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Autor: Prof. Ailton Galdino de Almeida Colaboradores: Prof. Santiago Valverde Prof. Alexandre Saramelli Prof. Maurício Martins do Fanno Fundamentos da Gestão Financeira Professor conteudista: Ailton Galdino de Almeida O professor Ailton Galdino de Almeida é graduado em Administração de Empresas, pós-graduado em Gestão Financeira e especialista em Docência do Ensino Superior. É membro de diversos conselhos, como o Conselho de Administração do Banco do Povo Credito Solidário e a Comissão Municipal de Orçamento Participativo. Possui vivência na execução de Programas de Qualificação Profissional, atua como técnico em planejamento, supervisão, acompanhamento e avaliação de projetos, coordenador técnico de programas federais, municipais e estaduais pela instituição Associação de Promoção Humana e Resgate da Cidadania. Também trabalha como consultor de empresas na área financeira. Frequentou o curso de Administração de Empresas pelo Instituto Solco (Efeso, Rimini, Itália) e de Administração de Entes no Profit na Emilia Romagna/Instituto Efeso (Itália), Cooperativismo Social pelo Consórcio de Cooperativas Solco (Itália), capacitação em Políticas de Emprego e Renda e de Educação Profissional em Economia de Trabalho pelo Ministério do Trabalho (FAT/GDF/Unicamp). Cursou capacitação para coordenadores pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI), repasse da metodologia para facilitadores (Jovem Empreendedor pelo Sebrae/ SP) e Administração para Organização do Terceiro Setor (Fundação Salvador Arena/FGV). Atua como consultor de empresas há 10 anos, operando no universo das micro e pequenas organizações. Tem seu foco voltado para projetos de desenvolvimento local e para os conceitos da Economia Solidária. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) A447f Almeida, Ailton Galdino de Fundamentos da gestão financeira / Ailton Galdino de Almeida. 2. ed. São Paulo: Editora Sol, 2012. 148 p., il. 1.Gestão financeira. 2. Mercado de ações. 3. Ambiente Organizacional. I. Título. CDU 658.15 U420.13 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Janandréa do Espírito Santo Amanda Casale Sumário Fundamentos da Gestão Financeira APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 GESTÃO FINANCEIRA ......................................................................................................................................11 1.1 A função financeira nas organizações ..........................................................................................11 1.1.1 Meta da administração financeira ................................................................................................... 14 1.1.2 Maximização do preço da ação ........................................................................................................ 14 1.1.3 O valor do dinheiro no tempo ........................................................................................................... 16 1.2 Decisões financeiras ............................................................................................................................ 16 1.2.1 Decisões de investimento .................................................................................................................... 17 1.2.2 Decisões de financiamento ................................................................................................................. 17 1.2.3 Preocupação com os resultados ....................................................................................................... 19 1.3 Competências do gestor financeiro .............................................................................................. 19 2 CONCEITO DE EMPRESA ............................................................................................................................... 20 2.1 Tipos de empresas ................................................................................................................................ 21 2.1.1 Personalidade jurídica das organizações ....................................................................................... 22 2.1.2 Principais definições de empresas ................................................................................................... 23 2.1.3 Classificação quanto à constituição da empresa ....................................................................... 24 2.2 Tributação das organizações ............................................................................................................ 25 2.2.1 Tributação – Lucro Real, Presumido ou Simples ........................................................................ 26 2.2.2 Simples Nacional ..................................................................................................................................... 28 2.3 Ética e Gestão Financeira .................................................................................................................. 29 2.3.1 Estudo de caso: Ultrapassando os limites do poder ................................................................. 31 2.3.2 Estudo de caso: Os valores na empresa familiar ........................................................................ 33 2.3.3 Estudo de caso: Atitudes que geram resultados e prêmios ................................................... 34 Unidade II 3 SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO .......................................................................................................... 39 3.1 Mercado financeiro.............................................................................................................................. 40 3.2 Estrutura do Sistema Financeiro Nacional ................................................................................. 41 3.2.1 Investidores institucionais .................................................................................................................. 46 3.2.2 Valores mobiliários ................................................................................................................................. 47 3.2.3 Ativos financeiros ................................................................................................................................... 47 4 MERCADO DE AÇÕES ..................................................................................................................................... 50 4.1 O valor de uma organização ............................................................................................................ 51 4.1.1 Quanto vale a ação ................................................................................................................................52 4.1.2 Espécies de ações .................................................................................................................................... 53 4.1.3 Tipos de acionistas ................................................................................................................................. 56 4.2 Bolsa de Valores .................................................................................................................................... 57 4.2.1 Negociação pelo pregão ...................................................................................................................... 59 4.2.2 Formação de preços ............................................................................................................................... 60 4.2.3 Tipos de ordem de compra ou venda ............................................................................................. 60 4.2.4 Liquidação, direitos e proventos ....................................................................................................... 61 4.2.5 Tributação e custo de transação ..................................................................................................... 61 4.3 Índices de avaliação de ações ......................................................................................................... 62 4.3.1 Estudo de caso: País pode lançar este ano no mercado externo títulos da dívida em real, diz secretário do Tesouro ................................................................................................. 64 4.3.2 Estudo de caso: Mercado rebaixa previsão de inflação........................................................... 64 4.3.3 Estudo de caso: Dar lucro aos acionistas não é a missão da empresa ............................. 65 Unidade III 5 ANÁLISE DA INSOLVÊNCIA TÉCNICA ........................................................................................................71 5.1 Relação entre risco e retorno ...........................................................................................................71 5.1.1 Estudo da alavancagem ....................................................................................................................... 71 5.2 Microeconomia e macroeconomia ................................................................................................ 72 5.2.1 Instrumentos de política macroeconômica ................................................................................. 73 5.2.2 Estrutura de análise macroeconômica ........................................................................................... 74 5.3 Estrutura de mercado ......................................................................................................................... 74 5.3.1 Formação de preços ............................................................................................................................... 