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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Palavra do Professor-Autor Olá caros estudantes, Teremos a oportunidade de estudar as formas de educar desde a antiguidade até os dias atuais, com amplo destaque para as instituições, processos e costumes educativos. Sublinhamos, de um lado, o aspecto social da educação e, de outro, as descontinuidades e as rupturas dentro do processo histórico. Este material didático, uma síntese interpretativa da prática educativa ao longo do tempo, baseada em pesquisas originais, não deve servir apenas como instrumento de consulta e informação. Deve, fundamentalmente, estimular a reflexão e a consciência crítica sobre as formas de educar do passado e presente, permitindo a comparação e a percepção das permanências e mudanças. Conscientes dos propósitos de nossos estudos, convidamos para uma grande viagem pela história da educação, começando pelas civilizações do oriente próximo, na antiguidade, passando pela Grécia, Roma, até chegar aos dias atuais. Todos estão prontos? É hora, pois, de zarpar! O autor. Antônio Vitorino Farias Filho Possui graduação e bacharelado em História pela Universidade Federal Fluminense (2002), especialização em Teoria e Metodologia da História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (Sobral-Ceará,) e Mestrado em História e Culturas pela Universidade Estadual do Ceará (2009). É doutor em História pela Universidade Federal de Pernambuco (2013). Atualmente é professor na Faculdade Princesa do Oeste, do Instituto Kairós (Ipu-Ce) e da rede estadual de ensino do Estado do Ceará. Ainda, é professor colaborador dos cursos de História do Instituto de Pesquisas Vale do Acaraú, Instituto de Formação e Educação Teológica e dos cursos de Pós-graduação em História ofertados pelas Faculdades INTA-Sobral. A história da educação sofreu fortemente com as transformações econômicas, sociais e políticas de cada época. Tais transformações também influenciaram o cenário educacional brasileiro. Com resultado, a sociedade passou a ter certas necessidades no âmbito educacional, o que acabou por modificar o currículo. Visando esclarecer melhor sobre o currículo, indicamos a leitura do livro “Sociedade, educação e currículo no Brasil – dos jesuítas aos anos de 1980”. O livro traz um recorte sobre os currículos no Brasil, desde a educação jesuítica até a década de 80, falando das necessidades da sociedade que foram amparadas pelas políticas educacionais e se transformaram em normas a serem cumpridas pelas instituições escolares. ZOTTI, Solange Aparecida. Sociedade, educação e currículo no Brasil: dos jesuítas aos anos de 1980. Campinas: Autores Associados; Brasília: Plano, Agora é o momento de você trocar ideias com os autores das obras indicadas. Caro estudante, convidamos você a ler o livro de Maria Lúcia de Arruda Aranha, História da Educação e da Pedagogia, o qual irá possibilitá-lo compreender as relações entre educação e seu desenvolvimento no Brasil. Trata-se de uma obra que auxilia na interpretação de fatos nos contextos histórico, educacional e pedagógico. Diante das dificuldades que são explícitas na educação, a autora reitera a esperança de que um mundo mais justo e menos violento depende de políticas voltadas para a democratização das oportunidades de acesso à escola e à cultura. ARANHA, M. L. A. História da Educação e da Pedagogia: Geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2010. Sugerimos também a leitura da obra História da educação no Brasil, que faz um levantamento factual dos principais aspectos da educação brasileira, principalmente após 1930, e procura mostrar que a evolução do ensino brasileiro, tanto em relação à sua expansão quanto em seu modelo formal, respondeu a determinações de ordem econômica, social e política. ROMANELLI, O. O. História da Educação no Brasil. Petrópolis, Rio de Janeiro Vozes, 2010. Ao focarmos na história da educação verificamos que esta vem passando por várias transformações, mas ainda falta muito para tornar-se adequada, haja vista nela implicarem fatores sociais, econômicos e políticos. Sabemos que o Brasil é um país detentor de muitas riquezas em se tratando de energia, alimentos, água potável, dentre outros recursos. Pensemos então: tendo o Brasil um enorme potencial e recursos suficientes, por que historicamente a nossa educação foi carente de investimentos? Suponhamos que você fosse do Ministro da Educação e tivesse poder de decisão, quais procedimentos tomariam para melhorá-la? Você acredita que o fato de a educação não ser considerada prioridade é intencional? Por quê? 1. A EDUCAÇÃO TRADICIONALISTA Conhecimentos Compreender a prática educativa adotada entre os povos da Antiguidade oriental. Habilidades Posicionar-se criticamente em relação às formas de educação adotadas pelos povos da Antiguidade oriental; Identificar semelhanças e particularidades entre as práticas educativas adotadas pelas primeiras civilizações e suas relações com o contexto histórico. Atitude Ser capaz de analisar como a educação foi transformada em estratégia de dominação A chamada Educação Tradicionalista corresponde à concepção de educação “elaborada” pelos povos da Antiguidade oriental, aqueles que antecederam os gregos e romanos do período clássico. Esses povos se desenvolveram num período marcado pelo crescimento da técnica e da especialização das funções, do incremento da agricultura, surgimento e desenvolvimento da pecuária e de excedentes comerciais. A sociedade tornou-se mais complexa em função de uma rígida divisão de classes e da religião organizada pelo Estado centralizador. As civilizações que se desenvolveram no norte da África e na Ásia (Oriente Próximo, Oriente Médio e Extremo Oriente) construíram as primeiras cidades com templos, palácios e monumentos, além de inventarem a escrita. O que há de semelhante entre todos esses povos, do ponto de vista da educação, é o seu caráter estático, com mudanças muitos lentas. O seu forte componente religioso contribuiu decisivamente para isso. A educação exigiu a criação de escolas, mas estas não estavam abertas apenas a classe dominante. Cenário Histórico As primeiras civilizações O processo de hominização percorreu um longo período que vai desde o surgimento de nossos ancestrais até a chamada Revolução Neolítica, por volta de 10.000 a.C., momento que inaugura o domínio do homem sobre o meio ambiente. Colocando a natureza a seu serviço, o homem, através do trabalho, passou a produzir seus meios materiais de existência. O surgimento da economia produtora, que caracteriza o período, é chamado por Gordon Childe 1986) de Revolução Neolítica, cujas principais características foram o desenvolvimento da agricultura e a domesticação de animais. Além disso, o desenvolvimento da tecelagem e da cerâmica, juntamente com a agricultura e a pecuária, levou a uma nova divisão e especialização do trabalho que, por sua vez, deu origem a uma economia de troca, anunciando o aparecimento do comércio. A Revolução Neolítica levou à produção de excedentes alimentares, cujas consequências foram a normatização das condições de reprodução da vida humana e um significativo aumento demográfico. Ao lado disso, ocorreu também a transição do nomadismo para o sedentarismo, como consequência do desenvolvimento da agricultura. Data dessa época o surgimento de instituições como a família, a propriedade privada, as classes sociais e a religião. Por volta de 5.000 a.C., as transformações levaram ao surgimento de civilizações complexas nas regiões banhadas por rios. São os casos do Egito (rio Nilo), da Mesopotâmia (rios Tigre e Eufrates), da Índia (rios Indo e Ganges) e da China (rios Yangté e Hoang-Ho). Desta forma, as condições naturais favoreceram o aparecimento de civilizações agrícolas-sedentárias. A despeito das diferenças entre elas, todas desenvolveramEstados centralizados, assumindo a forma de governos teocráticos (cujo poder baseia-se na religião) e despóticos (o poder do governante sustentava-se na crença de sua origem divina). No que se refere à propriedade, as sociedades orientais se distinguiam tanto das comunidades tribais quanto das civilizações grega e romana, pois a terra não pertencia a todos, como nas tribos, nem a particulares, mas era propriedade estatal. O Estado, com seu corpo de funcionários, controlava a produção, arrecadava impostos, recrutava a mão de obra necessária à produção agrícola e às grandes construções como templos, palácios e monumentos. Com o crescimento do poder burocrático, centralizado e poderoso, crescia a importância de seus agentes (altos funcionários, sacerdotes e escribas, por exemplo). A essa minoria privilegiada, responsável pela administração “pública” e dos negócios, correspondia uma massa da população que se dedicava à produção, sustentava o Estado e era formada por escravos, mercadores, artesãos, soldados e camponeses obrigados à servidão. Outros povos que formam as civilizações da Antiguidade oriental, como os hebreus, os persas e os fenícios, embora com suas especificidades próprias, assemelhavam-se em muitos pontos às “civilizações hidráulicas”, aquelas que se desenvolveram em torno dos rios e tinham na agricultura sua principal atividade econômica. Civilização: De acordo com Vicentino e Dorigo (2010:57), o conceito de civilização é amplo e tem muitos significados. As origens históricas do termo são diversas, podendo referir-se aos bons modos ou hábitos de civilidade, à intelectualidade, a um estágio avançado do desenvolvimento da cultura humana, em oposição ao estado de barbárie ou selvageria. Civilização aqui equivale ao produto material e cultural do trabalho humano e às transformações da natureza, às organizações sociais, políticas e simbólicas construídas pelo