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www.esab.edu.br Administração Financeira e Orçamentária I CURSO DE ADMINISTRAÇÃO Administração Financeira e Orçamentária I Vila Velha (ES) 2014 Escola Superior Aberta do Brasil Diretor Geral Nildo Ferreira Diretora Acadêmica Beatriz Christo Gobbi Coordenadora do Núcleo de Educação a Distância Beatriz Christo Gobbi Coordenadora do Curso de Administração EAD Rosemary Riguetti Coordenador do Curso de Pedagogia EAD Claudio David Cari Coordenador do Curso de Sistemas de Informação EAD David Gomes Barboza Produção do Material Didático-Pedagógico Delinea Tecnologia Educacional / Escola Superior Aberta do Brasil Diretoria Executiva Charlie Anderson Olsen Larissa Kleis Pereira Margarete Lazzaris Kleis Conteudista Juliana Tatiane Vital Coordenação de Projeto Andreza Regina Lopes da Silva Supervisão de conteúdo Renata Oltramari Liderança Técnica Design Gráfico Fernando Andrade Liderança Técnica Revisão Gramatical Tiago Costa Pereira Laís Gonçalves Natalino Designer Educacional Aline Batista Revisão Gramatical Paula Ribeiro Designer Gráfico Laura Rodrigues Neri Gonçalves Ribeiro Diagramação Dilsonir José Martins Junior Karina Silveira Equipe Acadêmica da ESAB Coordenadores dos Cursos Docentes dos Cursos Copyright © Todos os direitos desta obra são da Escola Superior Aberta do Brasil. www.esab.edu.br Av. Santa Leopoldina, nº 840 Coqueiral de Itaparica - Vila Velha, ES CEP 29102-040 Apresentação Caro estudante, Seja bem-vindo à disciplina de Administração Financeira e Orçamentária I. O objetivo desta disciplina é lhe inserir no campo de estudos da Administração Financeira nas organizações e, para isso, iremos oferecer a base necessária para que você compreenda o importante papel do administrador no contexto econômico- financeiro. Nesta disciplina, você utilizará os conhecimentos adquiridos na Contabilidade para analisar as empresas do ponto de vista financeiro, explorando indicadores econômicos que darão suporte para a realização de planejamento e controle das finanças de curto e de longo prazo. Para isso, utilizamos importantes autores da área financeira, como Gitman (2010), Groppelli e Nikbakht (2010), que destacam os principais conceitos e problemas envolvendo a Administração Financeira de curto e longo prazo. Ao tratar da análise das demonstrações financeiras, destacamos Camargo (2007) e Seleme (2010). Além disso, ao falar de planejamento e controle financeiro, utilizamos conceitos de Lunkes (2011) e a abordagem gerencial é conferida a Gitman e Madura (2003). Assim, cada unidade foi preparada com o objetivo de criar um entendimento lógico a fim de facilitar o estudo da Administração Financeira e Orçamentária I. Para organizar a distribuição e facilitar a leitura, dividimos a disciplina em 48 unidades. As unidades, por sua vez, estão divididas em: Fundamentos das finanças (unidades 1, 2 e 3), Demonstrações financeiras (unidades 4 e 5), Análise das demonstrações financeiras (unidades 6 a 10), gestão do capital de giro (unidades 11 a 21), Alavancagem Operacional (unidades 22 a 24), Política de dividendos (unidade 25), Orçamento empresarial (unidades 26 a 39) e Orçamento e análise de investimentos (unidades 40 a 48). Preparamos para você este material didático com uma linguagem clara e objetiva: os assuntos são apresentados em uma ordem sequencial que possibilita um aprendizado eficiente. Para que você obtenha um bom rendimento em seus estudos, o convidamos a participar ativamente das atividades que programamos. Esperamos que você siga em busca desse conhecimento! Objetivo Conhecer e compreender o campo de atuação do administrador financeiro, os conceitos fundamentais da teoria das finanças e as técnicas e ferramentas básicas da gestão de ativos, passivos, administração de capital de giro e de orçamento empresarial. Habilidades e competências • Compreender o papel da Administração Financeira nas organizações empresariais. • Identificar os principais instrumentos de elaboração do planejamento e controle financeiro. • Relacionar as principais interdependências entre a Administração Financeira e as demais áreas da empresa. • Identificar os objetivos de curto e longo prazo da Administração Financeira em seu contexto. • Analisar a situação econômico-financeira de uma empresa. • Aplicar técnicas de planejamento e avaliação de investimento. Ementa Introdução aos conceitos da Administração Financeira. Os relatórios contábeis e a Administração Financeira e Orçamentária. Estudo dos índices financeiros. O capital de giro. Pontos de equilíbrio: contábil, financeiro e econômico. Relacionamento entre estoques e finanças. Orçamento e fluxo de caixa. Sumário 1. Introdução à Administração Financeira ...........................................................................7 2. Objetivos e funções financeiras na empresa ..................................................................11 3. Risco e retorno ..............................................................................................................17 4. Revisitando o Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado do Exercício ..........21 5. Revisitando a Demonstração do Fluxo de Caixa e a Demonstração dos Lucros e Prejuízos acumulados ..................................................................................................................26 6. Análise das demonstrações financeiras .........................................................................32 7. Análise dos índices de liquidez e endividamento ..........................................................42 8. Os indicadores de rentabilidade ....................................................................................47 9. Indicadores de mercado ................................................................................................53 10. Problema resolvido .......................................................................................................58 11. Administração do capital de giro ...................................................................................67 12. Ciclo de conversão de caixa ...........................................................................................73 13. Problema resolvido .......................................................................................................79 14. Administração de contas a receber ................................................................................85 15. Problema resolvido .......................................................................................................90 16. Administração de estoques ...........................................................................................97 17. Problema resolvido .....................................................................................................102 18. Administração de recebimentos e pagamentos ...........................................................107 19. Administração do passivo circulante ...........................................................................112 20. Indicadores de atividade .............................................................................................118 21. Análise prática da gestão do capital de giro ................................................................122 22. Análise de custo volume e lucro ..................................................................................127 23. Alavancagem operacional ...........................................................................................132 24. Análise do Custo/Volume/Lucro e alavancagem operacional na prática ......................137 25. Política de dividendos .................................................................................................14326. Planejamento e controle financeiro ............................................................................147 27. Introdução ao orçamento ............................................................................................153 28. Estrutura e processo orçamentário ..............................................................................158 29. Orçamento de vendas .................................................................................................164 30. Orçamento de produção ..............................................................................................169 31. Problema resolvido .....................................................................................................176 32. Orçamento dos custos dos produtos ............................................................................182 33. Problema resolvido .....................................................................................................187 34. Orçamento das despesas de vendas e administrativas ................................................194 35. Orçamento de caixa ....................................................................................................199 36. Problema resolvido .....................................................................................................204 37. Projeção dos Demonstrativos Contábeis ......................................................................210 38. Exemplo de projeção das demonstrações financeiras ..................................................216 39. Outras formas orçamentárias ......................................................................................222 40. Orçamento de capital ..................................................................................................228 41. Fluxo de caixa relevante ..............................................................................................232 42. Investimento inicial ....................................................................................................237 43. Exercício resolvido .......................................................................................................242 44. Payback .......................................................................................................................248 45. Valor presente líquido .................................................................................................252 46. Taxa interna de retorno ...............................................................................................257 47. Análise prática das técnicas de avaliação de investimento ..........................................261 48. Orçamento de capital com risco ..................................................................................268 Glossário ............................................................................................................................274 Referências ........................................................................................................................280 www.esab.edu.br 7 1 Introdução à Administração Financeira Objetivo Compreender os principais conceitos das finanças empresariais. Para ser um administrador financeiro é importante que você conheça os fundamentos das finanças das empresas. Nesta unidade, vamos abordar alguns conceitos financeiros do ambiente organizacional, bem como a sua importância no desenvolvimento empresarial e a sua relação com as demais áreas funcionais da empresa. Para isso, utilizaremos os fundamentos encontrados nos livros de Gitman (2010), Gitman e Madura (2003) e Groppelli e Nikbakht (2010). Vamos lá? 1.1 O que são finanças? De uma forma ou outra, todos nós administramos recursos financeiros. Pode ser nas nossas finanças pessoais, planejando nossos gastos para que eles não ultrapassem nossos ganhos; pode ser na nossa casa, na qual a renda de todos os membros da família serve para cobrir as despesas domésticas; pode ser em organizações públicas, como no seu município, no seu estado ou no seu país – os gestores precisam arrecadar verbas junto aos contribuintes para pagar despesas públicas, como a limpeza e a conservação da cidade, e fazer investimentos em espaços públicos, como nas estradas e nas tecnologias implantadas. Também pode ser na administração das finanças de uma empresa, na qual os recursos financeiros têm um destaque ainda maior, porque se vende produtos, mercadorias ou presta-se serviços e é preciso arcar com todos os gastos despendidos dessas atividades (a matéria-prima, o salário dos funcionários, o aluguel, a compra de máquinas, móveis e equipamentos, entre inúmeros outros). Além do recebimento das vendas e do pagamento das dívidas, normalmente, nesse tipo de organização, espera-se um ganho ou um retorno financeiro. www.esab.edu.br 8 Nas palavras de Gitman, “[...] o termo finanças pode ser definido como ‘a arte e a ciência de administrar o dinheiro’” (2010, p. 3, grifo do autor). Para Groppelli e Nikbakht (2010, p. 3), “[...] finanças são a aplicação de uma série de princípios econômicos e financeiros para maximizar a riqueza ou o valor total de um negócio.” Gitman (2010) diz que a Administração Financeira refere-se às atribuições dos administradores financeiros nas empresas. Os administradores financeiros são os responsáveis pela gestão dos negócios financeiros de organizações de vários tipos: organizações empresariais, públicas, não governamentais, com ou sem fins lucrativos. Todas elas precisam de gestão financeira para alcançar seus objetivos. Aqui trataremos de finanças de organizações empresariais. Nas empresas, é isso que o administrador financeiro faz: administra o dinheiro da organização para aumentar a riqueza do negócio. Ele planeja e controla os recursos financeiros para assegurar que ela tenha capacidade de saldar suas obrigações em dia e gerar um retorno financeiro. A seguir, veremos a importância da Administração Financeira nas empresas. 1.2 A importância da Administração Financeira nas empresas Um dos mais conhecidos motivos pelo qual as empresas não obtêm sucesso é a falta de planejamento e controle financeiro. Ter uma ideia clara do negócio, do mercado no qual se está inserido e um plano de controle financeiro poderia fazer com que inúmeras empresas obtivessem melhor desempenho nas suas atividades. A Administração Financeira influencia todo o processo pelo qual a organização produz e vende seus produtos ou presta seus serviços, uma vez que trata da captação e alocação dos recursos financeiros que dão fluxo às atividades operacionais. Além disso, Gitman e Madura (2003) acrescentam que as decisões financeiras influenciam no valor da empresa, afetando, consequentemente, o quanto os investidores ganham com suas aplicações. Empresas com uma saúde financeira sólida são bem vistas no mercado, atraindo mais investidores e maiores quantidades de recursos. www.esab.edu.br 9 Groppelli e Nikbakht (2010) concordam quando dizem que um administrador emite sinais favoráveis aos investidores ao estabelecer um registro de demonstrativos financeiros seguros, mostrando retornos com um crescimento rápido e contínuo, com um nível mínimo de risco. Por que os sinais corretos são necessários? Porque são os acionistas (investidores) que determinam, fundamentalmente, o valor de mercado da empresa a partir dos preços das ações que ela emite. Se a empresa tiver um bom resultado e as pessoas acreditarem que tal resultado irá se manter, a valorização irá aumentar. Ao contrário, um mau resultado, com expectativas de retornos desfavoráveis e altos níveis de riscos, reduzirá o valor das ações. Portanto, entender sobre finanças não apenas lhe prepara para a carreira de administradores financeiros, mas também lhes dá condiçõespara tomarem decisões como investidores. Independentemente de quanto você tem para investir, o conhecimento de finanças pode ajudá-lo a decidir em que tipo de investimento financeiro aplicar seu dinheiro, quanto deve ser investido e como os recursos devem ser distribuídos entre diferentes investimentos (GITMAN; MADURA, 2003). Ou seja, o conhecimento da Administração Financeira faz com que possamos planejar e controlar nosso dinheiro para que ele tenha o melhor desempenho possível. 1.3 A relação da área financeira com outros subcampos da administração A Administração Financeira relaciona-se com todas as áreas da organização. Fazendo uma analogia ao corpo humano, ela representa o coração da empresa; o coração tem a função de bombear o sangue para todo o corpo. Do modo similar, a Administração Financeira distribui os recursos financeiros em toda a organização, fazendo com que a atividade operacional aconteça. Com o marketing ela relaciona-se, principalmente, no preço de venda dos produtos, projeções de vendas e recebimentos dessas vendas. Qualquer ação da área de Recursos Humanos precisa ser representada www.esab.edu.br 10 em termos financeiros (pagamento de pessoal, benefícios concedidos, quantidade de pessoas que trabalham, treinamentos proporcionados). A Produção precisa realizar os orçamentos quanto ao custo da produção e o custo de cada produto. Além disso, o campo das finanças está intimamente relacionado com a Economia e a Contabilidade. Os administradores financeiros precisam entender o arcabouço da economia e estar alertas para as consequências de níveis variáveis de atividade econômica e de mudanças de política econômica. (GITMAN, 2010, p. 9) Taxas de juros, taxas de câmbio e toda a política econômica adotada pelo Estado influenciam as finanças das empresas. Além da Economia, muitas vezes é difícil distinguir a Administração Financeira da Contabilidade. Elas estão intimamente relacionadas e, via de regra, se sobrepõem (GITMAN, 2010). As finanças utilizam os relatórios contábeis para tomar decisões e o contador conta com as informações do administrador financeiro para construir esses relatórios, como o Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado do Exercício, a Demonstração de Fluxo de Caixa, entre outras. Estudo complementar Caro estudante, o artigo intitulado “Recriando a função financeira no contexto da globalização” mostra a importância da gestão financeira no mundo globalizado. Acesse aqui. Vimos, nesta primeira unidade, que as finanças podem ser definidas como a arte e a ciência de administrar o dinheiro, utilizando uma série de princípios econômicos e relatórios contábeis para maximizar a riqueza ou o valor total de um negócio. O administrador financeiro emite, através dos resultados financeiros, sinais favoráveis ou desfavoráveis ao mercado, o que pode atrair ou repelir investidores. Esses sinais favoráveis também estão relacionados com o planejamento e o controle que esse administrador é capaz de elaborar. Na próxima unidade vamos estudar, com mais detalhes, qual a função financeira na empresa e seus principais objetivos. www.esab.edu.br 11 2 Objetivos e funções financeiras na empresa Objetivo Descrever os objetivos e as funções da Administração Financeira nas organizações empresariais. Depois de conhecer o conceito de finanças, a sua importância dentro das empresas e a sua relação com as demais áreas, agora vamos estudar qual a função da gestão financeira e quais os objetivos que ela busca alcançar. É importante destacar que a função financeira requer uma postura ética do seu gestor. Para isso, vamos nos embasar nas ideias de Gitman (2010) e Gitman e Madura (2003). 1.1 A função da Administração Financeira na empresa De acordo com Gitmam e Madura (2003, p. 237, grifo do autor), [...] a atividade básica do gerente financeiro é tomar decisões de investimento e de financiamento. As decisões de investimento determinam a composição e o tipo de ativos mantidos pela empresa. As decisões de financiamento determinam a composição e o tipo de financiamento usado pela empresa. É possível relacionar as decisões de investimento e financiamento com o Balanço Patrimonial de uma empresa, conforme a Figura 1. Você viu o Balanço Patrimonial na disciplina de Contabilidade e vamos revê-lo na unidade 4. Balanço Patrimonial Ativos circulantes Passivos circulantes Ativos permanentesD ec isõ es de inv es tim en to De cis õe s d e �n an cia m en to Recursos permanentes Figura 1 – Decisões financeiras. Fonte: Elaborada pela autora (2013). www.esab.edu.br 12 Como podemos observar, as decisões de investimento estão relacionadas à composição dos ativos da empresa: como será a aplicação desses recursos? Por exemplo: ao tomar esse tipo de decisão, o administrador financeiro pode optar entre comprar uma máquina nova ou investir em mais estoques. As decisões de financiamento estão relacionadas ao passivo e Patrimônio Líquido (PL) e dizem respeito às origens dos recursos da empresa: virá de capital próprio (capital dos sócios representado pelo Patrimônio Líquido) ou de dívidas (empréstimos, financiamentos). Tanto a decisão de investimento quanto a decisão de financiamento devem ser guiadas por um objetivo. Para sua reflexão Você sabe qual o objetivo da Administração Financeira? Antes de seguir seus estudos, pare e reflita a respeito! A resposta a essa reflexão forma parte de sua aprendizagem e é individual, não precisando ser comunicada ou enviada aos tutores. . 1.2 Qual o objetivo das finanças nas empresas? É muito comum encontrar a gestão financeira da empresa feita por pessoas que não são necessariamente seus proprietários. Porém, as ações e decisões tomadas pelo administrador financeiro devem estar de acordo com os objetivos dos proprietários. Dessa forma, é importante pensar: quais os objetivos dos proprietários da empresa? Maximizar os lucros “Há quem acredite que o objetivo da empresa é sempre maximizar o lucro” (GITMAN, 2010, p. 12). Para isso, o administrador financeiro tomaria decisões de investimento e financiamento que contribuíssem para os lucros da empresa. “Dentre cada conjunto de alternativas considerado, o administrador financeiro escolheria o que devesse resultar em maior resultado monetário” (GITMAN, 2010, p. 12). www.esab.edu.br 13 Porém, conforme o que você estudou na disciplina de Contabilidade, o lucro é visualizado a partir da Demonstração do Resultado do Exercício, feita pelo regime de competência. Esse regime reconhece as receitas, os custos e as despesas no momento da venda dos produtos, ou seja, não se preocupa com as entradas e saídas de caixa. Dessa forma, “[...] os lucros não resultam necessariamente em fluxos de caixa disponíveis para os acionistas” (GITMAN, 2010, p. 13). Quando as finanças têm como objetivo a maximização do lucro, elas ignoram os fluxos de caixa, apresentando o primeiro problema ao estabelecer esse objetivo como sendo o principal. Outro problema em relação ao objetivo da maximização do lucro é que ele também ignora o risco dos investimentos (GITMAN, 2010). Além disso, sabemos que a redução de custos e despesas, a curto prazo, aumenta o lucro da empresa, o que pode não estar de acordo com o que querem os proprietários. Por exemplo, ao cortar gastos com pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos ou de novas tecnologias, a curto prazo, o administrador financeiro aumenta o lucro. Porém, a longo prazo, pode desvalorizar a empresa. Dica Qualquer redução de custos ou despesas aumenta o lucro, isso porque Receita - Custos - Despesas = Lucro. Dependendo do tipo de custo ou despesa, essa redução pode refletir no valor da empresa a longo prazo. Por exemplo: cortes em pesquisa e desenvolvimento, cortesde treinamento e desenvolvimento de funcionários, despesas com o marketing da empresa, entre outros, podem fazer com que a organização perca a sua competitividade. www.esab.edu.br 14 Maximizar a riqueza do investidor! Como você pode notar, o objetivo de maximizar o lucro pode gerar conflito de interesses entre o administrador financeiro e o proprietário. Dessa forma, conforme destaca Gitman (2010, p. 13), “[...] o objetivo da empresa e, portanto, de todos os seus administradores e funcionários, consiste em maximizar a riqueza dos proprietários em cujo nome é operada.”