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Um Consulado de país estrangeiro, sediado no Rio de Janeiro, recebeu a cobrança da Prefeitura para o pagamento do IPTU e taxa de iluminação de seu imóvel-sede. À luz da legislação, doutrina e jurispru

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UFRRJ – IM
Aluna: Karen Rocha Moura da Silva 
Direito Internacional Público
1)  Um Consulado de país estrangeiro, sediado no Rio de Janeiro, recebeu a cobrança da Prefeitura para o pagamento do IPTU e taxa de iluminação de seu imóvel-sede. À luz da legislação, doutrina e jurisprudência pertinentes dê seu parecer sobre o caso. Comente também se os tribunais superiores têm decidido uniformemente essa questão
Os imóveis pertencentes aos Estados Estrangeiros possui imunidade em relação à cobrança de IPTU devida aos estados em que são sediados. Tal imunidade encontra respaldo na Convenção de Viena sobre relações diplomáticas (Decreto nº 56.435 de 8 de Junho de 1965) que versa sobre relações, privilégios e imunidades diplomáticas a fim de contribuir para o desenvolvimento de relações amistosas entre as Nações, independentemente da diversidade dos seus regimes constitucionais e sociais, bem como reconhece que a finalidade de tais privilégios e imunidades não é beneficiar indivíduos, mas, sim, a de garantir o eficaz desempenho das funções das Missões diplomáticas, em seu caráter de representantes dos Estados. Em seu art. 23, este Decreto prevê a referida imunidade tributária aos imóveis pertencentes aos Estado Estrangeiros.
Artigo 23
        1. O Estado acreditante e o Chefe da Missão estão isentos de todos os impostos e taxas, nacionais, regionais ou municipais, sôbre os locais da Missão de que sejam proprietários ou inquilinos, excetuados os que representem o pagamento de serviços específicos que lhes sejam prestados.
        2. A isenção fiscal a que se refere êste artigo não se aplica aos impostos e taxas cujo pagamento, na conformidade da legislação do Estado acreditado, incumbir as pessoas que contratem com o Estado acreditante ou com o Chefe da Missão.
(...)
Além disso, o Decreto nº 61.078 que promulgou a Convenção de Viena sobre Relações Consulares visando alcançar a igualdade soberana entre os Estados, a manutenção da paz e da segurança internacional e ao desenvolvimento das relações de amizade entre as nações, além de considerar que a referida convenção traria privilégios e imunidades consulares, bem como ajudaria no desenvolvimento de relações amistosas entre os países, independentemente de seus regimes constitucionais e sociais, estabeleceu em seu art. 32º a isenção fiscal dos locais consulares.
ARTIGO 32º
Isenção fiscal dos locais consulares
1. Os locais consulares e a residência do chefe da repartição consular de carreira de que fôr proprietário o Estado que envia ou pessoa que atue em seu nome, estarão isentos de quaisquer impostos e taxas nacionais, regionais e municipais, excetuadas as taxas cobradas em pagamento de serviços específicos prestados.
2. A isenção fiscal prevista no parágrafo 1 do presente artigo não se aplica aos mesmos impostos e taxas que, de acordo com as leis e regulamentos do Estado receptor, devam ser pagos pela pessoa que contratou com o Estado que envia ou com a pessoa que atue em seu nome.
A referida imunidade prevista no art. 32, I, do decreto acima, engloba as taxas nacionais, regionais ou municipais, com exceção das taxas que representem o pagamento de serviços específicos que lhes sejam prestados (serviços uti singulie). Dessa forma, é evidente que a cobrança de IPTU é indevida, uma vez que possui a imunidade das referidas Convenções das quais o Brasil é signatário. 
Tal pensamento foi ratificado no STJ em 2014, por meio do julgamento do RO 138-RJ (2012/0188855-6), de relatoria do Min. Herman Benjamin, julgado em 25/2/2014. 
