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PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Gabriel Godoi Abordagens sociocognitivas de aprendizagem Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar as abordagens sociocognitivas de aprendizagem e listar os principais aspectos da teoria sociocognitiva de Bandura. � Reconhecer os modelos de aprendizagem por observação, monito- ramento e autorregulação. � Avaliar as abordagens sociocognitivas. Introdução Neste capítulo, você aprenderá a identificar as principais abordagens sociocognitivas da aprendizagem: a teoria cognitivo-comportamental e a teoria sociocognitiva de Albert Bandura. Essas abordagens são extrema- mente importantes, pois geram grandes impactos dentro das instituições de ensino. Santrock (2009) explica que os principais conteúdos dessas teorias e a forma como compreendem a cognição em relação aos compor- tamentos e o ambiente podem incrementar suas habilidades e fornecem estratégias para poder individualizar os conteúdos para que todos os estudantes de sua sala de aula possam desenvolver-se de forma ótima. Você terá contato com os modelos de aprendizagem por observação, monitoramento e autorregulação, que estão dentro das abordagens sociocognitivas. Esses modelos de aprendizagem podem ser reprodu- zidos dentro das escolas para que você possa propiciar um conjunto de estratégias que facilite o aprendizado das crianças. Por fim, problematizaremos os principais conceitos das abordagens sociocognitivas, os seus impactos nas instituições de ensino por todo mundo e de que forma elas podem propiciar uma mudança nos formatos de escola que temos no Brasil. Você observará as críticas de outros pes- quisadores acerca dessas abordagens e poderá formular um pensamento próprio para também avaliar essas teorias. Abordagens da aprendizagem e teoria sociocognitiva de Bandura Pensar sobre como se dá a aprendizagem dos seres humanos vem sendo um desafio para os mais diversos pesquisadores (LUÍS; ROLDÃO, 2016). Psi- cologia, pedagogia, neurologia e biologia são apenas algumas áreas que já propuseram modelos teóricos sobre como os seres humanos pegam estímulos de seu ambiente, processam internamente e transformam essas experiências em ferramentas a serem utilizadas em outras situações. Assim, podemos compreender que o conceito de aprendizagem não é simples, nem concreto e, muito menos, consensual (SANTROCK, 2009). Entre os diversos modelos teóricos que se formaram, as abordagens sociocognitiva de Bandura (2006) e a teoria cognitivo-comportamental de Beck (1997) são as mais utilizadas por educadores e profissionais que trabalham com educação, principalmente por abarcarem uma complexidade suficiente para que boas estratégias possam ser pensadas a serem utilizadas nas salas de aula para incrementar o processo de aquisição de conhecimentos dos alunos. As abordagens cognitivo-comportamentais partem do princípio do con- dicionamento operante de Skinner (1954), mas inserem o campo cognitivo (pensamento, raciocínio, expectativas sociais) como um fator importante no au- mento ou na diminuição dos comportamentos desejados. Assim, as abordagens cognitivo-comportamentais objetivam a mudança comportamental, fazendo com que o indivíduo monitore, maneje e regule seu próprio comportamento em vez de deixar que seja controlado por fatores externos (BECK, 1997). Santrock (2009) esclarece que as abordagens cognitivo-comportamentais se originaram da psicologia cognitiva, que enfatiza os efeitos dos pensamentos sobre o comportamento, e do behaviorismo, que enfatiza as técnicas de mudança do comportamento. As abordagens cognitivo-comportamentais procuram mudar conceitos errôneos, fortalecer habilidades de enfrentamento, aumentar seu autocontrole e estimular a autorreflexão construtiva (WATSON; THARP, 2007). Métodos autoinstrucionais são técnicas cognitivo-comportamentais voltadas para ensinar os indivíduos a modificarem seu comportamento. Os métodos autoinstrucionais ajudam as pessoas a alterarem o que dizem para si mesmas. Entre as estratégias cognitivo-comportamentais