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SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO BRASILEIRO AULA 3 Realidade Brasileira: 1950-1960 ABERTURA Olá! Os anos de 1950 foram marcados pelas transformações socioeconômicas vividas no Brasil, assim sendo, são considerados um divisor de águas para compreensão de nossa história, de nossa sociedade. Nos anos 50 vivemos os governos de Getúlio Vargas (que se matou em 1954) e de Juscelino Kubitschek, os quais, em linhas gerais, fomentaram o processo de industrialização nacional pela substituição de importações (iniciado por Vargas); pela abertura ao capital externo para investimento; pelo planejamento estratégico (como no caso de JK.); pela construção de uma infraestrutura como rodovias, hidroelétricas, aeroportos; pela promoção da indústria de base e de produção de bens de capitais, fundamentais para produção nacional. Um dos símbolos maiores deste processo de modernização foi a construção de Brasília, nova capital do país inaugurada no início dos anos 60. Aprofunde seu conhecimento sobre a realidade brasileira nas décadas de 50 e 60 nesta aula. BONS ESTUDOS! REFERENCIAL TEÓRICO Do ponto de vista da cultura e do imaginário social, na década de 60 acreditava-se que o Brasil estava a caminho de se tornar uma nação moderna, principalmente ao adotar um padrão de vida ao mesmo tempo muito diferente da vida rural e muito próximo ao modelo consumista do capitalismo norte-americano. No cotidiano das donas de casa estavam presentes toda a sorte de “aparelhos modernos” como liquidificador, batedeira, fogão a gás, televisores, enceradeiras, sem contar os produtos industrializados como alimentos, bebidas, artigos de higiene pessoal e beleza etc. Além disso, os meios de comunicação como o cinema, a televisão e o rádio difundiam-se cada vez mais, sendo fundamentais na disseminação de uma pensamento nacionalista e da ideologia de um país rumo ao progresso. Ao final desta unidade de aprendizagem, você será capaz de: - Analisar o processo social e econômico brasileiro nas dedadas de 1950 e 1960. - Reconhecer as principais mudanças políticas na realidade brasileira. - Identificar os avanços e retrocessos do Serviço Social brasileiro. BOA LEITURA! CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI TRANSFORMAÇÕES DO MUNDO DO TRABALHO e SERVIÇO SOCIAL : desafios para o assistente social em espaços sócio-ocupacionais reestruturados. Karla Fernanda Valle1 Janete Luzia Leite2 RESUMO: Este trabalho debate os impactos das transformação do mundo do trabalho no contexto do capital-imperialismo, abordando as implicações da disseminação do ideário pós-moderno (e a sustentação que este dá ao discurso gerencial) sobre a atuação profissional do Serviço Social e da classe trabalhadora inserida no setor público. Metodologicamente, foi realizado um levantamento bibliográfico, hemerográfico e documental do pensamento social crítico e da realidade do judiciário trabalhista carioca, selecionado por ser um exemplo privilegiado da atuação profissional num contexto de reestruturação produtiva. Conclui-se que a atual conjuntura inflexiona o legado ético e político de cariz progressista do Serviço Social brasileiro. PALAVRAS-CHAVE: Serviço Social; Pós-Modernidade; Capital-Imperialismo; Gerencialismo. ABSTRACT: This paper discusses the impact of the transformation of the workers world in the capital-imperialism context, addressing the implications of the spread of postmodern ideas (and the support that this gives to the management speech) on the professional practice of Social Work and working class inserted in the public sector. Methodologically, was performed a survey of bibliography, newspaper and documents of the critical social thinking and the reality of Rio de Janeiro labor court, selected to be a prime example of professional practice in a productive restructuring context. We conclude that the current situation shrugs the ethical and political legacy of progressive nature of the Brazilian Social Work. KEY-WORDS: Social Work; Post-Modernity; Capital- Imperialism; Managerialism. 