homem. Nesse sentido, todas as culturas humanas podem ser consideradas civilizadas. Hominização: O desenvolvimento evolutivo do homem por características que o diferenciam de seus antepassados primatas. Educação nas primeiras civilizações Vimos que, com as transformações a partir da chamada Revolução Neolítica, as sociedades humanas tornaram-se mais complexas. Houve uma divisão sexual do trabalho e as mulheres, confinadas ao lar, tornaram-se dependentes dos homens. Da mesma forma, os seguimentos sociais se especializaram entre governantes, sacerdotes, mercadores, produtores e escravos, estabelecendo-se uma hierarquia de riqueza e poder. Tais mudanças foram seguidas de uma transformação na educação. Esta deixou de ser “igualitária”, isto é, acessível a todos, como nas comunidades tribais. Alguns poucos grupos privilegiados tinham acesso à educação e aos cargos burocráticos. À grande maioria da população eram negados não apenas o acesso aos cargos, mas também, e principalmente, o saber e a educação “formal”. Teve início o dualismo escolar, que, segundo Maria Lúcia de A. Aranha (2006:45), “destinava um tipo de ensino para o povo e outro para os filhos dos nobres e altos funcionários”. Portanto, a grande massa que compunha a população era excluída da escola. Parece unânime entre os autores que estudam a educação numa perspectiva temporal defender que nas civilizações orientais não havia uma reflexão predominantemente pedagógica, restringindo-se a orientações de como educar, presentes nos escritos sagrados. Estes ofereciam regras e modelos de conduta, seguindo valores religiosos e morais, com a finalidade, por um lado, de perpetuar os costumes e, portanto, as hierarquias de poder e sociais, e, por outro, evitar a transgressão das normas defendidas ou estabelecidas. O conhecimento da escrita era, por exemplo, bastante restrito em função de seu caráter sagrado e esotérico. Embora ao longo do tempo o número daqueles que procuravam a instrução tenha aumentado, apenas aqueles saídos da classe dominante chegavam aos graus superiores. Pedagógica: É preciso distinguir os conceitos de Educação e Pedagogia. O primeiro refere-se, em resumo, à prática efetiva de ensino, e o segundo, à ideia ou à filosofia que a norteia. Egito O rio Nilo foi o berço de uma das mais brilhantes civilizações do Oriente Antigo. Sob o governo teocrático dos faraós, o antigo Egito construiu sistemas de canais de irrigação, edificou templos, mumificou os mortos, desenvolveu a escrita hieroglífica, a astronomia, a medicina e a matemática, ainda que estas últimas tivessem um caráter prático. Desta forma, o desenvolvimento das ciências no Egito antigo estava relacionado, em grande parte, com a necessidade de aumentar o domínio da sociedade sobre a natureza. Devia solucionar problemas como o controle das inundações do rio Nilo, a construção de sistema hidráulico, a preparação da terra para a semeadura, o combate às doenças endêmicas e epidêmicas. As ciências que mais se desenvolveram foram a astronomia, a matemática e a medicina. As pesquisas no campo da astronomia procuravam estabelecer relações entre o movimento dos astros e o fluxo das águas do Nilo. Os egípcios desenvolveram um calendário solar que substituiu o calendário lunar, dividiram o ano em 365 dias e o dia em 24 horas. Na matemática, desenvolveram-se a aritmética e a geometria. O progresso desta última pode ser avaliado pela construção dos templos e pirâmides. Por fim, o estudo do corpo humano e o aperfeiçoamento das técnicas de mumificação impulsionaram o desenvolvimento da anatomia. O desenvolvimento da ciência e do conhecimento de um modo geral não eram acompanhados de uma reflexão teórica, nem de princípios ou leis científicas, algo que coube aos gregos. Estas atividades exigiam um esforço muito grande do Estado, o que explica, em parte, o fato do conhecimento estar restrito a poucos, como os sacerdotes, que submetiam os alunos a práticas de iniciação. As escolas, como demonstra Aranha (2006), eram frequentadas por pouco mais de vinte alunos cada uma. Embora já se perceba a institucionalização das escolas, elas não funcionavam em locais especializados, construídos com esta finalidade, mas em templos e em algumas casas. O professor sentava-se em uma esteira e ao redor dele ficavam os estudantes, geralmente ao ar livre. Os textos eram lidos em voz alta e em conjunto com o objetivo de que fossem memorizados. O ensino autoritário tinha por objetivo levar à obediência. Numa sociedade autocrática, a educação devia ensinar aos alunos o valor da obediência, da subordinação, haja vista a punição ter um papel pedagógico. A finalidade da educação, no entanto, não era apenas ensinar a obedecer. Era sua função também contribuir para que o estudante adquirisse a arte de falar bem e do convencimento, pelo menos para aqueles que faziam parte de conselhos ou deviam discursar para as multidões. Nesse sentido, os egípcios antecedem os sofistas, pelo menos, nestes dois pontos. A educação física não era negligenciada. Destinava-se aos nobres e guerreiros, centrando-se inicialmente na natação. Mais tarde, as atividades de tiro com arco, corrida, caça e pesca foram incorporadas ao ensino. Na educação dos escribas, enfatizava-se a arte de escrever bem, uma vez que eles eram os encarregados dos registros de atos oficiais e, em menor escala, dos registros comerciais. Além disso, a sua função era escrever, registrar dados numéricos, redigir leis, copiar e arquivar informações. No Egito eram funcionários reais e gozavam de condição privilegiada, sobretudo por volta do final do terceiro milênio a.C. e começo do segundo. Segundo Aranha (2006), o ensino formava não apenas funcionários que assumiriam postos na burocracia estatal, mas também preparava médicos, engenheiros e arquitetos. Havia ainda outro tipo de ensino voltado para os ofícios especializados, paraformar artesãos e para o treinamento dos guerreiros, o que separava a escola nos seus objetivos “intelectuais” ou “práticos”. A despeito disso, a grande maioria da população estava excluída da escola “formal”. Mesopotâmia A estreita faixa de terra entre os rios Tigre e Eufrates foi chamada pelos gregos, na Antiguidade, de Mesopotâmia. A partir da segunda metade do quarto milênio a.C., a região foi invadida por diversos povos, entre os principais estão os sumérios, acádios, babilônios, assírios e caldeus. A cultura dos sumérios (religião, arte, leis e literatura) serviu de base para o desenvolvimento da civilização mesopotâmica e permaneceu por milênios com pequenas alterações. À semelhança do Egito antigo, desenvolveu-se ali uma civilização baseada na agricultura e no regadio. Essa atividade estava apoiada numa vasta rede de canais e aquedutos, utilizados para sanear os pântanos, fertilizar a terra e controlar a distribuição da água. Uma economia agrícola, apoiada num complexo sistema de drenagem e irrigação, serviu de base para o surgimento de uma sociedade de castas, extremamente hierarquizada, portanto, que se organizou em impérios teocráticos e desenvolveu uma brilhante cultura. A escrita cuneiforme, os templos e os palácios, o Código de Hamurabi e os Jardins Suspensos da Babilônia são exemplos das realizações dos povos mesopotâmicos. Como no Egito, as ciências eram dominadas pela religião. Muito tênue era a fronteira que separava a medicina da magia, a matemática da cabala e a astronomia da astrologia. A matemática foi desenvolvida pelos caldeus nos campos da álgebra e da geometria. A astronomia foi a ciência que alcançou maior progresso; praticada pelos sacerdotes, estes utilizavam as torres dos templos como observatórios. Em suas pesquisas chegaram a prever eclipses e estabelecer o movimento dos astros. No segundo milênio a.C., Hamurabi, rei do Primeiro Império Babilônico, foi o responsável pelo primeiro código de leis escrito na história do Oriente Antigo, considerado o maior legado mesopotâmico no plano das leis. Legislava sobre questões penais, direito de propriedade, relações familiares, religião e comércio. Segundo a tradição, considerava-se que as leis resultavam da autoridade divina e, como tal, não podiam ser transgredidas, o que supunha castigos severos. Dispondo de amplos conhecimentos, os mesopotâmios construíram bibliotecas e no campo da ciência tiveram progressos significativos. No entanto, como vimos, estes saberes não conseguiram se desvincular do misticismo. Para os estudiosos, por exemplo, as doenças seriam causadas por demônios e a posição dos astros revelava a vontade dos deuses. Quanto à educação, não dispomos de grandes informações. Sabe-se, no entanto, que predominava uma educação doméstica em que os conhecimentos, crenças e habilidades eram transmitidos de pai para filho. Com os assírios (1300-612 a.C.), os quais formam um imenso império que se estendeu para toda a Mesopotâmia e extrapolou os seus limites geográficos, foram criadas escolas públicas objetivando impor os valores dos conquistadores. Mais tarde, fundaram-se instâncias de educação superior (centro de estudos de história natural, astronomia e matemática) criadas nos palácios reais. Os assírios ergueram ricas bibliotecas no interior dos templos. A cultura dominante era formada por uma poderosa classe sacerdotal, detentora do saber e encarregada da educação. A escola formava os escribas, encarregados de ler e copiar os textos religiosos e, ainda, registrara transações comerciais. O aprendizado era longo, minucioso e voltado para a preservação da cultura. Índia Por volta do terceiro milênio a.C., começou a desenvolver-se, às margens dos rios Indo e Ganges, a civilização indiana. No decorrer do segundo milênio a.C., de forma lenta, com imigrações e invasões, o sul da Índia registra a chegada de povos seminômades indo-europeus, chamados de ário ou