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Resumo
A macroeconomia do governo Costa e Silva (1967-1969) – 2018a
Introdução
O período entre 1968 e 1973 compatibilizou altas taxas de crescimento do PIB, inflação em queda e equilíbrio externo, ficando conhecido como “milagre brasileiro”. Na visão do autor, a política macro desse período assume um viés heterodoxo que foi capaz de retomar o crescimento econômico em conjunto om a queda da inflação. Já os economistas ortodoxos argumentam que esse desempenho deriva das políticas ortodoxas do governo Castello. O período Castello branco foi marcado por reformas e políticas de austeridade pelos economistas Roberto Campos e Octávio Bulhões. No entanto, o autor defende que o milagre econômico deriva em maior parte das inflexões ocorridas no governo Costa e Silva do que das reformas do Castello Branco. 
Antecedentes: o governo Castello Branco
Ministro da economia: Octávio Bulhões (1964 – 1967)
Ministro do planejamento: Roberto Campos
Superintendência da Moeda e do Crédito: Dênio Nogueira
Com a tríade liberal no Ministério economia, do planejamento e na superintendência da moeda e do crédito, o governo Castello assumiu posse sobre um cenário de forte aceleração inflacionária, estagnação econômica e desequilíbrio do balanço de pagamentos devido aos crescentes déficits em transações correntes, no qual maior parte advinha dos encargos de juros da dívida externa. 
Em novembro de 1964, o governo lançou o Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), que tinha como objetivo conter a aceleração inflacionária, reduzir os desequilíbrios setoriais e regionais; aumentar o investimento e o emprego e por último, corrigir o desequilíbrio externo. Para atingir esses objetivos, propuseram-se políticas de estabilização de um lado e políticas destinadas a reordenar o quadro institucional vigente de outro. 
De acordo com o plano, a aceleração inflacionaria decorria de uma combinação do persistente déficit fiscal em conjunto à expansão creditícia e elevação dos salários reais acima do crescimento de produtividade. Portanto, as medidas tomadas para conter essas questões foram de cunho ortodoxo: controle dos reajustes salariais, controle do crédito para impedir excessos de inflação de demanda; metas decrescentes de expansão dos meios de pagamento (M1) somado a um ajuste fiscal no orçamento. 
Durante o governo, houve reajuste salário abaixo da inflação devidos a novos mecanismos instalados (governo estipulando meta de inflação abaixo da inflação esperada pelos trabalhadores, porém a meta não foi alcançada). Concomitante a isso, também houve fracionamento do 13º salário em duas partes. 	
Pelo lado da política monetária, houve forte contração das operações de credito do sistema bancário, que decresceram em média 27% para 24% do PIB entre 1963 e 1965. Dois movimentos são percebidos no crédito bancário: o primeiro é o controle das operações de crédito para combater a inflação, dificultando principalmente o acesso dos bancos comerciais às reservas bancarias. 
Iniciado desde abril de 1964, o ajuste fiscal promoveu um reajuste real das tarifas e preços dos serviços e bens ofertados pelo setor público, visto que esses preços eram reajustados abaixo da inflação. O ajuste desse governo se deu pela expansão das receitas e controle da taxa de crescimento das despesas. 
“Para compensar os efeitos inflacionários do tarifaço, o governo instituiu, em fevereiro de 1965, um esquema de estímulos fiscais e creditícios às empresas que concordassem em realizar reajustes de preços compatíveis com os objetivos do plano de estabilização”. “As empresas que aderissem a este esquema teriam acesso a isenções fiscais e obteriam financiamento junto às agências oficiais federais (mormente o BB) em condições especiais. Como contrapartida, teriam que se comprometer a submeter ao Conep os aumentos dos seus preços, que somente os autorizaria quando estes custos fossem superiores a 7% em relação à data-base (média de janeiro e fevereiro de 1965). ”
A segunda medida do PAEG consistia nas reformas estruturais, visto que o sistema financeiro brasileiro foi desenvolvido baseado na economia agroexportadora e era composto somente pelos bancos privados e pelo Banco do Brasil. Além disso, na época, o Banco do Brasil tinha papel de banco comercial e executor de política monetária ao mesmo tempo. 