75 5.3.2 Monopólio ................................................................................................................................................. 76 5.3.3 Oligopólio ................................................................................................................................................... 77 5.3.4 Teoria dos Jogos ...................................................................................................................................... 78 5.3.5 Economia da informação .................................................................................................................... 79 5.3.6 Mark-up ...................................................................................................................................................... 79 6 FUNCIONAMENTO E ESTRUTURA DO MERCADO................................................................................ 80 6.1 Capital de Giro (CG) ou Capital Circulante (CC) ...................................................................... 81 6.1.1 Capital de Giro Líquido (CGL) ou Capital Circulante Líquido (CCL) .................................... 82 6.1.2 Alterações do Capital Circulante Líquido ...................................................................................... 83 6.2 Ciclos operacionais .............................................................................................................................. 83 6.2.1 Ciclo econômico ...................................................................................................................................... 84 6.2.2 Ciclo Financeiro (CF) ou Ciclo de Caixa .......................................................................................... 84 6.2.3 Ciclo Operacional e Ciclo Financeiro ............................................................................................... 87 6.3 Necessidade de Capital de Giro ...................................................................................................... 88 6.3.1 O retorno realizável do acionista ..................................................................................................... 91 6.3.2 Perspectiva de longo prazo ................................................................................................................ 92 6.3.3 Época de ocorrência dos retornos .................................................................................................. 92 6.3.4 Recursos não onerosos ......................................................................................................................... 93 6.4 Planejamento financeiro ................................................................................................................... 94 6.4.1 Estudo de caso: Tentando explicar a crise financeira .............................................................. 98 6.4.2 Estudo de caso: Grau de investimento endossa mudanças no Brasil .............................101 6.4.3 Estudo de caso: A taxa de juros a um dígito no Brasil: uma análise pelos dois lados da moeda .................................................................................................................................................101 6.4.4 Estudo de caso: Capital de Giro .....................................................................................................102 6.4.5 Estudo de caso: Afilhadas muito estranhas ...............................................................................103 6.4.6 Estudo de caso: Cacau Show ...........................................................................................................104 Unidade IV 7 AMBIENTE ORGANIZACIONAL ................................................................................................................. 110 7.1 Planejamento organizacional ........................................................................................................ 110 7.2 Matemática financeira nas organizações ................................................................................. 113 7.2.1 A matemática financeira nas atividades diárias ...................................................................... 114 7.2.2 Regime de juros simples .................................................................................................................... 114 7.2.3 Regime de juros compostos ............................................................................................................. 115 7.2.4 Sistema de amortização .....................................................................................................................115 8 TECNOLOGIA NA GESTÃO FINANCEIRA ................................................................................................ 116 8.1 A tecnologia como agregação de valores às organizações ............................................... 117 8.1.1 A relação da tecnologia com a gestão financeira ................................................................... 118 8.1.2 A aplicaçãoda tecnologia como retorno financeiro .............................................................. 119 8.1.3 Avanço da tecnologia nas organizações .................................................................................... 120 8.2 Hardware, dispositivos e periféricos como instrumentos de tomadas de decisão .............. 120 8.2.1 Computadores ....................................................................................................................................... 120 8.2.2 Periféricos dos computadores ........................................................................................................ 122 8.2.3 Sistema operacional e redes ............................................................................................................ 122 8.2.4 Software aplicativo e linguagens de programação ............................................................... 122 8.2.5 Software de automação de escritórios ou Office ................................................................... 123 8.2.6 Software utilitário ............................................................................................................................... 124 8.2.7 Software de automação .................................................................................................................... 124 8.3 Sistemas de telecomunicações .....................................................................................................125 8.3.1 Estudo de caso: Quero ter minha pontocom ........................................................................... 126 8.3.2 Estudo de caso: Quem acredita na bolha? ................................................................................ 127 8.3.3 Estudo de caso: Troca de dívida é saída para quem está enforcado no cheque especial ou cartão ........................................................................................................................................... 129 8.3.4 Estudo de caso: Endividamento de empresa brasileira no exterior despenca ............ 129 8.3.5 Estudo de caso: O uso dos equipamentos e recursos da empresa ...................................131 8.3.6 Estudo de caso: Planos de negócios, convergência para o futuro .................................. 132 9 APRESENTAÇÃO O objetivo desta disciplina é contribuir na formação do profissional a fim de que ele possa atuar dentro de uma organização, seja de pequeno, médio ou grande porte, planejando, liderando, captando investimentos para a companhia. Outra área importante de atuação do gestor é a auditoria. A conturbada situação financeira de algumas economias mundiais, principalmente dos países da Europa, demanda dos operadores financeiros do mundo todo um acompanhamento intenso da macroeconomia, aumentando a procura por tecnólogos que, em sua grande parte, atuam em setores como departamento de crédito, cobrança e tesouraria. Convidamos o aluno a discutir situações práticas por meio dos estudos de caso, que ajudarão no processo de formação, passando por atividades que envolvem fundamentos das finanças, mercado de capitais, capital de giro e formação de preços, ética e comportamento organizacional. Seja bem-vindo! INTRODUÇÃO Caro aluno, Este material criado para abordar assuntos voltados à gestão financeira e pretende ajudá-lo a conhecer a estrutura organizacional típica da função financeira, desenvolvendo um planejamento financeiro, de curto, médio e longo prazo que atenda o planejamento estratégico da empresa e que considere seus objetivos e metas. Para isso, é preciso caracterizar as áreas de decisões da administração financeira, identificando a estrutura organizacional e as preocupações da administração financeira. Além disso, é preciso caracterizar as metodologias de pesquisas econômicas e financeiras, identificar e correlacionar as etapas do planejamento financeiro, bem como suas atribuições. Também é importante caracterizar o planejamento financeiro. Sendo assim, serão abordados temas como: • a administração financeira (definição e objetivos, áreas de decisões, atribuições do gestor, estrutura organizacional da empresa, preocupações do gestor quanto à sua função dentro da empresa); • o planejamento financeiro (objetivos, amplitudes, importância, capital de giro, investimento, avaliações); • a organização de informações para planejamento financeiro de curto, médio e longo prazos; • as comparações entre políticas financeiras e diferentes realidades das organizações; • a elaboração dos relatórios financeiros e gerenciais; 10 • a utilização de instrumentos da matemática financeira, realização de cálculos estatísticos para elaboração de pesquisa e gráficos e utilização de aplicativos de informática. Bom estudo! 