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1 Política Social Ambiental Unidade I Prof. Dr. Vanderlei da Silva 2 APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR-AUTOR Prof. Dr. Vanderlei da Silva. Doutor em Educação (UNISO/2013). Mestre em Educação (UNISO/2009). Especialista em EAD (UNIP/2017). Advogado (UNISO/2004). Especialista em Direito do Terceiro Setor (FGV/SP/2005). Professor do Curso de Graduação em Serviço Social Presencial/EAD (UNIP) e Pós- Graduação em Gestão de Políticas Públicas EAD (UNIP). Professor convidado do curso de especialização em Gestão Ambiental e Sustentabilidade na MBA UFSCar. Gerente Administrativo e Financeiro do Serviço de Obras Sociais (SOS Sorocaba). Diretor de Projetos do Lar Escola Monteiro Lobato. Conselheiro Fiscal da Fundação Ubaldino do Amaral (FUA); Conselheiro Fiscal da Vila dos Velhinhos de Sorocaba; Conselheiro Fiscal da Associação Protetora dos Insanos. Sócio do Escritório de Advogados “Ranuzzi& Silva, Vieira”. Autor dos livros: “A Participação da Loja Maçônica Perseverança III na Educação Escolar em Sorocaba” e “ O Terceiro Setor e a Escola”. Participante convidado do "Social Innovationand Global EthicsForum" - SIGEF 2014 e 2015 realizado em Genebra/Suíça e SIGEF 2016 realizado em Marrakech/Marrocos. Participante do "PremiosLatinoamerica Verde 2016", realizado em Guyaquil/Equador. Embaixador no Brasil do “Prêmios Latinoamérica verde 2020” e porta-voz autorizado da Fundação Latinoamérica Verde no Brasil. 3 SUMÁRIO INTRODUÇÃO...............................................................................................04 1. OS PRINCIPAIS CONCEITOS E ELEMENTOS BÁSICOS DO DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO................................................................................08 1.1 Introdução à temática ambiental.................................................................09 1.2 A relação homem e o meio ambiente: as origens históricas da crise ambiental..11 1.3 A educação ambiental e a ética ambiental...................................................13 1.4 A evolução histórica do Direito ambiental no Brasil: fase colonial, fase imperial, fase republicana......................................................................................19 1.5 A proteção ambiental após a Proclamação da República..............................23 1.6 O Direito ambiental: noções gerais e conceitos............................................25 2. AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO DIREITO AMBIENTAL.....29 2.1 Os princípios do Direito ambiental...............................................................30 2.2 A competência legal em matéria ambiental.................................................32 2.3 A tutela Constitucional do Meio Ambiente no Brasil - Artigo 225 da CF/88....34 2.4 O manejo ecológico.....................................................................................37 2.5 As Unidades de Conservação.......................................................................38 2.6 O estudo de impacto ambiental como instrumento de proteção do meio ambiente..................................................................................................... ..........39 2.7 O controle de produtos tóxicos....................................................................40 2.8 A educação ambiental.................................................................................41 2.9 A proteção do meio ambiente.....................................................................42 2.10 A regulação da mineração...........................................................................43 2.11 Os ecossistemas brasileiros.........................................................................44 2.12 As terras devolutas e a questão ambiental...................................................45 2.13 A regulação da energia nuclear....................................................................45 2.14 A questão ambiental, o desenvolvimento econômico e a ordem social.........46 RESUMO................................................................................................................49 REFERÊNCIAS........................................................................................................51 4 INTRODUÇÃO Prezado Aluno, neste Livro Texto faremos um estudo da legislação social e ambiental vigente, tendo como pilar a Constituição Federal de 1988. Também, trataremos da Política Nacional do Meio Ambiente e suas diretrizes norteadoras das políticas públicas. O nosso objetivo é permitir a compreensão dos programas ambientais a nível nacional através do estudo das principais políticas ambientais em vigor e dos instrumentos por elas propostos para uma gestão adequada do meio ambiente. Para isso faremos um exame dos reflexos sociais resultantes das políticas ambientais e a conjuntura atual da proteção do meio ambiente. Durante o estudo dos capítulos do Livro Texto vamos propiciar conhecimentos sobre os conceitos e elementos básicos do direito ambiental brasileiro e dos instrumentos jurídicos para a defesa do meio ambiente. Também serão abordadas as competências constitucionais e infraconstitucionais dos entes federados em matéria ambiental, a responsabilidade civil e recuperação do dano ambiental. Dessa forma, teremos informações que nos permitirão refletir sobre as legislações específicas que contemplam os direitos ambientais a fim de auxiliar na formulação de políticas públicas e compreender a importância da legislação vigente como um todo e sua efetividade como forma de promoção do Desenvolvimento Sustentável. Destacamos que conhecer a legislação ambiental brasileira é fundamental ao exercício profissional daqueles que possuem relações com o Meio Ambiente, pois é a aplicação das legislações reguladoras e dos dispositivos legais que contribuem para a garantia dos direitos ambientais conquistados. Assim, é necessário desenvolver estratégias e habilidades que possibilitem o bom exercício profissional e a devida informação á população sobre a proteção do meio ambiente e o Desenvolvimento Sustentável. Por esses motivos, o objetivo deste livro texto é apresentar os principais instrumentos jurídicos de defesa do meio ambiente existentes na legislação brasileira. Além disso vamos tratar também das competências constitucionais e 5 infraconstitucionais dos entes federados em matéria ambiental. E finalizaremos nossos estudos tratando da responsabilidade civil e recuperação do dano ambiental. As diretrizes norteadoras do nosso estudo será o princípio do Desenvolvimento Sustentável. Segundo o Relatório da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas (1988), o desenvolvimento sustentável “é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem as suas próprias necessidades”. Conhecido ainda como Relatório Brundtland, por ter sido chefiada pela Primeira-Ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland, o documento apresentou uma visão crítica do modelo de desenvolvimento econômico até então adotado pelos países, alertando que as melhorias econômicas e sociais não podem ser alcançadas pela depreciação ambiental descontrolada. A partir desse Relatório, algumas reflexões importantes podem ser levantadas a partir do conceito, tais como: De que forma cada geração atende suas necessidades, principalmente por produtos e serviços, a partir dos recursos naturais? Do que as gerações futuras terão necessidades no longo prazo, dado o avanço tecnológico fenomenal verificado nas últimas décadas? Não obstante as controvérsias do Relatório Brundtland, o conceito é atualmente considerado o mais próximo do consenso. Desde a divulgação do Relatório Brundtland, a Organização das Nações Unidas (ONU) tem empreendido esforços para que o desenvolvimentosustentável seja adotado como prioridade nos países membros. Uma dessas iniciativas se deu na Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável realizada em Nova York em 2015. Como resultado das negociações de mais de 150 líderes mundiais, foi proposta uma agenda ambiciosa que propões 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas correspondentes, baseados nos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM) da ONU de 2013. A meta para que os países atendam os ODS é até 2030, por isso essa iniciativa da ONU ficou conhecida como Agenda 2030. Os ODS são integrados e indivisíveis, e equilibram as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a econômica, a social e a ambiental, conforme apresentaremos a seguir: Objetivo 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares; Objetivo 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável; 6 Objetivo 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades; Objetivo 4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos; Objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas; Objetivo 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos; Objetivo 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos; Objetivo 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos; Objetivo 9. Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação; Objetivo 10. Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles; Objetivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis; Objetivo 12. Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis; Objetivo 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos; Objetivo 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável; Objetivo 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade; Objetivo 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis; Objetivo 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável. <Saiba mais Transformando Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/>. Acesso em: 19/12/2019. <Saiba mais fim> 7 Nesse sentido, várias organizações públicas e privadas têm contribuído para divulgar e valorizar os ODS em diferentes países, em diferentes contextos. E, dentre estas iniciativas destaca-se a educação ambiental que também implica no conhecimento da legislação ambiental, temas principais que trataremos neste Livro Texto. Bom estudo. 8 1. OS PRINCIPAIS CONCEITOS E ELEMENTOS BÁSICOS DO DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO De acordo com o Art. 225, da Carta Magna, que refletiu no Princípio nº 1, da Declaração do Rio/92, o meio ambiente ecologicamente em equilíbrio é um direito de todos, um direito fundamental, do qual irradiam todas as demais interpretações que devem ter as normas ambientais. Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. (BRASIL, Constituição Federal /88 O meio ambiente ecologicamente equilibrado consiste naquele salubre, sem poluição, com qualidade de vida, correspondente lógico do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, o qual exige uma vida dignamente saudável. Dessa forma, ao consagrar o meio ambiente como um direito humano fundamental e de fazer diversas outras referências ao assunto ao longo do seu texto, a Constituição Federal de 1988 consagrou também de forma explícita ou implícita os mais relevantes princípios do Direito Ambiental. Por esse motivo, a matéria ambiental é de extrema importância pois, além de estar prevista pela própria Constituição Federal, o direito a um meio ambiente saudável é tido como um direito humano de terceira geração, também chamados de “direitos de solidariedade”. Observação Os direitos fundamentais de terceira geração são os relacionados ao desenvolvimento ou progresso, ao meio ambiente, à autodeterminação dos povos, bem como ao direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e ao direito de comunicação. Observação fim> 9 1.1 Introdução à temática ambiental Para iniciarmos nossos estudos sobre as questões socioambientais, precisamos recordar que diversos filósofos e estudiosos ocidentais, em épocas distintas, já tentaram explicar a origem da vida e da Terra por meio de suas teorias. Assim, vamos descobrindo que o Homem, tendo tomado ao logo do tempo ciência de suas capacidades intelectuais, nunca parou de perguntar, investigar e de buscar por respostas. Essa perseguição pelo conhecimento fez com que o Homem construísse uma nova imagem de si próprio. Sendo essa a principal característica que marca a época do Renascimento, pois o homem renascentista busca moldar o mundo à sua imagem e semelhança, como em um empreendimento seu. Dessa forma, com a Revolução Científica, a postura do Homem perante a natureza adquire um contorno diferenciado, pois surge uma nova visão de mundoque foi instituída com base em princípios que são materialista, racionalista, mecanicista, instrumentalista e antropocêntrica. Nessa linha de pensamento, é importante destacar o pensamento do cientista e filósofo René Descartes, que com a obra “O Discurso do Método” e sua máxima “penso, logo existo”, determinaram as formas de viver daquela que costumamos denominar de sociedade contemporânea. Assim, passa a imperar o método reducionista que só aceita o que se ajusta à razão cartesiana. O paradigma cartesiano fixou as raízes do Antropocentrismo que coloca o homem como o centro do mundo. Nesse sentido, o Antropocentrismo é uma concepção que considera que a humanidade deve permanecer no centro do entendimento dos humanos, isto é, o universo deve ser avaliado de acordo com a sua relação com o ser humano, sendo que as demais espécies, bem como tudo mais, existem para servi-los. Assim, o homem se distanciou da natureza, separando-se de suas origens, acreditando ser o “senhor” de todas as coisas do mundo. Consequentemente passou a intervir de maneira mais danosa no Meio Ambiente. Por esse motivo, entende-se que o modelo cartesiano não é maistão adequado e eficaz para sustentar as demandas do planeta no contexto atual de crise ambiental, 10 pois o Antropocentrismo tem como ideia central a superioridade do ser humano, de modo que a natureza somente seja valorizada de um ponto de vista instrumental. Nesse sentido, ele pode assumir duas tendências principais: na primeira, a natureza é vista, fundamentalmente, como um recurso econômico, e, na segunda, a importância da natureza é relacionada à satisfação dos múltiplos interesses humanos, não apenas os econômicos (ALMEIDA, 2008; CAMPBELL, 1983). Essa perspectiva pressupõe uma relação de troca, na qual a humanidade preserva a natureza, mas, para seu próprio benefício,o interesse estaria voltado à manutenção da qualidade de vida humana e à sua existência (COELHO; GOUVEIA; MILFONT, 2006). Por esse motivo, surge a ideia do Ecocentrismo que se opõe ao Antropocentrismo, ao defender o valor não instrumental dos ecossistemas e da ecosfera, cujo equilíbrio poderia limitar determinadas atividades humanas (Almeida, 2008). A partir desse novo modo de pensar assume-se que a natureza, assim como qualquer ser que nela existe, possui valor intrínseco, além daquele associado à sua utilidade para a humanidade. Considera-se o planeta vivo, frágil e sagrado. Entende, ainda, que todas as coisas estão conectadas, e não há ordem hierárquica, mas uma interação igualitária das partes interconectadas, cuja evolução não deve sofrer interferência. Agora, a noção de que a humanidade ocupa um lugar privilegiado na natureza é rejeitada e os recursos naturais devem ser utilizados apenas para satisfazer necessidades de subsistência, preservando a integridade e a estabilidade da biota (GLADWIN; KENNELLY; KRAUSE, 1995). Lembrete Biota é o conjunto de seres vivos, flora e fauna, que habitam ou habitavam um determinado ambiente geológico. 11 1.2 A relação homem e o meio ambiente: as origens históricas da crise ambiental O paradigma Ecocêntrico, é baseado num equilíbrio entre razão e emoção, onde o conhecimento é integrado e não fragmentado. Se trata de uma linha política de filosofia ecológica que apresenta um sistema de valores centrado na natureza, em oposição ao antropocentrismo. Esse modelo entende que para a manutenção da vida humana no Planeta Terra faz-se necessário um repensar sobre os tradicionais cânones que permearam a relação travada entre o ser humano e o meio ambiente substituindo-se o antropocentrismo por paradigmas que considerem a natureza como credora de direitos. Porém, para a vigência desse modelo é necessário que o Homem reaproxime- se da natureza enquanto parte dela e não como seu proprietário e que, também, impere a Justiça Social e Ambiental. Há aproximadamente 200 anos é que o Meio Ambiente passou a ser afetado consideravelmente com a ação humana, e há apenas 40 anos é que esses impactos passaram a ser considerados muito graves ao planeta. Ocorre que depois da Segunda Guerra Mundial, o modelo social e econômico que passou a vigorar agravou ainda mais os problemas ambientais, pois aumentou a exploração dos recursos naturais para atender às demandas nos processos produtivos, cada vez mais eficientes tecnologicamente. E, nesse modelo de desenvolvimento que foi adotado em nível mundial, as principais causas dos problemas ambientais que enfrentamos são: crescimento populacional insustentável; acentuado aumento da pobreza e desigualdade social; métodos de produção de alimentos insustentáveis; uso de energia insustentável e; produção industrial insustentável. Destaca-se que o crescimento populacional constante vem sempre acompanhado pela degradação ao Meio Ambiente, pois ocorre sem um devido planejamento e gera um déficit na capacidade do Poder Público quanto ao fornecimento dos serviços públicos básicos. 