“A Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC), criada em 1945, coordenava as carteiras do BB e disciplinava o crédito por meio das instruções que baixava. Como banco comercial, o BB administrava a Carteira de Crédito Geral (CREGE) e a Carteira de Crédito Agrícola e Industrial (CREAI), esta última criada em 1936, especializada no crédito de longo prazo para a agropecuária e para a indústria (PACHECO & FRANCO, 1979). Já como executor da política monetária, administrava a Carteira de Redescontos (CARED) e a Caixa de Mobilização Bancária (CAMOB), por meio das quais controlava a emissão monetária e atuava como emprestador de última instância do setor bancário (FIGUEIREDO FILHO, 2005; SOCHACZEWSKI, 1993). ”
Dessa forma, se formava um consenso de que o setor industrial necessitava de condições de financiamento de longo prazo que o sistema bancário da época já não comportava essa demanda, sendo necessário desenvolver o mercado de capitais. Nesse sentido, além da inflação crônica tinha-se também a inexistência de um mercado voluntario da dívida pública. O sistema brasileiro estava disfuncional ao financiamento privado e público, visto que também não conseguia regular o estoque de liquidez via dívida pública. 
Três propostas foram encaminhadas pelo Governo Castello: para o sistema financeiro; para o sistema tributário; e por último, a trabalhista. No sistema financeiro, criou bancos de investimentos para fomentar o mercado de capitais e viabilizar o financiamento privado de logo prazo, assim como expansão do crédito para financiar o consumo. Para regulamentar essas instituições financeiras e conduzir a política monetária, deu-se a criação do conselho monetário nacional e o banco central do brasil, que substituiriam a SUMOC. No entanto, o papel do Banco do Brasil como autoridade monetária ainda se manteve devido a criação da conta-movimento, que garantia a essa instituição o nivelamento automático de suas reservas bancarias conjuntamente ao Banco Central, com juros baixíssimos. Dessa forma, o BB não sofria as restrições impostas as outras instituições bancárias, permitindo-o acomodar sua demanda e oferta de crédito à juros baixos, sem sofrer grandes prejuízos. Ademais, devido o combate à inflação não surtir efeitos imediatos, o Governo preferiu proteger os investidores da inflação, criando o mecanismo de correção monetária por meio das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTN). Isso daria maior dinâmica ao mercado de dívida pública. 
A reforma tributária, por sua vez, tinha como foco reduzir os “impostos em cascata”, assim como, incentivar o mercado de capitais via políticas de isenções fiscais. A reforma centralizou a arrecadação da União e retirou flexibilidade e autonomia das arrecadações dos estados e municípios, além de aumentar sua arrecadação total, o que permitiu o reequilíbrio orçamentário. 
A reforma trabalhista, por último, por pressões da classe empresária em conjunto com a perda do poder de barganha dos trabalhadores devido à cassação das lideranças sindicais, extinguiu a estabilidade dos trabalhadores. Isso foi feito pelo incremento do FGTS (Fundo de Garantia ao Tempo de Serviço) em 1966, que tornou menos custoso ao empresário a demissão dos empregados, o que elevou a rotatividade do mercado de trabalho. 