arianos. Ariano é a forma genérica pela qual são chamadas as pessoas de pele clara originárias de algumas das cerca de cinquenta tribos nômades que habitavam a região do Cáucaso – área que abrange parte dos territórios atuais de Rússia, Geórgia, Azerbaijão e Arménia. Dominando a escrita, os ários descreveram sangrentos conflitos por meio dos quais teriam se instalado no vale do rio Indo. Estes textos, que foram escritos em sânscrito, são conhecidos como vedas, que significa “conhecimento”. Por isso, a civilização que surge nesse momento é chamada de védica. Mais tarde, avançaram em direção ao vale do Ganges. A civilização védica está na base histórica da Índia como a conhecemos. Sua cultura foi compilada pelos diversos reinos que se formaram na região. Caracteriza-se pela religião – o hinduísmo e, posteriormente, o bramanismo – e pela forma de organização social – o sistema de castas. O hinduísmo fundamentava-se nas crenças descritas nos Vedas, com a adoração de várias divindades, e mesmo animais, e a crença na reencarnação. Seus seguidores tinham como objetivo principal a plena purificação (o chamado nirvana), que poria fim ao eterno ciclo do nascimento, a morte e a reencarnação. Com o passar do tempo, o hinduísmo sofreu transformações, incorporou novas divindades, dando origem a uma religião mais complexa, conhecida como bramanismo. Entre as principais divindades do bramanismo estão Brahma, criador do universo, Vishnu, deus da conservação e Shiva, deus da destruição. O domínio dos guerreiros (xátrias) e dos sacerdotes (brâmanes) sobre os demais grupos sociais indianos fundamenta o sistema de castas. Castas são grupos sociais fechados, compostos de pessoas que exercem a mesma posição. Nesse sistema não se pode passar de uma casta a outra. As mais importantes castas eram formadas pelos árias. Os sacerdotes ficavam no topo da hierarquia social, na casta dos bramares. Em seguida, estavam os xátrias (nobres, guerreiros e administradores), os vaixás, ou comerciantes, e os sudras, artesãos e trabalhadores manuais não arianos. Na base da hierarquia social estavam os párias, pessoas excluídas da sociedade, sem direito à instrução, ouvir os hinos védicos e viver nas cidades. Nessa sociedade a educação era privilégio das castas superiores, embora não fossem comuns as escolas. Geralmente os pais eram responsáveis pela educação dos filhos, como base nos textos Vedas, livro sagrado compostos por hinos e preces. Havia nesta sociedade hierarquizada, portanto, uma extrema discriminação. A educação, também discriminatória, privilegiava os brâmanes. Com a orientação dos professores, eram estudados os textos sagrados dos Vedas e dos Upanishards; estes, textos mais recentes, datam do período entre 1500 e 500 a.C. As aulas ocorriam, geralmente, ao ar livre, sob árvores e dependiam da iniciativa privada. O mestre era muito respeitado e havia uma disciplina, mas que não abusava dos castigos. Predominava o ensino religioso com destaque para os preceitos morais. O aprendizado caracterizava-se pela memorização. Por isso, não havia grande interesse pela educação física. Inicialmente apenas os brâmanes atingiam os estudos superiores. Nestes, estudavam não apenas a religião, mas também gramática, literatura, astronomia, matemática, filosofia, direito e medicina. Com o tempo, outros grupos sociais passaram a ter acesso a esse tipo superior de educação, enquanto outros seguimentos apenas recebiam educação elementar, da qual estavam excluídos os sudras e os párias. China Por volta de 7000 a.C., surgiram as primeiras aldeias às margens dos rios na região que hoje forma a China. Foi no vale do rio Huang Ho (rio Amarelo), no norte da China, que a agricultura mais se desenvolveu, o que levou à formação de muitas comunidades. Com o passar do tempo, esses povoados se transformaram em pequenos Estados governados por chefes cujo poder era transmitidopor meio de laços familiares. Estes pequenos Estados foram unificados formando um império, governado por várias dinastias. Após certo período, o império se expandiu por extensas áreas, tornando a sociedade e as relações econômicas e políticas mais complexas. Durante os sete séculos governados pela dinastia Shang, que reinou até o século XI a.C., a China viveu uma era de florescimento cultural, com a criação de uma escrita primitiva (Yinxu), que originou a atual escrita chinesa, feita com ideogramas, símbolos gráficos ou desenhos que representam ideias, sentimentos ou conceitos. Ainda durante a dinastia Shang, foi desenvolvido um calendário com 365 dias, o uso de conchas como dinheiro, a criação de instrumentos musicais, como tambores e sinos, e o descobrimento da técnica de fabricar tecidos de seda com base nos casulos do bicho-da-seda. Durante esse período, os chineses acreditavam em vários deuses, consultavam oráculos e realizavam sacrifícios de humanos e animais em nome dos deuses. Com o fim da dinastia Shang, segue-se uma disputa pelo poder, dando início a um período de lutas que acabou levando a uma crise estrutural da sociedade. Essa crise provocou reflexões a respeito do papel do Estado, das leis e dos governantes. Da mesma forma, estimulou o nascimento de teorias filosóficas, como o taoísmo e o confucionismo. Esta última, ainda hoje influente na China, foi elaborada por Koung Fou Tseu (551-479 a.C.), conhecido no ocidente como Confúcio, que se dedicou a pensar como o Estado, os governantes e os indivíduos poderiam viver em uma sociedade harmônica e feliz. O confucionismo sustenta os princípios de altruísmo, cortesia ritual, conhecimento ou sabedoria moral, integridade, fidelidade e justiça, retidão e honradez. O taoísmo, por sua vez, foi fundado por Lao Tsé (cerca de 570-490 a.C.). Defendia o abandono das vaidades do mundo, o retiro da vida pública e a dedicação à meditação solitária, que seria o caminho (tao) para uma integração íntima com o universo. Uma característica marcante da sociedade e da cultura chinesas é o tradicionalismo. Isso acabou refletindo na educação que reproduziu esse conservadorismo era voltada para a transmissão da sabedoria contida nos livros clássicos. Talvez o livro canônico, ou clássico, mais antigo seja o I Ching (Livro das mutações), cuja origem não é possível datar. Trata-se de um tipo de oráculo que até hoje é consultado pelos orientais. Lao Tsé e Confúcio, que viveram no século VI a.C., buscaram inspiração nesse livro. Ao contrário de outras sociedades, cujo saber estava nas mãos da classe sacerdotal, na China o poder estava com os letrados, os mandarins, altos funcionários e responsáveis pela burocracia do Estado, da confiança do imperador. Havia um rigoroso sistema de seleção para o ensino superior, baseado em exames oficiais direcionados às diversas atividades administrativas. Os cursos restringiam-se à classe dominante, enquanto as oficinas eram reservadas para os artesãos e camponeses. De acordo com Aranha (2006), a educação elementar tinha por objetivo o ensino do cálculo e a alfabetização. Devido à complexidade da escrita chinesa, esse processo era difícil e demorado. A formação moral baseava-se na transmissão dos valores dos ancestrais. O ensino era caracterizado por ser rigoroso e dogmático, com ênfase na memorização. Os Hebreus No início do segundo milênio a.C., os hebreus estavam estabelecidos nas imediações da cidade de Ur, na Mesopotâmia. Vivendo do pastoreio, organizavam-se em clãs ou tribos, grupos familiares dirigidos pelos homens mais idosos, a quem chamavam patriarcas. Segundo a primeira parte da Bíblia, coube a Abraão, primeiro dos patriarcas, obedecendo a uma ordem divina, partir com o seu povo em direção à Terra Prometida, chamada depois de Canaã ou Palestina. Mais tarde, pressionados pela escassez de alimentos, deixaram a Palestina e migraram para o Egito, onde depois de viverem bem, foram escravizados. Tempos depois, conduzidos por um novo chefe, Moisés, eles fugiram do vale do Nilo e retornaram à Palestina (Êxodo). Os hebreus não se destacaram nos campos da arte ou da ciência e sim por suas realizações no direito e na literatura. No entanto, a sua mais importante e original realização foi no plano religioso ao elaborarem o judaísmo. Este se baseia na existência de um único Deus e no culto de Iavé (Jeová), Deus indivisível e incorpóreo, cuja imagem não deveria ser reproduzida em pinturas ou estátuas. Os hebreus, povo escolhido, não poderiam adorar outros deuses e deviam respeitar os Dez Mandamentos que Moisés gravou nas Tábuas da Lei. Os hebreus foram os primeiros povos a estabelecer um monoteísmo ético, isto é, a exigência de que os seguidores do judaísmo tivessem um comportamento moral baseado no respeito ao próximo. A educação era prerrogativa dos profetas que, acreditava-se, eram os mensageiros de Deus e os escolhidos para “educar o povo” com rigor e disciplina na interpretação da Lei e castigar repreendendo com violência aqueles que não seguirem os seus ensinamentos, estes organizados em torno da interpretação da Lei divina. De início, as sinagogas também se transformavam em escolas ou locais para a instrução religiosa e não apenas centros de oração e de vida religiosa e civil, pela qual se transmitiam as verdades bíblicas. A educação tinha um caráter religioso, voltada tanto para a “palavra” quanto para os costumes. Os conteúdos de ensinamentos eram trechos escolhidos da Torá, que significa “ensinamento” ou “instrução”, formada por cinco livros sagrados. 