12 Dessa forma, o crescimento populacional tem enfraquecido a capacidade do Estado em satisfazer as necessidades socioeconômicas básicas e proteger os recursos naturais. Por essa razão, o “problema populacional” tem de ser solucionado por meio de esforços para eliminar a pobreza generalizada, a fim de garantir um acesso mais justo aos recursos e, por meio da educação, aprimorando o potencial humano para administrar esses recursos. É importante reconhecer que as experiências de outros países demonstraram que é mais fácil buscar o desenvolvimento sustentável quando o tamanho da população se estabiliza num nível coerente com a capacidade produtiva do ecossistema. Outra questão importante é que a degradação ambiental nos países pobres é incessante porque a maioria deles depende da exportação de produtos agrícolas para aumentar a sua receita. Além disso, em razão da distribuição desigual da renda e da falta de oportunidades de trabalho, os pobres constituem uma grande massa populacional nas grandes cidades e, com isso, agravam-se os impactos sobre o Meio Ambiente. Também o modelo dominante de produção de alimentos é insustentável e, sobretudo, causador de grandes danos ao Meio Ambiente. Pois, esse modelo baseia- se em métodos que buscam alta produtividade em um curto espaço de tempo. Não podemos deixar de destacar, ainda, a produção e o consumo de energia que têm um impacto devastador sobre o Meio Ambiente, tomando por base o modelo energético mais utilizado no mundo, ou seja, a queima de combustíveis fósseis. Mas, não podemos nos esquecer que as usinas hidrelétricas também causam danos ao Meio Ambiente devido, principalmente, aos impactos das obras para construção desse tipo de empreendimento. Outro fator a ser considerado é o desperdício de energia que contribui negativamente com a crise de energia. Da mesma forma, a produção industrial também é insustentável, pois baseia- se em modelos inadequados e degradadores, funcionando na lógica da alta produtividade em curto espaço de tempo. Dessa forma, caracteriza-se pelo desperdício de matéria-prima e de energia no processo produtivo, geração de grande quantidade de resíduos, disposição inadequada dos resíduos, não reaproveitamento de materiais e ausência de reciclagem, de segurança e de salubridade do ambiente de trabalho, etc. E, dentro de todo esse contexto, a sociedade tem consumido cada 13 vez mais, sendo que para conseguir atender esse aumento na demanda do consumo da sociedade a agricultura e a indústria exploram de forma excessiva os recursos naturais, degradando o Meio Ambiente. Assinalamos, ainda, que o consumo inconsciente e desenfreado daquilo que se produz gera quantidades enormes de resíduos, que descartadas no ambiente, causam dano ambiental. Numa abordagem realista da questão é preciso compreender que reciclar é necessário, mas a humanidade precisa aprender ou habituar-se a consumir de maneira consciente. Isso quer dizer consumir em menor quantidade, consumir produtos ecologicamente corretos e reutilizar sempre que possível. Lembrete Os três R's (erres) do consumo consciente: reduzir, reaproveitar e reciclar são propostas de atitudes referentes ao nosso modo de consumo, muitas vezes insustentável. 1.3 A educação ambiental e a ética ambiental A questão que se coloca hoje é se existe a possibilidade de se mudar a relação homem/natureza no modo de produção capitalista, diante do cenário que apresentamos no capítulo anterior. Assim, a ideia de produção da natureza desafia a separação que foi legada entre sociedade e natureza, e se coloca para nós como um desafio imposto pelo próprio capitalismo. Da mesma forma, a crise ecológica requer um repensar sobre a forma como está estruturada e como funciona a sociedade contemporânea. Porém, as políticas desenvolvidas ao longo das últimas décadas, foram direcionadas à efetivação de pacotes tecnológicos modernos, muitas vezes, não adaptados às condições sociais, ambientais e culturais das comunidades locais. A dificuldade da convivência entre o modelo de desenvolvimento econômico existente e a necessidade da preservação do meio ambiente foi apresentada pela primeira vez na publicação do relatório “The limits of growth” (Os limites do crescimento), em 1972, pelo chamado Clube de Roma, formado por um grupo de especialistas em diversas áreas. 14 Nesse encontro, um grupo apontava que o crescimento econômico ilimitado, da forma como estava ocorrendo, era incompatível com a disponibilidade dos recursos naturais, e por essa razão sugeriam frear o crescimento econômico. Porém, havia outro grupo afirmando que a crise ambiental era uma invenção dos países ricos para impedira ascensão dos países do Terceiro Mundo. O relatório foi bastante criticado na época, mas começou a ser percebido que já não era mais possível discutir a questão ambiental sem falar de desenvolvimento econômico. Em 1972, também foi realizada em Estocolmo a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano ou Conferência de Estocolmo, com a participação de representantes de 113 países. Sendo que os principais resultados desse encontro são os que apresentamos a seguir: A aprovação da Declaração sobre o Meio Ambiente Humano; Criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente; Estabelecimento de um plano de ação mundial e; Recomendou-se a elaboração de um programa internacional de Educação Ambiental. A respeito da participação do Brasil nesse encontro é importante destacar que a delegação brasileira levaram uma faixa com a seguinte inscrição: “Bem vindos à poluição, estamos abertos a ela. O Brasil é um país que não tem restrições, temos várias cidades que receberiam de braços abertos a sua poluição, porque nós queremos empregos, dólares para o nosso desenvolvimento”. Essa faixa ficou famosa, pois, reflete o pensamento da época de todos terem o direito de crescer economicamente mesmo que às custas de grande degradação ambiental. Não se pode esquecer que o Brasil estava em pleno milagre econômico. <Saiba mais Breve resgate histórico da Educação Ambiental no Brasil e no mundo. Disponível em: <https://www.ibeas.org.br/congresso/Trabalhos2015/VII- 069.pdf>. Acesso em: 19/12/2019. <Saiba mais fim> Outro evento importante para a temática ambiental foi a 1ª Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental, realizada em 1977, na cidade de Tbilisi/Geógia. Esse foi um evento exclusivo para tratar de Educação Ambiental, em 15 cooperação com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Destacamos que o Brasil não enviou nenhum representante à essa 1ª Conferência de Educação Ambiental. Dela resultaram diretrizes sobre a importância da perspectiva interdisciplinar, do aspecto histórico, do desenvolvimento do sentido participativo e crítico, da garantia de um processo contínuo e permanente de educação e de uma visão do ambiente, em sua totalidade e sob um prisma global. Seguindo a preocupação mundial com as questões relacionadas com o Meio Ambiente, foi criada em 1983, pela ONU, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Tratava-se de um organismo independente, composto por 22 membros, cujos objetivos eram: reexaminar as questões críticas relativas ao Meio Ambiente e Desenvolvimento, formulando propostas realistas para abordá-las; propor novas formas de cooperação internacional nessa área; dar à sociedade internacional uma maior compreensão desses problemas, incentivando-a a uma atuação mais firme. O trabalho surgido dessa Comissão foi publicado em 1987, trata-se do documento Our Common Future (Nosso Futuro Comum) ou, como é bastante conhecido, Relatório Brundtland, trata-se de um documento diferenciado, pois apresentou um novo olhar sobre o desenvolvimento. Por esse motivo, o Relatório Brundtland tornou-se um dos documentos oficiais mais importantes, do mundo, que aborda a problemática ambiental. O Relatório Brundtland identificou os diferentes tipos de desenvolvimento dos países, ao mesmo tempo, como causa e efeito dos problemas ambientais. A partir dessa percepção, a comissão responsável pela elaboração do relatório entendeu que haveria uma tendência crescente de diferenciação entre países pobres e países ricos, de difícil inversão. E, para tentar amenizar essa tendência, sugeriram realizar um “redimensionamento dos vínculos entre economia e ecologia global”. No Relatório Brundtland foi cunhado o termo Desenvolvimento Sustentável, definido como sendo “aquele que responde às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de responder às suas necessidades”. Sendo que as vertentes principais do desenvolvimento sustentável são: crescimento econômico, equidade social e equilíbrio ecológico e, para que possamos 16 compreender a importância da ideia