que os estudantes podem utilizar para autorregular seus comportamentos, chamamos a atenção para as estratégias de autofala. Meichenbaum, Turk e Burstein (1975) citam alguns pontos dessa estratégia, que ajudam alunos e educadores a lidarem com mais eficiência em situações de estresse. Abordagens sociocognitivas de aprendizagem2 a) Estar preparado para a ansiedade ou o estresse: “o que preciso fazer?”; “vou desenvolver um plano para lidar com isso”; “vou simplesmente pensar sobre o que preciso fazer”; “não vou me preocupar”; “ficar preocupado não ajuda em nada”; “tenho várias estratégias diferentes que posso usar”. b) Confrontar ou lidar com ansiedade ou estresse: “posso encarar o de- safio”; “vou continuar no ritmo um passo por vez”; “dou conta disso”; “vou relaxar, respirar fundo e usar uma das estratégias”; “não vou pensar sobre meu estresse”; “só vou pensar sobre o que tenho de fazer”. c) Lidar com sentimentos nos momentos críticos: “o que é isso que tenho de fazer?”; “eu sabia que minha ansiedade poderia aumentar”; “só tenho de manter a mim mesmo sob controle”; “quando a ansiedade chegar, irei apenas fazer uma pausa e continuar me concentrando no que preciso realizar”. d) Use autoafirmações reforçadoras: “ótimo, consegui”; “dei conta do recado”; “eu sabia que conseguiria”; “espere até eu contar para os outros como fiz!”. Santrock (2009) comenta que, em muitas situações, a estratégia é subs- tituir autoafirmações negativas por positivas. Por exemplo, uma estudante pode dizer para si mesma: “não vou conseguir nunca terminar esse trabalho para amanhã”. Isso pode ser substituído por autofala positiva, como: “vai ser difícil, mas acho que consigo terminar”, ou “vou encarar isso como um desafio e não como um estresse”, ou ainda “se eu trabalhar realmente duro, posso conseguir terminar”. A abordagem cognitivo-comportamental sustenta que falar de maneira positiva consigo mesmo ajuda educadores e estudantes a atingirem todo o seu potencial (WATSON; THARP, 2007). Pensamentos negativos acabam virando uma profecia realizada. Você acha que não consegue fazer e, então, não consegue. Se o diálogo interior negativo é um problema para você, pergunte- -se ocasionalmente ao longo do dia: “o que estou dizendo para mim mesmo neste momento?”. Momentos que você acredita que serão potencialmente estressantes são ocasiões excelentes para examinar sua autofala. Monitore, também, a autofala de seus alunos. Se você ouvir alunos dizendo “não consigo fazer isso” ou “sou tão lerdo que nunca vou conseguir terminar isso,” dedique algum tempo para ajudá-los a substituírem o diálogo interior negativo por um positivo. Devido a isso, muitos cognitivistas comportamentais recomendam que os estudantes melhorem seu desempenho por meio do monitoramento do 3Abordagens sociocognitivas de aprendizagem próprio comportamento (ROCK, 2005). Isso pode requerer que os estudantes mantenham gráficos ou registros de seu próprio comportamento. A teoria sociocognitiva de Albert Bandura estabelece que os fatores sociais e cognitivos, assim como o comportamento verificável e privado, desempe- nham funções importantes na aprendizagem. Santrock (2009) explica que os fatores cognitivos podem envolver as expectativas de sucesso dos estudantes. Os fatores sociais podem incluir a observação, por parte dos estudantes, do comportamento de realização de seus pais. Devido ao seu aporte teórico e, também, por englobar as diferentes dimensões do ser humano (relações com seu comportamento, pensamento e pressões sociais), a teoria sociocognitiva se tornou uma fonte cada vez mais importante de conhecimento teórico para os educadores e facilita a criação de diversas aplicações para sala de aula (CHOI, 2005). Bandura (2006) é o principal arquiteto da teoria sociocognitiva. Ele diz que, quando os estudantes aprendem, podem representar ou transformar cognitivamente suas experiências. Assimcomo no condicionamento operante de Skinner (1954), as relações na teoria sociocognitiva somente ocorrem entre eventos ambientais e comportamento. O modelo desenvolvido por Bandura (2006) é embasado