1 Mestre em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutoranda em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Integrante do Núcleo de Pesquisa e Estudos sobre Políticas Públicas, “Questão Social” e Serviço Social (NUPEQUESS/UFRJ - Diretório dos Grupos de Pesquisa CNPq). Assistente Social do Tribunal Regional do Trabalho-RJ. karlafvalle@gmail.com 2 Professora Associada da Escola de Serviço Social (Graduação e Pós-graduação) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Estudos sobre Políticas Públicas, “Questão Social” e Serviço Social (NUPEQUESS/UFRJ - Diretório dos Grupos de Pesquisa CNPq). janeteluziaufrj@gmail.com CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI mailto:karlafvalle@gmail.com mailto:janeteluziaufrj@gmail.com I. INTRODUÇÃO Debater o Serviço Social contemporâneo implica na capacidade de nos debruçarmos sobre as ampliadas funcionalidades do Estado postas pelo chamado capitalismo tardio, característico de sociedades como a brasileira. Trata-se, pois, de um Estado que diante de uma crise estrutural permanente e crônica, posiciona-se como um agente essencial de preservação e maximização da lógica de reprodução do valor. Esta conjuntura traz ao Serviço Social demandas e desafios diretamente vinculados a uma dinâmica societária centrada na maximização dos lucros e na conformação do ideário da finaceirização que, por sua vez, atravessa a diversas esferas de sociabilidade, tendo em vista que o conceito de modo de produção se remete, também, à produção da totalidade da vida social e dos modos de existência (FONTES, 2012). Neste contexto, discorremos especialmente sobre as particularidades laborais dos assistentes sociais na condição de servidores públicos, posto que são reiteradamente chamados a responder ao hiato existente entre a intenção progressista do projeto profissional (que ainda supõe-se hegemônico) e espaços sócio-ocupacionais cada vez mais engessados, seja por políticas sociais precarizadas, por direitos sociais descaracterizados pelo avanço (retrocesso) neoliberal, e/ou locais de trabalho reestruturados e submetidos a uma lógica gerencialista que a tudo domina: tempo de vida e tempo de labor, forjando um homem desprovido do potencial ontológico do trabalho. Destarte, é a partir destes pressupostos que este texto debate as implicações do processo de contrarreforma do Estado sobre os trabalhadores empregados em seu aparato, tendo em vista que esta condição laboral perde a maior parte de seu atrativo, tornando-se mais uma mera forma de exploração voltada à multiplicação do capital e a canalização dos excedentes (BRAVERMAN, 2012). Para realizarmos este estudo, ateremo-nos aos efeitos dessa hipotética modernização que produz uma verdadeira precarização/intensificação das relações de labor e dos espaços sócio-ocupacionais pertinentes ao Estado. Isto porque, a parcela de trabalhadores inseridos nesta esfera passa, segundo Alves (2013), por uma verdadeira dessubjetivação de classe advinda, dentre outros aspectos, do enfraquecimento dos coletivos laborais e da valorização de preceitos liberais travestidos em critérios de eficiência e eficácia. Para demonstrar esta assertiva, daremos ênfase à correlação entre a praxis do Serviço Social e as reatualizações da Organização Científica do Trabalho (OCT, como nosso híbrido fordismo/toyotismo) que trazem, ao contrário do discurso agregador e coletivista veiculado, um projeto que visa a reapropriação das qualidades humanas, reapresentando-as como um produto das organizações (HELOANI, 2011). Debatemos, pois, CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI o estabelecimento de um caldo gerencialista (oriundo do acirramento da lei geral de acumulação do capital), o qual demanda uma coerção de novo tipo, com roupagem sutil, explicitada por meio de técnicas e instrumentais que geram uma aceitação tácita do trabalhador em tornodos objetivos do empregador. Neste sentido, analisaremos o Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro (TRT/RJ) por se tratar de um locus de atuação do Serviço Social em uma instituição pública federal (o que, em termos nacionais, representaria um emprego de melhor qualidade dentro do setor público); bem como por comportar um fazer profissional análogo aquele desenvolvido nas instituições privadas, tendo em vista, por exemplo, as características dos programas e ações institucionais em que se demandam o assistente social. De antemão, podemos afirmar que estas particularidades desvelam a irônica lógica gerencial que atravessa a toda instituição, fator este que se choca com o princípio protetor inerente ao direito do trabalho. O referencial teórico-metodológico desta investigação ilumina-se pela perspectiva marxiana. Realizamos um resgate bibliográfico e documental que contemplou autores que debatem o chamado mundo do trabalho e o movimento macrossocietário que incide diretamente sobre ele, a “reforma” do Estado e a prática gerencial, assim como a sistematização do cotidiano do Serviço Social, que ingressou há apenas quatro anos na instituição. Sequencialmente, realizaremos uma breve exposição acerca das perniciosidades da lógica gerencialesca adotada pelo judiciário trabalhista carioca, realizando uma primeira aproximação sobre os impactos destes direcionamentos para os servidores públicos