Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
77 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA Unidade II 5 PLANEJAMENTO DIETÉTICO NA GESTAÇÃO E NA AMAMENTAÇÃO A gestação é um período da vida que traz grande vulnerabilidade biológica, decorrente das alterações fisiológicas impostas ao organismo materno e do aumento das demandas nutricionais. Ela é constituída de 40 semanas – ou três trimestres. O primeiro trimestre gestacional caracteriza‑se por grandes modificações biológicas decorrentes da intensa divisão celular que acontece nessa fase da vida. O segundo e o terceiro trimestres integram outra fase para a gestante, no qual o meio externo vai exercer forte influência direta na condição do feto. Durante a concepção, há aumento de peso oriundo dos produtos da concepção (feto, placenta, líquido amniótico), dos tecidos maternos (útero, mama, aumento do volume sanguíneo, fluido extracelular e tecido adiposo). O estado nutricional da gestante afeta tanto sua saúde quanto a de seu feto. Como ele depende diretamente da mãe para seu crescimento e desenvolvimento, o estado nutricional dela influencia diretamente o peso do bebê ao nascer, sua prematuridade, sua mortalidade e sua morbidade neonatal. O peso ao nascer (peso do recém‑nascido) pode ser influenciado por: fatores ambientais, fetais e placentários, genéticos e pelo potencial biológico. Porém, o ganho de peso materno é o maior influenciador do peso ao nascer. Dessa maneira, é de suma importância o adequando planejamento dietético durante a gestação, com o objetivo de assegurar um bom resultado obstétrico. Uma alimentação saudável, baseando‑se nos preceitos do Guia alimentar (BRASIL, 2014) e nas recomendações específicas de micronutrientes (DRIs) é essencial para estabelecer um planejamento dietético de maneira a assegurar alimentos em quantidade e qualidade adequadas. Lembrete A gestação é um período de grande demanda metabólica ao organismo da mulher. Assim, a quantidade e a qualidade da alimentação são de fundamental importância, sem que haja restrição ou excesso de calorias, pois ambas podem colocar em risco a vida da mãe e do bebê. 78 Unidade II 5.1 O ganho de peso e a diferenciação celular A velocidade de aumento de peso é muito diferente entre os trimestres gestacionais. O feto ganha o total de 1 kg até 28 semanas e, nas duas semanas seguintes, 2,5 kg. Isso significa que em 30 semanas gestacionais, alcançará 1,5 kg, e depois aumentará a mesma quantidade em apenas 10 semanas. Chegará, assim, aos 3 kg esperados para um recém‑nascido em termos de peso adequado. Mudanças na composição corporal referentes ao tecido adiposo do feto se relacionam às condições ambientais intrauterinas. Já as alterações de massa magra correspondem a fatores genéticos. Quadro 17 – Diferenciação celular conforme período gestacional Idade gestacional Tipo de crescimento Velocidade Peso médio do feto 1º trimestre (12 semanas) Hiperplasia Lenta 12ª semana ≅ 300 g 2º trimestre (13 a 27 semanas) Hiperplasia e hipertrofia Acelerada 27ª semana ≅ 1.000 g 3º trimestre (> 28 semanas) Hipertrofia Máxima 38ª semana ≅ 3.000 g Fonte: Vitolo (2015, p. 79). Observação O organismo de uma gestante sem nenhum tipo de enfermidade e bem‑nutrida sofre uma série de adaptações fisiológicas que asseguram o crescimento e o desenvolvimento do feto e fornecem as reservas biológicas necessárias ao parto, à recuperação pós‑parto e à lactação. 5.2 Placenta É um órgão de alta complexidade metabólica que se apresenta como uma estrutura esponjosa, oval, com diâmetro aproximado de 15 a 17 cm e peso em torno de 500 g na gestação a termo. O aumento do tamanho da placenta é proporcional ao período gestacional: por volta de 10 a 12 semanas gestacionais, seu peso se encontra em torno de 51 g; de 12 a 14 semanas, 66 g; de 14 a 16 semanas, 85 g; de 16 a 18 semanas, 110 g; e de 18 a 20 semanas, 141 g (IOM, 2009). Uma das funções da placenta é produzir os hormônios (hormônio gonadotrofina coriônica humana – HCG, estrógeno, progesterona, lactogênio placentário humano) necessários para a manutenção, a regulação e o desenvolvimento gestacional, tanto materno quanto fetal. 79 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA Outra de suas funções é o transporte de oxigênio e nutrientes da mãe para o feto, com o objetivo de suprir as demandas nutricionais e eliminar os produtos originários do metabolismo do feto. Quadro 18 – Principais vias de transporte placentário de gases e nutrientes Mecanismos de transporte placentário Substâncias transportadas Difusão passiva Oxigênio, dióxido de carbono, ácidos graxos, esteroides, nucleosídeos, eletrólitos, vitaminas lipossolúveis Difusão facilitada Glicose Transporte ativo Aminoácidos, cálcio, iodo, fosfato, vitaminas hidrossolúveis Fonte: Vitolo (2015, p. 81). 5.2.1 Principais hormônios e suas funções na gestação Os hormônios desempenham papel de suma importância durante a gestação, atuando tanto sobre a mãe quanto sobre o feto. A seguir, os principais hormônios e suas ações e funções durante a gravidez. • HCG: fundamental no início da gestação enquanto a placenta não é capaz de produzir progesterona e estrógeno em quantidades suficientes. Detectado no sangue em oito dias após a fecundação, é usado para fazer a confirmação da gravidez. • Progesterona (placenta): sua principal função é relaxar a musculatura lisa do útero. Interfere, também, em outros órgãos, como o intestino (diminuição da motilidade), alterando o tempo de absorção de nutrientes e possibilitando o quadro de constipação intestinal. Favorece a deposição de gordura, aumenta a excreção de sódio, afeta o metabolismo de ácido fólico. Seu desequilíbrio pode contribuir para o processo de ganho de peso durante a gestação (IOM, 2009). • Estrógeno (placenta): sua ação favorece a elasticidade da parede uterina e do canal cervical. Reduz proteínas séricas, afeta a função tireoidiana e interfere no metabolismo do ácido fólico. • Hormônio lactogênio placentário: antagoniza a ação da insulina pela deposição de glicose no sangue a partir de glicogênio. Apresenta ação semelhante ao hormônio do crescimento (GH) e tem intensa ação anabólica e lipolítica. • Insulina: gestantes saudáveis apresentam resposta de insulina normal à glicose no início da gestação. À medida que a gestação avança, as demandas de insulina aumentam, já que se transporta mais glicose. • Tiroxina (tireoide): regula as reações oxidativas envolvidas na produção de energia. 80 Unidade II 5.3 Situações e sintomas durante a gestação: práticas alimentares 5.3.1 Náuseas e vômitos O conceito de náuseas e vômitos da grávida (NVG) se assemelha ao utilizado na prática médica, ou seja, o vômito ou êmese é a expulsão do conteúdo gástrico pela boca, causada por contração forte e sustentada da musculatura da parede torácica e abdominal. Já a náusea se define como sendo a sensação desagradável da necessidade de vomitar, habitualmente acompanhada de sintomas autonômicos como sudorese fria, sialorreia, hipotonia gástrica e refluxo do conteúdo intestinal para o estômago. Esses sintomas são frequentes, principalmente, no primeiro trimestre de gestação. De 70% a 85% das mulheres, aproximadamente, relatam náuseas e 50% sofrem de vômitos nesse período (REILLY, 2000), sendo que 25% dos casos de náuseas acontecem exclusivamente pela manhã (morning sickness). Esses sintomas apresentam‑se por volta da sexta semana e raramente se estendem para além da 20ª semana de gestação. A evolução do quadro de NVG com necessidade de tratamento farmacológico situa‑se em torno de 10% das gestações. Quadros mais graves de vômitos nas gestantes, denominados de hiperêmese gravídica, respondem por 1,1% de todos os quadros de NVG. Observação O vômito grave que resulta em desidratação e perda ponderal é conhecido pelo nome de hiperêmese gravídica, sendo frequente após a décima segunda semana de gestação. Esse sintoma pode levar à possível alteração do equilíbrio hidroeletrolítico e da nutrição da gestante, bem como prejudicaro desenvolvimento fetal. Vários são os fatores e diversas são as teorias apontadas como responsáveis pelo aparecimento das NGV, porém existem teorias (endócrina; infecção pelo Heliocobacter pylori; genética; psicogênica) que apresentam maior embasamento epidemiológico e fisiológico. Veremos um pouco mais sobre elas a seguir. Teoria endócrina O aparecimento da gonadotrofina coriônica (HCG) e o aumento do estrogênio e da progesterona durante a gestação apresentam potencialidades diretas ou indiretas responsáveis por causarem náuseas. A progesterona e o estrogênio reduzem o tônus da musculatura lisa e a atividade peristáltica de todo o trato gastrointestinal. Essa distensão intestinal ativa alguns mecanismos biomoleculares que são envolvidos na geração dos estímulos eméticos. 