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TRATAMENTOS-EM-ACUPUNTURA-1

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SUMÁRIO 
SUMÁRIO .................................................................................................... 2 
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 3 
2 TRAMENTO EM ACUPUNTURA ............................................................. 4 
3 O DIREITO DE PRATICAR A ACUPUNTURA NO BRASIL ................. 7 
3.1 Memórias de desafios e lutas ............................................................. 8 
3.2 A introdução da acupuntura no SUS ................................................ 10 
3.3 Aspectos legais da acupuntura no Brasil ......................................... 11 
3.4 Conflito legal .................................................................................... 12 
3.5 Sobre o direito de praticar a acupuntura no Brasil .......................... 14 
3.6 Regulamentação da acupuntura ...................................................... 16 
4. A UTILIZAÇÃO DA ACUPUNTURA SEGUNDO ESTUDOS CIENTÍFICOS 
ATUAIS .................................................................................................................. 19 
5 APLICAÇÕES DA ACUPUNTURA JUNTO AOS TRANSTORNOS 
PSICOLÓGICOS .................................................................................................... 23 
6 A APLICAÇÃO DA ACUPUNTURA SOBRE AS EMISSÕES 
OTOACÚSTICAS DE PACIENTES COM ZUMBIDOS ........................................... 28 
7 A PLICAÇÃO DA ACUPUNTURA NA ANALGESIA DO PARTO........ 32 
8 O TRATAMENTO DA ANSIEDADE ATRAVÉS DA ACUPUNTURA .. 37 
8.1 Compreendendo a ansiedade pelo referencial teórico da MTC ....... 39 
8.2 Método do tratamento e explicação dos princípios e pontos utilizados
 ............................................................................................................................ 42 
9 ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DA INSÔNIA ............................. 45 
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ............................................................... 50 
 
 
3 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é 
semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – 
quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se 
ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida 
sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz 
alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a 
mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser 
direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo 
hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso 
da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base 
e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar 
o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a 
ser seguida e prazos definidos para as atividades. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
2 TRAMENTO EM ACUPUNTURA 
 
Extraída dos radicais latinos acus e pungere, que significam agulha e 
puncionar, respectivamente, a acupuntura visa à terapia e cura das enfermidades 
pela aplicação de estímulos através da pele, com a inserção de agulhas em pontos 
específicos (WEN, 1989; JAGGAR, 1992; SCHOEN,1993 apud SCOGNAMILLO-
SZABÓ; BECHARA, 2001) chamados acupontos. Trata-se também de uma terapia 
reflexa, em que o estímulo de uma área age sobre outra(s). Para este fim, utiliza, 
principalmente, o estímulo nociceptivo (LUNDEBERG, 1993 apud SCOGNAMILLO-
SZABÓ; BECHARA, 2001). No entanto, além do sentido específico de agulhamento 
- a palavra acupuntura - pode ter sentido mais amplo, o do estímulo do acuponto 
segundo as várias técnicas disponíveis (agulhamento, alterações de temperatura, 
pressão e outras). A acupuntura faz parte de um conjunto de conhecimentos 
teóricoempíricos, a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) que inclui técnicas de 
massagem (Tui-Na), exercícios respiratórios (Chi-Gung), orientações nutricionais 
(Shu-Shieh) e a farmacopéia chinesa (medicamentos de origem animal, vegetal e 
mineral) (ALTMAN, 1997 apud SCOGNAMILLO-SZABÓ; BECHARA, 2001). 
Cumpre elucidar que a acupuntura é denominada medicina tradicional no 
contexto dos países que utilizam essas práticas tradicionais e populares como a 
principal forma de atenção à saúde. Ela foi nomeada como Medicina Complementar 
e Alternativa nos países onde a principal forma de medicina praticada é alopática. 
A Organização Mundial de Saúde (OMS), desde de meados da década de 
70, vem incentivando o uso da acupuntura e de outras práticas alternativas pelos 
países membros. Posteriormente, criou-se um documento intitulado “Estratégia da 
OMS sobre Medicina Tradicional (MT) 2002-2005”, com o objetivo de promover o 
desenvolvimento de políticas para a implantação de Medicina Tradicional e 
estabelecer requisitos de segurança, eficácia, qualidade, uso racional e acesso. 
Originada de um conjunto de conhecimentos teórico-empíricos da Medicina 
Tradicional Chinesa (MTC), a acupuntura é uma tecnologia de intervenção em 
saúde que aborda de modo integral e dinâmico o processo saúde-doença no ser 
 
5 
 
humano, podendo ser usada isoladamente ou de forma integrada com outros 
recursos terapêuticos. A MTC é constituída por um vasto campo de saberes e 
práticas, o qual, embora aparente ao leigo um alto grau de homogeneidade, revela 
a um olhar minucioso considerável heterogeneidade. Em seu aspecto positivo, a 
diversidade enriquece o campo, mas no negativo é fonte de tensões e conflitos que 
definem algumas fronteiras internas (BRASIL, 2006; WEN, 1995; apud ROCHA et. 
al, 2015). 
Na MTC, assim como em qualquer sistema médico, o diagnóstico é um 
prérequisito para a determinação do tratamento e visa compreender como o 
paciente se insere dentro do seu contexto de vida e de que maneira interage com 
os fatores que o cercam. Esta abordagem é a aplicação prática da filosofia chinesa 
que vê o ser humano (microcosmo) em constante interação com o mundo 
(macrocosmo). O padrão de resposta de cada indivíduo, em dado momento, é 
categorizado em síndromes. A partir desse diagnóstico, é definido o plano de 
tratamento (WEN, 1995; MACIOCIA, 1996 apud ROCHA et. al, 2015). 
A World Health Organization (WHO, 2002) publicou diretrizes para 
2002−2005, visando integrar a Medicina Tradicional / Medicina Complementar e 
Alternativa (MT/MCA) nos sistemas de saúde nacionais, desenvolvendo e 
implantando políticas e programas nacionais. Buscou publicar diretrizes para 
normatização e controle de qualidade dos serviços de acupuntura e medicina 
tradicional. Esse documento pretendia, entre outras coisas, ampliar a acessibilidade, 
disponibilidade e exequibilidade da acupuntura em outros países. Enfatizou−se a 
importância do acesso da técnica às populações pobres e fomento ao uso racional 
e terapêutico por parte de provedores e consumi− dores de saúde (WHO, 2002 apud 
KUREBAYASHI et. al., 2009). 
Com o intuito de dar maior visibilidade e fundamentação à acupuntura como 
terapêutica eficaz e segura para uma grande quantidade de enfermidades, em 2003, 
a WHO fez divulgações de doenças tratáveis pela acupuntura. Foi realizada uma 
listagem sobre estudos clínicos controlados de acupuntura em diferentes 
enfermidades, coletados nos anos anteriores a 2002 e provenientes de diversos 
países do mundo. Para justificar a importância das publicações realizadas pela 
 
6 
 
Organização Mundial de Saúde, cumpre ressaltar que essa listagem foi também 
referenciada pelo governo do Distrito Federal no Manual de Normas e 
Procedimentos das atividades do Núcleo de Medicina Natural e Terapêuticas deIntegração em 2005 (DISTRITO FEDERAL, 2005 apud KUREBAYASHI et. al., 
2009). 
De acordo com o documento organizado pela WHO, existe uma ampla gama 
de possibilidades terapêuticas da acupuntura para doenças agudas e crônicas, para 
todas as faixas etárias inclusive e especialmente para idosos. Ela pode ser sugerida 
para todos os níveis de atenção com alto grau de resolutividade e eficiência. Embora 
a acupuntura tenha credibilidade no Ocidente como método eficaz para alívio de 
dor, o documento afirma sua aplicação para desordens dos sistemas respiratório, 
digestivo, nervoso, bem como para problemas psicológicos e emocionais. 
Ressalte−se que o principal foco do tratamento pela acupuntura deve ser 
prioritariamente o todo da pessoa e não o alívio de sintomas. Portanto, ao se realizar 
o diagnóstico e tratamento pela acupuntura, múltiplos sintomas podem ter remissão 
completa ou parcial simultaneamente, pois é o todo energético que está implicado 
no tratamento (KUREBAYASHI et. al., 2009). 
Nogueira (1983), relata que, no Brasil, em meados de 1983, muito antes 
mesmo dessas iniciativas, uma enfermeira já relatava, o crescente interesse pela 
população brasileira sobre o uso das Terapias Alternativas e Complementares 
(TAC) e a importância de o enfermeiro não ficar alheio a esse movimento. Esse 
interesse, segundo a autora, devia−se principalmente a alguns fatores: o preço 
elevado da assistência médica privada, o alto custo de medicamentos, precariedade 
da assistência dos serviços de saúde pública, eficácia da terapêutica e menores 
efeitos colaterais (NOGUEIRA, 1983 apud (KUREBAYASHI et. al., 2009). 
Ainda assim, foi apenas em 2002 que a Secretaria Municipal de Saúde da 
Prefeitura Municipal de São Paulo aprovou o uso de práticas integrativas e 
complementares e lançou um Caderno Temático de Medicina Tradicional Chinesa. 
A acupuntura, entretanto, tem sido realizada desde então somente pelos 
profissionais médicos, embora tenha sido reconhecida como especialidade de 
outras categorias profissionais de saúde (SÃO PAULO, 2005 apud (KUREBAYASHI 
 
7 
 
et. al., 2009).. Em maio de 2006, entretanto, surgiu a Portaria de nº 971, Brasil (2006) 
apud Kurebayashi et. al., (2009), que aprovou em âmbito nacional, a Política 
Nacional de Práticas Integrativas e Complementares pelo Ministério da Saúde, 
estabelecendo−se diretrizes para a regularização do uso dessas terapêuticas em 
Unidades de Saúde Pública no país. A novidade, no entanto, é que se espera que 
a partir dessa portaria, a acupuntura possa vir a ser praticada por toda equipe de 
saúde, uma vez que institui a acupuntura como atividade multiprofissional. Essas 
medidas podem ampliar o volume de serviços prestados à população que é atendida 
nas unidades de saúde referidas e estão em consonância com os princípios e 
preceitos preconizados pelo Sistema Único de Saúde 2005 (KUREBAYASHI et. al., 
2009). 
Tendo feito essas considerações introdutórias, vejamos na sequência o 
embasamento legal para a pratica da acupuntura no Brasil, bem como a aplicação 
da mesma no tratamento de diversos casos e necessidades físicas e psicológicas. 
3 O DIREITO DE PRATICAR A ACUPUNTURA NO BRASIL 
 