e para a atuação do Serviço Social. Por fim, salientamos a importância, para os assistentes sociais brasileiros, da investigação sobre as diversificadas formas de reatualização conservadora nos espaços sócio-ocupacionais da profissão (consagrados ou novos), tendo em vista que a atual conjuntura propicia grandes retrocessos às conquistas profissionais advindas do Serviço Social legatário das correntes progressistas – teórica, ética, política e socialmente. II. GESTÃO COMO IDEOLOGIA E CAPITAL-IMPERIALISMO: Desafios ao Serviço Social brasileiro A partir de meados da década de 1990, o Brasil vivencia uma ofensiva de cariz neoliberal em que se veicula a desconstrução dos serviços públicos e, com ela, a desqualificação dos funcionários públicos. Tais programáticas são incentivadas pelos organismos multilaterais pertencentes às bases do capital-imperialismo, a exemplo do grupo Banco Mundial (BM) e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Isto significa que por força do capital internacional e especulativo prevalecem, hoje, mais do que antes, os princípios do mercado sobre todos os demais. Nesta conjuntura, mesmo as instituições públicas que não CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI estão diretamente conectadas a geração de valor tendem a adotar os princípios neoprodutivistas toyotistas (ALVES, 2013). Trata-se de um contexto que busca forjar uma materialidade social permeada pelo o que Gurgel (2003) sinaliza como um reinventado arsenal de noções ideológicas constituintes de uma nova vulgata que objetiva recrudescer o ideário do pensamento único e de uma solução única para a crise – a qual vai ao encontro dos pressupostos mais draconianos do capital, justificando reformas profundas no aparelho do Estado, para além de abolir os direitos da classe trabalhadora e ampliar as garantias do capital. Destarte, estas transformações no mundo do trabalho podem ser caracterizadas como uma nova precariedade salarial no Brasil, a qual, segundo Alves (Op. cit.), se manifesta não apenas pelo aumento da contratação flexível, mas pela adoção da flexibilização da jornada de trabalho e da remuneração salarial que se realizam tanto na esfera pública (por meio, por exemplo, de concursos públicos com contratações temporárias) quanto na esfera privada (remunerações variáveis etc.). Esta cultura resultante da contrarreforma do Estado se traduz, pois, na progressiva perda de direitos que diante da nossa conformação social, econômica e política, mostra-se ainda mais perniciosa. Isto porque, segundo Coutinho (1979), o Brasil caracteriza- se por ser detentor de uma história essencialmente incompleta no que diz respeito a sua modernização, trazendo consigo entraves e problemáticas do seu histórico escravocrata e colonial. Desta forma, são inerentes a nossa sociabilidade, a confusão entre o “particular e o privado”, as dominações de base tradicional e patrimonial, bem como o oligarquismo, que maximizam uma história onde o atraso é usado como instrumento de poder. Tais característcias retratam a dimensão viciosa desse sistema político/econômico que se imiscui em todas as dimensões de nossa sociabilidade, naturalizando saídas conservadoras à precarização dos direitos sociais e trabalhistas, os quais têm nos assistentes sociais mecanismos de sua execução e instrumentalização. Frente ao exposto, Gurgel (2003, p.16) assinala que esta herança histórico- nacional, somada a uma concentração de capital sem precedentes, abre espaço para a introjeção e naturalização das teorias de gestão, mediante um discurso ideológico que visa reavivar e afirmar « os princípios individualistas do liberalismo conservador, ainda que se apresentem sob formas pós-modernas». Segundo Fontes (2012), este é um contexto oriundo de uma concentração de capitais a patamares inimagináveis, que submerge a humanidade em dejetos por meio do aprofundamento do estranhamento da grande maioria da população em relação ao mundo que ajudou a construir. Neste sentido, a intensificação e a prezarização do trabalho no serviço público e, consequentemente, sobre o espaço sócio- ocupacional (ainda majoritário) do Serviço Social nos coloca diante de novos desafios que, paradoxalmente, retroalimentam práticas que representam aquilo que há de mais CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI conservador na profissão, como práticas de tutela, coerção e convencimento. Tais características, quando mescladas aos ditames do ideário gerencial e respaldadas pela generalização do abandono da razão pelo pensamento pós-moderno, forjam novas necessidades sociais que naturalizam técnicas de mobilização da subjetividade e passivização do trabalhador (Mota, 2010). Elucidamos, assim, um