11 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA Unidade I 1 GESTÃO FINANCEIRA 1.1 A função financeira nas organizações Lawrence Gitman (2006) define finanças como a ciência da gestão do dinheiro. Assim, tudo o que envolve investimento, captação de recurso, gerenciamento de valores, tomada de decisão financeira são foco do estudo da finança quanto ciência. Para Gitman (2004), a Gestão Financeira está ligada às responsabilidades do gestor financeiro em gerenciar as finanças dentro de uma organização – seja ela pública, privada, grande, média, pequena, com ou sem fins econômicos – desempenhando a tarefa de planejar, organizar, liderar e controlar. Utilizando essas ferramentas, ele analisa os documentos fornecidos pela contabilidade, faz orçamentos, gerencia o caixa, analisa, propõe condições para investimento, identifica fontes para financiamentos e capta recursos, entre outras atribuições. A gestão financeira tem por objetivo principal maximizar os lucros da organização e gerar riquezas para os sócios e acionistas. Nesse sentido, as atividades organizacionais envolvem recursos financeiros e orientam-se para a obtenção de lucros. Os recursos investidos na organização pelos proprietários podem ser definidos como capital próprio – demonstrado na conta de Patrimônio Líquido no Balanço Patrimonial – e por terceiros – demonstrado na conta Capital de Terceiros no Passivo Exigível do Balanço Patrimonial – e encontram-se aplicados em ativos empregados na produção e comercialização de bens ou na prestação de serviços. Quadro 1 – Balanço patrimonial Ativo Passivo exigível Exigível de longo prazo Capital de terceiros Patrimônio líquido Capital próprio Saiba mais O BNDES é a principal fonte de recursos como capital de terceiros. Conheça mais sobre ele através do site: <http://www.bndes.com.br>. 12 Unidade I As receitas obtidas com as operações da organização devem ser suficientes para cobrir todos os custos e despesas incididas e ainda maximizar as riquezas da organização. Paralelamente a esse fluxo econômico de resultados, ocorre uma movimentação de recursos que devem permitir que a organização honre com seus compromissos dentro do prazo estipulado, evitando assim a contração do risco de insolvência técnica. Observação Insolvência técnica é a incapacidade de a organização honrar com seus compromissos na data estipulada. Assim, a tarefa do gestor financeiro compreende uma série de ações relacionadas à administração dos recursos (bens, direitos e obrigações) movimentados por todas as áreas da empresa. Com isso, vale dizer que o gestor exerce um papel muito importante na realização dessas atividades porque ele é responsável pela captação dos recursos e pela decisão de quais estratégias gerenciais utilizar a fim de contribuir para o desenvolvimento da organização. O quadro a seguir apresenta as principais funções da gestão financeira dentro de uma organização, divididas em duas áreas: tesouraria e controladoria. As funções de tesouraria são desenvolvidas pelo gerente financeiro, já as funções de controladoria são desenvolvidas pelo controller. Essas funções variam de acordo com as necessidades de cada organização. Quadro 2 – Funções da gestão financeira Tesouraria ControladoriaGestão de caixa Gestão de custos e preços Crédito e cobrança Auditoria interna Gestão de risco Contabilidade Gestão de câmbio Orçamento Decisão de financiamento Planejamento tributário Decisão de investimento Patrimônio Planejamento e controle financeiro Relatórios gerenciais Gestão de ativos Acompanhamento de sistema financeiro As funções financeiras podem ser de curto prazo ou de longo prazo. As de curto prazo estão voltadas para as atividades de gestão do ativo circulante (gestão do caixa, contas pagar, contas a receber, gestão dos estoques e financiamentos de curto prazo). As ações do gestor devem levar a organização a dispor de recursos para honrar com os compromissos na data do vencimento; caso contrário, a empresa deve 13 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA recorrer a capital de terceiros. As funções financeiras voltadas a longo prazo dizem respeito a decisões financeiras estratégicas como custo de capital, orçamento de capital, estrutura de capital e relações com os investidores. Lembrete A gestão financeira tem por objetivo principal maximizar os lucros da organização e gerar riquezas para os sócios e acionistas. Home Depot – Construção de uma sólida situação financeira A divulgação de dados financeiros não é apenas uma responsabilidade do diretor financeiro. O papel desse profissional, atualmente como importante membro da equipe de gestão da empresa, passou a abranger o planejamento estratégico e, em muitas empresas, a gestão de informações. A administração das operações financeiras de uma organização envolve muitas atividades diferentes: planejamento, operações e análises financeiras, operações de tesouraria (captação de recursos e gestão de caixa), aquisição e avaliação de empresas, planejamento fiscal e relações com investidores também estão sob seu controle. Carol Tome, diretora financeira da empresa Home Depot, está diretamente subordinada ao presidente da empresa, Robert L. Nardelli. Ela trabalha em contato direto com ele e com Dennis J. Carey, vice-presidente executivo e diretor de estratégia. Os três estão envolvidos na gestão do crescimento futuro dessa grande organização, empresa do ramo varejista de material de construção. Além de ter responsabilidades estratégicas, Tome seleciona os indicadores financeiros básicos nos quais deseja que os gestores concentrem seus esforços. Esses indicadores estão vinculados ao clima da economia. Quando a economia estava em expansão, seu objetivo era elevar o ROI da empresa. No final de 2001, o ROI da Home Depot era de 16%, contra 14,7% para o setor de varejo de materiais de construção, 6,7% para o setor de serviços e 10,2% para as empresas cujas ações estavam contidas no índice S&P 500. Com a retração da atividade econômica em 2001, a ênfase recaiu sobre índices de eficiência que medem quão rapidamente as contas são convertidas em dinheiro. Para uma rede de estabelecimentos de varejo, são particularmente importantes os prazos de recebimentos de clientes e pagamento de fornecedores. A Home Depot contratou consultores para determinar padrões de referência para suas operações financeiras, com base em outras empresas de qualidade superior. “Estamos tentando promover o aumento da eficiência de processamento”, diz Tome. O aumento da produtividade das novas lojas e a redução dos custos de pré-abertura de lojas, juntamente com a maior atenção dada ao controle de custos, tem elevado as margens de lucro. No terceiro trimestre de 2001, quando muitas empresas anunciaram reduções de lucro, o lucro líquido e o lucro por ação da Home Depot elevaram-se em comparação com o mesmo período de 2000. Os indicadores 14 Unidade I de endividamento1 da empresa também revelam uma sólida posição financeira. O quociente entre dívidas e capital total mostra que somente 10% de seu financiamento total de longo prazo corresponde a capital de terceiros, o que é um grau muito baixo de endividamento. Essa posição sólida proporciona a Home Depot maior flexibilidade para buscar novos projetos, como a sua nova linha de produtos. GITMAN, 2006, p. 35 e 158 (adaptado). 1.1.1 Meta da administração financeira A função do gestor financeiro é gerenciar os ativos da organização para que gere lucro aos acionistas. Cada decisão financeira deve ter como objetivo o aumento dos recursos da organização. Na busca por atingir as metas, duas variáveis devem ser levadas em consideração: o retorno, que é a pretensão dos investidores, e o risco ligado às decisões de alocação dos recursos. Quanto mais retorno os acionistas desejam, maior deve ser o risco corrido para auferi-lo. Saiba mais Para aprofundar seu conhecimento sobre a elaboração de balanço patrimonial, consulte os capítulos 2 e 3 do livro “Administração financeira: princípios, fundamentos e práticas brasileiras”, de José Matias-Pereira. Para entender a diferença entre o objetivo de maximização das riquezas e o de maximização do lucro dentro de uma organização, pesquise o capítulo 1 do livro “Princípios de administração financeira”, de Lawrence Gitman. Os dados completos das obras estão nas Referências. 1.1.2 Maximização do preço da ação As cotações alcançadas pelas ações nas bolsas de valores em um mercado de capital inteiramente desenvolvido devem refletir o valor de mercado das empresas. Numa situação de desequilíbrio financeiro, as cotações apresentam-se em determinado momento superavaliadas ou mesmo subavaliadas, mas, em médio prazo, os valores das ações evidenciam quanto o mercado está disposto a pagar pelas frações do capital de cada empresa. O valor de mercado de uma organização não está ligado a ela ter ou não ações cotadas em bolsa. O valor de mercado de uma organização é o valor inicial dos lucros futuros. Assim, 1 O Ativo (aplicação de recursos) é financiado por capitais de terceiros (Passivo Circulante + Passivo Exigível L. Prazo) e capitais próprios (Patrimônio Líquido), pois ambos são origens de recursos. Estes índices evidenciam a forma que a organização utiliza os seus recursos (mais recursos próprios ou de terceiros). Participação de Capitais de Terceiros sobre Recursos Totais: Passivo Circulante + Exigível a Longo Prazo / Passivo Total. Para cada R$ 1,00 de obrigações que a empresa possui, R$ X são capitais de terceiros, ou seja, quanto representam os recursos de terceiros em relação a sua dívida total. 