 
Fonte: https://guiadesalud.com.ve 
 
8 
 
3.1 Memórias de desafios e lutas 
Vários países vêm realizando a regulamentação da prática da acupuntura e 
o perfil de profissional exigido para tal varia de país para país, sendo que, em parte 
deles é necessária a formação em medicina ocidental como principal requisito. No 
Brasil, a acupuntura é considerada uma especialidade médica pelo Conselho 
Federal de Medicina, o qual defende a exclusividade de sua prática por médicos. 
Entretanto, conselhos de outras categorias profissionais de saúde também 
reconheceram a acupuntura como especialidade. Desta maneira, esta tem sido 
exercida por uma gama variada de profissionais que inclui acupunturistas com 
formação no exterior, práticos com formação em cursos livres no Brasil, técnicos em 
acupuntura e especialistas em acupuntura. Este cenário acabou gerando dilemas 
ético-legais quanto o direito ao exercício dessa terapêutica no país 
(KUREBAYASHI, 2009 apud ROCHA et. al. 2014). 
No Brasil, a prática da MTC se iniciou com a vinda dos primeiros imigrantes 
chineses para o Rio de Janeiro, em 1810. Em 1908, os imigrantes japoneses 
inseriram a acupuntura japonesa, embora restrita à colônia. Em 1958, Friedrich 
Spaeth, fisioterapeuta, considerado responsável pela difusão da acupuntura na 
sociedade brasileira na década de 1950, começou a ensinar esta prática milenar no 
Rio de Janeiro e em São Paulo e, em 1972, foi fundada a Associação Brasileira de 
Acupuntura (ABA) (PAI HJ, 2005 apud ROCHA et. al. 2014). 
O estabelecimento da acupuntura no Brasil foi marcado principalmente pelo 
repúdio da classe médica; como consequência disto, a introdução e o 
desenvolvimento inicial desta prática milenar foram realizados por profissionais de 
outras áreas. Dessa feita, a acupuntura passou por um período caracterizado pela 
marginalização antes que ocorresse sua efetiva aceitação pela classe médica 
(ROCHA et. al. 2014). 
Os conflitos decorrentes do processo de ‘importação’ e aculturação de um 
sistema médico exógeno nos países ocidentais resultaram em distintas 
configurações institucionais, conforme os poderes dos atores e das instituições 
 
9 
 
envolvidas, tais como as associações e os conselhos profissionais; as características 
das leis trabalhistas e educacionais; o sistema nacional de saúde; a história prévia 
da imigração de orientais; e as instituições de pesquisa, construção e legitimação do 
conhecimento, entre outros (SOUZA, 2011 apud ROCHA et. al. 2014). 
Na década de 1970, a acupuntura ainda sofria uma importante resistência 
por parte dos conselhos de medicina, que a classificavam como “charlatanismo” e 
“crendice”, conforme foi apontado por alguns colaboradores. A conjuntura autoritária 
que marcou esta época colaborou para que a intolerância médica à acupuntura 
viesse a se traduzir em atos que ameaçaram e por vezes atingiram com prisão e 
processos criminais alguns acupuntores, particularmente aqueles que não possuíam 
formação em medicina ocidental (NASCIMENTO, 1998 apud ROCHA et. al. 2014). 
Na década de 1980, tanto os movimentos organizados da sociedade civil, 
seja em associações comunitárias seja posteriormente em ONGs, como a demanda 
social da clientela para serviços públicos de saúde crescentemente pressionaram 
as instituições médicas no sentido de uma “abertura” para as medicinas ditas 
alternativas (LUZ, 1997 apud ROCHA et. al. 2014). 
A Declaração de Veneza, em 1986, é um marco importante, pois voltou os 
olhares para a existência de outras fontes e formas de saber. A declaração 
desencadeou intensos debates ao sugerir um diálogo entre a ciência e outras formas 
de conhecimento. A partir de então a ciência e a tradição passaram a ser vistas não 
como contraditórias, mas complementares (UNESCO, 1986 apud ROCHA et. al. 
2014). 
Nessa época, os Conselhos de Classe iniciaram reconhecimento da 
acupuntura através da criação de uma série de resoluções: 
[...] Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Resolução COFFITO-
60, 1985); Conselho Federal de Biomedicina (Resolução nº 02, 1986); Federação 
Nacional de Profissionais de Acupuntura, Moxabustão, Do-In e Quiroprática (registro 
no Ministério do Trabalho nº 24000.000345, 1991); Conselho Federal de Medicina 
(Resolução CFM 1455/95, 1995); Conselho Federal de Enfermagem (Parecer CTA 
nº 004, 1995); Conselho Federal de Farmácia (Resolução CFF nº 353/00, 2000); 
 
10 
 
Conselho Federal de Fonoaudiologia (Resolução CFFa nº 272, 2001) e o Conselho 
Federal de Psicologia (CFP 005, 2002). (Maciocia, 1996 apud ROCHA et. al. 2014). 
Ainda que a partir da década de 1980 o sistema público brasileiro de 
assistência à saúde tenha absorvido profissionaisacupunturistas em alguns 
hospitais e postos de saúde nos grandes centros, o processo de expansão da 
acupuntura nas demais instituições públicas vêm sendo dificultado pela polêmica 
entre médicos e não médicos (JACQUES, 2005 apud ROCHA et. al. 2014). 
Assim, a história desse processo de institucionalização vem se inscrevendo 
com muitos percalços no Brasil, especialmente na última década, tendo seu 
percurso encontrado obstáculos constantes interpostos pela medicina socialmente 
hegemônica. Nesta obstaculização, o saber médico científico funciona como 
elemento às vezes de censura, às vezes de comprovação (LUIZ, 1997 apud ROCHA 
et. al. 2014). 
3.2 A introdução da acupuntura no SUS 
No Brasil, a prática da acupuntura foi introduzida na tabela do Sistema de 
Informação Ambulatorial - SIA/SUS em 1999, através da Portaria nº 1230/GM2, e 
sua prática reforçada pela Portaria 971, publicada pelo Ministério da Saúde em 
2006, que aprovou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares 
no Sistema Único de Saúde (SUS). Este documento define que no SUS, sejam 
integrados abordagens e recursos que busquem estimular os mecanismos naturais 
de prevenção de agravos e de recuperação da saúde, sobretudo, os com ênfase na 
escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do 
ser humano com o meio ambiente e com a sociedade (BRSIL, 2006 apud ROCHA 
et. al. 2014). 
Jacques (2005), afirma que existe um grande número de profissionais 
acupunturistas no Brasil, mas há também uma forte disputa política e jurídica pelo 
direito de exercer a prática da acupuntura (JACQUES, 2005 apud ROCHA et. al. 
2014). 
 
11 
 
3.3 Aspectos legais da acupuntura no Brasil 
A preocupação com os aspectos legais da Acupuntura no país teve início 
em 1984 com a criação do Projeto de Lei 3838 da Câmara dos Deputados Federais. 
Desde então, os Conselhos Federais, preocupados com tal prática pelos seus 
pares, iniciaram regulamentações próprias: o COFFITO (fisioterapia e terapia 
ocupacional) em 1985, o CFBM (biomedicina) em 1986, o COFEN (enfermagem) e 
o CFM (medicina) em 1995, o CFF (farmácia) em 2000, o CFFa (fonoaudiologia) em 
2001 e o CFP (psicologia) em 2002 (CRF, 2019). 
Segundo o CRF (2019), segue um breve histórico para se compreender a 
evolução do processo da legalização da prática da acupuntura em nosso país: 
1986: 8ª Conferência Nacional de Saúde - Práticas Integrativas e 
Complementares no sistema de saúde que fixaram normas e diretrizes para o 
atendimento em homeopatia, acupuntura e fitoterapia. 
1995: Instituição do Grupo Assessor Técnico-Científico em Medicinas 
NãoConvencionais, por meio da Portaria nº 2543/GM, de 14 de dezembro de 1995, 
editada pela então Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da 
Saúde. 
1996: 10ª Conferência Nacional de Saúde - aprova a “incorporação ao SUS, 
em todo o País, de práticas de saúde como a fitoterapia, acupuntura e homeopatia, 
contemplando as terapias alternativas e práticas populares”. 
2000: 11ª Conferência Nacional de Saúde - recomenda “incorporar na 
atenção básica: Rede PSF e PACS práticas não convencionais de terapêutica como 
acupuntura e homeopatia”. 
2003:12ª Conferência Nacional de Saúde - delibera pela efetiva inclusão da 
MNPC no SUS (Atual Práticas Integrativas e Complementares). 
2004: 2ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovações em 
Saúde à MNPC (Atual Práticas Integrativas e Complementares) - incluída como 
nicho estratégico de pesquisa dentro da Agenda Nacional de Prioridades em 
Pesquisas. 
2006: Edição nº 84 de 04/05/2006: Ministério da Saúde - Gabinete do 
 
12 
 
Ministro: PORTARIA Nº 971, de 3 de maio de 2006: Aprova a Política Nacional de 
Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS (CRF, 2019). 
3.4 Conflito legal 
O crescimento e o reconhecimento da acupuntura como uma prática eficaz, 
bem como sua inserção no SUS, através da Portaria 971, como mencionado, 
trouxeram uma série de discussões. A oposição entre as classes envolvidas com a 
prática da acupuntura – médica e as demais – vem se caracterizando por um 
aumento de tensões que resultou em um intenso conflito legal (ROCHA et al., 2015). 
Há diversas ações jurídicas e, em 2012, retomou-se a discussão da 
regulamentação da acupuntura, quando o Tribunal Regional Federal da 1ª Região 
decidiu, no dia 27 de março de 2012, que a acupuntura poderia ser exercida 
somente por médicos. “Nesta ação, o Conselho Federal de Medicina questiona a 
legitimidade das resoluções de especialidade em acupuntura dos conselhos de 
Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Enfermagem, Psicologia, Fonoaudiologia e 
Farmácia” (ARAÚJO, 2012 apud ROCHA et al., 2015).). 
Esta decisão desencadeou discussões entre os demais Conselhos de 
Classes prejudicados. 
 