contexto contemporâneo que, segundo Alves (2014), caracteriza-se por um processo de captura de subjetividades mais intenso, de maneira que o atual estágio de fetichização e estranhamento vivenciado pelo homem que trabalha não necessariamente o leva ao sofrimento. Assim, há aqueles que se identificam com as generalizações dos pressupostos gerenciais, incorporando tais perspectivas, inclusive, na esfera privada de suas vidas. Portanto, considerando este aspecto do capitalismo contemporâneo, observamos uma disseminação do pensamento pós-moderno, o qual, a nosso ver, dá sustentabilidade à retórica gerencial que nos traz conceitos e práticas como: empreendedorismo, mediação de conflitos, qualidade de vida no trabalho, responsabilidade social, chefia e lideranças, gestão por competências, programação neuro-linguística, «coach», dentre outros. Esta disseminação da perspectica gerencialesca, incentivada pelos manuais dos organismos multilaterais revela, para Baran e Sweezy (1978), a estruturação de um homo economicus que se forjou sob uma tradição psicologizante da realidade, legatária do utilitarismo do século XIX, a qual resulta na reinvenção da confusão e do obscurantismo social. É neste sentido que Gaulejac (2007) afirma que o sistema gerencialista suscita um modelo de personalidade narcísica, agressivo, pragmático, sem estados de alma, centrado sobre a ação e não tanto sobre a reflexão, pronto a tudo para ter sucesso. Para o referido autor, o empregado projeta sobre a empresa o seu próprio ideal de onipotência e de excelência e, ao mesmo tempo, introjeta o ideal de expansão e de conquista proposto pela empresa (Ibid.). Neste contexto, a disseminação da ideologia toyotista na gestão dos processos de trabalho no setor de serviços e na administração pública contribui paraa afirmação de uma perversidade como característica do ethos da gestão capitalista do trabalho humano (Alves, 2013). Tal processo implica na captura da subjetividade do homem que trabalha, envolvendo o trabalhador emocional e afetivamente com o conteúdo de sua atividade laboral. Logo, o adoecimento pessoal é apenas a situação-limite do estranhamento que perpassa, hoje, o trabalho na sociedade burguesa (Ibid.). Destarte, conforme pontua Marx (2006), as fúrias do interesse privado atravessam substantivamente todo o mundo do trabalho, de maneira que a qualidade de vida no emprego não pode mais ser aferida pelos CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI seus vínculos contratuais, devendo-se observar, principalmente, a relação entre o trabalho e vida que advém daquela experiência de trabalho assalariado. Neste sentido, baseados em Netto e Carvalho (2011), entendemos que a vida moderna cotidiana é um espaço modelado pelo Estado e pelo trabalho assalariado, que tende a limitar o homem a uma vivência robótica a qual, nas palavras dos autores, é capaz de resultar em um consumismo dócil e voraz, de eficiência produtiva e também de abdicar da sua condição de cidadão. Assim, para pensarmos as transformações do mundo do trabalho e seus impactos sob a atuação do assistente social é necessário refletirmos, também, sobre os desafios inerentes a reprodução acrítica de práticas e saberes profissionais no cotidiano laboral, tendo em vista que a vida cotidiana tanto pode se apresentar como um espaço da alienação; como um mundo de mediocridade ou como um mundo com possibilidade de resistências e transformações (IDEM). No TRT-RJ o Serviço Social atua, essencialmente, com as resultantes de uma relação estranhada do homem com o trabalho, elucidada por meio de fênomenos como assédio moral e sexual, adoecimento físico e psicossomático. Logo, a tônica do sofrimento no trabalho mostra-se como a primeira ponta das expressões da questão social no que diz respeito às inflexões contemporâneas do capital sobre o trabalho. E aí reside o grande desafio, posto que o Serviço Social é chamado a mediar conflitos; a promover ações pontuais de qualidade de vida no trabalho, assim como para estabelecer mecanismos socioeducativos voltados à adesão dos servidores aos valores e metas instituconais. Para entendermos a atuação do Serviço Social no judiciário brasileiro, é necessário discorrermos sobre o Documento Técnico nº 319, do Banco Mundial que delimita uma nova organização do Poder Judiciário para a América Latina e Caribe. Sob a influência direta deste documento, foi criado o Conselho Nacional de Justiça, baluarte propulsor das transformações “necessárias”. No documento suprarreferido, o Banco Mundial delimita que os Estados-Nação devem repensar o papel dos respectivos países, tendo em vista que estes precisam atuar como facilitadores e reguladores das atividades