2. A EDUCAÇÃO CLÁSSICA: GRÉCIA E ROMA Conhecimentos Compreender o modelo de formação humanística adotado pela civilização clássica (greco-romana) e seus desdobramentos. Habilidades Reconhecer o desenvolvimento do modelo de educação nas sociedades da chamada Antiguidade clássica. Atitude Perceber e analisar como a educação, nas civilizações clássicas, passa a ser encarada como um problema essencial da humanidade. Educação Clássica: o caso da Grécia Antiga Chamamos de educação clássica o ensino desenvolvido no Ocidente, entre os gregos e romanos, durante o século V a.C e o século V d.C. Enquanto parte das civilizações da Antiguidade Oriental surgiram em torno de rios, as civilizações da Antiguidade Clássica surgiram nas penínsulas (balcânica e itálica) da bacia do Mediterrâneo. As primeiras foram agrícolas- sedentárias, enquanto as civilizações peninsular-mediterrânicas da Antiguidade Clássica foram mercantis-escravistas. A civilização grega surgiu no extremo-sul da península balcânica (Hélade), cujos povoadores, os indo-europeus, deram origem aos gregos ou helenos. Estes se organizavam em Cidades-Estado (póleis, em grego), fundaram colônias no mediterrâneo e eram um povo de navegadores e comerciantes. A cultura clássica (helenismo) atingiu seu apogeu no chamado “Século de Péricles” (século V a.C.) e logo depois a Grécia foi dominada pelos Macedônios. Os principais legados da cultura grega para o ocidente foram a filosofia, a ciência e a democracia. Os valores gregos foram expandidos pelos macedônios para o mundo até então conhecido, conquistado por Felipe da Macedônia, no processo de helenização do Oriente. O declínio grego-macedônio coincidiu com a ascensão de Roma, cidade surgida na Itália central. Em sua evolução política, Roma conheceu, sucessivamente, a Monarquia, a República e o Império. Após a conquista da Itália, Roma realizou a conquista do Mediterrâneo e unificou o mundo de sua época. Em sua expansão para o Oriente, incorporou a cultura grega, que se fundiu com a latina e deu origem a cultura greco-latina. Além do papel de intermediária entre a Grécia e o Ocidente, Roma transmitiu-nos um legado cultural próprio, cujas contribuições mais importantes foram o Direito Romano, a literatura, a língua latinae o Cristianismo. Cenário Histórico O Período Homérico e a Civilização Micênica No segundo milênio a.C., a Grécia foi invadida por diversas tribos nômades- pastoris originárias das planícies da Europa Oriental (aqueus, jônios, eólios e dórios) e deram origem à civilização grega. Por volta de 1700 a.C., os aqueus fixaram-se na Península do Peloponeso, ao sul da Grécia. Conquistaram a cidade de Micenas, erguida ali pelos cretenses, e por meio do mar Egeu estabeleceram contato com a ilha de Creta. Os contatos entre aqueus e cretenses levaram a formação da civilização micênica ou creto-micênica que, por sua vez, exerceu influência significativa sobre a civilização grega. A disputa pela supremacia no mediterrâneo levou a luta entre aqueus e cretenses, culminando com a destruição destes últimos. Por volta de 1200 a.C., os dórios invadiram a Grécia. A conquista do Peloponeso provocou a fuga de parte dos aqueus para as ilhas do mar Egeu e para as costas da Ásia Menor, cuja consequência foi a colonização dessas regiões pelos gregos. Iniciaram-se os tempos homéricos (século XII-VIII a.C.), assim chamados em função de ter supostamente vivido ali, naquela época, o poeta Homero, autor, acredita-se, da Ilíada e da Odisseia, poemas épicos. Estes poemas, obras primas da literatura grega, revelam aspectos fundamentais da vida da Grécia micênica e pós-micênica, cuja organização baseava-se na comunidade gentílica. Esta era formada por um grupo de pessoas aparentadas por laços consanguíneos e descendentes de um antepassado comum. A economia gentílica, agrícola e pastoril baseava-se na propriedade comunitária da terra. A sociedade era igualitária e se caracterizava pela inexistência de classes sociais. Ao fim do período homérico, o crescimento demográfico e a escassez de terras férteis levaram à desagregação da comunidade gentílica. Data dessa época o início da formação das Cidades-Estado. O Período Arcaico (Século XVIII-VI a.C.) Esse é um período marcado por grandes transformações econômicas e sociais e caracterizado pelo surgimento e desenvolvimento das Cidades-Estado (póleis). Com o processo de emigração do século VIII que marca o encerramento do Período Homérico, numerosas colônias foram fundadas. O mundo grego, até então restrito à Grécia, as ilhas do mar Egeu e ao litoral da Ásia Menor, estendeu-se para o Oriente e para o Ocidente. A colonização e as relações entre a Grécia continental e as novas colônias ocasionaram grandes transformações. Desenvolveram-se a indústria e a construção naval; o comércio marítimo assumiu dimensões internacionais. Como efeito, surgiu na sociedade grega, uma rica classe média de artesãos, armadores e comerciantes. No entanto, a concorrência dos produtos importados arruinou os pequenos agricultores e concentrou a propriedade da terra nas mãos da aristocracia. As cidades foram atingidas por uma forte crise social e política. Desencadeou-se uma luta entre o povo (demos) e a aristocracia. A situação acarretou o surgimento de tiranos e legisladores. Os primeiros buscaram a solução por meio de reformas e os segundos lideraram insurreições populares e conquistaram o poder pela violência. Nas póleis, onde a vitória coube à nobreza, consolidou-se o regime aristocrático. Naquelas em que o demos foi vitorioso, as reformas conduziram a democracia. As muitas transformações levaram ao desenvolvimento de reflexões que culminaram com o surgimento do pensamento racional. Além do surgimento e desenvolvimento da pólis, a introdução da escrita, a utilização da moeda e a lei escrita por legisladores também são realizações desse momento. Segundo Jean-Pierre Vernant (2008), a filosofia nasce com a pólis, esta uma criação humana e não divina. A filosofia surge no momento histórico em que se afirma a utilização da razão (logos), em substituição ao mito (alegoria) para resolver os problemas da vida, vinculada ao surgimento da cidade-Estado. A prática constante da discussão política em praça pública (ágora) pelos cidadãos, principalmente em Atenas a partir de Clístenes, teria contribuído para o raciocínio bem formulado e convincente. Com o tempo, teria se tornado o modo adotado para se refletir sobre as coisas. A filosofia, assim, é filha da pólis. Pólis: Significa cidade-estado. Na Grécia Antiga, a pólis era um pequeno território localizado geograficamente no ponto mais alto da região, e cujas características eram equivalentes a uma cidade. O surgimento da pólis foi um dos mais importantes aspectos no desenvolvimento da civilização grega. Período Clássico O período clássico grego corresponde, tradicionalmente, aos séculos V e IV a.C. Neste período a Grécia atingiu, ao mesmo tempo, o seu apogeu e decadência. O primeiro caso coincide com o governo de Péricles, em Atenas, que aperfeiçoou a democracia. Péricles, no século V, contratou os melhores arquitetos e escultores da época. Estes ergueram tribunais, templos, teatros e ginásios. O Parthenon, templo dedicado à deusa Palas Atenas, protetora da cidade, é considerado uma das obras mais destacadas. O governante de Atenas também estimulou as artes. Foi no século V a.C. que surgiram os primeiros relatos históricos, com as obras de Heródoto e Tucídides que abordaram, respectivamente, as Guerras Médicas e a Guerra do Peloponeso. A filosofia ganhou destaque com Sócrates, Platão e Aristóteles, e a medicina se desenvolveu com Hipócrates. Foi no “Século de Péricles”, como ficou conhecido o século V a.C., portanto, que a produção nas artes, literatura e filosofia delineou a herança cultural dos gregos para o mundo ocidental. O período clássico marca também a decadência da Grécia, assolada por conflitos internos. Período Helenístico Este período inicia-se com a conquista da Grécia pela Macedônia, no século IV a.C., e estende-se até o século II a.C. Inicialmente governados por Felipe II, os macedônios conquistaram a Grécia, enfraquecida pelas lutas internas, e logo partiram para a conquista do Oriente. Coube a Alexandre, o Grande, filho de Felipe II, conquistá-lo. Educado por Aristóteles, Alexandre assimilou a cultura grega e foi responsável pela conquista da Ásia Menor, a Pérsia, chegando às margens do rio Indo, na Índia. A sua grande obra, no entanto, deu-se no plano cultural que sobreviveu ao esfacelamento de seu império. A expansão de Alexandre acabou por difundir a cultura grega pelo Oriente. As cidades fundadas por eles (várias delas batizadas com o seu nome) tornaram-se verdadeiros centros de difusão da cultura grega. Denominamos de Helenismo ou cultura helenística a fusão da cultura grega com a cultura oriental. Educação Integral ou Paideia Segundo Gadotti (2006), a Grécia serviu de berço da cultura, da civilização e da educação ocidental. O desenvolvimento cultural dos gregos, com sua visão universal e reflexão sobre o mundo e a existência, produziu uma maneira original de lidar com a educação, cuja ênfase era dada na formação integral, que consistia na integração entre a cultura e a sociedade. Essa concepção gerou o conceito de paideia, palavra que teria surgido por volta do século V a.C., de difícil definição, mas que exprimia um ideal de formação integral, humanística. São os gregos que, pela primeira vez, colocam a educação como problema essencial da humanidade, produzindo uma reflexão filosófica sobre sua importância na formação humana. A partir dos sofistas, e com os filósofos socráticos e pós-socráticos, é que o conceito de educação alcança o estatuto de reflexão filosófica. Os gregos deram um valor desmedido à arte, à literatura, às ciências e à filosofia. A educação do homem integral deveria dar conta da formação física, do corpo (pela ginástica), da mente (pela filosofia e pelas ciências) e da moral e dos sentimentos (pela música e pelas artes). Portanto, os estudantes deveriam ser submetidos a um programaque atendesse a todos os aspectos da vida humana. Nesse tipo de educação