 
Um processo que ficou parado desde 2004, onde essas entidades proibiam 
os outros Conselhos de baixar resoluções aceitando a acupuntura, de 
repente, sem mais nem menos, no dia 27 de março de 2012, algum juiz 
suplente liberou uma sentença a favor do Conselho Federal de Medicina, 
portanto caíram todas as liminares. (Dr. Wu) (ROCHA et al., 2015). 
 
Recentemente, temos uma discussão contrária, na segunda instância do 
Tribunal Federal Regional – TRF1, dizendo que os conselhos não podem 
regulamentar a acupuntura, pois estariam ampliando seu campo de 
atuação. (Dr. Delvo) (ROCHA et al., 2015). 
Este conflito vem sendo discutido desde 2001, quando o CFM pediu à 
Justiça a anulação de resoluções que autorizavam enfermeiros, psicólogos, 
fonoaudiólogos, farmacêuticos e fisioterapeutas a praticar acupuntura. Como 
 
13 
 
mencionado, o CFM defende que a acupuntura é usada para tratar dores que 
precisam ser diagnosticadas, atividade exclusiva dos médicos. Entretanto, os 
Conselhos Federais de Farmácia e Fisioterapia recorreram sobre a decisão judicial 
que garante aos médicos a exclusividade de exercer a acupuntura (BRASIL, 2012 
apud ROCHA et al., 2015). 
Os conselhos estão recorrendo ao Tribunal Superior e ao Supremo 
Tribunal Federal. Se este ou aquele profissional não pode fazer, essa 
determinação fere o direito líquido e certo de manifestação de exercício, 
porque não existe regulamentação da prática da acupuntura no país (Dr. 
Delvo) (ROCHA et al., 2015). 
O maior receio das demais categorias diz respeito ao término da 
multidisciplinaridade nos hospitais/serviços de saúde, pois impediria que as decisões 
relativas ao paciente sejam tomadas em conjunto, visto que a palavra final seria do 
médico, o que culminaria e caracterizaria a subordinação das demais classes à 
categoria médica (BRASIL, 2012 apud ROCHA et al., 2015). 
O Ato Médico é considerado, pela maioria dos colaboradores, 
inconstitucional e um retrocesso em relação às diretrizes e os princípios 
estabelecidos na Constituição de 1988 para o Sistema Único de Saúde. Numa 
perspectiva geral, o Ato Médico, tal como formulado a priori, compromete o modelo 
de atenção à saúde que vem sendo preconizado pelo SUS, baseado no atendimento 
universal, igualitário e integral, por equipes multiprofissionais (BRASIL, 2012 apud 
ROCHA et al., 2015). 
Temas concernentes às necessidades de saúde há muito circulam no campo 
da Saúde Coletiva “em estudos sobre o acesso a serviços e cuidados, a qualidade 
da assistência e das práticas dos profissionais, e ainda sobre os direitos à saúde e 
deveres do Estado em suas políticas públicas”. Em razão de obstáculos culturais, 
políticos e ideológicos de grande complexidade, observa-se a dificuldade de atingir 
as práticas profissionais (CAMPOS, 2011 apud ROCHA et al., 2015). 
Pode-se afirmar que o Ato Médico se mostrou incompatível com os inúmeros 
programas que já vêm sendo desenvolvidos no Sistema Único de Saúde, impedindo 
a continuidade dos mesmos, que funcionam a partir do trabalho multiprofissional. 
Eis, portanto, a razão central apresentadapela então presidente Dilma Rousseff para 
 
14 
 
os vetos, que foram bem recebidos pelos profissionais de saúde, que os apontam 
como uma grande vitória. No entanto, o Conselho Federal de Medicina os chamou 
de “agressão aos médicos” (ROCHA et al., 2015). 
 
Ao caracterizar de maneira ampla e imprecisa o que seriam procedimentos 
invasivos, os dois dispositivos atribuem privativamente aos profissionais 
médicos um rol extenso de procedimentos, incluindo alguns que já estão 
consagrados no Sistema Único de Saúde a partir de uma perspectiva 
multiprofissional. Em particular, o projeto de lei restringe a execução de 
punções e drenagens e transforma a prática da acupuntura em privativa 
dos médicos, restringindo as possibilidades de atenção à saúde e 
contrariando a Política Nacional de Práticas Integrativas e 
Complementares do Sistema Único de Saúde. O Poder Executivo 
apresentará nova proposta para caracterizar com precisão tais 
procedimentos.( BRASIL, 2013 apud ROCHA et al., 2015). 
Nesta perspectiva, torna-se importante destacar que “a oferta de Práticas 
Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde é estimulada para 
ampliar a integralidade da atenção e o acesso às mesmas, mas é um desafio 
incorporá-las aos serviços” (Santos, 2012), principalmente quando o número de 
recursos humanos capacitados é insuficiente, assim como o financiamento voltado 
para a maioria das práticas (Souza, 2005 apu apud ROCHA et al., 2015). 
 
Com base na perspectiva integrativa, [...] a curto prazo, o modelo de 
atenção à saúde poderá ter custo mais elevado, em razão das mudanças 
na organização do sistema de saúde e nas percepções dos profissionais 
sobre o processo saúde-doença. Porém, a médio e longo prazos, a criação 
de serviços integrados levará à diminuição de gastos, devido ao cuidado 
integral, prevenção de doenças e promoção da saúde com que opera. 
(TESSER; LUZ, 2008 apud ROCHA et al., 2015). 
3.5 Sobre o direito de praticar a acupuntura no Brasil 
Recentemente uma decisão em segunda instância no Tribunal Regional 
Federal da 1ª Região (TRF1) voltou a colocar em debate a prática da acupuntura no 
Brasil. Nessa ação, o Conselho Federal de Medicina questiona a legitimidade das 
resoluções de especialidade em acupuntura dos conselhos de Fisioterapia e Terapia 
 
15 
 
Ocupacional, Enfermagem, Psicologia, Fonoaudiologia e Farmácia (ARAÚJO, 
2012). 
Segundo Araújo (2012), a acupuntura no Brasil é uma ocupação descrita na 
Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Na CBO, encontramos os códigos da 
ocupação de acupunturista para fisioterapeuta, psicólogo, médico e técnicos. Dessa 
maneira, não se trata de uma especialidade de qualquer profissão da Área da Saúde 
e sim de uma ocupação carente de regulamentação por lei federal. Como não existe 
lei federal regulamentando a acupuntura no Brasil, a Constituição da República é 
soberana: 
Art. 5º -Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: II - ninguém será obrigado a fazer ou 
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; XIII - é livre o 
exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as 
qualificações profissionais que a lei estabelecer (ARAUJO, 2012). 
Sem a votação de um projeto de lei que regulamente a acupuntura, nenhum 
Conselho Federal e nenhuma decisão judicial pode impedir quem quer que seja de 
utilizar a acupuntura em todo território nacional. Atualmente, existem dois projetos 
de lei tramitando em Brasília e, em ambos, deverá ser criada a lei que regulamenta, 
no Brasil, a acupuntura multiprofissional. Debate-se, ainda, a necessidade da 
criação de faculdades de acupuntura e a criação de uma nova profissão da Área da 
Saúde. Nesse sentido, a Sociedade Brasileira de Fisioterapeutas Acupunturistas 
(SOBRAFISA) se posiciona de maneira contrária, uma vez que há mais de 25 anos 
o fisioterapeuta utiliza a acupuntura sem nenhum dolo social comprovado. O mesmo 
pode-se dizer das outras profissões da Saúde que também regulamentaram a 
prática para seus profissionais (ARAÚJO, 2012). 
Esse é o ponto chave que não foi entendido pelo magistrado do TRF1. 
Quando o Conselho Federal de Fisioterapia (COFFITO), por meio de sua primeira 
presidente, a Dra. Sônia Gusman, em 1985, editou a resolução 60 e, posteriormente, 
as resoluções 97, 201 e 209, de autoria do Dr. Rui Gallart de Menezes e da Dra. 
Célia Rodrigues Cunha, não foram atos que objetivaram alargar o campo de atuação 
 
16 
 
de seus profissionais, mas sim atos que estabeleceram regras e limites na atuação 
desses profissionais em relação à acupuntura. O mesmo podese dizer das 
resoluções de outros conselhos da Saúde. Como um conselho profissional pode ser 
acusado de alargar o campo de atuação de seus profissionais, já que a acupuntura 
no Brasil é uma ocupação que tem seu livre exercício por falta de lei? (ARAÚJO, 
2012). 
As resoluções do COFFITO estabeleceram rígidos critérios para que o 
fisioterapeuta pudesse utilizar a acupuntura. Além de ser fisioterapeuta, deve 
cumprir uma carga horária de 1.200 horas em um período mínimo de integralização 
de dois anos e ainda prestar a prova de especialidade. Somente assim, pode utilizar 
o título de fisioterapeuta especialista em acupuntura. De certa maneira, os critérios 
estabelecidos pelo COFFITO são aqueles que as boas escolas de acupuntura no 
Brasil usam para certificar seus alunos. O profissional fisioterapeuta conta ainda 
com a chancela de qualidade da SOBRAFISA, presente em muitas escolas, 
garantindo a qualidade teórica, prática, clínica e científica da formação em 
acupuntura (ARAÚJO, 2012). 
Enquanto os projetos de lei não forem votados no Brasil, a Constituição 
Federal garante o livre exercício profissional da acupuntura; os conselhos 
profissionais e as associações de classe resguardam os usuários, que buscam a 
acupuntura como forma de tratamento por meio de suas resoluções e 
normatizações. Dessa maneira, quem se beneficia é o usuário, que tem o direito de 
escolher livremente o melhor profissional para realizar o seu tratamento (ARAÚJO, 
2012). 
3.6 Regulamentação da acupuntura 
O projeto de lei que regulamenta a acupuntura no Brasil foi aprovado pela 
Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados. De 
autoria do deputado Celso Russomanno, o texto demorou 16 anos para passar em 
três comissões na Câmara Federal e autoriza profissionais não médicos a 
exercerem a atividade (NEVES, 2019). 
 