inerentes aos setores privados. Isto porque o Banco Mundial «constata» a ineficiência dos setores públicos «pouco produtivos» e com serviços de baixa qualidade, resultando em um excessivo acúmulo de processos no Poder Judicário, o que, para o BM, reflete uma deficiência no seu processo de gerenciamento. Neste mesmo contexto, o Documento nº 319 delimita que os serviços são prestados de uma forma pouco competitiva pelos servidores públicos. Destarte, o BM explicita que o seu programa de reforma visa aumentar a eficiência e a eficácia do Judiciário, viabilizando a dissolução de conflitos e a promoção do desenvolvimento do setor privado (tendo em vista que hoje a esfera pública não estaria sendo capaz de solucionar a contento as demandas do referido setor). Para comprovar esta CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI ineficiência, o documento cita: “No Brasil, em 1990, mais de 40 milhões de processos foram ajuizados nas Cortes de 1ª Instância, mas apenas 58% dos processos foram julgados ao final deste período”. Neste mesmo contexto, o BM indica que 74% da população brasileira se refere à administração da Justiça como “regular ou insatisfatória”. Recomenda, também, a revisão do número de servidores, por meio de uma análise sobre as demandas institucionais, pontuando que a solução para um atendimento de qualidade não está, necessariamente, no aumento do número de seus empregados. Segundo o Documento Técnico nº 319, os juízes e servidores públicos estão na “raiz do problema” da morosidade e da ineficiência do Judiciário e, portanto, dificultam as mudanças e transformações necessárias. Ademais, o texto deixa muito clara a preocupação com os processos gerencias e de administração, como se pudéssemos resumir a morosidade da Justiça à questão organizacional. Esta deve ser apreendida, apenas, como mais um dos aspectos. Sabemos que, por vezes, vícios de sociabilidade como o coronelismo, o autoritarismo e o patrimonialismo são mais determinantes para os limites do Judiciário do que os limites administrativos propriamente. Também devemos levar em consideração que a corrida da população ao Judiciário deve-se ao contínuo desmonte das políticas sociais (sendo um exemplo a judicialização da saúde), além do desrespeito sistemático do empresariado no descumprimento das leis do trabalho (Ribeiro, 2005). Sob este aspecto, revela-se a dimensão perniciosa da cultura do “consenso e da conciliação”, tendo em vista que, reiteradamente, pela emergência vivida, muitos trabalhadores são levados concordar com conciliações que redundam em uma remuneração imediata sempre menor que aquela efetivamente devida. Pode parecer inocente, mas vale lembrar: técnicas gerenciais não são científicas, neutras ou apolíticas. Elas atendem a visões de mundo e, principalmente, a interesses. Portanto, a análise do BM para a reforma do judiciário delimita um mero recorte e abstração da realidade, que transforma os limites do judicário em simples questões administrativas, ignorando o massivo processo de desconstrução dos direitos sociais, o acirramento do individualismo possessivo e a fragilização dos coletivos laborais, associada, por sua vez, ao enfraquecimento das lutas classistas, redundando na judicialização da própria sociedade, que só observa caminhos restritos às relações jurícas burguesas as quais, por si só, já possuem um desenvolvimento desigual (MARX, 2011). Sobre esta questão, pontua Lukács (212, p.336): «O processo só se torna misterioso quando as relações econômicas não são entendidas como relações entre homens, mas ao contrário, são fetichizadas, ‘reificadas’». Destarte, as Varas do Trabalho, por exemplo, se transformam em locais de trabalho reestruturados, territórios laborais que refletem a nova precariedade salarial que CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI colabora para a intrusividade do tempo de trabalho sobre o tempo de vida (Alves,2014). No que tange às novas tecnologias, o Processo Judicial Eletrônico (PJe) aparece não apenas como um mecanismo de racionalização do processo de trabalho, mas instaura uma nova forma de controle sobre o trabalho dos juízes e servidores em tempo real. Trata-se de um instrumental incorporado ao processo de trabalho que objetiva a redução do tempo das atividades acessórias ao processo judicial, automatizando procedimentos e viabilizando a execução de tarefas de forma paralela – portanto, uma verdadeira reestruturação produtiva do judiciário. Tais transformações exigem novas competências para os servidores, que são levados à adoção de valores como proatividade e polivalência. Observa-se ainda que esta reestruturação do processo de labor implica não só no aumento objetivo/numérico