitas, a escolha, 
o tratamento e a apresentação da informação são a fonte de construção e de verificação 
das hipóteses dos economistas. 
 
 
ARMADILHAS DO RACIOCÍNIO ECONÓMICO 
Existem algumas fontes de erro frequentes a evitar, e que se encontram relacionadas 
com: 
1. Esquecimento da hipótese “ceteris paribus” (que significa tudo o resto 
constante); 
2. Esquecimento da característica estatística das leis económicas; 
3. Incerteza; 
4. Subjectividade; 
5. “Falácia da composição” (que significa o que se passa com uma parte 
não é necessariamente válido para o todo); 
6. “Falácia da ignorância de causa” (que significa atribuir causalidade a 
dois factores apenas contemporâneos). 
 
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Hipótese “CETERIS PARIBUS” 
A análise dos efeitos de um dado fenómeno deve ser conduzida na base de que “na 
acção deste fenómeno nenhum outro fenómeno interfere”, ou seja, “mantendo-se tudo o 
resto constante”. 
 
A maioria dos problemas económicos envolve várias forças que interagem 
simultaneamente. Por exemplo, o número de automóveis comprados num dado ano é 
determinado pelo preço dos automóveis, pelo rendimento dos consumidores, pelos 
preços da gasolina, etc. Ou seja, suponha-se que se pretende determinar o impacto na 
venda de automóveis de um aumento do preço da gasolina. Esta análise seria 
complicada porque os rendimentos dos consumidores diminuiriam ao mesmo tempo que 
aumentaram os preços da gasolina. 
 
Assim, o passo fundamental para isolar o impacto de uma única variável é manter o 
resto constante. Enquanto a variável em apreciação é alterada, as restantes variáveis são 
mantidas constantes. No exemplo referido, deve-se tentar isolar os efeitos da subida dos 
preços da gasolina. Ou seja, a não ser que se exclua os efeitos das outras variáveis que 
influenciam os consumidores na compra de automóveis – mantendo-as constantes – não 
se poderá de uma forma precisa determinar o impacto da variação dos preços da 
gasolina. Ou seja, a análise dos efeitos de um dado fenómeno deve ser conduzida na 
base de que “ na acção deste fenómeno nenhum outro fenómeno interfere”. 
 
Existem ainda na economia os raciocínios incorrectos que se apresentam com uma 
aparência de correcção, ou seja, é preciso estar prevenido contra as seguintes falácias: 
1. FALÁCIA DA COMPOSIÇÃO 
2. FALÁCIA DA IGNORÂNCIA DE CAUSA 
 
FALÁCIA DA COMPOSIÇÃO 
Aquilo que é verdade para a parte não é necessariamente verdade para o todo. O 
conjunto não é sempre a soma das partes. A falácia da composição é o erro conceptual 
de que o que é verdadeiro para uma parte é necessariamente verdadeiro para o conjunto. 
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Ou seja, aquilo que é verdadeiro para o indivíduo não é necessariamente verdadeiro para 
o conjunto. 
 
Exemplos: um produtor de milho trabalha arduamente para aumentar os rendimentos. 
Se tiver êxito no aumento da sua produção o seu rendimento irá aumentar. Mas, se todos 
os agricultores forem bem sucedidos no aumento da produção o preço do milho poderá 
diminuir tanto (devido ao excesso de oferta), que o total das vendas de milho diminui. 
 
Se um único indivíduo recebe mais dinheiro fica mais rico. Mas se todos receberem 
mais dinheiro ninguém ficará mais rico. 
 
As tentativas dos indivíduos para poupar mais durante uma depressão podem reduzir a 
poupança total da comunidade. 
 
É regra de ouro frequentemente referida, que um investidor na bolsa deve comprar 
quando os preços estão baixos, e vender quando estão baixos, e vender quando estão 
elevados. Contudo, ninguém teria lucros se todos aplicassem este princípio. 
 