os gregos estudavam literatura, história, geografia, gramática, retórica, ginástica, ciências, música e outros conhecimentos. No início, antes da escrita, a educação ficava a cargo da própria família, conforme a tradição religiosa. Com a constituição da aristocracia dos senhores de terra, os jovens da classe dominante eram confiados a preceptores. As escolas somente aparecem com as primeiras póleis, tendo como finalidade atender a procura por instrução. No período clássico a escola já se encontrava estabelecida, sobretudo em Atenas. O aumento de estabelecimentos escolares na Grécia não representa uma “democratização” do ensino, uma vez que a educação permanecia elitizada, atendendo principalmente aqueles jovens oriundos das famílias tradicionais da antiga nobreza ou das famílias de enriquecidos mercadores. A educação era reservada aos homens livres. Ser livre, como esclarece Gadotti (2006) significava não ter preocupações materiais, com o comércio ou com a guerra, atividades reservadas às classes inferiores. O chamado ócio digno significava dispor de tempo livre, prerrogativa daqueles que não precisavam se preocupar com a subsistência. Lembramos que a sociedade grega clássica era escravista e, dependendo do período, existiam dezessete escravos para cada homem livre. Para este mesmo autor, o caráter da educação grega aparecia na exigência de que o ensino estimulasse não apenas a competição e as virtudes guerreiras para manter a superioridade militar sobre as classes subalternas e submetidas, mas também ser capaz de permitir-lhes mandar e ser obedecido. A educação física, que no início teve um caráter predominantemente militar e guerreiro, passa a ser orientada para os esportes. Nas escolas onde a formação física teve papel destacado, o ensino das letras e cálculos demorou para se difundir, sendo, no entanto, uma realidade em quase todo lugar por volta do século VI a.C., ou mesmo depois, no século V a.C. Ao poucos, a formação espiritual suplantará, em quase toda a Grécia, com exceções, como é o caso de Esparta, a formação física. Modelos de educação: Esparta e Atenas A Grécia nunca formou um estado unificado, como vimos. A sua unidade era dada pela cultura. No entanto, no que diz respeito à educação, havia divergências para além dos pontos semelhantes que uniam os gregos. As Cidades-Estado eram politicamente autônomas e o modo de educar variou entre elas. Os exemplos sempre destacados apontam para os casos de Atenas e Esparta, cujas formas de educação singulares correspondem ao processo histórico particular de cada cidade e a forma como estas sociedades se organizaram. Esparta Esparta constituiu um caso excepcional entre as póleis gregas, cuja evolução se assemelhou mais à de Atenas. Fundada pelos dórios no interior do Peloponeso, organizou-se como uma fortaleza erguida em solo inimigo. Os espartanos (ou esparciatas, classe dominante, descendentes dos guerreiros dórios) eram educados como cidadãos-soldados, mobilizados permanentemente para a Guerra. A cidade-estado era militarista, aristocrática e conservadora. Em Esparta, ao contrário do que ocorreu em Atenas, a educação priorizou sempre a formação física e militar sobre a formação do espírito e do intelecto. A educação espartana submetia totalmente o indivíduo ao interesse do Estado, subordinando a vida familiar ao convívio coletivo e incutindo no cidadão- soldado um cego amor à pátria. A educação dada pelo Estado começava aos sete anos, quando as crianças eram tiradas de suas famílias e iam para comunidades constituídas por grupos de acordo com a idade. Eram supervisionadas por aqueles responsáveis pela instrução. Nesta fase, as crianças estudavam, como todo grego que tinha acesso à educação, música, canto e dança. Aos doze anos iam viver em acampamentos, dedicados ao treinamento físico e à formação militar. Os jovens aprendiam os segredos da luta corporal e do manejo das armas. Aprendiam a suportar a fome, o frio e a controlar seus sentimentos diante de castigos físicos, sobretudo a raiva, essencial na luta contra os inimigos. A educação moral valorizava a obediência, a aceitação dos castigos físicos, o respeito aos mais velhos e privilegiava a vida comunitária. Ao vinte anos, após se submeter ao teste da Krypteia, o indivíduo estava preparado para ingressar no exército. Em estado de mobilização permanente, o cidadão-soldado servia no exército até os sessenta anos quando, se pertencesse a uma família notável, poderia integrar as instituições políticas responsáveis pela administração da pólis. Por valorizar a formação militar, os espartanos não eram dados aos refinamentos intelectuais, nem apreciavam os debates e os discursos longos, como em Atenas. No entanto, em Esparta se oferecia uma maior atenção às mulheres, cuja função essencial era gerar filhos robustos e saudáveis. Por isso, elas participavam das atividades físicas. É preciso esclarecer que apenas a classe dominante, formada por aqueles que acreditavam ser descendentes dos dórios, tinha o direito à educação estatal. Atenas A educação em Atenas pautava-se por outros valores. Em suas escolas, mesmo aristocráticas, ao lado da formação física, destacava-se a formação intelectual, necessária para participar dos destinos da cidade. Buscava-se o conhecimento da verdade, do belo e do bem. Com a ascensão da classe dos comerciantes e o crescimento da cidade, em oposição à aristocracia, que tradicionalmente teve o poder em suas mãos, impôs-se outra forma do exercício do poder e, por conseguinte, uma nova educação. Se no início a educação fora aristocrática, sob a tutela da família, com o passar do tempo surgiram as escolas, já no século VI a.C. Embora o Estado já perceba a importância da educação, ela não se tornou obrigatória nem gratuita, predominando pois a iniciativa particular. A educação começava aos sete anos. As meninas permaneciam em casa e se dedicavam aos afazeres domésticos, enquanto os meninos desligavam-se da autoridade da mãe para iniciar a alfabetização e a educação física e musical. O estudo primário, ou elementar, destinava-se a ensinar a leitura do alfabeto, escrita e cálculo, enquanto os estudos secundários compreendiam a educação física (corrida a pé, salto em distância, lançamento do disco e do dardo, luta, ginástica, etc.), a artística, que incluía o desenho, o domínio da lira, o canto e o coral, os estudos literários, compreendendo o estudo das obras clássicas, sobretudo, de Homero, a filologia (leitura, recitação e interpretação de textos) e científicos, que compreendiam o estudo da matemática, da geometria, da aritmética e da astronomia. De acordo com Gadotti (2006), no ensino superior prevalecia o estudo da retórica (a arte do bem falar) e da filosofia. Os estudos filosóficos compreendiam, geralmente, seis tratados: a lógica, a cosmologia (estudo dos astros), a metafísica, a ética, a política e a teodiceia. A educação elementar completava-se aos treze anos. Os mais pobres saíam em busca de um ofício, enquanto os jovens de família rica prosseguiam nos estudos. Dos dezesseis aos dezoito anos a educação assumiu uma dimensão cívica de preparação militar, instituição criada no século VI a.C., conhecida como efebia (efebo = jovem). Com a abolição do serviço militar em Atenas, a efebia passou a constituir a escola em que se ensinava filosofia e literatura. Somente no século V a.C., com os sofistas, é que teve início uma espécie de educação superior. Segundo alguns estudiosos, as lições dos sofistas tinham como principal objetivo o desenvolvimento do poder da argumentação, a habilidade retórica, bem como o conhecimento de doutrinas divergentes. Dessa forma, eles transmitiam todo um jogo de palavras, raciocínios e concepções úteis para driblar as teses dos adversários e convenceras pessoas. A democracia ateniense proporcionou um número maior de habitantes na discussão sobre temas práticos e públicos, favorecendo também o desenvolvimento de uma cultura que valorizava o uso da palavra e da razão. As habilidades argumentativas e dialéticas dos cidadãos tornaram-se um bem cada vez mais apreciado. Foi nesse contexto que apareceram os sofistas. Seus ensinamentos foram valorizados, pois a política precisava de cidadãos que soubessem convencer pela palavra. Finalmente, é preciso esclarecer que a educação formal atendia aos interesses da classe dominante, excluindo assim a maior parte da população do saber ministrado nas escolas. A cosmologia estuda a estrutura, a evolução e composição do universo. Metafísica: significa “o que está para além da física”. Teodiceia: Parte da metafísica que trata de Deus, de sua existência e de seus tributos. A educação clássica - O caso de Roma: a humanistas Por intermédio do Império Romano, espalhou-se a língua latina, os seus costumes, transmitindo também a cultura grega, da qual era depositária. Em contato com os gregos, os romanos adotam o seu modelo de educação, apresentando, neste campo, algumas particularidades, como veremos adiante. Cenário Histórico A cidade de Roma surgiu de um pequeno povoado nas terras férteis do Lácio, no centro da Península Itálica, recebendo influência de diversos povos indo- europeus que se fixaram na região desde o século X a.C., como os latinos e sabinos. Desde a fundação de Roma, no século VIII a.C., os romanos conheceram a Monarquia, a República e o Império como formas de governo. Monarquia ou Realeza (753-509 a.C.) A Monarquia ou Realeza foi a primeira forma de governo adotada em Roma. Nesta época, com o desenvolvimento da agricultura, a economia deixou de basear-se no pastoreio. Mais tarde, Roma, com o desenvolvimento do comércio, transformou-se numa grande cidade para os padrões daquela época. Com a substituição da posse comum da terra pela propriedade privada, estabeleceu-se uma divisão de