. A riqueza dos proprietários se mede pelo valor de mercado da empresa. Por exemplo, o valor de mercado das sociedades anônimas S/As é identificado pelo preço de suas ações. Quanto maior o valor da empresa, mais valerão suas ações no mercado! O valor da empresa reflete uma expectativa futura que o mercado tem dela, com base nos fluxos de caixa: seu momento de ocorrência, na sua magnitude e no risco dos retornos. “Embora a maximização da riqueza do acionista seja o principal objetivo, muitas empresas ampliam seu foco para que contemple outros grupos de interesses” (GITMAN, 2010, p. 13), além dos investidores. Essas partes interessadas são compostas por funcionários, clientes, fornecedores, credores e outros que têm ligação econômica direta com o negócio. Como a empresa influencia e é influenciada por esse conjunto de partes interessadas, é essencial que o administrador financeiro tenha uma postura ética e responsável frente aos negócios, tema que veremos a seguir. 1.3 O papel da ética empresarial Conforme Gitman (2010, p. 15), “[...] ética empresarial se refere aos padrões de conduta ou julgamento moral aplicáveis a quem se dedica a atividades comerciais.” Nas finanças, a violação desses padrões pode assumir muitas formas: fraudes, projeções financeiras enganosas (para obtenção de financiamentos, por exemplo), corrupção, remuneração excessiva dos executivos e desvios de recursos, como podemos ver nos noticiários e jornais. www.esab.edu.br 15 Robert A. Cooke (1991 apud GITMAN, 2010, p. 15) recomenda que as perguntas a seguir sejam utilizadas para avaliar a viabilidade ética de um ato qualquer, inclusive um ato financeiro: • A ação é arbitrária ou caprichosa? Concentra-se injustamente em um indivíduo ou grupo? • A ação viola os direitos morais ou legais de algum indivíduo ou grupo? • A ação está de acordo com os padrões morais aceitos? • Existem alternativas que tenderiam a causar menos danos efetivos e potenciais? Alguns atos podem ser legais do ponto de vista jurídico, porém, considerados antiéticos do ponto de vista dos valores humanos. Você, como administrador financeiro, investiria na qualidade de vida, na segurança e no bem-estar dos funcionários mesmo comprometendo os resultados financeiros? Esse também é um dos desafios que o gestor financeiro terá que encarar nas suas atividades, questões ambíguas que requerem reflexão e responsabilidade em relação a tomada de decisões. www.esab.edu.br 16 Para sua reflexão O objetivo da empresa e, consequentemente, do gestor financeiro, deveria estar voltado a maximizar a riqueza dos proprietários ou deveria atender a um objetivo que incorpora o bem-estar de toda a sociedade? Poderíamos aliar o bem- estar da sociedade ao retorno financeiro? A resposta a essa reflexão forma parte de sua aprendizagem e é individual, não precisando ser comunicada ou enviada aos tutores. Nesta unidade, você conheceu algumas funções do administrador financeiro, bem como as principais decisões financeiras: as de investimento e as de financiamento. Essas decisões, no ambiente empresarial, envolvem duas variáveis bastante comuns: risco e retorno. Porém, o que isso significa? A resposta está na próxima unidade. www.esab.edu.br 17 3 Risco e retorno Objetivo Conhecer os conceitos de risco e retorno da análise financeira. Na unidade 2 você viu que o administrador financeiro toma duas grandes decisões, a de investimento e a de financiamento, e que ambas envolvem tanto risco quanto retorno. Agora, vamos estudar o que isso significa em termos financeiros e, para tanto, teremos o auxilio do trabalho de Gitman (2010). Iniciaremos estudando a relação entre risco e retorno. Vamos lá? 3.1 Relação entre risco e retorno Em todas as decisões financeiras, existe um binômio bastante conhecido: a relação entre o risco e o retorno dos investimentos. Primeiramente, vamos analisar o significado destes termos para a teoria financeira. Em sua acepção mais simples, risco é a chance de perda financeira. Ativos que apresentam maior chance de perda são considerados mais arriscados do que os que trazem uma chance menor. Em termos mais formais, risco é usado de forma intercambiável com incerteza em referência à variabilidade dos retornos associados a um determinado ativo. [...] Quanto mais próximo da certeza estiver o retorno de um ativo, menor sua variabilidade e, em consequência, menor seu risco. (GITMAN, 2010, p. 203, grifo do autor) Alguns riscos afetam diretamente os administradores financeiros, assim como os investidores das empresas. O Quadro 1 descreve as fontes mais comuns de risco que afetam tanto as empresas quanto seus investidores. Vamos conferir: www.esab.edu.br 18 Fonte de risco Descrição Riscos específicos da empresa Risco operacional Possibilidade de que a empresa não seja capaz de cobrir seus custos operacionais. Seu nível é determinado pela estabilidade das receitas da empresa e pela estrutura de seus custos operacionais (fixos versus variáveis). Risco financeiro Possibilidade de que a empresa não seja capaz de fazer frente às suas obrigações financeiras. Seu nível é determinado pela previsibilidade dos fluxos de caixa operacionais da empresa e por suas obrigações financeiras de custos fixos. Riscos específicos do acionista Risco da taxa de juros Possibilidade de que mudanças nas taxas de juros afetem negativamente o valor de um investimento. A maioria dos investimentos perde valor quando a taxa de juros aumenta e ganha valor quando a taxa cai. Risco de liquidez Possibilidade de que um investimento não possa ser facilmente liquidado a um preço razoável. A liquidez é afetada de modo significativo pela extensão e profundidade do mercado em que um investimento costuma ser negociado. Risco de Mercado Possibilidade de que um investimento caia devido a fatores de mercado que independem do investimento em si (como acontecimentos econômicos, políticos e sociais). De modo geral, quanto mais o valor de investimento reage ao mercado, maior o seu risco e, quanto menos reage, menor o risco. Riscos da empresa e do acionista Risco do evento Possibilidade de que algum evento inteiramente imprevisto exerça efeito significativo sobre o valor de uma empresa ou de um investimento específico. Esses acontecimentos raros, como uma ordem governamental para a retirada do mercado de um medicamento popular, costumam afetar grupos pequenos de empresas ou investimentos. Risco do câmbio Exposição de fluxos de caixa esperados futuros a flutuações da taxa de câmbio. Quanto maior a chance de flutuações indesejadas da taxa de câmbio, maior o risco dos fluxos de caixa e, portanto, menor o valor da empresa e do investimento. Risco de poder aquisitivo Possibilidade de que uma mudança nos níveis de preços causada pela inflação ou deflação possa afetar negativamente os fluxos de caixa e o valor da empresa ou investimento. Normalmente, empresa ou investimentos cujos fluxos de caixa se movam de maneira semelhante aos níveis gerais de preços apresentam baixo risco de poder aquisitivo, enquanto aqueles cujos fluxos de caixa não acompanhem os níveis gerais de preços apresentam elevado risco de poder aquisitivo. Risco tributárioPossibilidade de que sobrevenham mudanças desfavoráveis na legislação tributária. Empresas e investimentos cujo valor seja sensível a mudanças da legislação tributária são mais arriscados. Quadro 1 – Principais fontes de risco que afetam os administradores financeiros e os acionistas. Fonte: Gitman (2010, p. 204). www.esab.edu.br 19 Como você pode ter notado no Quadro 1, são inúmeros os riscos que uma organização empresarial acarreta. Muitas vezes, os riscos da empresa e do acionista se confundem, isso porque os interesses da empresa refletem o interesse dos acionistas. O risco tem relação bastante intima com o retorno de um investimento. “Retorno é o ganho ou prejuízo total que se tem com um investimento ao longo de um determinado período” (GITMAN, 2010, p. 204, grifo do autor). Quanto maior o risco de um investimento, maior a expectativa de retorno sobre ele. Por exemplo, ao investir na poupança, você corre baixíssimo risco ou quase nenhum. Dessa forma, o retorno desse tipo de investimento pode ser pouco significante. Veremos agora a diferença do risco quando falamos de um ativo individual ou na formação de uma carteira diversificada. 3.2. Risco de um ativo individual Você já deve ter ouvido falar que não se deve colocar todos os ovos em uma só cesta. Por que esse conselho é bastante difundido nas finanças? O risco de um investimento individual aumenta uma vez que a sua carteira de investimentos não está diversificada. Por exemplo, se você investe todas as suas finanças em uma única empresa, qualquer evento que interfira no desempenho desta faz com que seu investimento o acompanhe, para mais ou para menos. O risco deriva dessa amplitude encontrada entre ganhos exorbitantes ou perdas significativas. Para Gitman (2010), o risco de um ativo individual pode ser analisado pela: • Análise de cenários - considera diversos cenários alternativos possíveis para obter um senso da variabilidade dos retornos; • Distribuição de probabilidades - fornece uma visão mais quantitativa do risco de um ativo. A probabilidade de um dado resultado é a chance de que ele ocorra; • Desvio-padrão - mede a dispersão do valor esperado; e www.esab.edu.br 20 • Coeficiente de variação - consiste em uma medida de dispersão relativa que é útil na comparação dos riscos de ativos com diferentes retornos esperados. Estudo complementar Para conhecer mais sobre o fator risco, leia o texto “A gestão do risco em empreendimentos” de autoria de Paulo Yazigi Sabbag na Revista de Administração de Empresas da FGV, disponível aqui. 3.3 Risco de uma carteira Ao contrário do investimento em um ativo individual, ao construir uma carteira de investimentos você distribui o risco dos seus ativos. Ou seja, perdas significativas em um item são compensadas pelos ganhos em outro – se um ativo tiver desempenho negativo, ela não representa todos os seus investimentos. Assim, ao diversificar a sua carteira de investimentos, o risco diminui pelo fato de que os ativos não são influenciados da mesma forma pelos eventos econômicos. Conforme Gitman (2010) “[...] o objetivo do administrador financeiro é criar uma carteira eficiente, que maximize o retorno para um dado nível de risco, ou minimize o risco para um dado nível de retorno” (GITMAN, 2010, p. 214, grifo do autor ). O risco e o retorno esperados de uma empresa afetam diretamente o seu valor de mercado. Assim, cabe ao administrador financeiro avaliar cuidadosamente o risco e o retorno de suas decisões de investimento e financiamento para garantir que os retornos esperados justifiquem o nível de risco introduzido. O risco e o retorno podem ser medidos em termos de indicadores financeiros. Antes de conhecê-los, na unidade 4 vamos revisitar as principais demonstrações financeiras, de onde os indicadores são calculados. www.esab.edu.br 21 4 Revisitando o Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado do Exercício Objetivo Revisar as demonstrações financeiras: Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado do Exercício. Na unidade 3 você estudou sobre o risco e o retorno das decisões do administrador financeiro. Na presente unidade, através dos trabalhos de Camargo (2007) e Seleme (2010), você poderá visualizar estas decisões nas demonstrações financeiras. É muito importante entender a estrutura de tais demonstrações, para que adiante nós possamos analisá-las de uma forma bastante clara. 4.1 A utilização das demonstrações financeiras para as finanças Segundo Camargo (2007), as demonstrações financeiras são relatórios que contêm dados sobre o patrimônio de uma entidade e formam o seu sistema contábil. Esses dados servem de base para informar, a usuários internos e externos à organização, sobre a situação econômico-financeira da entidade. Servem, assim, como canais de informação, e devem subsidiar a tomada de decisão dos administradores financeiros. Você viu anteriormente que o administrador financeiro toma decisões de investimento e de financiamento com base no Balanço Patrimonial e decisões operacionais com base na Demonstração do Resultado do Exercício. A seguir vamos relembrar esses dois demonstrativos contábeis, tão importantes na atividade financeira da empresa. www.esab.edu.br 22 Saiba mais No Art. 176 da Seção II da Lei 6.604/76 você encontrará as Demonstrações Financeiras obrigatórias para as Sociedades Anônimas brasileiras. Acesse aqui. 4.2 Balanço Patrimonial O Balanço Patrimonial é um relatório que apresenta, de forma equilibrada, toda a estrutura de patrimônio de uma organização, sendo este composto por seus bens (representa tudo o que a empresa possui), direitos (tudo o que ela tem a receber), e obrigações (tudo o que ela deve) (CAMARGO, 2007). O Balanço Patrimonial tem como objetivo apresentar um retrato financeiro da empresa em uma data específica: de um lado demonstra o que ela tem (ativo) e, por outro, o quanto ela deve (passivo). A diferença entre o ativo e o passivo resulta no Patrimônio Líquido ou na sua riqueza depois das dívidas. Segundo as alterações feitas pela Lei 11.638/07, o Balanço Patrimonial das empresas brasileiras passa a apresentar a seguinte estrutura: www.esab.edu.br 23 Balanço Patrimonial da empresa Sai de Baixo em 31 de agosto de 2013 Ativos Passivo e PL Circulante Circulante Disponível Ativos que serão transformados em caixa no curto prazo. Fornecedores Dívidas com terceiros que serão pgas no curto prazo. Duplicatas a receber Salários Estoque Impostos Empréstimos Não circulante Não circulante Realizável a longo prazo Ativos que serão transformados em caixa no longo prazo. Exemplo: empréstimos que a empresa concedeu as suas coligadas. Exigível a longo prazo Dívidas com terceiros que serão pagas no longo prazo. Investimentos Investimentos que não têm relação com a atividade da empresa. Exemplo: ações de outras companhias. Patrimônio Líquido Capital social Recursos aplicados diretamente pelos proprietários da empresa. Imobilizado Investimentos relacionados diretamente com a atividade da empresa. Exemplo: máquinas e equipamentos. Lucros acumulados Recursos aplicados pelos proprietários na empresa por meio da geração de lucro. Intangível Seu objeto é incorpóreo. Exemplo: marcas e patentes. Quadro 2 – Estrutura do Balanço Patrimonial. Fonte: Adaptado de Camargo (2007). Para as finanças, as decisões de investimento do administrador financeiro podem ser visualizadas no ativo da empresa, sendo que o ativo representa as escolhas em relação à alocação dos recursos. As decisões de financiamento são visualizadas no lado dos passivos e o Patrimônio Líquido, que refletem as escolhas sobre a origem dos recursos. Assim, o Balanço Patrimonial apresenta estesdois lados balanceados, ou seja, ativo = passivo + PL, isso porque os passivos e o PL dizem respeito às fontes de financiamento para os investimentos feitos no ativo. Veremos, a seguir, o demonstrativo financeiro que apresenta informações sobre o lucro ou o prejuízo da empresa. www.esab.edu.br 24 4.3 Demonstração do Resultado do Exercício Enquanto o Balanço Patrimonial mostra a estrutura patrimonial de uma empresa, ou seja, o seu conjunto de bens e direitos e as suas obrigações, a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) é um método de apuração do resultado, ou seja, confere se a empresa apresentou lucro ou prejuízo ao final de um exercício social. O Quadro 3 mostra a estrutura básica apresentada pela DRE: Modelo Demonstração do Resultado do Exercício Receita bruta Valores (–) Dedução da receita = Receita líquida (–) Custos das vendas = Lucro bruto (–) Despesas operacionais = Lucro operacional (–) Despesas não operacionais + Receitas não operacionais = Lucro antes do Imposto de Renda (LAIR) (–) Provisão para Imposto de Renda = Lucro depois do Imposto de Renda Quadro 3 – Estrutura da Demonstração do Resultado do Exercício. Fonte: Seleme (2010, p. 149). Perceba, a partir do Quadro 3, que a DRE, para apurar o lucro ou o prejuízo de um período, precisa deduzir das suas Receitas os custos e as despesas incorridos na atividade operacional. Nesse sentido, a DRE apresenta decisões operacionais realizadas pelo administrador financeiro como, por exemplo, o preço de venda (receita), os gastos na fabricação dos produtos (custo dos produtos vendidos), os gastos na administração da empresa, na venda dos produtos e os juros pagos pelos empréstimos (despesas operacionais). www.esab.edu.br 25 Outra decisão muito importante no ambiente financeiro diz respeito ao Lucro Líquido do Exercício: reter ou distribuir? Ao optar pela retenção, os lucros voltam ao Balanço Patrimonial como “Lucros acumulados” e representam uma fonte de financiamento para novos investimentos. Ao escolher pela distribuição, o administrador financeiro deve atentar-se aos saldos de caixa: há saldo disponível para o pagamento dos lucros? Ele nunca pode supor que a empresa, ao apresentar lucro, dispõe desse valor no caixa da empresa. Dessa forma, Hoji (2003 apud SELEME, 2010), apresenta uma síntese da relação entre as decisões financeiras e os relatórios contábeis. Veja o Quadro 4: Investimento Operações Financiamentos Ativo Demonstração patrimonial Passivo Ativo Circulante Receitas Passivo circulante Ativo realizável a LP Custo de vendas Exigível a longo prazo Ativo permanente Margem bruta Patrimônio líquido Ativo total Despesas operacionais Passivo total Lucro (prejuízo) operacional Imposto de Renda Lucro (prejuízo) líquido Quadro 4 – Demonstrativos contábeis e decisões gerenciais. Fonte: Adaptado de Hoji (2003 apud SELEME, 2010). Note que as decisões de Investimento estão relacionadas ao ativo do Balanço Patrimonial, as decisões operacionais às informações da DRE e as decisões de financiamentos s do passivo do Balanço Patrimonial. Viu como a Contabilidade e a Administração Financeira estão relacionadas? O administrador financeiro toma as suas decisões baseando-se nos relatórios emitidos pelo setor contábil e, na presente unidade, vimos essa relação bastante próxima das decisões financeiras com os dois principais relatórios contábeis. Na unidade 5 veremos outras duas importantes demonstrações: Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados. www.esab.edu.br 26 5 Revisitando a Demonstração do Fluxo de Caixa e a Demonstração dos Lucros e Prejuízos acumulados Objetivo Revisar as demonstrações financeiras: Demonstração do Fluxo de Caixa e a Demonstração dos Lucros e Prejuízos acumulados. Vamos continuar a revisar algumas demonstrações financeiras que são muito importantes na atividade da administração. Depois de revisitar o Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado do Exercício na unidade 4, agora vamos estudar a Demonstração do Fluxo de Caixa e a Demonstração dos Lucros e Prejuízos Acumulados. Tomamos como base os livros de Seleme (2010), Gitman e Madura (2003) e Camargo (2007). Você perceberá, ao longo da unidade, como é importante conhecer as demonstrações financeiras para ser um bom administrador! Iniciaremos os estudos com a Demonstração do Fluxo de Caixa. Vamos em frente? 5.1 Demonstração do Fluxo de Caixa O Caixa representa a conta da empresa na qual são registrados os créditos e os débitos ou, de maneira mais usual, as entradas e as saídas de caixa. Seleme (2010, p. 170) define fluxo de caixa como um “[...] conjunto de movimentações de entradas e saídas de dinheiro de um período determinado, que ocorrem para possibilitar as operações, os investimentos e os financiamentos empresariais.” Para Gitman e Madura (2003), tal demonstração fornece uma visão esclarecedora dos fluxos de caixas operacionais, de investimento e de financiamento e reconcilia-os com as mudanças ocorridas na referida conta. Além disso, a demonstração do fluxo de caixa possibilita que o administrador visualize os saldos de caixa, podendo prever possível faltas de recursos para pagamentos futuros. www.esab.edu.br 27 Como vimos, são três os tipos de fluxos de caixa: operacional, de investimento e de financiamento. No entanto, eles acabam formando um painel, no qual se interligam e formam o fluxo de caixa propriamente dito. O fluxo de caixa de investimentos trata dos gastos da empresa para a aquisição de ativos fixos (máquinas, equipamentos, imóveis), bem como do valor recebido pela venda de algum deles (SELEME, 2010). Observe um exemplo de informações que são encontradas em um fluxo de caixa de investimentos na Tabela 1. Tabela 1 – Fluxo de caixa de investimentos Descrição 1º mês 2º mês 3º mês 4º mês 5º mês Saldo inicial 0,00 $ (210.000,00) $ (345.000,00) $ (480.000,00) $ (615.000,00) (+) Entradas Total de entradas 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 (–) Saídas Compra de veículo $ 150.000,00 $ 75.000,00 $ 75.000,00 $ 75.000,00 Compra de equipamento $ 60.000,00 $ 60.000,00 $ 60.000,00 $ 60.000,00 $ 60.000,00 Total de saídas $ 210.000,00 $ 135.000,00 $ 135.000,00 $ 135.000,00 $ 60.000,00 Saldo final (Saldo inicial + entradas – saídas) $ (210.000,00) $ (345.000,00) $ (480.000,00) $ (615.000,00) $ (675.000,00) Fonte: Adaptado de Seleme (2010). Como você pode notar, no fluxo de caixa apresentado na Tabela 1 não houve entradas (recebimento pela venda de algum ativo fixo), apenas saídas (aquisições de ativos fixos), as quais foram deduzidas do saldo inicial (que, no exemplo, era zero). Para encontrarmos o saldo final de caixa basta calcular : Saldo Final de Caixa = Saldo Inicial + Entradas - Saídas www.esab.edu.br 28 Já no fluxo de caixa de financiamento, de acordo com Seleme (2010), estão as seguintes operações: entrada de capital próprio (dinheiro dos sócios e representado pelo Capital Social no Patrimônio Líquido), entrada de capital de terceiros (empréstimos e financiamentos), entrada de caixa decorrente das aplicações financeiras realizadas, saídas de caixa para pagamento dos empréstimos e juros neles incorridos, saídas de caixa para pagamento de dividendos aos sócios e saídas de caixa para devolução do capital aos sócios. Observe agora, na Tabela 2, um exemplo de um fluxo de caixa que contém as informações de investimentos da Tabela 1 acrescentado de informações sobre financiamentos (em destaque). Tabela 2 – Fluxo de caixa de investimentos e financiamentos Descrição 1º mês 2º mês 3º mês 4º mês 5º mês Saldo inicial 0,00 $ 90.000,00 $ 30.000,00 $ 30.000,00 $ (90.000,00) (+) Entradas Capital dos sócios $ 300.000,00 Empréstimos $ 75.000,00$ 75.000,00 $ 75.000,00 $ 75.000,00 Total de entradas $ 300.000,00 $ 75.000,00 $ 75.000,00 $ 75.000,00 $ 75.000,00 (–) Saídas Compra de veículo $ 150.000,00 $ 75.000,00 $ 75.000,00 $ 75.000,00 Compra de equipamento $ 60.000,00 $ 60.000,00 $ 60.000,00 $ 60.000,00 $ 60.000,00 Total de saídas $ 210.000,00 $ 135.000,00 $ 135.000,00 $ 135.000,00 $ 60.000,00 Saldo final (Saldo inicial + entradas – saídas) $ 90.000,00 $ 30.000,00 $ (30.000,00) $ (90.000,00) $ (75.000,00) Fonte: Adaptado de Seleme (2010). Observamos o retrato de uma situação financeira na qual as entradas advêm de capital próprio e de empréstimos e servem para cobrir os gastos advindos de compras, aqui representados pelos ativos fixos. O fluxo de caixa operacional compreende, segundo Seleme (2010), as seguintes movimentações: saídas de caixa para aquisição de estoques, saídas de caixa para pagamento das despesas operacionais, saídas de caixa para pagamentos de impostos e entradas de caixa pelas receitas www.esab.edu.br 29 das vendas. Por fim, observe um exemplo de informações de um fluxo de caixa de investimentos (vindos da Tabela 1), informações de financiamentos (vindos da Tabela 2), acrescido de informações operacionais na Tabela 3. Tabela 3 – Fluxo de caixa de investimento, financiamento e operacional Descrição 1º mês 2º mês 3º mês 4º mês 5º mês Saldo inicial 0,00 $ 53.166,00 $ 44.832,00 $ 57.498,00 $ 83.664,00 (+) Entradas Capital dos sócios $ 300.000,00 Empréstimos $ 75.000,00 $ 75.000,00 $ 75.000,00 $ 75.000,00 Vendas $ 90.000,00 $ 112.500,00 $ 135.000,00 $ 180.000,00 Total de entradas $ 300.000,00 $ 165.000,00 $ 187.500,00 $ 210.000,00 $ 155.000,00 (–) Saídas Compra de veículo $ 150.000,00 $ 75.000,00 $ 75.000,00 $ 75.000,00 Compra de equipamento $ 60.000,00 $ 60.000,00 $ 60.000,00 $ 60.000,00 $ 60.000,00 Aluguel $ 15.000,00 $ 15.000,00 $ 15.000,00 $ 15.000,00 $ 15.000,00 Luz $ 1.665,00 $ 1.665,00 $ 1.665,00 $ 1.665,00 $ 1.665,00 Água $ 369,00 $ 369,00 $ 369,00 $ 369,00 $ 369,00 Estoques $ 6.000,00 $ 7.500,00 $ 9.000,00 $ 18.000,00 $ 15.000,00 Mão de obra $ 13.800,00 $ 13.800,00 $ 13.800,00 $ 13.800,00 $ 13.800,00 Total de saídas $ 246.834,00 $ 173.334,00 $ 174.834,00 $ 183.834,00 $ 105.834,00 Saldo final (Saldo inicial + entradas – saídas) $ 53.166,00 $ 44.832,00 $ 57.498,00 $ 83.664,00 $ 232.830,00 Fonte: Adaptado de Seleme (2010). Você pode notar que na Tabela 3 estão presentes, além dos fluxos de caixa de investimento (aquisição de ativos fixos) e financiamentos (com capital próprio e de terceiros), as entradas e saídas operacionais. Note que os fluxos de caixa de investimento e financiamento vistos na Tabela 1 e 2 estão destacados. As entradas operacionais são oriundas das vendas e as saídas operacionais são oriundas dos custos dos produtos e das despesas operacionais. www.esab.edu.br 30 Depois de estudar a Demonstração do Fluxo de Caixa, importante na decisão sobre as entradas e as saídas de dinheiro na empresa, vamos agora relembrar a Demonstração dos Lucros e Prejuízos Acumulados. 