da carga de trabalho, mas também em uma intensificação desta carga de trabalho, tendo em vista a maior quantidade de informações recebidas e administradas pelos servidores. Parte dessas “novas competências” metamorfoseiam-se em fatores de sofrimentos para os servidores, em especial para aqueles que possuem uma trajetória conectada àsantigas formas de labor. Segundo Alves (2014), o estresse e o sofrimento psíquico podem ser compreendidos como resultantes desta nova dinâmica, estimulada pelas técnicas de gestão by stress, que veicula valores como “adesão, consentimento, produtividade, responsabilidade social”, transformando o homem que trabalha em patrão de si mesmo, corroendo a ponderação necessária à efetivação da Justiça. Para Alves (Op. cit.), o problema da Justiça do Trabalho não se restringe, portanto, a uma transição organizacional, mas sim, a uma concepção política de gestão e a própria concepção de produção da Justiça do Trabalho. Nas práticas gerenciais contemporâneas podemos observar, portanto, uma fragmentação ainda maior do trabalhador coletivo, de maneira que o homem que trabalha é confrontado cotidianamente pela solidão (relacional e de si) e pela violência inerente à cultura da produtividade (DEJOURS, 1992). Por fim, entendemos que o Serviço Social brasileiro também está submetido a esta realidade, tendo em vista que a sociedade gerencial é uma consequência da reestruturação produtiva e possui como característica ser um sistema que tem no centro, o universo econômico, social e cultural ditado por regras empresariais, trazendo uma grande transformação de valores e modos de ser (GAULEJAC, 2007). Os homens procuram na gestão um sentido para a ação e até, por vezes, para a sua vida e seu futuro. E, dessa maneira, em nome do desempenho, da qualidade, da eficácia, da competição e da mobilidade, construímos um novo mundo, que tem a gestão como ideologia, legitimando uma abordagem instrumental, utilitarista e contábil das relações entre o homem e a sociedade. Problematizamos, portanto, o fato de que todos os espaços da vida social são CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI atingidos por esta nova lógica. Cada indivíduo é convidado a se tornar um empreendedor da própria vida, de maneira que o humano se torna um capital que convém tornar produtivo. Nesta mesma esteira, o referido autor nos adverte que a violência no trabalho em tempos modernos não é diretamente repressiva (ainda que subsistam formas de repressão); ela é principalmente uma violência psíquica, conectada a exigências paradoxais. Desta forma, o próprio sistema aparece como perverso, tendo em vista que capta processos psíquicos para mobilizar o funcionamento organizacional. Tal fato mostra que, diante da nova dinâmica patogênica do capital, o sistema de aferição epidemiológico dos adoecimentos do homem que trabalha está ultrapassado no sentido técnico-categorial. Sobre esta questão, é mister trazermos as considerações de Ribeiro (2005), que delimita que não há nenhuma transcendência científica na classificação de doenças do trabalho e doenças que não sejam do trabalho. Essa é uma classificação pragmática do Estado moderno, que enquadrou tais doenças tendo como referência o custo para o sistema reparador e regulador do sistema público que – direta ou indiretamente – é controlado e administrado pelos interesses mercantis. Portanto, faz-se necessário o debate acerca da complexidade e das múltiplas dimensões que envolvem a passagem do estado habitual de saúde para um estado de transtorno da saúde, por mediações com as formas contemporâneas das relações sociais de trabalho. De acordo com Alves (2013), esta é a dupla perversidade do sistema contemporâneo: ocultar e imputar às vítimas a culpa de seu adoecimento, de maneira que a ideologia da doença do trabalho é enquadrada como um caso clínico, e não como produto de uma forma de organização e gestão do trabalho. Assim, a lógica gerencial traz uma sensação de intensificação do trabalho, articulada ao não desligamento da atividade laboral, redundando no agravamento de quadros de estresse, de síndrome de Burnout, e de uma espécie de insalubridade mental, tendo em vista que o indivíduo se animaliza: suas aspirações resumem-se a comer, beber, dormir, procriar… – quando muito, se estendem a espaços de consumo fetichizado. O tempo de trabalho coloniza a vida pessoal de tal forma que, ainda que este indivíduo não esteja desenvolvendo atribuições formais, possui a sua mente conectada e subjugada à dinâmica laboral – fator este que redunda no adoecimento. Em meio a este complexo contexto, o cotidiano institucional suprarreferido permite a aferição de uma objetiva expectativa institucional (permeada por valores e princípios gerenciais) de que o Serviço Social atue como um agente apaziguador em questões de cunho organizacional. Logo, problematizamos uma instituição que recebe o assistente social como parte fundamental de uma proposta de adaptação dos servidores aos novos métodos de trabalho, fazendo parte da adoção de uma política voltada à persuasão e ao consenso (os quais, vale dizer, se chocam com a estrutura rigidamente hierarquizada do CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI TRT-RJ). É neste sentido que este espaço sócio-ocupacional do Serviço Social se mostra como um desafio, tanto em termos práticos operacionais, quanto éticos e políticos, tendo em vista que a lógica esquizoide que atravessa toda a organização do trabalho, (re)abre espaço àquilo que há de mais conservador na profissão. Este fato revela-se por meio das demandas institucionais e pelo acompanhamento individualizado e de cariz “psicossocial” de seus servidores, além da adesão ao verborrágico e quantofrênico universo gerencial, mediante a conhecida dimensão pedagógica da profissão que, neste contexto, tende a sobrepor-se às demais características profissionais. III. CONCLUSÃO O Serviço Social brasileiro encontra-se premido por uma sociedade que se acostumou a uma permanente contrarrevolução que, por vezes, pode forjar a sensação de avanço e efetivação de direitos mas, em verdade, põe em xeque uma categoria que, ainda que possa contar com uma sabida vanguarda progressista, precisa administrar uma rarefeita tradição intelectual que chegou a se conduzir por um amálgama de messianismo e falatalismo, como nos adverte Iamamoto (2004). Desta forma, entendemos que a análise sobre os «novos postulados gerenciais» não traz consigo apenas uma luta de ideias, mas a possibilidade de resistência e renovação crítica de uma profissão que carece debruçar-se sobre a radicalidade da própria questão social, não aderindo a instrumentos mitigadores das violências das relações sociais capitalistas, por meio de práticas e instrumentos que se pretendem neutros e aclassistas. Isto porque, segundo Marx (2011), a população [o público usuário do Serviço Social], por exemplo, torna-se uma abstração quando deixa de fora as classes pelas quais é constituída. Nesta sociabilidade, Baran e Sweezy (1978) denunciam que o pagamento é a chave das parcas satisfações permitidas aos trabalhadores através de bens materiais (autorrespeito, status, reconhecimento dos companheiros), ao mesmo tempo em que, dentro da estrutura social existente, tais instrumentos de consumo tendem a, cada vez mais, trazer menos realização. Assim, retroalimenta-se uma destruição da identidade do trabalhador com seu trabalho, paralelamente a sua mera identificação como consumidor. Desta forma, «o trabalho e o consumo partilham, assim, da mesma ambiguidade: embora atendendo as necessidades básicas da sobrevivência, perdem cada vez mais seu conteúdo e sentidos interiores» (Ibid., p. 342). Tal questão, a nosso ver, desvela parte das razões pelas quais a cultura gerencial (sustentada pelo ideário pós-moderno) ganha tamanho espaço nesta forma de sociabilidade. Assim, conforme pontua Heloani (2011), o capital contemporâneo desenvolve novas formas de poder que transcendem a excessiva padronização ou simplificação do trabalho para uma verdadeira gestão do inconsciente, por meio do CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI obscurecimento da intensificação do trabalho. Para tanto, o Estado desenvolve o papel imprescindível para o capital-imperialismo de coordenar os mecanismosde absorção do excedente e veiculação cultural por meio da modulação das políticas e direitos sociais sob a ótica gerencial. Para além disso, o cenário histórico de crise de hegemonia da esquerda abre caminho para o conservadorismo reatualizar-se por meio de mitos, comportamentos autoritários e irracionais, ideias valorizadoras de hierarquia, acarretando na reprodução do medo social (BARROCO, 2011). Este, por sua vez, atua como um facilitador de projetos conservadores na profissão, tendo em vista que o próprio assistente social pertence a parcela estendida da classe trabalhadora, submetida a precarização das condições de trabalho e da formação profissional. Neste contexto, segundo Lukács (2012), a irracionalidade (e as respostas irracionais) nada mais é [são] do que a projeção subjetiva de um retrocesso do pensamento, produto de um assombro diante de uma problemática real, concreta, cuja insolubilidade adquire para o sujeito a forma enganadora de uma resposta irracionalista. Desta maneira, ainda baseados em Lukács, podemos apreender o ideário gerencialesco como a falsa consciência, uma autoilusão