classe bem delineada, entre patrícios, que se consideravam descendentes dos fundadores de Roma e detentores do poder, formados pelos grandes proprietários de terra, plebeus, grupo composto de mercadores, artesãos e pequenos proprietários, sem acesso aos cargos públicos, clientes, geralmente ex-escravos ou filhos de escravos que tinham com os patrícios uma relação de completa dependência, e escravos, formados pelos prisioneiros de guerra ou por plebeus que não conseguiam pagar suas dívidas, em pequeno número antes e no início do período republicano. As lutas entre os patrícios e os últimos reis etruscos, povo que vivia ao norte de Roma e havia dominado-a, levou à formação da República, sob o domínio patrício. República Com a passagem da Monarquia para a República ocorreu a transferência do poder dos etruscos para os patrícios, que se transformaram na classe dominante de Roma. Criou-se um sistema político mais complexo, com inúmeras instituições sob seu domínio, cuja principal era o Senado, para onde iam os cidadãos mais destacados e as famílias mais influentes. Controlado pelos patrícios, o sistema político tinha um caráter oligárquico. Os plebeus, em número cada vez mais crescente, marginalizados e descontentes com sua situação, eram fonte de crescente tensão, e a Roma republicana vivia sempre a possibilidade de uma convulsão social. As lutas entre patrícios e plebeus foram uma característica marcante deste período que se estendeu por dois séculos. Data desse período uma série de conquistas plebeias, dentre elas destacam-se o direito de eleger seus próprios magistrados, os chamados Tribunos da Plebe, impondo aos patrícios a transformação das leis orais numa legislação escrita, a igualdade civil, ao autorizar o casamento entre patrícios e plebeus, antes proibido. Outras características marcantes deste período, a despeito das lutas entre patrícios e plebeus, foi, em primeiro lugar, a expansão territorial interna que, por meio de guerras e conquistas, culminou com o domínio romano sobre toda a Península Itálica e, em segundo lugar, a expansão externa, que levou ao domínio do mediterrâneo. Esta última provocou grandes transformações sociais e econômicas. Uma das consequências das guerras de expansão foi a redução de imensos contingentes de prisioneiros de guerra à condição de escravos e a sua utilização como mão de obra na economia romana. A transformação de uma economia baseada na pequena propriedade agrária e no trabalho livre em um sistema escravista de produção provocou a ruína dos camponeses, concentração de terras nas mãos da aristocracia e na transformação de uma massa de desempregados que migrou dos campos para a cidade. As transformações desencadearam um novo período de lutas sociais que assinalaram a crise da República e o início do Império. Império Com o Império, chegaram ao fim as crises político-sociais que assinaram a passagem da República para o Império. Durante o Alto Império (séculos I a.C.– III d.C.), Roma atingiu o apogeu e a pax romana (período de estabilidade) foi estendida do Ocidente ao Oriente. O governo de Otávio Augusto (27 a.C. – 14 d.C.), oficialmente primeiro imperador romano, foi caracterizado pela ampliação do comércio entre as províncias, construção de grandes obras (estradas, pontes, aquedutos) e grandes realizações culturais. Com o incentivo dado às artes, a literatura floresceu, destacando-se a atuação do ministro Mecenas, que apoiou financeiramente artistas e escritores como os poetas Virgílio, Horácio e Ovídio. Esse período, considerado o mais rico da civilização romana em termos culturais, foi denominado de Século de Augusto. Um fato marcante do período foi o surgimento do cristianismo que, após sangrentas perseguições, transformou-se em religião do Estado na fase do Baixo Império Romano (Séculos III – V d.C.) e teria influência marcante na história ocidental. No chamado Alto Império, o Império Romano mergulhou em sucessivas crises. A expansão territorial, base de toda sua riqueza e estabilidade política e social, foi se esgotando. Mais importante que expandir o território era manter e fortalecer suas fronteiras. Sem novas conquistas não havia captura de escravos e a mão de obra começou a tornar-se escassa. A economia romana, baseada no braço escravo, entrou em crise. Os elevados custos para manter as estruturas imperiais, militares e administrativas abalaram o poder romano, reativando as disputas entre chefes militares. As dificuldades para resguardar as fronteiras facilitaram as invasões que, associadas a outros fatores, iriam pôr fim ao Império Romano. A Educação no Império Romano São características da civilização romana a sua expansão territorial e a construção de um império unificado, o que a diferenciava dos gregos; era formada por inúmeras Cidades-Estado, politicamente autônomas. Apesar das diferenças entre os inúmeros povos que viveram dentro das fronteiras do Império Romano, não havia discriminação sobre os vencidos. Em troca do pagamento dos impostos, eram-lhes conferidos títulos de cidadania. Ao conquistar a Grécia, os romanos não lhe impuseram o latim, mas assimilaram seus padrões culturais. Os romanos, como os gregos, não valorizavam o trabalho manual. Seus estudos são essencialmente humanistas, algo equivalente à Paidéia grega, como aquela cultura geral que transcende os interesses locais e nacionais no sentido de educação, cultura do espírito. No entanto, a humanitas distingue-se da Paideia por se tratar de uma cultura predominantemente humanística e, principalmente, cosmopolita e universal, buscando aquilo que caracteriza o ser humano, em todos os tempos e lugares. Os romanos pretendiam universalizar, levar a todos os povos a sua humanitas, o que acabou conseguindo por meio do cristianismo. Segundo Aranha (2006), com o tempoessa maneira de entender a educação degenerou, restringindo-se ao estudo das letras e negligenciando as ciências. Para a autora, pode-se distinguir três fases na educação romana: a educação latina original, de natureza patriarcal; a influência do helenismo, criticada pelos defensores da tradição e, finalmente, a fusão entre a cultura romana e a helenística A educação latina Desde o início, a civilização romana sofreu influência do helenismo. Mas não se fez sem resistência, tentando manter a tradição dos ancestrais. Na educação tradicional latina, o objetivo do ensino era prático, proporcionando à criança o saber necessário para o exercício de uma profissão e incutindo uma ética que subordinasse o indivíduo a um ideal superior. No século II a.C., era responsabilidade da mãe educar seus filhos durante a primeira infância, até os sete anos. Somente a partir dessa idade é que a educação passava a ser responsabilidade do pater famílias (o chefe da família) ou, na sua ausência, do tio. Cabia ao chefe da família a responsabilidade de proporcionar aos filhos a educação cívica e moral. As meninas permaneciam restritas ao lar, aprendendo, a partir dos sete anos, os serviços domésticos. A educação dos meninos passava pela aprendizagem de memorização de preceitos jurídicos e de conceitos com base nas Leis das Doze Tábuas, cujo objetivo era, em parte, desenvolver a consciência histórica e o patriotismo. A base dessa forma de educação era a preocupação natural em associar valores culturais ao ideal coletivo. Exaltava-se o respeito pelos antepassados (pietas) que, entre as famílias patrícias, representavam o orgulho dos modelos de comportamento, repetidos de geração a geração. Vivendo numa sociedade essencialmente agrícola, o jovem era iniciado na arte de cuidar da terra, colocando lado a lado o senhor e o escravo. De um lado, a criança aprendia a ler, escrever e contar e, de outro, desenvolvia a habilidade no manejo das armas, na natação e na equitação. Mais do que esportes desinteressados, os exercícios físicos tinham como finalidade principal preparar o guerreiro. Por volta dos quinze ou dezesseis anos tinha início a aprendizagem da vida pública. O jovem era iniciado na sociedade pelo pai ou por outro homem influente, amigo da família e bem posicionado no mundo social. Devia ser levado à praça central para conhecer o comércio e o local onde eram tratados os assuntos públicos e privados (fórum). Era em torno do fórum que se erguiam os principais monumentos da cidade, com destaque para o tribunal. Antes de atingir a idade militar, o jovem devia adquirir conhecimentos de Direito, traquejo social e a “arte de dizer”, concepção romana de eloquência. Logo depois, por volta ainda dos dezesseis anos, o jovem era encaminhado para a função militar ou política. A educação era mais voltada para a formação moral do que para as atividades intelectuais; era baseada em modelos de retidão que deveriam ser imitados. A influência grega e as primeiras escolas Como vimos, durante a República a sociedade romana tornou-se mais complexa. Isso se deveu ao processo de expansão territorial, ao desenvolvimento do comércio e ao enriquecimento de uma certa camada de plebeus. Tudo isso exigiria um modo diferente de educar. Surge, dessa forma, já no século IV a.C., escolas particulares de ensino elementar que se disseminarão no século seguinte. Nelas, dos sete aos doze anos, aprendia-se a ler, escrever e contar. Os professores eram mal pagos e usavam, para desempenhar sua tarefa, qualquer espaço: edifício público, uma tenda ou templo. A expansão do comércio e das incursões militares, por volta dos séculos III e II a.C., colocaram os romanos em contato direto com os povos de cultura helênica. A cultura grega exercerá uma influência marcante entre os romanos que adotarão sua cultura e a forma de educar. A partir de então, muitos preceptores gregos passaram a apoiar a educação familiar dos jovens romanos. Atraídos pela rica clientela romana, muitos