17 
 
A proposta seguirá agora para análise do Senado, caso não apareça 
nenhum recurso de parlamentares para que o plenário da Câmara discuta o tema 
(NEVES, 2019). 
O deputado Hiran Gonçalves (PP-RR), que é crítico da proposta, destacou 
que a acupuntura é uma especialidade médica e que necessita de conhecimento 
adequado para a prática. “Ao tentarmos regulamentar a profissão de acupunturista 
para quem não fez medicina, estamos dando o direito a uma pessoa que não tem 
conhecimento de anatomia, de fisiologia, de neuroanatomia, de neurologia, enfim, 
de conhecimento, de pré-requisitos necessários para que se pratique uma atividade 
que envolve inclusive procedimentos invasivos”, argumentou o deputado (NEVES, 
2019). 
Como resposta, o deputado Gilson Marques (Novo-SC) argumentou que é 
o consumidor que deve avaliar o profissional. “Existem duas visões de como analisar 
esse projeto. A visão dos médicos e a visão dos pacientes e consumidores. Não 
tenho dúvida de que, para os pacientes, é melhor aprovarmos esse projeto de lei. O 
que precisamos é abrir o mercado. Quem define qual é o bom trabalho, qual é o 
bom profissional, qual é o bom preço, quem tem mais atendimento, é o consumidor, 
é o cliente”, afirmou Gilson Marques (NEVES, 2019).Na opinião do presidente da Federação dos Acupunturistas do Brasil 
(FENAB), Afonso Henrique Soares, a decisão é um avanço para a área (NEVES, 
2019). 
De acordo com a FENAB, cerca de 160 mil profissionais poderão se 
beneficiar com essa regulamentação. 
Caso seja aprovada a regulamentação no país, poderão exercer a 
acupuntura os seguintes profissionais: 
• Pessoas com diplomas de nível superior em acupuntura expedido por 
instituição reconhecida; 
• Pessoas com curso de graduação expedido por instituições exteriores 
com validade e registro; 
• Profissionais com diplomas na área de saúde, tendo título de 
especialista em acupuntura reconhecido por conselho federal; 
 
18 
 
• Pessoas formadas em cursos técnicos de acupuntura, com diploma 
expedido por instituição reconhecida; 
• Aqueles sem diploma que comprovarem exercer a profissão há, pelo 
menos, cinco anos sem interrupção. 
Segundo o texto aprovado pelos deputados, compete ao profissional de 
acupuntura: 
• Observar, reconhecer e avaliar os sinais, sintomas e síndromes 
energéticas; 
• Consultar, avaliar e tratar os pacientes através da acupuntura; 
• Organizar e dirigir os serviços de acupuntura nas empresas ou 
instituições; 
• Prestar serviços envolvendo auditoria, consultoria e emissão de 
pareceres sobre a acupuntura; 
• Participar no planejamento, execução e avaliação da programação de 
saúde; 
• Participar na elaboração, execução e avaliação dos planos 
assistenciais de saúde; 
Auxiliar na educação, visando à melhoria da saúde da população (NEVES, 
2019). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 4. A UTILIZAÇÃO DA ACUPUNTURA SEGUNDO ESTUDOS CIENTÍFICOS 
ATUAIS 
 
Fonte: http://www.fmusp.org.br 
Bresler e Kroening (1976) evidenciaram três fatores essenciais na terapia 
efetiva de acupuntura, que são: (1) as reações imunes e inflamatórias são 
mobilizadas quando qualquer área da pele é suficientemente estimulada; (2) a 
 
20 
 
estimulação periférica neural ocorre quando pontos de acupuntura são 
mecanicamente, eletricamente, quimicamente ou termicamente ativados; (3) o 
componente psicológico é um fator importante no tratamento com acupuntura 
(VECTORE, 2005). 
Há estudos científicos, como o realizado por O’Callaghan e Jordan (2003), 
que demonstram uma alta correlação entre os valores pós-modernos e a utilização 
da medicina complementar e alternativa, em especial, o uso da acupuntura, o que 
pode sugerir que, cada vez mais, trata-se de uma técnica extremamente atual na 
sociedade contemporânea, sendo oportunos todos os esforços para o estudo 
científico de tal abordagem, como, por exemplo, a “Arizona Integrative Outcomes 
Scale” (AIOS), desenvolvida por Bell et al. (2004) (VECTORE, 2005). 
A acupuntura é utilizada com frequência cada vez maior em crianças com 
problemas de hiperatividade e déficit de atenção, conforme estudo de Chan, 
Rappaport e Kemper (2003) apud Vectore, (2005), muito embora somente 11% dos 
pais discutam, com o especialista responsável pela criança, a utilização de tal 
técnica, o que, segundo os autores, deve suscitar novas pesquisas sobre a eficácia 
da terapêutica, agregando esses conhecimentos à prática dos profissionais. 
O trabalho realizado por Nayak et al. (2003) apud Vectore, (2005) revelou a 
prevalência do uso da medicina complementar e alternativa em indivíduos com 
esclerose múltipla. Güthlin, Lange e Walach (2004) apud Vectore, (2005), 
apresentaram a evidência do benefício subjetivo de técnicas como a da acupuntura 
e homeopatia em pacientes portadores de doenças crônicas e MacPherson et al. 
(2004) apud Vectore, (2005), mostraram a importância da empatia com o 
acupunturista na percepção dos resultados alcançados pelos pacientes. É 
significativo observar que a busca por abordagens alternativas, entre elas a 
acupuntura, se deve, principalmente, a um desencanto com a medicina 
convencional e ao desejo de receber um cuidado holístico, ou seja, um tratamento 
que reconheça a integração entre a mente, o corpo e o espírito. Os autores 
concluem que as terapias alternativas devem ser estudadas junto à comunidade 
científica por serem cada vez mais procuradas pelas pessoas (VECTORE, 2005). 
 
21 
 
Weier e Beal (2004) apud Vectore (2005), mostraram a relevância das 
abordagens alternativas em quadros de depressão pós-parto, enquanto outro 
estudo, realizado por Manber et al. (2003) apud Vectore (2005), apresentou a 
importância da percepção da própria doença depressiva por um grupo de pacientes 
tratados pela acupuntura como um fator de predição à aderência ao tratamento, às 
expectativas e às crenças nas terapias alternativas. O trabalho, embora não visasse 
especialmente mensurar os efeitos da acupuntura em relação à depressão, mostrou 
que a técnica tem sido uma aliada imprescindível em investigações que objetivam 
conhecer os aspectos psicológicos dos pacientes, relacionados aos diferentes 
modos de se lidar com as doenças e com a dor (VECTORE, 2005). 
Os pesquisadores Fassoulaki et al. (2003), investigaram o efeito da 
acupressão no ponto “extra 1” - por dez minutos - e concluíram que houve uma 
redução nos escores relacionados ao stress verbal quando comparados com a 
aplicação em um ponto qualquer, efetuada no grupo de controle. O efeito da 
inserção de agulhas no ponto “C7” na redução do stress psicológico foi observado 
por (CHAN et al., 2003 apud VECTORE, 2005). 
Os estudos têm comprovado, ainda, a capacidade da acupuntura em 
modificar neuroquimicamente o sistema límbico (relacionado às emoções), 
aumentando o nível de serotonina e sendo, desse modo, indicada para o tratamento 
de depressões e alguns quadros de esquizofrenia, evitando os efeitos colaterais dos 
antidepressivos tricíclicos (VECTORE, 2005). 
Spence et al. (2004) apud Vectore (2005), registraram o aumento da 
melatonina e a significativa redução da insônia e ansiedade em pacientes tratados 
com acupuntura durante cinco semanas. Chen, Zhang e Han (2004) apud Vectore 
(2005), evidenciaram que a técnica não invasiva de estimulação magnética 
transcranial (TMS), cujos princípios são derivados da acupuntura, apresenta efeitos 
na modulação cerebral, sendo, portanto, indicada na pesquisa de doenças 
neurológicas, distúrbios psiquiátricos e na investigação farmacológica. Um outro 
estudo utilizando a magnetopuntura, desenvolvido por Li et al. (2003) apud Vectore 
(2005), encontrou evidências fisiológicas de que tal técnica pode reduzir a fadiga 
mental em motoristas saudáveis. 
 
22 
 
Cohen, Rousseau e Carey (2004) apud Vectore (2005), em seus estudos, 
apontaram a eficiência da acupuntura na diminuição dos sintomas da menopausa, 
como as ondas de calor e os distúrbios do sono. A necessidade de maiores 
investigações utilizando a técnica da acupuntura ao referirem-se aos estudos 
envolvendo a utilização do procedimento no tratamento da infertilidade feminina, os 
quais mostram uma íntima relação entre a liberação de opióides endógenos, 
particularmente a beta-endorfina após sessões de acupuntura, o que pode 
ocasionar um impacto no ciclo menstrual através desses neurtopeptídeos (CHANG; 
CHUNG; ROSENWAKS (2002) apud VECTORE, 2005). 
Os estudos da psiconeuroimunologia relacionados ao câncer de mama 
deverão incluir a acupuntura como uma terapia alternativa, capaz de propiciar 
benefícios aos pacientes (TORI DE ANGELIS, 2002 apud VECTORE, 2005). 
Quanto ao tratamento da AIDS, não existe consenso sobre a eficácia das 
terapias alternativas, entretanto, cerca de um terço de todos os pacientes fazem uso 
de abordagens complementares, entre elas a acupuntura. Desse modo, sugere que 
os pesquisadores devam investigar a eficácia de tais terapias (MCGUIRE, 2001 
apud VECTORE, 2005). 
Petry (2000) apud Vectore (2005) enfatiza a importância de estudos que 
investiguem a relação entre técnicas alternativas e a redução do stress psicológico 
em cirurgias. 
Algunsestudos brasileiros, como o realizado pelo Ambulatório de 
Acupuntura Aplicada à Enxaqueca, do Departamento de Neurologia do Hospital das 
Clínicas da Unicamp, têm se dedicado a avaliar a eficácia da acupuntura no 
tratamento da enxaqueca, uma vez que essa doença atinge de 16 a 30 milhões de 
brasileiros (VECTORE, 2005). 
A enxaqueca é, geralmente, de origem hereditária, e tem como principal 
sintoma a dor de cabeça latejante, podendo ser acompanhada por sensibilidade 
exagerada ao barulho e a luz e sensação de náusea e intolerância a determinados 
cheiros. Uma das explicações para a enxaqueca é a diminuição da taxa de 
serotonina do cérebro. Como essa substância tem papel fundamental na percepção 
dos estímulos dolorosos, sua carência torna as pessoas mais sensíveis à dor. A 
 
23 
 
acupuntura pode complementar o tratamento com medicamentos porque age sobre 
a dor, liberando os opióides endógenos capazes de suprimi-la. Além disso, trata-se 
de uma técnica já aceita pela Associação Americana de Medicina e pela Associação 
Brasileira de Cefaléia como modalidade terapêutica (MACIEL CIT. P. KLINGER, 
2002 apud VECTORE, 2005). 
Vejamos na sequência, com um pouco mais de propriedade, a aplicação da 
acupuntura no tratamento de algumas enfermidades físicas e psíquicas. 
 