81 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA Teoria da infecção pelo Helicobacter pylori Nas duas últimas décadas, vários autores têm demonstrado padrões mais elevados de infecção por Helicobacter pylori (HP) em mulheres com NVG. Observou‑se que 95% dos exames histológicos das mucosas das gestantes com NVG são positivos para esse agente contra 50% do grupo de controle. Teoria genética Sucessivas gestações apresentam as mais elevadas recorrências dessa complicação, o que reforça a teoria genética. Ademais, o risco de uma gestante desenvolver NVG é três vezes maior se sua mãe também tiver apresentado essa complicação. Porém, a existência de poucos estudos científicos sobre o assunto dificulta a identificação de quais são os genes responsáveis por essa alteração e em que parte do genoma se encontram, sendo, assim, fator limitante para se desenharem abordagens mais específicas de controle da doença. Teoria psicogênica As NVG poderiam ser a manifestação de uma doença psicossomática na qual o processo emético seria a forma de exteriorizar esses conflitos intrapsíquicos. Eventos adversos ou estressantes na vida da gestante com seu meio social poderiam estar associados com NVG. Situações como: gravidez não programada, rejeição à maternidade, a rejeição ao pai, a imaturidade emocional, o temor do ganho de peso, as situações de violência, a pobreza, a busca de compensações, a insegurança, as limitações financeiras e a estabilidade no emprego, entre outras, são possíveis fatores que podem estar associados às NGV. Em suma, há que se atentar a esses fatores comportamentais que podem potenciar sinergicamente o aparecimento e manutenção do processo emético em gestantes predispostas, mas não é correto considerá‑los isoladamente responsáveis pelo aparecimento das NVG. Como orientação nutricional com o intuito de amenizar esses sintomas, recomenda‑se: • apoio psicoemocional e terapias não convencionais ou complementares (como florais de Bach, acupuntura e aromaterapia); • realizar refeições pequenas e mais frequentes (de seis a oito vezes ao dia); • consumir alimentos com baixo teor de gordura e abrandados (por exemplo, purês); • evitar frituras, alimentos gordurosos, com odores fortes ou muito temperados; 82 Unidade II • preferir alimentos sólidos e ricos em carboidratos (biscoitos, geleia de frutas) principalmente ao levantar‑se (pela manhã); • aumentar a ingestão de líquidos, preferencialmente gelados, nos intervalos das refeições; • consumir gengibre ou biscoitos e bolos que apresentem esse ingrediente; • evitar deitar‑se após as grandes refeições; • suplementar a alimentação com vitamina B6 (média de 25 mg, três vezes ao dia – manhã, tarde e noite) (KOLASA; WEISMILLER, 1997). Pica É uma desordem alimentar caracterizada pela ingestão persistente de substâncias inadequadas com pequeno ou nenhum valor nutritivo, ou de substâncias comestíveis, mas não na sua forma habitual. É conhecida também pelos nomes: picamalácia, picacia, picacismo, malácia, geomania, pseudorexia, entre outros – todos com diferentes graus de descontrole do apetite. Outra definição para pica é a de gosto por alimentos esdrúxulos, condimentos raros ou substâncias estranhas. Entre os tipos mais comuns, tem‑se pagofagia (ingestão de gelo), a geofagia (ingestão de terra ou barro), a amilofagia (ingestão de goma, principalmente a de lavanderia), o consumo de miscelâneas (combinações atípicas: melancia com margarina; tomate com chocolate, por exemplo) e frutas verdes. Porém, outras substâncias não alimentares também são referidas, como palitos de fósforo queimados, cabelo, pedra e cascalho, carvão, fuligem, cinzas, comprimidos de antiácidos, leite de magnésia, borra de café, bolinhas de naftalina, pedaços de câmara de ar, plástico, tinta, sabonete, giz, toalha de papel e até mesmo sujeira. A etiologia desse comportamento é desconhecida, tendo como possíveis hipóteses o alívio de náuseas e vômitos referidos pela mãe; assim como o suprimento de deficiências (cálcio, ferro), presentes na maioria das substâncias alvo dessas compulsões alimentares. Pode também estar associada à anemia, à constipação, à distensão, à obstrução intestinal, a problemas dentários, a infecções parasitárias, à toxoplasmose, a síndromes hipertensivas na gravidez, a interferências na absorção de nutrientes, ao envenenamento por chumbo e à hipercalemia. Saunders et al. (2009) verificaram a taxa de ocorrência de picamalácia em 227 gestantes adultas e seus recém‑nascidos atendidos na Maternidade‑Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro e o impacto na saúde materna e do concepto. A desordem alimentar (picamalácia) foi referida por 14,4% das mulheres, e 42,1% delas a praticavam diariamente. Em 46,7% dos casos, a prática teve início no segundo trimestre e, em 30% dos casos, no terceiro trimestre gestacional. 83 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA Dentre os motivos reportados, 65% das mulheres não sabiam informar, 15% declararam alívio em sintomas de náuseas e pirose e 10% alívio de estresse e ansiedade. A prática em gestação/puerpério anterior foi referida por 15% das gestantes. Assim, observou‑se que a picamalácia deve ser investigada na assistência pré‑natal e reconhecida como um fator de risco para a saúde materna. Como orientação nutricional com o intuito de amenizar esses sintomas, recomenda‑se orientar a gestante a: • substituir essa substância por um alimento da preferência; • realizar o café da manhã; • procurar não associar as variações de humor a determinados alimentos – uma opção é se distrair longe da cozinha, em um passeio ao ar livre ou conversando com uma amiga, por exemplo; • realizar exames bioquímicos para avaliar os nutrientes e assim, se necessário, suplementá‑los; • fazer pequenas refeições, o que com frequência ajuda a reduzir os picos glicêmicos e a conter os desejos estranhos, além de contribuir para prevenir a diabetes gestacional. Pirose Pirose e regurgitação são manifestações da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) que ocorrem frequentemente no terceiro trimestre da gravidez, comumente após as refeições. Porém, seu impacto na qualidade de vida de gestantes é pouco conhecido e estudado. A DRGE decorre da pressão do útero sobre o estômago, fazendo com que parte dos alimentos misturados ao ácido clorídrico (HCl) retorne para o esôfago, causando uma sensação de desconforto e queimação. Dall’Alba et al. (2015) avaliaram a qualidade da vida de 82 gestantes do terceiro trimestre com pirose e regurgitação por meio de dados sobre a história obstétrica, frequência, intensidade e história de pirose e regurgitação, bem como a qualidade de vida dessas gestantes. Observaram que 76% das gestantes apresentaram pirose e 71%, regurgitação. A idade gestacional média foi de 33,8 ± 3,7 semanas; 43% das mulheres tinham história familiar de pirose e/ou regurgitação e 70% eram assintomáticos antes da gestação. O estudo concluiu, assim, que a pirose e/ou regurgitação afeta a qualidade de vida de gestantes de terceiro trimestre. Como orientação nutricional com o intuito de amenizar os sintomas da pirose, recomenda‑se: • realizar refeições pequenas e mais frequentes (de seis a oitovezes ao dia); 84 Unidade II • comer devagar e mastigar bem os alimentos; • ingerir líquido gelado durante a crise; • não ingerir líquidos durante as grandes refeições; • evitar alimentos gordurosos; • não utilizar leite puro como forma de neutralizar o sintoma (ele tem efeito rebote sobre a secreção ácida); • evitar álcool, fumo, café, chá‑mate, frituras, pastelarias, doces e alimentos que causem desconforto; • evitar consumir alimentos ácidos (frutas cítricas) durante a crise, pois pode comprometer a ingestão de vitaminas sem necessidade, já que a acidez das frutas não é maior do que a do HCl; • evitar deitar‑se logo após as refeições; • manter a cabeceira da cama elevada. 5.3.2 Constipação intestinal A constipação é um problema digestivo muito comum, sendo bastante frequente no período gestacional, principalmente a partir da 20ª semana de gravidez. Fatores como ritmo intestinal com menos de três evacuações por semana, sensação de dificuldade para evacuar, fezes pequenas e endurecidas e sensação de evacuação incompleta caracterizam o processo, bem como facilitam o diagnóstico. Assim, considera‑se constipado o paciente que apresenta dois ou mais desses sintomas por um período mínimo de três meses ao longo do ano. Na gestação, observa‑se que alterações como: diminuição da pressão cardíaca, estase biliar e diminuição da velocidade do trânsito intestinal (intestino delgado) estão associadas à constipação. Assim, ocorre motilidade reduzida do cólon e tempo de trânsito prolongado, o que propicia um aumento de absorção de água. As fezes tornam‑se menos volumosas, por menor concentração de água, contribuindo para a constipação. A explicação para esses eventos está relacionada com a diminuição da concentração plasmática de motilina, por influência da progesterona na gravidez, um polipeptídio intestinal que estimula a contração das fibras lisas do intestino. Em outras palavras, o aumento da progesterona relaxa a musculatura intestinal, diminuindo o peristaltismo. Outros fatores, tais como alimentação, nível de atividade física, ingestão de água e quantidade adequada de fibras também estão associadas à constipação intestinal em gestantes. 85 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA Kawaguti et al. (2008) analisaram a incidência de constipação em 41 gestantes sadias do Ambulatório de Obstetrícia da Santa Casa de São Paulo, por meio de um questionário sobre ritmo intestinal, hábitos de vida, sintomas digestivos antes e após a gravidez. Observaram que a constipação incidiu em 27,6% daquelas que não sofriam sintomas pregressos. Como orientação nutricional com o intuito de amenizar os sintomas, recomenda‑se: • aumentar a ingestão de água (mínimo de quatro copos ao dia); • aumentar o consumo de frutas e hortaliças; • consumir alimentos fonte de fibras (frutas laxativas, frutas com bagaço, frutas secas nos lanches e vegetais crus); • incentivar o consumo de alimentos integrais; • evitar o consumo de alimentos flatulentos (ricos em enxofre); • praticar exercícios físicos (exemplo: caminhadas regulares, três vezes por semana); • não fazer uso de laxantes. 5.4 Recomendações nutricionais na gestação A gestação é um período no qual as demandas nutricionais encontram‑se aumentadas, uma vez que envolve rápida divisão celular e desenvolvimento de novos tecidos e órgãos. Os complexos processos que ocorrem no organismo durante a gestação exigem uma oferta maior de energia, proteínas, vitaminas e minerais para suprir as necessidades básicas e formar reservas energéticas para a mãe e o feto. 5.4.1 Necessidades energéticas Durante a gestação, a mulher necessita de uma quantidade maior de calorias para suprir o elevado gasto energético ocasionado pelo aumento da Taxa de Metabolismo Basal (TMB) e para formar os depósitos de energia dos tecidos materno e fetal. As demandas energéticas de uma gestação completa (40 semanas), considerando‑se um ganho de peso médio de 12,5 kg para a mãe e um peso médio de 3 kg para o recém‑nascido, são estimadas em 80.000 calorias, das quais 35.000 são necessárias para depósito de 3,5 kg de gordura. O restante, cerca de 36.000 calorias, é destinado ao aumento das necessidades basais da gestante. Esses valores podem variar conforme as características nutricionais constitucionais e étnicas de diferentes grupos populacionais. 