no pensamento de determinismo recíproco, ou seja, as interações entre indivíduo e ambiente determinarão quais serão as atitudes, os pensamentos e as consequências futuras. Os pensadores que seguem a ideia de determinismo não entendem que seja possível prever o que acontecerá futuramente, pois as variações de combinações entre comportamento e respostas ambientais são demasiadamente grandes para se fazer uma estimativa minimamente válida. Mesmo assim, esses pensadores entendem que todos os comportamentos e pensamentos derivam de interações comportamentais passadas. Dessa forma, não existiria livre-arbítrio real ou escolhas ao acaso — tudo é determinado pelas trocas entre comportamentos e reforços ou punições ambientais que aumentam ou diminuem a frequência desse comportamento. O determinismo recíproco de Bandura (2006) consiste em três fatores principais: comportamento, cognição e ambiente — que podem interagir entre si para influenciar a aprendizagem. Essa influência se dá no comportamento humano, assim como o comportamento também o afeta o ambiente, formando uma intrínseca rede de troca entre indivíduo e meio, que vai formando os padrões comportamentais e psicológicos de cada um. Os pensadores discordam sobre a utilização da palavra “cognição” por Bandura (2006). Santrock (2009) faz uma crítica ao conceito utilizado por Bandura, que usa a palavra “pessoa” ao invés de “cognição”. No entanto, Santrock (2009) entende que muitos dos fatores pessoais que ele descreve são cognitivos, sendo que os que não têm um Abordagens sociocognitivas de aprendizagem4 viés cognitivo são, principalmente, traços de personalidade e temperamento. Tais fatores podem incluir ser introvertido ou extrovertido, ativo ou inativo, calmo ou ansioso e amável ou hostil. Fatores cognitivos incluem expectativas, crenças, atitudes, estratégias, raciocínio, pensamento e inteligência. Pensando no modelo como Bandura (2006) estruturou sua teoria sociocogni- tiva, por meio dessa rede intrincada de influências que sobrepõem umas sobre as outras, Santrock (2009) utiliza um exemplo para podermos ilustrar como se dá a aprendizagem de estudantes pelo viés da teoria sociocognitiva. a) Cognição influencia comportamento — o estudante desenvolve estratégias cognitivas para pensar de maneira mais profunda e lógica sobre como resolver problemas. A estratégia cognitiva melhora seu comportamento de aquisição. b) Comportamento influencia cognição — o estudo (comportamento) do estudante fez com que ele tirasse boas notas, o que, por sua vez, produz expectativas positivas sobre suas capacidades e lhe proporciona autoconfiança e autoeficácia (cognição). c) Ambiente influencia comportamento — o colégio ao qual o estudante está vinculado desenvolveu um programa de habilidades de estudo para ajudar os estudantes a aprenderem como fazer anotações, gerenciar seu tempo e realizar provas com mais eficiência. O programa de habilidades de estudo melhora o comportamento de aquisição do estudante. d) Comportamento influencia ambiente — o programa de habilidades de estudo melhora o comportamento de aquisição de muitos alunos da classe do estudante. A melhora no comportamento de aquisição dos alunos estimula a escola a expandir o programa para que todos os estudantes do ensino médio possam participar. e) Cognição influencia ambiente — as expectativas e o planejamento dos profissionais que trabalham o ensino sobre seus estudante foi o que propiciou a criação do programa de habilidades. Dessa forma, podemos ver que os modos como os profissionais e estudantes percebem o seu entorno pode facilitar ou dificultar a apreensão dos conteúdos. Se um estudante considera que a escola só serve para “prendê-lo” ou não tem autoeficácia suficiente para acreditar que pode aprender as matérias, é mais fácil que ele tenha maior dificuldade, realmente, na hora de estudar, o mesmo que ocorre com os profissionais do ensino (SATROCK, 2009). f) Ambiente influencia cognição — o colégio utiliza seus recursos para montar uma biblioteca à qual os estudantes e pais podem ter acesso a diferentes livros