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O livro de Rute Estudo produzido pelo prof. Tércio Machado Siqueira, professor de Antigo Testamento da FaTeo PRIMEIRA PARTE Ler o texto, através de um "Raio X", para conhecê-lo a partir do seu interior Recomendação: Ler o livro de Rute, seguindo a estrutura exposta abaixo. Primeiro ato: O cenário da história de Rute - 1.1-5 I. A família de Elimelec e Noemi deixa Judá para morar em Moab 1.1-2. relativo à data - "no tempo em que os juízes...". razão da mudança - "... houve uma grande fome no país e ...". identificação das pessoas ligadas a Elimelec e Noemi - 1.1b-2a. chegada a Moab - 1.2b. II. Relato sobre o desastre que caiu sobre a família de Elimelec e Noemi - 1.3-5. A morte de Elimelec, esposo de Noemi - 1.3. O casamento dos filhos de Noemi, com Orfa e Rute - 1.4. A morte dos dois filhos de Noemi - 1.5. Segundo ato: Noemi decide voltar para a terra natal - 1.6-18. I. Noemi e as noras discutem a mudança para Judá - 1.6-7. II. A despedida - 1.8-18. · primeira etapa: Noemi ordena que Rute e Orfa fiquem em Moab e as abençoa 1.8-10. · a despedida de Noemi - 1.8-9a · a reação de Rute e Órfã: elas choraram para acompanhar Noemi - 1.9b-10 · segunda etapa: Noemi aconselha as noras para permanecerem em Moab - 1.11-13. · ordem - 1.11a. · primeira razão: Noemi se declara impossibilitada de ter filho - 1.11b · ordem - 1.12a · segunda razão: Noemi se declara velha para se casar - 1.12b. · terceira razão: Rute e Orfa não poderiam esperar tanto tempo - 1.13. · terceira etapa: Orfa decide ficar em Moab e Rute segue com Noemi - 1.14-18. · Noemi apela para Rute ficar com seus parentes e com seus deuses - 1.14-15. · Rute recusa e declara: "Onde fores, irei eu..." - 1.16-17. · Noemi se convence da decisão de Rute - 1.18. Terceiro ato: Noemi e Rute chegam e se estabelecem em Belém - 1.19-22. I. A chegada e a reação da cidade, das mulheres e de Noemi - 1.19-20 O alvoroço despertado pela chegada de Noemi - 1.19. A reação de Noemi - 1.20-21. Sumário dos últimos acontecimentos - 1.22. Quarto ato: Rute, a moabita, é acolhida nas terras de Boaz - 2.1-17. I. Boaz é introduzido na história - 2.1. A permissão de Noemi para Rute respigar nos campos de Boaz - 2.2-3. Conversa de Boaz com os segadores - 2.4-7. Saudação e bênção - 2.4. Boaz identifica Rute, através do feitor - 2.5-7. Boaz conversa com Rute - 2.8-13. Boaz demonstra cuidado para com Rute - 2.8-9. Reação de Rute - 2.10. Resposta de Boaz - 2.11-12. Reação de Rute - 2.13. III. Rute encontra com Boaz à mesa de refeição - 2.14-17. Boaz convida Rute para sentar com ele à mesa - 2.14. Ao fim da refeição, Boaz ordena aos segadores cuidado para com Rute - 2.15-16. O respigar de Rute - 2.17. Quinto ato: Rute narra os últimos acontecimentos para Noemi - 2.18-23. I. A volta de Rute e a reportagem sobre o seu respigar - 2.18. II. A conversa entre Rute e Noemi - 2.19-22. Rute conta a Noemi o nome de seu patrão - 2. 19. Noemi identifica Boaz como seu parente próximo - 2.20. Noemi aprova e faz recomendações a Rute - 2.21-22. III. Informações sobre o respigar e moradia de Rute - 2.23. Sexto ato: O plano de Noemi para Rute e Boaz - 3.1-15. I. O plano de Noemi - 3.1-5. - Noemi convence Rute sobre sua felicidade futura - 3.1. - Noemi instrui Rute sobre a visita à eira de Boaz - 3.2-4. - A resposta obediente de Rute - 3.5. II. A visita de Rute à eira - 3.6-15. Rute cumpre as recomendações de Noemi - 3.6-8. Rute revela a Boaz que ele tem o dever de ser o "resgatador" da família - 3.9 A reação de Boaz - 3.10-13. Boaz abençoa Rute, por sua bondade - 3.10 Boaz declara que vai cumprir a prescrição divina de "resgatador" - 3.11-13. Boaz previne contra um escândalo na comunidade - 3.14-15a+b. Rute volta para a casa de Noemi - 3.15c. III. Rute reporta a Noemi os acontecimentos da noite anterior - 3.16-18. Sétimo ato: Boaz, o segundo na ordem do direito ou dever de "resgate" vai ao portão da