86 Unidade II Sobre as demandas energéticas aumentadas, recomenda‑se um adicional de energia para a gestante, preconizada pelas DRIs (IOM, 2004; 2009), de 340 calorias a partir do segundo e de 452 calorias no terceiro trimestre de gestação. Já a OMS recomendou, em 1973, um acréscimo de 150 calorias no primeiro trimestre de gestação e de 350 calorias nos dois últimos trimestres. Porém, em 1998, em uma revisão de literatura, adotou um adicional de 85 calorias no primeiro trimestre, 285 calorias no segundo e 475 a partir do terceiro trimestre gestacional. Tabela 16 – Adicionais energéticos propostos pela OMS (1998) e IOM (2004; 2009) Trimestre Adicional energético diário (kcal/dia) – OMS Adicional energético diário (kcal/dia) – DRI 1 85 ‑‑‑‑ 2 285 340 3 475 452 Adaptada de: OMS (1998); IOM (2004; 2009). É importante observar que o cálculo das necessidades energéticas na gestação deve levar em consideração o estado nutricional pré‑gestacional e o trimestre da gestação. Para avaliar o estado nutricional, o Ministério da Saúde (BRASIL, 2000) recomenda a utilização do IMC para idade gestacional e a classificação de acordo com os critérios de Atalah, que categorizam a gestante em baixo peso (BP), peso adequado (A), sobrepeso (S) e obesidade (O). As necessidades energéticas na gestação podem ser obtidas por meio de equações preditivas utilizadas para adultos segundo WHO e FAO (2001), bem como pelas equações propostas pelas DRIs (IOM, 2004). Deve‑se avaliar o estado nutricional pré‑gravídico segundo o IMC e estimar, assim, as demandas energéticas, somando‑se o adicional requerido para o ganho de peso. GET na gestação = GE + adicional energético gestacional Sendo: GET = gasto energético total GE = gasto energético Para o cálculo da TMB da gestante, recomenda‑se utilizar o peso pré‑gestacional, caso o IMC seja considerado saudável (eutrófico). Para gestantes com baixo peso pré‑gestacional, pode‑se utilizar o peso desejável ou adequado na tentativa de normalizar o estado nutricional. 87 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA Tabela 17 – Equação preditiva de TMB conforme sexo, idade e peso Idade (anos) Mulheres 10 a 18 (12,2 × P) + 746 18 a 30 (14,7 × P) + 496 30 a 60 (8,7 × P) + 829 60 ou mais (10,5 × P) + 596 Adaptada de: WHO e FAO (1985b). Para o cálculo do peso desejável, recomenda‑se utilizar o peso teórico obtido por meio do IMC igual a 21 kg/m2; para gestantes com sobrepeso ou obesidade recomenda‑se utilizar o peso pré‑gestacional, evitando‑se, assim, a perda de peso no período da gestação. Exemplo: gestante, dona de casa, com atividade física leve, 28 anos, idade gestacional de 20 semanas, peso pré‑gestacional de 57 kg, peso atual de 63 kg e 1,65 m de altura. 1º passo: verificar o estado nutricional: IMC= 57* / (1,65)² = 20,94 kg/m² (eutrófica) 2º passo: calcular a TMB GEB = (14,81 × 57*) + 486,6 = 1.330,77 kcal *Cálculo com peso pré‑gravídico 3º passo: calcular o GET GET = GEB × FA (fator de atividade) GE = 1.330,77 kcal × 1,53 (atividade leve) = 2.036,07 kcal GET gravidez (acréscimo de energia) (WHO; FAO, 2003) 2º trimestre = 2.036,08 + 285 = 2.321,08 kcal 3º trimestre = 2.036,08 + 475 = 2.511,08 kcal Outro método que pode ser utilizado para a estimativa de necessidades energéticas na gestação é o uso de equações preditivas propostas pelas DRIs, estimated energy requirements (EER) (IOM, 2004). Nesse método, os dados da gestante são incorporados à equação, incluindo o nível de AF (atividade física). EER gestante = EER não grávidas + adicional de energia gasto na gestação + energia de depósito 88 Unidade II Tabela 18 – EER para a gestação(IOM, 2004) Estágio da vida Equação 14 a 18 anos EER = 153,3 – 30,8 × idade [anos] + NAF × (10 × peso [kg] + 934 × estatura [m]) + 25 kcal de depósito + depósito de energia para a gestação 19 a 50 anos EER = 354 – 6,91 × idade [anos] + NAF × (9,36 × peso [kg] + 727 × altura [m]) + depósito de energia para a gestação Acréscimo para depósito na gestação 1º trimestre 0 (zero) 2º trimestre 160 kcal (8 kcal/semana x 20 semanas) + 180 kcal (340 kcal) 3º trimestre 272 kcal (8 kcal/semana x 34 semanas) + 180 kcal (452 kcal) Adaptada de: IOM (2004; 2009). Para a avaliação do NAF na equação preditiva deve‑se considerar o estado nutricional da gestante, sendo que os valores utilizados são os mesmos de adultos. Tabela 19 – NAF para indivíduos adultos IMC NAF 18,50 a 25,00 kg/m2 1 se NAF sedentário 1,12 se NAF leve 1,27 se NAF moderado ≥ 25,00 kg/m2 1 se NAF sedentário 1,16 se NAF leve 1,27 se NAF moderado 1,44 se NAF intenso Fonte: Philippi e Aquino (2015, p. 312). Exemplo: gestante, dona de casa, com atividade física leve, 28 anos, idade gestacional de 20 semanas, peso pré‑gestacional de 57 kg, peso atual de 63 kg e 1,65 m de altura. 1º passo: verificar o estado nutricional: IMC = 57* / (1,65)² = 20,94 kg/m² (eutrófica) 2º passo: calcular a TMB: EER = 354 – 6,91 × idade [anos] + NAF × (9,36 × peso [kg] + 727 × altura [m]) + depósito de energia para a gestação EER = 354 – 6,91 × 28 + 1,12 × (9,36 × 57* + 727 × 1,65) 89 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA EER = 160,52 + 1,12 × (533,52) + (1.199,55) EER = 160,52 + 597,54 + 1.199,55 EER = 1.957,61 kcal *Cálculo com peso pré‑gravídico GET gravidez (acréscimo de energia) (IOM, 2004) 2º trimestre = 1.957,61 kcal + 340 kcal (depósito de energia para a gestação) = 2.297,61 kcal Necessidades energéticas nutrizes A energia proveniente dos alimentos ingeridos deve ser suficiente para atender às necessidades de produção de leite, bem como assegurar a manutenção da saúde da nutriz e do lactente, preservando a composição corporal e o peso da mãe. Nos primeiros seis meses após o parto, uma lactante bem nutrida perde cerca de 0,8 kg/mês, o que é equivalente a 170 kcal/dia (6.500 kcal/kg) de perda de peso. Assume‑se uma estabilidade de peso após os seis meses que sucedem o parto. A produção de leite varia de 0,78 L/dia do nascimento até seis meses e de 0,6 L/dia do 7o ao 12o mês. Considerando a densidade de 0,67 kcal/L, a energia gasta diariamente na secreção do leite é de 523 kcal (aproximadamente 500 kcal/dia) no primeiro semestre e 402 kcal/dia (aproximadamente 400 kcal/dia) no segundo semestre de lactação. GET = GE pré‑gestacional + adicional lactação – energia na perda de peso Tabela 20 – Adicional energético na lactação Estado nutricional gestacional Semestre de lactação Adequado 1º semestre NEE = NEE (adolescente ou adulto) + 505 kcal (675 kcal – 170 kcal) Baixo peso 1º semestre NEE = NEE (adolescente ou adulto) + 675 kcal *NEE: necessidade energética estimada Adaptado de: WHO e FAO (2001). 90 Unidade II Tabela 21 – EER para lactação (IOM, 2004) Estágio da vida Equação 14 a 18 anos EER = 153,3 – 30,8 × idade [anos] + NAF × (10 × peso [kg] + 934 × estatura [m]) + 25 kcal de depósito + depósito de energia para a gestação 19 a 50 anos EER = 354 – 6,91 × idade [anos] + NAF × (9,36 × peso [kg] + 727 × altura [m]) + depósito de energia para a gestação Acréscimo lactação 1o semestre EER pré gestacional + 500 – 170 (Energia da secreção do leite – perda de peso) 2o semestre EER pré gestacional + 400 – 0 (Energia da secreção do leite – perda de peso) Adaptado de: Philippi e Aquino (2015). 5.5 Necessidades proteicas Durante a gestação, ocorre síntese elevada de proteínas, o que aumenta as demandas nutricionais desse macronutriente, com o intuito de contribuir com o crescimento fetal, placentário e dos tecidos mamários. Durante a gestação, há um armazenamento proteico próximo a 925 g, sendo que 60% destinam‑se ao feto e placenta, e 40% aos tecidos maternos (mama e útero). Tabela 22 – Necessidades proteicas em gestantes adultas (IOM, 2005); WHO; FAO (2001) IOM (2005) Utilizar 1 g/kg/dia sobre o PPG ou peso aceitável e adicionar * peso pré‑gestacional 1º trimestre: igual às mulheres não grávidas EAR: 0,66 g/kg RDA: 0,80 g/kg ou 46 g/dia + 1 g/dia: 1º trimestre + 9 g/dia: 2º trimestre + 31 g/dia: 3º trimestre 2º trimestre EAR: 0,88 g/kg ou adicional de 21 g/dia RDA: 1,1 g/kg ou adicional de 25g/dia ou 71 g/dia Adaptada de: Philippi e Aquino (2015). 5.5.1 Necessidades proteicas na lactação A lactação não altera o equilíbrio de proteínas se comparada a uma mulher não lactante/nutriz, ou seja, as recomendações de proteína na nutriz são determinadas pelo método fatorial em que se considera a média de produção láctea, a concentração de proteína no leite humano e a concentração média de nitrogênio não proteico no leite humano. Para estimar a quantidade de proteínas na lactação, deve‑se utilizar o peso pré‑gestacional (PPG) ou um peso adequado antes da gestação. 91 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA Tabela 23 – Necessidades proteicas na lactação (IOM, 2005); WHO; FAO; UNU (2001) DRI – IOM (2005) FAO; WHO; UNU (2001) 1,3 g/kg/dia de proteína ou + 25 g/dia 1º trimestre: adicional de 19 g/dia 2º trimestre: adicional de 12,5 g/dia Adaptada de: IOM (2005) e WHO; FAO e UNU (2001). 