e formas de aprofundar seus conhecimentos. Esse 5Abordagens sociocognitivas de aprendizagem centro de recursos também oferece serviços de tutoria de estudos aos estudantes, que, junto com seus cuidadores, aproveitam os recursos do centro e as tutorias. Esses recursos e serviços melhoram as habilidades de raciocínio do estudante. Vemos que a principal diferença entre o modelo sociocognitivo de Ban- dura (2006) e o modelo comportamental de Skinner (1954) está no fato de Bandura (2006) considerar a cognição como um pilar que influencia tanto o ambiente como o comportamento de forma equivalente a esses dois planos. Esse novo eixo de influência permite com que a teoria sociocognitiva acesse uma complexidade superior nos estudos da aprendizagem. A cognição se torna passível de estudo, e é preciso que os pesquisadores a entendam para poder melhorar suas capacidades de ensinar. Porém, o fator pessoal/cognitivo que Bandura (2006) mais enfatizou nos últimos anos foi a autoeficácia, a crença de que uma pessoa consegue dominar uma situação e produzir resultados positivos. Bandura diz que a autoeficácia tem influência poderosa sobre o comportamento (SANTROCK, 2009). Pudemos observar que tanto a abordagem sociocognitiva quanto a cogni- tivo-comportamental têm a cognição como um dos pilares fundamentais, por onde estruturar-se-ão todas as estratégias. Não por acaso essas são as duas abordagens mais utilizadas atualmente dentro das instituições de ensino (CHOI, 2005). Dessa forma, percebemos que não há como pensarmos o processo de aquisição de informações sem levarmos em conta a forma como os alunos formulam seu pensamento, como este é regulado pelas expectativas sociais e como seus comportamentos influenciam as expectativas que a sociedade terá sobre determinado estudante e como isso impactará seus pensamento sobre si mesmo e sobre suas capacidades (autoeficácia). Aprendizagem por observação, monitoramento e autorregulação A aprendizagem por observação é uma forma de aquisição de conhecimentos que envolve adquirir habilidades, estratégias e crenças ao observar outros indivíduos realizando ações semelhantes e as consequências que essas atitudes tiveram (SANTROCK, 2009). Bandura (2006) explica que a aprendizagem por observação envolve a imitação, mas não está limitada a ela. O que é tipicamente aprendido não é uma cópia completa do modelo observado, mas uma forma geral ou estratégia que o observador aplica de maneira criativa, adicionando Abordagens sociocognitivas de aprendizagem6 ou retirando etapas de acordo com suas vivências. A capacidade de aprender padrões de comportamento por meio da observação elimina a necessidade de aprendizagem por tentativa e erro, pois essa é muito mais difícil e demorada para dar algum resultado efetivo. Assim, na maioria das ocasiões, a aprendiza- gem por observação exige menos tempo do que o condicionamento operante. Desde seus primeiros experimentos, Bandura (1986) se concentrou na exploração de processos específicos envolvidos na aprendizagem por observação, que incluem atenção, retenção, produção e motivação. Santrock (2009) explica um pouco mais sobre cada uma dessas etapas. a) Atenção — antes que qualquer indivíduo possa imitar as ações de um modelo, ele precisa prestar atenção no que este está fazendo ou dizendo. A atenção ao modelo é influenciada por diversas características. Os seres humanos estão mais propensos a prestarem atenção em modelos com status social/hierárquico mais elevado, sendo que, na maioria dos casos do ensino fundamental, os professores e educadores são modelo ótimos de aprendizagem por observação. b) Retenção — para reproduziras ações do modelo, os indivíduos de- vem codificar a informação e armazená-la na memória para que possa ser recuperada. A retenção de informações dos estudantes pode ser aprimorada se os educadores usarem demonstrações vívidas, lógicas e claras do que querem ensinar, como exemplos contextualizados do cotidiano dos alunos. c) Produção — as crianças podem prestar atenção ao modelo e codificar na memória o que viram, mas, devido às limitações em