5.2 Demonstração dos Lucros e Prejuízos Acumulados A Demonstração dos Lucros e Prejuízos Acumulados evidencia os saldos inicial e final da conta de Lucros e Prejuízos Acumulados do Balanço Patrimonial em um determinado período de tempo, bem como as variações que levaram a essa mudança de saldo (CAMARGO, 2007). Um exemplo dessa demonstração está contida na Tabela 4, referente ao ano encerrado em 31 de dezembro de 2012. Acompanhe: Tabela 4 – Demonstração dos Lucros e Prejuízos acumulados Demonstração dos Lucros e Prejuízos acumulados em 31 de dezembro de 2012 Saldo de lucros acumulados (1 de janeiro de 2012) R$ 1.012.000,00 Mais: Lucros líquidos após o imposto de renda (para 2012) R$ 231.000,00 Menos: Dividendos em dinheiro (pagos durante 2012) – R$ 108.000,00 Saldo dos lucros acumulados (31 de dezembro de 2012) R$ 1.135.000,00 Fonte: Adaptado de Gitman e Madura (2003). A demonstração indica que a empresa começou o ano de 2012 com R$ 1.012.000,00 em lucros acumulados e teve lucros líquidos, após o imposto de renda, de R$ 231.000,00, dos quais pagou um total de R$ 108.000,00 em dividendos, resultando em lucros acumulados, no final do ano, de R$ 1.135.000,00. Assim, o aumento líquido para a empresa foi de R$ 123.000,00 durante 2012 (R$ 231.000,00 em lucros líquidos após o imposto de renda menos R$ 108.000,00 em dividendos). Dica Para uma revisão completa das Demonstrações Financeiras, revisite o material da disciplina de Contabilidade, que você estudou na unidade 1. www.esab.edu.br 31 Agora que você já fez uma revisão sobre as principais demonstrações financeiras – Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício, Demonstração do Fluxo de Caixa e Demonstração dos Lucros e Prejuízos Acumulados – é hora de saber como o administrador financeiro utiliza essas demonstrações para a tomada de decisão. O primeiro passo é fazer uma análise desses demonstrativos, que você verá na unidade 6. www.esab.edu.br 32 6 Análise das demonstrações financeiras Objetivo Entender quem utiliza a análise das demonstrações financeiras das empresas. Depois de revisitar as quatro principais demonstrações financeiras nas unidades 4 e 5, vamos estudar os aspectos que dizem respeito à sua análise. Para isso, iremos nos embasar nas ideias de Seleme (2010) e de Gitman (2010). De acordo com Seleme (2010), a realização periódica de uma análise financeira é de extrema importância para os administradores que monitoram o desempenho financeiro e, normalmente, trabalham com metas financeiras, assim como é de grande valia e transparência para os proprietários, que analisam os retornos obtidos pelos seus investimentos. A seguir, vamos conhecer alguns aspectos da análise das demonstrações financeiras, qual a sua função e o seu objetivo. 6.1 Aspectos básicos da análise das demonstrações financeiras O uso da informação contábil tem como finalidade principal o controle e o planejamento financeiro. Seleme (2010) apresenta um quadro que compara essas finalidades nas duas funções administrativas. www.esab.edu.br 33 Controle Planejamento Como meio de comunicação Ter um objetivo Como meio de motivação Analisar as alternativas Como meio de verificação Verificar recursos disponíveis Tomar decisões Quadro 5 – Comparativo das finalidades do uso da informação contábil em uma organização. Fonte: Seleme (2010, p. 136). Conforme apresentado no Quadro 5, podemos utilizar a análise das demonstrações financeiras para comunicar a situação financeira da empresa, motivar funcionários, investidores e fornecedores no alcance de metas e verificar cumprimento de orçamentos, entre outras formas de comunicação. Além disso, embasa o administrador financeiro na sua função de planejamento, fornecendo objetivos financeiros concretos, como, o retorno esperado dos investimentos e alternativas de ação para concretizá-los, evidenciado em um plano financeiro que contenha os recursos disponíveis e a sua utilização eficiente. Ao fazermos uma análise financeira de uma empresa buscamos, de acordo com Seleme (2010): • uma visão geral da situação financeira da empresa; • avaliar a evolução financeira da empresa no tempo; e • informações que permitam algumas conclusões preliminares. Os principais tipos de análise que podem ser realizados com base nos demonstrativos financeiros são: análise vertical e análise horizontal – que veremos a seguir – e análise por meio de indicadores, que será objeto de estudo nas unidades seguintes. Análise vertical A análise vertical oferece subsídios para a compreensão da estrutura geral da empresa. Esse tipo de análise pode ser empregado tanto para o balanço patrimonial como para o demonstrativo do resultado do exercício.(SELEME, 2010, p. 150) www.esab.edu.br 34 A análise vertical em um Balanço Patrimonial tem como objetivo avaliar como está a estrutura do ativo, do passivo e do Patrimônio Líquido. Para calcular o percentual de cada item do ativo e do passivo, devemos dividir cada um deles pelo ativo ou passivo total, respectivamente. Considere o seguinte Balanço Patrimonial da empresa Futura em 31/12/2012, apresentado na Tabela 5: Tabela 5 – Balanço Patrimonial da empresa Futura de 31/12/2012 Balanço Patrimonial da empresa Futura em 31/12/2012 Ativo circulante R$ 150.000,00 Passivo circulante R$ 80.000,00 Ativo realizável a LP R$ 40.000,00 Passivo exigível a LP R$ 120.000,00 Imobilizado R$ 1.200.000,00 Patrimônio Líquido R$ 1.190.000,00 Ativo total R$ 1.390.000,00 Passivo total R$ 1.390.000,00 Fonte: Elaborada pela autora (2013). Em sua estrutura de ativos, a empresa Futura investe 10,79% dos seus recursos em ativo circulante. Ou seja, de todos os ativos investidos na empresa (R$ 1.390.000), 10,79% são aplicados no Ativo Circulante (R$ 150.000,00). Calculamos essa relação da seguinte forma: Ativo circulante Ativo total = 150.000, 00 1.390.000, 00 = 0,1079 x 100 =10, 79% . Além disso, 86,33% de todo o ativo investido na empresa (R$ 1.390.000) encontra-se no imobilizado (R$ 1.200.000,00). Calculamos assim: Imobilizado Ativo total = 1.200.000,00 1.390.000,00 = 0,8633 x 100 = 86,33% . A estrutura de financiamento da empresa é composta por 5,76% de dívidas de curto prazo, ou seja, de toda sua estrutura de financiamento, representada pelo Passivo Total (R$ 1.390.000,00), 5,76% advém das dívidas de curto prazo (R$ 80.000,00). A relação é feita da seguinte forma: Passivo Circulante Passivo total = 80.000, 00 1.390.000, 00 = 0, 0576 x 100 = 5, 76% . www.esab.edu.br 35 Temos também que 8,63% são dívidas de longo prazo, que calculamos fazendo a relação entre o Passivo exigível a longo prazo (R$ 120.000,00) e o Passivo total (R$ 1.390.000,00): Passivo exigível a LP Passivo total = 120.000,00 1.390.000,00 = 0,0863 x 100 = 8,63% . Já o Patrimônio Líquido (R$ 1.190.000,00) representa 85,61% do Passivo total (R$ 1.390.000,00), calculado da seguinte forma: Patrimômio Líquido Passivo total =1.190.000, 00 1.390.000, 00 = 0,8561x 100 = 85, 61% . Na demonstração do resultado do exercício, a análise vertical permite identificar as principais fontes de resultado da empresa, bem como a relevância de cada um dos diversos elementos de componentes do resultado, como receita operacional, custo dos produtos vendidos, despesas etc. A análise vertical da demonstração é calculada pela divisão de cada item pelo valor da receita líquida (SELEME, 2010). Tabela 6 – Demonstração do Resultado do Exercício da empresa Futura de 2012 DRE da empresa Futura do ano de 2012 (+) Receita líquida R$ 500.000,00 (–) Custo dos produtos vendidos – R$ 300.000,00 (=) Lucro bruto R$ 200.000,00 (–) Despesas operacionais – R$ 100.000,00 (=) Lucro operacional R$ 100.000,00 (–) Provisão IR – R$ 27.000,00 (=) Lucro líquido do exercício R$ 73.000,00 Fonte: Elaborada pela autora (2013). Na Tabela 6 podemos analisar, na DRE de 2012 da empresa Futura, que o Custo dos produtos vendidos (R$ 300.000,00) representa 60,00% da receita líquida (R$ 500.000,00). Podemos encontrar essa relação da seguinte forma: Custo dos produtos vendidos 300.000,00= 0,6000 100 60,00% Receita líquida 500.000,00 = × = . Isso significa que, de toda a receita gerada pela empresa, representada pelas vendas, os custos dos produtos vendidos consomem 60% desta. www.esab.edu.br 36 As despesas operacionais (R$ 100.000,00) consomem 20,00% da receita líquida (R$ 500.000,00), para calcular essa relação: Despesas operacionais 100.000,00= 0,2000 100 20,00% Receita líquida 500.000,00 = × = ). Ou seja, de toda a receita gerada pela empresa, as despesas com a administração, com vendas e despesas financeiras gastam 20% dela. Por fim, o Lucro Líquido do exercício (R$ 73.000,00) representa 14,60% da mesma receita (R$ 500.000,00). Para encontrarmos essa relação, devemos calcular: Lucro líquidodoexercício 73.000,00= 0,1460 100 14,60% Receita líquida 500.000,00 = × = . Isso significa que de toda venda realizada nesta empresa, ou toda receita gerada, 14,60% transforma-se em Lucro Líquido. Análise horizontal “O objetivo desse tipo de análise é avaliar a evolução dos itens das demonstrações contábeis [...]” (SELEME, 2010, p. 151), comparando um período ao outro. Por exemplo, considere as informações do Balanço Patrimonial da empresa Futura nos anos de 2011 e 2012: Tabela 7 – Comparação do Balanço Patrimonial da empresa Futura (de 31/12/ 2011 e 2012) BP Empresa Futura 31/12/2011 31/12/2012 Ativo circulante R$ 125.000,00 R$ 150.000,00 Ativo realizável a LP R$ 55.000,00 R$ 40.000,00 Imobilizado R$ 980.000,00 R$ 1.200.000,00 Ativo total R$ 1.160.000,00 R$ 1.390.000,00 Passivo circulante R$ 70.000,00 R$ 80.000,00 Passivo exigível a LP R$ 75.000,00 R$ 120.000,00 Patrimônio Líquido R$ 1.015.000,00 R$ 1.190.000,00 Passivo total R$ 1.160.000,00 R$ 1.390.000,00 Fonte: Elaborada pela autora (2013). www.esab.edu.br 37 Na Tabela 7 é possível verificar, pela análise horizontal (ao longo do tempo), que o ativo total teve um crescimento de 19,83% do ano de 2011 para 2012, ou seja, passou de R$ 1.160.000,00 em 2011 para R$ 1.390.000,00 em 2012. O aumento de R$ 230.000,00 no ativo total (R$ 1.390.000,00 – R$ 1.160.000,00) representa um aumento de 19,80%. Para encontrarmos essa porcentagem basta dividir o aumento (R$ 230.000,00) pelo ativo total inicial (R$ 1.160.000,00) e multiplicar por 100. Acompanhe: 230.000,00 100 19,83% 1.160.000,00 × = . O ativo circulante, de um ano para o outro, cresceu 16,70%, ou seja, passou de R$ 125.000,00 em 2011 para R$ 150.000,00 em 2012. O aumento de R$ 25.000,00 no ativo circulante (R$ 150.000,00 – R$ 125.000,00) representa um aumento de 20,00%. Para encontrarmos essa porcentagem basta dividir o aumento pelo ativo circulante inicial e multiplicar por 100. Acompanhe: 25.000,00 100 20,00% 125.000,00 × = . O ativo realizável a longo prazo diminuiu 27,2%, ou seja, passou de R$ 55.000,00 para R$ 40.000,00. A diminuição de R$ 15.000,00 no ativo realizável a longo prazo (R$ 55.000,00 – R$ 40.000,00) representa um decréscimo de 27,27%. Para encontrarmos essa porcentagem basta dividir a diminuição pelo ativo realizável a longo prazo inicial e multiplicar por 100. Veja: 15.000,00 100 27,27% 55.000,00 × = . O Patrimônio Líquido da empresa cresceu em 14,7%, passando de R$ 1.015.000,00 para R$ 1.190.000,00. O aumento de R$ 175.000,00 no Patrimônio Líquido (R$ 1.190.000,00 – R$ 1.015.000,00) representa um aumento de 17,24%. Para encontrarmos essa porcentagem basta dividir o aumento pelo patrimônio líquido inicial e multiplicar por 100. Da seguinte forma: 175.000,00 100 17,24% 1.015.000,00 × = . A análise vertical aplicada à DRE apresenta o mesmo princípio: comparar a evolução dos valores ao longo do tempo. Vejamos o exemplo da empresa Futura. www.esab.edu.br 38 Tabela 8 – Comparação da Demonstração do Resultado do Exercício da empresa Futura (2011 e 2012) DRE da empresa Futura 2011 2012 (+) Receita líquida R$ 420.000,00 R$ 500.000,00 (–) Custo dos produtos vendidos – R$ 230.000,00 – R$ 300.000,00 (=) Lucro bruto R$ 190.000,00 R$ 200.000,00 (–) Despesas operacionais – R$ 80.000,00 – R$ 100.000,00 (=) Lucro operacional R$ 110.000,00 R$ 100.000,00 (–) Provisão IR – R$ 29.700,00 – R$ 27.000,00 (=) Lucro líquido do exercício R$ 80.300,00 R$ 73.000,00 Fonte: Elaborada pela autora (2013). A receita líquida da empresa Futura aumentou entre os dois anos em 19,05% (era de R$ 420.000,00 em 2011 epassou para R$ 500.000,00 em 2012). O aumento de R$ 80.000,00 na receita líquida (R$ 500.000,00 – R$ 420.000,00) representa um aumento de 19,05%. Para encontrarmos essa porcentagem basta dividir o aumento pela receita líquida inicial e multiplicar por 100. Da seguinte forma: 80.000,00 100 19,05% 420.000,00 × = . Porém, seus custos aumentaram em 30,44% (passou de R$ 230.000,00 em 2011 para R$ 300.000,00 em 2012). O aumento de R$ 70.000,00 no custo dos produtos vendidos (R$ 300.000,00 – R$ 230.000,00) representa um aumento de 30,44%. Para encontrarmos essa porcentagem basta dividir o aumento pelo custo do produto vendido inicial e multiplicar por 100. Acompanhe: 70.000,00 100 30,44% 230.000,00 × = . As despesas aumentaram em 25% (eram de R$ 80.000 em 2011 e passaram para R$ 100.000,00 em 2012). O aumento de R$ 20.000,00 nas despesas operacionais (R$ 100.000,00 – R$ 80.000,00) representa um aumento de 25%. Para encontrarmos essa porcentagem basta dividir o aumento pelas despesas operacionais iniciais e multiplicar por 100. Ou seja, 20.000,00 100 25,00% 80.000,00 × = . www.esab.edu.br 39 Isso pode explicar porque, apesar do aumento das receitas, o lucro do ano de 2012 é inferior a 2011 em 9,09% (de R$ 80.300,00 em 2011 para R$ 73.000,00 em 2012). A diminuição de R$ 7.300,00 no lucro (R$ 80.300,00 – R$ 73.000,00) representa um decréscimo de 9,09%. Para encontrarmos essa porcentagem basta dividir a diminuição pelo lucro inicial e multiplicar por 100. Da seguinte forma: 7.300,00 100 9,09% 80.300,00 × = . Além das análises vertical e horizontal, que você acabou de ver, é possível analisar as empresas através dos indicadores financeiros que serão apresentados nas unidades 7, 8 e 9. A seguir vamos conhecer quem e para que utiliza a análise das demonstrações financeiras. 6.2 Usuários da análise financeira A análise extraída das demonstrações financeiras, conforme Gitman (2010), interessa aos proprietários, aos credores e aos administradores da empresa. Proprietários existentes e em potencial estão levam em consideração os níveis atuais e futuros de retorno e risco da empresa, que afetam diretamente o valor de mercado. Os credores se interessam, principalmente, pela liquidez de curto prazo da empresa e em sua capacidade de pagamentos de juros e amortizações dos empréstimos concedidos. Uma preocupação secundária dos credores é a lucratividade; eles querem garantias que o negócio é sólido financeiramente. Os administradores, assim como os proprietários, se debruçam sobre todos os aspectos da situação financeira da empresa e buscam produzir indicadores que sejam considerados favoráveis tanto pelos proprietários quanto pelos credores. Além disso, a administração utiliza a análise para monitorar o desempenho empresarial de um período para outro. Agora você já conhece alguns fundamentos da análise das demonstrações financeiras e retomou as análises vertical e horizontal. Nas próximas unidades vamos analisar as demonstrações financeiras com indicadores financeiros. Preparado? Vamos em frente! www.esab.edu.br 40 Fórum Caro estudante, dirija-se ao Ambiente Virtual de Aprendizagem da instituição e participe do nosso Fórum de discussão. Lá você poderá interagir com seus colegas e com seu tutor de forma a ampliar, por meio da interação, a construção do seu conhecimento. Vamos lá? www.esab.edu.br 41 Resumo Nesta primeira etapa da disciplina conhecemos alguns conceitos principais da teoria financeira; o termo finanças pode ser definido como a arte ou a ciência de administrar o dinheiro (GITMAN, 2010). Essa atividade é essencial nas organizações empresariais que buscam um resultado positivo das suas atividades operacionais. Além disso, estabelecemos relações entre a Administração Financeira e as demais áreas funcionais da empresa, e pudemos conhecer algumas funções do administrador financeiro e as principais decisões tomadas por ele: decisões de investimento, financiamento e operacionais. Estudamos também que o principal objetivo da Administração Financeira nesse ambiente é maximizar a riqueza dos proprietários. Porém, fundamental foi discutir o papel ético requerido por essa atividade de gestão. Um binômio muito importante nas finanças foi colocado na discussão sobre o risco e o retorno dos investimentos. Aprendemos que, quanto maior o risco que um investimento apresenta, mais altas são as expectativas de retorno sobre ele e vice-versa. Revisitamos quatro importantes demonstrações financeiras: o Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado do Exercício, a Demonstração do Fluxo de Caixa e a Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados, e estabelecemos uma relação entre as decisões financeiras e tais demonstrações. Por fim, iniciamos o processo de análise das demonstrações financeiras. Conhecemos os principais interessados nessa análise (proprietários, credores e administradores) e pudemos fazer uma análise vertical e horizontal das demonstrações, apresentando proporções das contas e evolução ao longo do tempo. www.esab.edu.br 42 7 Análise dos índices de liquidez e endividamento Objetivo Analisar os indicadores de liquidez e endividamento. Na unidade 6, você estudou sobre a análise das demonstrações financeiras e a sua importância. Nesta unidade vamos dar início à análise das demonstrações financeiras a partir de índices. Aqui, vamos estudar dois importantes indicadores de avaliação das empresas: o indicador de liquidez e o indicador de endividamento. Para isso, utilizaremos conceitos de Groppelli e Nikbakht (2010). A análise de índices é um instrumento utilizado por administradores financeiros e investidores de empresas e auxilia na verificação do desempenho e crescimento da empresa ao longo do tempo. Além disso, conforme destacam Groppelli e Nikbakht (2010), ajuda a determinar se a empresa encontra-se em situação de insolvência. Ainda segundo os autores, se os índices não apontarem um bom desempenho financeiro, a empresa está sujeita a custos mais elevados de financiamentos, enquanto que bons índices muitas vezes significam que os investidores estarão dispostos a colocar recursos à disposição da empresa com custos mais razoáveis. 7.1 Indicadores de liquidez O grau de liquidez de um investimento depende da capacidade com que ele é transformado em dinheiro sem incorrer em perdas significativas (GROPPELLI; NIKBAKHT, 2010). Ou seja, quanto maior for a capacidade de um ativo transformar-se em dinheiro, maior é sua liquidez. Por exemplo, quando você investe seu dinheiro na caderneta de poupança, este é considerado um investimento com alta liquidez. www.esab.edu.br 43 Para Groppelli e Nikbakht (2010), a administração da liquidez consiste em equiparar os prazos das dívidas com os prazos com que os ativos serão transformados em caixa, a fim de evitar a insolvência. Dessa forma, a questão central que o indicador de liquidez ajuda a visualizar é: a empresa tem capacidade de gerar caixa suficiente para pagar seus fornecedores e credores? São os indicadores de liquidez que nos ajudam a responder a essa questão, pois eles testam o grau de solvência da empresa. Para isso, vamos conhecer dois indicadores de liquidez: • Índice de Liquidez Corrente (ILC); e • Índice de Liquidez Seca (ILS). Os dois tipos de índices de liquidez levam em consideração as contas do Balanço Patrimonial: Ativo Circulante e Passivo Circulante. Lembrando que o Ativo Circulante é o investimento que irá se transformar em caixa no curto prazo. Alguns exemplos: disponíveis (caixa, bancos, aplicações financeiras de curto prazo), contas a receber e estoques. Já o Passivo Circulante são as dívidas com data de vencimento em até um ano. Exemplos: salários a pagar, fornecedores a pagar, impostos a pagar e empréstimos. Vamos estudar detalhadamentecada um dos índices de liquidez. Vamos lá? Índice de Liquidez Corrente (ILC) Segundo Groppelli e Nikbakht (2010), o Índice de liquidez corrente é a relação entre o Ativo Circulante e o Passivo Circulante. Ativo circulanteÍndice de Liquidez Corrente (ILC)= Passivo circulante O resultado dessa equação é um número índice, que indica o quão solvente a empresa é em relação à sua capacidade de saldar suas dívidas. www.esab.edu.br 44 Exemplo 1: Podemos dizer que uma empresa com R$ 20 milhões de ativos circulantes e R$ 10 milhões de passivos circulantes tem um índice de liquidez corrente de 2 vezes. R$20.000.000,00 ILC 2 R$10.000.000,00 = = Isso significa dizer que a empresa em questão disponibiliza 2 vezes mais ativos circulantes do que passivos circulantes (dívidas). Ou seja, para cada R$ 1,00 de dívidas no Passivo Circulante, ela dispõe de R$ 2,00 para realização do pagamento. No entanto, um alto índice de liquidez não significa necessariamente uma boa saúde financeira. Isso porque investimentos que apresentam alta liquidez normalmente são pouco rentáveis. Pense na sua poupança: esse tipo de investimento é altamente líquido, porém, pouco rentável. O mesmo pode ser aplicado ao ambiente empresarial. Na unidade 8 falaremos sobre a rentabilidade. Índice de liquidez seca O índice de liquidez seca também é um indicador que apresenta a situação financeira da empresa em relação às suas obrigações. Porém, nesse cálculo, desconsideramos os estoques constantes no Ativo Circulante. Diminuindo os ativos circulantes menos líquidos (representado pelos estoques) e concentrando-se em ativos mais facilmente conversíveis em caixa (disponíveis e contas a receber), o índice de liquidez seca determina se uma empresa pode cumprir com suas obrigações de curto prazo, se as vendas diminuírem drasticamente (GROPPELLI; NIKBAKHT, 2010). Ativo circulante - EstoquesÍndice de Liquidez Seca (ILS) = Passivo circulante O resultado dessa relação é em um número índice que indica o quão solvente a empresa é em relação à sua capacidade de saldar suas dívidas, caso não venda nenhum estoque. www.esab.edu.br 45 Exemplo 2: No exemplo 1, os ativos circulantes somavam o montante de R$ 20 milhões. Qual a consequência para a liquidez da empresa se R$ 5 milhões estivessem comprometidos em estoques? Considerando ainda R$ 10 milhões de passivos circulantes, o índice de liquidez seca indicaria o representado na fórmula a seguir: R$20.000.000,00 R$ 5.000.000,00 ILS = 1,5 R$10.000.000,00 − = Ou seja, para cada R$ 1,00 de dívida de curto prazo, a empresa disponibilizaria R$ 1,50 para pagamento. Ou, ainda, mesmo se nenhum estoque a mais fosse vendido, ainda assim a empresa apresentaria capacidade de saldar suas obrigações. Conforme esses conceitos e exemplos, podemos concluir que um indicador de liquidez (corrente ou seca) menor que 1, indica que a empresa não possui capacidade para saldar com suas obrigações no curto prazo. Depois de analisar a capacidade de pagamento das dívidas, o próximo índice a ser estudado é o indicador de endividamento. 