cidade de Belém, discutir com o primeiro "resgatador" - o parente mais próximo - diante da corte de juízes, composta por dez anciãos. I. Boaz toma a iniciativa na discussão do resgate de Rute - 4.1-2. Com o primeiro "resgatador" - 4.1 Com as testemunhas e dez anciãos - 4.2 II. Boaz discute a forma de "resgate" da terra de Noemi com "resgatador" - 4.3-6. Boaz explica o direito ou dever do "resgatador" retomar a terra da família - 4.3-4a. O "resgatador" concorda em redimir a terra - 4.4b. Boaz explica que o resgate da terra implica no casamento com Rute - 4.5 O "resgatador" declina em favor do direito de Boaz - 4.6 III. O acordo entre o "resgatador" e Boaz é assinado - 4.7-12. O acordo é concretizado pelo simbolismo da troca das sandálias - 4.7-8 Boaz torna pública o seu compromisso, aos anciãos e testemunhas - 4.9-10 As testemunhas reconhecem a aquisição dos direitos por parte de Boaz e saúdam Boaz, felicitando-lhe e desejando-lhe prosperidade no casamento com Rute - 4.11-12. Oitavo ato: A história de Rute termina com o seu casamento com Boaz. A felicidade do casal se torna mais completa com o nascimento do filho Obed que é descrito como um ancestral de Davi. I. Reportagem do casamento e nascimento do primeiro filho de Rute e Boaz - 4.13 II. Noemi é exaltada por esses acontecimentos, pelas mulheres - 4.14-17. III. Apêndice: a genealogia de Davi: de Farez a Obed - 4.18-22. SEGUNDA PARTE O livro de Rute e a sua relação com a história de Israel e do Antigo Oriente Médio Data (1) O acontecimento narrado: O livro de Rute narra uma história do tempo dos juízes, antes de se instalar a monarquia em Israel. Essa história era tão querida e tão importante para a formação do povo bíblico que ela foi guardada e transmitida, oralmente, por vários séculos, até se tornar um documento escrito e incluído no livro sagrado de Israel. (2) A editoração da história: A publicação escrita do livro de Rute deu-se após o período de Esdras. É sabido que nesse período, Esdras editou a Tora, o ensino divino (o Pentateuco) e deu muita ênfase ao cumprimento de suas palavras. Todavia, o povo procurava cumprir as formalidades externas da lei, sem procurar relacioná-la à vida humana e suas carências básicas, a saber, o amor, a bondade, a compaixão. Foi nesse momento que o povo crente fez uso da história de Rute, para mostrar às pessoas que o amor é mais importante que a letra da lei. (3) A canonização como texto sagrado: Foi no período pós-exílico que o povo fiel decidiu a separar e tratar essa história como uma "palavra inspirada de Deus". O critério de escolha dos livros sagrados, por parte da comunidade de crentes, baseou-se na inspiração divina, e nunca na beleza estética e literária da composição. Questões para pensar: · Por que a história de Rute levou tanto tempo para ser escrita? Será que o povo que guardou e transmitiu a história de Rute e Noemi era analfabeto? No período 1000, antes de Cristo, o papiro ainda não era usado? Para que finalidade a história de Rute e Noemi foi usada: para o entretenimento das famílias e do povo? Para o prazer de uma boa leitura? Para a busca de informações sobre a vida e cultura do povo israelita no período anterior à monarquia? Como uma história significativa e instrutiva para o povo? Como um constante testemunho para as gerações do presente e do futuro? · Por que não guardamos e transmitimos o testemunho de mulheres e homens de nossa igreja local? Lugar A história, contada pelo livro de Rute, transcorre em dois lugares: as regiões montanhosas de Moab (na Transjordânia) e de Belém (em Judá). Alguns detalhes dessa história são valiosas para a reflexão: · Rute e Orfa eram moabitas, isto é, estrangeiras, enquanto que Noemi, Elimeque e os filhos Malom e Quilion eram israelitas. · Tanto em Moab como Belém não possuíam templo, rei e sacerdote. Isso é uma prova que a história de Rute é do tempo dos juízes (1200-1030 a.C.). · O livro mostra que a vida