de desenvolvimento sustentável, elencamos a seguir as suas principais características: um sistema político que assegure aos cidadãos a efetiva participação no processo decisório; um sistema econômico capaz de gerar excedente e know-how técnico em bases confiáveis e constantes; um sistema social que possa resolver as tensões causadas por um desenvolvimento não equilibrado; um sistema de produção que respeite a obrigação de preservar a base ecológica do desenvolvimento; um sistema tecnológico que busque constantemente novas soluções; um sistema internacional que estimule padrões sustentáveis de comércio e financiamento; um sistema administrativo flexível e capaz de se autocorrigir. Dando continuidade as discussões internacionais sobre a preocupação com a preservação dos recursos nacionais foi realizada a Conferência Rio-92 sobre o meio ambiente do planeta e desenvolvimento sustentável dos países. A Conferência foi realizada em junho de 1992 na cidade do Rio de Janeiro, sendo o encontro que definitivamente marcou a forma como a humanidade encara sua relação com o planeta. A partir dos resultados da Conferência Rio-92 é possível perceber que foi somente naquele momento que a comunidade política internacional admitiu claramente que era preciso conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a utilização dos recursos da natureza. Podemos afirmar isso pelo fato que a Rio-92, também conhecida como Rio-92, Eco-92 ou Cúpula da Terra, aconteceu 20 anos depois da primeira Conferência do tipo realizada em Estocolmo/Suécia em 1972, sendo que somente a partir da realização da Rio-92 é que os países reconheceram o conceito de desenvolvimento sustentável e começaram a moldar ações com o objetivo de proteger o meio ambiente. Os principais objetivos da ECO-92 foram os que destacamos a seguir: Examinar a situação ambiental do mundo e as mudanças ocorridas depois da Conferência de Estocolmo; Identificar estratégias regionais e globais para ações apropriadas referentes às principais questões ambientais; 17 Recomendar medidas a serem tomadas nacional e internacionalmente referentes à proteção ambiental por meio de política de desenvolvimento sustentado; Promover o aperfeiçoamento da legislação ambiental internacional; Examinar estratégias de promoção de desenvolvimento sustentado e eliminação da pobreza nos países em desenvolvimento. Visando estabelecer formas para que esses objetivos pudessem ser alcançados foram firmados os seguintes acordo na Rio-92: Agenda 21: conjunto de proposições que visam estimular a implantação de planos de ação locais pelos Municípios para alcance do Desenvolvimento Sustentável, abordando várias áreas: recursos hídricos, geração de resíduos, desmatamento, qualidade de vida, planejamento urbano, legislação etc.; Declaração do Rio: uma declaração com 27 princípios ambientais, com vistas ao Desenvolvimento Sustentável. Também é conhecida por Carta da Terra; Convenção da Biodiversidade: Acordo ratificado por 112 países, comprometendo-se a proteger a biodiversidade, principalmente nas áreas de florestas; Convenção sobre o Clima: Acordo ratificado por 152 países, comprometendo-se a preservar a atmosfera global, por meio do controle da emissão de CO2 e utilização de tecnologias mais limpas; Declaração de Princípios sobre as Florestas: Documento que estabelece que as florestas do mundo devam ser protegidas devido à sua relevância ecológica. Durante a Rio-92, o Brasil também assinou o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, que foi aprovado pelo Fórum Internacional das ONGs, em evento paralelo ao principal. O Fórum Global dasOrganizações Não Governamentais foi realizado, simultaneamente à reunião de chefes de Estado ocorrida na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, contando com a participação de 15.000 profissionais atuantes na temática ambiental. <Saiba mais Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global. 18 Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental/tratado.pdf>. Acesso em: 19/12/2019. <Saiba mais fim> É importante destacar que a Constituição Federal de 1988 já havia consagrado a promoção da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino como incumbência do Poder Público, para assegurar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, no artigo 225, § 1º, inciso VI. Porém, a Educação Ambiental despontou como política pública apenas em 1999, com a aprovação da Política Nacional de Educação Ambiental (Lei Federal nº 9.795), que define a natureza da Educação, seus objetivos e princípios. A lei também diferencia Educação Ambiental formal e não formal, trazendo a seguinte definição: “Os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à qualidade de vida e sua sustentabilidade”.(BRASIL, Lei Federal 9.795/99). Assim, a Educação Ambiental é detentora de uma especificidade, que a distingue das disciplinas comuns: a transversalidade. Porém, a transformação socioambiental pretendida pela Educação Ambiental necessita de uma mudança de paradigmas. Outra questão fundamental é que a Educação Ambiental utiliza-se e depende dos modelos éticos como referencial, como norteadores de ações. A Ética é a forma de proceder ou de se comportar do ser humano no seu meu social, sendo portanto uma relação inter social do homem. Neste sentido, a Ética Ambiental é o estudo da conduta comportamental do ser humano em relação à natureza, decorrente da conscientização ambiental e do consequente compromisso preservacionista, tendo como objetivo a conservação da vida global. O fundador da Ética Ambiental foi o engenheiro florestal e naturalista Aldo Leopold, para ele, a Ética Ambiental ou Ecológica deve orientar as ações humanas quanto às questões ambientais. Assim, todas as decisões e práticas humanas que afetem ou venham a afetar futuramente o Meio Ambiente devem ser feitas com fundamento na Ética Ambiental. 19 Outro estudioso e filósofo de grande significado para a Ética Ambiental foi o alemão Hans Jonas. A nova ética proposta por Hans Jonas contempla a coletividade, a vulnerabilidade da natureza, a responsabilidade e o agir humanos pautados na ideia de limite, comedimento e bom senso. Segundo Hans Jonas (2006), quando menos acreditamos na sabedoria, é quando mais dela precisamos. Nesse momento da história, vivemos em uma época em que tudo acontece de modo acelerado. A deterioração causada ao meio ambiente é decorrente de inúmeras intervenções causadas pelos seres humanos no processo associado ao capitalismo e ao consumo desenfreado, gerando automaticamente poluição e degradação sem precedentes. <Exemplo de aplicação O tema da sustentabilidade confronta-se com o paradigma da "sociedade de risco". Isso implica a necessidade de se multiplicarem as práticas sociais baseadas no fortalecimento do direito ao acesso à informação e à educação ambiental em uma perspectiva integradora. Diante dessa realidade, poderíamos fazer as seguintes questões: O que é possível fazer na esfera racional para mudar a realidade da crise ambiental que vivemos? É possível mudar através da educação e da ética? Quais seriam, em geral, os princípios dessa nova ética, denomina da ética ambiental? Essa ética seria muito mais global e menos local? <Exemplo de aplicação fim> 1.4 A evolução histórica do Direito ambiental no Brasil: fase colonial, fase imperial, fase republicana Conforme as ações humanas passaram a causar impactos cada vez mais significativos ao Meio Ambiente, interferindo na sua qualidade e ameaçando sua existência, foi sendo construído um arcabouço jurídico-legal para conferir-lhe efetiva tutela e proteção. Assim, um novo ramo da ciência jurídica surgiu, com objetivos, princípios e diretrizes próprias para cuidar dos problemas ambientais: o Direito Ambiental. 