No cenário macroeconômico, o produto interno crescia 4,2% anuais, menos que o governo anterior, inflação ainda elevada de 39%, perda de 30% do poder de compra do salário mínimo e elevação da carga tributária em 3pp (2p.p derivavam do imposto indireto)
O governo Costa e Silva: um panorama
Ministério da Fazenda: Antônio Delfim Netto
Ministério do Planejamento: Hélio Beltrão
“O governo Costa e Silva foi marcado por uma frustrada tentativa de Lacerda, Jango e JK em articularuma frente de oposição (a Frente Ampla); pelo acirramento das tensões sociais nos movimentos estudantil e sindical; e, finalmente, na oposição armada na forma de guerrilha – tudo duramente desarticulado e reprimido à base de mais cassações de direitos políticos, prisões, torturas e mortes. ”
“Em 13 de dezembro de 1968 o presidente Costa e Silva reuniu o Conselho de Segurança Nacional, que aprovou o Ato Institucional nº 5, que colocou o Congresso Nacional em recesso por tempo indeterminado, cassou o mandato de 37 deputados da Arena e 51 do MDB, aposentou involuntariamente 70 professores da USP, regularizou a censura e deu amplos poderes para o Supremo Tribunal Militar (SKIDMORE, 1988). ”
As inflexões macroeconômicas
A inflação, ainda em patamares históricos, persistia alta. Delfim Neto, atual ministro da fazenda, acreditava que a estabilidade de preços daria condição para retomada do crescimento econômico. No entanto, criticava o programa de controle de demanda do governo anterior. Dessa forma, uma inconsistência teórica relacionado à coexistência de inflação de demanda e capacidade ociosa, permitia diagnosticar essa inflação como de custo. Nesse sentido, as políticas macroeconômicas ganhavam mais espaço, visto que a capacidade ociosa permitia expandir a demanda sem pressões inflacionarias. 
“A principal peça do planejamento econômico do governo Costa e Silva foi o Programa Estratégico de Desenvolvimento (PED), lançado em junho de 1968. O Programa previa metas de crescimento do PIB superiores a 6% ao ano a ser obtida em duas fases: na primeira, de transição, seriam estimulados preferencialmente os setores com maior capacidade ociosa, para o que o afrouxamento da política financeira, com expansão do crédito, cumpriria um papel primordial. Na segunda fase, seriam estimulados os investimentos. Do ponto de vista setorial, os setores industriais mais dinâmicos seriam objeto das políticas de estímulo, mormente a indústria de bens de capital (destacadas as indústrias mecânica e elétrica), de bens intermediários (com destaque para a siderurgia e metalurgia do alumínio). As indústrias tradicionais deveriam ser modernizadas por meio de programas de financiamento específicos, mas o PED também assinalava a importância do setor de bens de consumo duráveis. ”
A política fiscal
Nesse período a política fiscal assume caráter mais expansivo, com aumento do gasto público somado às desonerações fiscais. Com essas medidas, teve-se uma queda da arrecadação total da União em 1,6% em 1967. Já o gasto público, cresceu 35% em termos reais em 1969, sendo os itens de transferências e assistência previdenciária e gasto com pessoal. O gasto com investimento cresceu 40% depois de uma retração de 12% no ano anterior. Dessa forma, o aumento do gasto público impulsionava a recuperação econômica. É necessário ressaltar, também, que apesar da expansão do gasto público no Costa e Silva, o déficit permaneceu sobre controle, devido à retomada econômica, que possibilitou o crescimento da receita. 
A política financeira 
Na política financeira foi possível realizar expansões de crédito sem ameaça de pressão inflacionária de demanda, devido à existência de capacidade ociosa e inflação diagnosticada de custo. Houve uma recomposição do credito do setor público, utilizando instituições financeiras não criadoras de moeda como BNDE e BNH. É necessário ressaltar, ademais, que o governo alterou seu padrão histórico de funcionamento, que passou a destinar mais recursos para a iniciativa privada do que ao setor público. Desse modo, em 1969 o déficit público passou a ser totalmente financiado por emissão de dívida pública, substituindo as operações de credito do BB que expandiam a base monetária. Além disso, políticas de redução de custos de operações financeiras com objetivo de ampliar o volume foram aplicadas. Por fim, com o desenvolvimento do sistema financeiro, pode-se estimular uma recomposição da poupança financeira do público.