não estava fácil paraa população de Judá. Havia fome entre as famílias que viviam na periferia dos centros de produção agrícola (Rt 1.1). Apesar das dificuldades, a família de Noemi - Elimeque (esposo), Malom e Quiliom (filhos) - não perderam a fé e a esperança em Javé. (4) Belém é uma cidade situada sobre as montanhas a dez quilômetros de Jerusalém, ao sul do território de Canaã (mais tarde denominada Terra de Israel). Belém é uma cidade importante para a história bíblica. É terra natal de Davi e de Jesus, e onde Gn 35.16-20 menciona estar o túmulo de Raquel. Quanto à Moab, trata-se de uma região montanhosa localizada ao leste do Mar Morto, por onde Moisés passou antes de atingir o Monte Nebo e entrar em Canaã. O povo de Moab era aparentado com os israelitas, mas sempre considerados estrangeiros. Questões para pensar: · Por que o cenário da história de Rute e Noemi é tão negativo: fome, semi-deserto, morte e amargura? Será que a periferia é dos espaços preferidos para Deus agir? Será que a periferia é um dos cenários preferidos da Bíblia para fazer nascer a esperança? · Pensar que o povo de Israel nasceu no deserto, isto é, na periferia da terra de Canaã; Pensar que Jesus nasceu na estrebaria, isto é, periferia da cidade de Belém, e que o ministério de Jesus também teve início no deserto, periferia de Judá. · Apesar das dificuldades próprias da vida na periferia, a Bíblia quer valorizar e aprofundar o sentido da vida em família. Os motivos que levaram a história de Rute ser guardada na memória do povo israelita, transmitida e, finalmente, editada na Bíblia Motivos estéticos O seu livro foi escrito numa forma de novela, certamente, para atrair mais a atenção dos ouvintes e leitores. Esteticamente é uma leitura agradável e prazerosa. A história possui um enredo principal (a trajetória da moabita Rute até se tornar parte da genealogia de Davi e Jesus). Todavia, a história não dispensa os elementos secundários, pois eles ajudam a compor o belo e charmoso conjunto literário. Por ser uma narrativa perfeita, muitos novelistas, teatrólogos e produtores de cinema tomaram e projetaram a história de Rute como tema. Também não passava, pela cabeça do povo bíblico, tomar as pequenas histórias, como a de Rute, com a intenção de entretenimento e lazer. Parodiando o profeta Jeremias, o povo não cavava poço onde não havia água (Jr 2.13). **Observação:** o autor ou autora não se preocupou, basicamente, com a beleza literária de seu livro. Motivos históricos: Os historiadores modernos não levam a sério a veracidade dessa história. Todavia, é preciso levar em conta alguns detalhes importantes para o estudo do livro: Primeiro, os historiadores modernos descrevem a história através do critério da factualidade, isto é, do ocorrido, do fato acontecido. Segundo, o povo bíblico tinha um outro jeito de descrever um fato histórico. A Bíblia conta a história através de novelas (como o livro de Rute), fábula (como a de Joatão, Jz 9.7-15), contos (como o de José, em Gn 37-47). saga heróica (como a de Moisés, narrada pelos livros Êxodo e Deuteronômio). Terceiro, os historiadores e historiadoras da Bíblia mostram uma forma alternativa de narrar a história: eles/as contam a história priorizando a mão de Deus, intervindo nos acontecimentos. O ceticismo, às vezes, e o constante interesse pela análise científica dos fatos acontecidos, colaboram para que os/as historiadores/as modernos/as optem por este critério. **Observação:** A Bíblia não está preocupada em apresentar provas da historicidade dos testemunhos contados por seu povo. Motivos pedagógicos O livro conta uma história ocorrida no período dos juízes, isto é, entre 1200 e 1030 anos antes de Cristo, aproximadamente. Certamente, a situação do povo bíblico era de desobediência, pois o livro mostra que a disciplina da comunidade estava fraca: a "lei do levirato" (ler Dt 25.5-10 e Gn 38) - que obrigava um irmão, ou parente mais próximo, a casar-se com a viúva do irmão ou parente falecido - não estava sendo aplicada. Por que razão o povo fez uso dessa história? Primeiro. Algo errado estava ocorrendo na comunidade do povo bíblico, e quando isso ocorria, as pessoas lançavam mão de fórmulas de solução: · Recorriam às formulações legais. Nesse caso, eles liam e analisavam a instrução divina (Dt 25.5-10). É bom lembrar que o ensino divino por excelência está basicamente nos cinco livros, o Pentateuco. O Salmo 19 afirma que o ensino do Senhor é perfeito e restaura a vida (Sl 19. 