sua capacidade motora, não são capazes de reproduzir o comportamento do modelo. Uma pessoa sem condicionamento físico, ao observar os movimentos de um nadador olímpico, certamente não conseguirá reproduzi-los fielmente sem um longo treino. d) Motivação — frequentemente, as crianças prestam atenção no que o modelo diz ou faz, retêm a informação na memória e têm as habilida- des motoras para desempenhar a ação, mas não estão motivadas para desempenhar o comportamento do modelo. Quando os estudantes são punidos ao imitar o comportamento do modelo, este diminuirá sua ocorrência. Psicólogos educacionais defendem cada vez mais a importância da apren- dizagem autorreguladora (SCHUNK; ZIMMERMAN, 2006), que consiste na autogeração e no automonitoramento dos pensamentos, sentimentos e com- 7Abordagens sociocognitivas de aprendizagem portamentos, a fim de atingir um objetivo, que pode ser acadêmico (melhorar a interpretação em leitura, escrever de maneira mais organizada, aprender a multiplicar, fazer perguntas relevantes) ou socioemocional (controlar a raiva, relacionar-se melhor com os colegas). Winne (2005) lista algumas caracterís- ticas de alunos autorregulados: � definem objetivos para ampliar seu conhecimento e manter sua motivação; � conhecem seu perfil emocional e têm estratégias para controlar suas emoções; � monitoram periodicamente seu progresso em relação a um objetivo; � ajustam ou reveem suas estratégias com base no progresso que estão fazendo; � avaliam os obstáculos que podem surgir e fazem as adaptações necessárias. Entendemos como funciona o processo de aprendizagem por observação e quais os meios que podem influenciar para que esse comportamento não se mantenha, mas, também, existem diversas estratégias que podem incre- mentar a forma como esses comportamentos aparecerão — uma delas é o automonitoramento, que consiste em uma estratégia excelente para melhorar a aprendizagem, pois permite que você ajude os estudantes a aprenderem a fazer com eficiência (WATSON; THARP, 2007). O desenvolvimento da autorregulação é influenciado por muitos fatores, entre eles a modelação e a autoeficácia (SCHUNK; ZIMMERMAN, 2006). Os modelos são fontes importantes para transmitir habilidades de autorregulação, dentre as quais estão o planejamento e o gerenciamento eficiente do tempo, a atenção e a concentração, a organização e a interpretação de informações de maneira estratégica, o estabelecimento de um ambiente de trabalho produtivo e a utilização de recursos sociais. Zimmerman e Schunk (2004) ilustram os conceitos de autorregulação e monitoramento por meio do caso de uma estudante que está com baixo desempenho em história. A seguir, mostramos o passo a passo que consiste no modelo de autorregulação. � Passo 1 — Ela autoavalia seu estudo e a preparação para as provas, mantendo um registro detalhado disso. O educador também fornece algumas diretrizes sobre como fazer esse registro. Após várias sema- nas, a aluna entrega o registro e relaciona seu baixo desempenho nas Abordagens sociocognitivas de aprendizagem8 provas à sua baixa compreensão dos materiais de leitura e a certo nível de dificuldade. � Passo 2 — A estudante define um objetivo, para o caso de melhorar sua compreensão de leitura, e planeja como atingir essa meta. O pro- fessor também ajuda a aluna a dividir o objetivo em componentes, como identificar as principais ideias e definir objetivos específicos para entender uma série de parágrafos do livro. O papel do educador é fornecer estratégias, como concentrar-se inicialmente na primeira sentença de cada parágrafo e, em seguida, examinar as demais como meio de identificar as ideias principais. � Passo 3 — A aluna coloca o plano em prática e começa a monitorar seu progresso. Inicialmente, ela pode precisar da ajuda do educador para identificar as principais ideias do texto. Esse feedback tem como objetivo fazer com que a estudante monitore sozinha sua interpretação de texto com mais eficiência. � Passo 4 — A aluna monitora seu aprimoramento em compreensão de leitura, avaliando se o processo teve algum impacto em