gramáticos, mestres da retórica e filósofos dirigiram-se para Roma. Eles seriam responsáveis pelo ensino de jovens e adultos. Muito cedo os políticos romanos descobriram a importância dos conhecimentos de retórica e que seriam necessários para melhorar a oratória e a eloquência dos discursos públicos. Datam dessa época as escolas dos gramáticos, na quais os jovens entre doze e dezesseis anos entravam em contato com os clássicos gregos, ampliando seus conhecimentos em literatura, geografia, aritmética, geometria e astronomia. Nessas escolas estudava-se também a retórica. Dessa forma, os romanos adotam o modelo de educação grega que proporcionava aos estudantes uma ampla gama de conhecimentos necessários para a formação integral da pessoa culta. Paralelamente, no seio das grandes famílias, surge o ensino público da língua grega, ministrado em escolas, seja por escravos gregos, que assumem o papel de mestres, ou por mestres gregos qualificados. O modelo de educação grega passa a ser perseguido a ponto de muitos jovens romanos se deslocarem para a Grécia com a intenção de completarem os seus estudos. A influência grega sobre a educação romana, e em particular no desenvolvimento do ensino, pode ser atestada pelo fato de Roma buscar no helenismo o termo Paedagougo para designar o escravo incumbido de acompanhar a criança na escola. Apesar da influência grega, o ensino em Roma apresenta algumas diferenças significativas em relação ao modelo helênico e novidades na institucionalização de um sistema de ensino. O ensino da música, do canto e da dança, por exemplo, foram combatidos por setores mais tradicionais da sociedade romana. O mesmo repúdio se dá com o atletismo, elemento fundamental da paideia. Os romanos ficavam chocados com a nudez do atleta e condenavam a pederastia. Portanto, a educação romana privilegiava a aprendizagem, sobretudo literária, em detrimento da ciência, da educação musical e do atletismo. No entanto, devemos aos romanos o primeiro sistema de ensino de que se tem conhecimento, formado por um organismo centralizado que coordena uma série de instituições escolares espalhadas por todas as províncias do Império. Constitui uma novidade importante o caráter oficial das escolas e sua estreita dependência ao Estado. Deve-se notar que essa crescente intervenção do Estado nos assuntos educacionais era levada a cabo porque a administração do Império necessitava de uma bem montada máquina burocrática com funcionários que deveriam ter um mínimo de instrução. É bem verdade que no início, embora o Estado se interessasse pela educação, pouco interferia, colocando-se apenas como inspetor, algo que muda ao longo do tempo. Primeiro, passou a subvencioná-la, depois a exercer seu controle por meio de uma legislação e, por último, tomou para si a inteira responsabilidade. Pouco antes do advento do Império, o Estado já estimulava a criação de escolas municipais em todo o território sob sua jurisdição. Ao contrário do que possa parecer, esse sistema privilegiava apenas uma minoria, que se consolidava como elite e com uma elevada formação literária e retórica. Mesmo assim, havia uma preocupação em fornecer à imensidão de escravos, sobretudo aos mais jovens, ensinamentos necessários à prática de seus serviços. Em muitas casas de senhores reuniam-se escravos entregues a um ou mais pedagogos que lhes ensinavam as boas maneiras e, em alguns casos, iniciavam-lhes na leitura, escrita e aritmética. Sabe-se que as casas dos grandes senhores dispunham de um ou mais escravos letrados que desempenhavam funções de secretários ou leitores. Na Roma imperial os professores gregos são protegidos por Otávio Augusto, a exemplo do que havia feito Júlio César. Otávio desenvolveu uma política imperial de cultura responsável pela criação de bibliotecas como a do Templo de Apolo, no Paladino, e a do Pórticode Otávio. Delineia-se no Estado romano um conjunto de políticas escolares inovadoras, cuja primeira iniciativa é da autoria de Vespasiano, que intervém a favor dos professores, reconhecendo-lhes uma utilidade social. Com ele inicia-se uma extensa série de retribuições e de imunidades fiscais, atribuídas a gramáticos e retóricos. Segue-se a criação de cátedras de retórica nas grandes cidades, bem como o favorecimento e promoção de escolas públicas municipais de gramática e de retórica nas províncias. As escolas romanas, inspiradas na educação grega, como vimos, passaram a ser organizadas em três graus distintos e crescentes: instrução primária ou ludi-magister, que ministrava a educação elementar, secundária ou do gramático, e superior, que iniciava com o estudo da retórica e seguia com os estudos do Direito e da Filosofia, constituindo-se numa espécie de universidade. Vale lembrar que as universidades somente surgiram na Idade Média. As primeiras datam dos séculos VII e VI a.C., as secundárias do século III a.C., mas somente adquiriram forma definitiva no século I a.C, no tempo de Otávio Augusto, e as de ensino superior datam, pelo que sabemos hoje, do século I a.C., com um ensino predominantemente retórico. 3 . A EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA Conhecimentos Compreender os diversos modelos de educação adotados durante o período medieval, permitindo a comparação. Habilidades Identificar as permanências e mudanças nas práticas educativas adotadas em diversos lugares e momentos distintos. Atitude Perceber as relações entre contexto histórico e práticas educativas Educação no Período Medieval Pela tradicional divisão histórica, a Idade Média compreende um período de quase mil anos, cujos marcos definidores são a queda do Império Romano do Ocidente, em 476, e a tomada da capital do Império Bizantino, em 1453, pelos turcos otomanos. Esse longo período não apresenta as mesmas características, variando segundo as transformações operadas em locais diversos. Da mesma forma, não houve, em todo lugar e em todo o período, um mesmo e único modelo de educação. Estes variaram muito. Num determinado momento, no Império Bizantino, assim como no Ocidente Medieval, dava-se ênfase à vida religiosa. Cristã, a civilização bizantina manteve a tradição do humanismo antigo. Na educação islâmica, havia um nítido interesse pela pesquisa e experimentação, em contraste com as restrições que a Igreja cristã ocidental fazia a essa orientação intelectual, contribuindo para o avanço em muitas áreas da ciência. Na Europa cristã, da mesma forma, não se pode apontar um modelo de educação. Ela variou conforme o período, o lugar e o grupo social aos quais se destinava. No entanto, não seria exagero defender que a busca pelo monopólio do saber por parte da Igreja Católica se fez sentir na educação dispensada aos jovens durante boa parte da Idade Média, mais acentuada em determinado lugar e tempo singulares, imprimindo nela um caráter eminentemente religioso. Otomano: Relativo à Turquia ou a seus sultões. Habitante da Turquia. A Educação Bizantina A civilização bizantina espalhou em torno de si a herança cultural greco- romana. Embora cristã ortodoxa, legou-nos não apenas os valores da cultura clássica, da qual foi depositária, mas também uma boa quantidade de obras. Isso se fez refletir na educação dispensada aos estudiosos, de caráter humanista, seguindo a meta estabelecida pela educação greco-romana. Cenário Histórico Como vimos, a partir do século II da era cristã, o Império Romano foi abalado por guerras civis, disputas internas pelo poder e invasões estrangeiras. Tentando controlar a crise, em 395 o imperador Teodósio dividiu o Império em dois: Império Romano do Ocidente, com capital em Milão, e Império Romano do Oriente, com capital em Constantinopla, onde outrora existira a colônia grega de Bizâncio. Esta cidade foi construída por ordem do imperador Constantino, no estreito de Bósforo, a meio caminho entre o Oriente e o Ocidente, no cruzamento entre importantes rotas comerciais, e inaugurada em 330. Constantinopla logo se transformou numa cidade cosmopolita devido ao grande número de pessoas que nela se instalaram, vindas de diversos locais. Enquanto o Império Romano do Ocidente se esfacelava com as inúmeras invasões germânicas, dando origem à formação de inúmeros “Reinos Bárbaros”, o Império do Oriente manteve-se de pé e consolidou-se como uma das principais potências da Ásia e do mundo mediterrâneo. No decorrer da Idade Média, o Império Bizantino procurou manter-se herdeiro e depositário da tradição romana, cujo fundamento era a existência de um império universal e cristão, o que não impediu que a cultura bizantina fosse muito mais oriental do que a Europa latina. No início, o Império Bizantino manteve nítidas influências romanas. O latim foi preservado como língua oficial do Estado e as instituições político- administrativas romanas foram conservadas em sua estrutura e denominações. Somente a partir do século VII é que começariam a prevalecer a cultura e as características étnicas gregas e asiáticas. A língua grega passa a predominar, enquanto as tradições literárias, artísticas e científicas helenísticas passaram a ser determinantes. Isso pode explicar, em parte, porque o Cristianismo ali diferenciou-se daquele que empolgara a Europa Ocidental, apresentando caracteres mais místicos, abstratos e pessimistas, sujeitando-se, por completo, ao controle político. Quanto à organização política, o Império Bizantino assumiu a forma de autocracia absoluta. O imperador, considerado sagrado, tinha amplos poderes: podia nomear ou demitir quem quisesse e era o comandante das forças militares. Era ainda, o chefe da Igreja, sustentáculo do poder, e como tal convocava concílios, nomeava bispos e promulgava regras e disposições religiosas. A sociedade era fortemente hierarquizada, tendo no seu topo o imperador e sua família e, envolta