7-10). · Lançavam mão de histórias pessoais ou testemunhos de pessoas que foram guardados na memória do povo como exemplo de solução para esses problemas particulares. Assim, as histórias de Judá e Tamar (Gn 38) e Rute ajudavam a corrigir as pessoas infratoras. · Tudo faz crer que as formulações de leis, como Dt 25.5-10, não eram simpáticas ao povo, mas as histórias, contendo exemplos de vida, eram mais usadas e assimiladas pela população. Daí, a importância do livro de Rute. · A prática de recorrer às pequenas histórias do povo é comum ao povo bíblico. A finalidade dessa prática era, e continua sendo, a busca de informações, pistas e soluções para enfrentar os problemas do dia-a-dia. A prática de recorrer as histórias do passado foi comum nos período de grande tribulação e dificuldade. Muitas eram as finalidades: para revigorar e alentar a fé do povo crente e oprimido, para saber como o povo do passado enfrentava os desafios, para iluminar o presente e projetar o futuro. Essa prática tornou-se comum nos séculos que se seguiram ao exílio babilônico (550 a 300 anos antes de Cristo). Daí, surgiu um novo método de estudo da Bíblia, chamado "Midraxe", uma palavra hebraica que tem sua raiz no verbo "buscar". Por exemplo, durante o cativeiro na Babilônia, um profeta do Senhor leu e reinterpretou a história do êxodo do Egito (Isaías 40.1-55.13). Enfrentando o exílio, o profeta levou o povo a saber como Deus salvou os irmãos e irmãs do passado, nas mesmas condições. TERCEIRA PARTE O livro de Rute conduz muitas lições que o povo soube captar e usar nos momentos oportunos Lições que o livro de Rute nos traz (1) Dos nomes Tudo tem sentido na história de Rute. As/os personagens desta história têm nomes cujos significados ajudam a revelar a função de cada pessoa dentro dessa inteligente e inspirada novela. Tal como o sábio disse: "A glória de Deus é encobrir as coisas" (Pr 25.2), assim é o livro de Rute que não oferece tudo pronto para os seus leitores ou suas leitoras. Assim é o nome das/os personagens do livro: eles podem ajudar a entender a mensagem dessa história. Elimeleque (marido de Noemi) significa meu Deus é rei; Noemi (esposa de Elimeleque) significa minha alegria, meu prazer; Mara (outro nome de Noemi, Rt 1.20) significa amarga; Maalon (filho de Noemi e Elimeleque) significa doença; Quelion (filho de Noemi e Elimeleque) significa fragilidade; Orfa (nora de Noemi e Elimeleque) significa costas, nuca; Rute (nora de Noemi e Elimeleque) significa amiga, companheira; Boaz (parente de Noemi) significa pela força; Obed (filho de Rute e Boaz) significa servo. A partir dos nomes é possível interpretar a história de Rute: É possível, através do significado de cada nome, traçar o roteiro da história de Rute, bem como perceber a sua intenção. Assim, o rei não existe no período dos juízes, mas Deus é o governo supremo (Elimeleque). Maalon e Quelion são israelitas, mas por suas fraquezas e enfermidades morrem para dar lugar a Obed, o novo homem, sem as características reais, mas as de servo. A nova geração de povo de Deus terá a força de Boaz e o companheirismo amável de Rute. O futuro da comunidade chamada por Deus está, assim, marcado pela amizade de Rute, a alegria de Noemi, pela força de Boaz e a conduta de servo Obed. Quanto à Orfa, ela virou as costas e se perdeu o trem da história da salvação que seguirá em