5.5.2 Necessidades de lipídios na gestação e na lactação Os lipídios são importante fonte de energia, não devendo ultrapassar 30% do VET. A dieta deve ser composta de gorduras “saudáveis” como a poli‑insaturada, em especial provenientes de alimentos fonte de ácidos graxos ômega 6 e 3, essenciais ao funcionamento adequado do sistema uteroplacentário, do sistema nervoso e da retina fetal. O consumo mínimo de 200 mg/dia de DHA (ácido docosaexaenoico) é recomendado, uma vez que esse ácido graxo poli‑insaturado (tipo ômega 3) exerce funções no cérebro. Essa quantidade garante adequado DHA no cérebro e nos tecidos do recém‑nascido durante os períodos de desenvolvimento. Mulheres acima de 14 anos devem consumir 1,1 g/dia de ácidos graxos tipo ômega 3, sendo as principais fontes: peixes, linhaça (semente) e óleos vegetais. A recomendação de lipídios na gestação e lactação deve ser analisada tanto do ponto de vista quantitativo como qualitativo, avaliando a necessidade individual, acrescentando alimentos fonte principalmente de gorduras saudáveis. 5.5.3 Necessidades de micronutrientes (vitaminas e minerais) na gestação O consumo adequado de vitaminas e minerais é importante na manutenção da saúde da gestante e no desenvolvimento adequado do feto. Deficiências nutricionais na gestação são desfavoráveis, por isso deve‑se ter atenção redobrada na hora de avaliar a presença desses elementos na dieta da gestante, em especial com relação aos micronutrientes: cálcio, ferro, ácido fólico, zinco (minerais) e as vitaminas A, C e D. Ferro O período de maior demanda de ferro acontece no último trimestre da gestação, em virtude do aumento das necessidades de oxigênio do binômio mãe/bebê. A carência desse nutriente pode levar à anemia, aumentando o risco de parto prematuro e morte perinatal. A deficiência de ferro pode também gerar consequências para toda a vida do bebê, como a diminuição da capacidade cognitiva, de aprendizagem e de concentração. 92 Unidade II Para evitar esses efeitos deletérios, recomenda‑se o consumo de 27 mg/dia de ferro no 2º e 3º trimestre da gestação, durante os quais estima‑se que o limite máximo de absorção seja de 25%. A suplementação medicamentosa é uma medida profilática preconizada pela World Health Organization OMS (WHO; FAO, 2003), e é comum que ocasione efeitos colaterais gastrointestinais, como náuseas, constipação e dor epigástrica. O Ministério da Saúde, no Programa Nacional de Suplementação com Ferro, recomenda a dose de 60 mg de Fe elementar por dia (300 mg de sulfato ferroso) para todas as gestantes a partir da 20ª semana de gestação. Parao tratamento de anemia instalada, a dose é de 120 mg a 240 mg de Fe, dependendo do nível de anemia constatado. Deve‑se concomitantemente recomendar o aumento de alimentos ricos em vitamina C, já que esse nutriente pode auxiliar o aumento da absorção do ferro. Observação Estão presentes na dieta dois tipos de ferro: heme e não heme. O ferro heme é constituinte da hemoglobina e da mioglobina. Está presente em alimentos de origem animal (carnes em geral e vísceras). Já o ferro não heme está presente em alimentos de origem vegetal (leguminosas, hortaliças verde‑escuras e algumas frutas cítricas). Zinco O zinco é importante em processos de fertilização (relacionados à reprodução), diferenciação celular, crescimento, desenvolvimento, reparação tecidual e imunidade. Sua deficiência está relacionada ao aborto espontâneo, ao retardo do crescimento intrauterino (RCIU), à prematuridade, à pré‑eclâmpsia, entre outros. Dietas ricas em alimentos integrais e fitatos (fator antinutricional), bem como a ingestão elevada de ferro, o tabagismo e o alcoolismo reduzem a concentração plasmática materna de zinco, diminuindo, assim, sua disponibilidade para o feto. Nesses casos, sugere‑se a suplementação de 25 mg/dia de zinco, com o intuito de minimizar o risco de complicações associadas à carência desse mineral. Cálcio Desempenha papel fundamental na formação de ossos e dentes, no processo de contração muscular, na transmissão de impulsos nervosos e na coagulação sanguínea. Sua deficiência associa‑se a prejuízos no crescimento e desenvolvimento fetal, menos densidade mineral óssea no recém‑nascido, maior risco de hipertensão para a mãe, contrações e parto prematuro. 93 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA As recomendações de cálcio na gestação são de 700 mg/dia a 1.300 mg/dia, dependendo da idade, sexo e da fase em que o indivíduo se encontra. Para gestantes adultas, a recomendação é de 1.000 mg/dia, e para gestantes adolescentes esse valor é de 1.300 mg/dia. Lembrete Melhores fontes de cálcio encontram‑se em alimentos tais como leite e seus derivados. Feijões, vegetais verde‑escuros, sardinha e ostras fornecem cálcio, porém, com menor biodisponibilidade. Ácido fólico O acido fólico tem papel fundamental no processo de multiplicação celular, sendo, portanto, imprescindível durante a gestação. O folato associa‑se ao aumento dos eritrócitos, ao alargamento do útero e ao crescimento da placenta e do feto. Essa vitamina é requisito importante no crescimento normal, na fase reprodutiva (gestação e lactação) e na formação de anticorpos. Atua como coenzima no metabolismo de aminoácidos (glicina) e síntese de purinas e pirimidinas, assim como na síntese proteica. Dessa maneira, sua deficiência pode estar associada a alterações na síntese de DNA e de cromossomos, além de defeitos do tubo neural e espinha bífida. Durante a gestação, recomenda‑se a ingestão de 600 μg/dia, o que requer suplementação medicamentosa, uma vez que o consumo para alcançar essa quantidade, mesmo com planejamento dietético, é difícil de ser atingido. O Ministério da Saúde, seguindo instrução da OMS (2013), recomenda, na assistência pré‑natal, a suplementação diária de ferro e ácido fólico para a prevenção da anemia gestacional e de defeitos no tubo neural (DTN), a partir da 20ª semana de gestação. Além disso, desde 2004, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) instituiu a adição de 0,15 mg de ácido fólico para cada 100 gramas de farinha de trigo e milho (ANVISA, 2017), além dos produtos derivados do milho comercializados no Brasil. Uma combinação de dieta rica em folato e a suplementação de ácido fólico seria a recomendação adequada para prevenir a deficiência desse nutriente, assim como suas consequências na gestação. Vitamina A A vitamina A é essencial em diversos processos metabólicos, como a diferenciação celular, o ciclo visual, o crescimento, a reprodução e para o funcionamento dos sistemas antioxidante e imunológico. 94 Unidade II Recomenda‑se a ingestão de 770 μg/dia de vitamina A. No Brasil, o Ministério da Saúde (2013), no Programa Nacional de Suplementação de Vitamina A, recomenda a suplementação dessa vitamina, com o intuito de controlar sua deficiência em crianças e mulheres no pós‑parto imediato, principalmente em áreas consideradas de risco (Nordeste, região norte de Minas Gerais, Vale do Jequitinhonha, Vale do Murici e Vale do Ribeira em São Paulo). As mulheres recebem uma dose única de 200.000 UI de vitamina A, ainda na maternidade. Em crianças, a suplementação é realizada de acordo com a idade, a cada seis meses (com idade entre seis e 59 meses). Vitamina C Recomenda‑se a ingestão diária de 85 mg para gestantes entre 19 e 50 anos, necessidade que é facilmente alcançada por meio da alimentação rica em frutas e hortaliças. A quantidade máxima tolerada dessa vitamina é de 2 g/dia. Sua deficiência na gestação está associada ao parto prematuro, à pré‑eclâmpsia e ao aumento no risco de infecções. Vitamina D A recomendação de vitamina D para mulheres (gestantes ou não) é de 5 μg/dia, sendo que mulheres com exposição regular aos raios solares não necessitam de suplementação. A deficiência de vitamina D associa‑se a distúrbios da homeostase óssea na criança, à redução da mineralização óssea e ao aumento no risco de fraturas. Tabela 24 – Recomendações de micronutrientes para gestantes entre 19 e 50 anos Nutriente Recomendado Nutriente Recomendado Vitamina A 770 μg/dia Crômio 30 μg/dia Vitamina C 85 mg/dia Cobre 1.000 μg/dia Vitamina D 5 μg/dia Flúor 3 mg/dia Vitamina E 15 mg/dia Iodo 220 μg/dia Vitamina K 90 μg/dia Ferro 27 mg/dia Tiamina 1,4 mg/dia Magnésio 350 mg/dia Riboflavina 1,4 mg/dia Manganês 2 mg/dia Niacina 18 mg/dia Vitamina B6 1,10 mg/dia Molibdênio 50 μg/dia Fósforo 700 mg/dia Ácido fólico 600 μg/dia Selênio 60 μg/dia Vitamina B12 2,6 μg/dia Zinco 11 mg/dia Pantotênico 6 mg/dia Potássio 4,7 g/dia Biotina 30 μg/dia Sódio 1,5 g/dia Colina 450 mg/dia Cálcio 1.000 mg/dia Adaptada de: IOM (2004; 2009). 95 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA 5.5.4 Necessidades de micronutrientes (vitaminas e minerais) na lactação A adequação da oferta de micronutrientes à nutriz é de suma importância para garantir a secreção láctea adequada e, dessa maneira, assegurar o desenvolvimento adequado do lactente. Durante a lactação, as deficiências nutricionais da nutriz podem contribuir para a manutenção de baixas reservas ao lactente, pois alguns nutrientes do leite materno refletem na ingestão de alimentos da mãe. Observação Apenas algumas vitaminas e minerais no leite materno são sensíveis ao consumo por parte da mãe. A quantidade de zinco presente no leite materno tende a diminuir à medida que o processo de amamentação avança, o que torna importante a sua ingestão, sob a forma de suplemento, já que as necessidades desse mineral são maiores durante a lactação do que na gravidez. A vitamina D é necessária na absorção do cálcio e se relaciona à ingestão por parte da mãe, bem como com a sua exposição ao sol. A absorção de ferro aumenta durante a gravidez, o que diminui as necessidades de suplementação durante a lactação. Em relação ao consumo de cálcio, evidências sugerem que durante a gravidez e no aleitamento acontecem mudanças adaptativas fisiológicas que não dependem da oferta mineral materna, desde que dentro dos níveis de ingestão dietética normais. Durante a amamentação, acontece comumente uma redução na massa óssea da gestante que, de maneira geral, recupera‑a depois do desmame. Dessa forma, não se recomenda o consumo de suplementos especiais de cálcio, mas vale ressaltar que as necessidades desse nutriente encontram‑se muito elevadas (1.000 mg/dia). Em relação ao consumo/ingestão de iodo, observa‑se que uma deficiência severa ou moderada durante a lactação afeta as funções da tiroide tanto na mãe como no lactente, assim como condiciona o desenvolvimento neurofisiológico da criança. ObservaçãoNão há razões para aumentar a ingestão hídrica durante a gravidez, porém, na lactação, esse é um cuidado importante. Nutrizes apresentam maior propensão à desidratação, especialmente em regiões de clima quente. 