7.2 Indicadores de endividamento O índice de endividamento apresenta o percentual dos ativos totais que é financiado através das dívidas (capital de terceiros) (GROPPELLI; NIKBAKHT, 2010). Quanto menor o índice de endividamento, menor é o montante de ativos comprometidos com dívidas de curto e de longo prazo. Sob um ponto de vista da capacidade de saldar as dívidas, isso confere à empresa uma maior segurança financeira. Lembre-se que as dívidas da empresa podem ser visualizadas no Balanço Patrimonial nas contas Passivo Circulante (dívidas de curto prazo) e Passivo Exigível a Longo Prazo (dívidas de longo prazo). Passivocirculante+PassivoExigível a LongoPrazo Índice de Endividamento (IE)= Ativo total www.esab.edu.br 46 O resultado encontrado do índice de endividamento indica, em termos percentuais, a parte dos investimentos (ativo) que estão sendo financiados por meio das dívidas. Exemplo 3: Se o Balanço Patrimonial de uma empresa mostrar dívidas de curto prazo de R$ 300.000,00, dívidas de longo prazo de R$ 700.000,00 e um ativo total no valor de R$ 5.000.000,00, então o índice de endividamento será o apresentado na fórmula a seguir. R$ 300.000,00 R$ 700.000,00IE = 0,2 R$ 5.000.000,00 ou 0,2 100%=20% + = × Para encontrar o valor em porcentagem, basta multiplicar o número índice encontrado por 100 – esse resultado indica que a empresa deve 20% dos seus ativos. Um índice alto pode comprometer a capacidade de pagamento das dívidas da empresa, porém, um baixo índice significa que a organização não utiliza o crédito disponível no mercado, o que pode gerar benefícios financeiros, como a alavancagem financeira. A alavancagem financeira é um conceito utilizado quando se toma recursos emprestados a custo baixo (juros baixos) e estes são aplicados na empresa. Se a organização for capaz de fazer tal recurso financeiro render mais que a taxa de juros paga por ele, diz-se que ela está alavancando financeiramente. Nesta unidade, você iniciou o processo de análise das demonstrações financeiras com dois indicadores: os de liquidez e os de endividamento. Na unidade 8 daremos continuidade ao estudo dos índices, analisando os indicadores de rentabilidade. Dica Acesse a revista Valor Econômico clicando aqui para ficar por dentro das principais notícias de finanças. www.esab.edu.br 47 8 Os indicadores de rentabilidade Objetivo Analisar os indicadores de rentabilidade. Na unidade 7 analisamos os indicadores de liquidez corrente, o índice de liquidez seco e o índice de endividamento. Nesta unidade, vamos conhecer três tipos de indicadores de rentabilidade: Retorno sobre o Ativo, Retorno sobre o Capital Próprio (ou Patrimônio Líquido) e a Margem de Lucro, utilizando conceitos de Gitman (2010). Para uma melhor visualização dos cálculos de rentabilidade, vamos ilustrar com exemplos da empresa Bem Viver. A empresa Bem Viver apresenta um Balanço Patrimonial e uma Demonstração do Resultado do Exercício, conforme as Tabelas 9 e 10, respectivamente. Tabela 9 – Balanço Patrimonial da empresa Bem Viver em 01/01/2012 BP Empresa Bem Viver em 01/01/2012 Ativo circulante R$ 60,000.00 Ativo realizável a longo prazo R$ 100,000.00 Ativo imobilizado R$ 240,000.00 Ativo total R$ 400,000.00 Passivo circulante R$ 40,000.00 Passivo exigível a longo prazo R$ 160,000.00 Patrimônio Líquido R$ 200,000.00 Passivo total R$ 400,000.00 Fonte: Elaborada pela autora (2013). A empresa Bem Viver possui um investimento total de R$ 400.000,00, distribuídos em Ativo Circulante, Ativo Realizável a Longo Prazo e Ativo Imobilizado. Esses investimentos são financiados pelo Patrimônio Líquido de R$ 200.000,00 e as dívidas (Passivo Circulante e Passivo Exigível a Longo Prazo). www.esab.edu.br 48 Tabela 10 – Demonstração do Resultado do Exercício da empresa Bem Viver de 2012 DRE da empresa Bem Viver 2012 (+) Receita líquida (-) Custo dos produtos vendidos (=) Lucro bruto (-) Despesas operacionais (=) Lucro operacional (-) Juros (=) Lucro antes do Imposto de Renda (-) Provisão IR (30%) (=) Lucro líquido do exercício R$ - R$ R$ - R$ R$ - R$ R$ - R$ R$ 100,000.00 45,000.00 55,000.00 25,000.00 30,000.00 2,000.00 28,000.00 8,400.00 47,600.00 Fonte: Elaborada pela autora (2013). A empresa apresenta vendas de R$ 100.000,00 e um lucro de R$ 19.600,00 no período. Agora vamos conhecer os tipos de rentabilidade e aplicá-los na empresa Bem Viver. Vamos lá? 8.1 Retorno sobre o ativo O Retorno Sobre o Ativo (RSA) – também chamadode Retorno Sobre o Investimento – mede a eficiência geral da administração em gerar lucros com seus ativos (investimentos) disponíveis. De acordo com Gitman (2010), quanto maior o retorno sobre o ativo total da empresa, melhor. O retorno sobre o ativo é calculado a partir de uma relação do lucro gerado com o investimento realizado, conforme a fórmula a seguir. Lucro líquido do exercício Retorno sobre oativo (RSA) = Ativo total Qual o retorno sobre o ativo da empresa Bem Viver? A Tabela 10 mostra que o lucro líquido do exercício é R$ 19.600,00 e na Tabela 9 podemos ver que o ativo total é de R$ 400.000,00. Desse modo, chega-se à fórmula a seguir. www.esab.edu.br 49 Para conhecermos o retorno sobre o ativo em termos percentuais, basta multiplicar o resultado de 0,049 por 100 (4,9%). O resultado de 4,9% deve vir acompanhado de um período, ou seja, o retorno sobre o ativo da empresa Bem Viver foi de 4,9% ao ano, uma vez que o lucro utilizado no cálculo foi gerado durante um ano (no ano de 2012). O retorno sobre o ativo mede o desempenho da empresa no período analisado. O próximo indicador de rentabilidade, o retorno sobre o capital próprio, mede o desempenho do investimento dos proprietários. 8.2 Retorno sobre o capital próprio O retorno sobre o capital próprio é também conhecido como Retorno Sobre o Patrimônio Líquido (RSPL). Esse indicador mede o retorno ganho sobre o investimento dos proprietários na empresa (GITMAN, 2010). Em geral, quanto mais alto esse retorno, melhor a situação econômica dos proprietários. O retorno sobre o patrimônio líquido é calculado da seguinte forma: Lucro líquido do exercício Retorno sobre o patrimônio líquido (RSPL) = Patrimônio líquido A Tabela 10 mostra que, na empresa Bem Viver, o lucro líquido do exercício foi de R$ 19.600,00 e, a Tabela 9, mostra o patrimônio líquido de R$ 200.000,00. Portanto, o retorno sobre o patrimônio líquido é o seguinte: R$19.600,00 RSPL = =0,098ou9,8%aoano R$ 200.000,00 Para conhecermos o retorno sobre o patrimônio líquido em termos percentuais, basta multiplicar 0,98 por 100 (9,8%). O resultado de 9,8% deve vir acompanhado de um período, ou seja, o retorno sobre o patrimônio líquido da empresa Bem Viver foi de 9,8% ao ano, uma vez que o lucro utilizado no cálculo foi gerado durante um ano (no ano de 2012). O próximo indicador a ser analisado está relacionado à capacidade da empresa em obter lucro a partir das vendas, ou seja, a margem de lucro. www.esab.edu.br 50 8.3 Margem de lucro A demonstração financeira utilizada para avaliar a lucratividade em relação às vendas é a Demonstração do Resultado do Exercício. Cada conta desse relatório é expressa em termos percentuais das vendas e são úteis na comparação do desempenho ao longo dos anos. Três índices de lucratividade, apresentados por Gitman (2010), podem ser tirados diretamente da demonstração do resultado: (1) a margem bruta do lucro; (2) a margem operacional de lucro; e (3) a margem líquida de lucro. Para ilustrar essas três margens de lucros, a seguir vamos utilizar a Demonstração do Resultado do Exercício da empresa Bem Viver do ano de 2012. 8.3.1 Margem bruta de lucro Para calcular a margem bruta de lucro, vamos utilizar o Lucro Bruto da Demonstração do Resultado do Exercício. Como você pode visualizar na Tabela 10, o lucro bruto vem depois do custo dos produtos vendidos da empresa, ou seja, os custos da produção. Segundo Gitman (2010), a margem bruta de lucro mede a porcentagem de cada venda (receita) restante depois de descontar o custo dos produtos vendidos. Quanto maior a margem bruta de lucro, melhor (ou seja, menor será o custo relativo dos produtos vendidos). A margem bruta de lucros é calculada por meio da fórmula a seguir. LucroBruto Margem Bruta de Lucro(MBL) = Receita Líquida Segundo a Tabela 10, o lucro bruto da empresa Bem Viver é de R$ 55.000,00 e a sua receita líquida é de R$ 100.000,00. A margem bruta de lucro da empresa Bem Viver é, portanto: R$55.000,00 MBL = =0,55ou55% R$100.000,00 Para conhecermos a margem bruta de lucro em termos percentuais, basta multiplicar o resultado de 0,55 por 100 (55%). www.esab.edu.br 51 8.3.2 Margem operacional de lucro Para calcular a margem operacional de lucro, vamos utilizar o Lucro Operacional da Demonstração do Resultado do Exercício. Como você pode visualizar na Tabela 10, o lucro operacional vem depois de se descontar o custo dos produtos vendidos e também as despesas operacionais. Segundo Gitman (2010), a margem operacional de lucro mede a porcentagem de cada venda (receita) restante, depois que todos os custos e despesas (que não sejam os juros, impostos e dividendos) forem deduzidos. É preferível uma alta margem de lucro operacional. A margem operacional de lucro é calculada da seguinte maneira: Lucro OperacionalMargem Operacional de Lucro(MOL) = Receita Líquida Segundo a Tabela 10, o lucro operacional da empresa Bem Viver é de R$ 30.000,00 e a receita líquida é de R$ 100.000,00. Portanto, a margem operacional de lucro da empresa Bem Viver é: R$ 30.000,00MOL = =0,30ou30% R$100.000,00 Para conhecermos a margem operacional de lucro em termos percentuais, basta multiplicar o resultado de 0,30 por 100 (30%). 8.3.3 Margem líquida de lucro Para calcular a margem líquida de lucro, vamos utilizar o lucro líquido da Demonstração do Resultado do Exercício. Como você pode visualizar na Tabela 10, o lucro líquido vem depois de se descontar o custo dos produtos vendidos, as despesas operacionais, os juros e os impostos. Segundo Gitman (2010), a margem líquida de lucro mede a porcentagem de cada venda (receita) restante, depois que todos os custos, despesas, juros e impostos forem deduzidos. Quanto mais alta a margem líquida de lucro, melhor. A margem operacional de lucro é calculada da seguinte maneira: LucroLíquido Margem Líquida de Lucro(MLL) = Receita Líquida www.esab.edu.br 52 Conforme a Tabela 10, o lucro líquido da empresa Bem Viver é R$ 19.600,00 e a receita líquida é de R$ 100.000,000. A margem líquida de lucro da empresa Bem Viver é: R$19.600,00 MLL = =0,196ou19,6% R$100.000,00 Para conhecermos a margem líquida de lucro em termos percentuais, basta multiplicar o resultado de 0,196 por 100 (19,6%). Como você pôde observar, os cálculos de rentabilidade têm por finalidade apresentar o desempenho da empresa em um período; assim, de uma maneira geral, mostram a capacidade que a organização tem de gerar lucros. Esses índices devem ser acompanhados ao longo do tempo pela empresa, auferindo a função do controle financeiro – tratam-se de índices internos à organização. Na próxima unidade vamos conhecer alguns indicadores de mercado, que também são importantes para os administradores financeiros, mas que estão disponíveis ao público externo. Tarefa dissertativa Caro estudante, convidamos você a acessar o Ambiente Virtual de Aprendizagem e realizar a tarefa dissertativa. www.esab.edu.br 53 9 Indicadores de mercado Objetivo Conhecer os principais indicadores de mercado das empresas. Nas unidades anteriores estudamos índices financeiros que avaliam o desempenho financeiro da empresa. Esses índices são bastante utilizados pelos gestores financeiros para o planejamento e o controle das finanças organizacionais. Nesta unidade, veremos indicadores de mercado da empresa, embasados nas ideias de Gitman (2010) e Camargo (2007). Segundo Gitman (2010), os índices de valor de mercado relacionam o valor de mercado da empresa (medido pelo preço atual de suas ações) a alguns valores contábeis. Ainda de acordo com o autor, esses índices trazem informações sobre como os analistas de mercado avaliam o desempenho da empresa em termos de risco e retorno. Tendem a refletir, em termos relativos, a avaliaçãoque os proprietários fazem de todos os aspectos do passado da empresa e do desempenho futuro esperado (GITMAN, 2010). Iniciaremos os estudos desta unidade com o índice preço/lucro e, em seguida, veremos o índice de valor de mercado/valor patrimonial. 9.1 Índice preço/lucro O Índice Preço/Lucro (P/L), segundo Gitman (2010), é muito usado para avaliar a maneira como os proprietários enxergam o preço da ação. O índice P/L mede o montante que os investidores estão dispostos a pagar por cada unidade monetária de lucro de uma empresa. O nível desse índice indica o grau de confiança que os investidores depositam no desempenho futuro da organização. Dessa forma, quanto maior o índice preço/lucro, maior a confiança. www.esab.edu.br 54 Antes de encontrar o indice preço/lucro, vamos falar sobre o que é o Lucro por ação (LPA). O LPA representa o número de unidades monetárias ganhas durante um período para cada ação (GITMAN, 2010). O lucro por ação é calculado da seguinte forma: Lucro líquido do exercício Lucro por ação(LPA)= Númerode ações da empresa Supondo que a empresa Bem Viver disponibilizasse 100.000 ações no mercado, qual seria o seu lucro por ação? Precisamos voltar à Tabela 10, na unidade 8, que apresenta o lucro líquido da empresa Bem Viver como sendo de R$ 19.600,00. Dessa forma: 19.600,00LPA= 0,196 100.000 = O LPA de R$ 0,196 representa o valor ganho por cada ação da empresa Bem Viver. Se você investisse nessa organização e tivesse 10 ações dela, ao final do período que corresponde ao lucro da empresa Bem Viver (ano de 2012), você teria R$ 1,96 de lucro (10 x R$ 0,196). Agora podemos calcular o índice preço/lucro, que é feito da seguinte maneira: Preço de mercado por ação ÍndicePreço/Lucro(P/L)= Lucro por ação Agora que já conhecemos o lucro por ação da empresa Bem Viver, podemos calcular o seu índice preço/lucro. Se as ações dessa organização estivessem sendo negociadas no mercado a R$ 18,00 cada, no final do período analisado, o índice preço lucro seria de: 18,00P/L= 91,84 0,196 = O índice preço/lucro é uma medida que informa a relação entre o que os investidores estão dispostos a pagar nas ações e o que eles obtêm de lucro. Ou seja, o resultado de 91,84 mostra uma relação de 91,84 para 1, indicando que os investidores estão pagando R$ 91,84 para cada R$ 1,00 www.esab.edu.br 55 de lucro que conseguem obter na empresa. Ou seja, essa supervalorização do Preço/Lucro da empresa Bem Viver mostra que os investidores estão otimistas em relação ao futuro – quanto maior esse indicador, mais bem avaliada a empresa no mercado. Outro indicador relacionado à avaliação da empresa no mercado é a relação entre o valor que ela possui no mercado e o valor que ela tem nos seus registros contábeis. Vamos ver? 9.2 Índice de valor de mercado/valor patrimonial O Índice de Valor de Mercado/Valor Patrimonial (VM/VP), segundo Gitman (2010), avalia como os investidores encaram o desempenho da empresa, relacionando o valor das ações da organização ao seu valor patrimonial (o valor contábil). Para calcular o VM/VP precisamos, antes, identificar o valor patrimonial por ação da empresa. Patrimônio líquido Valor patrimonial por ação= Númerode açõesda empresa Substituindo os valores referentes à empresa Bem Viver, encontrados em seu Balanço Patrimonial, na Tabela 9 da unidade 8 (Patrimônio líquido = R$ 200.000,00), temos: R$ 200.000,00Valor patrimonial por ação= 2 100.000 = Para encontrarmos o índice valor mercado/valor patrimonial, usamos a seguinte fórmula: Preçode mercado por ação VM/VP= Valor patrimonial por ação Inserindo o preço de mercado por ação da empresa Bem Viver de R$ 18,00 e o valor patrimonial por ação de R$ 2,00, que encontramos anteriormente, temos: R$ 18,00VM/VP= =9,00 R$2,00 www.esab.edu.br 56 Essa relação VM/VP significa que os investidores estão pagando R$ 9,00 por R$ 1,00 de valor patrimonial da empresa Bem Viver. De acordo com Gitman (2010), as ações de empresas das quais se espera um bom desempenho – aumento dos lucros ou da participação de mercado ou lançamento de produtos bem-sucedidos – costumam ser vendidas a índices VM/VP mais elevados do que daquelas com perspectivas menos atraentes. Para simplificar, organizações das quais se espera retorno elevado em relação ao risco costumam ser vendidas a múltiplos altos de VM/VP. Evidentemente, os investidores veem com bons olhos as perspectivas da empresa Bem Viver, já que estão dispostos a pagar por suas ações 9 vezes mais que seu valor patrimonial (contábil). Como podemos utilizar esses indicadores para uma avaliação da empresa? É o que veremos a seguir. 9.3 Outros indicadores de mercado De acordo com Camargo (2007), uma das formas de analisar a empresa é comparar o índice calculado com os de outras organizações de tamanho semelhante, do mesmo ramo industrial e que atuem em uma mesma região. Tal paralelo nos permite analisar a situação relativa da organização em seu setor de atuação. Essa comparação pode ser realizada por meio da utilização de índices- padrão, os quais refletem os indicadores alcançados com maior frequência por empresas de determinado setor. Esse indicador mostra se a organização encontra-se enquadrada no padrão do setor, se está pior ou melhor do que os concorrentes. A análise dos indicadores de mercado também pode ser feita pelo padrão histórico que, segundo Camargo (2007), visa à comparação de dados atuais com o desempenho passado. Assim, a empresa pode perceber possíveis tendências de crescimento ou decréscimo nos indicadores financeiros, o que deve revelar se a situação empresarial tem apresentado melhoria ou agravamento. www.esab.edu.br 57 Dessa forma, é possível emitir uma opinião sobre a posição recente em relação às passadas. A identificação das tendências deve ajudar a empresa no planejamento das atividades futuras. Saiba mais Para conhecer outros índices financeiros, acesse o site da BMF&Bovespa clicando aqui, clique em Mercados > Ações > Índices e conheça outros índices do mercado. Nesta unidade, você pôde identificar que os indicadores de mercado auxiliam o gestor financeiro na visualização da empresa em relação ao seu desempenho, mercado e concorrentes. Na próxima unidade vamos aplicar indicadores a uma empresa para saber como se analisa na prática. Preparado? Atividade Chegou a hora de você testar seus conhecimentos em relação às unidades 1 a 9. Para isso, dirija-se ao Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e responda às questões. Além de revisar o conteúdo, você estará se preparando para a prova. Bom trabalho! www.esab.edu.br 58 10 Problema resolvido Objetivo Resolver um problema a fim de contextualizar os conceitos apresentados. Nas unidades 7, 8 e 9 estudamos alguns indicadores financeiros e, agora, vamos resolver o caso da empresa Polis S/A por meio desses indicadores. Você foi convidado a analisar os indicadores financeiros da empresa Polis S/A do ano de 2012. Para isso, você dispõe de um Balanço Patrimonial do dia 31 de dezembro de 2012. Além disso, terá acesso ao Demonstrativo de Resultados do mesmo ano. 10.1 Apresentar demonstrações financeiras de uma empresa A empresa Polis S/A produz e comercializa garrafas plásticas para a indústria de bebidas. Sua sede está localizada em São Paulo e a principal matéria-prima utilizada no seu processo produtivo é o plástico. Na Tabela 11 você pode visualizar o Balanço Patrimonial da Polis S/A do final do período analisado. www.esab.edu.br 59 Tabela 11 – Balanço Patrimonial da empresa Polis S.A. em 31 de dezembro de 2012 BP Empresa Polis S/A em 31/12/2012 Ativo Circulante Passivo Circulante Caixa Bancos Aplicações financeiras Contas a Receber Estoques de matérias-primas Estoques de produtosacabados $ R$ R$ R$ R$ R$ 15,000.00 56,000.00 85,000.00 520,000.00 1,100,000.00 900,000.00 Salários Fornecedores Impostos Outras contas a pagar Empréstimos Financiamentos $ R$ R$ R$ R$ R$ 310,000.00 640,000.00 280,000.00 130,000.00 160,000.00 166,500.00 Ativo realizável a longo prazo Passivo exigível a longo prazo Ações em outras cias R$ 102,000.00 Financiamentos R$ 2,200,000.00 Ativo Imobilizado Máquinas Equipamentos Móveis Veículos Imóvel R$ R$ R$ R$ R$ 1,700,000.00 600,000.00 430,000.00 720,000.00 3,000,000.00 Patrimônio Líquido Capital social Lucros acumulados R$ R$ 4,000,000.00 1,341,500.00 Ativo total R$ 9,228,000.00 Passivo total R$ 9,228,000.00 Fonte: Elaborada pela autora (2013). Seu capital social é formado por 1.000.000 de ações que estão sendo comercializadas na Bolsa de Valores de São Paulo por R$ 11,45 cada. Na Tabela 12 você tem acesso ao demonstrativo de resultado da empresa no ano de 2012. Nele você pode observar as vendas realizadas (receita), o custo dos produtos vendidos, as despesas da empresa, os juros, o imposto de renda e o lucro do ano. www.esab.edu.br 60 Tabela 12 – Demonstração do Resultado do Exercício da empresa Polis S/A do ano de 2012 DRE da empresa Bem Viver 2012 (+) Receita bruta (-) Abatimomentos e devoluções (=) Receita Líquida (-) Custo dos produtos vendidos (=) Lucro bruto (-) Despesas administrativas (-) Despesas com vendas (-) Outras despesas operacionais (=) Lucro operacional (-) Juros (=) Lucro antes do Imposto de Renda (-) Provisão IR (30%) (=) Lucro líquido do exercício R$ - R$ R$ - R$ R$ - R$ - R$ - R$ R$ - R$ R$ - R$ R$ 1,200,000.00 130,000.00 1,070,000.00 550,000.00 520,000.00 150,000.00 50,000.00 10,000.00 310,000.00 25,000.00 285,000.00 85,500.00 484,500.00 Fonte: Elaborada pela autora (2013). Agora, vamos aplicar os índices financeiros. 