5 APLICAÇÕES DA ACUPUNTURA JUNTO AOS TRANSTORNOS 
PSICOLÓGICOS 
 
 
 Fonte: https://sabereducacional.com.br 
Desordens psicológicas, como a depressão e suas diferentes 
manifestações, têm sido objeto de estudo analítico de uma grande gama de 
profissionais, especialmente da área de saúde, no sentido de melhor compreendêla, 
diagnosticá-la e, assim, tratá-la com maior eficácia. A ciência psicológica tem 
contribuído com diferentes formas de se intervir terapeuticamente no fenômeno 
depressivo, e, dentre as abordagens mais promissoras, encontra-se a terapia 
cognitiva, desenvolvida por (AARON BECK,1991 apud VECTORE, 2005). 
 
24 
 
Entretanto, ao se considerar as publicações envolvendo as diferentes 
formas de tratamento das manifestações depressivas, constata-se um grande 
interesse de pesquisadores da área de Psicologia (Manber et al., 2003; Gallagher 
et al., 2002; Unutzer et al., 2000; Knaudt et al., 1999; Allen et al., 1998 apud Vectore, 
2005) em investigar a efetividade da terapêutica com acupuntura em relação a tais 
desordens e a outras, de natureza eminentemente emocional. Mostraram a eficácia 
da acupuntura no tratamento de episódios depressivos e ansiedade generalizada 
por meio do agulhamento em pontos como: CS 6, C 7, VC 6, B 62 (Eich et al., 1999 
apud VECTORE, 2005). 
Em um artigo escrito por White (2000) apud Vectore (2005), publicado na 
renomada revista americana “Professional Psychology: Research and Practice”, 
intitulado Psicologia e Medicina Complementar e Alternativa, a autora discorre sobre 
a importância de os psicólogos conhecerem e estudarem cientificamente as 
abordagens alternativas, como a acupuntura, a homeopatia, a medicina ayurvédica 
e a naturopatia, pois estatísticas mostram que, em 1997, 42% da população 
americana utilizou um tratamento não convencional, gastando cerca de $21.2 
bilhões de dólares com essas práticas, conforme aponta Eisenberg et al. (1998) 
apud Vectore, 2005) , e, dentre as patologias mais suscetíveis a tais terapêuticas, 
encontram-se a dor nas costas, a ansiedade, a depressão e as dores de cabeça; há 
que se considerar que principalmente a ansiedade e a depressão são patologias 
prioritariamente tratadas por psicólogos. Assim, a referida autora conclui que, 
possivelmente, os pacientes estão tanto fazendo terapia psicológica junto a uma 
prática não convencional quanto substituindo a terapia por práticas alternativas. 
Contudo, deve-se considerar as dificuldades em se realizar estudos clínicos 
controlados e aceitos pela comunidade científica utilizando-se a acupuntura, pois 
Lewith e Kenvon (1984) já demonstraram que qualquer agulhamento no corpo 
produz algum efeito psicológico (LEWITH; KENVON 1984 apud VECTORE, 2005). 
A combinação da acupuntura com o biofeedback é duas vezes mais efetiva 
que apenas o biofeedback na redução da ansiedade e tensão muscular (LANZA, 
1986 apud VECTORE, 2005). 
 
25 
 
Outros estudos, como o de Guizhen et al (1998) apud Vectore (2005), 
defendem que a associação da acupuntura na dessensibilização comportamental é 
claramente superior a qualquer outro procedimento usado no tratamento de 
pacientes com quadros de ansiedade. 
Estudos americanos têm demonstrado que pessoas com diagnóstico de 
doenças como síndrome do pânico e depressão são as que mais utilizam técnicas 
alternativas para o tratamento, muitas vezes sem o conhecimento do terapeuta, 
embora relatem melhoria em seus sintomas. Existe a dificuldade em avaliar 
experimentalmente, com métodos quantitativos, tais técnicas, principalmente 
porque, em muitas dessas técnicas, a força curativa advém da relação entre 
terapeuta e paciente. Além disso, estudos sérios a respeito da utilização de 
abordagens alternativas, na maioria das vezes, são publicados em veículos 
específicos, gozando, normalmente, de menor credibilidade que os jornais 
científicos para os profissionais da Medicina e da Psicologia (UNUTZER et al., 2000; 
KNAUDT et al., 1999 apud VECTORE, 2005). 
Bassman e Uellendahl (2003) apud Vectore (2005) realizaram um estudo 
objetivando conhecer como as tendências alternativas eram vistas pelos psicólogos, 
membros da American Psychological Association (APA). Para tanto, elaboraram um 
instrumento contendo questões acerca do conhecimento sobre as práticas 
alternativas bem como do seu uso pelos referidos profissionais, e encaminharam, 
via correio, as questões para 1000 membros da referida associação. É interessante 
observar que, a despeito do pequeno número de respondentes (202), os psicólogos 
mostraram uma tendência a reconhecer a importância das técnicas com relação a 
determinados problemas psicoterápicos, além do desejo de aprender a utilizar 
algumas dessas técnicas (acupuntura, ervas etc). Entretanto, há a preocupação 
legal e ética sobre o uso de tais procedimentos. Pois, segundo as autoras, é 
fundamental a realização de novos estudos que ampliem o conhecimento sobre a 
efetividade das técnicas junto à abordagem psicológica, de modo que venham a 
respaldar possíveis ações legais (VECTORE, 2005). 
O investimento em novos estudos, como os que permitiram ao Novo México 
a possibilidade de incorporar a psicofarmacologia na prática psicológica, são 
 
26 
 
extremamente valiosos. O atual crescimento e demanda por práticas alternativas, 
além da intensa focalização na espiritualidade, nas sociedades pós-modernas, têm 
levado os psicólogos a repensarem o seu próprio trabalho, o que, segundo Daw 
(2002, p.24 apud Vectore, p. 280, 2005), “é um exemplo do contínuo crescimento e 
evolução da Psicologia enquanto uma profissão da saúde“. 
Alguns estudos, publicados em inglês, de estudos controlados utilizando a 
acupuntura, demonstraram a eficácia da acupuntura em relação à depressão (LUO; 
JIA; ZHAN, 1985; YANG et al., 1994; HITT, ALLEN, SCHNYER; 1995 apud 
VECTORE, 2005) e ao abuso de drogas (MENG; LUO E HALBREICH, 2002; 
SHWATZ et al. 1999 apud VECTORE, 2005). 
a percepção da doença tem sido descrita na literatura psicológica como um 
importante prognóstico de saúde, embora tal fator tenha sido pouco contemplado no 
campo das desordens mentais. Assim, os autores empreenderam um estudo 
buscando validar o instrumento PDIQ – percepção da depressão pelo paciente, um 
questionário contendo quatro subescalas relativas a: eficácia do eu: reflete a crença 
do paciente no controle de sua doença; externalização: reflete a crença do paciente 
de que a sua doença tem causas externas; desesperança/cisão: reflete a crença de 
que a depressão é uma característica pessoal, havendo pouca esperança de cura; 
holística: reflete a crença emterapias alternativas (MANBER et al., 2003 apud 
VECTORE, 2005). 
A importância do instrumento se deve à possibilidade de predizer a 
aderência do paciente ao tratamento bem como as expectativas, as preferências e 
a aliança terapêutica, o que pode corroborar os achados do estudo que mostram a 
importância da relação terapeuta – paciente no sucesso de um tratamento por meio, 
por exemplo, da acupuntura (VECTORE, 2005). 
Com o objetivo de fornecer indicadores mais fidedignos em relação à 
avaliação de crenças na efetividade da acupuntura para o tratamento dos sintomas 
psiquiátricos, Dennehy, Webb e Suppes (2002) apud Vectore, (2005). 
Desenvolveram a escala “The Acupuncture Beliefs Scale”, considerando todas as 
propriedades psicométricas que envolvem a construção de instrumentos de medida. 
 
27 
 
Em um importante e singular estudo sobre os resultados e as expectativas 
gerados pela acupuntura, concluiu que a percepção dos resultados da acupuntura 
não está diretamente relacionada ao efeito placebo e às expectativas do paciente, 
mas, ao contrário, aos fatores referentes ao relacionamento entre terapeuta e 
paciente. Todavia, o autor ressalta que o achado deverá ser investigado com 
maiores detalhes, incluindo a construção de instrumentos de medida capazes de 
mensurarem a qualidade de tal relacionamento. Os estudos devem priorizar tanto a 
pesquisa qualitativa, considerando a eficiência do tratamento focalizado no 
paciente, quanto a pesquisa quantitativa com estudos experimentais controlados, 
de modo a se verificar a eficácia do tratamento (DOMINICUS, 2002 apud 
VECTORE, 2005). 
Wang e Kaing (2001) apud Vectore, (2005), relataram a eficiência da 
acupuntura auricular no tratamento das desordens crônicas de ansiedade. Através 
de procedimento experimental, foi comprovado que a acupuntura auricular no ponto 
de “relaxamento” diminuiu a ansiedade em voluntários saudáveis. O estudo foi 
conduzido pela formação de três grupos distintos, sendo que, no grupo 1, era 
utilizado o ponto Shenmen (porta do espírito), no grupo 2, o de “relaxamento”, e, no 
grupo 3, um ponto qualquer na orelha. 
No ano de 1998, o Instituto Norte-Americano de Saúde (NIH) organizou uma 
conferência com diversos especialistas sobre a eficiência da acupuntura. Através do 
levantamento bibliográfico do período compreendido entre janeiro de 1970 a outubro 
de 1997 (MEDLINE, Allied and Alternative Medicine, EMBASE E MANTIS), foram 
encontradas 2302 referências. Os estudos foram analisados considerando a 
metodologia adotada e os resultados obtidos. Desse modo, tem-se que a 
acupuntura mostrou ser uma técnica eficaz, entre outras, no tratamento 
pósoperatório e na redução dos transtornos da quimioterapia. Há evidências da 
adequação do uso da acupuntura, junto a outras modalidades terapêuticas, nos 
tratamentos de adição, dor de cabeça e fibromialgia, entre outros (VECTORE, 
2005). 
No entanto, é importante destacar que, entre as dificuldades apontadas em 
estudos dessa natureza, encontra-se o fato de que a colocação das agulhas em 
 