FALÁCIA DA IGNORÂNCIA DE CAUSA 
 
Erro de raciocínio que se verifica quando se admite que pelo facto de o fenómeno A 
preceder o fenómeno B então A será causa de B. Ou seja, o facto do acontecimento A 
anteceder o acontecimento B isso não significa que o acontecimento A seja causa do 
acontecimento B ou este seja consequência do acontecimento A. A sucessão no tempo 
de acontecimentos não significa, por si, uma relação causa efeito. Concluir que “depois 
do acontecimento” implica “por causa do acontecimento” é cometer a falácia da 
ignorância de causa. 
 
Exemplo: a falácia do Dr. Optimista foi pressupor que a redução de impostos seria 
responsável pelo aumento das receitas do Estado. Foi ignorado o facto de que a 
economia em crescimento estava a aumentar os rendimentos dos indivíduos e poderia 
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17 
ter aumentado a receita dos impostos ainda mais se os impostos não tivessem sido 
reduzidos. 
 
Dois autores provaram a muito boa estabilidade da relação entre inflação e disenteria na 
Escócia. Antes, um outro economista – Henry – provou que também uma relação 
estável entre a inflação e a chuva no Reino Unido. Cometer esta falácia é dizer que a 
inflação é explicada pela disenteria na Escócia e a chuva no Reino Unido. 
 
O economista prevenido para não cair em nenhum dos erros já referidos – armadilhas de 
raciocínio económico – vai procurar obter leis através do método indutivo-dedutivo. 
Essas leis que obtêm têm um carácter histórico e probabilístico histórico porque a 
evolução das sociedades arrasta consigo alterações de valores, novas instituições e 
alterações de comportamentos destas. 
 
O contexto social e humano em que o sujeito económico actua está em constante 
mutação e as leis económicas reflectem essas mesmas mutações. Probabilístico porque 
apesar do comportamento humano ser relativamenteestável ao nível dos grupos, isso 
não invalida a existência de comportamentos individuais que se distinguem dos do 
grupo ou colectivo. 
 
AS UTILIZAÇÕES DA ECONOMIA: 
 
O conhecimento económico serve para gerir a vida de cada indivíduo, compreender a 
sociedade e melhorar o mundo. 
 
As formas como a economia pode ajudar cada indivíduo são tão diferentes com as vidas 
de cada um. Por exemplo, compreender o mercado bolsista pode ajudar os indivíduos a 
gerir as suas próprias finanças; o conhecimento da teoria dos preços e da política anti-
trust pode melhorar a qualificação de um advogado; uma melhor compreensão das 
determinantes do custo e do rendimento produzirá melhores decisões empresariais; o 
médico, o investigador e o agricultor todos precisam de conhecer a contabilidade e a 
regulamentação para atingir a máxima satisfação e o máximo lucro nos seus negócios. 
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18 
 
Assim, a economia desempenha dois papéis distintos na promoção da análise das 
questões económicas já que, ajuda em primeiro lugar a compreender a sociedade, ou 
seja, a descrever, a explicar, a prever o comportamento económico. Como por exemplo: 
compreender quais as causas da pobreza. 
 
Mas, para muitos o benefício ocorre quando a ciência económica presta o apoio na 
definição de políticas que irão construir uma sociedade melhor. 
 
Destes dois papéis que a economia pode desempenhar, resulta a distinção entre 
economia normativa e positiva que é básica para qualquer estudo científico6. 
 
Apesar de, no geral a economia descrever o comportamento dos agentes económicos, 
também pode servir para prever esse mesmo comportamento. Por exemplo, prever qual 
será o comportamento das empresas e dos consumidores se o preço de um determinado 
produto subir. Neste sentido, a economia é uma disciplina positiva. 
 