15 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA é a capacidade de gerar lucro que define o valor de uma organização por meio do uso de tecnologia e capacidade gerencial do administrador. Nesse contexto, o objetivo da administração financeira em buscar a valorização da empresa no mercado equipara-se aos objetivos dos acionistas em buscar a valorização dos investimentos realizados dentro da organização. Já a meta da gestão financeira é maximizar as riquezas dos acionistas, que vai além da simples maximização dos lucros, pois a maximização da riqueza envolve retorno do capital próprio, ou seja, a remuneração dos acionistas pelos recursos investidos na organização. Isso se dá por meio de dividendos e pela valorização de suas ações. Observação Dividendos: valor representativo de parte dos lucros da empresa distribuído aos acionistas, em dinheiro, por ação possuída. Legalmente, no mínimo 25% do lucro líquido do exercício deve ser distribuído aos acionistas. Antônio Barbosa (2005) relata que o proprietário de uma ação possivelmente espera receber seu retorno sob a forma de pagamentos periódicos de dividendos, por meio de valorizações no preço da ação ou ambos. O preço de mercado de uma ação reflete um valor de dividendos futuros esperados, bem como de dividendos correntes; a riqueza do acionista (proprietário) na organização em qualquer instante é medida pelo preço de mercado de suas ações. Se um acionista numa organização desejar liquidar sua participação, venderá a ação ao preço vigente no mercado ou bem próximo a dele. Uma vez que o preço de mercado da ação, e não os lucros, é que reflete a riqueza do proprietárionuma organização, num dado momento, a meta do gestor financeiro deve ser maximizar essa riqueza (BARBOSA, 2005, p. 5). Outra variável que deve ser levada em consideração, ainda segundo Antônio Barbosa, é a perpetuação da organização pela perspectiva de longo prazo. Isso requer do gestor uma atitude de investir em tecnologia, novos produtos etc., que muitas vezes pode sacrificar a rentabilidade atual, mas adquirir maiores benefícios futuros. Quando se fala em maximização dos lucros, pensa-se em uma abordagem de ações voltadas ao curto prazo; já na maximização da riqueza, a abordagem das ações está voltada ao longo prazo. Saiba mais No site da Bolsa de Valores, é possível encontrar informações de como operar com ações. Acesse-o em: <http://www.bmfbovespa.com.br>. 16 Unidade I 1.1.3 O valor do dinheiro no tempo Os projetos de investimento abarcam fluxos de entrada e saída de caixa. Existem inúmeras técnicas de estimativa de projetos que, para avaliá-los, transformam os fluxos futuros de caixa em valores presentes, através da aplicação de determinada taxa de desconto, que tende a refletir um custo de oportunidade dos recursos que serão investidos. Observação Custo de oportunidade é a taxa mínima de retorno exigida do projeto para que não se altere o valor de mercado da organização. O valor do dinheiro no tempo é o valor de um ativo no passado, presente ou no futuro baseado na premissa de que o valor original será acrescido no tempo através de juros. Levando em conta o valor do dinheiro no tempo, a seleção dos projetos a serem implementados objetivará a aumentar ou manter o valor de mercado da organização. Por fim, a variável risco deve ser levada em consideração no momento do investimento, de forma que o gestor perceba que o retorno do investimento deve ser compatível com o risco assumido. Quanto maior o risco, maior tenderá a ser o retorno. A maximização do lucro não leva em consideração o risco, mas a maximização da riqueza sim. Os acionistas almejam receber maiores retornos de investimentos de maior risco e vice-versa. Assim sendo, os gestores financeiros necessitam levar em consideração o risco ao avaliar possíveis investimentos. Saiba mais Assista ao filme À Procura da Felicidade, de Gabriele Muccino (1996). O filme, baseado em fatos reais, conta a história de um pai solteiro que enfrenta sérios problemas financeiros depois de arriscar-se em um empreendimento que não deu certo. Ele consegue uma vaga de estagiário numa importante corretora de ações, mas não recebe salário pelos serviços prestados. Despejados, ele e o filho enfrentam vários desafios, mantendo a esperança de que dias melhores virão. 1.2 Decisões financeiras Na gestão financeira, é possível identificar duas áreas de decisões: 17 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA 1.2.1 Decisões de investimento Essa decisão está mais ligada ao gerenciamento da estrutura do ativo que ao processo de implementação de novos projetos. Vale salientar que as grandes variações, as crises e as disputas no ambiente econômico fazem com que as organizações assumam o desafio de estarem sempre atualizadas, já que o mercado é disputado. Assim, nenhuma organização deve se sentir tranquila quando o assunto é assumir o desafio na busca da maximização das riquezas dos acionistas. A busca por novos projetos, novos desafios, traz consigo a necessidade de recursos adicionais e leva em consideração que o retorno desses recursos é mais prolongado, daí a necessidade de o gestor conhecer tecnicamente as ferramentas que o auxilia na tomada de decisões. Quadro 3 – Decisões de investimento Ativo Questões a serem respondidas Ativo circulante Caixas e bancos Contas a receber Estoques Outros Realizável de longo prazo Contas a receber Adiantamento a coligadas Ativo permanente Imobilizado Investimentos Diferido Total Onde estão aplicados os recursos financeiros? Quanto está aplicado em ativos circulantes? Qual a melhor composição dos ativos? Qual o risco do investimento? Qual o retorno do investimento? Quais as novas alternativas de investimento? Como decidir em quais ativos investir? Como maximizar a rentabilidade dos investimentos existentes? O que deve ser descartado, reduzido ou eliminado, por não acrescentar valor? 1.2.2 Decisões de financiamento As decisões de investimento abarcam importantes aspectos de natureza não financeira. Já as decisões de financiamento apresentam-se como responsabilidade exclusiva do gestor financeiro. As decisões de financiamento propõem a estrutura financeira apropriada às transações normais e aos novos projetos que serão implantados na empresa. As questões relacionadas às decisões de financiamento dizem respeito à composição das fontes de recursos. 18 Unidade I Quadro 4 – Produtos de investimento Título Característica CDI: certificado de depósito interbancário CDB: certificado de depósito bancário Export Notes Cadernetas de poupança Títulos públicos Letras e notas do Tesouro Nacional Letras e bônus do Banco Central Lastro para operações entre os bancos no mercado monetário Captação de recursos dos investidores para os bancos Contrato de cessão de crédito de exportação Aplicação de pequenos poupadores Captação pra o governo Cobertura de déficits orçamentários Fins de política monetária Produtos de financiamentos Descontos de duplicatas e notas promissórias Hot money Leasing financeiro: arrendamento mercantil CDC: Crédito direto ao consumidor Contas garantidas: cheque especial Vendor finance Operação 63 Recurso de curto prazo para as empresas Empréstimo de curtíssimo prazo para financiamento de capital de giro Financiamento de médio e longo prazo Concessão de crédito ao consumidor final, por sociedades de créditos, financiamento e investimento Contrato de crédito rotativo Financiamento de vendas baseado no princípio da cessão de créditos Captação de recursos no exterior por instituição financeira que repassam para as empresas Quadro 5 – Decisões de financiamento Ativo Questões a serem respondidas Passivo circulante Fornecedores Empréstimos e financiamentos Debêntures Outros Exigível de longo prazo Financiamentos Patrimônio líquido Capital social Lucros ou prejuízos acumulados Total Qual a estrutura de capital? De onde vêm os recursos? Qual a participação do capital de terceiros? Qual o perfil de endividamento? Qual o custo de capital? Como reduzi-lo? Quais as fontes de financiamento utilizadas e seus respectivos custos? Quais deveriam ser substituídas ou eliminadas? Qual o risco financeiro? Qual o sincronismo entre os vencimentos das dívidas e a geração de meios de pagamentos? 19 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA 1.2.3 Preocupação com os resultados Para conseguir maximizar as riquezas da organização, o gestor preocupa-se também com os resultados apresentados nas demonstrações financeiras. O quadro abaixo apresenta as principais questões a serem respondidas. Da mesma forma que nas decisões de investimento e financiamentos, as respostas dependem de fatores tanto internos quanto externos à organização. Quadro 6 – Resultados Demonstrações do resultado Questões a serem respondidas Receita operacional (-) Deduções da receita Impostos incidentes Devoluções (=) Receita operacional líquida (-) Custos operacionais (=) Resultado operacional bruto (-) Despesas operacionais Comercialização Administrativas Amortização Despesas financeiras Outras despesas (=) Resultado operacional (+) Resultado não operacional (=) Lucro antes do IR (-) Imposto de renda (=) Lucro líquido do exercício Quais resultados obtidos, como mantê-los ou melhorá-los? Qual o crescimento das vendas? E dos custos? E das despesas? Qual a participação percentual dos custos e das despesas em relação às receitas? Qual a margem líquida de venda? Quais os custos e despesas que podem ser reduzidos? As receitas obtidas estão compatíveis com os investimentos? Os lucros têm atingido as metas estabelecidas?Como são quando comparados com os das melhores empresas do ramo? 1.3 Competências do gestor financeiro As tarefas do gestor financeiro dentro da empresa podem ser avaliadas em relação às três atribuições primordiais: planejamento financeiro, interpretação dos dados brutos e determinação do tipo de financiamento a ser realizado. Veremos cada uma delas a seguir. • Planejamento financeiro: o gestor financeiro recebe as informações contábeis fornecidas pelo departamento de contabilidade e, de posse desses dados brutos, irá traduzi-los em estratégias de maximização de recursos. • Interpretação dos dados brutos: o gestor transforma os dados em informação, organizando-os de forma que os colaboradores possam assimilar qual estratégia será utilizada na produção de riquezas. 