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4. Resposta à Acusação Penal AVA

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DA 1ª VARA CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIAL DE CONCEIÇÃO DO AGRESTE/CE
Processo n°. 1234-56.2020.811.0001
JOSÉ PERCIVAL DA SILVA, já devidamente qualificado nos autos do processo em epígrafe, através de seu procurador ao final subscrito, vem respeitosamente, perante esse juízo, com fundamento no artigo 396 e 396-A do Código de Processo Penal, apresentar
RESPOSTA À ACUSAÇÃO
às alegações formuladas pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO CEARÁ, pelos fatos e fundamentos de direito expostos adiante:
I – DOS FATOS
Narra a inicial acusatória que o acusado, no dia 03 de fevereiro de 2018, na sede da Câmara dos Vereadores desta Comarca, durante uma reunião da Comissão de Finanças e Contratos da Câmara, sob suposta liderança de JOSÉ PERCIVAL DA SILVA, exigiram do Sr. Paulo Matos, empresário sócio de uma empresa interessada em participar das contratações a serem realizadas pela Câmara de Vereadores, o pagamento de R$ 100.000,00 (cem mil reais) para que sua empresa pudesse participar de um procedimento licitatório que estava agendado para o dia seguinte.
A defesa apresentou Defesa Preliminar, ocasião em que o Ministério Público estadual interpôs Recurso em Sentido Estrito (RESE). Após a defesa apresentar as Contrarrazões de RESE, o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, à unanimidade dos votos, negou provimento ao recurso em sentido estrito interposto pelo Ministério Público, mantendo a rejeição da denúncia em relação à imputação de associação criminosa (art. 288 do CP). Assim, permanecendo a denúncia recebida apenas em relação ao delito de concussão (art. 316 do CP).
Contudo, assim que os autos retornaram da instância superior, o Promotor de Justiça Titular da Comarca de Conceição do Agreste/CE, juntou aos autos e anexou à referida denúncia, um Termo de Colaboração Premiada firmado entre o Ministério Público do Estado do Ceará e o acusado João Santos.
Neste termo, o acusado e então colaborador João Santos, em depoimento prestado ao Ministério Público do Estado do Ceará, acompanhado de sua esposa, a dona de casa Laura Santos, em troca de uma futura redução em sua pena, admite a prática do crime de concussão que teve como vítima o Sr. Paulo Matos, afirmando que a exigência do pagamento partiu, exclusivamente, do acusado Zé da Farmácia, autor intelectual da referida conduta criminosa.
Razão, porém, não lhe assiste, conforme se mostra adiante, bem como ante ao que será comprovado em instrução processual a posteriori.
II – DO DIREITO
Por meio de uma análise das informações, fica clara a existência de uma tese preliminar: a nulidade do termo de colaboração premiada firmado entre o Ministério Público e o acusado João Santos.
Com o advento da Lei 13.964/2019, inúmeras mudanças ocorreram em relação ao instituto da colaboração premiada, destacando que passa a ser regulada também pela inclusão de novos artigos a Lei 12.850/2013.
Isso porque o presente acordo foi celebrado sem a presença de um advogado (o acusado estava acompanhado apenas de sua esposa!). Assim, ocorreu uma violação ao §15 do art. 4º da Lei n.º 12.850/13. Trata-se, portanto, de prova ilícita. Vejamos o artigo:
Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:
§ 15. Em todos os atos de negociação, confirmação e execução da colaboração, o colaborador deverá estar assistido por defensor.
Portanto, verifica-se que não foi observado o disposto no artigo acima transcrito, sendo assim, a colaboração premiada em questão é NULA. 
Ademais, vejamos os seguintes artigos do Código de Processo Penal:
Art. 573.  Os atos, cuja nulidade não tiver sido sanada, na forma dos artigos anteriores, serão renovados ou retificados.
§ 1º A nulidade de um ato, uma vez declarada, causará a dos atos que dele diretamente dependam ou sejam consequência.
Art. 564.  A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
IV - por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato.
Art. 157.  São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.
Sendo assim, não restam dúvidas que tal instituto, o da colaboração premiada, firmado entre o Ministério Público Estadual de Conceição do Agreste/CE e o acusado João Santos é NULO, e deve ser considerado uma PROVA ILÍCITA, conforme fundamentação exposta acima.
III – DOS PEDIDOS
Ante todo o exposto, requer a Vossa Excelência, ilustre e culto Magistrado:
a) A declaração de NULIDADE do acordo de colaboração premiada firmado entre o autor e o acusado João Santos, com o seu consequente desentranhamento dos autos.
b) Não sendo o caso, requer a produção de provas por todos os meios admitidos em direito e aplicáveis ao caso (documental, testemunhal, pericial) e rol de testemunhas.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Conceição do Agreste/CE, 21 de junho de 2018
(assinado digitalmente)
Nome do Advogado, nº. da OAB

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