96 Unidade II 5.6 Planejamento dietético para gestantes e nutrizes: orientações gerais Uma alimentação adequada e equilibrada durante a gestação é de suma importância para o bebê, pois garante o bom crescimento e o desenvolvimento, além de evitar ou tratar problemas que podem aparecer em gestantes, tais como diabetes gestacional, hipertensão arterial, constipação, má digestão, náuseas, vômitos e ganho insuficiente ou excessivo de peso. Para as nutrizes, o cuidado com alimentação também merece atenção. As necessidades de energia e outros nutrientes aumentam. Assim, seguem algumas orientações importantes ao planejamento dietético nessas fases da vida: • adequar a oferta energética conforme o período gestacional ou de lactação, verificando o estado nutricional da gestante e lactente, sempre optando por escolhas alimentares que contemplem as necessidades energéticas associadas à oferta de nutrientes essenciais nessas fases da vida; • fracionar a alimentação em cinco ou seis refeições por dia, evitando, assim, períodos prolongados de jejum e assegurando níveis glicêmicos constantes; • aumentar o consumo de alimentos in natura e evitar o consumo de alimentos ultraprocessados; • na gestação, ingerir líquidos (entre seis e oito copos de água por dia); • na lactação, ingerir em média 3 L/dia de líquidos (principalmente água); • aumentar o consumo de alimentos do grupo do leite e queijo, consumindo‑os pelo menos três vezes por dia; • ingerir alimentos fonte de vitamina C nas refeições principais para facilitar a absorção de ferro; • aumentar a ingestão de hortaliças e frutas, incluindo pelo menos um vegetal amarelo alaranjado e uma fruta cítrica; • elaborar cardápios que contenham alimentos como vísceras, carnes, verduras de folhas (principalmente verde‑escuras), vegetais amarelo‑alaranjados, e/ou leguminosas, assegurando, assim o aporte necessário de micronutrientes e fibras; • aumentar a ingestão de peixes (no mínimo duas vezes por semana); • priorizar técnicas de preparo tais como refogar, assar, cozer, grelhar; • reduzir o consumo de alimentos fonte de açúcar, sal e gordura em excesso (alimentos ultraprocessados); • evitar o uso excessivo de adoçantes; • limitar o consumo de cafeína (refrigerante, café e chás) a menos de 300 mg/dia. 97 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA Saiba mais Para fazer uma inter‑relação com o conteúdo, assista ao documentário: O começo da vida. Ele retrata os primeiros mil dias de um recém‑nascido, período crucial pós‑nascimento para o desenvolvimento saudável da criança, seja na infância e/ou vida adulta: O COMEÇO da vida. Direção: Estela Renner. Brasil: Maria Farinha Filmes, 2016. 120 minutos. Quadro 19 – Proposta de planejamento dietético para gestante – dieta de 2.000 kcal Refeição Alimento/preparação Medida usual Peso (g) Café da manhã _____ h Leite integral (puro) 1 copo 200 Pão integral 2 fatias 50 com queijo prato 1 e ½ fatia 30 Mamão papaia ½ unidade 180 Lanche da manhã _____ h Banana prata 1 unidade 75 Granola 1 colher de sopa 15 Cereal em barra 1 unidade 30 Almoço _____ h Arroz com feijão: – Arroz 4 colheres de sopa 125 – Feijão 1 concha 86 Carne moída refogada 5 colheres de sopa 100 Mandioca cozida 1 colher de sopa 40 Couve refogada 1 colher de servir 42 Salada de alface, agrião e tomate: – Alface 7 folhas 60 – Agrião 5 ramos 40 – Tomate 1 fatia 40 Temperada com: – Azeite de oliva 1 colher de chá 2 – Limão 1 unidade 15 Lanche da tarde _____ h Torrada com requeijão: – Torrada 4 unidades 40 – Requeijão ½ colher de sopa 15 Suco de laranja 1 copo 180 Bolo simples 1 fatia 50 98 Unidade II Refeição Alimento/preparação Medida usual Peso (g) Jantar _____ h Lanche natural: – Pão integral 2 fatias 50 – Ricota 1 fatia 50 – Peito de peru 2 fatias 50 – Cenoura ralada 1 colher de sopa 20 – Beterraba ralada 1 colher de sopa 20 – Azeite 1 colher de chá 2,5 Goiaba 1 unidade 130 Ceia _____ h Iogurte de frutas 1 pote 120 Banana com aveia e mel: – Banana prata 1 unidade 75 – Aveia em flocos 2 colheres de sopa 20 – Mel 1 colher de sopa 10 Fonte: Philippi e Aquino (2015, p. 337‑338). 6 PLANEJAMENTO DIETÉTICO NA INFÂNCIA: LACTENTE, PRÉ‑ESCOLAR E ESCOLAR Os hábitos alimentares nos primeiros anos repercutirão de diferentes formas ao longo de toda a vida dos indivíduos. São, assim, fundamentais para a formação dos hábitos associados aos padrões alimentares saudáveis. O planejamento dietético e a alimentação saudável na infância possibilitam o adequado desenvolvimento e crescimento, evitando carências nutricionais e prevenindo problemas de saúde influenciados pela alimentação na fase adulta. A lactação é a fase da vida marcada pelo início do processo nutricional infantil, logo após o nascimento. As fases posteriores: pré‑escolar (dois a seis anos de idade) e escolar (sete a dez anos) são destacadas por estágios de aumento da socialização, independência e individualidade, características que fazem com que a criança expresse suas preferências alimentares. Ao mesmo tempo, observa‑se que a alimentação na infância requer também atenção em relação aos aspectos sensoriais (cores, texturas, sabores), formas de preparo (temperos suaves, preparações simples e alimentos básicos), porções adequadas à capacidade gástrica de cada fase, bem como ao ambiente onde serão realizadas as refeições. Todos esses fatores devem ser levados em consideração não só com o objetivo de atender às demandas nutricionais de cada fase, mas também emocionais e sociais. A orientação nutricional adequada propicia que sejam feitas boas escolhas alimentares, sendo que, nessa fase, a família e as escolas são fundamentais nesse processo. 99 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA 6.1 Lactentes Lactentes são os indivíduos em fase de amamentação. De acordo com a OMS (WHO, 2010), recomenda‑se o aleitamento materno até os dois anos de idade, e como alimento exclusivo até os seis meses de vida do bebê. Através do leite materno (LM), a criança recebe não apenas os nutrientes básicos, mas também outros, benéficos, que promovem o seu crescimento e desenvolvimento adequado. Os parâmetros antropométricos que mensuram o crescimento infantil são: peso ao nascer, peso por idade, peso por estatura, estatura por idade e o perímetro cefálico. Espera‑se que o peso do lactente se duplique nos primeiros seis meses de vida e triplique até um ano de idade. Já a estatura deve dobrar desde o nascimento até o primeiro ano de vida. Um bom indicador de maturidade relaciona‑se à velocidade de erupção dentária. Por volta dos seis meses começam a surgir os primeiros dentes (os centrais inferiores), seguidos dos incisivos laterais (por volta dos oito meses), dos primeiros molares (14 meses), dos caninos (18 meses) e dos segundos molares (dois anos). Tabela 25 – Velocidade de ganho de peso e comprimento no primeiro ano de vida Idade Peso Comprimento 0 a 6 meses 20 a 25 g/dia (600 g/mês) 4 a 5 cm/mês 7 a 12 meses 25 a 20 g/dia (400 g/mês) 2 a 3 cm/mês Fonte: Vitolo (2015, p. 174). Desde o nascimento, o lactente tem força e capacidade de realizar o processo de sucção e deglutição do leite. A capacidade estomacal do recém‑nascido é reduzida (10 a 20 mL), podendo atingir de 200 a 250 mL aos 12 meses de idade. Ao realizar a introdução alimentar na criança, é de suma importância respeitar seu processo de erupção dentária versus a consistência da alimentação. Em relação aos aspectos motores, observa‑se que dos quatro aos seis meses, o lactente é capaz de sentar‑se com auxílio de um apoio, apresenta firmeza e consegue sustentar o pescoço. Dos seis aos oito meses, a criança já se senta sem apoio, engatinha e transfere o alimento de uma mão para a outra. Entre nove e dez meses, fica de pé com apoio,se entusiasma na presença de alimentos e também nega com a cabeça. Com 12 meses, começa a caminhar e a expressar as primeiras palavras. 100 Unidade II 6.2 Necessidades nutricionais do lactente Uma alimentação saudável na infância consiste em fornecer ao lactente aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida, seguido de introdução alimentar que complemente o leite materno. A partir dos seis meses, atendendo ao desenvolvimento neuropsicomotor do lactente, é possível iniciar a introdução de outros alimentos. Nessa idade, as enzimas digestivas são produzidas em quantidades suficientes, razão que habilita as crianças a receberem outros alimentos além do leite materno. Entende‑se por alimentação complementar o conjunto de todos os alimentos, além do leite materno, oferecidos durante o período em que a criança continuará a ser amamentada através do seio, embora sem exclusividade. A alimentação complementar também pode ser chamada de transição quando for especialmente preparada para a criança pequena até que ela possa receber alimentos com a mesma consistência dos consumidos pela família (em torno dos nove a 11 meses de idade). Observação Evidências científicas (WHO, 2010) têm demonstrado os benefícios do aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida do lactente. A partir dessa idade, o volume de leite ingerido é insuficiente e não é capaz de suprir adequadamente as necessidades energético‑proteicas e de micronutrientes do bebê. Energia As necessidades energéticas do lactente se relacionam a fatores tais como: o tamanho e a composição corporal, a taxa metabólica, o gênero e o tamanho ao nascer. A necessidade energética aumenta com o crescimento e é maior em meninos do que em meninas. A massa livre de gordura é responsável pelas diferenças entre sexo e idade. A termogênese induzida pela dieta (TID) em crianças alimentadas com fórmulas infantis é maior do que em crianças amamentadas com leite materno. As demandas energéticas podem ser calculadas por meio de equações preditivas. Tabela 26 – Estimativas energéticas para crianças de 0 a 35 meses Idade EER 0 a 3 meses EER = (89 × peso [kg] – 100) + 175 kcal de energia de depósito 4 a 6 meses EER = (89 × peso [kg] – 100) + 56 kcal de energia de depósito 7 a 12 meses EER = (89 × peso [kg] – 100) + 22 kcal de energia de depósito 13 a 35 meses EER = (89 × peso [kg] – 100) + 20 kcal de energia de depósito Adaptada de: IOM (2002). 