20 Unidade I • Determinação do tipo de financiamento a ser realizado: nesse tipo de decisão, é importante envolver os níveis tático e operacional. O balanço patrimonial e a demonstração do resultado do exercício são fontes importantes para elaboração do planejamento financeiro. A abordagem do caixa é indispensável ao gestor financeiro, destacando a diferença entre a ótica do contador e a do gestor. Enquanto o contador gera informações com base no regime de competência, o gestor gera informações com base no regime de caixa, dando considerável importância do fluxo de caixa. O gestor financeiro define os tipos de ativos que compõem o balanço patrimonial, buscando manter níveis positivos para cada tipo de Ativo, tanto o Circulante quanto o Permanente e percebe o momento da substituição ou modificação daqueles considerados. Essa tarefa do gestor contempla as metas a serem alcançadas em curto, médio e longo prazo. Várias técnicas podem ser utilizadas para auxiliar nas decisões, como a Taxa Média de Retorno, Payback (Prazo de Retorno), VPL (Valor Presente Líquido) e TIR (Taxa Interna de Retorno). 2 CONCEITO DE EMPRESA Empresa é uma organização criada para desenvolver uma atividade com ou sem fins econômicos e pode ser individual ou coletiva, de acordo com o número de sócios envolvidos na sua composição. As empresas podem ser classificadas quanto ao: • objetivo: comercial, industrial ou de prestação de serviços; • tamanho: grande, média, pequena, micro; • estrutura: individuais, coletivas, públicas, mistas; • volume de trabalho interno: simples, complexas. Podem ser classificadas também pelo setor econômico e, de acordo com o tipo de prestação da empresa, podem pertencer às seguintes categorias: • setor primário: corresponde à agricultura; • setor secundário: corresponde à indústria; • setor terciário: corresponde ao setor de serviços; • setor quaternário: corresponde às organizações não governamentais. Observação No Brasil existem cerca de 6 milhões e 600 mil empresas formais, das quais 99% são micro e pequenas empresas. 21 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA 2.1 Tipos de empresas Firma individual é o tipo de organização criada por apenas uma pessoa com responsabilidade ilimitada, ou seja, todos os seus bens podem ser tomados em juízo para saldar dívidas. Esse é um tipo de forma jurídica que se aplica a atividades de indústria e/ou comércio. O nome da firma será o do titular, sendo possível que o ativo e o passivo (estoques, máquinas, contas a pagar etc.) sejam transferidos a outra pessoa jurídica, menos a empresa que, por ser firma individual, é intransferível. Uma firma individual não pode ser vendida, nem admitir sócios. Quadro 7 – Abertura de empresas Abertura de empresas • Documentos de identificação dos sócios da empresa, cédula de identidade, CPF, comprovante de endereço, telefone, certidão negativa na receita federal. Requisitos para constituir uma empresa • Elaborar o plano de negócios, efetuar “busca prévia” de local de funcionamento e do nome da empresa no cartório ou na junta comercial. • Elaborar o contrato social da empresa com visto de um advogado, assinar e reconhecer firma do proprietário ou sócios, buscar registro no respectivo conselho de classe, registrar o contrato social da empresa. • Se for comércio, procurar a junta comercial, se for prestador de serviços, procurar cartório para registro civil das pessoas jurídicas. • Inscrição no Cadastro Nacional Pessoa Jurídica (CNPJ) na Receita Federal. • Inscrição no INSS, numa agência do INSS. • Inscrição na Secretaria Estadual de Fazenda para atividade de compra e venda de mercadorias. • Obtenção do alvará de funcionamento. Aquisição e autenticação de livros fiscais. • Impressão de notas fiscais (a autorização para emissão é concedida pelo posto fiscal da Secretaria da Fazenda da jurisdição ou pela Prefeitura, no caso de empresas de serviços). Nos casos de empresas virtuais • Para registrar um domínio (.com.br) na internet, é necessário ter uma empresa legalmente registrada na Receita Federal. É preciso verificar também se o domínio desejado está disponível para o registro. Saiba mais É possível legalizar-se mesmo sem precisar abrir uma empresa. Dependendo do produto, há a possibilidade de se conseguir registros como artesão, autônomo ou até mesmo ambulante. Para saber mais, visite o site do Sebrae no endereço: <http://www.sebrae.com.br>. 22 Unidade I 2.1.1 Personalidade jurídica das organizações • Empresa de capital aberto É definida como uma sociedade anônima, na qual o capital social é formado por ações. Cada ação representa a menor parcela do capital de uma empresa e vem representada por um documento chamado apólice. Assim, uma pessoa que adquiriu ações passa a ser proprietária ou acionista de uma parte da empresa e pode participar diretamente das decisões. Entretanto, do mesmo modo, passa a responder por dívidas assumidas pelo corpo diretivo da empresa, o conselho de administração, e os gerentes executivos ou diretores, os membros da diretoria executiva. • Sociedade de economia mista É uma sociedade na qual há colaboração entre o Estado e particulares, os dois reunindo recursos para a realização de uma finalidade, sempre de objetivo econômico. O Estado pode ter uma participação majoritária ou minoritária; entretanto, mais da metade das ações com direito a voto devem pertencer ao Estado. Difere-se das empresas públicas, nas quais o capital é 100% público e difere-se também das sociedades anônimas, em que o governo tem posição acionária minoritária, pois o controle da atividade é privado. A sociedade de economia mista é uma pessoa jurídica de direito privado e não se beneficia de isenções fiscais ou de foro privilegiado. É uma sociedade anônima, e seus funcionários são regidos pela CLT, normalmente sendo efetivados na empresa depois de um prazo. Esse tipo de sociedade frequentemente tem suas ações negociadas em bolsa de valores como o Banco do Brasil, Petrobras, Banco do Nordeste, e Eletrobrás. • Empresa de capital fechado Diferente da empresa de capital aberto, na sociedade anônima, o capital social vem representado por ações e normalmente está dividido entre poucos acionistas. A pessoa física que desejar adquirir essas ações terá o desafio de convencer um dos acionistas a vendê-las. Em seguida, ela precisará fazer uma escrituração da transferência da propriedade das ações no livro de transferência de ações nominativas da companhia. Ao contrário das companhias de capital aberto, essas ações não são comercializadas em bolsas de valores ou no mercado de balcão. É permitido a uma empresa de capital fechado apenas emitir e comercializar suas ações em distribuição privada, sendo proibida a veiculação de anúncios para sua colocação pública. Como companhia de capital fechado, não possui o registro perante a Comissão de Valores Mobiliários (CVM); para colocar as ações junto ao público, ela necessita abrir seu capital, transformando-se em uma empresa aberta. Uma empresa de capital aberto difere-se de uma de capital fechado apenas pelo tratamento contábil, no caso de empresas de tamanho semelhantes, escolhida pelos proprietários da empresade acordo com seus interesses. Nas empresas de capital aberto, os executivos-diretores são subordinados aos acionistas 23 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA que, por sua vez, são representados pelo conselho de administração, a fim de que a empresa tome a direção que lhes pareça melhor. 2.1.2 Principais definições de empresas • Micro Empreendedor Individual (MEI) Criado para que os trabalhadores informais busquem a formalidade de suas atividades de autônomos. O MEI foi introduzido pela Lei Complementar 128/08 e inserido na Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (Lei Complementar 123/06), que possibilita a formalização de empreendedores por conta própria. Suas principais características são: empresa individual (sem sócios); faturamento mensal até 3 mil reais; ter apenas um funcionário; a atividade da empresa tem que se enquadrar no Simples Nacional; o empreendedor não pode ter empresa em seu nome; recolhimento dos impostos por meio do Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS), incluindo o pagamento da Previdência, do ISS e do ICMS. Isenção de outros tributos, como IRPJ, PIS, Cofins e IPI. • Microempresa (ME) Empresa com faturamento anual reduzido, cujo pagamento de impostos pode ser realizado de forma simplificada. Na atual legislação brasileira, microempresa (ME) é a pessoa jurídica, ou a ela equiparada, que aufira, em cada ano-calendário, receita bruta igual ou inferior a R$ 240.000,00. Principais características: A ME pode optar pelo Simples/Federal, desde que se dedique às atividades enumeradas na lei; Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS); Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS); privilégios em compras públicas como: licitação exclusiva para microempresas e empresas de pequeno porte. • Empresa de Pequeno Porte (EPP) Pessoa jurídica que aufira, em cada ano-calendário, receita bruta superior a R$ 240.000,00 e igual ou inferior a R$ 2.400.000,00, cálculo sobre a receita bruta. Suas principais características são: a possibilidade de optar pelo Simples/Federal, desde que e dedique às atividades enumeradas na lei; a aplicação de alíquota única, em um único documento de arrecadação, chamado Darf-Simples; inclusão no sistema dos tributos Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ); Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL); Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins); Contribuição para o PIS/Pasep; Contribuição Patronal Previdenciária (CPP) para a seguridade social. • Macroempresa Também conhecida por empresa de grande porte ou grande empresa, é aquela que possui mais de 500 empregados para indústria ou, no caso do comércio ou serviços, mais de 100 empregados. Principais características: ativo no exercício social anterior superior a R$ 240.000.000,00 (duzentos 24 Unidade I e quarenta milhões de reais) ou receita bruta anual superior a R$ 300.000.000,00 (trezentos milhões de reais). Possuem tratamento diferenciado por alguns governos por terem uma estrutura de maior capacidade de produção. Geralmente a diferença é baseada pela quantidade de empregados ou faturamento da empresa (cobrança de mais impostos ou incentivos fiscais específicos). 