Contudo, a economia é também uma disciplina normativa, no sentido em que a análise 
económica pode ser usada para fazer prescrições sobre o que fazer em determinadas 
circunstâncias. Estas prescrições podem ser dirigidas aos governos indicando, por 
exemplo, se deve ou não deve ser introduzido um determinado imposto ou se devem ser 
criados limites às fusões entre empresas. Podem ser também dirigidas às empresas 
indicando, por exemplo, qual a melhor estrutura salarial a adoptar em determinadas 
circunstâncias, ou se a empresa deve ou não iniciar uma guerra de preços. 
 
ECONOMIA POSITIVA indica como é que é e a ECONOMIA NORMATIVA 
indica como é que deve ser. 
 
6 Se não se tiver cuidado, os juízos individuais de valor podem influenciar o estudo das 
hipóteses. Essa distinção ajuda a avançar o conhecimento. Segundo Lipsey, os economistas não 
necessitam reduzir as suas discussões a ideias positivas, desde que saibam o que estão a fazer. 
 
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19 
EXEMPLOS: 
Economia Positiva 
A distribuição de rendimento em Angola não é igualitária. 
A distribuição de rendimento em Angola é enviesada. 
O novo imposto altera a distribuição de rendimentos em Angola. 
A taxa de juro está fortemente ligada à balança de pagamentos. 
O facto de a taxa de juro ser alta dificulta o investimento. 
É possível subir 3% a taxa de juro sem reduzir o investimento. 
Se o Governo subir a taxa de juro, não reduz necessariamente o investimento. 
O Governo pode subir a taxa de juro, sem se preocupar com o investimento. 
A inflação subiu. 
A inflação subiu 3%. 
A desvalorização aumenta a taxa de inflação. 
O imposto é 22% do preço do automóvel. 
Um imposto de 22% é ineficiente. 
 
Economia normativa 
A distribuição de rendimento em Angola é injusta. 
A distribuição de rendimento em Angola devia ser alterada. 
O Governo devia preocupar-se mais com a distribuição de rendimentos em 
Angola. 
A taxa de juro de 12,3% é muito alta. 
Como a taxa de juro está alta em Portugal, o investimento nacional é pequeno. 
O Governo deve subir a taxa de juro em 3%. 
A inflação está alta. 
O Governo deve preocupar-se mais com a inflação. 
Este carro é caro. 
Este carro é caro por incluir um imposto muito grande. 
O Estado devia reduzir o imposto sobre o carro. 
Um imposto de 22% é injusto. 
O Estado devia abolir este imposto. 
 
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20 
 
COMPARAÇÃO entre a Economia e as restantes ciências sociais: 
 
O aumento da exigência da investigação científica obriga o economista à utilização de 
um conjunto variado de conhecimentos das ciências próximas da economia. Daqui 
resulta a INTERDISCIPLINARIEDADE da economia. 
 
 
1. MATEMÁTICA 
O estudo da aplicação de meios escassos para usos alternativos envolve um 
problema de medida não só dos meios escassos como também dos usos 
possíveis. Em economia, a quantificação dos fenómenos é fundamental 
(exemplo: quantificação dos dados após II Grande Guerra). Mas, essa 
quantificação não é fácil e levou a privilegiar o papel da matemática. Tornou-se 
corrente na economia enunciarem-se teoremas que, tal como na matemática, são 
preposições demonstradas a partir de outras preposições já demonstradas ou que 
o economista aceita sem demonstração. 
 
2. ECONOMETRIA 
Permite o estudo de relações funcionais (de carácter probabilístico) entre 
variáveis quantificadas; é um método que permite confrontar ideias e teorias 
com os dados da realidade económica. 
 
3. HISTÓRIA 
A história ensina como as relações sociais se foram modificando, como algumas 
instituições forma marcantes no desenvolvimento das relações de propriedade 
privada, como e porque se desenvolveram alguns países, histórias das ideias. 
Para conhecer melhor a evolução da sociedade, das instituições e 
comportamentos. 
 