seus resultados de aprendizagem. Mais importante, saber se esse aprimoramento em interpretação de texto resultou em melhor desempenho nas provas de história. Podemos compreender que a estratégia de autoavaliação é uma boa forma de medir a evolução do aluno e, também, promover a ideia ao estudante de que ele está constantemente evoluindo em seus estudos e aprofundando seus conhecimentos. No entanto, Schunk e Zimmerman (2006) salientam que as autoavaliações revelaram que a estratégia de encontrar as principais ideias melhoraram apenas parcialmente a compreensão da aluna e somente quando a primeira sentença continha a principal ideia do parágrafo — portanto, os autores recomendam que os educadores utilizem estratégias adicionais para auxiliar todas as crianças. A autoeficácia também pode influenciar a escolha das tarefas, o esforço despendido, a persistência e o rendimento do estudante (SCHUNK; ZIMMER- MAN, 2006). Comparados aos estudantes que duvidam de suas capacidades de aprendizagem, aqueles com autoeficácia alta para adquirir uma habilidade ou desempenhar uma tarefa participam mais prontamente, trabalham com mais afinco, persistem mais quando se deparam com uma dificuldade e apre- sentam maior rendimento (SANTROCK, 2009). Devido a esses mecanismos, é muito importante que os professores estimulem os estudantes a usarem a autorregulação. Essa estimulação transmite a mensagem de que os próprios 9Abordagens sociocognitivas de aprendizagem estudantes são responsáveis por seu comportamento, por se tornarem instruídos e por serem cidadãos que contribuem com a sociedade (LAJOIE; AZEVEDO, 2006). Outra mensagem que também pode ser transmitida pela aprendizagem autorreguladora é que a aprendizagem é uma experiência pessoal que requer uma participação ativa e dedicada do estudante (ZIMMERMAN; BONNER; KOVACH, 1996), além de que os alunos conseguem enxergar melhor seus avanços na matéria em questão, percebendo que são eficazes e capazes de aprender o conteúdo. Consequências das abordagens sociocognitivas É inegável que as abordagens sociocognitivas fizeram contribuições impor- tantes para a educação em geral. Enquanto mantiveram o perfil científico dos behavioristas e a ênfase na observação cuidadosa, elas expandiram signifi- cativamente a ênfase da aprendizagem para incluir fatores sociocognitivos (SANTROCK, 2009). Uma aprendizagem considerável ocorre ao se observar e ouvir modelos competentes e, depois, imitar o que eles fazem. A ênfase da abordagem cognitivo-comportamental na autofala e na aprendizagem autorreguladora proporciona uma mudança importante da aprendizagem controlada pelos outros para a responsabilidade por sua própria aprendizagem (WATSON; THARP, 2007). Essas estratégias autorrealizáveis podem melhorar consideravelmente a aprendizagem do estudante. A teoria cognitivo-comportamental e a teoria sociocognitiva iniciaram dentro dos campos acadêmicos da psicologia, mas sua amplitude se deu de tal forma que se estendeu para diversos outros campos, como o direito, o esporte e a educação. Se pensarmos no modelo escolar antigo, no qual o educador ensinava de forma rígida e havia uma crença de que a hierarquia na qual o professor manda e os estudantes obedecem, havia a crença de que pudesse fazer com que as crianças aprendessem bem (LOURO, 2000). Além disso, o modelo anterior de escola não levava em conta as individualidadesde cada estudante. Pelo contrário, as escolas pretendiam a homogeneização de todos os alunos para “facilitar” a aquisição dos conteúdos. Muitos estudantes foram preteridos e marginalizados devido a isso. Não entender que os estudantes não são iguais e não aprendem da mesma maneira fez com que o Brasil tivesse um aumento enorme da evasão escolar, que só foi estancada mediante diversas políticas públicas iniciadas no início do século XXI. Um dos grandes valores dessas abordagens da aprendizagem é poder mostrar, tanto aos estudantes quanto aos educadores, que todas as crianças Abordagens sociocognitivas de aprendizagem10 têm valor, são inteligentes e a individualidade é de fundamental importância