2.1.3 Classificação quanto à constituição da empresa • Sociedade Comercial por Quotas de Responsabilidade Limitada (Ltda.) Empresa constituída por dois ou mais sócios, com atividade industrial e/ou comercial. A responsabilidade de cada um é limitada à importância do capital social, dividido em quotas e distribuído proporcionalmente entre eles. No nome da firma, é obrigatório constar a identificação da sua tipicidade através da inclusão da palavra “Limitada” ou da abreviatura “Ltda.” no seu nome. • Sociedade Civil (S/C Ltda.) Empresa constituída obrigatoriamente por duas ou mais pessoas, tendo por objeto apenas a prestação de serviços. As Sociedades Civis, reguladas pelo Código Civil, não podem praticar atos de comércio. • Sociedade Anônima Possui seu capital distribuído em ações e a responsabilidade de cada sócio, ou acionista, é correspondente a quantidade e valor das ações que ele possui. • Sociedade Simples Formada por pessoas que exercem profissão de natureza intelectual, científica, artística ou literária, mesmo sem contar com colaboradores. Saiba mais Acesse o site <http://www.receita.fazenda.gov.br> para conhecer as normas do Simples Nacional. • Sociedade em Comandita Simples Tipo de sociedade em que, ao lado dos sócios de responsabilidade ilimitada e solidária, existem aqueles que entram apenas com o capital, não participando da gestão do negócio, tendo, portanto, sua responsabilidade restringida ao capital subscrito. 25 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA • Sociedade em Comandita por ações São regidas pelas normas das sociedades anônimas porque tem seu capital dividido em ações. Na atualidade, e de acordo com a tipologia de empresas predominante no sistema brasileiro, é importante dar atenção à lei geral da micro e pequena empresa, que surgiu em 2004 como uma oportunidade de resposta positiva aos desafios do crescimento econômico, da geração de empregos e da distribuição de renda. O fortalecimento das pequenas empresas se deu com a promulgação da Reforma Tributária, em 19 de dezembro de 2003, visando à inclusão social, à geração de emprego e ao desenvolvimento da economia. A Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas vem regular incentivos como a introdução de um sistema mais simples e justo de pagamento de impostos e contribuições, crédito facilitado, redução da burocracia e maior acesso às compras governamentais, às exportações e às novas tecnologias. O Estatuto Federal das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, aprovado pela Lei nº 9.841, de 1999, criou benefícios em diversos campos, como o administrativo, o trabalhista, o de crédito e de desenvolvimento empresarial. Esses campos estavam à esfera de atuação do governo federal, uma vez que uma lei ordinária federal não pode obrigar os Estados e os municípios. O artigo 146, II, “d” da Constituição Federal facultou à lei complementar estabelecer um regime nacional único de arrecadação para incorporar os tributos devidos pelas micro e empresas de pequeno porte à União, aos Estados e aos municípios. 2.2 Tributação das organizações Os tributos que incidem sobre as empresas, de modo geral, podem variar de acordo com o enquadramento como microempresa ou pequena empresa. Os principais tributos são: o IRPJ (Imposto de Renda de Pessoa Jurídica), a Cofins, o IRRF (Imposto de Renda Retido na Fonte), o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), rendimento do titular ou dos sócios, contribuição Social, o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), imposto estadual, imposto municipal, contribuição sindical, empregados e trabalhadores avulsos, patronal, outros recolhimentos, II (Imposto sobre Importação) e INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social), dependendo do porte e da atividade desenvolvida pela organização. O conhecimento do gestor de uma micro e pequena organização em gestão tributária é importante para que o empreendimento tenha sucesso, portanto é importante fazer um levantamento dos impostos e tributos que incidirão na atividade econômica escolhida. Saiba mais No site <http://www.receitafederal.gov.br> é possível encontrar as alíquotas e informações sobre a carga tributária mais favorável para a organização. 26 Unidade I Devido ao grande número de tributos e à elevada carga tributária, os gestores devem estar atentos à melhor forma de facilitar cada vez mais os seus procedimentos fiscais. O mesmo vale para as empresas que optam pelo sistema de tributação Simples (sistema integrado de pagamento de impostos e contribuições da microempresa e da empresa de pequeno porte). Os gestores devem estar atentos quanto à importância do planejamento tributário para que consigama maior economia na gestão da organização. O sistema tributário brasileiro é muito complexo, sendo assim, é muito comum a dúvida sobre o que são impostos e o que são encargos sociais. Tributos são impostos que incidem sobre o faturamento da empresa, já os encargos sociais incidem sobre a folha de pagamento. Na formação de preço dos produtos, os tributos são considerados como despesas variáveis e os encargos sociais são despesas fixas. Existem tributos e contribuições que estão contidos no preço do produto, tais como o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), a Cofins e o PIS. Existem impostos e contribuições que não estão diretamente ligados ao preço dos produtos, mas compõem os custos de produção, como o IR (Imposto de Renda) e a CSSL (Contribuição Social Sobre o Lucro). O planejamento tributário é o instrumento que os gestores devem utilizar com o objetivo de reduzir a carga tributária sobre as operações e tornar a organização mais competitiva. Um bom planejamento evita problemas de ordem tributária para a empresa, trazendo credibilidade ao mercado e aos acionistas. Quando se conhece bem o sistema, o gestor tem como criar um planejamento e tomar decisões corretas quanto à melhor forma de tributação com a finalidade de reduzir o valor despendido em tributos, mantendo-se dentro dos parâmetros legais e garantindo maior sobrevivência e liquidez para organização. 2.2.1 Tributação – Lucro Real, Presumido ou Simples O planejamento tributário deve prever decisões tributárias anualmente, pelos com relação às opções: Lucro Real, Lucro Presumido ou Simples Nacional. A legislação brasileira não autoriza mudança no sistema de apuração dos lucros no mesmo exercício, dessa forma, a opção por uma das modalidades só poderá ser definitiva no início do exercício anual da organização. Se a decisão tomada não for adequada, apenas poderá ser modificada no ano seguinte. A opção é definida no primeiro pagamento do imposto. A apuração do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL) pode ser feita de três formas, apresentadas no quadro a seguir: Quadro 8 – Apuração do IRPJ e CSLL Lucro real anual A empresa pode recolher os tributos mensalmente calculados com base no faturamento, de acordo com percentuais sobre as atividades, aplicando-se a alíquota do IRPJ e da CSLL. Vantagem da possibilidade de levantar balanços ou balancetes mensais, reduzindo ou suspendendo-se o valor do recolhimento, caso o lucro real apurado for efetivamente menor que a base presumida. No final do ano, a empresa levanta o balanço anual e apura o lucro real no exercício, ajustando o valor dos tributos ao seu resultado real. Lucro real trimestral No Lucro Real trimestral, o IRPJ e a CSLL são calculados com base no balanço apurado no final de cada trimestre civil. Nesta modalidade, o lucro real do trimestre não se soma ao prejuízo fiscal de trimestres seguintes, ainda que dentro do mesmo ano-calendário. O prejuízo fiscal de um trimestre só poderá deduzir até o limite de 30% do lucro real dos trimestres seguintes. 