4. PSICOLOGIA 
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21 
A psicologia é importante não só pela dimensão individual mas também pela 
dimensão social (indivíduo como fazendo parte do todo social). Por exemplo, a 
psicologia é importante no estudo dos processos de hiper-inflação; na 
caracterização dos empresários como agentes inovadores, a presença dos 
chamados “animals spirits” na teoria da acumulação de capital, ou ainda na 
classificação dos agentes no estudo das situações de risco. 
 
5. ANTROPOLOGIA 
A presença da antropologia no trabalho do economista reflecte-se quando ele 
estuda relações sociais em países como a Índia, ou nos países de religião 
muçulmana ou ainda países onde a relação tribal é importante e a propriedade 
privada não é dominante. 
 
6. POLÍTICA 
A política é importante porque o comportamento das instituições e dos agentes 
económicos está dependente do regime político. Em regimes onde o governo é 
eleito, de forma directa ou indirecta, pelo voto popular, o governo aumenta os 
impostos – porque o estado da economia assim o exige – em vésperas de 
eleições? A política é importante para analisar o ciclo político da economia. 
 
7. DIREITO 
Da interdependência política tem resultado um crescente interesse pelas normas 
jurídicas fundamentais. Daqui a presença do Direito. 
 
8. SOCIOLOGIA 
A sociologia – ciência das leis gerais do desenvolvimento da sociedade humana 
– procura globalidade social, enquanto que a economia se preocupa com uma 
parte. A sociologia não se interessa com uma certa categoria de fenómenos 
sociais – os fenómenos económicos, por exemplo – ela interessa-se pela 
dinâmica da totalidade social. 
 
9. INFORMÁTICA 
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22 
 
 
Para a ciência económica o que verdadeiramente interessas são o BENS 
ECONÓMICOS.Bem económico é qualquer coisa que possa satisfazer uma 
necessidade e que exista em quantidade limitada na economia porque os recursos são 
limitados. Como existe em quantidades escassas é necessário despender riqueza ou 
utilizar força de trabalho para o adquirir. São estes bens que estão no centro das 
atenções da ciência económica. 
 
No quadro de recursos escassos, as escolhas têm de ser feitas. Ou seja, a escassez 
implica a necessidade de escolha. Dentro das possibilidades de produção, o que 
produzir? Interessa representar graficamente esta questão. 
Vão ser consideradas duas Hipóteses para responder à questão anterior: 
1. A totalidade dos recursos produtivos conhecidos está a ser utilizada 
ou empregue, ou seja, existe PLENO EMPREGO DOS 
RECURSOS PRODUTIVOS.7 
2. A economia apenas produz dois bens. Esta hipótese serve para 
facilitar a exposição gráfica (tem um carácter diferente da hipótese 
anterior já que se limita a existir para facilitação da exposição teórica. 
No entanto, a 1ª hipótese poderia implicar erros de análise no caso de 
ser esquecida). 
 
 
 
Considere-se o seguinte quadro que representa as produções máximas de roupa e 
comida numa dada economia que apenas produz esses dois bens (2ªhipótese): 
 
 
Quadro de produções MÁXIMAS 
Possibilidades 
de produção Comida Roupa 
A 9 0 
 
7 As situações reais da economia afastam-se da hipótese de pleno emprego. 
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23 
B 
C 
D 
E 
8 
5 
3 
0 
3 
6 
7 
8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Considerando que o eixo horizontal representa as quantidades produzidas de roupa e o 
eixo vertical representa as quantidades produzidas de comida na economia, as 
produções máximas (que são pares ordenados) podem ser representadas graficamente da 
seguinte forma: 
 
Comida 
( C ) 
 A 
 G 
 F 
 Fronteira de Possibilidades de Produção (F.P.P.) 
 Roupa ( R ) 
 E 
 
A curva representada designa-se de FRONTEIRA DE POSSIBILIDADES DE 
PRODUÇÃO (F.P.P.) e representa a quantidade máxima de um par de bens ou serviços 
(neste caso bens - comida e roupa) que pode ser produzida dados os conhecimentos 
tecnológicos e assumindo que os factores de produção disponíveis na economia estão a 
ser plenamente utilizados. É uma construção gráfica que mostra que tipo de bens estão 
disponíveis e em que quantidades. 
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24 
 
A fronteira de possibilidades de produção ilustra três conceitos muito importantes: 
escassez, escolha e custo de oportunidade. 
 