10.2 Aplicar os índices financeiros Depois de conhecer o Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado do Exercício da empresa Polis S/A, vamos aplicar e analisar os indicadores financeiros que já conhecemos. Começaremos com o cálculo do índice de liquidez corrente. • Índice de liquidez corrente Ativo CirculanteILC= PassivoCirculante Para calcularmos o ILC, precisamos, inicialmente, encontrar o Ativo Circulante (AC) e o Passivo Circulante (PC) no Balanço Patrimonial da empresa. Os valores necessários são encontrados na Tabela 11. Veja: Ativo Circulante = Caixa + Bancos + Aplicações Financeiras + Contas a Receber + Estoques de matérias primas + Estoques de produtos acabados = R$ 15.000,00 + R$ 56.000,00 + R$ 85.000,00 + R$ 520.000,00 + R$ 1.100.000,00 + R$ 900.000,00 = R$ 2.676.000,00. www.esab.edu.br 61 Passivo Circulante = Salários + Fornecedores + Impostos + Outras contas a pagar + Empréstimos + Financiamento = R$ 310.000,00 + R$ 640.000,00 + R$ 280.000,00 + R$ 130.000,00 + R$ 160.000,00 + R$ 166.500,00 = R$ 1.686.500,00. R$2.676.000,00 ILC= 1,59 R$1.686.500,00 = Ou seja, para cada R$ 1,00 das dívidas de curto prazo, a empresa dispõe de R$ 1,59 no seu Ativo Circulante. Isso significa que ela possui capacidade de saldar suas dívidas de curto prazo. Calcularemos agora o índice de liquidez seca. Acompanhe: • Índice de liquidez seca Ativocirculante -Estoques ILS= Passivocirculante Já sabemos que o Ativo Circulante da empresa Polis S/A é de R$ 2.676.000,00. Através da Tabela 11 sabemos que o Estoque (de matérias primas R$ 1.100.000,00 e produtos acabados R$ 900.000,00) totalizam R$ 2.000,000,00. Portanto, Ativo Circulante - Estoques = R$ 2.676.000,00 - R$ 1.100.000,00 - R$ 900.000,00 = R$ 676.000,00. Assim: R$676.000,00 ILS= 0,40 R$1.686.500,00 = Se a empresa Polis S/A não vender seus estoques, ela perde a sua capacidade de saldar as dívidas. Ou seja, para cada R$ 1,00 de dívidas de curto prazo, ela dispõe de somente R$ 0,40, sem considerar os estoques. A seguir vamos calcular o índice de endividamento da empresa. • Índice de endividamento Passivocirculante+PassivoExigível a LongoPrazo ÍE= Ativo total www.esab.edu.br 62 Já calculamos, no início da unidade, que o Passivo Circulante é de R$ 1.686.500,00 – podemos verificar no Balanço Patrimonial que o passivo exigível a longo prazo é de R$ 2.200.000,00. Na Tabela 11 temos que o ativo total é de R$ 9.228.000,00. Portanto, o índice de endividamento pode ser calculado da seguinte forma: R$3.886.500,00R$ 1.686.500,00 + R$ 2.200.000,00ÍE= = 0,421ou 42,1% R$9.228.000,00 R$9.228.000,00 = Ou seja, dos investimentos (ativos) da empresa, 42,1% são financiados por capital de terceiros (dívidas de curto ou longo prazo). Agora, vamos calcular o retorno sobre o ativo. Acompanhe: • Retorno sobre o ativo Lucro líquido do exercício RSA = Ativo total O lucro líquido do exercício da empresa é encontrado na Tabela 12 e é de R$ 199.500,00, e o ativo total, apresentado na Tabela 11, é de R$ 9.228.000,00. Para chegarmos ao RSA, basta que se faça a seguinte relação: R$199.500,00 RSA = =0,0216ou 2,16%a.a. R$9228.000,00 A rentabilidade dos investimentos da empresa é de 2,16% ao ano, ou seja, para cada R$ 100,00 investidos na Polis S.A., ela gera R$ 2,16 de lucro ao final de um ano. Veremos, a seguir, o retorno sobre o patrimônio líquido. • Retorno sobre o capital próprio ou patrimônio líquido Lucro líquidodoexercício RSPL = Patrimônio líquido www.esab.edu.br 63 O patrimônio líquido da empresa está no Balanço Patrimonial e corresponde à conta Capital Social e aos Lucros Acumulados (R$ 4.000.000,00 + R$ 1.341.500,00 = R$ 5.341.500,00) R$199.500,00 RSPL = =0,0373ou3,73%a.a. R$5.341.500,00 A rentabilidade dos investimentos dos proprietários é de 3,73% ao ano, ou seja, para cada R$ 100,00 investidos pelos proprietários na empresa, ela fornece a eles R$ 3,73 de lucro ao final de um ano. Vamos seguir com a análise da Polis S.A com o cálculo da margem bruta de lucro. Margem bruta de lucro. LucroBruto MBL= Receita Líquida Todas as informações podem ser obtidas na Demonstração do Resultado do Exercício, na Tabela 12. R$520.000,00 MBL= 0,486ou 48,6% R$1.070.000,00 = A margem bruta de lucro indica que, da receita líquida total, 48,6% transforma-se em lucro bruto ou no lucro depois de descontado os custos dos produtos vendidos. Vamos, agora, ao cálculo da margem operacional de lucro. • Margem operacional de lucro Lucro Operacional MOL= Receita Líquida O valor do lucro operacional (R$ 310.000,00) e da receita líquida (R$ 1.070.000,00) podem ser encontrados na Tabela 12. R$310.000,00 MOL= 0,2897 ou 28,79% R$1.070.000,00 = www.esab.edu.br 64 A margem operacional de lucro indica que, da receita líquida total, 28,79% transforma-se em lucro operacional ou no lucro depois de descontados os custos dos produtos vendidos e as despesas operacionais. Vamos então à margem líquida de lucro. • Margem líquida de lucro LucroLíquido MLL = Receita Líquida Os valores do lucro líquido (R$ 199.500,00) e da receita líquida (R$ 1.070.000,00) podem ser encontrados na Tabela 12. R$ 199.500,00MLL = 0,1864ou18,64% R$1.070.000,00 = A margem líquida de lucro indica que, da receita líquida total, 18,64% transforma-se em lucro líquido ou no lucro depois de descontado os custos dos produtos vendidos, as despesas operacionais, os juros e o imposto de renda. Veremos agora o lucro por ação. • Lucro por ação Lucro líquido do exercício LPA= Númerode açõesda empresa Como você pode conferir no enunciado, a empresa Polis S/A possui 1.000.000 de ações. Assim, R$199.500,00 LPA= 0,1995, aproximandamente 0,20 1.000.000 = O LPA de R$ 0,1195, quearredondando temos R$ 0,20, representa o valor ganho por cada ação da empresa Polis S/A A seguir, vamos acompanhar o cálculo do índice preço/lucro. • Índice preço/lucro Preçode mercado por ação P/L= Lucro por ação www.esab.edu.br 65 Como você pode conferir no enunciado, o valor de mercado da ação da empresa Polis S/A é de R$ 11,45. Calculamos anteriormente o lucro por ação (LPA) e ele corresponde a R$ 0,20. Assim, R$11,45 P/L= R$57,25 R$0,20 = Esse resultado indica que os investidores estão pagando R$ 57,25 para cada R$ 1,00 de lucro. O valor patrimonial por ação será calculado a seguir. • Valor patrimonial por ação Patrimônio líquido Valor patrimonial por ação= Númerode açõesda empresa O valor do patrimônio líquido pode ser encontrado na Tabela 11, somando o capital social com os lucros acumulados (R$ 4.000.000,00 + R$ 1.341.500,00). Vimos no enunciado que o número de ações da empresa Polis S/A é 1.000.000. Então: R$5.341.500,00 Valor patrimonial por ação= R$5,34 1.000.000 = Com o valor patrimonial por ação, podemos calcular o índice de valor de mercado/valor patrimonial. • Índice de valor de mercado/valor patrimonial Preçode mercado por ação VM/VP= Valor patrimonial por ação Já sabemos que o preço de mercado por ação é de R$ 11,45 (conforme fornecido no enunciado) e que o valor patrimonial por ação é de $ 5,34. R$ 11,45VM/VP= 2,14 R$5,34 = www.esab.edu.br 66 Essa relação VM/VP significa que os investidores estão pagando R$ 2,14 por R$ 1,00 de valor patrimonial da empresa Polis S/A. Nesta unidade, você teve a oportunidade de conhecer a aplicação dos índices financeiros na empresa Polis S/A. O gestor financeiro irá comparar esses índices com o histórico da organização a fim de traçar tendências das finanças. Além disso, ele poderá comparar os resultados obtidos com os de outras empresas do mesmo setor, ou seja, seus concorrentes, com o objetivo de averiguar a sua posição no mercado. Na próxima unidade vamos iniciar nossos estudos acerca das finanças de curto prazo da empresa, ou seja, do capital de giro. Dica Os índices financeiros fornecem uma visão quantitativa em relação ao desempenho das empresas. Outras variáveis de cunho qualitativo também devem ser levadas em consideração para essa avaliação: satisfação dos funcionários, satisfação dos clientes e contribuição social, entre outros indicadores que não podem ser captados pelos índices financeiros. www.esab.edu.br 67 11 Administração do capital de giro Objetivo Compreender a Administração Financeira no curto prazo e o capital de giro. Depois de estudar os índices a fim de avaliar o desempenho financeiro de uma empresa, agora vamos adentrar em um dos principais temas da área das finanças: a administração do capital de giro. Especificadamente, a administração do capital de giro preocupa-se com as finanças de curto prazo ou com as finanças operacionais da empresa. Ou seja, vamos voltar a nossa atenção para os ativos e passivos circulantes que constam no Balanço Patrimonial. Para isso, vamos nos apoiar em Gitman (2010) e em Groppelli e Nikbakht (2010). Vamos lá? 11.1 Fundamentos da Administração Financeira de curto prazo A Administração Financeira de curto prazo nas organizações empresariais refere-se à administração do Ativo e do Passivo Circulante, também conhecido como capital de giro. O capital de giro está relacionado aos ativos circulantes do Balanço Patrimonial, no qual encontramos, basicamente, caixa, bancos, aplicações financeiras de curto prazo, contas a receber e estoques, bem como as dívidas que vencerão no prazo de um ano (Passivo Circulante). A gestão do capital de giro é uma das mais importantes área das finanças empresariais. Gitman (2010) indica que um terço do tempo do administrador financeiro é dedicado à gestão do Ativo Circulante e cerca de um quarto à gestão do Passivo Circulante. www.esab.edu.br 68 Pelo fato de o capital de giro gerar capacidade financeira de sustentação e crescimento dos negócios, uma gestão baseada em técnicas e controles internos eficientes torna-se essencial para dar suporte às decisões financeiras referentes a aspectos estratégicos e operacionais das empresas. O objetivo da Administração Financeira de curto prazo é gerenciar cada conta do Ativo Circulante (caixa, bancos, aplicações financeiras, contas a receber e estoques) e de seu Passivo Circulante (contas a pagar, empréstimos a pagar etc.) para, assim, atingir um equilíbrio financeiro entre rentabilidade e risco dos investimentos que aumentem o valor da empresa (GITMAN, 2010). Um dos principais tópicos a ser analisado nas finanças de curto prazo é o capital de giro líquido. Podemos entendê- lo como uma medida de eficiência do planejamento financeiro das empresas. Vamos ver? 11.2 Capital de giro líquido O Ativo Circulante, também chamado de capital de giro, representa os investimentos que circulam, de uma forma para outra, na condução normal dos negócios (GITMAN, 2010). Para Gitman (2010), esse conceito abrange a transição recorrente do caixa para os estoques, dos estoques para as contas a receber e de volta para o caixa. Já o Passivo Circulante, segundo Gitman (2010), representa o financiamento de curto prazo de uma empresa, uma vez que inclui todas as dívidas a pagar no prazo de um ano. Essas dívidas normalmente abrangem valores devidos a fornecedores (contas a pagar), funcionários e governo (despesas a pagar), além de bancos (empréstimos a pagar), entre outros. De acordo com Groppelli e Nikbakht (2010), capital de giro líquido é o montante de dinheiro que sobra após os passivos circulantes serem subtraídos dos ativos circulantes. www.esab.edu.br 69 Capital de giro líquido (CGL) = Ativos circulantes - Passivos circulantes Quando o Ativo Circulante supera o Passivo Circulante, a empresa tem capital de giro líquido positivo, como pode ser observado na Tabela 13. Tabela 13 – Capital de giro líquido positivo Balanço Patrimonial Ativos Passivos Ativo circulante R$ 100,000.00 Passivo circulante R$ 50,000.00 Ativos permanentes Ativo total R$ R$ 200,000.00 300,000.00 Patrimônio líquido Passivo total R$ R$ 250,000.00 300,000.00 Fonte: Elaborada pela autora (2013). Podemos perceber na Tabela 13 que o Ativo Circulante (R$ 100.000,00) é maior que o Passivo Circulante (R$ 50.000,00). Dessa forma, há uma sobra positiva da equação CGL=AC - PC. Quando o Ativo Circulante é menor que o Passivo Circulante, tem-se o capital de giro líquido negativo, como pode ser observado no Tabela 14. Tabela 14 – Capital de giro líquido negativo Balanço Patrimonial Ativos Passivos Ativo circulante R$ 50,000.00 Passivo circulante R$ 100,000.00 Ativos permanentes Ativo total R$ R$ 300,000.00 350,000.00 Patrimônio líquido Passivo total R$ R$ 250,000.00 350,000.00 Fonte: Elaborada pela autora (2013). Veja que na Tabela 14, o Ativo Circulante (R$ 50.000,00) é menor que o Passivo Circulante (R$ 100.000,00). Dessa forma, há uma sobra negativa da equação CGL=AC - PC. Finalmente, quando o Ativo Circulante é igual ao Passivo Circulante, tem-se o que se chama de capital circulante nulo. A Tabela 15 apresenta essa situação. www.esab.edu.br 70 Tabela 15 – Capital de giro líquido nulo Balanço Patrimonial Ativos Passivos Ativo circulante R$ 100,000.00 Passivo circulante R$ 100,000.00 Ativos permanentes Ativo total R$ R$ 250,000.00 350,000.00 Patrimônio líquido Passivo total R$ R$ 250,000.00 350,000.00 Fonte: Elaborada pela autora (2013). Na Tabela 15 o Ativo Circulante (R$ 100.000,00) é igual ao Passivo Circulante (R$ 100.000,00). Dessa forma, não há sobras na equação CGL=AC - PC. Por essa composição idêntica de investimentos e financiamentos de curtoprazo, a empresa não apresenta folga financeira. O capital de giro líquido pode ser entendido como uma margem de segurança para a empresa, isto é, descontando todas as dívidas, mostra a sobra ou folga financeira que a organização possui no Ativo Circulante. Assim, o capital de giro líquido pode também ser pensado como a parcela dos ativos circulantes que deve ser financiada por meio do passivo exigível a logo prazo ou do patrimônio líquido. O Quadro 6 mostra uma relação do financiamento do Ativo Circulante. Vamos ver? Balanço Patrimonial Passivo circulante Ativos Passível exigível a longo prazo + Patrimônio LíquidoAtivo realizável a longo prazo + Ativo Imobilizado Quadro 6 – Financiamento do Ativo Circulante. Fonte: Elaborado pela autora (2013). www.esab.edu.br 71 O Passivo Circulante financia a parte destacada do Ativo Circulante. Quem financia o capital de giro líquido (a parcela do Ativo Circulante em branco)? Esses recursos vêm do Passivo Exigível a Longo prazo ou do Patrimônio Líquido. Lembrando que financiamentos a longo prazo (passivo exigível a longo prazo e patrimônio líquido) geralmente são mais onerosos à organização e investimentos em ativos circulantes são menos rentáveis. Essa situação não otimiza os recursos financeiros. Em contrapartida, confere segurança à empresa para saldar os seus compromissos em dia. Segundo Gitman (2010), a conversão dos estoques para contas a receber e destas para o caixa, fornece os recursos para que se pague o Passivo Circulante. As saídas de caixa para pagamento do Passivo Circulante são relativamente previsíveis. Ao incorrer em uma obrigação, a empresa sabe quando será devido o pagamento correspondente. Mais difíceis de prever são as entradas de caixa (a conversão do Ativo Circulante em formas em caixa, pela venda do estoque, por exemplo). Quanto mais previsíveis as entradas de caixa, menor o capital de giro líquido necessário. Isso porque o capital de giro líquido, por representar uma sobra, depois de pagar todas as dívidas, também representa uma ociosidade dos recursos financeiros. Como a maioria das empresas é incapaz de conciliar com certeza as entradas e as saídas de caixa, costumam manter um Ativo Circulante mais do que suficiente para cobrir as saídas associadas ao Passivo Circulante. De modo geral, quanto maior a margem pela qual o Ativo Circulante supera o Passivo Circulante de uma empresa, maior a sua capacidade de pagar as contas. Porém, manter um Ativo Circulante maior que o Passivo Circulante também indica alto investimento em ativos circulantes que, como já mencionamos, são menos rentáveis. Nesta unidade, vimos alguns conceitos fundamentais na gestão do capital de giro. Na próxima unidade vamos continuar nossos estudos sobre as finanças de curto prazo, apresentando o ciclo de conversão de caixa de uma empresa. www.esab.edu.br 72 Estudo complementar Para saber mais sobre a gestão do capital de giro, acesse o artigo “Necessidade de capital de giro e nível de vendas”, de José Paulo Alves Fusco, na Revista de Administração de Empresas. Disponível clicando aqui. No link, clique em “pdf em português”. www.esab.edu.br 73 12 Ciclo de conversão de caixa Objetivo Descrever o ciclo de conversão de caixa, suas necessidades de financiamento e as principais estratégias para geri-lo. Na unidade 11 você estudou o capital de giro e as suas implicações na gestão financeira da empresa. Agora, vamos desdobrar um pouco mais as questões relacionadas ao tema, abordando o ciclo que o capital de giro percorre na organização, o que nos permitirá agir mais pontualmente nos problemas financeiros. O ciclo de conversão de caixa trabalha com as finanças operacionais da empresa, que têm como características a curta duração e a rápida conversão das suas contas em outras do mesmo grupo do Ativo Circulante. Por exemplo, ao realizar uma venda a prazo, a conta Estoque é convertida em Contas a Receber e, ao ter o recebimento efetivado, as Contas a Receber é convertido em Caixa. E, já que as contas que compõem o capital de giro não costumam apresentar sincronização em seus níveis de atividades (compras, produção, vendas, recebimentos e pagamentos), é importante um conhecimento integrado de seu desenvolvimento como forma de alocar mais adequadamente o investimento necessário em capital de giro e realizar o seu controle. Entender o ciclo de conversão de caixa de uma empresa é essencial para a Administração Financeira de curto prazo (GITMAN, 2010). Estudaremos esse assunto a partir de agora e, para isso, vamos utilizar Gitman (2010) e Gitman e Madura (2003). www.esab.edu.br 74 12.1 O Ciclo Operacional e Ciclo de Conversão de Caixa Para entendermos o ciclo de conversão de caixa, é essencial que, primeiro, identifiquemos o Ciclo Operacional de uma empresa. O Ciclo Operacional (CO) de uma empresa, segundo Gitman e Madura (2003), é o período de tempo desde o início do processo de produção até a data de recebimento do dinheiro da venda do produto acabado. O Ciclo Operacional abrange duas importantes categorias de ativos de curto prazo: estoques e contas a receber. É medido em tempo decorrido, somando-se o Período Médio de Estocagem (PME) – período médio de estoque de matérias-primas, produtos em processo e produtos acabados – e o Período Médio de Cobrança (PMC) – quanto tempo os clientes levam para efetuar o pagamento. CO = PME + PMC Entretanto, ainda de acordo com Gitman e Madura (2003), o processo de elaborar e vender um produto também inclui na conta a compra dos insumos de produção (matérias-primas), o que resulta em contas a pagar. As contas a pagar reduzem o número de dias em que os fundos de uma empresa estão parados no ciclo operacional. O tempo que a empresa leva para pagar uma conta, medido em dias, é o Período Médio de Pagamento (PMP). O Ciclo Operacional menos o período médio de pagamento é chamado de Ciclo de Caixa (CC) e representa o tempo que os fundos da empresa estão parados. A fórmula para o ciclo de caixa é: CC = CO - PMP A empresa Byte, fabricante de equipamentos eletrônicos, por exemplo, tem um Período Médio de Estocagem (PME) de 60 dias, um Período Médio de Cobrança (PMC) de 40 dias e um Período Médio de Pagamento (PMP) de 35 dias. Assim, o Ciclo de Conversão de Caixa (CC) da empresa Byte é de 65 dias. Acompanhe: www.esab.edu.br 75 CO = PME + PMC CO = 60 + 40 CO = 100 dias CC = CO - PMP CC = 100 - 35 CC = 65 dias A Figura 2 apresenta o ciclo de caixa da Byte como uma linha do tempo. Tempo = 0 100 diasCiclo Operacional (CO) Cobrança de contas a receber Venda de produtos acabados a prazo Período Médio de Estocagem (PME) 60 dias 40 dias Período Médio de Cobrança (PMC) Compra de matérias-primas a prazo Tempo Pagamento de contas a pagar Período médio de pagamento(PMP) 35 dias 65 dias Ciclo de Caixa (CC) Figura 2 – Linha do tempo para ciclo de caixa. Fonte: Gitman e Madura (2003, p. 401). Como você pode visualizar na Figura 2, o Ciclo de Caixa é um intervalo de tempo que compreende o ciclo operacional menos o período médio de pagamento de fornecedores. O Ciclo de Caixa de 65 dias corresponde a uma necessidade de financiamento da sua atividade operacional, uma vez que o desembolso acontece antes do recebimento. Dessa forma, a gestão financeira buscará diminuir ao máximo o Ciclo de Caixa da empresa, a fim de necessitar de menos fontes de financiamento para o seu negócio. Esse financiamento do Ciclo de Caixa será desenvolvido no próximo tópico. www.esab.edu.br 76 12.2 Necessidades de financiamento do ciclo de conversão de caixa De acordo com Gitman (2010), se as vendas de uma empresa forem constantes, o seu investimento em ativos operacionais também deverá ser constante e ela terá apenas necessidade de financiamentopermanente. Se as vendas forem cíclicas, o investimento em ativos operacionais variará ao longo do tempo conforme os ciclos de vendas e a empresa terá necessidade de financiamento sazonal, além do financiamento permanente necessário para um investimento mínimo em ativos operacionais. Segundo Gitman (2010), os fundos de curto prazo costumam ser mais baratos do que os de longo prazo. Entretanto, os de longo prazo permitem que a empresa “congele” o custo dos fundos por um determinado tempo e, dessa forma, evite o risco de aumento de juros. Além disso, o financiamento de longo prazo garante a disponibilidade de fundos no momento em que a empresa necessita, enquanto o de curto prazo a expõe ao risco de não obter os fundos necessários para cobrir seus picos sazonais. Dessa forma, quanto maior for a participação de financiamentos de curto prazo, mais agressiva é a estratégia de financiamento da empresa (custo menor, porém, com maior risco); e, quanto maior for a participação de financiamentos de longo prazo, mais conservadora é a estratégia de financiamento da empresa (custo maior, porém, com menor risco). No entanto, para ter menores necessidades de financiamento, algumas estratégias financeiras serão descritas a seguir. www.esab.edu.br 77 12.3 Estratégias de gestão do ciclo de conversão de caixa Um ciclo de caixa positivo, como vimos para a empresa Byte no exemplo anterior, significa que a empresa deve usar obrigações negociáveis (como empréstimos bancários) para financiar os seus ativos operacionais. Isso porque o desembolso das matérias-primas acontece antes do recebimento pelos produtos. As obrigações negociáveis têm um custo explícito (como os juros), de modo que a organização se beneficia ao minimizar seu uso para financiar seus ativos operacionais. Minimizar as obrigações com custos pode ser concretizado, segundo Gitman e Madura (2003), por meio da aplicação das seguintes estratégias: • girar o estoque o mais rápido possível, sem gerar falta de estoque que resulte em perda das vendas – isso significa que o período médio de estocagem deve ser o mínimo. Um bom planejamento de compras de matérias-primas e programação da produção auxiliam nesse processo; • cobrar as contas a receber o mais rápido possível, sem perder vendas com técnicas de cobranças que apelem muito para a pressão aos clientes. Planejar a política de crédito da empresa de acordo com suas necessidades e com o perfil dos seus clientes é uma boa estratégia; • gerenciar o tempo de correio, de processamento e de compensação de cheques para reduzi-los ao cobrar os clientes e aumentá-los ao pagar os fornecedores; e • protelar ao máximo o pagamento das contas, sem prejudicar a situação de crédito da empresa. Ter um bom relacionamento com os fornecedores para aumentar o período médio de pagamento, é interessante para a administração. Conforme você estudou nesta unidade, o ciclo de conversão de caixa é um tema central nos problemas relacionados ao capital de giro da empresa. Questões como a sincronização de entradas e saídas de caixa, políticas de crédito e planejamento de compra e armazenamento de estoques são essenciais nos estudos das finanças de curto prazo. Na próxima unidade resolveremos um problema relacionando o ciclo de conversão de caixa e a utilização de estratégias para resolução dos problemas. www.esab.edu.br 78 Resumo Na unidade 7 você teve a oportunidade de iniciar seus estudos referentes aos índices financeiros na empresa para acompanhamento do desempenho da atividade. Os índices de liquidez medem a capacidade que a empresa tem de saldar suas dívidas de curto prazo. Já o índice de endividamento indica o percentual, dos ativos totais, que é financiado por capital de terceiros (dívidas). Na unidade 8 conhecemos os indicadores de rentabilidade e margem de lucro. Os primeiros verificam, em termos percentuais, os retornos obtidos a partir de investimentos realizados, seja o investimento total da empresa ou somente o investimento realizado pelos proprietários. A margem de lucro é uma medida de eficiência dos gastos que a empresa tem, ou seja, verifica a capacidade da empresa em transformar sua receita em lucro. Ainda relacionado a indicadores, na unidade 9 estudamos indicadores de mercado, como o índice preço/lucro –que é usado para avaliar a maneira como os proprietários enxergam o preço da ação – e o índice de valor de mercado/valor patrimonial – que fornece uma avaliação de como os investidores encaram o desempenho da empresa, relacionando o valor das ações da organização ao seu valor patrimonial. Todos os conceitos foram aplicados e analisados em um exemplo da unidade 10. Depois de conhecer a avaliação da empresa por meio de índices, iniciamos nossos estudos das finanças de curto prazo na unidade 11, com o tema do capital de giro. Identificamos que o objetivo da Administração Financeira de curto prazo é gerenciar cada elemento do ativo e do Passivo Circulante, para atingir um equilíbrio financeiro entre rentabilidade e risco que contribua positivamente para o valor da empresa. Por fim, estudamos na unidade 12 o ciclo de conversão de caixa e aprendemos que a Administração Financeira objetiva diminuir ao máximo esse ciclo, uma vez que ele representa uma necessidade de financiamento em capital de giro. www.esab.edu.br 79 13 Problema resolvido Objetivo Resolver um problema a fim de contextualizar os conceitos apresentados. Na unidade 12 estudamos conceitos relacionados ao caixa das empresas; nesta unidade, vamos aprender a calcular o Ciclo de Conversão de Caixa, bem como as implicações em relação aos custos desse ciclo e estratégias para reduzi-lo. Para isso, vamos acompanhar o caso da empresa Café do Brasil S/A. Os fundamentos dos cálculos terão o apoio teórico de Gitman (2010) e Gitman e Madura (2003). Vamos lá? 13.1 Contextualizar uma organização e seus dados de caixa Conforme estudamos nas unidades anteriores, analisar o capital de giro das empresas e, consequentemente, o Ciclo de Conversão de Caixa, é uma das atividades mais importantes envolvendo as finanças. Para a análise do Ciclo de Conversão de Caixa precisamos conhecer o processo produtivo e operacional das empresas. Vamos supor que a empresa Café do Brasil S/A fabrica e vende dois produtos aos seus clientes espalhados por todo o território nacional: latas de café e latas de cappuccino. A empresa utiliza como matéria-prima na fabricação dos seus produtos: • café (grãos de café, açúcar e embalagem); e • cappuccino (café em grão, açúcar, leite em pó e embalagem). As matérias-primas permanecem estocadas na empresa por um período médio de 10 dias até que entrem no processo produtivo. O processo produtivo do café e do cappuccino é artesanal e a fabricação ocorre em 20 dias. www.esab.edu.br 80 Quando os produtos estão prontos, eles são despachados para uma central distribuidora em um período médio de dois dias. Da central distribuidora, a empresa leva mais três dias para entregá-los nos supermercados para a venda. Analisando os estoques dos supermercados, a empresa Café do Brasil S.A. estima que o café e o cappuccino levam, em períodos médios, cerca de cinco dias para serem vendidos. O prazo de cobrança dos produtos vendidos apresenta o seguinte comportamento: 50% são vendas à vista e 50% em 30 dias, acarretando um período médio de recebimento de 15 dias. Os fornecedores das matérias-primas concedem à empresa Café do Brasil S/A um prazo para pagamento de 25 dias. Para que todo o processo aconteça (desde a compra da matéria-prima até o recebimento dos produtos vendidos), a empresa precisa de um investimento de R$ 1.000.000,00 em capital de giro. Fontes externas de financiamento de capital de giro custam, para a empresa Café do Brasil S.A., 3% ao mês. Com essas informações, vamos calcularo ciclo de conversão de caixa e suas necessidades de financiamento. 