28 
 
qualquer lugar da pele elicia uma resposta biológica, dificultando estudos 
experimentais que envolvam a eficácia dos pontos (LEWITH; KENVON, op. cit. Apud 
VECTORE, 2005). 
Há evidências razoáveis mostrando que a acupuntura pode causar múltiplas 
respostas biológicas em virtude do papel desempenhado pelos opióides endógenos 
na analgesia pela acupuntura. A estimulação pela acupuntura pode ativar o 
hipotálamo e a glândula pituitária, resultando em um largo espectro de efeitos 
sistêmicos. Há também comprovações de alterações nas funções imunológicas 
deflagradas pela acupuntura. Muitos fatores determinam o resultado terapêutico, 
como a qualidade do relacionamento e a compatibilidade de crenças entre 
terapeuta-paciente, além do grau de confiança e das expectativas do cliente 
(VECTORE, 2005). 
Fundamentados nas preocupações e nos estudos que vêm sendo 
sistematicamente empreendidos e divulgados na literatura internacional, no que diz 
respeito principalmente à eficácia e à eficiência de terapêuticas complementares, 
entre elas, a prática da acupuntura por psicólogos, ressalta-se a necessidade de se 
ter escolas credenciadas, devidamente fiscalizadas e reconhecidas, para o ensino 
e a prática da referida técnica terapêutica (VECTORE, 2005). 
 
 
 
6 A APLICAÇÃO DA ACUPUNTURA SOBRE AS EMISSÕES OTOACÚSTICAS 
DE PACIENTES COM ZUMBIDOS 
 
 
O Zumbido geralmente é comparado ao som de um chiado, apito ou 
cachoeira. E é definido como a sensação do som percebido pelo indivíduo 
independente de estímulo externo (FUKUDA, 1997 apud AZEVEDO et. al., 2007). 
Pesquisas recentes evidenciam prevalências de até 32% de indivíduos com 
esse sintoma, sendo que em 0,5% o sintoma é tão severo que impede o indivíduo 
 
29 
 
de viver uma vida normal (SANCHES et al., 1997 FUKUDA, 1997 apud AZEVEDO 
et. al., 2007). 
 
 
 Fonte: https://www.istockphoto.com 
 
Um estudo epidemiológico realizado no Hospital das Clínicas encontrou 
uma proporção de 60% dos pacientes sendo do gênero feminino (Sanches et al., 
1997 apud Azevedo et. al., 2007). Outro estudo realizado também reporta uma 
maior prevalência do zumbido na população feminina, assim como na população de 
expostos a ruído e indivíduos de baixa renda (Coles, 1990). Ainda existem outras 
explicações possíveis para a maior prevalência de zumbido nas mulheres. As 
mulheres vivem mais que os homens, com isso, podem ter maior probabilidade de 
ter doenças crônicas como diabetes e hipertensão, com todas as complicações, 
além de presbiacusia e consequente zumbido (JASTREBOFF, 2007 AZEVEDO et. 
al., 2007). 
Em razão da heterogeneidade observada na população de indivíduos com 
zumbido devem-se considerar mais de uma teoria que explique a sua geração. 
 
30 
 
Existem vários modelos que tentam explicar o mecanismo envolvido na geração do 
zumbido. A maioria dos modelos sugere uma disfunção coclear. A teoria 
denominada hipótese de danos discordantes sugere que o zumbido seja gerado em 
uma porção da membrana basilar, na qual há preservação de células ciliadas 
internas e danos em células ciliadas externas. Essa teoria pode explicar a ocorrência 
de zumbido em indivíduos com audição normal, visto que danos difusos de até 30% 
de CCE podem ocorrer sem que haja perda auditiva detectável (Bohne e Clarck, 
1987). Outra teoria proposta é de que em áreas com danos de células ciliadas 
internas haveria redução da inibição eferente. Em consequência, à menor inibição 
haveria aumento de áreas ativas da membrana basilar, causando o zumbido 
zumbido (JASTREBOFF, 1990 apud AZEVEDO et. al., 2007). 
Uma proposta bioquímica para a geração do zumbido, sugere que as 
dinorfinas endógenas potencializam a atividade exitatória do glutamato nos 
receptores NMDA (n-metil-d aspartate) da cóclea e potencializam altos níveis do 
sistema auditivo. Esta ação produziria uma descarga sincrônica nos neurônios 
auditivos no silêncio, que seria percebido como som real (SAHLEY; NODAR, 2001 
apud AZEVEDO et. al., 2007). 
Um modelo neurofisiológico descrito por Jastreboff e Hanzel (1993), relata 
que as principais dificuldades encontradas na avaliação e tratamento do zumbido 
são: 
1- Dificuldade de exames objetivos para avaliação do zumbido; 
2- O zumbido ser um sintoma com enormes possibilidades de disfunções 
periféricas e centrais associadas; 
3- Falta de provas dos mecanismos envolvidos na geração do zumbido; 
4- Forte impacto causado pelo zumbido no sistema nervoso central do 
paciente, e por fim, a forte ligação da percepção do zumbido com o sistema 
emocional (JASTREBOFF; HANZEL, 1993 apud AZEVEDO et. al., 2007). 
Por conta de sua subjetividade, o sintoma não pode ser medido por exames 
laboratoriais, nem compreendido totalmente pelos pesquisadores. Um sintomacom 
muitas causas prováveis, muitos mecanismos envolvidos e, portanto, muita 
confusão no tratamento. Confusão que causa mais estresse para o paciente, que 
 
31 
 
acaba acreditando que nada mais há para ser feito. Uma conduta comum dos 
profissionais ao lidar com esses pacientes é mandá-los para casa dizendo que nada 
poderá ser feito e que o paciente deverá aprender a conviver com esse sintoma 
(JASTREBOFF; HANZEL, 1993 apud AZEVEDO et. al., 2007). 
Todavia, muitos estudos continuam sendo realizados nessa área. Um 
modelo neurofisiológico ressalta a importância do sistema límbico no reforço 
emocional do sintoma, sendo este o responsável pela permanência da percepção 
do zumbido. Acreditamos que a manutenção e a interferência desse sintoma na 
qualidade de vida da pessoa estão muito relacionados com padrões de equilíbrio 
global do paciente, características físicas e, principalmente, emocionais. Portanto, o 
profissional de saúde, ao assumir um desses pacientes, deverá ter um cuidado 
especial, muita paciência e persistência. Além disso, dar ao paciente a segurança 
de que existem várias alternativas para aliviar seu sintoma e de que sua participação 
ativa é essencial no processo de cura AZEVEDO et. al., 2007). 
Em razão da diversidade na sua origem, o tratamento deste sintoma 
continua a ser um desafio, mas diferentes métodos vêm sendo empregados com 
sucesso, dentre eles está a Acupuntura (AZEVEDO et. al., 2007). 
Os estímulos realizados pela acupuntura em pontos específicos têm por 
objetivo obter do organismo uma resposta que visa à resolução de um quadro clínico 
específico, à recuperação da saúde ou a prevenção de doenças. Esse resultado 
ocorre por meio do incremento de processos regenerativos, normalização de 
funções orgânicas de regulação e controle, da modulação da imunidade, da 
promoção de analgesia e da harmonização de funções endócrinas, autônomas e 
mentais (CHAMI, 2004 apud AZEVEDO et. al., 2007). 
Na MTC, a acupuntura é recomendada para o alívio do zumbido, apesar de 
faltarem provas científicas nesta área. Estudos mostram que o estímulo realizado 
com as agulhas promove uma introdução de carga elétrica que desencadeia 
potenciais de ação a fim de reequilibrar o sistema (DUMITRESCU, 1996, 
POMERANZ; CHIU, 2004 apud AZEVEDO et. al., 2007). 
Na maioria dos estudos sobre a eficácia da acupuntura, um dos principais 
problemas é a falta de dados objetivos que comprovem as melhoras relatadas pelos 
 
32 
 
pacientes. Os estudos costumam utilizar a referência da sensação subjetiva do 
paciente com relação ao zumbido para analisar o efeito do tratamento. Um estudo 
de revisão sistemática sobre a eficácia da acupuntura no tratamento do zumbido 
concluiu que a crença de que a acupuntura é efetiva no tratamento do zumbido não 
é baseada em evidências de estudos controlados e randomizados (PARK, 2000 
apud AZEVEDO et. al., 2007). 
Axelsson et al. (1994) estudaram a eficácia da acupuntura em pacientes 
com zumbido utilizando uma escala de analogia visual. Em seu estudo não houve 
diferença significativa. Park et al. (2000), em seu estudo, comenta sobre a falta de 
dados baseados em evidências feitas por estudos randomizados nesta área, e que 
portanto, mais estudos devem ser feitos nessa área de forma mais adequada do 
ponto de vista metodológico (PARK, 2000 apud AZEVEDO et. al., 2007). 
 