A F.P.P. proporciona uma definição rigorosa de escassez, ou seja, mostra o limite 
máximo que é possível produzir e que é imposto pela lei da escassez, pela quantidade 
limitada de recursos existentes. Se os recursos são escassos e plenamente utilizados, não 
é possível ter mais de ambos os bens face às produções consumidas. Contudo, se alguns 
dos recursos são libertos da produção de roupa e utilizados na produção de comida, 
então estes permitem o aumento da quantidade produzida. 
 
A escolha é observável pela necessidade de selecção de um ponto entre as combinações 
de produção alternativas ao longo da curva. Ou seja, a economia de um determinado 
país localiza-se num ponto da F.P.P. 
 
Análise dos pontos apresentados na F.P.P.: 
PONTO A 
Representa a produção máxima de comida quando se produz zero de roupa. 
PONTO E 
Representa a produção máxima de roupa quando se produz zero de comida 
 
Todas as produções em cada economia situam-se necessariamente na curva da F.P.P. ou 
na área definida por aquela curva. 
 
A eficácia máxima é obtida quando se verificam movimentos nos pontos daquela 
curva, ou seja, ao longo da fronteira de possibilidades de produção. Ou seja, sempre que 
as produções na economia se situam na F.P.P., isso significa que os factores de 
produção estão a ser utilizados de uma forma eficiente porque, com essa quantidade de 
factores é impossível produzir maior quantidade dos dois únicos bens que a economia 
produz. 
 
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25 
PONTO F 
Um ponto no interior da F.P.P. como o ponto F significa que: 
1. Ou a economia não está a utilizar a totalidade dos factores de 
produção, ou seja, há recursos inactivos ou desaproveitados; 
2. Ou a economia está a utilizar a totalidade dos factores de produção 
mas o emprego de alguns será deficiente (não eficiente). Não são 
utilizados da melhor forma possível nem da forma mais eficiente. Há, 
por hipótese, a utilização de técnicas já obsoletas. 
 
Trata-se de uma combinação ineficiente porque é possível aumentar a produção de um 
dos bens (roupa ou comida) sem reduzir a do outro bem. Ou seja, há recursos sub 
utilizados e a economia não está na fronteira de possibilidades de produção mas algures 
no seu interior. 
 
Em conclusão, EFICIÊNCIA (ou eficácia) da produção ocorre quando a produção de 
um bem não pode ser aumentada sem a redução na produção de outro bem. Para 
aumentar a produção de um bem terá que ser reduzida a produção do outro bem – a 
substituição é a lei da vida numa economia de pleno emprego e a F.P.P. representa as 
escolhas da sociedade. Eficiência significa ausência de desperdícios, os recursos da 
economia são utilizados tão bem quanto possível para satisfazer as necessidades dos 
indivíduos. 
Exemplos: 
 
A depressão do ciclo económico é uma das razões para uma economia se situar no 
ponto F. Outras razões incluem greves, mudanças políticas ou revoluções que provocam 
ineficiência ou desperdícios de recursos. 
 
Como exemplo real pode citar-se a Polónia no início dos anos 90, após ter substituído a 
sua economia socialista planeada por uma economia de mercado livre. Devido às 
dramáticas alterações no sistema económico, a produção caiu, o desemprego cresceu e 
as pessoas tentaram adaptar-se às mudanças dos preços, das leis e dos rendimentos. A 
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26 
revolução política e económica forçou temporariamente a Polónia para o interior da 
F.P.P. 
 
Os E.U.A. após a grande depressão de 1929 estavam no interior da F.P.P. devido ao 
elevado nível de desemprego. 
 