deste, a nobreza urbana - composta de comerciantes, donos de oficina, banqueiros, altos funcionários públicos - e rural, constituída pelos grandes proprietários de terra. Na base da sociedade ficavam os trabalhadores livres, abaixo dos quais estavam os servos presos à terra e os escravos. Uma das grandes contribuições bizantinas, talvez a de maior destaque, esteja no campo do Direito, quando o imperador Justiniano determinou a sistematização do Direito Romano, realizada por seus juristas na elaboração do Corpus Juris Civilis, cuja influência é ainda hoje sentida no Ocidente. Depois disso, podemos dizer que outra grande contribuição bizantina está na compilação e conservação das grandes obras dos gregos e romanos. Graças a essa preocupação, hoje o mundo conhece boa parte dessas obras. A Educação no Império Bizantino Segundo Marrou (1973), no Império Bizantino, assim como no Ocidente Medieval, dava-se ênfase à vida religiosa. Profundamente cristã, a civilização bizantina continuou obstinadamente fiel às tradições do humanismo antigo. Nos ensinos primário e secundário, ainda que pouco conhecidos em função da escassez de fontes, pode-se dizer que nas escolas não predominava o ensino religioso e os livros clássicos pagãos eram estudados sem restrições. O objetivo da educação permanecia o mesmo do estabelecido na Antiguidade Clássica, centrado, portanto, na formação humanista e na preparação de pessoal qualificado para assumir funções na burocracia estatal. Se há uma escassez de informações que nos permitam conhecer mais sobre a educação elementar e secundária, o mesmo não pode ser dito para o ensino superior. Nesse campo dispomos de informações mais detalhadas e abundantes, com destaque para a Universidade de Constantinopla, importante centro cultural desde sua fundação em 425, no século V, até o fim da Idade Média, marco estabelecido convencionalmente no século XV (1453).A sua importância central reside no fato de ter acolhido as obras antigas, orientando os estudos de filosofia e ciência, e ter ainda preservado o Direito Romano, compilado e sistematizado, como vimos, por iniciativa do imperador Justiniano. O estudo religioso cabia à escola monástica, onde predominava o interesse espiritual e ascético, hostil ao humanismo pagão. Na escola patriarcal o ensino não ficava restrito à formação religiosa, apesar de ser vigorosa, mas também valorizava a tradição clássica, centrando-se no humanismo cristão. Com o declínio do Império Bizantino, este passou a ser alvo de ataques. As disputas religiosas e as constantes ameaças de invasão fizeram com que as crises se instalassem de maneira irreversível. Acelerou-se o empobrecimento das cidades, a produção e o comércio se enfraqueceram e o Império perdeu pouco a pouco alguns de seus mercados em regiões distantes. Finalmente, em 1453, Constantinopla foi tomada pelos turcos otomanos e o Império entrou em colapso. Educação Islâmica Os árabes não se descuidaram da educação e ergueram muitas escolas primárias e de ensino superior. No primeiro caso, ministrava-se uma educação religiosa baseada nos ensinamentos do alcorão, o que não impedia o estudo das ciências. No segundo caso, as instituições contaram com certa autonomia e deram vazão a um ensino que englobava os diversos ramos do saber da época. Cenário Histórico No início do século VII os habitantes da Península Arábica encontravam-se divididos em várias tribos e clãs, adeptos de uma religião politeísta e sem um poder político centralizado. Em meio a circunstâncias propícias, o profeta Maomé difundiu uma nova fé que, em pouco tempo, unificou o povo árabe em torno de um poder central. Baseado na vontade de Deus, justificou sua expansão por grande parte do “mundo civilizado” de então e deixou uma influência que até hoje é marcante em várias regiões do mundo. Cem anos após a morte de Maomé, o domínio muçulmano ultrapassou os limites da Arábia e se estendeu por três continentes, controlando quase metade do mundo conhecido. Em torno do Islã, Maomé realizou a unidade política e religiosa dos Árabes, criando as condições internas para uma política de expansão. O Estado teocrático, isto é, baseado na religião e na autoridade divina, forneceu a base política e a força ideológica para a expansão muçulmana. A doutrina defendida por Maomé encontra-se exposta no Corão ou Alcorão, reunião de notas tomadas por seus discípulos enquanto Maomé falava. O Islamismo é uma religião sincrética, isto é, resulta da transposição de princípios extraídos do Judaísmo, do Cristianismo e, segundo alguns, do Zoroastrismo. O Corão afirma a existência de um único deus, Alá, e prega o combate aos infiéis por meio da Guerra Santa. A civilização islâmica assimilou e reelaborou o patrimônio cultural das civilizações com que entrou em contato, enriquecendo-a com contribuições originais, o que se deu com as culturas bizantina, hindu ou chinesa. Muitos desses conhecimentos foram transmitidos para a cultura cristã medieval. Os árabes fizeram grandes progressos no campo científico, sobretudo na astronomia, matemática, química e medicina, legando-os para o Ocidente. Nas artes, desenvolveram a literatura e nos deixaram a mais famosa coleção de contos escrita entre os séculos VIII e IX, As mil e uma noites, que reúne fábulas, anedotas, contos eróticos e aventuras. Foi na arquitetura, no campo das artes, no entanto, que mais se destacaram, combinando os estilos bizantino e persa, produzindo grandes obras (palácios, mesquitas e bibliotecas). A decadência do império começou a partir do século VIII, quando se esfacelou em diversos califados independentes, em virtude de conflitos políticos e religiosos. As pressões externas também tiveram início. No século IX a Guerra de Reconquista da Península Ibérica teve início, de onde, lentamente, os árabes seriam expulsos. No século XI os europeus desencadearam, contra os muçulmanos, as Cruzadas, com o objetivo inicial de tomar regiões que estavam sob o controle árabe. No século XIII foram atacados no Oriente pelos mongóis e, no século XIV, os turcos otomanos conquistaram o que ainda restava do outrora imenso império árabe. A educação na cultura islâmica Já a partir de Maomé e do papel assumido pelo alcorão, o islã teve um cuidado constante com a educação, a instrução e a formação do homem. Pela tradição xiita, era o imã, autoridade religiosa, quem devia conduzir a formação e o ensino com base na leitura do alcorão, interpretado em vários níveis conforme o grau de iniciação. Mas, pela tradição sunita, devia-se seguir, com rigor, o princípio da autoridade, atendendo-se às interpretações mais antigas e autorizadas, sem assumir nenhuma liberdade crítica. Os árabes ergueram escolas de ensino elementar e superior. Na primeira, ensinava-se a leitura e a escrita tendo por base o alcorão, que traz ensinamentos não apenas religiosos, mas também de política, direito, organização social e ideias básicas de ciência. Cuidava-se para que a educação se iniciasse aos seis anos de idade, com exceção dos filhos das famílias ricas, instruídos por preceptores. Ensinava-se a recitar de cor o texto religioso, de modo que pudesse ser usado como guia em qualquer ocasião da vida. Essa orientação religiosa da educação islâmica permaneceu sempre central mesmo para os filósofos árabes. Ao lado dessas escolas que seguiam os ensinamentos do livro sagrado, existiam também os preceptores particulares e os círculos, nos quais eram ensinados, principalmente, a tradição e o direito. Por volta do século X, segundo Franco Cambi (1999), a cultura islâmica começa a se abrir para a ciência e nasce em Bagdá, criada pelo califa (chefe de Estado), a Casa das Ciências, uma rica biblioteca que se tornaria um centro de estudos e um modelo de escola para outras províncias do Islã. Em muitos lugares, dentro do Império Árabe, são erguidas Casas de Sabedoria, em que se ensinavam – ao lado da teologia e do direito – medicina, astronomia e matemática. No século seguinte nasce uma nova instituição intitulada madrasa, uma escola criada pelo poder político com o objetivo de formar os técnicos do Estado e pessoal para a administração. O ensino era ministrado geralmente na mesquita, centro religioso. Aprender sobre ciência era considerado mais valioso do que se prosternar cem vezes em oração; frequentar a classe de um mestre era considerado mais importante do que orar, como observa Piletti (2013). O ensino superior reunia todos os ramos do saber, à despeito de não se descuidar do aspecto religioso. As instituições de ensino superior surgidas nas grandes cidades árabes foram as precursoras das universidades medievais europeias. As escolas superiores tinham certa independência e, ao contrário do que ocorria com o ensino elementar, não tinha como base do ensino a leitura do alcorão. Contavam com professores judeus, muçulmanos e cristãos. Alunos de todos os lugares e do Ocidente estudavam nessas instituições. Lá se estudava filosofia e ciências naturais dos gregos. Prostenar: Curvar-se ao chão, em sinal de profundo respeito A Educação na Europa Cristã Não se pode afirmar que existiu apenas um modelo de educação durante o longo período da Idade Média na Europa cristã, uma vez que ela variou conforme o período e o lugar. No entanto, esquematicamente, podemos dizer que havia uma espécie de monopólio da cultura e do pensamento por parte da Igreja Católica, que procurava sempre estabelecer o que deveria ser ensinado. Boa parte das escolas era associada às instituições religiosas. No entanto, a educação não ficou apenas no campo religioso; abriu espaço para o estudo das ciências e do conhecimento prático, voltados para a nova realidade vivida, sobretudo, a partir da Baixa Idade Média. Cenário Histórico No século
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