101 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA As fontes de energia devem ser distribuídas de maneira equilibrada entre os macronutrientes (carboidrato, proteína e lipídio), de acordo com as DRIs (IOM, 2002). Tabela 27 – Distribuição de macronutrientes (um a três anos de idade) Macronutrientes Percentual de energia (%) Carboidratos 45–65 Proteínas 5–20 Gorduras totais 30–40 Ômega 6 5–10 Ômega 3 0,6–1,2 Adaptada de: IOM (2002). Carboidrato Nos lactentes, os carboidratos representam 50% da energia proveniente do leite materno, especialmente durante os seis primeiros meses de vida. Depois desse período, esse nutriente continua desenvolvendo papel importante, pois contribui com a preservação das proteínas que se encontram destinadas ao crescimento e desenvolvimento adequado da criança. A lactose é o carboidrato mais consumido pelo lactente (seja no leite materno, seja em fórmulas infantis). O leite materno (LM) não é fonte de fibras, portanto, ao se realizar o processo de introdução alimentar, é necessário introduzi‑la. Contudo, não há recomendações científicas sobre a quantidade ideal a ser consumida nessa fase. Orienta‑se, assim, que, entre os seis e 12 meses de idade, sejam consumidos alimentos fontes de fibra, tais como: cereais integrais, frutas e hortaliças. Já a partir de 12 meses, a recomendação é de 5 g/dia (USDA, 2010). Proteínas As proteínas são de suma importância, pois na fase da lactância o crescimento e desenvolvimento se encontram acelerados. O aleitamento materno assegura o aporte adequado de proteínas ao lactente durante os primeiros seis meses de vida. Durante os meses seguintes, esse fornecimento deve ser complementado com a introdução de alimentos fonte desse nutriente por meio da introdução alimentar. 102 Unidade II Tabela 28 – Recomendação proteica na infância (g/dia) Estágio da vida AI*/RDA g/kg de peso dia AI EAR RDA Lactente 0 a 6 meses 9,1* 1,52 ‑‑‑ ‑‑‑ 7 a 12 meses 13,5 ‑‑‑ 1,1 1,5 Crianças 1 a 3 anos 13,0 ‑‑‑ 0,88 1,10 Adaptado de: IOM (2002). Lipídios As gorduras ingeridas pelo lactente são importantes ao seu crescimento e desenvolvimento adequado e devem oscilar entre 30% e 40% do consumo calórico total. Vitaminas O leite materno apresenta vitaminas em proporções adequadas, com exceção da vitamina D, que é sintetizada através da pele, depois da exposição solar, não sendo recomendada sua suplementação até o primeiro ano de vida. A vitamina A é de suma importância nessa fase da vida. O leite materno contribui para o aumento das reservas desse nutriente e assegura um crescimento e desenvolvimento adequado. Apresenta, também, função primordial no sistema imunológico. A vitamina C varia de acordo com a ingestão materna, mas ainda assim o leite materno é considerado uma boa fonte. A vitamina B12 também se encontra no leite materno e varia conforme a alimentação da mãe. Está presente principalmente em alimentos de origem animal. Dessa maneira, mães veganas podem apresentar quantidade insuficiente dessa vitamina, e sua deficiência pode ocasionar lesões neurológicas graves e permanentes no lactente. O folato apresenta quantidade relativamente constante no leite materno. Minerais: ferro O ferro é um importante micronutriente, já que sua carência nutricional está associada à anemia ferropriva e a retardo no desenvolvimento neuropsicomotor e na capacidade intelectual e motora do lactente. O aleitamento materno exclusivo, apesar de oferecer uma quantidade pequena de ferro, supre a necessidade do bebê durante os seis primeiros meses de vida. Após esse período é concomitante 103 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA à introdução alimentar, entretanto, há que se atentar às demandas de ferro, pois pode ocorrer um balanço negativo, tornando necessária a sua suplementação e a ingestão de alimentos fonte e/ou fortificados com esse mineral. Água As necessidades de água para o crescimento por parte do lactente são reduzidas (1,5 ml/kcal/dia) e estão relacionadas às perdas na urina, nas excreções sólidas, nos pulmões e na pele. Lactentes são mais vulneráveis ao desequilíbrio hídrico, pois são recorrentes episódios de diarreias e vômitos, que levam a maiores perdas. Em condições normais, tanto o leite materno como as fórmulas preparadas em conformidade com as necessidades do bebê respeitam as necessidades de água do lactente. Isso significa que, durante o aleitamento materno exclusivo (até o sexto mês), não há necessidade de ofertar água ao lactente. Observação A água é fonte essencial para a vida, sendo também um alimento. A criança em amamentação exclusiva não precisa beber água, pois o LM hidrata na medida certa. Tabela 29 – Recomendação de água em crianças de 0 a 36 meses Idade Água total* (L/dia)AI Água total (L/dia) UL 0 a 6 meses 0,7 (LM) ‑‑‑ 7 a 12 meses 0,8 0,6 (LM + fórmulas + chás/sucos) 1 a 3 anos 1,3 0,9 *Água total: água pura + bebidas + água presente nos alimentos. Adaptada de: USDA (2010). Para matar a sede da criança, devemos oferecer água. Ela deve ser introduzida a partir do momento em que novos alimentos além do LM forem incluídos na rotina da criança. Com frequência, o cuidador da criança oferece água de coco, sucos naturais de frutas, bebidas industrializadas (refrescos, bebidas à base de frutas ou com soja), chá gelado, refrigerante, bebidas gaseificadas. Todas essas bebidas não são recomendadas, pois apresentam alto teor de açúcar, sódio e aditivos químicos. Essa prática contribui com a probabilidade de a criança apresentar excesso de peso, cáriee diabetes. 6.2.1 Alimentação complementar Alimentação complementar consiste na introdução de qualquer tipo de alimento na dieta de uma criança que até então se encontrava em aleitamento materno exclusivo. Os alimentos de transição são aqueles especialmente preparados para crianças pequenas, até que elas passem a se alimentar de alimentos consumidos pela família. 104 Unidade II Nesse processo, devem ser oferecidos à criança alimentos em diversidade de cores, sabores, texturas e cheiros. A partir do sexto mês, a maioria das crianças já é capaz de realizar movimentos de mastigação mesmo antes de surgirem os primeiros dentes, demonstram interesse pelos alimentos e gostam de participar das refeições em família. As práticas alimentares da família (o que, como e quando a criança come) têm papel importante na formação dos hábitos alimentares saudáveis para toda a vida e influenciarão sua relação com a comida. Assim, a alimentação deve ser um momento de experiências positivas, integradoras, de aprendizado e de afeto. O processo de introdução alimentar deve respeitar o ritmo da criança, bem como os sinais de fome e saciedade. Observação É necessário atentar‑se aos sinais da criança durante a introdução alimentar. Se ela demonstrar querer comer mais, ofereça mais comida; se ela não quiser mais comer, não insista e nem force‑a a fazê‑lo; além disso, jamais obrigue a criança a “limpar o prato”, pois isso pode comprometer a habilidade de controlar o apetite e levar ao ganho de peso excessivo. A relação da criança com a comida pode demandar tempo e exige do cuidador atenção e paciência, ou seja, a forma como a refeição é oferecida pode encorajar ou desmotivar o aprendizado. O ideal é que, durante a refeição, a criança esteja voltada para aquele momento. Desaconselha‑se que ela seja alimentada realizando outras atividades ao mesmo tempo e que o ambiente apresente outros atrativos (televisão, celular, outros). Distrações no ambiente alimentar podem fazer com que a criança coma de maneira automática, sem prestar muita atenção no alimento. Em longo prazo, isso pode causar danos como a perda do controle do mecanismo de fome e saciedade, além do ganho excessivo de peso. Saiba mais Para saber mais sobre este assunto, leia a seção “Alimentação adequada e saudável: lidando com os desafios do cotidiano” do novo Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos: BRASIL. Guia alimentar para crianças brasileiras menores de 2 anos. Ministério da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2019. 105 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA A maneira como cuidar e oferecer a refeição pode ajudar ou dificultar o aprendizado da alimentação; sendo assim, estimule a criança: • colocando‑a para comer junto da família, elaborando um prato somente para ela; • deixando‑a livre para segurar os alimentos e utensílios; • variando as formas de apresentação (prato bonito, colorido, cheiroso e saboroso); • interagindo com ela dizendo sempre o nome dos alimentos que estiver comendo; • dedicando tempo e paciência aos momentos da refeição da criança; • parabenizando e elogie o consumo dos alimentos e/ou da refeição. Ao mesmo tempo, evite: • forçar a criança a comer; • oferecer atrativos como TV, celular, ou tablet enquanto a criança come; • utilizar aparelhos eletrônicos enquanto oferece comida à criança; • alimentar a criança enquanto ela anda e brinca pela casa; • esconder alimentos de que a criança não gosta em preparações. Evite frases como: • “Se raspar todo o prato, vai ganhar sobremesa.” • “Vou ficar tão triste se você não comer...” • “Se você não comer, não vai brincar.” • “Por favor, só mais uma colherzinha.” 