PONTO G 
Trata-se de uma combinação impossível, ou seja, está fora da área definida pela 
F.P.P. onde não existem produções possíveis porque a economia não dispõem de 
recursos suficientes para atingir os níveis de produção representados pelo ponto G. Mais 
uma vez é observável o conceito de escassez de recursos. 
 
 
DESLOCAMENTOS da curva FPP e seus significados 
(Ilustração gráfica do efeito sobre a fronteira de possibilidades de produção) 
 
Alteração das preferências: 
Bem X 
 
 
 
 
 F.P.P. 
 Bem Y 
Progresso tecnológico: 
Bem X 
 
 
 
 
 F.P.P. 
 Bem Y 
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27 
 
 
Catástrofe natural: 
Bem X 
 
 
 
 
 F.P.P. 
 Bem Y 
 
Aumento da população: 
Bem X 
 
 
 
 
 F.P.P. 
 Bem Y 
 
 
Descoberta de importantes recursos no subsolo: 
Bem XF.P.P. 
 Bem Y 
 
 
 
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28 
 
A fronteira de possibilidades de produção ilustra não só a decisão de produção, do que 
produzir no presente, como também as consequências para o consumo no futuro. Ou 
seja, a F.P.P. pode também ilustrar a problemática da repartição de recursos em 
produção a consumir “hoje” ou “amanhã”, no presente ou no futuro, problemática entre 
o consumo presente ou o investimento (que equivale ao consumo no futuro). 
 
Para esta análise irão ser considerados dois bens: “Máquinas” e “Comida”. Será 
utilizado o bem “Máquinas” em vez de “Roupa” porque a produção de máquinas não se 
destina a um consumo presente mas antes a permitir a produção de mais “comida” num 
futuro próximo. 
Máquinas 
 
 
 
 ( 1 ) 
 
 Fronteira de Possibilidades de Produção (F.P.P.) 
 ( 2 ) 
 Comida 
 
À problemática da repartição de recursos em produção a consumir no presente ou no 
futuro correspondem três opções de produção: 
Opção ( 1 ) 
Privilegia o investimento, ou seja, privilegia a produção de bens que no futuro poderão 
aumentar a produção de bens a consumir já que nesta opção a produção de máquinas é 
superior à de comida. Neste caso verificar-se-á uma deslocação para a direita da 
F.P.P. (a produção de máquinas é superior à amortização) o que representa um 
acréscimo futuro das quantidades produzidas. 
Opção ( 2 ) 
Privilegia o consumo presente já que a produção de comida é superior à produção de 
máquinas. Neste caso verificar-se-á um deslocamento para a esquerda da FPP porque 
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29 
a produção de máquinas nem é suficiente para repor as que vão sendo usadas na 
produção corrente e, consequentemente, as quantidades produzidas pela economia 
tendem a reduzir-se. 
 
Considerando dois bens (roupa e comida), a fronteira de possibilidades de produção é 
negativamente inclinada porque, se existe escassez e escolha existe custo de 
oportunidade8, que é o valor do que melhor deixámos de fazer para fazer o que fizemos. 
Ou seja, se na economia representada pela F.P.P. se decidir produzir mais do bem roupa 
terá que forçosamente deixar de se produzir menos do bem comida devido à escassez 
de recursos. Ou seja, o aumento da produção de um bem implica um custo de 
oportunidade que está associado à redução da produção do outro bem. Este é o terceiro 
conceito que a F.P.P. ilustra. 
 