para o desenvolvimento cognitivo dos seres humanos. Assim, não cabe mais o pensamento de que determinado estudante não consegue aprender sem antes esgotar as estratégias individualizadas de aprendizagem. A educação mundial foi impactada no sentido de que, atualmente, as instituições de ensino conseguem possibilitar os estudantes se desenvolverem de forma muito mais propícia. Houve uma diminuição constante no número de analfabetos em todo o mundo, queda dos níveis de depressão nos níveis fundamental e médio em território nacional e, por fim, um decréscimo bastante acentuado da evasão escolar no Brasil e no mundo (LOURO, 2000; SANTROCK, 2006). Experimentos de Albert Bandura sobre a aprendizagem social da violência (narrados por Bandura) podem ser encontrados no link a seguir. https://goo.gl/U5ADVn Críticas às abordagens sociocognitivas No entanto, por mais que exista um acréscimo considerável no que entendemos atualmente acerca da aprendizagem e das estratégias para fortalecer esse processo, ainda é possível problematizar os preceitos pelos quais essas abor- dagens trabalham. Críticos das abordagens sociocognitivas vêm de diversos campos (SANTROCK, 2009). Alguns teóricos da cognição acreditam que as abordagens ainda focam excessivamente no comportamento aberto e em fatores externos, e não o suficiente nos detalhes de como os processos cognitivos, como pensamento, memória e solução de problemas, de fato, ocorrem. Com certeza, a inserção do campo da cognição no entendimento do ser humano foi fundamental para que as teorias comportamentais pudessem ter base teórica para criar teorias e estratégias para a educação e o desenvolvimento intelectual dos seres humanos (LOURO, 2000). Alguns dos desenvolvimentalistas também criticam as abordagens cogni- tivo-comportamentais por não falarem sobre desenvolvimento no sentido que não especificam mudanças sequenciais relacionadas à idade na aprendizagem. Diversos autores, como Piaget (1982) e Winnicott (1970), têm estruturas teóricas 11Abordagens sociocognitivas de aprendizagem muito fortes e sólidas no campo do desenvolvimento humano. Piaget (1982), por exemplo, explica que o cérebro infantil evolui conforme vai crescendo. Dessa forma, não faria sentido ensinar conceitos abstratos (amor, valor do dinheiro, metáforas, entre outros) para crianças muito pequenas, pois elas ainda não têm a capacidade cerebral de compreender, limitando-se, ainda, a conteúdos muito concretos (o que é frio; o que é quente; o que é duro; o que é mole). Nesse sentido, se não levarmos em conta as questões desenvolvimentais, as abordagens sociocognitivas não se sustentariam por si só. Afinal, não importa o quanto as trocas entre comportamento, ambiente e cognição sejam favoráveis ao aprendizado, as crianças muito jovens não conseguirão aprender conceitos aos quais não estão cognitivamente preparadas. É verdade que a teoria sociocognitiva não trata do desenvolvimento em grande profundidade, porque é principalmente uma teoria de aprendizagem e comportamento social. Mas também não há necessidade de rotular como uma abordagem que não fala sobre o desenvolvimento. Os teóricos do huma- nismo também a condenam por não dar atenção suficiente à autoestima, ao afeto e a relacionamentos estimulantes. Todas essas críticas também podem ser aplicadas, e assim têm sido, às abordagens comportamentais, como o condicionamento operante de Skinner (1954). BANDURA, A. Going global with social cognitive theory: from prospect to pay dirt. In: DONALDSON, S. I.; BERGER, D. E.; PEZDEK, K. (Ed.). The rise of applied psychology. Mahwah: Erlbaum, 2006. BANDURA, A. Social foundations of thought and action. Englewood Cliffs: Prentice- -Hall, 1986. BECK, J. S. Terapia cognitiva: teoria e prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. CHOI, N. Self-efficacy and self-concept as predictors of college students’ academic performance. Psychology in the Schools, v. 42, n. 2, p. 197-205, Feb. 2005. LAJOIE, S. P.; AZEVEDO, R. Teaching and learning in technology-rich environments. 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