27 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA Lucro presumido O IRPJ e CSLL pelo Lucro Presumido são apurados trimestralmente. A alíquota de cada tributo (15% ou 25% de IRPJ e 9% da CSLL) incide sobre receitas com base em percentual de presunção variável (1,6% a 32% do faturamento, dependendo da atividade), a receita de ganhos de capital entra direto no resultado tributável, O limite da receita bruta para poder optar pelo lucro presumido é de até R$ 48 milhões da receita bruta total, no ano-calendário anterior. Recomenda-se comparar as opções do Lucro Real e Presumido, antes de optar pelo Simples Nacional. Assim, os gestores precisam realizar cálculos, tendendo subsídios para tomada de decisão pela forma de tributação, estimando-se receitas e custos, com base em orçamento anual ou valores contábeis históricos, devidamente ajustados em expectativas realistas. A opção deve recair para aquela modalidade em que o pagamento de tributos, compreendendo não só o IRPJ e a CSLL, mas também o PIS, Cofins, IPI, ISS, ICMS e INSS se dê de forma mais econômica, atendendo também às limitações legais de opção a cada regime. Quadro 9 – Pontos fortes e fracos das modalidades jurídicas mais comuns de organização de empresas Firma individual Sociedade por cotas Sociedade por ações Pontos fortes O proprietário recebe todos os lucros (e assume todos os prejuízos). Custo baixo de organização. Lucro incluído e tributado na declaração de rendimento de pessoa física do proprietário. Independência. Sigilo. Facilidade de dissolução. Pode captar mais recursos do que as firmas individuais. Poder de endividamento ampliado com a existência de mais sócios. Maior disponibilidade de poder de gestão. Lucro incluído e tributado na declaração de rendimento de pessoa física dos sócios. Os proprietários têm responsabilidade limitada, o que garante que não podem perder mais do que investem. Pode alcançar porte substancial com a venda de ações. As participações (ações) são facilmente transferíveis. Duração longa. Pode contratar administradores profissionais. Tem acesso mais fácil a financiamento. Obtém algumas vantagens fiscais. Pontos fracos O proprietário tem responsabilidade ilimitada. Todo o seu patrimônio pessoal pode ser usado para pagar dívidas da empresa. Poder limitado de captação de recursos tende a restringir o crescimento. O proprietário precisa ser um gestor eclético. E difícil oferecer carreiras de longo prazo a funcionários. Não tem continuidade com a morte do proprietário. Os proprietários têm responsabilidade ilimitada e podem ser obrigados a saldar dividas de outros sócios. A sociedade é dissolvida quando um dos sócios morre. E difícil liquidar ou transferir a participação de um sócio. Impostos geralmente mais altos, porque o lucro da empresa é tributado. Os dividendos pagos aos proprietários também são tributados. Custo mais elevado de organização que as outras modalidades. Sujeita a maior regulamentação governamental. Não oferece sigilo, porque os acionistas precisam receber demonstrações financeiras. 28 Unidade I Lembrete Tributos são impostos que incidem sobre o faturamento da empresa, já os encargos sociais incidem sobre a folha de pagamento. 2.2.2 Simples Nacional Simples significa Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas (ME) e Empresas de Pequeno Porte (EPP). Ele foi instituído pela Medida Provisória nº 1.526 de 05 de novembro de 1996, posteriormente, convertida na Lei nº 9.317, de 05 de dezembro de 1996, com as alterações introduzidas pelos seguintes artigos: art. 4º da Lei nº 9.528, de 10 de dezembro de 1997, art. 3º da Lei nº 9.732, de 11 de dezembro de 1998 e art. 6º da Lei nº 9.779 de 19 de janeiro de 1999. Trata-se de um regime tributário diferenciado, simplificado e favorecido, direcionado às microempresas e empresas de pequeno porte, ao que determina o artigo 179 da Constituição Federal de 1988. Constitui-se em uma forma simplificada e unificada de recolhimento de tributos, por meio da aplicação de percentuais favorecidos e progressivos, incidentes sobre uma única base de cálculo, a receita bruta (BRASIL, 1988). • Benefícios do Simples Podem ser destacados alguns benefícios para as organizações optantes pelo Simples, como: a) tributação com alíquotas mais favorecidas e progressivas, de acordo com a receita bruta auferida; b) recolhimento unificado de impostos e contribuições federais, em um único Darf (Darf-Simples, instituído pela IN SRF nº 67/96), podendo incluir impostos estaduais e municipais; c) cálculo simplificado do valor a ser recolhido, apurado com base na aplicação de alíquotas unificadas e progressivas, fixados em lei, incidentes sobre a receita bruta mensal; d) dispensa da obrigação de escrituração comercial para fins fiscais dos Livros Caixa e Registro de Inventário, bem como todos os documentosque serviram de base para a escrituração. Quem opta pelo Simples necessita recolher o pagamento mensal unificado das seguintes contribuições e impostos: Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/Pasep), Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e Contribuições para a Seguridade Social (quota Patronal). 29 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA Lembrete O Simples Nacional foi criado com o objetivo de unificar a arrecadação dos tributos e contribuições devidos pelas micros e pequenas empresas brasileiras, nos âmbitos dos governos federal, estaduais e municipais. 2.3 Ética e Gestão Financeira A palavra “ética” provém o substantivo latino ethìca que, por sua vez, provém do adjetivo grego éthikê. No verbete “ética” do dicionário Houaiss, vemos: substantivo feminino 1 parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo esp. a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social 2 Derivação: por extensão de sentido. conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade (HOUAISS, 2009). Em outras palavras, “ser ‘ético’ significa, de forma simplificada, refletir sobre as escolhas a serem feitas, importar-se com os outros, procurar fazer o bem aos semelhantes e responder por aquilo que se faz” (SROUR, 2000, p. 213). Levando em consideração que somente a ação humana individual é suscetível de valoração moral, as instituições ou a própria sociedade não podem ser consideradas éticas ou antiéticas; tal comportamento responde exclusivamente às virtudes do empresário e no modo como ele encara sua responsabilidade para com seu empreendimento (ARRUDA, WHITAKER e RAMOS, 2007). Já a moral, de acordo com Srour (2000, p. 213), entenda-se como um “agir de acordo com os costumes e observar as normas coletivas”. Dessa forma, toma-se a moral como uma construção social, histórica, resultado de uma relação de forças. Por conseguinte, ao tratar-se da moral e do posicionamento ético, não se pode deixar de considerar que a vontade humana busca o que a razão considera bom, ainda que isso constitua apenas um meio para atingir um fim maior (ARRUDA, WHITAKER e RAMOS, 2007). Em relação a essa vontade, De tudo que é possível conceber no mundo, e mesmo em geral fora do mundo, não há nada que possa ser considerado bom sem restrições, a não ser, apenas, uma vontade boa. A inteligência, a fineza, a faculdade de julgar e os demais talentos do espírito, qualquer que seja o nome pelo qual o designemos, ou então a coragem, a decisão, a perseverança nos desígnios, como qualidades do temperamento, são, sem dúvida nenhuma, sob muitos aspectos, coisas boas e desejáveis; mas esses dons da natureza também 30 Unidade I podem se tornar extremamente ruins e funestos, se a vontade que deve utilizá-los, cujas disposições próprias chamam-se por isso caráter, não é boa (COMTE-SPONVILLE 1995, p. 70). Nesse sentido, percebe-se como são importantes as várias virtudes na construção do caráter dos seres humanos, principalmente dos gestores de empresas, pois elas integram os indivíduos e os fatores que causam sua atividade. Assim, as empresas não podem ser amorais, como se suas atividades pairassem acima do bem e do mal. Algumas virtudes são fundamentais ao gestor em sua prática de tomada de decisão por causa dos grandes riscos que envolvem a atividade empresarial e também como um bom caminho para as relações sociais entre a empresa e a sociedade. Um dessas virtudes é a prudência, pois a pessoa prudente é atenta não apenas ao que acontece, mas ao que pode acontecer. Outra virtude fundamental é a justiça, que é “a qualidade do que está em conformidade com o que é direito; maneira de perceber, avaliar o que é direito, justo” (HOUAISS, 2009). Há ainda, entre as virtudes essenciais, a boa-fé; segundo Comte- Sponville (1995), ser de boa-fé é dizer a verdade sobre o que cremos, e essa verdade, ainda que a crença seja falsa, nem por isso seria menos verdadeira. Ao analisarmos atentamente os conceitos descritos anteriormente, percebemos que virtudes são valores transformados em ações. Como o modo de agir é uma consequência do modo de ser, a pessoa que se exercita nas virtudes deixa transparecer em sua atuação profissional os valores que cultiva em sua vida pessoal. Assim sendo, podemos notar que atitudes éticas e/ou não éticas são inerentes ao caráter daqueles que as utilizam, não podendo assim ser generalizada ou tomada como padrão. Ao observarmos a história do Brasil, percebemos que aqui foi formada uma identidade nacional própria e diferenciada por conta das influências de diversos povos desde o processo de colonização. Considerando que os valores culturais são expressos em tudo que a sociedade produz, é possível assumir que as empresas são – tal como a música, a literatura, a política e a família – demonstrações de como é essa sociedade. Nesse sentido, como as empresas refletem as características, conjunturas e a estrutura da sociedade em que estão inseridas, é de suma importância compreender como foi constituída essa nação e seu comportamento singular. No Brasil, é possível perceber características gerais frequentes na maioria das pessoas, que representam pressupostos básicos que cada indivíduo usa para enxergar a si mesmo como brasileiro. No que diz respeito à gestão de empresas, Tanure (2007) afirma que existe um estilo brasileiro de administrar, possuidor de traços fortes de hierarquia e grande capacidade de lidar com a incerteza, refletida no jeitinho – uma característica brasileira que reúne flexibilidade, adaptabilidade e criatividade. Sendo assim, esta adaptabilidade e/ou jeitinho torna-se inerente à população brasileira, pois “sabemos que para tudo há jeitinho, basta um pouco de tato que as coisas se resolvem” (MOTTA e CALDAS, 2007, p. 50). Srour (2000) aponta o formalismo como outro traço marcante da sociedade brasileira, ou seja, uma clara dissociação