frente, chegando em Jesus. É a linha de esplendor sem fim. (2) A valorização dos compromissos familiares. A solidariedade na família nãoestá funcionando. Este é o recado do livro de Rute. Quando os compromissos entre os membros da família andam frouxos, lê-se a história de Rute. Por quê? (a) A lei do levirato. A história de Rute é para ser lida junto a Deuteronômio 25.5-10 e Gênesis 38.1-30. Todos estes três textos estimulam o povo bíblico a levar a sério a instituição da família. O texto de Deuteronômio 25.5-10 legisla sobre o assunto. As histórias e Judá e Tamar (Gênesis 38) e de Rute mostram duas aplicações dessa lei para servir como exemplo para o povo. Para que não haja órfãos (meninos/as de rua) e viúvas desprotegidas na sociedade israelita, a instrução divina é para que, em caso de morte do marido, o irmão mais velho assumisse a condição de protetor da casa enlutada, tomando a viúva e os filhos ou as filhas órfãos. A finalidade dessa lei era evitar que houvesse viúvas e crianças sem lar. (b) A aplicação da lei do Levirato. No período da reconstrução do povo bíblico, após o desastre das perdas da terra e do rei, e a destruição de Jerusalém, o povo começou a buscar com mais intensidade as instruções divinas, através das leis e dos testemunhos históricos. Na verdade, a liderança queria reconstruir a nação com as práticas mais saudáveis do passado. O povo sabia que reforçando os compromissos familiares, ele estava profetizando um futuro feliz para a nação. (3) A valorização da pessoa e não da raça. O livro de Rute foi guardado e transmitido por grupo de pessoas que estavam convictas que Javé é o Senhor do universo, e não somente do restrito grupo de judeus. Por isso, o livro de Jonas e a história de Rute têm a mesma intenção, a saber, o compromisso de Deus é com as pessoas e não simplesmente com a raça dos judeus. Este ponto foi muito bem entendido e proclamado por Jesus, particularmente, Paulo (ler e reflexionar sobre o conflito entre Paulo e Pedro sobre este assunto.................). (4) A lei deve estar a serviço da vida. A história de Rute é uma formidável afirmação de que a lei deve ser tomada e aplicada para trazer e criar o bem-estar na comunidade. Aqui, a lei entra na história de maneira sutil e escondida para prestar serviço a uma pessoa que se achava angustiada. É interessante observar que a Bíblia fala muito em disciplina (lei), justiça e direito. Especialmente, o Antigo Testamento dá muito espaço para as normas e disciplinas na comunidade, todavia as leis deveriam ser aplicadas, preferencialmente, quando a justiça for acompanhada de bondade, amor, compaixão, fidelidade, lealdade e paz (ler e reflexionar sobre o Salmo 85). (5) A lealdade entre Noemi e Rute anuncia a graça e a salvação. O livro de Rute quer resgatar e aplicar esse valor na sociedade israelita. Trata-se de uma lealdade que supera todos os preconceitos e anuncia o novo tempo da graça (ler e meditar sobre as palavras de Rute para Noemi, em Rt 1.16-17). (6) A esperança nasce em Belém. É interessante observar que a Bíblia liga a esperança a lugares e pessoas simples e humildes. A cidade de Belém fica na periferia da Canaã e a família de Noemi, sofrendo os horrores da seca e fome, foi obrigada a migrar para uma terra distante e estranha. Com isso, a história de Rute quer mostrar que a esperança acontece quando há seriedade e fidelidade no Senhor. Noemi, Rute e Boaz são sinônimos de fidelidade. (7) O menino Obed é mais do que um homem: é o nascer do novo mundo. O rei morreu; a fraqueza e a enfermidade continuam ameaçando; o virar as costas para a salvação é uma realidade entre o povo; a fome e a busca de um teto para morar e lugar para ganhar o pão de cada dia continua incomodando. Apesar de todos esses impedimentos que a vida expõe diante das pessoas, é possível reconhecer que Deus está agindo no mundo, através do servo de Deus.
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