Considere-se uma fronteira de possibilidades de produção com a seguinte configuração: 
 
Comida 
 
 
 F.P.P 
 
 Roupa 
 
Neste caso, o acréscimo igual de roupa de R1 para R2 e depois para R3 (R1R2 = R2R3) 
tem como consequência decréscimos iguais entre si de comida (C1C2 = C2C3). Assim 
existem custos de oportunidade constantes porque a quantidade do bem comida que a 
 
8 A escassez de recursos, dinheiro, tempo ou outros, é a razão da existência da ciência 
económica. Se não houvesse escassez, poderíamos comprar tudo e fazer tudo. Mas devido á escassez, 
fazer uma coisa implica deixar de fazer outra. Há uma escolha. É por isso que a decisão de fazer ou não 
uma coisa é importante na vida. Se existe escassez e escolha existe CUSTO DE OPORTUNIDADE. 
Este representa o valor do que melhor deixámos de fazer para fazer o que fizemos. É o valor do uso 
alternativo que é prejudicado. O custo de oportunidade mede o benefício da melhor solução alternativa. 
Fazer a actividade “x” impede o indivíduo de efectuar a actividade “y”. Então o valor de fazer “y” é o 
custo de oportunidade de fazer “x”. A todas as decisões económicas está-lhes associada um custo de 
oportunidade. 
 
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30 
economia deixa de produzir para acréscimos sucessivos e iguais da produção bem roupa 
é também constante. 
 
 
 
 
 
 
 
Considere-se agora uma fronteira de possibilidades de produção com a seguinte 
configuração, ou seja, côncava em relação à origem: 
 
Comida 
 
 
 A 
 
 
 F.P.P. 
 Roupa 
 
Tem-se por base a combinação A: R = 9 unidades e C = 0 
A produção de mais 3 unidades de roupa implica a produção de menos uma unidade de 
comida. A insistência na produção de mais 3 unidades de roupa implica a produção de 
menos 3 unidades de comida. Ou seja, à medida que se insiste na produção de roupa de 
uma forma constante (sempre mais 3 unidades), a produção de comida de que se tem de 
prescindir vai aumentando de forma crescente (o decréscimo passa de 1 para 3 unidades 
de comida). Dito de outra forma, o primeiro acréscimo de produção de uma unidade de 
roupa leva a prescindir (em média de 1/3 unidades de comida, mas um novo acréscimo 
de uma unidade de roupa leva agora a prescindir de uma unidade de comida. Se se 
insistisse no acréscimo da produção de mais uma unidade de roupa, este conduziria a 
prescindir duas unidade de comida e depois de 3 unidades de comida. Ou seja, o custo 
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Introdução: A Ciência Económica 
31 
de oportunidade de uma unidade de roupa vai aumentando com o acréscimo de 
produção. Isto representa custos de oportunidade crescentes porque acréscimos iguais 
de roupa correspondem a diminuições de comida cada vez maiores. 
 
 
 
 
 
 
Esta situação ilustra a lei dos custos relativos crescentes: 
 
LEI DOS CUSTOS RELATIVOS CRESCENTES 
 
À medida que se insiste na produção de um bem, a produção do outro bem – assumindo 
que a economia apenas produz dois bens por questão de simplificação – de que se tem 
de prescindir vai aumentando de forma crescente, ou seja, o custo de oportunidade de 
uma unidade de roupa vai aumentando com o acréscimo da sua produção. 
 
Comida 
 
 
 A 
 C1 
 
 C0 F.P.P. 
 Roupa 
 R0 R1 
 
Na figura estão apresentadas duas possibilidades de produção: (C1; R0) e (C0; 
R1). 
Quando se passa de R0 para R1 há que passar de C1 para Co. 
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32 
Assim, em média, cada unidade de produção do bem roupa custa 
unidades de comida. 
 
À MEDIDA QUE SE AUMENTA A PRODUÇÃO DO BEM ROUPA, HÁ QUE 
TRANSFERIR OS FACTORES DE PRODUÇÃO UTILIZADOS NA PRODUÇÃO 
DO BEM COMIDA PARA A PRODUÇÃO CRESCENTE DO BEM ROUPA. A 
CONSEQUÊNCIA É A REDUÇÃO DA PRODUTIVIDADE E DAÍ CUSTOS DE 
OPORTUNIDADE CRESCENTES. 
 
oRR
CC
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