entre o discurso e a prática, o enunciado e o vivido, o país legal e o país 31 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA real, os códigos formalizados de conduta e os expedientes espertos do dia a dia, as declarações de boas intenções e o cinismo dos arranjos de conveniência. Todavia, essas incoerências não são consistentemente consideradas pela população, pois aparecem como imperativos naturais ou como imposições inelutáveis da vida em sociedade. Nota-se, no entanto, que para a maioria dos empresários brasileiros, ética e legalidade confundem- se, ou seja, a ética converte-se em sinônimo de respeito à Lei. Por isso, apesar de reconhecermos a influência da cultura brasileira nas ações administrativas, é importante ressaltar que ser ético é mais do que só respeitar as leis, é respeitar a si mesmo e ao próximo. Por fim, considera-se a ética importante no estudo sobre gestão empresarial e no funcionamento das organizações, pois o comportamento ético dos membros da organização exerce uma força importante na maneira pela qual uma empresa é vista pelos que estão fora e dentro dela. Saiba mais Assista ao filme A firma, do diretor Sydney Pollack (1993). No filme, Mitch McDeere é um advogado recém-formado que recebe uma proposta milionária para trabalhar em uma firma de advocacia. À medida que o tempo vai passando, ele percebe que a empresa, na verdade, serve de fachada para lavar dinheiro da máfia, e que todos os advogados que saíram, ou tentaram sair da firma, morreram de forma misteriosa. Para entendermos a ideia da ética nas organizações, podemos analisar alguns estudos de caso. Neles, você vai perceber situações do cotidiano do gestor financeiro em que é preciso avaliar, tomar decisõese agir. Você vai perceber que esse conceito que parece tão abstrato, a ética, está muito mais presente do que se imagina. 2.3.1 Estudo de caso: Ultrapassando os limites do poder Andreia trabalhava há mais de dois anos em uma das empresas da holding Caessa, proprietária de diversas empresas das áreas agrícola e de mineração. Tinha uma boa relação com seu chefe, Victor, que considerava Andreia muito eficiente. Quando Victor foi promovido à gerência da holding, não hesitou em levá-la com ele. Isso coincidiu com o fato de que Andreia, que costumava ter problema de sobrepeso, emagreceu e começou a frequentar a academia todas as manhãs. No entanto, sempre chegava pontualmente, na hora fixada em seu contrato. Além disso, poucos meses depois, Andreia começou um relacionamento, razão pela qual deixou de ficar trabalhando até mais tarde, como fazia antes. De repente, a relação entre Victor e Andreia, que antes funcionava às mil maravilhas, começou a ter problemas. Victor a convocava para reuniões às 8 horas da manhã, sabendo que a essa hora ela devia ir à academia, enquanto ele chegava depois das 10 horas. Além disso, todos os outros diretores demonstravam que estavam muito contentes com o trabalho 32 Unidade I de Andreia, enquanto Victor nunca parecia estar satisfeito e manifestava permanentemente seu descontentamento, inclusive chegou a dizer-lhe que trabalhava melhor quando era gorda. Andreia sentia-se desolada e não entendia o que estava acontecendo. Ela continuava esforçando-se ao máximo a cada trabalho realizado e sentia que não poderia aguentar por muito tempo essa situação. Certa manhã, Victor chamou Andreia em sua sala e a repreendeu duramente por entender que ela havia elaborado muito mal uma informação por não ter colocado a numeração das páginas. Ela perguntou se o resto estava bom e ele respondeu que ainda não tinha lido. Andreia sentiu que isso era mais do que poderia suportar. Seu trabalho não a motivava, chegava no horário e retirava-se o mais cedo possível. Tinha perdido o respeito que antes nutria por seu chefe. Tudo chegou a um limite insuportável, quando Victor, muito bravo porque Andreia já não ficava além do horário, exigiu-lhe, sob ameaça de ser despedida, que chegasse mais cedo e saísse mais tarde. Andreia devia escolher entre seu trabalho e sua vida privada, o que incluía sua saúde, já que o que lhe estava sendo exigido significava deixar de ir à academia, voltar a engordar e não dedicar tempo ao seu namorado. O resto da equipe, ciente da situação, tomou partido de Andreia, o que interferia na relação que mantinham com Victor, de modo que cada dia confiavam menos nele, perdiam o respeito por ele e lhe falavam o mínimo possível, já que ninguém queria ficar trabalhando além do horário. Andreia era uma mulher muito esforçada e Victor lhe havia dado a oportunidade de se desenvolver, ao levá-la para ocupar um cargo melhor e com maiores desafios. Antes de todas essas mudanças sua relação era satisfatória. O que havia de errado? Além disso, Andreia sempre havia pensado que seu chefe estaria contente com seu emagrecimento e por ter iniciado um namoro, mas a partir desses fatos, surgiram apenas reações negativas. A isso se acrescenta que, em razão do novo cargo que ocupava, Victor sofria muitas pressões e não estava certo de poder administrar esse problema. Sentia que necessitava, mais que nunca, exigir que Andreia o ajudasse a superar essa dificuldade. Como vemos, Victor, sufocado por novas exigências, não conseguiu balancear a autoridade formal e informal e tentou exigir de Andreia que fizesse muito mais do esperado, exercendo poder sobre ela, caindo no mal uso da autoridade formal. Abusou de seu poder e, inclusive, maltratou-a psicologicamente. Não tinha nenhuma consideração por ela, não havia apreço pelas circunstâncias que envolviam a vida de sua colaboradora, que agora podia ser mais feliz em sua vida pessoal. Isto não só repercutia em Andreia, mas em toda a equipe. Ainda que todos continuassem cumprindo suas obrigações dentro do mínimo esperado, Victor já não lhes podia pedir que fizessem esforços adicionais. Eles haviam perdido a confiança em Victor e a motivação. Victor estava desacreditado como chefe perante seus colaboradores. Por mais que impusesse sua autoridade formal, sem a informal, os empregados não o apoiavam nem se comprometiam com sua causa. Victor ficara só. Ele não compreendeu que, para motivar Andreia, não precisa impor-lhe seu poder. Que Andreia e seus colegas se motivariam à medida que o respeitassem como pessoa e como chefe. Contudo, Victor não havia sido antes um chefe respeitável? O que o fizera mudar? Talvez agora pudesse questionar suas tentativas de impor sua autoridade e retomar uma boa relação de confiança com seus colaboradores. Finalmente havia chegado a perguntar-se se as mudanças em motivação e 33 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA desempenho não se atribuíam às suas más reações. Seria tarde para Victor? Poderia consertar a situação? ÉTICA EMPRESARIAL, 2007 (adaptado). Para análise: Andreia era uma mulher muito esforçada e Victor lhe havia dado a oportunidade de se desenvolver, ao levá-la para ocupar um cargo melhor e com maiores desafios. Antes de todas essas mudanças, sua relação era satisfatória. O que havia de errado? Apenas conhecimentos financeiros são suficientes para o gestor? 2.3.2 Estudo de caso: Os valores na empresa familiar Minha família administra uma empresa no mercado há mais de 42 anos. Com a morte do meu avô, a empresa entrou em crise e o modelo de administração de meu tio e minha mãe, baseado na honestidade e na integridade, está sendo questionado por toda família, inclusive por eles. Porém, estou convencida de que a principal crise foi a descrença nascida entre meus próprios familiares acerca de sua capacidade de gestão. Minha família é dividida entre os filhos da primeira e os da segunda esposa de meu avô falecido. O modelo administrativo da segunda família é famoso pela desonestidade e é muito bem-sucedido, inclusive pelos méritos inegáveis de sua gestão. Pressionados pelos seus irmãos, minha mãe e meu tio são “acusados” de serem honestos, o que seria incompatível com a profissão de empresário. Eu não sou empresária. Sou professora de Direito e diretora de uma associação de defesa do consumidor. Na minha perspectiva, os consumidores têm buscado um perfil cada vez mais diferenciado do fornecedor. Infelizmente, temos que enfrentar fornecedores, clientes, concorrentes e outros profissionais destituídos de escrúpulos. Para marcarmos a nova fase administrativa que inauguraremos, estou propondo que nossas virtudes sejam assumidas por nós mesmos como nossa maior marca. Eu tenho afirmado que eles devem apostar nos seus valores e que o modelo de administração sem ética e desumana está em baixa. ÉTICA EMPRESARIAL, 2007 (adaptado). Para análise: É possível gerenciar uma empresa familiar com ferramentas que desvincule a atividade jurídica das atividades pessoais? As ferramentas de gestão servem paras todos os tipos de organização? 34 Unidade I 2.3.3 Estudo de caso: Atitudes que geram resultados e prêmios Programa de empreendedorismo corporativo implementado na Brasilprev conquista sucesso e reconhecimento. Incentivar o comportamento empreendedor nas empresas pode trazer benefícios para a organização e para os funcionários. Melhor ainda quando a iniciativa atinge todos os colaboradores e recebe reconhecimento externo. O case a seguir é um exemplo de como despertar o empreendedor que existe nos funcionários, por meio de ações que levam conhecimento e campanhas bem-sucedidas. Uma aluna de uma universidade atua há três anos como coordenadora de Comunicação Corporativa de uma empresa de seguros e previdência. Atualmente, lidera um programa chamado Vida Ativa, que se baseia em quatro pilares: Responsabilidade Social, Qualidade de Vida, Educação Financeira e Atitude Empreendedora. Durante dois anos, ela comandou o pilar Atitude Empreendedora,
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