6.3 A introdução alimentar No início da introdução alimentar, a criança deverá receber o alimento/preparação amassado com o garfo. Depois, deve‑se evoluir na consistência, deixando os alimentos mais picados e em pedaços, raspados ou desfiados para que a criança aprenda a mastigá‑los. Também podem ser oferecidos alimentos mais macios e em pedaços maiores para que ela pegue com a mão e leve à boca. 106 Unidade II Quando já maior, a criança pode receber as preparações/comida semelhantes à da família, com auxílio no corte dos pedaços grandes, quando necessário. Não ofereça alimentos liquidificados ou peneirados. Essa consistência dificulta a aceitação futura da ingestão de alimentos sólidos, podendo contribuir com casos de engasgos e ânsia de vômito. 6 meses 8 meses 12 meses Adulto Figura 16 – Evolução da consistência das preparações (almoço e jantar) Respeite a quantidade de alimentos a ser oferecida para a criança e aumente o volume a servir com o tempo. A melhor maneira de avaliar se a quantidade oferecida está adequada é observar o crescimento e desenvolvimento da criança dentro do que é esperado para a fase em que se encontra (peso e altura na curva de crescimento). Introduza gradativamente novos alimentos, novos cheiros, sabores e texturas, principalmente no primeiro ano de vida. Dê preferência aos alimentos in natura ou minimamente processados, incluindo em sua dieta alimentos dos diferentes grupos, bem como regionais e culturais. Carnes e ovos: carne bovina, carne de frango, carne de suíno, carne de cordeiro, peixe, miúdos, ovos e outras carnes Cereais, raízes e tubérculos: aipim, inhame, batata‑inglesa, batata‑baroa, batata‑doce, cará, angu, milho, arroz, entre outros. Feijões: feijão‑fradinho, feijão‑preto, feijão‑rajado, feijão‑vermelho, feijão‑de‑corda, lentilha, ervilha, grão‑de‑bico. Legumes e verduras: abóbora, abobrinha, cenoura, chuchu, couve‑flor, quiabo, maxixe, jiló, espinafre, couve, bertalha, agrião, entre outros. Figura 17 – Exemplo de prato com alimentos dos diferentes grupos 107 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA Para estimular novos sabores, o ideal é oferecer os alimentos de maneira separada, sem misturá‑los. As preparações oferecidas para a criança podem e devem, desde o início, serem semelhantes às que são consumidas pela família. Além disso, é importante atentar‑se à quantidade de óleo (menor quantidade), reduzir a quantidade de sal, usando mais temperos naturais (alho, cebola, cheiro verde, outros). Evite o uso de temperos ultraprocessados vendidos em cubos, sachês ou líquido, pois eles apresentam alta concentração de sódio. Em relação ao açúcar, é importante que ele não seja oferecido às crianças menores de dois anos. Assim, o ideal é que nos primeiros dois anos de vida, frutas e bebidas não sejam adoçadas com nenhum tipo de açúcar ou edulcorante (natural ou artificial) e que não sejam oferecidas preparações que contenham o ingrediente (bolo, biscoitos, doces e geleias), ou alimentos ultraprocessados nos quais o açúcar esteja presente em grande quantidade (refrigerantes, achocolatados, farinhas instantâneas com açúcar, bolos prontos, iogurtes, sucos de caixinha, entre outros). O consumo precoce de açúcar pode contribuir com o ganho de peso excessivo durante a infância, aumentando as chances do desenvolvimento de obesidade e outras DCNT na vida adulta. Fora isso, não deixe de atentar‑se aos utensílios que serão utilizados. Opte por materiais resistentes e de um tamanho que caiba na boca da criança. O ideal é que os líquidos sejam ofertados em copos. O uso de mamadeira prejudica a habilidade da criança de regular o apetite e pode contribuir com o aumento do peso excessivo, além de prejudicar o aleitamento (desmame precoce), bem como promover alterações na fala (modificando o movimento e a posição da língua e prejudicando o desenvolvimento da deglutição, da mastigação e da fala). Figura 18 – Utensílios a serem utilizados na introdução alimentar Sobre o correto posicionamento para ajudar na aceitação da comida, o ideal é que a criança se encontre sentada, com a postura reta, em local confortável e seguro, e que a comida sempre seja oferecida de frente para ela. 108 Unidade II Figura 19 – Correto posicionamento da oferta dealimentos 6.3.1 Alimentação por faixa de idade Aos seis meses de idade É nessa fase que se inicia a introdução alimentar, por isso pode ocorrer de a criança cuspir a comida oferecida, parecendo que não está gostando. Isso pode acontecer pois durante o aleitamento materno a criança realiza a protrusão da língua (colocar a língua para fora), causando a impressão de recusa ao alimento. Esse movimento diminui por volta dos quatro a seis meses de vida. É nessa idade que começam a surgir os dentes, e, mesmo que ainda não os tenha, a criança já consegue aceitar a comida amassada com o garfo. Quadro 20 – Desenvolvimento e sinais de fome e saciedade da criança aos seis meses de idade Aspectos do desenvolvimento infantil relacionados com a alimentação Sinais de fome e saciedade mais comuns Sentar‑se com pouco ou nenhum apoio Diminuir a protrusão da língua Mastigar Aparecimento dos primeiros dentes Fome: chorar e se inclinar para a frente quando a colher se encontra próxima; segurar a mão da pessoa que oferece a comida; abrir a boca Saciedade: virar a cabeça ou o corpo; perder o interesse pela alimentação; empurrar a mão da pessoa que oferece a comida/refeição; fechar a boca; parecer angustiada e/ou chorar Adaptado de: Brasil (2019a). Nessa fase, o ideal é oferecer três refeições, que podem ser almoço (ou jantar) e dois lanches, ou almoço, jantar e um lanche, complementando com o leite materno nas demais refeições. O importante é que, ao completar sete meses, a criança já esteja recebendo três refeições. 109 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA Quadro 21 – Planejamento dietético aos seis meses de idade Refeição Alimento Café da manhã Leite materno Lanche da manhã Fruta e leite materno Almoço Recomenda‑se: – 1 alimento do grupo dos cereais ou raízes e tubérculos – 1 alimento do grupo dos feijões – 1 ou mais alimentos do grupo dos legumes e verduras – 1 alimento do grupo das carnes e ovos Junto à refeição, pode ser oferecido um pedaço de fruta Quantidade (referência): 2–3 colheres de sopa, sempre respeitando as características da criança Lanche da tarde Fruta e leite materno Jantar Leite materno Antes de dormir Leite materno Observação: o leite materno pode ser oferecido sempre que a criança quiser Adaptado de: Brasil (2019a). Figura 20 – Exemplo de alimentação ofertada às crianças de seis meses de idade Entre sete e oito meses de idade À medida que a criança se desenvolve e cresce, vai adquirindo habilidades motoras (sentar‑se sem apoio, por exemplo) e começa a aceitar alimentos de consistência mais firme e em pequenos pedaços. 110 Unidade II Quadro 22 – Desenvolvimento e sinais de fome e saciedade da criança entre sete e oito meses de idade Aspectos do desenvolvimento infantil relacionados com a alimentação Sinais de fome e saciedade mais comuns Sentar‑se sem apoio Pegar alimentos e levá‑los até a boca Surgimento de novos dentes Fome: inclinar‑se na direção da colher ou alimento; pegar ou apontar para o alimento Saciedade: se alimentar mais devagar; fechar a boca e empurrar o alimento; ficar com o alimento parado na boca sem engoli‑lo Adaptado de: Brasil (2019a). Quadro 23 – Planejamento dietético entre sete e oito meses de idade Refeição Alimento Café da manhã Leite materno Lanche da manhã e da tarde Fruta e leite materno Almoço e jantar Recomenda‑se: – 1 alimento do grupo dos cereais ou raízes e tubérculos – 1 alimento do grupo dos feijões – 1 ou mais alimentos do grupo dos legumes e verduras – 1 alimento do grupo das carnes e ovos Junto com a refeição, pode ser oferecido um pedaço de fruta Quantidade (referência): 3‑4 colheres de sopa, sempre respeitando as características da criança Antes de dormir Leite materno Observação: o leite materno pode ser oferecido sempre que a criança quiser Adaptado de: Brasil (2019a). 6 meses 8 meses 12 meses Figura 21 – Evolução da consistência das preparações: lanches 111 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA Entre nove e 11 meses A criança continua desenvolvendo habilidades. O movimento de pinça com a mão permite que ela segure pequenos objetos e alimentos, sendo capaz de levar a colher até a boca, dar dentadas e mastigar melhor os alimentos mais duros. Inicia‑se o processo de independência alimentar, mas ainda é preciso auxiliá‑la. Nessa fase, embora o LM continue sendo importante para a criança, a comida começa a contribuir de maneira mais significativa com as demandas nutricionais. É preciso estar atento aos sinais de fome e saciedade, bem como à quantidade de comida consumida. Quadro 24 – Desenvolvimento e sinais de fome e saciedade da criança entre 9 e 11 meses de idade Aspectos do desenvolvimento infantil relacionados com a alimentação Sinais de fome e saciedade mais comuns Engatinhar ou andar com apoio Fazer movimentos de pinça Poder comer de maneira independente, ainda que necessitando de ajuda, eventualmente Realizar dentadas e mastigar alimentos mais duros Fome: pegar ou apontar para o alimento; ficar animada quando o vir Saciedade: se alimentar mais devagar; fechar a boca e empurrar o alimento; ficar com o alimento parado na boca sem engoli‑lo Adaptado de: Brasil (2019a). Quadro 25 – Planejamento dietético entre 9 e 11 meses de idade Refeição Alimento Café da manhã Leite materno Lanche da manhã e da tarde Fruta e leite materno Almoço e jantar Recomenda‑se: – 1 alimento do grupo dos cereais ou raízes e tubérculos – 1 alimento do grupo dos feijões – 1 ou mais alimentos do grupo dos legumes e verduras – 1 alimento do grupo das carnes e ovos Junto com a refeição, pode ser oferecido um pedaço de fruta Quantidade (referência): 4‑5 colheres de sopa, sempre respeitando as características da criança Antes de dormir Leite materno Observação: o leite materno pode ser oferecido sempre que a criança quiser Adaptado de: Brasil (2019a). 