13.2 Calcular o ciclo de conversão em caixa e suas necessidades de financiamento Antes de calcular o ciclo de conversão de caixa, é importante analisarmos o ciclo operacional da empresa Café do Brasil S/A. Vale lembrar que o ciclo operacional da empresa é o período de tempo desde a compra da matéria-prima até o recebimento pelos produtos vendidos. O ciclo operacional da empresa Café do Brasil S/A está representado na Figura 3. www.esab.edu.br 81 Co m pr a d as m at ér ias -p rim as In íci o d a f ab ric aç ão Fin al da fa br ica çã o Re ce bim en to PMF ou PME (pp) PMC 10 dias 20 dias 15 dias Ciclo operacional = 55 dias 10 dias PMV ou PME (pa)PME (mp) Figura 3 – Ciclo operacional da empresa Café do Brasil S/A. Fonte: Elaborada pela autora (2013). Como você pode observar, o ciclo operacional inicia-se com a compra das matérias-primas. Essas matérias-primas ficam estocadas na empresa por 10 dias, o que é representado pelo Período Médio de Estoques de matérias- primas – PME(mp). Após esse período, inicia-se a fabricação dos produtos e esse processo leva 20 dias para ser concluído, representando o Período Médio de Fabricação – PMF (ou também chamado de Período Médio de Estoques de produtos em processo). Ao final da fabricação, inicia-se o Período Médio de Vendas – PMV – que, na empresa Café do Brasil S/A, tem duração de 10 dias (incluindo os dois dias para levar até a distribuidora, mais três dias para levar aos supermercados, mais cinco dias para serem vendidos). O Período Médio de Vendas também é conhecido como Período Médio de Estoques de produtos acabados. Ao serem vendidos, a empresa demora em média 15 dias para o recebimento dos produtos, completando assim o seu Ciclo Operacional. www.esab.edu.br 82 A soma de todos os períodos resulta no tempo do Ciclo Operacional da empresa, ou seja: CO = PME + PMC Em que: CO = Ciclo Operacional PME = Período Médio de Estocagem. No caso da empresa Café do Brasil S/A, inclui PME(mp) + PME(pp) + PME(pa) PMC = Período Médio de Cobrança Dessa forma: CO = 10 + 20 + 10 + 15 CO = 55 dias Agora, vamos juntar outra informação a essa análise: o Prazo Médio de Pagamento dos Fornecedores. Esse prazo serve para calcularmos o ciclo de conversão de caixa. Vamos ver como fica no gráfico? www.esab.edu.br 83 Co m pr a d as m at ér ias -p rim as In íci o d a f ab ric aç ão Fin al da fa br ica çã o Re ce bim en to PMF ou PME (pp) PMC 10 dias 20 dias 15 dias Ciclo Operacional = 55 dias 25 dias PMP Ciclo de Caixa 30 dias 10 dias PMV ou PME (pa)PME (mp) Figura 4 – Ciclo de conversão de caixa. Fonte: Elaborada pela autora (2013). Como você pode observar na Figura 4, o Período Médio de Pagamento (PMP) é de 25 dias. Ou seja, em 25 dias, a empresa precisa desembolsar o pagamento para o fornecedor. Porém, ela receberá dos seus clientes somente no final do ciclo operacional. Isso significa que ela tem um Ciclo de Conversão de Caixa ou, simplesmente, um Ciclo de Caixa (CC) de 30 dias. Veja: CC = CO - PMP CC = 55 dias – 25 dias = 30 dias O Ciclo de Caixa representa o tempo que a empresa necessitará de financiamentos para o seu capital de giro. Se a empresa Café do Brasil S/A precisa de um financiamento de R$ 1.000.000,00 ao custo de 3% a.m., significa dizer que ela pagará juros de R$ 30.000,00 ao final do período (R$ 1.000.000,00 × R$ 30.000,00). No próximo tópico vamos apontar algumas alternativas para a empresa Café do Brasil S/A diminuir o seu Ciclo de Caixa, a fim de evitar necessidades de fontes de financiamentos externas que geram juros para a empresa. www.esab.edu.br 84 13.3 Apontar estratégias para a gestão do ciclo Você pôde perceber que, quanto maior for o Ciclo de Caixa da empresa Café do Brasil S/A, mais juros ela pagará pelas fontes de financiamentos externas. Dessa forma, o nosso objetivo é diminuir o máximo possível o Ciclo de Caixa. Como podemos fazer isso? Gitman (2010) e Gitman e Madura (2003) sugerem a diminuição dos períodos médios que compõem o Ciclo Operacional (Período Médio de Estoque e Período Médio de Recebimento) da empresa ou o aumento do Período Médio de Pagamento aos fornecedores. Alguns exemplos podem ser citados: • a empresa Café do Brasil S/A poderia planejar melhor as suas compras, para que as matérias-primas não ficassem tanto tempo estocadas na empresa; • investimentos em tecnologias da produção diminuem o período de fabricação; • a logística de distribuição dos produtos poderia ser revista, com distribuidoras mais próximas dos supermercados ou se utilizando de outros meios de transporte; • a empresa poderia estimular promoções nos supermercados, para que o estoque girasse mais rápido; e • poderia haver negociações com os fornecedores para esticar o prazo de pagamento. Todas essas ações contribuem para a diminuição do Ciclo de Conversão de Caixa da empresa e, consequentemente, para a diminuição das necessidades de financiamento em capital de giro que geram juros à organização. Nesta unidade, tivemos a oportunidade de acompanhar um caso de uma empresa e a aplicação do Ciclo de Conversão de Caixa, percebendo os custos que esse ciclo pode acarretar. Na unidade 14 vamos desdobrar o Período Médio de Cobrança através da política de crédito das empresas. www.esab.edu.br 85 14 Administração de contas a receber Objetivo Explicar o processo de seleção de crédito e o procedimento quantitativo na sua avaliação. Nas unidades anteriores estudamos aspectos gerais do capital de giro, bem como do ciclo operacional e de caixa. Agora vamos focar em um item do capital de giro muito importante nas finanças empresariais: o Contas a Receber. O Contas a Receber reflete a política de crédito de uma empresa e seus parâmetros em termos de vendas a prazo. No ciclo operacional, ela representa o Período Médio de Cobrança, ou seja, o volume e o prazo que os clientes dispõem para efetuarem o pagamento. Para discutirmos tal tema, vamos nos embasar nas ideias de Groppelli e Nikbakht (2010) e Gitman e Madura (2003). Groppelli e Nikbakht (2010, p. 337) afirmam que o [...] volume de contas a receber é, basicamente, determinado pelos padrões de crédito da companhia. Se esses padrões forem rigorosos, muitos poucos clientes estarão qualificados ao crédito, as vendas irão declinar e, como resultado, as contas a receber diminuirão. Por outro lado, se os padrões de crédito forem mais flexíveis, a empresa atrairá mais clientes, as vendas crescerão, e haverá mais contas a receber. Dessa forma, concluímos que flexibilizar a política de crédito para aumentar o Contas a Receber tem vantagens e desvantagens. As vantagens são os aumentos nas vendas e, consequentemente, um aumento nos lucros, além da maior participação de mercado e clientes mais satisfeitos. As desvantagens são representadas por inúmeros custos que a política de crédito gera: a análise do crédito dos potenciais clientes, custos com instrumentos de cobranças, o aumento da probabilidade de contas incobráveis e custo do financiamento do Contas a Receber. www.esab.edu.br 86 Para Groppelli e Nikbakht (2010), o Contas a Receber é como se fossem empréstimos sem juros aos clientes, uma vez que a empresa paga as despesas de juros enquanto seu capital está parado no Contas a Receber. Dessa forma, a organização deve ter uma política de acompanhamento dos padrões de crédito para assegurar a sua saúde financeira. A seguir vamos estudar um pouco mais sobre essa política, começando com a seleção de crédito. 14.1 Seleção de crédito A política de crédito de uma empresa fixa os parâmetrosem relação às vendas a prazo, identificadas no Contas a Receber. Um dos principais itens dessa política diz respeito à seleção de quais clientes devem receber o crédito. Uma técnica usada para seleção de crédito é a dos cinco Cs do crédito, conforme Gitman e Madura (2003, p. 408): 1. Caráter: o registro do solicitante em satisfazer às obrigações anteriores. 2. Capacidade: a capacidade do solicitante de pagar o crédito solicitado, julgada em termos da análise da demonstração financeira concentrada nos fluxos de caixa disponíveis para pagamentos de obrigações. 3. Capital: a dívida do solicitante em relação ao patrimônio líquido. 4. Colateral (garantia): o montante de ativos que o solicitante tem disponíveis para usar como garantia ao crédito. 5. Condições: condições econômicas atuais, gerais e específicas ao setor e quaisquer condições exclusivas envolvendo uma transação mais específica. Analisar os cinco Cs de cada solicitante de crédito ajuda a empresa selecionar os clientes que apresentam maior probabilidade de pagamento da dívida adquirida dentro das condições concedidas. Com base nos cinco Cs do crédito, a empresa tem condições de classificar os seus clientes, concedendo ou não o crédito. www.esab.edu.br 87 14.2 Termos de crédito Uma vez selecionado o cliente, a política de crédito da empresa deve conter os temos de crédito que, segundo Gitman e Madura (2003), representam as condições da venda. Os termos de crédito incluem basicamente o limite que o cliente recebeu de crédito e o prazo que terá para efetuar o pagamento. É comum também as empresas oferecerem descontos para pagamento à vista, que são deduções do preço pelo pagamento antecipado (GITMAN; MADURA, 2003). Os termos de crédito de uma empresa são influenciados pelo tipo de negócio. Para Gitman e Madura (2003), uma organização que vende itens perecíveis terá termos de crédito mais curtos, porque seus itens têm pouco valor de garantia em longo prazo; ou, ainda, uma empresa que tenha um negócio sazonal pode adaptar seus termos para atender aos ciclos do setor. Lembre-se: se os termos de crédito de uma empresa forem mais restritivos que as de seus concorrentes, ela perderá vendas; se os termos forem menos restritivos que os dos concorrentes, ela atrairá clientes que provavelmente não poderiam pagar de acordo com os padrões de crédito do setor (GITMAN; MADURA, 2003). Ao fixar a política de crédito, é sempre importante um monitoramento a fim de verificar se os clientes estão pagando de acordo com os termos estabelecidos. Essa avaliação do crédito é o que veremos no próximo tópico. www.esab.edu.br 88 14.3 Avaliação do crédito A política de crédito de uma empresa é elaborada com dois principais objetivos: aumento nas vendas (e consequente aumento nos lucros) e diminuição da inadimplência (falta de pagamento por parte dos compradores). A avaliação do crédito leva em consideração um monitoramento do Contas a Receber “[...] para determinar se os clientes estão pagando de acordo com as condições de crédito estabelecidas” (GITMAN; MADURA, 2003, p. 414). Se eles estiverem com os pagamentos atrasados, a monitoração do crédito alertará a empresa dessas condições. Duas técnicas utilizadas para monitorar o Contas a Receber são o Período Médio de Cobrança e a Organização Cronológica do Contas a Receber. Vamos ver? Período Médio de Recebimento O Período Médio de Recebimento (PMR) é um dos períodos que compõem o Ciclo Operacional e, consequentemente, o Ciclo de Conversão de Caixa, conforme visto na unidade 12. Ele representa o número médio de dias em que o cliente efetiva o pagamento, podendo ser calculado da seguinte forma: Saldo Médio em Contas a ReceberPeríodo Médio de Recebimento = período Vendas × Por exemplo, consultando o Balanço Patrimonial de uma empresa, constatamos que ela mantém, em média, R$ 20.000,00 no Contas a Receber durante um ano. Suas vendas anuais somam o montante de R$ 100.000,00, ou seja: R$ 20.000,00Período Médio de Recebimento = 360dias 72dias R$ 100.000,00 × = Assim, o período médio no qual os clientes estão pagando é de 72 dias. A empresa deve acompanhar esse prazo com o período estipulado na sua política de crédito para verificar se há atrasos no pagamento. www.esab.edu.br 89 Organização Cronológica do Contas a Receber A Organização Cronológica do Contas a Receber exige que as contas a receber da empresa estejam divididas em grupos, com base na data de origem e vencimento das dívidas. Segundo Gitman e Madura (2003, p. 415), “[...] o resultado é uma programação que indica as porcentagens do saldo total das contas a receber que estão em processo em períodos específicos de tempo”. Ou seja, apresenta uma ordenação cronológica dos recebimentos que estão por vencer. Essa organização do Contas a Receber auxilia na visualização dos clientes que estão dentro do prazo de pagamento e dos que estão atrasados ou se tornaram inadimplentes. Nesta unidade, vimos os parâmetros para elaborar uma política de crédito. Antes da decisão de reduzir os padrões de crédito, deve-se comparar o custo de contas a receber adicionais e os benefícios pelo aumento das vendas. Se o resultado dessa análise de custo/benefício for um lucro líquido, a empresa deve relaxar os padrões de crédito, segundo Groppelli e Nikbakht (2010). Na próxima unidade vamos analisar um caso de política de crédito envolvendo as vantagens e desvantagens da concessão de crédito a fim de analisar o incremento nos ganhos. Saiba mais A inadimplência é a principal preocupação da política de crédito das empresas. Para saber mais sobre o assunto, assista ao vídeo “Sebrae – SP – Direto ao Ponto – Versão Completa – Inadimplência” clicando aqui. www.esab.edu.br 90 15 Problema resolvido Objetivo Resolver um problema a fim de contextualizar os conceitos apresentados. Como você estudou na unidade 14, a política de crédito determina os parâmetros de uma empresa em termos de vendas a prazo. Uma das estratégias utilizadas pelas organizações com o objetivo de aumentar o volume de vendas é esticar o prazo de pagamento para os seus clientes. Porém, conforme apontam Gitman e Madura (2003), alguns custos são incorridos em função da política de crédito da empresa. Alguns exemplos desses custos são: • custo da análise de crédito: está relacionado ao gasto da empresa em analisar o perfil do solicitante de crédito, a sua capacidade de pagamento e o seu histórico de pagamento em bancos de dados de crédito; • custo com devedores duvidosos: diz respeito à falta de pagamento de alguns compradores; • custo com instrumentos de cobrança: está relacionado aos instrumentos que a empresa fornece aos clientes para o pagamento da dívida; • custo com cobrança: o custo com cobrança refere-se ao gasto da empresa para cobrar os clientes inadimplentes; • custo do financiamento do Contas a Receber: quanto maior for o crédito concedido pela empresa, maior será seu investimento em Contas a Receber ou o Saldo Médio em Contas a Receber (SMCR); dessa forma, um aumento no investimento requer uma fonte de financiamento correspondente. www.esab.edu.br 91 O Saldo Médio em Contas a Receber é o montante de recursos, em média, que a empresa investe no Contas a Receber. Para encontrar o SMCR, basta dividir o total de vendas pelo período que estamos analisando (se for um ano, divide-se por 360 dias, por exemplo) e multiplica-se pelo Período Médio de Recebimento (PMR), conforme a fórmula a seguir: Total de vendasSMCR = PMR Período de análise (em dias) × O resultado do SMCR mostra o montante de recursos investidos em Contas a Receber. É importante verificar o custo/benefício de uma política de crédito a fim de analisar qual incremento no lucro que ela provoca. Nesta unidade, vamos observaro caso da empresa Doce Lar e iniciaremos apresentando os dados da organização quanto à sua política de crédito. Acompanhe! 15.1 Apresentar os dados de uma empresa quanto à sua política de crédito A empresa Doce Lar comercializa artigos de luxo para decoração de casas e, atualmente, apresenta vendas no valor de R$ 1.800.000,00 anuais. Os custos de fabricação e venda dos produtos consomem 70% do total de vendas. A empresa Doce Lar oferece aos seus clientes um prazo de pagamento de 90 dias. Alguns custos são contabilizados em função da política de crédito da organização: • custo da análise de crédito: 2% das vendas; • custo com devedores duvidosos: 5% das vendas; • custo com instrumentos de cobrança: 1% das vendas; • custo com cobrança: 3% das vendas; • custo do financiamento do Contas a Receber: 7% do Saldo Médio Investido em Contas a Receber. A fim de aumentar as vendas, a empresa Doce Lar buscará, no crédito, uma vantagem competitiva no mercado. Isso significa que ela irá afrouxar a sua política de crédito, concedendo mais prazo para o pagamento. Vamos simular alguns cenários dessas novas políticas? www.esab.edu.br 92 15.2 Simular cenários de política de crédito Vamos apresentar outro cenário para a política de crédito da empresa Doce Lar. Política de crédito proposta: na política de crédito proposta, a empresa Doce Lar daria 180 dias para o pagamento e suas vendas aumentariam para R$ 2.000.000,00. Os custos de fabricação e venda dos produtos consomem 70% do total de vendas. Os custos dessa política de crédito seriam: • custo da análise de crédito: 2% das vendas; • custo com devedores duvidosos: 7% das vendas. Esse custo aumenta em função do afrouxamento da política; • custo com instrumentos de cobrança: 1% das vendas; • custo com cobrança: 5% das vendas. Esse custo aumenta em função do afrouxamento da política; • custo do financiamento do Contas a Receber: 7% do Saldo Médio Investido em Contas a Receber. Com o cenário de política de crédito da empresa Doce Lar estipulado, vamos calcular o incremento no lucro que a política atual e a proposta geram? 15.3 Avaliar as alternativas apresentadas Agora que já temos uma alternativa para a política de crédito da empresa Doce Lar, vamos calcular os custos para saber qual delas incrementa mais os lucros da organização. Você pode comparar os valores observando o Quadro 7 de análise da política de crédito. www.esab.edu.br 93 Quadro de análise da política de crédito Atual Proposta 1. Vendas anuais R$ 1.800.000,00 R$ 2.000.000,00 2. Custos de fabricação e venda R$ 1.260.000,00 R$ 1.400.000,00 3. Margem de lucro (1 – 2) R$ 540.000,00 R$ 600.000,00 4. Período Médio de Recebimento 90 180 5. Saldo Médio em Contas a Receber R$ 450.000,00 R$ 1.000.000,00 6. Custo da análise do crédito R$ 36.000,00 R$ 40.000,00 7. Custo com devedores duvidosos R$ 90.000,00 R$ 140.000,00 8. Custo com instrumentos de cobrança R$ 18.000,00 R$ 20.000,00 9. Custo com cobrança R$ 54.000,00 R$ 100.000,00 10. Custo do financiamento em contas a receber R$ 31.500,00 R$ 70.000,00 11. Total dos custos da política de crédito (6 +7 +8 +9 +10) R$ 229.500,00 R$ 370.000,00 12. Incremento no lucro (3 – 11) R$ 310.500,00 R$ 230.000,00 Quadro 7 – Quadro de análise da política de crédito da empresa Doce Lar. Fonte: Elaborado pelo autora (2013). Vamos identificar todos os valores da Política Atual (PA) e da Política Proposta (PP): 1. Vendas anuais: total de vendas realizadas pela empresa durante 1 ano (na teoria financeira, um ano corresponde a 360 dias). Vendas anuais (PA) = R$ 1.800.000,00 Vendas anuais (PP) = R$ 2.000.000,00 2. Custos de fabricação e venda: esses custos não estão relacionados à política de crédito da empresa, ou seja, independentemente do prazo de pagamento, a empresa Doce Lar gasta 70% do valor com matérias- primas, mão de obra, gastos com vendas etc. Custos fabr. e venda (PA) = R$ 1.800.000,00 x 0,07 = R$ 126.000,00 Custos fabr. e venda (PP) = R$ 2.000.000,00 x 0,07 = R$ 140.000,00 www.esab.edu.br 94 3. Margem de Lucro = Total de vendas – Custos de fabricação e venda. Dessa forma, Margem de lucro (PA) = R$ 1.800.000,00 – R$ 1.260.000,00 = R$ 540.000,00 Margem de lucro (PP) = R$ 2.000.000,00 – R$ 1.400.000,00 = R$ 600.000,00 4. Período Médio de Recebimento = na política atual há 90 dias para pagamento e na política proposta, 180 dias. 5. Saldo Médio em Contas a Receber (SMCR) = R$ 1.800.000,00SMCR (PA)= 90 dias = R$ 450.000,00 360 dias R$ 2.000.000,00SMCR (PP)= 180 dias = R$ 1.000.000,00 360 dias × × 6. Custo com análise do crédito = 2% do total das vendas. Custo com análise do crédito (PA) = R$ 1.800.000,00 x 0,02 = R$ 36.000,00 Custo com análise do crédito (PP) = R$ 2.000.000,00 x 0,02 = R$ 40.000,00 7. Custo com devedores duvidosos = para a política atual é de 5% e para a política proposta, de 7% (afrouxar a política de crédito aumenta a inadimplência). Custo com devedores duvidosos (PA) = R$ 1.800.000,00x0,05 = R$ 90.000,00 Custo com devedores duvidosos (PP) = R$ 2.000.000,00 x 0,07 = R$ 140.000,00 www.esab.edu.br 95 8. Custo com instrumento de cobrança = 1% do total das vendas. Custo com instrumento de cobrança (PA) = R$ 1.800.000,00 x 0,01 = R$ 18.000,00 Custo com instrumento de cobrança (PP) = R$ 2.000.000,00 x 0,01 = R$ 20.000,00 9. Custo com cobrança = para a política atual é de 3% e para a política proposta, de 5% (afrouxar a política de crédito aumenta os custos com cobrança). Custo com cobrança (PA) = R$ 1.800.000,00 x 0,03 = R$ 54.000,00 Custo com cobrança (PP) = R$ 2.000.000,00 x 0,05 = R$ 100.000,00 10. Custo do financiamento do Contas a Receber = 7% do Saldo Médio em Contas a Receber Custo do financiamento (PA) = R$ 450.000,00 x 0,07 = R$ 31.500,00 Custo do financiamento (PP) = R$ 1.000.000,00 x 0,07 = R$ 70.000,00 11. Total de custos da política de crédito = Custo da análise do crédito + Custo com devedores duvidosos + Custo com instrumentos de cobrança + Custo com cobrança + Custo do financiamento em contas a receber. Total de custos (PA) = R$ 36.000,00 + R$ 90.000,00 + R$ 18.000,00 + R$ 54.000,00 + R$ 31.500,00 = R$ 229.500,00. Total de custos (PP) = R$ 40.000,00 + R$ 140.000,00 + R$ 20.000,00 + R$ 100.000,00 + R$ 70.000,00 = R$ 370.000,00. www.esab.edu.br 96 12. Incremento no Lucro = Margem de Lucro – Total de custos da política de crédito. Incremento no lucro (PA) = R$ 540.000,00 – R$ 229.500,00 = R$ 310.500,00 Incremento no lucro (PP) = R$ 600.000,00 – R$ 370.000,00 = R$ 230.000,00 Como podemos observar, apesar do aumento do volume de vendas, a política de crédito proposta não supera o incremento no lucro da política atual em função dos custos que gera. Nesta unidade, analisamos o caso da empresa Doce Lar em relação à sua política de crédito e calculamos os custos dessa política. Uma política de crédito ideal é aquela que gera o maior incremento dos lucros da empresa. Depois de ter estudado o Contas a Receber, na unidade 16 vamos estudar outra importante conta do capital de giro: os Estoques. www.esab.edu.br 97 16 Administração de estoques Objetivo Discutir a administração de estoques na ótica financeira. O estudo do capital de giro envolve contas como o Caixa, o Contas a Receber e os Estoques. Nas unidades anteriores estudamos o Contas a Receber e a política de crédito da empresa. Nesta unidade, vamos estudar a conta com menor liquidez do capital de giro: os Estoques. Para tanto, vamos utilizar Groppelli e Nikbakht (2010) e Gitman (2010). 