20 O Direito Ambiental, carrega a visão antropocêntrica, visto que as normas de proteção ambiental são voltadas para o atendimento das demandas humanas. É a pessoa humana a detentora do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, e também é ela quem exerce, em conjunto com o Poder Público, a responsabilidade de preservá-lo para o presente e futuras gerações. Ao tratarmos da evolução do Direito Ambiental no Brasil é importante informar que, antes mesmo do descobrimento do Brasil, a legislação ambiental portuguesa já era bastante evoluída, pois já havia uma lei que visava a proibição do corte deliberado de árvores frutíferas que foi publicada em 12 de março de 1393. Também, já existia uma legislação para a proteção das aves prevista numa lei de 9 de novembro de 1326, que equiparava o furto dessas aves a qualquer espécie de crime. Observação O sistema jurídico do Brasil-Colônia foi o mesmo que existia em Portugal. As Ordenações Reais, compostas pelas Ordenações Afonsinas (1446), Ordenações Manuelinas (1521) e Ordenações Filipinas (1603). Essas medidas de proteção ambiental foram compiladasnas Ordenações Afonsinas e introduzidas no Brasil por ocasião de seu descobrimento. Dessa forma, a primeira legislação adotada no Brasil colônia foi uma compilação, as Ordenações Afonsinas, vigente em Portugal desde 1446. Porém, em 1514, foi concluída a compilação das novas leis denominada Ordenações Manuelinas e que também passou a vigorar no Brasil. Na fase colonial, se ressaltam dois fatos importantes que direcionaram as primeiras leis de proteção ambiental vigentes no Brasil: O comércio clandestino, estimulado por conta da variedade de espécies nativas, principalmente da flora, e pelo alto preço da madeira em toda a Europa, por sua vez facilitado pelo extenso litoral brasileiro; Os incêndios, cujos resultados eram altamente devastadores. Mas o período após 1548 é que foi considerado como um marco do nascimento do Direito Ambiental Brasileiro. Pois foi a partir dessa data que o Governador Geral passou a expedir normas e leis próprias, impulsionando o desenvolvimento da legislação ambiental no Brasil. 21 A partir dessa nova fase legislativa, a primeira lei de proteção florestal do Brasil foi o Regimento do Pau-Brasil, de 1605. Esse regimento exigia autorização real expressa para o corte do pau-brasil e impunha outras restrições à exploração dessa espécie. Depois dessa lei em específico, desenvolveu-se a legislação de proteção florestal no Brasil. Porém, é importante destacar que a legislação vigente priorizava apenas os aspectos econômicos relacionados ao meio ambiente sem uma preocupação com as questões preservacionistas. Mas, apesar dessa lei, nesse período as leis de proteção florestal foram afrouxadas, e a devastação do que restou continuou sem freios, para ampliar as plantações e alimentar o comércio de madeira. Após a Proclamação da Independência do Brasil em 1822 foi promulgada a primeira Constituição Federal Brasileira no ano de 1824, porém não foi inserida na Constituição nenhuma cláusula que trata-se da proteção ambiental no país, havia apenas uma referência quanto à proteção da saúde. Assim, somente em 1850 houve a promulgação de uma lei que instituiu inovações em matéria ambiental: a Lei nº 601, a primeira Lei de Terras do Brasil, que trazia em seu Artigo 2º a seguinte redação: “Art. 2º -Os que se apossaremde terras devolutas ou alheias, e nelas derrubarem matos ou lhes puserem fogo, serão obrigados a despejo, com perda de benfeitorias, e demais, sofrerão as penas de dois a seis meses de prisão e multa de cem mil réis, além da satisfação do dano causado”. Essa legislação trouxe inovações de grande importância ecológica, pois instituiu o princípio da responsabilidade por dano ambiental, fora do âmbito da legislação civil. É importante destacar que nesse período os pensadores brasileiros também não falavam de ecologia, tampouco de proteção ambiental, já que naquela época, os problemas ambientais eram tratados por outro ramo da ciência, a Economia da Natureza. Dessa forma, a degradação ambiental que já ocorria no Brasil era considerada sob a ótica econômica, mas, mesmo assim, não passou imune aos olhos de algumas figuras representativas da sociedade como destacamos a seguir. Em 1802, por recomendação de José Bonifácio, foram baixadas as primeiras instruções para reflorestar a costa brasileira. Esse estadista brasileiro foi um dos homens que se mostrou bastante preocupado com a problemática do desmatamento desenfreado e seus impactos em terras brasileiras, manifestando inúmeras vezes seu pensamento sobre os problemas ambientais. Nesse sentido, em 17 e julho de 1822, a conselho de José Bonifácio, o Imperador extinguiu o sistema de sesmarias, 22 deixando de prevalecer o prestígio dos títulos de propriedade em favor da posse e ocupação das terras. Lembrete José Bonifácio de Andrada e Silva foi um cientista, político e estadista brasileiro cujas ideias e influência política foram decisivas para a Independência do Brasil. Também, o abolicionista Joaquim Nabuco demonstrou preocupação com à depredação dos recursos naturais no Rio de Janeiro. Lembrete Joaquim Nabuco (1849-1910) foi um político, diplomata, advogado e historiador brasileiro. Foi o mais importante e o mais popular dos abolicionistas. Nessa mesma linha, Euclides da Cunha também escreveu suas impressões sobre a devastação da floresta pelas queimadas quando cumpriu missões na Amazônia, demonstrando revolta e desolamento com as cenas que presenciou. Lembrete Euclides da Cunha (1866-1909) foi um escritor, jornalista e professor brasileiro, autor da obra "Os Sertões". O escritor Gilberto Freire também registrou os males da monocultura, descrevendo o nordestino como um alienado ecológico: “O brasileiro das terras de açúcar quase não sabe os nomes das árvores, das palmeiras, das plantas nativas da região em que vive – fato constatado por tantos estrangeiros” (FREIRE, 1989, p, 74). Assim, muitos brasileiros expressaram claramente suas preocupações com a devastação ambiental no Brasil e com as graves consequências da exploração indiscriminada e irresponsável dos nossos recursos naturais. E, dessa forma, contribuíram para a formação do pensamento e do engajamento preservacionista em nosso país, e consequentemente com a instituição 23 de leis que conferissem efetividade à proteção ambiental, ainda que, inicialmente, voltadas ao aspecto econômico. 1.5 A proteção ambiental após a Proclamação da República Após a proclamação da República temos um período de consolidação do Direito Ambiental que vai de 1889 a 1981,essa classificação se deve a inúmeras medidas que foram tomadas no sentido de se proteger o patrimônio ambiental do Brasil. Nesse sentido, em 1895 o Brasil foi signatário do Convênio das Egretes, celebrado em Paris, que assegurou a preservação de garças que povoavam os rios e lagos da Amazônia. Já em 1911 foi instituído o Decreto nº 8.843, de 26 de junho, criando a primeira reserva florestal do Brasil, com uma grande extensão de floresta no antigo território do Acre. Esse decreto também proibiu a entrada nas áreas da reserva, bem como a extração de madeira e outros produtos florestais, e a caça e pesca. Porém, lamentavelmente, a reserva não foi Implantada. No ano de 1934 foi promulgada a Constituição Federal Brasileira. Dentre suas disposições, destaca-se: atribuição de competência privativa à União e supletiva ou complementar aos Estados para legislar sobre riquezas do subsolo, mineração, águas, energia hidrelétrica, florestas, caça e pesca; atribuição de competência concorrente à União e aos Estados para protegerem as belezas naturais e monumentos de valor artístico e histórico. Durante a década de 1930 foi promulgado o Código Florestal (1934), o Código de Águas (1934), a criação do primeiro Parque Nacional Brasileiro (o Parque do Itatiaia, em 1937), a criação dos Parques Nacionais do Iguaçu e das Serras dos Órgãos (1939). Já, em 1965 foi aprovado o novo Código Florestal e em 1967 houve a edição da Lei nº 5.197, que dispunha sobre a proteção à fauna. No mesmo ano, para fazer- se cumprir os preceitos dessa lei, foi criado o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF). E no ano de 1971 ocorreu a criação da primeira associação ecológica, não governamental, do Brasil e da América Latina, a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN). Em 1973 foi criada a Secretaria Especial do Meio 24 Ambiente (SEMA) e, em 1975 tivemos o Decreto-Lei nº 1.413, dispondo sobre o controle da poluição do ambiente provocada por atividades industriais. A década de 1980 foi bastante significativa para o Meio Ambiente no Brasil, pois houve um período de evolução do Direito Ambiental. Logo no início da década, em 1981, foi promulgada a Lei nº 6.902, que criou as Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental e a Lei nº 6.938 trazendo diretrizes para a Política Nacional do Meio Ambiente, uma das mais significativas até os dias atuais. E, nesse mesmo ano ocorreu a criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), previsto na Lei nº 6.938/81. Outra importante legislação foi promulgada em 1985, a Lei nº 7.347, que criou uma ação específica para a defesa do Meio Ambiente, a Ação Civil Pública. Por meio de uma Ação Civil Pública é possível exigir dos infratores reparação pelos danos causados ao Meio Ambiente. Essa lei conferiu legitimidade a Ministério Público, União, Estados, Municípios, autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista e associações para intentar a Ação Civil Pública em Juízo pela defesa do Meio Ambiente. A partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, chegamos ao período que pode ser denominado