“As taxas nominais de juros dos bancos comerciais apresentam uma ligeira tendência à queda durante o biênio do governo Costa e Silva, resultado da política de tabelamento de juros. A taxa real de juros, por sua vez, se elevou. Sob o cenário de queda da inflação, pode-se concluir que as taxas de juros ativas deixaram de exercer pressão inflacionária, indo ao encontro do diagnóstico de inflação de custos. ”
 “Ao que tudo indica, o tabelamento dos juros resultou em uma trajetória de estabilização e queda dos juros nominais mais lenta que a queda da inflação. ”
A política cambial
Com a retomada econômica em vigor, tanto as importações quanto as exportações expandiram, porém sem déficits sistemáticos presentes. No PED (Programa estratégico de desenvolvimento) as exportações eram prioridade. Isso porque dado o esgotamento da industrialização por substituição de importações, o mercado externo seria um fator vital para uma dinamização conjunta com o crescimento do mercado interno. Além disso, a demanda externa daria suporte para retomada do crescimento econômico e utilização da capacidade ociosa da indústria. 
Com intuito de reduzir a especulação cambial sobre o cruzeiro, causado pelo excessivo espaço entre as desvalorizações, que dificultava a condução da política monetária, o governou implementou medidas de minidesvalorizações cambiais em 1968. Como nesse período o as entidades monetárias ainda eram cadentes de instrumentos para regular liquidez, visto que o mercado dívida pública ainda estava em formação), não era possível “esterilizar” o fluxo de capital estrangeiro no país, o que causava variações indesejadas. Dessa forma, as minidesvalorizações seriam responsáveis por reduzir o espaço até a próxima desvalorização, evitando tanto movimentos especulativos quanto uma taxa de cambio defasada por muito tempo. 
Um ponto importante é a facilitação do acesso ao capital externo para as empresas nacionais, permitindo uma entrada maior desse capital, principalmente na forma de endividamento. O ingresso de capital externo permitiu condições mais iguais às empresas nacionais, visto que as multinacionais detinham mais privilégios quanto à empréstimos externos mais simplificados. Dessa forma, esse fluxo também permitiu para a estabilização da taxa de câmbio nominal, e, consequentemente, para os preços também. 
“A Resolução no 63 do Banco Central – que, como vimos na seção 3, permitia aos bancos intermediar recursos obtidos no exterior – já surtia efeitos a partir de 1968, elevando o saldo da conta capital e financeira do balanço de pagamentos de U$ 49 milhões em 1967 para US$ 936 milhões em 1969”
“ Se a introdução do regime de minidesvalorizações reduzia os episódios de especulação contra o cruzeiro, a atração de capitais externos em um ritmo superior ao déficit em transações correntes permitiria o acúmulo de reservas internacionais e praticamente eliminaria o risco de novos ataques especulativos, ao menos nos próximos anos. ”
Inflação e controle de preços
A política de combate à inflação no Governo Costa e Silva baseou-se basicamente na implantação de medidas que controlassem os principais custos da economia. Em 1968 foi criado o Conselho interministerial de preços, que iria definir as empresas/produtos que se submeteriam ao controle de preços. A inovação do CIP, segundo Baer, Kerstenetzky e Villela (1973), consiste na adesão de setores chave da economia do setor produtivo de bens intermediários. 
A política salarial do PAEG foi mantida durante esse governo e não impactou em pressões salariais na inflação. No entanto, no final de 1969, o salário mínimo atingiu o patamar mais baixo da década. Portanto, sob essa ótica, nota-se que a política de combate à inflação obteve êxito, visto que a inflação se reduziu para 19% em 1969. No entanto, a política cambial ainda evitava maiores quedas da inflação, visto que o projeto de desenvolvimento necessitava de uma taxa de cambio competitiva. 
Sobre o governo Castello Branco: “Em suma, a criação do Banco Central, e a modernização do sistema financeiro permitiram uma melhor gestão da política monetária,contribuindo para a estabilidade dos preços e para o financiamento do consumo e do investimento; a reforma tributária reduziria o déficit público e resgataria a credibilidade dos investidores; a viabilização do mercado de dívida pública contribuiria para a estabilidade; e a reforma trabalhista aumentaria a competitividade das empresas.” 
“A reconcentração promovida pelo PAEG, combinada com a reforma financeira, viabilizou um mercado para os bens duráveis, e a abertura do leque salarial obtida por meio do arrocho promovido pelo governo Castello permitiu às empresas recuperar as margens de lucro e a capacidade interna de investimento. ” (SALM, 2010).

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