16.1 Objetivo da gestão do estoque Segundo Groppelli e Nikbakht (2010, p. 339), o objetivo da administração de estoques “[...] é determinar e manter um nível de estoque que assegure o atendimento pontual dos pedidos dosclientes em quantidade satisfatória”. Basicamente há três tipos de estoques nas empresas: estoques de matérias-primas, estoques de produtos em processo e estoques de produtos acabados. Conforme estudamos na unidade 12, os Períodos Médios de Estoques são responsáveis por três períodos do Ciclo Operacional de uma empresa: Período Médio de Estoques de Matérias- primas, Período Médio de Estoques de Produtos em Processo e Período Médio de Estoque de Produtos Acabados. Dessa forma, o tempo do ciclo operacional é bastante influenciado pelos estoques da empresa. Groppelli e Nikbakht (2010) ainda afirmam que é oneroso para uma empresa manter níveis elevados de estoque, principalmente porque imobiliza um dinheiro que não rende juros, ou seja, o investimento fica “parado” em estoques até que os materiais sejam transformados e vendidos. www.esab.edu.br 98 Em outras palavras, o custo do estoque impede o aproveitamento de outras oportunidades lucrativas. Se houver uma oportunidade de obter 15% de lucro sobre o investimento, a manutenção de um nível de estoque de $ 10.000 custa $ 1.500 anualmente. Visto de outro ângulo, a empresa obteria um lucro de $ 1.500 se pudesse investir $ 10.000, em vez de usá-lo na compra de estoques. O entendimento desse conceito é fundamental na solução de problemas na área de administração de estoques. (GROPPELLI; NIKBAKHT, 2010, p. 339) O volume de estoques só deve ser aumentado se os benefícios gerados forem maiores do que os custos para se manter estoques adicionais. A administração de estoque apresenta algumas ferramentas utilizadas na gestão da empresa, que têm como objetivo principal manter níveis adequados dessa conta: um nível baixo pode acarretar no interrompimento da produção ou na perda de vendas; um nível muito alto acarreta custos de manutenção, perdas de estoques (principalmente quando se trata de produtos perecíveis) e custo de oportunidade do investimento parado. Aqui vamos estudar duas dessas ferramentas para controlar os níveis adequados do estoque: o Sistema ABC e o Lote Econômico de Compra. 16.2 Sistema ABC De acordo com Gitman (2010, p. 553), as empresas que utilizam o sistema ABC de estoques classificam seu estoque em três grupos: A, B e C. O grupo A compreende os itens do estoque que exigem maior investimento monetário; normalmente, compreende 20% dos itens mantidos em estoque, mas requer 80% do investimento. O grupo B inclui os itens que respondem pelo segundo maior investimento do estoque. Já o grupo C consiste em grande número de itens que exigem um investimento relativamente pequeno. Esse sistema de classificação é utilizado para monitorar o nível de cada um dos grupos de estoque. Segundo Gitman (2010), os estoques pertencentes ao grupo A costumam ser monitorados com maior intensidade devido ao elevado investimento monetário. “Normalmente, esses itens são acompanhados por meio de um sistema de estoque www.esab.edu.br 99 permanente que permite verificação diária do nível de cada um deles” (GITMAN, 2010, p. 553). Os itens de estoque do grupo B são controlados por meio de verificações periódicas de seus níveis, podendo ser semanais ou até mensais. Já os do grupo C, [...] esses são monitorados com técnicas rudimentares, como o método das duas gavetas, segundo o qual o item é estocado em suas gavetas: quando há necessidade dele, utiliza-se o estoque da primeira gaveta; quando ele esvazia, é feito um pedido para reabastecê-lo enquanto o estoque passa a ser retirado da segunda gaveta que é usada até se esvaziar, e assim por diante. (GITMAN, 2010, p. 553) O alto investimento feito nos estoques do grupo A e B sugere a necessidade de um método de administração mais sofisticado. O modelo do Lote Econômico de Compra, discutido a seguir, é apropriado para a gestão desses itens. 16.3 Lote Econômico de Compra e o Estoque de Segurança Umas das técnicas utilizadas na administração de estoques que requerem maior monitoramento é o modelo do Lote Econômico de Compra (LEC). Segundo Gitman (2010), esse modelo considera diversos custos para determinar qual o volume de pedido que minimiza o custo total do estoque. O LEC supõe que os custos podem ser divididos em custos de pedido e custos de manutenção dos estoques. Cada um tem determinados componentes e características: Os custos de pedido [...] incluem os custos administrativos fixos de colocação e recebimento de pedidos: o custo de preenchimento de uma ordem de compra, de processamento da documentação resultantes, de recebimento de um pedido e de sua conferência com a fatura. Eles são estabelecidos em valores monetários por pedido. (GITMAN, 2010, p. 553) www.esab.edu.br 100 Os custos de manutenção abrangem os custos de armazenagem, seguro, deterioração e obsolescência, além do custo de oportunidade de investir fundos em estoque (GITMAN, 2010). “Esses custos são estabelecidos em valores monetários por unidade, por período” (GITMAN, 2010, p. 553). Esses dois custos apresentam comportamento diferentes: os custos de pedido diminuem com o tamanho do pedido, uma vez que se diluem em função do volume; os custos de manutenção aumentam com o tamanho dos pedidos, ou seja, quanto maior o pedido, maior será o custo de mantê-los. O modelo do LEC analisa a compensação entre custos de pedido e custos de manutenção para determinar o tamanho do pedido que minimiza o custo total do estoque (GITMAN, 2010). De acordo com Gitman (2010), podemos desenvolver uma fórmula para determinar o LEC de uma empresa para um dado item do estoque, veja: 2×S×OLEC= C Em que: S = consumo em unidades do item do estoque por período; O = custo de pedido, por pedido; C = custo de armazenamento por unidade, por período. Exemplo A empresa Veloz Companhia utiliza um item em seu processo de fabricação de automóveis que é fundamental: placas de aço. O custo de cada placa de aço é de R$ 1.000,00 e seu consumo é de 5.000 unidades por ano. A Veloz Companhia deseja determinar a estratégia ideal de pedido do item. Para calcular o LEC, solicitamos os seguintes dados: • custo do pedido, por pedido = R$ 120,00,00; • custo de manutenção, por unidade, por ano = R$ 240,00,00. www.esab.edu.br 101 Utilizando a fórmula do LEC, temos: 2×S×OLEC= C 2 5.000 120LEC= 71 unidades 240 × × ≅ Ou seja, para minimizar os seus custos totais de pedido, a empresa Veloz Companhia deverá solicitar, aproximadamente, 71 unidades de placas de aço por pedido. Além do pedido de 71 unidades, é importante para algumas empresas determinar o estoque de segurança, para prevenir qualquer imprevisto na entrega e conservação dos estoques. Nesta unidade, estudamos o comportamento dos estoques como um investimento do capital de giro e duas técnicas de administração: o sistema ABC e o Lote Econômico de Compra (LEC). Na unidade 17 vamos utilizar esses conceitos aplicados na empresa Alfinetes. Preparados? Estudo complementar O artigo intitulado “Administração de Estoques”, de Kurt E. Weil, publicado na Revista de Administração de Empresas (vol. 19, n° 4, São Paulo, out./dez. 1979) apresenta uma resenha bibliográfica com um panorama do tema. Acesse aqui www.esab.edu.br 102 17 Problema resolvido Objetivo Resolver um problema a fim de contextualizar os conceitos apresentados. O sistema ABC, abordado na unidade 16, é uma ferramenta para monitorar os níveis de estoque. Sob esse processo a empresa estabelece uma hierarquia dos produtos em estoque. Em qualquer estoque que possua vários itens, alguns serão mais importantes do que outros. A empresa pode analisar a importância de cada item do estoque com base em seu investimento, frequência e importância de uso, risco de esgotamento do estoque ou tempo de entrega de um novo pedido. Além disso, estudamos na unidade anterior que o Lote Econômicode Compra (LEC) é uma metodologia utilizada para calcular o número de itens do pedido para minimizar seus custos de pedido e manutenção dos estoques. Agora, com o apoio teórico de Groppelli e Nikbakht (2010) e de Gitman (2010), vamos analisar o caso da empresa Alfinetes em termos de estoques. 17.1 Apresentar os dados de uma empresa quanto à sua política de estoque A empresa Alfinetes é fabricante de roupas sob medida e tem como principal matéria-prima o tecido importado da Índia. Além disso, utiliza outros dois tipos de materiais nacionais: linha e botões. Analisando o Balanço Patrimonial da empresa Alfinetes, os estoques estão distribuídos da seguinte forma: www.esab.edu.br 103 Estoques (Balanço Patrimonial da Alfinetes) Tecido R$ 80.000,00 Botões R$ 15.000,00 Linha R$ 5.000,00 Total dos Estoques R$ 100.000,00 Quadro 8 – Estoques da empresa Alfinetes. Fonte: Elaborado pela autora (2013). Tecido: o tecido vem da Índia, portanto, a empresa precisa se preocupar com a gestão do nível de estoque para que não falte tecido. O investimento é de R$ 80.000,00, que representa 160 metros de R$ 500,00 cada. O consumo anual desse item é de 600 metros. O custo de pedido é R$ 1.500,00 e os custos de manutenção (inclusive o financiamento desse estoque), por metro, é de R$ 3,00/metro. Botões: os botões são comprados em outro estado, portanto, a empresa Alfinetes tem facilidade de acesso relativa, uma vez que podem ser substituídos por botões locais. O investimento é de R$ 15.000,00, o que representa 3.000 botões de R$ 5,00 cada. O consumo anual desse item é de 7.000 botões. O custo de pedido é R$ 500,00 e os custos de manutenção (inclusive o financiamento desse estoque), por botão, é R$ 0,50/botão. Linha: as linhas são compradas na mesma cidade da Alfinetes, portanto, não há preocupação com o nível de estoque. O investimento é de R$ 5.000,00, o que representa 5.000 metros de R$ 1,00 cada. O consumo anual desse item é de 10.000 metros. O custo de pedido é R$ 50,00 e os custos de manutenção (inclusive o financiamento desse estoque), por metro, é R$ 0,15/metro. Conhecendo todas essas informações, vamos analisar os estoques da empresa Alfinetes. www.esab.edu.br 104 17.2 Avaliar as políticas de estoque do ponto de vista financeiro Com base em todas as informações apresentadas pela empresa Alfinetes, vamos classificar seus estoques de acordo com o Sistema ABC e depois calcular o Lote Econômico de Compra dos seus itens. Sistema ABC Podemos classificar os estoques da empresa Alfinetes de acordo com os critérios do sistema ABC, apresentados na unidade anterior, segundo Gitman (2010): • estoque A – podemos considerar os tecidos como estoques do grupo A por três motivos principais: (1) é a principal matéria-prima dos produtos da empresa; (2) representa 80% do investimento em estoque; e (3) seus fornecedores encontram-se distantes da empresa Alfinetes, ou seja, qualquer falta de estoque não pode ser rapidamente suprida; • estoque B – podemos considerar os botões como estoques do grupo B por três motivos principais: (1) é a segunda matéria-prima mais importante dos produtos da empresa; (2) representa 15% do investimento em estoque; e (3) seus fornecedores encontram-se relativamente distantes da empresa Alfinetes, porém, na falta deles, podem ser substituídos por botões locais; • estoque C – podemos considerar as linhas como estoques do grupo C por três motivos principais: (1) é a matéria-prima menos importante dos produtos da empresa; (2) representa somente 5% do investimento em estoque; e (3) seus fornecedores encontram-se perto da empresa Alfinetes, ou seja, na falta de estoques, a reposição é rápida. www.esab.edu.br 105 Lote Econômico de Compra (LEC) Vamos calcular o LEC somente para os itens dos estoques do grupo A e B, isso porque o estoque do grupo C não necessita de um acompanhamento muito rigoroso por demandar baixo investimento e pelos fornecedores estarem acessíveis à empresa. Vimos na unidade 16 que a fórmula do LEC é: 2×S×OLEC= C Em que: S = consumo em unidades do item do estoque por período; O = custo de pedido, por pedido; C = custo de manutenção por unidade, por período. No grupo A temos os tecidos. Seu consumo anual é de 600 metros, o custo de pedir, por pedido, é de R$ 1.500,00, e o custo de manutenção somam R$ 3,00 por metro. Assim: 2×600×1.500LEC= 775 metros 3 ≅ Isso significa que para a Alfinetes minimizar o custo do estoque de tecido, a cada pedido ela deve solicitar, aproximadamente, 775 metros de tecido. No grupo B temos os botões. Seu consumo anual é de 7.000 botões, o custo de pedir, por pedido, é de R$ 500,00 e o custo de manutenção soma R$ 0,50 por metro. Assim: 2×7.000×500LEC= 3.742 botões 0,5 ≅ www.esab.edu.br 106 Isso significa que para a Alfinetes minimizar o custo do estoque de botões, a cada pedido ela deve solicitar, aproximadamente, 3.742 botões do fornecedor. Nesta unidade, estudamos o último elemento que compõe o capital de giro: os Estoques. A seguir, vamos analisar algumas estratégias das empresas na principal objetivo da Conversão de Caixa: acelerar recebimentos e retardar pagamentos. Tarefa dissertativa Caro estudante, convidamos você a acessar o Ambiente Virtual de Aprendizagem e realizar a tarefa dissertativa. www.esab.edu.br 107 18 Administração de recebimentos e pagamentos Objetivo Compreender a administração de recebimentos e pagamento, incluindo float, aceleração da cobrança, retardamento dos pagamentos e concentração de caixa. Conforme estudamos na unidade 12, que tratava do Ciclo de Conversão de Caixa, o Prazo Médio de Recebimento (PMR) tem dois componentes: (1) o intervalo entre a venda e o momento em que o cliente efetua o pagamento e (2) o intervalo necessário para receber, processar e transformar o pagamento em caixa. Além disso, o Prazo Médio de Pagamento (PMP) também se divide em duas partes: (1) o intervalo de tempo entre a compra a crédito de bens e o momento em que a empresa efetua o pagamento e (2) o tempo necessário para que o fornecedor da empresa receba, processe e transforme o pagamento em caixa. Em consonância com a ideia do Ciclo de Conversão de Caixa, a qual tem como objetivo acelerar o processo de recebimento e alargar os prazos de pagamento, a administração de recebimento e pagamentos utilizará meios para que isso aconteça. Vamos estudar esse tema com base em Gitman (2010) e um das principais estratégias é a utilização do float. Vamos acompanhar? 18.1 Float De acordo com Gitman (2010, p. 566), o float diz respeito “[...] a fundos que foram enviados pelo pagante, mas ainda não estão disponíveis ao recebedor”. Ele constitui em um intervalo importante para o ciclo de conversão de caixa, porque sua presença estende tanto os prazos médios de pagamento quanto de recebimento das empresas. Como vimos nas unidades anteriores, o objetivo da Administração Financeira é diminuir o prazo médio de recebimento e alongar o prazo médio de pagamento. Para Gitman (2010, p. 566), essas metas podem ser realizadas por meio da gestão do float, que se divide em três componentes: www.esab.edu.br 108 1. Float de postagem é o intervalo entre a postagem do pagamento e seu recebimento pelo destinatário. 2. Float de processamento é o intervalo entre o recebimento do pagamento e seu depósito em conta da empresa. 3. Float de compensação é o intervalo entre o depósito do pagamento e o momento em que os fundos tornam-se disponíveis para a empresa. Este componente é atribuído ao prazo necessário para que um cheque seja compensado pelo sistema bancário. Esses componentes, quando bem utilizados, auxiliam no aceleramento dos recebimentos ou no retardamento dos pagamentos. No próximo tópico descreveremos algumas técnicasde gestão dos componentes do float para acelerar os recebimentos e retardar os pagamentos. 18.2 Aceleração da cobrança e retardamento dos pagamentos A aceleração da cobrança reduz o tempo do float de cobrança e, consequentemente, o prazo médio de recebimento da empresa, o que acarreta em uma diminuição da necessidade de financiamento do capital de giro da empresa. Segundo Gitman (2010, p. 566), uma técnica popular de aceleração da cobrança é o sistema de caixa postal, que funciona da seguinte maneira: [...] em vez de remeter os pagamentos à empresa, os clientes fazem a remessa a uma caixa postal. O banco da empresa esvazia regularmente a caixa, processa os pagamentos e deposita-os na conta dela. Os comprovantes de depósito, com os envelopes dos pagamentos, são enviados (ou transmitidos eletronicamente) à empresa para que ela efetue a devida baixa nas contas dos clientes. As caixas postais são geograficamente dispersas para corresponder com a localização dos clientes. Esse sistema afeta os três componentes do float: reduz o prazo de postagem e, frequentemente, o de compensação, pela proximidade com os clientes. Também reduz o prazo de processamento a praticamente zero porque o banco deposita os pagamentos antes do processamento pela empresa. Evidentemente, o sistema de caixa postal reduz o float, mas isso tem um custo; por isso, deve-se realizar uma análise econômica antes de optar por essa implementação. www.esab.edu.br 109 Os sistemas de caixa postal são bastante utilizados por empresas de maior porte com clientes geograficamente dispersos. No entanto, não é preciso ser uma grande organização para se beneficiar do sistema; empresas menores também podem extrair vantagens dele. Os benefícios para pequenas empresas muitas vezes decorrem, principalmente, da transferência do processamento de pagamento para o banco (GITMAN, 2010). Além da preocupação em acelerar os recebimentos, o float também é um dos componentes do prazo médio de pagamento da empresa. Nesse caso, ele a beneficia. Para Gitman (2010, p. 567, grifo nosso), a empresa pode beneficiar-se do aumento dos três componentes de seu float de pagamentos: Uma técnica popular de extensão do float de pagamento é o controle de pagamentos, que envolve o uso estratégico de pontos de postagem e contas bancárias para alongar, respectivamente, o float de postagem e o de compensação. As empresas devem ter cautela ao usar essa abordagem, uma vez que prazos de pagamento mais longos podem desgastar a relação com os fornecedores. Resumindo, uma política de gestão do float envolve receber os pagamentos o mais rápido possível e atrasar o pagamento aos fornecedores. Isso faz com que a empresa necessite de menor financiamento externo possível para capital de giro. E, caso haja sobras de recursos, no próximo tópico abordaremos o processo de concentração de caixa e aplicações dos recursos financeiros ociosos. 18.3 Concentração de caixa e aplicações financeiras A concentração de caixa, segundo Gitman (2010), é um processo utilizado para reunir os depósitos em um só banco, frequentemente chamado de banco de concentração. Ainda segundo o autor, ela apresenta três vantagens principais: • cria um grande volume de fundos, que pode ser usado na realização de investimentos de curto prazo. Como há um componente fixo no custo de transação associado a esses investimentos, investir um só www.esab.edu.br 110 grupo de fundos reduz esse custo. Além disso, um maior volume de fundos também permite à empresa optar entre uma maior gama de investimentos de curto prazo; • concentrar o caixa em uma só conta melhora o acompanhamento e o controle interno de caixa; e • contar com um banco de concentração permite que a empresa adote estratégias de pagamento que reduzam os saldos de caixa ociosos. Enquanto os saldos de caixa estão ociosos, a empresa pode realizar investimentos por meio de títulos negociáveis. Conforme apresenta Gitman (2010, p. 569), “[...] títulos negociáveis são instrumentos remunerados e de curto prazo do mercado monetário que podem ser facilmente convertidos em caixa”. Ainda segundo o autor, os títulos negociáveis são parte do ativo líquido das empresas, que os utilizam para obter um retorno sobre recursos financeiros temporariamente ociosos. Para ser efetivamente negociável, Gitman (2010) diz que um título precisa contar com um mercado que minimize o prazo necessário para a sua conversão em caixa e segurança no investimento. Nesta unidade, estudamos o float como instrumento para aceleração dos recebimento e retardamento dos pagamentos, a fim de minimizar a necessidade de financiamento da empresa, além da concentração de caixa e investimentos de curto prazo. Na próxima unidade continuaremos a abordar a gestão do capital de giro falando do Passivo Circulante ou das dívidas de curto prazo das empresas. Atividade Chegou a hora de você testar seus conhecimentos em relação às unidades 10 a 18. Para isso, dirija- se ao Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e responda às questões. Além de revisar o conteúdo, você estará se preparando para a prova. Bom trabalho! www.esab.edu.br 111 Resumo Na unidade 13 estudamos os conceitos de Ciclo de Conversão de Caixa aplicados na empresa Café Brasil S/A. Calculamos o Ciclo Operacional e o Ciclo de Conversão de Caixa, que representa a necessidade de financiamento de capital de giro da empresa. Na unidade 14 abordamos o Contas a Receber, que faz parte do capital de giro das empresas, bem como a formação da política de crédito e modos de monitorar o efetivo recebimento dessa conta através do Período Médio de Recebimento e a Organização Cronológica do Contas a Receber. Assim pudemos resolver o caso da empresa Doce Lar na unidade 15, bem como todos os custos envolvidos na política de crédito e a avaliação em termos de incremento no lucro. Na unidade 16 estudamos o último elemento que compõe o capital de giro das empresas: os Estoques. Vimos que o objetivo da Administração Financeira é manter níveis adequados de estoques e os custos gerados pela sua manutenção. Duas técnicas foram analisadas para gestão dos estoques: o sistema ABC e o Lote Econômico de Compra (LEC). Com base nos conceitos apresentados, resolvemos o caso da empresa Alfinetes na unidade 17, classificando os estoques e calculando o LEC. Por fim, na unidade 18, vimos a administração de recebimentos e pagamentos e a utilização do float com o objetivo de acelerar os recebimentos e retardar os pagamentos. Além disso, vimos a importância da concentração de caixa e as aplicações dos recursos financeiros ociosos. www.esab.edu.br 112 19 Administração do passivo circulante Objetivo Estudar as contas a pagar, os principais componentes dos termos e fontes de crédito. Dando continuidade aos nossos estudos sobre as finanças de curto prazo, vamos agora estudar a administração do passivo circulante. Na unidade anterior você viu algumas estratégias de administração dos recebimentos e dos pagamentos. Aqui, nosso foco é nos pagamentos: os Passivos Circulantes. No Balanço patrimonial, o financiamento de curto prazo da empresa é representado pelos Passivos Circulantes. Para nos aprofundarmos no tema, vamos utilizar autores como Gitman (2010) e Gitman e Madura (2003). Há diversos tipos de passivos circulantes ou fontes de financiamentos de curto prazo. Vamos iniciar nossas atividades falando dos passivos espontâneos. Bons estudos. 