 
 
7 A PLICAÇÃO DA ACUPUNTURA NA ANALGESIA DO PARTO 
 
Fonte: https://www.clinicaacuvida.com 
 
33 
 
Atualmente há uma grande mobilização do setor saúde no sentido de 
garantir a diminuição das taxas de mortalidade materna, dos altos índices de 
cesariana e incentivo ao parto natural, e garantir a humanização da assistência ao 
parto (MARTINI, 2009). 
Todavia, de modo geral, na tentativa do resgate da qualidade e da 
humanização do parto, ainda permanece a visão dos profissionais de saúde, em 
especial a visão do médico, sem uma leitura da complexidade cultural que permeia 
o nascimento e que precisa passar pelo envolvimento real das mulheres. Não é mais 
possível tratar as questões de atenção ao parto sob a ótica eminentemente 
técnicoprofissional, biologicista, sem levar em consideração as dimensões de 
gênero, cultura, saúde e sociedade que se manifestam nas relações mulheres-
homens-profissionais (MARTINI, 2009). 
Nesse momento em que o discurso da humanização do parto tornou-se o 
ponto alto para a definição de novas tecnologias do cuidado à gestante durante o 
parto e nascimento, busca-se conhecer como as parturientes percebem o uso, ou o 
quanto elas conhecem sobre o uso da acupuntura na analgesia das dores do parto 
(MARTINI, 2009). 
Possivelmente, um dos maiores medos associados ao parto seja o medo da 
dor. É verdade que os avanços da medicina permitiram o aparecimento de drogas 
cada vez mais sofisticadas utilizadas para tirar a dor. No entanto, a anestesia não 
só tira a dor, como, também, muitas das sensações físicas ligadas ao trabalho de 
parto (MARTINI, 2009). 
Diante disso, foram desenvolvidas inúmeras práticas terapêuticas, 
classificadas como alternativas ou complementares, que têm sido empregadas por 
diversos profissionais com resultados positivos no manejo das dores do parto. Entre 
elas, a homeopatia pode ser utilizada, no trabalho de parto, para auxiliar no 
relaxamento, na dilatação, na indução e aceleração; a acupuntura pode ser usada 
para alívio da tensão, indução e aceleração do parto; a cromoterapia, para relaxar 
durante as contrações ao passo que suaviza as sensações fortes da expulsão, 
quando aplicada diretamente sobre a vulva; a terapia floral abaixa o nível de 
 
34 
 
ansiedade, ajuda a lidar com o medo, tranquiliza, acalma e permite uma percepção 
mais aguçada, reforçando a resistência física e emocional (MARTINI, 2009). 
Além da necessidade de controle da dor do parto pelas razões já apontadas, 
devemos considerar a necessidade de seu controle do ponto de vista médico, pois, 
como tem sido demonstrado, a dor obstétrica não controlada produz uma série de 
alterações na fisiologia materna, as quais, somadas àquelas que a própria gestação 
causa, podem ocasionar efeitos colaterais indesejáveis no feto e na mãe, entre os 
quais destacamos a hiperventilação, o aumento do consumo de oxigênio, o aumento 
das concentrações plasmáticas de betaendorfinas e catecolaminas, que diminuem 
o fluxo sanguíneo placentário, bem como o aumento de renina que estimula a 
produção de angiotensina I e II e aumento nas concentrações de ácidos graxos 
livres, entre outras alterações (SANCHES, 2005 apud MARTINI, 2009). 
Pode-se afirmar que, na evolução e duração do trabalho de parto, tem se 
observado que a dor obstétrica pode aumentar a incidência de distocias e prolongar 
sua duração. Assim, há motivos bastante razoáveis, tanto do ponto de vista 
humanitário como clínico, para enfatizar que é necessário e fundamental o controle 
da dor do parto. Numerosos estudos demonstraram os benefícios obtidos no 
binômio mãe-filho com o simples fato de controlar a dor obstétrica, destacando a 
analgesia epidural entre os procedimentos analgésicos que produzem respostas 
mais favoráveis (SANCHES, 2005 apud MARTINI, 2009). 
A decisão pela técnica mais adequada de analgesia deve considerar as 
seguintes condições: não produzir depressão em nenhum dos órgãos e sistemas da 
mãe e do concepto; não pode modificar a dinâmica do trabalho de parto; e as drogas 
anestésicas utilizadas não podem ultrapassar a barreira placentária. Entretanto, 
ainda não dispomos, na medicina ocidental, de uma droga ou de uma técnica de 
analgesia ideal que reúna as características mencionadas para o adequado controle 
da dor obstétrica, daí decorre nosso interesse em intensificar as abordagens de 
analgesia por meio da acupuntura, que, em nossa análise, é uma terapêutica capaz 
de atender às recomendações mencionadas (SANCHES, 2005apud MARTINI, 
2009). 
 
35 
 
Para os chineses, há uma contínua circulação de energia em nosso corpo, 
e a desorganização dessa circulação causa os adoecimentos. A acupuntura é 
efetiva na medida em que redistribui e normaliza a corrente energética em nosso 
organismo, recuperando a circulação normal (Carneiro, 2006 apud Sanches, 2005 
apud MARTINI, 2009). Assim, a acupuntura é um complexo sistema medicinal que 
envolve todo o campo terapêutico (MARTINI, 2009). 
Os objetivos terapêuticos da acupuntura são definidos como a obtenção da 
analgesia, recuperação motora, normalização das funções orgânicas, modulação da 
imunidade, das funções endócrinas, autonômicas e mentais e ativação de 
processos regenerativos (SANCHES, 2005 apud MARTINI, 2009). 
Os resultados da acupuntura no campo da analgesia tem sido objeto de 
estudos, especialmente em experimentos na área da neurofisiologia da acupuntura, 
realizados no Instituto de Pesquisas em Neurociências da Universidade de Pequim, 
Beijing, China. As investigações por ele realizadas indicam que é possível afirmar 
que a eletroacupuntura ativa o sistema supressor da dor. A estimulação de 
terminações nervosas das vias dolorosas segmentares e suprassegmentares 
produzem analgesia por mecanismos neurais e neuroquímicos (Han, 2003 apud 
MARTINI, 2009). 
Algumas pesquisas realizadas em meados da década de 1970, foi 
explorado o papel dos neurotransmissores centrais clássicos na mediação da 
analgesia por acupuntura, incluindo as catecolaminas e a serotonina. As 
experiências com modelos animais permitem evidenciar a liberação diferenciada de 
peptídeos opiáceos do sistema nervoso central (SNC) pela eletroacupuntura de 
acordo com o tipo de estímulo elétrico utilizado. Quando o eletroestimulador libera 
uma frequência de 2Hz ocorre a liberação de encefalinas e betaendorfinas, mas 
quando o estímulo é de 100Hz, seletivamente aumenta a liberação de dimorfina na 
medula espinhal. Assim, a combinação de ambas as frequências permite uma 
interação sinérgica entre os três peptídeos opiáceos endógenos e um efeito 
analgésico mais potente. A manipulação manual da agulha inserida em um ponto 
de acupuntura também produz um aumento marcante no limiar de tolerância a dor 
(HAN, 2003 apud MARTINI, 2009). 
 
36 
 
Estudos confirmam também que o uso combinado da eletroacupuntura com 
anestesia geral ou epidural, em procedimentos cirúrgicos, reduz o consumo 
anestésico em até 50%, sugerindo que a acupuntura produz um efeito analgésico 
substancial, porém não forte o suficiente para abolir completamente a dor aguda 
provocada pela intervenção cirúrgica (HAN, 2003 apud MARTINI, 2009). 
No ocidente, especialmente Europa e Américas, a acupuntura tem sido 
utilizada para a indução do parto, em tentativas de interferir na apresentação do feto, 
para analgesia de cesáreas e para o controle da dor obstétrica, tanto na fase de 
dilatação como do parto propriamente. As técnicas utilizadas variam quanto ao tipo 
de estímulo, à escolha dos pontos, ao tipo de manipulação, se manual ou 
eletroacupuntura, e quanto aos resultados relatados. A maioria dos estudos relata 
experiências que utilizaram a eletroacupuntura (Knobel, 1997 apud MARTINI, 2009). 
Apesar das dificuldades relacionadas com as metodologias de estudo das 
experiências com o uso de acupuntura na analgesia das dores do parto, o interesse 
pela acupuntura nesta área se justifica pelas inúmeras vantagens que ela 
representa para o binômio mãe-filho: não altera os níveis de consciência materna, 
proporcionando o seu envolvimento durante todo o processo de parto, melhorando, 
com isso, a interação mãe-filho, principalmente logo após o parto; libera endorfinas, 
o que melhora os processos fisiológicos ou metabólicos de ambos; por ser 
minimamente invasiva, não impede o uso de outras técnicas de analgesia; é uma 
opção viável economicamente, enfim, ao que tudo indica e pelos resultados dos 
estudos conhecidos, é uma técnica que, até o momento, parece segura já que não 
há registro de efeitos colaterais em sua aplicação (knobel, 1997 apud MARTINI, 
2009). 
 
 
 
37 
 
8 O TRATAMENTO DA ANSIEDADE ATRAVÉS DA ACUPUNTURA 
 
Fonte: https://www.portalsuperacao.org.br 
A ansiedade está presente na vida de todas as pessoas, ao longo de toda a 
existência delas, por isso é entendida como um acompanhamento normal das 
diversas mudanças que ocorrem na vida. Entretanto, tal fenômeno pode apresentar 
um caráter patológico quando surge como uma resposta inadequada, devido a sua 
intensidade ou duração, perante um determinado estímulo (SILVA, 2010). 
Quando a ansiedade se apresenta em uma intensidade ou duração elevada, 
desproporcional ao estímulo frente ao qual o indivíduo se encontra, é possível dizer 
que se está diante de um quadro patológico, denominado de transtorno de 
ansiedade (SILVA, 2010). 
 