como de aperfeiçoamento do Direito Ambiental brasileiro, pois essa Carta Magna trouxe em seu bojo um capítulo especialmente dedicado ao Meio Ambiente. Mais recentemente, em 2012, tivemos a Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, que tratou a respeito do Código Florestal Brasileiro. Essa Lei alterou as Leis 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006. A lei também revogou as Leis 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória nº 2.166-67, de 24 de agosto de 2001. <Exemplo de aplicação> As Políticas Públicas relativas ao meio ambiente competem ao Poder Legislativo que representa a vontade popular. Está diretamente ligada ao O Poder Executivo e a própria sociedade na execução e implementação de políticas ambientais. E, para completar, depende do Poder Judiciário e sua relevância na concretização do direito fundamental. Dessa forma, não podem ocorrer nenhuma omissão do Poder Público na execução de PolíticasPúblicas relativas ao meio 25 ambiente, pois dependemos do poder de polícia ambiental para evitar a degradação desnecessária e, da implementação de Políticas Públicas ambientais com sustentabilidade para garantir o desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, cabe a seguinte indagação: O que a política tem a ver com o meio ambiente? <Exemplo de aplicação fim> 1.6 O Direito ambiental: noções gerais e conceitosO Meio Ambiente é tratado pela lei como sendo um direito fundamental, constitucionalmente assegurado, cujo titular é a pessoa humana. Porém, esse Direito pode e deve ser exercido dentro de certos limites. Para os operadores do Direito, destacam-se três conceituações que, complementarmente traduzem, e de maneira bastante satisfatória, o que é Meio Ambiente, atendendo às necessidades quanto a sua compreensão geral: O primeiro conceito é o Ecológico (técnico), segundo o qual Meio Ambiente é “a combinação de todas as coisas e fatores externos aos indivíduos ou população de indivíduos em questão”. O segundo conceito é o Legal, constante da Lei nº 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente), para a qual Meio Ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem química, física e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. O terceiro conceito, Jurídico, é o formulado pelo jurista José Afonso da Silva, o qual afirma que Meio Ambiente “é a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”. (SILVA, 1999, p. 02). Meio Ambiente classifica-se, segundo a doutrina jurídica, em: I. Meio Ambiente Natural; II. Meio Ambiente Artificial; III. Meio Ambiente Cultural; IV. Meio Ambiente do Trabalho. O meio Ambiente Natural, também chamado de Meio Ambiente Físico, é composto pela atmosfera, águas, solo e subsolo, fauna e flora e o patrimônio genético. 26 A tutela do Meio Ambiente Natural se dá pelo artigo 225 da Constituição Federal, em seu § 1º, incisos I e VII, e § 4º: Art. 225 -Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I -preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; ...; VII -proteger a fauna e a flora, vedadas na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam animais à crueldade. ...; § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. .... (BRASIL, 1988, CF) O Meio Ambiente Artificial é compreendido pelo espaço urbano construído, consistente no conjunto de edificações (chamado de espaço urbano fechado), e pelos equipamentos públicos (espaço urbano aberto)” Dessa forma, o Meio Ambiente Artificial é uma área que está diretamente relacionada ao conceito de cidade. A tutela constitucional do Meio Ambiente Artificial está presente no artigo 225 da Constituição Federal, que trata especificamente do Meio Ambiente, mas também nos artigos 21, inciso XX, e 182 (que trata da Política Urbana) da Carta Constitucional, entre outros: Art. 21 -Compete à União: ...; XX -instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos. .... Art. 182 -A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público Municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei têm por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da 27 cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. ... (BRASIL, 1988, CF). Quanto ao Meio Ambiente Cultural, ele é integrado pelos patrimônios artístico, paisagístico, arqueológico, histórico e turístico. Vale pontuar que, apesar de serem bens produzidos pelo Homem e, portanto, também serem caracterizados como artificiais, eles diferem dos bens que compõem o Meio Ambiente Artificial em razão do valor diferenciado que possuem para uma sociedade e seu povo. O Meio Ambiente Cultural é tutelado especificamente pelo artigo 216 da Constituição Federal Brasileira: Art. 216 -Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I -as formas de expressão; II -os modos de criar, fazer e viver; III -as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV -as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V -os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. ... (BRASIL, 1988, CF). Já o Meio Ambiente do Trabalho é constituído pelo ambiente no qual as pessoas desenvolvem as suas atividades laborais, sejam elas remuneradas ou não remuneradas, cujo equilíbrio está baseado na salubridade do meio e na ausência de agentes que comprometam a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores, independentemente da condição que ostentem. A tutela do Meio Ambiente do Trabalho também está contida na Constituição Federal nos artigos 225 e 200, inciso VIII: Art. 200 -Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: ... VIII -colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. (BRASIL, 1988, CF) 28 Ressalta-se que a tutela do Meio Ambiente do Trabalho difere da tutela dos direitos trabalhistas. As normas e leis que integram o Direito do Trabalho disciplinam as relações jurídicas entre empregado e empregador, ao passo que, a tutela do Meio Ambiente do Trabalho refere-se à segurança e saúde do trabalhador no ambiente em que ele trabalha. 29 2. AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO DIREITO AMBIENTAL O Direito Ambiental é relativamente recente no Direito brasileiro. Ele é um direito da terceira geração, o que significa dizer que ele é um direito difuso, ou seja, seus efeitos são indivisíveis e não se aplicam somente a um indivíduo, mas a toda coletividade. Dessa forma, o Direito Ambiental também se apresenta como um direito autônomo, pelo fato de possuir seu próprio regime jurídico, objetivos, princípios, sistema nacional do meio ambiente, etc. É um Direito que caracteriza-se pela sua interdisciplinaridade, ou seja, depende dos conceitos e conhecimentos de outras ciências. Assim, o Direito Ambiental é o complexo de princípios e normas coercitivas reguladoras das atividades humanas que, direta ou indiretamente, possam afetar a sanidade do ambiente em sua dimensão global, visando a sua sustentabilidade para as presentes e futuras gerações. (MILARÉ, 2001) Já os recursos naturais podem ser definidos como o conjunto de elementos de ordem natural que compõem o Meio Ambiente. Dessa forma, é tudo aquilo que não é criação do Homem e equivale àquilo que se conhece popularmente como natureza. Porém, a natureza é só uma parte do Meio Ambiente. A Lei nº 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente) trouxe a definição de outra categoria de recursos, a dos recursos ambientais. Art. 3º -Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: ...; V -recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores,superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. (BRASIL, 1981, Política Nacional do Meio Ambiente) Segundo as disposições constitucionais do artigo 225, os bens ambientais são aqueles de uso comum do povo, essenciais à sadia qualidade de vida, o que configura nova realidade jurídica disciplinando bem, o que não é públiconem, muito menos, particular. Por serem qualificados como de uso comum do povo, os bens ambientais alcançaram o status de bens difusos, uma vez que eles não se referem a um único indivíduo, mas a toda uma coletividade, sem individualizar seus titulares. 