EMENTA PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. ESTADO ESTRANGEIRO. CONVENÇÕES DE VIENA DE 1961 E DE 1963. IPTU E TAXA DE COLETA DOMICILIAR DE LIXO. SÚMULA VINCULANTE 19 DO STF. CABIMENTO EM TESE DE COBRANÇA DA TAXA. IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO. POSSÍVEL RENÚNCIA. NECESSIDADE DA CIÊNCIA DA DEMANDA. 1. Encontra-se pacificado na jurisprudência do STJ o entendimento de que os Estados estrangeiros possuem imunidade tributária e de jurisdição, segundo os preceitos das Convenções de Viena de 1961 (art. 23) e de 1963 (art. 32), que concedem isenção sobre impostos e taxas, ressalvadas aquelas decorrentes da prestação de serviços individualizados e específicos que lhes sejam prestados (RO 102/RJ, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 1°/7/2010; RO 45/RJ, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJ 28/11/2005, p. 240; EDcl no RO 43/RJ, Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 14.4.2008). 2. Desse modo, inadmissível o prosseguimento do processo em relação ao IPTU. Contudo, solução diversa merece ser dada à exigência da Taxa de Coleta Domiciliar de Lixo, que decorre da prestação de serviço específico, conforme a hipótese de incidência descrita no art. 1° da Lei Municipal 2.687/1998. 3. Em tese, não há óbice à cobrança da exação, porquanto a Súmula Vinculante 19 do STF preconiza que "A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis não viola o artigo 145, II, da Constituição Federal". 4. Prevalece no STF a orientação de que, "salvo renúncia, é absoluta a imunidade do Estado estrangeiro à jurisdição executória" (ACO 543 AgR, Relator: Min. Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, DJ de 24.11.2006). Por essa razão, como decidido pelo Ministro Gilmar Mendes, Relator da ACO 645, se a existência da demanda for comunicada ao estado estrangeiro, e este não renunciar expressamente à imunidade de jurisdição, o processo deve ser extinto sem resolução de mérito. 5. No presente caso, a petição inicial foi extinta de plano, antes mesmo de ter sido dada ciência ao estado estrangeiro acerca da propositura da demanda, de modo que não lhe fora oportunizada eventual renúncia à imunidade de jurisdição. Assim, devem os autos retornar à origem para que se possa consulta-lo sobre a prerrogativa em questão. 6. Recurso Ordinário parcialmente provido.
À luz da doutrina, tal entendimento é explicado por meio da “imunidade de jurisdição”, que consiste na impossibilidade dos Estados estrangeiros, organizações internacionais e órgãos de Estados estrangeiros serem julgados por outros Estados contra a sua vontade (PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito internacional público e privado. Salvador: Juspodivm, 2010, p. 166).
Existem duas principais teorias sobre este tema: a) Teoria clássica: imunidade absoluta a qual prevê que não há superioridade de um Estado sobre o outro. Assim, o Estado somente poderia se submeter ao julgamento de outro se fosse consentido. Esta teoria prevaleceu até os anos 60; b) Teoria moderna: atos de império e atos de gestão: como a relação entre os Estados passou a ser mais frequente com o passar dos anos, a teoria clássica passou a ser questionada e então foi criada a teoria moderna, a qual prevê a possibilidade de um estado desfrutar de imunidade de jurisdição ou não em duas diferentes hipóteses: 1) quando pratica atos de império, relacionados a sua soberania, como por exemplo, atos de guerra, atos de visto etc, nesse caso, considera-se que o Estado desfruta de imunidade de jurisdição; 2) quando o Estado pratica atos de gestão, como se fosse um particular, por exemplo, contratação de empregados,, considera-se que ele não desfruta de imunidade de jurisdição. Tal teoria é a mais aceita nos dias atuais, em especial no STJ. 
Além disso, há também de se notar a classificação adotada pela doutrina quanto aos serviços público e sua fruição. Fala-se, aqui, em serviços uti singulie e serviços uti universi. Este é considerado um serviço de fruição coletiva, isto é, usufruídos por todos de forma indistinta. Um exemplo desse serviço é o de iluminação. Aquele - uti singulie - é considerado um serviço de fruição individual, isto é, é possível se identificar os usuários, como por exemplo, o serviço de transporte público. Dessa forma, no que tange à taxa de iluminação cobrada pela prefeitura do Estado do Rio de Janeiro, o STF considera inconstitucional, uma vez que ela não possui especificidade, ou seja, é considerado um serviço uti universi, prestadoà toda comunidade, por isso não pode ser medido ou cobrado por meio de taxas.
O STJ tem se comportado da seguinte maneira sobre o tema:
PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. RECURSO ORDINÁRIO EXECUÇÃO FISCAL. ESTADO ESTRANGEIRO. TAXAS DE LIMPEZA E ILUMINAÇÃO PÚBLICA. IMUNIDADE FISCAL. IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO. (grifo nosso) CONVENÇÕES DE VIENA, DE 1961 E 1963. 1. Os Estados estrangeiros gozam de imunidade de jurisdição e tributária, com esteio, respectivamente, nos arts. 23, da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, e 32, da Convenção de Viena sobre Relações Consulares, estando, assim, isentos do pagamento de tributos que recaiam sobre seu patrimônio ou lhes sejam exigidos pela prestação não individualizada de serviços. Precedentes: RO n.º 49 ⁄RJ, Rel. Min. José Delgado, DJU de 07⁄11⁄2006; RO n.º 46 ⁄RJ, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, DJU de 13⁄02⁄2006; RO n.º 45 ⁄RJ, Rel. Min. Castro Meira, DJU de 28⁄11⁄2005; RO n.º 35 ⁄RJ, Rel. Min. Teori albino Zavascki, DJU de 05⁄08⁄2004. 2. É indevida a cobrança de taxas de limpeza e iluminação pública, porquanto declaradas inconstitucionais em razão da ausência de especificidade. 3. Recurso ordinário desprovido. (STJ – RO: 43 RJ 2005/0066435-7, Relator: Ministro LUIZ FUX, Data do Julgamento: 02 /10/2007, T1 – Primeira Turma, Data da Publicação: DJ 08/11/2007 p. 162).