112 Unidade II Entre um e dois anos de idade Iniciam‑se grandes mudanças a partir de um ano, quando há uma desaceleração no crescimento e ganho de peso. A alimentação começa a ficar em segundo plano, uma vez que a criança aprende a andar e fica bastante curiosa com o ambiente ao redor. Ao aprender a falar, já consegue pedir os alimentos de sua preferência, controla melhor a colher e segura o copo com as duas mãos, podendo, assim, alimentar‑se sozinha. Quadro 26 – Desenvolvimento e sinais de fome e saciedade da criança entre um e dois anos de idade Aspectos do desenvolvimento infantil relacionados com a alimentação Sinais de fome e saciedade mais comuns Andar com ou nenhum auxílio Comer com colher Segurar o alimento com a mão Segurar o copo com as duas mãos Maior habilidade em mastigar Aparecimento dos dentes molares Fome: combina palavras e gestos, expressando vontades alimentares; leva o cuidador ao local onde se encontra os alimentos e aponta o que deseja Saciedade: balança a cabeça; diz que não quer sair da mesa; brinca com o alimento; joga o alimento longe Adaptado de: Brasil (2019a). Quadro 27 – Planejamento dietético entre um e dois anos de idade Refeição Alimento Café da manhã Fruta e leite materno ou Cereal (pães caseiros ou processados, aveia, outros) e leite materno ou Alimento do grupo das raízes e tubérculos e leite materno Lanche da manhã Fruta e leite materno Almoço e jantar Recomenda‑se: – 1 alimento do grupo dos cereais ou raízes e tubérculos – 1 alimento do grupo dos feijões – 1 ou mais alimentos do grupo dos legumes e verduras – 1 alimento do grupo das carnes e ovos Junto com a refeição, pode ser oferecido um pedaço de fruta Quantidade (referência): 5–6 colheres de sopa, sempre respeitando as características da criança Lanche da tarde – Fruta e leite materno ou – Cereal (pães caseiros ou processados, aveia, outros) e leite materno ou – Alimento do grupo das raízes e tubérculos e leite materno Antes de dormir Leite materno Observação: o leite materno pode ser oferecido sempre que a criança quiser Adaptado de: Brasil (2019a).113 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA Após um ano de vida e, até por volta dos dois anos de idade, o LM pode continuar sendo ofertado como fonte de nutrientes. Estima‑se que dois copos (500 mL) de LM no segundo ano de vida forneçam quase toda a necessidade diária recomendada de vitamina C e praticamente metade das demandas de vitamina A, além de proteínas e energia. 12 passos para uma alimentação saudável O Ministério da Saúde dá as seguintes orientações sobre alimentação saudável: 1. Amamentar até dois anos ou mais, oferecendo somente leite materno até seis meses. 2. Oferecer alimentos in natura e/ou minimamente processados, além do leite materno a partir dos seis meses. 3. Oferecer água própria para consumo à criança ao invés de sucos, refrigerantes e outras bebidas açucaradas. 4. Oferecer comida amassada quando a criança começar a comer outros alimentos além do leite materno. 5. Não oferecer açúcar nem preparações ou produtos que contenham açúcar à criança até dois anos de idade. 6. Não oferecer alimentos ultraprocessados para crianças. 7. Cozinhar a mesma comida para a criança e para a família. 8. Zelar para que a hora da alimentação da criança seja um momento de experiências positivas, aprendizado e afeto junto da família. 9. Prestar atenção aos sinais de fome e saciedade da criança e conversar com ela durante a refeição. 10. Cuidar da higiene em todas as etapas da alimentação da criança e da família. 11. Oferecer à criança alimentação adequada e saudável também fora de casa. 12. Proteger a criança da publicidade de alimentos. Adaptado de: Brasil (2019a). 114 Unidade II 6.4 Pré‑escolares A idade pré‑escolar compreende crianças entre dois e seis anos de idade, e se caracteriza por uma redução na velocidade de crescimento e no apetite. Nessa fase, a criança demonstra grande interesse pelo ambiente, reduzindo, assim, seu interesse pelos alimentos. A partir do 2º ano de vida, a criança torna‑se mais independente, possuindo maiores habilidades em se comunicar. Já possui diversos dentes e apresenta sistema metabólico e digestivo com capacidade igual ou semelhante ao dos adultos. É a fase ideal para estimular a criança a se alimentar sozinha, fazendo suas refeições em local adequado e, sempre que possível, junto aos demais familiares. Nessa etapa, ocorre maturação progressiva da linguagem e da capacidade de se relacionar com o meio ambiente, especialmente com seus familiares e com seus amigos, assim, há facilidade no manuseio da linguagem e na coordenação de ideias. Trata‑se de uma fase decisiva em termos de formação de hábitos alimentares, que tendem a se solidificar na vida adulta. Por isso, é importante estimular o consumo de uma alimentação saudável o mais precocemente possível. Um importante princípio da alimentação nessa fase da vida é a habilidade de autorregularem em relação à ingestão de alimentos. A fome e a vontade de comer podem variar a cada refeição e a cada dia. Apesar disso, o recomendável é ofertar porções menores de alimentos e esperar que a criança solicite mais, caso deseje. É importante, além disso, encorajar a criança a perceber os sinais de saciedade e fome e não obrigá‑la a comer toda a comida no prato. Os pais devem ser capazes de lidar com a neofobia (medo de experimentar novos alimentos e sabores) que não fazem parte de suas preferências alimentares. De maneira geral, os pré‑escolares encontram‑se expostos a uma ampla variedade de alimentos com diversas composições, sabores, texturas e cores. A dieta costuma ser semelhante à dos escolares, entretanto, os pré‑escolares ingerem menos alimentos e tomam menos líquidos do que os escolares (exceto leite e produtos lácteos, que são consumidos em quantidades semelhantes pelos dois grupos). Depois do leite e dos produtos lácteos, os principais componentes da dieta de pré‑escolares são as frutas, os vegetais verdes, os tubérculos, os cereais, o açúcar, a carne e seus derivados. A alimentação inadequada, em especial a deficiência de ácidos graxos essenciais (linoleico e alfalinolênico), pode estar associada a déficits de aprendizagem e maior suscetibilidade a infecções. Portanto a alimentação adequada é fundamental para o crescimento e o desenvolvimento de crianças nessa faixa etária, já que é nessa fase que se consolidam os principais sistemas orgânicos e se formam os hábitos alimentares, fatores condicionantes para o equilíbrio da saúde do futuro adulto. 115 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA Quadro 28 – Atividades relacionadas às refeições e habilidades em pré‑escolares 2 anos 3 anos 4 anos 5 anos ou mais Ajudam a colocar e retirar a mesa; lavam hortaliças e legumes Misturam ingredientes frios; jogam restos de alimentos no lixo Amassam alimentos com utensílios; descascam ovos cozidos; colocam a mesa Medem ingredientes; cortam com a faca (cega); servem o próprio prato; usam garfo e faca Adaptado de: Philippi e Aquino (2015). Necessidades nutricionais do pré‑escolar As demandas nutricionais são estimadas com o objetivo de contribuir com o adequado crescimento e desenvolvimento. Tabela 30 – Estimativa das necessidades energéticas para crianças e adolescentes (3‑18 anos) (IOM, 2002) Sexo masculino NEE = 88,5 – 61,9 × idade (anos) + NAF × [(26,7 × peso kg) + 903 × altura m)] + 20 kcal de depósito (3‑8 anos de idade) ou + 25 kcal de depósito (9‑10 anos de idade) com Desvio padrão = 58 kcal Sexo feminino NEE = 135,3 – 30,8 × idade (anos) + NAF × [(10,0 × peso kg) + 934 × altura m)] + 20 kcal de depósito (3‑8 anos de idade) ou + 25 kcal de depósito (9‑10 anos de idade) com Desvio padrão = 68 kcal Adaptada de: IOM (2002). Tabela 31 – Coeficiente do NAF segundo gênero (IOM, 2002) Coeficiente NAF Sexo masculino Sexo feminino Sedentário 1 1 Leve 1,13 1,16 Moderado 1,26 1,31 Intenso 1,42 1,56 Adaptada de: IOM (2002). 116 Unidade II Para a distribuição dos macronutrientes, tem‑se diferença de valores entre idades. Tabela 32 – Distribuição de macronutrientes Macronutrientes Percentual de energia (%)1‑3 anos Percentual de energia (%) 4‑18 anos Carboidratos 45‑65 45‑65 Proteínas 5‑20 10‑30 Gorduras totais 30‑40 25‑35 Ômega 6 5‑10 5‑10 Ômega 3 0,6‑1,2 0,6‑1,2 Adaptada de: IOM (2002). Micronutrientes A ingestão de micronutrientes está relacionada com a ingestão de energia, de modo que é possível que as crianças cujo consumo de energia seja menor também sofram de deficiência de outros micronutrientes, como o ferro e o zinco, o cálcio, as vitaminas D e A. Deficiências de ferro podem prejudicar o desenvolvimento físico e mental, além de prevenir a anemia ferropriva. A adequada ingestão de cálcio contribui para o desenvolvimento e crescimento ósseo e influencia o pico de massa óssea e dentária. O zinco apresenta papel importante em processos cognitivos, imunológicos e sua deficiência pode comprometer o adequado desenvolvimento do pré‑escolar. A vitamina A relaciona‑se à acuidade visual e ao menor risco de determinadas doenças. Já a vitamina D estimula a absorção de cálcio. Tabela 33 – Necessidades nutricionais de micronutrientes entre crianças de 1 a 8 anos de idade Nutriente 1 a 3 anos 4 a 8 anos Ferro (mg/dia) 7 10 Cálcio (mg/dia) 700 1.000 Vitamina A (μ/dia) 300 400 Vitamina D (μ) 15 15 Zinco (mg) 3 5 Adaptada de: IOM (2002). 117 PLANEJAMENTO DE CARDÁPIOS NOS CICLOS DA VIDA Tabela 34 – Sugestões de alimentos fonte de cálcio para atingir as demandas nutricionais em crianças de 1 a 8 anos de idade Alimentos 1 a 3 anos Alimentos 4 a 8 anos Total de cálcio (mg) Total de cálcio (mg) 1 xícara de leite integral (250 mL) 290 2 xícaras de leite integral (500 mL) 580 1 fatia de queijo branco (30 g) 205 1 fatia de queijo branco (30 g) 205 1 laranja 96 1 unidade média de mamão 62 Total 591 Total 847 Recomendações nutricionais para o pré‑escolar A alimentação do pré‑escolar deve ser distribuída em três refeições principais (café da manhã, almoço e jantar), contemplando de 15% a
Compartilhar