30 2.1 Os princípios do Direito ambiental Princípios, segundo José Cretella Junior (apud MILARÉ,2001, p.111), são as proposições básicas, fundamentais, típicas, que condicionam todas as estruturas subsequentes. Princípio do ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental da pessoa humana: Esse princípio decorre diretamente das disposições do Artigo 225, caput, da Constituição Federal, quando proclama que o Meio Ambiente, ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida, é um direito de todos os cidadãos brasileiros, sendo, portanto, um direito fundamental da pessoa humana. Princípio da natureza pública da proteção ambiental: Decorre da previsão legal que considera o Meio Ambiente como um valor a ser assegurado e protegido para o uso comum de toda a coletividade. O direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida não pode ser apropriado individualmente. Sua realização individual está intrinsecamente ligada a sua realização social, pois a tutela e a proteção do Meio Ambiente são de interesse público. Princípio da participação comunitária: Expressa a ideia de que a tutela e proteção do Meio Ambiente deve ser um esforço empreendido com a participação da coletividade, em cooperação com o Poder Público, visto que todos têm direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida. Mais do que o direito, a sociedade tem o dever de ajudar a preservar o Meio Ambiente para as presentes e futuras gerações. Princípio do poluidor-pagador: Também conhecido como princípio da responsabilidade. Segundo o princípio do poluidor-pagador, todo aquele que polui (que causa dano ambiental) deve pagar pela poluição que gerou. Mas isso não significa dizer que, se a poluição tem um preço, e o poluidor arca com esse preço, fica autorizado a continuar poluindo. Ao contrário, o princípio visa 31 evitar a ocorrência de danos ambientais. Assim, a poluição gerada no processo produtivo tem um custo externo negativo para a sociedade, e não é correto que somente ela arque com isso, enquanto o poluidor usufrui dos lucros. Por isso o poluidor deve internalizar os custos externos, pagando pelos danos que provocou ao Meio Ambiente, e por extensão, à coletividade. Princípio da prevenção: Para muitos doutrinadores, esse é o princípio base do Direito Ambiental, visto que sua natureza e objetivos são fundamentalmente preventivos. De acordo com o princípio da prevenção, na realização de qualquer atividade ou empreendimento que possa causar ou efetivamente cause dano ao Meio Ambiente, deverão ser tomadas pelo empreendedor medidas que previnam, evitem ao máximo sua ocorrência. Princípio da precaução: Difere do princípio da prevenção, embora em muitas doutrinas eles apareçam com o mesmo significado. Segundo o princípio da precaução, a ausência de certeza científica absoluta não deve servir de pretexto para não se adotar medidas efetivas para evitar a degradação ambiental. Dessa forma, mesmo que não tenha sido comprovado cientificamente que determinada atividade ou empreendimento de fato irá causar danos ambientais, o empreendedor deve, ainda assim, adotar medidas preventivas, diante da dúvida existente. Pois, não há certeza científica sobre a ocorrência do dano, mas também não há certeza sobre sua inocorrência. Princípio da função socioambiental da propriedade: De acordo com a Constituição Federal de 1988, a propriedade deve atender a sua função social. Hoje, mais do que atender a uma função social, ela deve atender a uma função ambiental. O Novo Código Civil, vigente desde 2002, abraçou em suas disposições esse princípio na condição de regra limitadora ao uso irrestrito da propriedade privada, a ser regularizada por lei especial: Art. 1.228 -.... § 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio 32 ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. ... (BRASIL, 2002, Código Civil) Muito embora continue a ser privada, a propriedade adquiriu status social, devendo oferecer à coletividade uma utilidade maior, em consonância com os princípios e leis de proteção ambiental, contribuindo com a preservação do Meio Ambiente e sua existência para as presentes e futuras gerações. Princípio do desenvolvimento sustentável: O princípio do desenvolvimento sustentável refere-se ao direito do ser humano de desenvolver-se e realizar as suas potencialidades, quer individual quer socialmente. Também é o direito de assegurar aos seus pósteros as mesmas condições favoráveis. Nesse princípio, talvez mais do que em outros, surge tão evidente a reciprocidade entre direito e dever, porquanto, o desenvolver-se e usufruir de um planeta plenamente habitável não é apenas direito, é dever precípuo das pessoas e da sociedade. 2.2 A competência legal em matéria ambiental A Constituição Federal de 1988 atribuiu competências à União, aos Estados, Municípios e Distrito Federal para editar leis e normas de caráter ambiental. Porém, essas competências são distintas e limitadas para cada um deles. A competência em razão da matéria (material) é comum quanto ao dever de proteger o Meio Ambiente e combater a poluição e de preservar as florestas, a fauna e a flora. Nesse sentido, União, Estados, Municípios e Distrito Federal possuem competência material comum para legislar sobre os assuntos acima citados, conforme artigo 23, incisos VI e VII da Constituição Federal: Art. 23 -É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: ... VI -proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII -preservar as florestas, a fauna e a flora; ... (BRASIL, 1988, CF). 33 É importante esclarecer que a competência legislativa, ou seja, aquela que se refere ao poder para efetivamente elaborar leis, pode ser exclusiva, privativa, concorrente e suplementar: Competência legislativa exclusiva: Somente a União poderá legislar sobre determinada matéria, impedindo-a de delegar competência; Competência legislativa privativa: é a competência plena, direta e exclusiva de legislar; Competência legislativa concorrente: é a competência comum. Competência legislativa suplementar: é uma subespécie da competência concorrente, sendo aquela que preenche os vazios da norma geral. Para alguns autores ela pode ser considerada como “complementar”. Observação A competência exclusiva não pode ser delegada (indelegável) e a competência privativa, ao contrário, poderá ser delegada. Um bom exemplo da competência material exclusiva da União está prevista na Lei nº 9.433, de8de janeiro de 1997 que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Também vamos encontrar a competência material exclusiva da União no Art. 21 da CF/88: Art. 21. Compete à União: XIX -instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso. (BRASIL, 1988, CF). Outros artigos constitucionais que tratam dessa competência legislativa privativa e exclusiva da União, em matéria ambiental, são os Artigos 22, Parágrafo único, e 25, §1º e §2º da CF/88, respectivamente. Tais artigos informam que a União pode legislar privativamente sobre as populações indígenas;sobre jazidas, minas e outros recursos minerais; e sobre atividades nucleares de qualquer natureza. Por esse motivo, nenhum outro ente federativo pode legislar sobre essas matérias, a não ser que haja delegação ou suplementação da competência. Quando se trata da competência legislativa concorrente, União, Estados e Distrito Federal podem criar que leis que tratem do mesmo tema. É um tipo de competência que ocorre em várias situações previstas no Artigo 24 da CF/88, mas os 34 parâmetros gerais a serem observados pelos demais entes federativos na elaboração das leis devem partir da União inicialmente. Art. 24 -Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: ... VI -florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII -proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; VIII -responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;.... (BRASIL, 1988, CF) Quando se trata da competência legislativa suplementar, a mesma está prevista nos artigos 24, §2º, e 30, inciso II da Constituição Federal. Essa competência é atribuída aos Estados, Distrito Federal e Municípios para que possam editar leis suplementares às leis gerais existentes, ou que suprem a ausência ou omissão, por exemplo, a edição de uma lei, pelo Município, de implantação da coleta seletiva do lixo. Art. 24 -...; §2º -A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. .... Art. 30 -Compete aos Municípios: ...; II -suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; .... (BRASIL, 1988, CF) 2.3 A tutela Constitucional do Meio Ambiente no Brasil - Artigo 225 da CF/88 A Constituição Federal de 1988 representa um marco na legislação ambiental brasileira, pois além de ter sido a responsável pela elevação do meio ambiente à categoria dos bens tutelados pelo ordenamento jurídico, sistematizou a matéria ambiental, bem como estabeleceu o direito ao meio ambiente sadio como um direito 35 fundamental do indivíduo. Dessa forma, a proteção do Meio Ambiente tem um destaque especial no Art. 225 da Constituição Federal Brasileira: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. § 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. 36 § 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. § 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. § 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas. § 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se consideram cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem- estar dos animais envolvidos. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 96, de 2017). (BRASIL, 1988, CF). Diante da importância que a Constituição Federal deu ao Meio Ambiente, passaremos agora a uma explicação mais detalhada dos parágrafos e incisos do Artigo 225, pois as legislações infraconstitucionais que tratam da questão ambiental devem estar sempre em consonância com o que prescreve o Direito Constitucional. Assim, cuidar e proteger o Meio Ambiente é obrigação de todos os entes que formam a nação, sejam eles pessoas físicas ou jurídicas, no âmbito privado ou público. Outro dispositivo legal fundamental quando se trata de proteção ao meio ambiente, e que também será estudado de forma mais aprofundada, é a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81), que no seu Artigo 3º apresenta a definição de meio ambiente: Art. 3º -Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I -meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; .... (BRASIL, 1981, Política Nacional do Meio Ambiente). 37 2.4 O manejo ecológico A Constituição Federal, no Inciso I do § 1º do Artigo 225, também trata do Manejo Ecológico com o objetivo de “preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas”. O Manejo Ecológico pode ser compreendido como a intervenção humana sobre o meio ambiente e as espécies animais e vegetais capaz de assegurar-lhes a sobrevivência e uma utilização capaz de assegurar bem-estar à sociedade. (ANTUNES, 1998). Dessa forma, é necessário prover o manejo ecológico é adotar todo e qualquer procedimento que assegure a conservação da diversidade biológica e dos ecossistemas, conforme também está previsto no Artigo 2º, Inciso VIII da Lei nº 9.985/2000, que trata do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Ainda relacionado com esse tema, o§ 1º do Artigo 225 da Constituição vai abordar as questões relacionadas com a Diversidade Biológica dando ênfase na importância de “preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético”. Nessa mesma linha, também a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação define diversidade biológica, no artigo 2º, inciso III, como: Art. 2º -Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:... III -diversidade biológica: a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas; .... (BRASIL, 2000, SNUC) É importante destacar que o Inciso II do artigo 225 foi regulamentado pela Lei de Biossegurança (Lei nº 11.105/05), que estabeleceu normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados (OGM) e seus derivados, criou o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS), reestruturou a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança(CTNBio), e dispôs sobre a Política Nacional de Biossegurança(PNB). 38 Observação Biossegurança é o conjunto de estudos e procedimentos que visam a evitar ou controlar os riscos provocados pole uso de agentes químicos, agentes físicos e agentes biológicos à biodiversidade. 2.5 As Unidades de Conservação As Unidade de Conservação (UC) são às áreas naturais passíveis de proteção por suas características especiais, sendo que a sua denominação dada pela Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000 que trata do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC). Porém o § 1º do Art. 225 da Constituição também já fazia referência as Unidades de Conservação, em seu Inciso III: Inciso III -definir, em todas as Unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção. (BRASIL, 1988, CF) E foi justamente visando cumprir esse dispositivo constitucional que a Lei nº 9.985/00 criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), regulamentando assim o Inciso III do artigo 225 da Constituição Federal. Assim, de acordo com o artigo 2º, inciso I do SNUC, como é comumente chamado, Unidade de Conservação fica assim definido: Art. 2º -Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I -unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção; .... (BRASIL, 2000, SNUC) 39 2.6 O estudo de impacto ambiental como instrumento de proteção do meio ambiente Considerando o tema Direito Ambiental, não podemos deixar de abordar aqui um dos instrumentos de controle preventivo de danos ambientais mais importante: o Estudo de Impacto ambiental (EIA), estudo que têm a finalidade de efetivar o direito ao meio ambiente saudável. , É a Política Nacional do Meio ambiente que possui entre outros instrumentos o Estudo de Impacto Ambiental, o qual, visa identificar, avaliar e até mesmo prever as consequências de ações atrópicas ao meio biológico, físico, e sócio econômico. O EIA é um documento técnico multidisciplinar que trata sobre controle preventivo de danos ambientais para a atividade na qual for constatado riscos e perigos ao meio ambiente. Se os riscos e perigos são constatados, o estudo deve avaliar as melhores medidas mitigadoras para evitar ou minimizar os danos causados. Por esses motivos, o Inciso IV do § 1º do Art. 225 da CF aborda a necessidade do Estudo de Impacto Ambiental “na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade”. O Estudo de Impacto Ambiental já havia sido disciplinado pelaPolítica Nacional do Meio Ambiente e Resolução CONAMA nº 01/86, mas com a Constituição Federal passou a ser uma exigência incontestável ao empreendedor que quisesse implantar obra ou atividade potencialmente causadora ou causadora de impactos ao Meio Ambiente. As atividades cuja realização do Estudo de Impacto Ambiental é obrigatória constam na Resolução CONAMA nº 237/1997, porém a Norma Federal que trata sobre essa matéria é a Resolução CONAMA n° 01/1986, a qual apresenta a seguinte definição para o impacto ambiental: Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente afetem, a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e 40 sanitárias do meio ambiente; e a qualidade dos recursos ambientais. (BRASIL, 1986, Resolução Conama 01/1986). Outro documento importante quando se trata de avaliar o Impacto Ambiental é o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). O RIMA é um documento público que confere transparência ao EIA. Ele deve ser apresentado na forma de um resumo com uma linguagem didática, clara e objetiva. Isso é necessário para que qualquer cidadão interessado tenha acesso à informação e, se quiser, possa exercer o controle social. Assim, as informações devem ser traduzidas em linguagem acessível, ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de modo que se possam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as conseqüências ambientais de sua implementação. 2.7 O controle de produtos tóxicos A questão relacionada como o uso racional dos produtos químicos é um conceito global, desenvolvido para assegurar a proteção da saúde, da vida e das condições normais do ambiente, frente aos riscos decorrentes das atividades compreendidas no ciclo de vida das substâncias químicas. Sendo assim, os países têm se preocupado com a segurança química, que consiste na utilização racional e consciente das substâncias e produtos químicos com vistas à proteção da saúde humana e do meio ambiente. A segurança química é operacionalizada por meio de dispositivos legais e voluntários, bem como de instrumentos, mecanismos e práticas, que são aplicados ao longo de todo o ciclo de vida da substância, em busca de um equilíbrio entre os aspectos sociais, econômicos e ambientais. Nesse sentido, a nossa Constituição Federal também se preocupou com o controle de produtos tóxicos, pois é preciso admitir que a utilização substancial de produtos químicos é essencial para alcançar os objetivos sociais e econômicos da comunidade mundial. Por outro lado, pesquisas tem demonstrado que com as práticas modernas existe a possibilidade desses produtos continuarem a ser utilizados dentro de uma relativa margem de segurança, estabelecendo um boa relação custo- eficiência. 41 Entretanto, também, é inegável que ainda resta muito a fazer para assegurar o manejo ecologicamente saudável das substâncias químicas tóxicas dentro dos princípios de desenvolvimento sustentável e de melhoria da qualidade de vida da humanidade. Por esses motivos, o Inciso V do § 1º do Art. 225 da CF tratou do controle de produtos tóxicos visando “controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente”. Esse controle é exercido de maneira preventiva, por ocasião do Licenciamento, e, após a sua operação, por auditorias. Algumas das leis regulamentadoras desse inciso são a Lei de Biossegurança(Lei nº 11.105/05) e a Lei de Agrotóxicos (Lei nº 7.802/89), que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o
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