Vale ressaltar, ainda, que a isenção para consulados prevista na Convenção de Viena não se aplica a imóvel alugado para servir de residência oficial de representante de consulado. Segundo a 1ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, a isenção só vale para imóveis dos quais o Estado estrangeiro signatário da convenção seja proprietário.
2) "Seja como for, a Corte Europeia de Direitos Humanos tem declarado que o artigo 25 da Convenção Europeia de Direitos Humanos autoriza indivíduos a sustentarem que uma lei, na ausência de uma medida individual de implementação, viola, por si só, seus direitos, se eles — os indivíduos — correrem o risco de ser diretamente afetados por aquela lei". 
Considerando o trecho citado, disserte sobre a possibilidade de a mera edição de uma lei interna contrária a uma obrigação internacional ensejar a responsabilidade internacional do Estado que tiver editado a referida lei. Em seu texto, aborde: 
a) o disciplinamento da questão segundo o direito internacional geral; 
b) a questão do dano no âmbito do direito da responsabilidade internacional.
No caso em tela, o que precisa ser analisado é a eficácia das normas internacionais, e não apenas a sua existência. A hipótese trazida na questão – de responsabilização dos Estados por violação a uma obrigação internacional - é passível de acontecer, uma vez que nenhum Estado pode justificar a ausência de cumprimento de uma obrigação internacional com base em dispositivos do direito interno, conforme preconiza o art. 27 da Convenção de Viena sobre o direito dos tratados, de 1969. In verbis: 
Artigo 27
Direito Interno e Observância de Tratados 
Uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar o inadimplemento de um tratado. Esta regra não prejudica o artigo 46. 
Tal dispositivo é reconhecido pelo STF em suas decisões sobre temas internacionais, uma vez que reconhece a tese de prevalência hierárquica do Direito Internacional sobre o direito interno dos Estados, quando os tratados que versem sobre direitos humanos são aprovados por quorum qualificado, igual ao exigido para emenda constitucional e em dois turnos, conforme preconiza o art. 5º, §3º. Se a incorporação ocorrer antes da Emenda nº 45, o tratado terá status supralegal. Essas controvérsias sobre direitos humanos chegou a uma conclusão por meio dos julgamentos dos RE 466.343-SP e RE 349.703-RS, em 2008.
Em uma primeira análise, é possível concluir que a simples edição de uma lei interna incompatível a uma obrigação internacional não ensejaria a responsabilidade internacional do Estado. Em torno desse tema, surgiram discussões sobre a mera edição de uma lei e o evento danoso causado por ela. Na década de 1920, o jurista Anzilotti defendia, por sua vez, que o dano era um pressuposto de responsabilização dos Estados. Em outras palavras, tal opinião conferia a possibilidade de buscar a responsabilização apenas em face do Estado gerador do evento danoso. Dessa forma, conclui-se que o dano era requisito indispensável para a responsabilização.
Na década de 1970, o jurista Roberto Ago foi um dos pioneiros a sustentar a tese de que o dano não deveria ser requisito para a responsabilização dos Estados. Em sua análise, a responsabilização deveria recair sobre as origens do ato danoso, e não sobre as suas consequências. Essa perspectiva de Ago é amparada sobre princípios de recta ratio e baseado numa hermenêutica jurídica pós-positivist
Dessa forma, percebe-se que o dano não é mais o principal elemento constitutivo da responsabilidade internacional, uma vez que, desde a “revolução Ago”, o pressuposto da responsabilização centra-se no ato ilícito. Assim, há casos em que a violação de obrigação internacional, independentemente de dano, gera responsabilidade do Estado violador para com o violado. 
Conclui-se, portanto, que um Estado não pode invocar norma de seu ordenamento jurídico interno a fim de justificar o descumprimento de uma norma internacional (tratado, costume, princípios gerais de Direito, de ato unilateral e de certas decisões de Organizações Internacionais), uma vez que o Estado violador precisa se adaptar aos compromissos assumidos pelo país, de maneira a respeitar a obrigação internacional independentemente do que afirma o ordenamento jurídico interno. Assim, a violação a uma obrigação internacional gerará responsabilidade internacional do Estado. Ao adotar a teoria de Ago, o Direito Internacional, adota o cometimento de ato ilícito para responsabilizar internacionalmente. Contudo, vale ressaltar que há casos extremos em que a responsabilidade pode ocorrer mesmo que não reste claro o ato ilícito. Estes casos se referem a situação de risco e devem estar detalhados no tratado. Como exemplo, tem-se o testes nucleares e exploração do espaço aéreo petrolífera.

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