38 
 
Em relação aos transtornos de ansiedade, o DSM-IV (2002) classifica 14 
tipos diferentes de transtornos que podem ser enquadrados nessa categoria. Dentre 
eles destacamos o Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). Este se 
caracteriza por: 
...uma ansiedade ou preocupação excessiva (expectativa apreensiva), 
ocorrendo na maioria dos dias por um período de pelo menos 6 meses... 
O indivíduo considera difícil controlar a preocupação. A ansiedade e a 
preocupação são acompanhadas de pelo menos três sintomas adicionais, 
de uma lista que inclui inquietação, fatigabilidade, dificuldade em 
concentrar-se, irritabilidade, tensão muscular e perturbação do sono... 
embora os indivíduos com transtorno de ansiedade generalizada nem 
sempre sejam capazes de identificar suas preocupações como 
“excessivas”, eles relatam sofrimento subjetivo devido a constante 
preocupação, têm dificuldade em controlar a preocupação, ou 
experimentam prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em 
outras áreas importantes... A intensidade, duração ou freqüência da 
ansiedade ou preocupação são claramente desproporcionais à real 
probabilidade ou impacto do evento temido. (DSM-IV, 2002, p. 457) 
 
Destaca que dentre as principais características apresentadas nos 
transtornos de ansiedade, os indivíduos apresentam sintomas específicos nos 
campos somático, motor, no do humor e no da cognição. Em relação aos sintomas 
de humor, o sofrimento advindo da ansiedade tem a característica de apresentar um 
sentimento constante de que o indivíduo será condenado por algo, ou que algo 
terrível irá acontecer; desse modo, o indivíduo pode apresentar sensações de 
tensão, medo, irritabilidade e depressão. Os sintomas cognitivos, por sua vez, dizem 
respeito à apreensão e/ou preocupação com uma possível condenação ou desastre 
que pode vir a ocorrer e que o indivíduo antecipa (HOMES, 1997 apud SILVA, 2010). 
O autor, afirma ainda que os sintomas somáticos, podem ser divididos em 
dois tipos; os primeiros podem ser chamados de imediatos, que podem ser boca 
seca, suor, respiração curta, sensações de tensão muscular, latejo na cabeça, pulso 
rápido e aumento de pressão sanguínea. Já os segundos são resultantes de um 
estado crônico de ansiedade, que pode debilitar o sistema fisiológico ocasionando 
fadiga geral, sofrimento intestinal, fraqueza muscular, hipertensão e constantes 
dores de cabeça. Por fim, os sintomas motores dizem respeito à impaciência e à 
 
39 
 
inquietação que indivíduos em estados ansiosos podem apresentar, sendo comum 
que pessoas nesse estado emitam rápidos e repetidos movimentos com dedos, pés 
ou pernas ou respostas de susto muito exageradas a estímulos como ruídos ou 
presença súbita de pessoas (SILVA, 2010). 
8.1 Compreendendo a ansiedade pelo referencial teórico da MTC 
A palavra ansiedade é uma palavra ocidental que se refere a um estado 
somato-psíquico descrito pela Psicologia e pela Medicina ocidentais. Nesses 
termos, a terminologia ansiedade não é uma terminologiaoriental, portanto, na 
literatura clássica da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), é impossível encontrar 
descrições de tratamentos para ansiedade. Aliado a isso, na MTC, não existe 
separação entre mente, corpo e espírito, portanto, não existem classificações de 
doenças ou distúrbios exclusivamente psicológicos ou psiquiátricos, como ocorre no 
ocidente, como, por exemplo, no caso de transtornos de ansiedade (SILVA, 2010). 
Na MTC, existe uma classificação de doenças nas quais se enquadram as 
patologias que apresentam maior sintomatologia psíquico/ emocional, as chamadas 
dian-kuang, que podem ser traduzidas por perturbações mentais. Nas dian-kuang, 
porém, estão enquadradas as patologias mais severas, o que, no ocidente, pode 
ser traduzido por psicoses. Assim sendo, distúrbios menos intensos, como, por 
exemplo, estados ou transtornos de ansiedade, não poderiam ser classificados 
como patologias diankuang (LING-SHU, 1995, apud SILVA, 2010). 
Entendem que fenômenos como a ansiedade são sintomas (assim como no 
ocidente) de distúrbios de outra ordem. Aliado a isso, como na MTC não existe 
separação entre corpo, mente e espírito, uma desarmonia em um dos cinco 
principais órgãos do corpo (na perspectiva chinesa: coração, baçopâncreas, 
pulmão, rins e fígado) ocasionará automaticamente um desequilíbrio nos aspectos 
mentais e espirituais desses órgãos, chamados respectivamente de SHEN, HUN, 
PO, YI E ZHI, CAMPIGLIA; 2004, AUTEROCHE, NAVAILH; 1992 apud SILVA, 
2010). 
 
40 
 
Dessa feita, como a ansiedade é sintoma de uma desarmonia, ela pode ser 
sintoma de desequilíbrio de qualquer um desses aspectos, sendo, porém, mais 
marcadamente considerada um distúrbio do shen, que significa espírito (Campiglia, 
2004), ressaltando-se que, para os chineses, o espírito reside no coração. Esse 
espírito não fica preso no coração, mas circula por todo o corpo, garantindo a 
vitalidade e a consciência, regulando o humor e a sensação de bem-estar no mundo, 
como destaca Campiglia (2004) apud Silva (2010): 
O Shen aloja-se no coração. O coração é o órgão que funciona como 
receptáculo das funções ativas da consciência, ele abriga ou expressa 
sentimentos, emoções, desejos mais profundos, imaginação, intelecto e 
memória dos eventos passados. Como um copo ou cálice, o coração 
contém o sangue e o Shen, que são seu conteúdo, seu vinho sagrado... 
Ou seja, ao se alojar no coração, o Shen não está em um lugar fixo, mas 
circula como o sangue nos vasos. Ele está em todo o corpo, pois o sangue 
dos vasos irriga tudo, da pele aos olhos. O Shen é, portanto, uma atividade 
dinâmica que está na essência do coração. Adquire-se e desenvolve-se a 
consciência interagindo com o mundo e com os próprios órgãos e o Shen 
está presente em cada um deles. (p 92), (p 204) 
Portanto, para os chineses, um distúrbio no coração corresponde 
automaticamente a uma desarmonia no espírito. A ansiedade, então, pode ser 
entendida como o resultado de uma desarmonia do espírito, seja por uma situação 
de excesso, insuficiência ou estagnação de qi (energia) ou xue (sangue) no coração 
ou em outros órgãos que acabam afetando o coração. Essa situação de excesso, 
insuficiência ou estagnação pode ser causada pelos seis fatores patogênicos 
externos, vento, frio, calor, umidade, secura e fogo; pelos sete fatores internos, 
alegria, raiva, tristeza, pesar, preocupação, medo e pavor, ou pelos fatores nem 
internos nem externos, como a alimentação, os traumas, o excesso de trabalho, de 
exercícios físicos ou de relações sexuais (Campiglia, 2004; Chonghuo, 1993 apud 
apud SILVA, 2010). 
 Embora não existam na literatura clássica da MTC referências específicas 
ao fenômeno ansiedade, a não ser como um sintoma de distúrbios nos cinco órgãos, 
mais preponderantemente no coração, já existem autores modernos, como Ross, 
que traçam um paralelo mais direto entre as terminologias ocidental e oriental. Para 
Ross (2003, p. 461), a ansiedade “pode ser definida como um estado subjetivo 
 
41 
 
desagradável e inquieto de tensão e apreensão, no qual é difícil relaxar ou encontrar 
calma e paz” (SILVA, 2010). 
 
Baseando-se no princípio chinês da indissociabilidade entre corpo, mente e 
espírito e da relação entre os cinco órgãos, Ross (2003) apud Silva (2010) também 
enfatiza que a ansiedade é causada por uma perturbação do sistema do coração. 
O autor acrescenta que o surgimento de distúrbios de ansiedade está relacionado 
constantemente a um desequilíbrio entre os sistemas do coração e do rim: 
“A ansiedade do coração está baseada no medo do rim, com sentimentos 
característicos de apreensão, do medo de que algo terrível aconteça. A 
ansiedade pode então vir combinada de sobressaltos e receio, com sinais 
físicos como tremor, frequência urinária ou intestinos soltos” (ROSS, 2003, 
p. 464 apud, SILVA, 2010, p.204). 
É possível perceber que para o autor, a ansiedade é o resultado de um 
distúrbio do shen, é um sintoma que indica que o espírito não está conseguindo se 
mover de modo adequado pelo corpo (SILVA, 2010) 
Segundo Ross (2003, p. 465) Silva (2010, p. 204), na perspectiva chinesa, 
existem pelo menos três tipos diferentes de ansiedade, de acordo com a situação 
que a originou: 
 
Ansiedade por excesso: 
“...O fogo fleuma do coração é uma forma de excesso que pode levar à 
ansiedade e à confusão de pensamento, linguagem e comportamento. 
Consiste, essencialmente, em fleuma, decorrente da deficiência do baço, 
em combinação com o fogo do coração. Pode surgir de um estresse 
emocional ou do excesso de fumo, do álcool e de alimentos gordurosos, 
com falta de exercícios físicos”. 
Ansiedade por estagnação: 
“A estagnação pode dar origem ao distúrbio do movimento. A estagnação 
do qi do coração e do qi do fígado, por exemplo, decorrentes da 
estagnação emocional, podem levar ao distúrbio do espírito do coração e 
à hiperatividade do yang do fígado, levando à ansiedade. A estagnação do 
qi pode resultar em acúmulo de fleuma, que pode perturbar a livre 
circulação do espírito, causando ansiedade”. 
 
42 
 
 
 
 
 
Ansiedade por deficiência: 
“a ansiedade aumenta quando a energia está reduzida, quando há 
deficiência por falta de sono e descanso, excesso de trabalho, estresse, 
doença e nutrição deficiente, além de outros fatores. A deficiência do qi do 
coração e do rim, do yin do coração e do rim, e do sangue do coração e do 
baço podem dar origem à ansiedade, já que o qi, o yin e o sangue são 
necessários para manter o espírito estável”. 
8.2 Método do tratamento e explicação dos princípios e pontos utilizados 
R3 – (terceiro ponto do canal de energia do rim) Regula o equilíbrio do yin e 
do yang, fortalece e estabiliza a mente e as emoções, equilibra a labilidade 
emocional, a deficiência do qi do rim; tonifica o rim e beneficia a essência e tonifica 
o sangue. 
R6 – (sexto ponto do canal de energia do rim) Tonifica o yin do rim, a 
deficiência do rim, nutre o yin, principalmente quando existe excesso de fogo no 
coração, promove o sono e os fluidos corpóreos. 
C7 – (sétimo ponto do canal de energia do coração) Tonifica o coração, 
equilibra o yin e o yang, estabiliza o coração, clareia a mente, acalma a mente e as 
emoções, regula o espírito, tonifica o sangue, tonifica o yin do coração, elimina o 
fogo. 
CS6 – (sexto ponto do canal de energia do coração/sexualidade) Move a 
estagnação e acalma irregularidades do qi, remove a estagnação de sangue e 
fleuma, acalma o espírito, remove a estagnação do qi do pulmão, tonifica o coração; 
é indicado para dor, choque e traumatismo. 
CS7 – (sétimo ponto do canal de energia do coração/sexualidade) Acalma 
o espírito, move a estagnação e regula o qi do coração e do estômago. 
E25 – (vigésimo quinto ponto do canal de energia do estômago) Regula o 
estresse emocional, regulariza o qi. 
 
43 
 
E36 – (trigésimo sexto ponto do canal de energia do

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