de nossa época que põe grandes desafios à sua superação, tendo em vista que cada vez mais se torna distante a cooperação concreta entre os homens. Frente ao exposto, reafirmamos o cariz imprescindível do debate de Netto (1996), que há quase duas décadas, discorria sobre o grande desafio que seria posto ao Serviço Social, redundando em dois paradigmas: de um lado, estaria o técnico bem adestrado que vai operar instrumentalmente sobre as demandas do mercado de trabalho tal como elas se apresentam, adotando acriticamente práticas e conceitos. De outro, apresentar-se-á o intelectual que, por meio de uma qualificação operativa e teórico-crítica, buscará aprofundar a direção estratégica da profissão. Neste sentido, torna-se mister a pesquisa acerca das novas tendências e desafios profissionais, a fim de que não nos iludamos com o espectro modernizante e “humanizador” das tecnologias vinculadas a “gerência científica do trabalho”, priorizando uma análise crítica dos reinventados mecanismos de produção de consentimento de classe. REFERÊNCIAS ALVES, G. Dimensões da Precarização do Trabalho – Ensaios de Sociologia do Trabalho. São Paulo: Canal 6 Editora, 2013. ____. O Trabalho do Juiz – Análise crítica do vídeo documentário O Trabalho do Juiz. Bauru, SP: Canal6editora, 2014. BARAN, P. e SWEEZY, P. Capitalismo Monopolista – Ensaio sobre a ordem econômica e social americana. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI BARROCO, M. Bárbarie e Neoconservadorismo – os desafios do projeto ético-político. Serviço Social & Sociedade. Nº.106, São Paulo: Cortez, abr./jun. 2011. pp. 205-218. BRAVERMAN, H. Trabalho e Capital Monopolista: a degradação do trabalho no século XXI. Rio de Janeiro: LTC, 2012. COUTINHO, C. N. Cultura e Democracia no Brasil. Encontros com a Civilização Brasileira, no 17. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira: 1979. DEJOURS, C. A Loucura do Trabalho – estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo: Cortez-Oboré, 1992. FONTES, V. O Brasil e o Capital-Imperialismo – Teoria e história. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2012. GAULEJAC, V. de. 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Cotidiano: Conhecimento e crítica. São Paulo: Cortez, 2011. RIBEIRO, H. O Juiz Sem a Toga. Florianópolis: Lagoa, 2005. CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI PORTFÓLIO Em meio a um contexto de reestruturação do serviço social, a par r da década de 1950, as formas de intervenção começam a caminhar em direção a uma análise mais contextualizada da realidade social dos indivíduos, passando a atuar sobre o viés do chamado desenvolvimento de comunidade, que teve por finalidade a adoção de novas técnicas de atuação com vistas ao entendimento mais amplo da situação do indivíduo e a relação com seu meio. Diante disso, imagine este cenário: Você foi contratada para trabalhar em uma Comunidade Rural de cerca de 85 famílias (250 pessoas) Considerando essa comunidade, indique: - Quais técnicas de mobilização social e abordagem da população em um meio rural poderiam ter sido utilizadas? - Os indicadores de alcance rela vos à efetiva participação da determinada comunidade. - Qual a concepção do serviço social acerca da sua atuação profissional na contemporaneidade? CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI OBS: Para redigir sua resposta, use uma linguagem acadêmica. Faça um texto com no mínimo 20 linhas e máximo 25 linhas. Lembre-se de não escrever em primeira pessoa do singular, não usar gírias, usar as normas da ABNT: texto com fonte tamanho 12, fonte arial ou times, espaçamento 1,5 entre linhas, texto justificado. PESQUISA AUTOESTUDO! As discussões em torno das políticas sociais e investimentos públicos trazem à tona o debate com relação aos gastos públicos e a disputa Estado Mínimo X Estado Intervencionista. Existem correntes que pregam que o Estado é responsável por criar ações afirmativas que tenham por finalidade igualar as condições para disputa entre as pessoas, e outras que defendem que cada um deve buscar melhorias de qualidade de vida sem intervenção externa. Nesta Pesquisa, você vai se aprofundar um pouco mais a respeito do termo “meritocracia”, tão atual nos dias de hoje. Assista ao vídeo 1. Meritocracia - ideologia meritocrática e sistemas meritocráticos https://www.youtube.com/watch?v=_qHfDoM5G10 Após realizar essas pesquisas, REFLITA seguinte questão: Quais são as bases e do sistema meritocrático? CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 049 - 03 - 15808 Análise social, política e econômica da realidade brasileira nas décadas de 1950 e 1960.pdf Artigo Aula 03.pdf
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