19.1 Passivos espontâneos Uma das fontes de financiamento de curto prazo das empresas, que consta no Balanço Patrimonial no grupo Passivo Circulante, diz respeito aos passivos espontâneos. Os passivos espontâneos, segundo Gitman (2010), originam-se das atividades rotineiras da empresa. As duas fontes de financiamento espontâneas mais significativas, de acordo com Gitman eMadura (2003), são: • Provisões – costumam ser os salários a pagar aos funcionários da empresa e impostos a pagar. As provisões não devem ser administradas ativamente como fontes de recursos e, portanto, não são abordadas como fontes de recursos no ciclo de conversão de caixa; e www.esab.edu.br 113 • Contas a Pagar – constituem uma fonte importante de financiamento de curto prazo e são um componente-chave do ciclo de conversão de caixa. Segundo Gitman (2010), elas resultam de transações nas quais se compram mercadorias e a empresa obtém um prazo para o pagamento. Nesta unidade, iremos focar em Contas a Pagar como uma fonte de financiamento que beneficia o Ciclo de Conversão de Caixa da empresa. Gitman (2010) lembra que o objetivo da empresa deve ser prolongar o pagamento ao máximo, sem prejudicar o seu crédito no mercado. Isso significa que as contas devem ser pagas no último dia possível, dados os termos de crédito anunciados pelo vendedor. Isso permite o uso máximo do empréstimo sem juros concedido pelo fornecedor. A seguir, veremos os termos de crédito concedidos pelo fornecedor que devem ser utilizados ao máximo pela empresa. 19.2 Análise dos termos de crédito Os termos de crédito referem-se aos padrões de crédito que o fornecedor oferece aos seus clientes. Nossa preocupação aqui é estudar esse assunto sob o ponto de vista do comprador, ou seja, aquele que recebe o crédito e o prazo para o pagamento. Dessa forma, o fornecedor transforma-se em uma fonte de financiamento de curto prazo. De acordo com Gitman (2010), os termos de crédito que os fornecedores oferecem a uma empresa permitem a ela postergar o pagamento das compras realizadas. Como o custo do fornecedor de ficar com os recursos empatados em mercadorias após a venda provavelmente já está refletido no preço de compra, o comprador paga indiretamente por esse benefício. Dessa forma, o solicitante do crédito deve analisar detalhadamente os termos de crédito para determinar a melhor estratégia de crédito mercantil. Isso porque, em muitos casos, no pagamento à vista é concedido um desconto ao cliente. Uma situação na qual o pagamento no último dia não é interessante é quando os fornecedores da empresa concedem descontos para pagamento à vista, incentivando a empresa a pagar antes, conforme lembram Gitman e Madura (2003). Aproveitar o desconto é uma decisão financeira. Gitman e Madura (2003) abordam quando a empresa www.esab.edu.br 114 deve aproveitar um desconto para pagamento à vista: a organização que precisa de recursos de curto prazo deve comparar a taxa de juros cobrada por seu fornecedor com as taxas cobradas por outras fontes de financiamento de curto prazo e escolher a opção de custo mais baixo. Para Gitman e Madura (2003), essa comparação é importante porque, se a empresa aproveita o desconto para pagamento à vista, ela reduz o seu Período Médio de Pagamento, o que exigirá financiamento de curto prazo adicional, não espontâneo. A fórmula para calcular a taxa de juros associada a não aproveitar o desconto para pagamento à vista, de acordo com Gitman e Madura (2003, p. 420), é: desconto d 360K = (1 - d) (CP - DP) × Em que: descontoK = custo dos juros anuais por não aproveitar o desconto para pagamento à vista; d = desconto percentual (na forma decimal. Por exemplo, 2% = 0,02); CP = período de crédito; DP = período de desconto para pagamento à vista; 360 = representa um ano. Ao utilizar 360, a taxa de juros calculada é anual. Para calcular a taxa de juros mensal, basta substituir os 360 por 30 dias. Vamos acompanhar um exemplo para melhor compreender o cálculo da taxa de juros associada a não aproveitar o desconto para pagamento à vista. www.esab.edu.br 115 Exemplo Suponha que o fornecedor da empresa Bicos tenha os seguintes termos de crédito: 30 dias para o pagamento ou 2% de desconto para pagamento em até 10 dias. A empresa Bicos possui à sua disposição uma linha de crédito bancário com juros de 10% ao ano. A empresa deveria aproveitar o desconto para pagamento à vista ou continuar a usar os 30 dias de crédito do seu fornecedor? A taxa de juros efetivamente cobrada pelo fornecedor ao receber em 30 dias é calculada da seguinte forma: desconto d 360K = (1 - d) (CP - DP) × Em que: O desconto percentual é 0,02 (2%), o período de crédito é de 30 dias e o período de desconto para pagamento à vista é de 10 dias. Portanto: desconto 0,02 360K = 0,367 ou 36,7% (1 - 0,02) (30 - 10) × = Dessa forma, a taxa anual cobrada pelo fornecedor por não aproveitar o desconto para pagamento à vista é de 36,7% ao ano, enquanto o banco cobra 10% pelo uso dos recursos. Ao não aproveitar o desconto, é como se a empresa Bicos pagasse uma taxa de juros de 36,7% ao ano para o fornecedor. Dessa forma, ela deve aproveitar o desconto e pagar à vista. Para sua reflexão Com base no que estudamos até aqui reflita sobre a seguinte pergunta: e se a empresa necessitar de empréstimos de curto prazo? A seguir estudaremos sobre isso. A resposta a essa reflexão forma parte de sua aprendizagem e é individual, não precisando ser comunicada ou enviada aos tutores. www.esab.edu.br 116 19.3 Fontes de empréstimos de curto prazo Ao optar por fontes de empréstimos de curto prazo, o administrador tem algumas possibilidades no mercado. De acordo com Gitman (2010), são elas: • empréstimos bancários – os bancos representam uma importante fonte de empréstimo de curto prazo às empresas. O principal tipo é o empréstimo autoliquidável de curto prazo, que tem por objetivo simplesmente ajudar as empresas a superar picos sazonais de necessidade de financiamento, principalmente pelo acúmulo de estoques e contas a receber. À medida que os estoques e o Contas a Receber vão sendo vendidos e recebidos, geram-se os recursos necessários para liquidar esses empréstimos; • commercial papers – é uma forma de financiamento emitida por empresas de elevada qualidade de crédito. De maneira geral, somente empresas de grande porte e solidez financeira conseguem emitir esses títulos; • desconto de duplicatas a receber – é frequentemente usado para garantir empréstimos de curto prazo. Como o Contas a Receber costuma ter um alto nível de liquidez, representa uma forma atraente de garantia de empréstimos de curto prazo; • factoring – envolve a venda, pura e simples, das contas a receber, com deságio, a uma instituição financeira. É importante lembrar que todas as fontes de financiamento envolvem um custo. Cabe ao administrador financeiro comparar o custo das alternativas disponíveis para escolher a que envolva um maior custo-benefício. Saiba mais Assista ao vídeo do Sebrae “Você sabe por que e como fazer um empréstimo bancário?”, disponível clicando aqui. O vídeo traz algumas dicas para os administradores financeiros. www.esab.edu.br 117 Nesta unidade, estudamos sobre as fontes de financiamento de curto prazo das empresas e as alternativas disponíveis no mercado para o administrador financeiro. Na unidade 20 vamos reunir nossos conhecimentos adquiridos sobre a gestão financeira de curto prazo (ativos e passivos circulantes) para calcularmos indicadores financeiros. Bons estudos! Fórum Caro estudante, dirija-se ao Ambiente Virtual de Aprendizagem da instituição e participe do nosso Fórum de discussão. Lá você poderá interagir com seus colegas e com seu tutor de forma a ampliar, por meio da interação, a construção do seu conhecimento. Vamos lá? www.esab.edu.br 118 20 Indicadores de atividade Objetivo Utilizar os índices para análise da atividade operacional da empresa. Prezado aluno, desde a unidade 11 estamos estudando o capital de giro, bem como o Ciclo Operacional, o Ciclo de Conversão de Caixa, o Contas a Receber, os Estoques, osRecebimentos e os Pagamentos. Agora é hora de aprender alguns indicadores que avaliam todas essas atividades. Vamos nos basear na metodologia adotada por Gitman e Madura (2003). Os indicadores de atividades, de acordo com Gitman e Madura (2003, p. 195), “[...] medem a rapidez com a qual várias contas são convertidas em vendas ou em caixa”. Existem alguns indicadores para medir a atividade das contas dos ativos e passivos circulantes mais importantes, que incluem Estoques, Contas a Receber e Contas a Pagar. O próximo tópico aborda essas três principais contas da administração do capital de giro. 20.1 Prazos médios de estocagem, recebimento e pagamento Os prazos médios de estocagem, recebimento e pagamento são os mesmos prazos médios que utilizamos para quantificar o Ciclo Operacional e o Ciclo de Conversão de Caixa na unidade 12. Agora, como podemos calcular esses prazos médios? Vamos estudar cada um deles. Período Médio de Estocagem Primeiro, vamos calcular o Prazo Médio de Estocagem, ou seja, qual o tempo médio que os estoques permanecem na empresa. Podemos encontrar esse valor a partir da seguinte fórmula, considerando a análise de um ano da empresa: www.esab.edu.br 119 Estoque MédioPrazo Médio de Estocagem (PME) = 360 Custo da Mercadoria Vendida × Em que: Estoque Médio: representa qual o valor médio investido na empresa em estoques durante um ano, ou o Estoque inicial + Estoque final 2 . Custo da Mercadoria Vendida: encontramos esse valor na Demonstração de Resultado do Exercício da Empresa. Período Médio de Cobrança Agora, vamos calcular o Prazo Médio de Cobrança, ou seja, qual o prazo médio que os clientes dispõem para pagamento. Podemos encontrar esse valor a partir da seguinte fórmula, considerando a análise de um ano da empresa: Contas a Receber MédioPrazo Médio de Cobrança (PMC) = 360 Vendas × Em que: Contas a Receber Médio: representa qual o valor médio investido na empresa em clientes durante um ano, ou o Contas a Receber inicial + Contas a Receber final 2 Vendas: encontramos esse valor na Demonstração de Resultado do Exercício da empresa e é representado pela Receita. Período Médio de Pagamento Por fim, vamos calcular o Prazo Médio de Pagamento, ou seja, qual o tempo médio que a empresa demora para pagar seus fornecedores. Podemos encontrar esse valor a partir da seguinte fórmula, considerando a análise de um ano da empresa: www.esab.edu.br 120 Contas a Pagar Médio Prazo Médio de Pagamento (PMP) = 360 Compras × Em que: Contas a Pagar Médio: representa qual o valor médio que a empresa tem no seu Passivo Circulante durante um ano, ou o Contas a Pagar inicial + Contas a Pagar final 2 Compras: representa o quanto a empresa comprou no ano. Gitman e Madura (2003, p. 54) advertem para [...] a dificuldade de encontrar o valor das compras anuais, uma vez que é uma informação que não consta nas demonstrações financeiras. Normalmente, as compras são estimadas como uma dada porcentagem do Custo dos Produtos Vendidos. Dica Note que a construção do cálculo dos Prazos Médios é similar para as três situações, bastando adaptar as contas requeridas. Agora que já sabemos como calcular os prazos médios, vamos utilizá-los para calcular o giro do capital de giro. 20.2 Indicadores de giro Os indicadores de giro nos mostram quanto cada item do capital de giro se renova no capital de giro. Um alto giro desses itens demonstra uma boa situação financeira. Um baixo giro nos diz que os elementos do capital de giro permanecem parados por muito tempo. Vamos conhecê-los? www.esab.edu.br 121 Giro do Estoque O Giro do Estoque mede a liquidez do estoque de uma empresa (GITMAN; MADURA, 2003). Pode ser calculado da seguinte forma, considerando uma análise anual: 360Giro do Estoque = PME O resultado final representa quantas vezes o Estoque gira ou se renova dentro da empresa. Quanto maior o giro dos estoques, melhor. Um alto giro nos Estoques significa que o processo de armazenagem de matérias-primas, produção e vendas é rápido, enquanto que um giro baixo significa que os Estoques estão parados dentro da empresa, ou seja, giram lentamente. Giro do Contas a Receber O Giro do Contas a Receber mede a liquidez do Contas a Receber de uma empresa (GITMAN; MADURA, 2003). Pode ser calculado da seguinte forma, considerando uma análise anual: 360Giro do Contas a Receber = PMC O resultado final representa quantas vezes o Contas a Receber gira ou se renova dentro da empresa. O alto giro do Contas a Receber significa que os clientes pagam rápido. É importante lembrar que um alto giro do Contas a Receber, apesar de ser financeiramente atraente, diminui o Período Médio de Cobrança, ou seja, o tempo que os clientes dispõem para pagamento. Quanto menor o Período Médio de Cobrança, menor serão as vendas da empresa, conforme estudamos na política de crédito. Assim, ter um alto giro do Contas a Receber não pode sacrificar as vendas da empresa. Nesta unidade, aprendemos o cálculo dos Períodos Médios que compõem o Ciclo Operacional e o Giro dos Estoques e do Contas a Receber. Na unidade 21 vamos aplicar esses conceitos e cálculos para a empresa Leitura Impressa e interpretar os resultados. Vamos lá? www.esab.edu.br 122 21 Análise prática da gestão do capital de giro Objetivo Analisar a gestão de capital de giro de uma organização empresarial. Desde a unidade 11 você vem acompanhando os estudos sobre o capital de giro das empresas. Calculamos o Ciclo Operacional, o Ciclo de Conversão de Caixa, os Períodos Médios e o Cálculo do Giro dos elementos que compõem o capital de giro. Nesta unidade, apresentaremos o caso da empresa Leitura Impressa para análise do capital de giro. Para isso, utilizaremos os conceitos apresentados nas unidades anteriores, nos baseando em Gitman (2010) e Gitman e Madura (2003) 21.1 Apresentação de um estudo de caso referente ao capital de giro da Empresa Leitura Impressa Vamos analisar o caso da empresa Leitura Impressa. A empresa Leitura Impressa trabalha com a produção de livros e revistas para todo o Brasil. Sua principal atividade está relacionada à impressão e à distribuição dos dois produtos para todo o Brasil. Os principais fornecedores da Leitura Impressa são Papel e Cia, que fornece os papéis, e a empresa Tinta Colors, que fornece as tintas para a impressão. No ano de 2012, a empresa Leitura Impressa apresentou as seguintes informações no seu Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado do Exercício. Veja: www.esab.edu.br 123 BP Empresa Leitura impressa R$ 40,909.00 R$ 31/12/2012 ATIVO CIRCULANTE Caixa Contas a Receber Estoques ATIVO IMOBILIZADO Impressoras Equipamentos Imóvel Ativo total R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ 10,000.00 130,000.00 80,000.00 200,000.00 50,000.00 350,000.00 820,000.00 R$ R$ R$ R$ R$ R$ R$ 12,000.00 150,000.00 100,000.00 190,000.00 45,000.00 350,000.00 847,000.00 PASSIVO CIRCULANTE Contas a Pagar PASSÍVEL EXIGÍVEL A LP PATRIMÔNIO LÍQUIDO Passivo total R$ R$ R$ R$ 80,000.00 340,000.00 400,000.00 820,000.00 R$ R$ R$ R$ 120,000.00 327,000.00 400,000.00 847,000.00 Quadro 9 – Balanço Patrimonial da empresa Leitura Impressa em 01/01/2012 e 31/12/2012. Fonte: Elaborado pela autora (2013). No Quadro 9 temos o Balanço Patrimonial da empresa Leitura Impressa no primeiro e no último dia do ano de 2012. Agora, vamos ver a Demonstração de Resultado do Exercício de 2012. Acompanhe. DRE da empresa Leitura Impressa em 2012 (+) Receita líquida (-) Custo dos produtos vendidos (=) Lucro bruto (-) Desepesas operacionais (=) Lucro operacional (-) Provisão IR (30%) (-) Lucro líquido do exercício R$ - R$ R$ - R$ R$ - R$ R$ 1,200,000.00 900,000.00300,000.00 200,000.00 100,000.00 30,000.00 70,000.00 Quadro 10 – Demonstração do Resultado do Exercício de 2012 da empresa Leitura Impressa. Fonte: Elaborado pela autora (2013). Como podemos observar, o Quadro 10 traz as informações referentes aos resultados que a empresa teve no ano: Receitas, Custos, Despesas e Lucro. Agora já temos todas as informações para analisar o Ciclo Operacional e o Ciclo de Conversão de Caixa dessa empresa. Vamos em frente? www.esab.edu.br 124 21.2 Analisar o Ciclo Operacional e o Ciclo de Conversão de Caixa e suas necessidades de financiamento Para que possamos analisar o Ciclo Operacional e o Ciclo de Conversão de Caixa, precisamos de três informações: o Período Médio de Estocagem, o Período Médio de Recebimento e o Período Médio de Pagamento. Vamos buscar as fórmulas na unidade 20 para calcular esses períodos médios? Vamos começar com o Prazo Médio de Estocagem. Prazo Médio de Estocagem (PME) = Estoque Médio= 360 Custo da Mercadoria Vendida × Lembrando que, para encontrar o Estoque Médio, basta somar o Estoque Inicial (01/01/2012) ao Estoque Final (31/12/2012) e dividir por dois. R$ 80.000,00 + R$ 100.000,00 2PME = 360 = R$ 900.000,00 R$ 90.000,00= 360 36 dias R$ 900.000,00 × × = Agora, vamos calcular o Prazo Médio de Cobrança: Contas a Receber MédioPrazo Médio de Cobrança (PMC) = 360 Vendas × Lembrando que, para encontrar o Contas a Receber Médio, basta somar o Contas a Receber Inicial (01/01/2012) ao Contas a Receber Final (31/12/2012) e dividir por dois. R$ 130.000,00 + R$ 150.000,00 2PMC = 360 = R$ 1.200.000,00 R$ 140.000,00= 360 42 dias R$ 1.200.000,00 × × = www.esab.edu.br 125 Por fim, vamos calcular o Prazo Médio de Pagamento. Considere que as Compras do ano representam 80% do Custo dos produtos vendidos. Contas a Pagar Médio Prazo Médio de Pagamento (PMP) = 360 Compras × Lembrando que, para encontrar o Contas a Pagar Médio, basta somar o Contas a Pagar Inicial (01/01/2012) ao Contas a Pagar Final (31/12/2012) e dividir por dois. R$ 80.000,00 + R$ 120.000,00 2PMP = 360 = R$ 900.000,00 0,8 R$ 100.000,00= 360 50 dias R$ 720.000,00 × × × = Com os prazos médios em mãos, podemos fazer uma representação gráfica do Ciclo Operacional e do Ciclo de Conversão de Caixa, veja: Ciclo Operacional = 78 dias Período Médio de Estocagem Período Médio de Cobrança 36 dias Co m pr a Ve nd a Re ce bim en to 42 dias Período Médio Pagamento Ciclo de Conversão de Caixa 50 dias 42 dias Figura 5 – Ciclo Operacional e Ciclo de Conversão de Caixa da empresa Leitura Impressa. Fonte: Elaborada pela autora (2013). De acordo com a Figura 5, podemos analisar que o Ciclo Operacional da empresa Leitura Impressa é de 78 dias, enquanto que o Ciclo de Conversão de Caixa é de 28 dias. Isso significa que a empresa paga os seus fornecedores antes de receber dos clientes; logo, precisará de financiamentos externos, que contêm juros, por 28 dias. Agora, é hora de calcular o giro dos ativos da empresa. Preparado? www.esab.edu.br 126 21.3 Calcular o giro dos ativos Conforme estudamos na unidade 20, o cálculo dos giros permite verificar quantas vezes cada um dos elementos do capital de giro se renova durante um período de tempo. Aqui, nossa análise é de um ano. A alta rotação (giro) dos elementos indica que o Ciclo Operacional da empresa é eficiente e que, portanto, as matérias-primas se transformam em recebimento pelos produtos vendidos. Vamos iniciar pelo cálculo do giro dos estoques: 360 360Giro do Estoque = 10 vezes PME 36 = = O resultado final representa que o Estoque gira, ou se renova, 10 vezes durante o ano. Agora, vamos ao cálculo do giro do Contas a Receber: 360 360Giro do Contas a Receber = 8,57 vezes PME 42 = = O resultado final mostra que o Contas a Receber gira dentro da empresa, ou se renova, 8,57 vezes. O alto giro do Contas a Receber significa que os clientes pagam rápido. Nesta unidade, analisamos o caso da empresa Leitura Impressa em termos do capital de giro, fechando, assim, nossos estudos sobre as finanças de curto prazo da empresa. Nas próximas unidades você estudará alguns conceitos e técnicas gerais da Administração Financeira para, enfim, estudar o planejamento financeiro. Espero que você esteja tirando um bom proveito dos estudos das finanças empresariais. www.esab.edu.br 127 22 Análise de custo volume e lucro Objetivo Definir o cálculo do Custo/Volume/Lucro e o ponto de equilíbrio empresarial. Depois de ter estudado o capital de giro das empresas, agora vamos abordar outros temas da Administração Financeira. Nesta unidade, falaremos sobre a análise Custo/Volume/Lucro, também conhecido como ponto de equilíbrio. Para isso, vamos utilizar a metodologia apresentada por Gitman (2010). 22.1 Análise Custo/Volume/Lucro A análise Custo/Volume/Lucro, também conhecida como ponto de equilíbrio, tem como objetivo principal, segundo Gitman (2010): a. determinar o nível de operações necessário para cobrir a totalidade de custos; e b. avaliar a lucratividade associada a diferentes níveis de venda. Por exemplo: qual o volume de vendas necessário para cobrir todos os custos da empresa? Qual o nível de vendas necessário para que a empresa tenha uma lucratividade de R$ 100.000,00? Essas respostas são obtidas por meio da análise Custo/Volume/Lucro. O primeiro passo para analisar o Custo/Volume/Lucro das operações de uma empresa é classificar todos os custos e despesas em fixos e variáveis. Você sabe a diferença entre eles? c. Custo fixo – é um gasto gerado para a elaboração dos produtos ou prestação dos serviços que não estão relacionados ao volume de atividades. Por exemplo, o aluguel da fábrica caracteriza-se por um custo que independe de quantos produtos serão fabricados; logo, www.esab.edu.br 128 esse é um custo fixo. Outro exemplo pode ser conferido: o salário do supervisor de produção. d. Custo variável – é um gasto gerado devido à elaboração dos produtos ou prestação dos serviços que estão diretamente relacionados ao volume de atividades. Por exemplo, o gasto com matérias-primas caracteriza-se por um custo que depende de quantos produtos serão gerados; logo, é um custo variável. e. Despesa fixa – é um gasto gerado pela venda dos produtos ou administração da empresa e que não está relacionado ao volume de atividades. Por exemplo, o salário do administrador financeiro pode ser um custo fixo por independer do volume de produtos fabricados. f. Despesa variável – é um gasto gerado pela venda dos produtos ou administração da empresa que está relacionado ao volume de atividades. Por exemplo, a comissão dos vendedores depende do volume de produtos vendidos; logo, é uma despesa variável. Ficou mais fácil identificar custos ou despesas fixos e custos ou despesas variáveis? Se houver um número maior de fabricação e vendas de produtos, o gasto também será maior. Portanto, o curto ou despesa será variável. Porém, se o gasto não se alterar em função de um número maior de fabricação e vendas dos produtos, o custo ou despesa será fixo. Com base nesses conceitos, vamos construir nossa Demonstração do Resultado do Exercício. Vejam: Demonstração do Resultado do Exercício pelo custeio variável (+) Receita líquida (-) Custo variáveis (-) Despesas variáveis (=) Margem de contribuição (-) Custos fixos (=) Despesas fixas (=) Lucro operacional Quadro 11 – Demonstração do Resultado do Exercício pelo custeio variável. Fonte: Elaborado pela autora (2013). www.esab.edu.br 129 Percebam que essa nova forma de construir a Demonstração do Resultado do Exercício se chama custeio variável. Ela classifica e divide as contas em fixas e variáveis, ou seja, da receita descontamos todas ascontas variáveis (custos ou despesas) e encontramos a Margem de Contribuição. Da Margem de Contribuição, descontamos todas as contas fixas (custos ou despesas) e encontramos o Lucro Operacional. Dica Independentemente da forma como a Demonstração do Resultado do Exercício é construída, seja pelo custeio por absorção (separados por Custos dos Produtos Vendidos e Despesas) ou pelo custeio variável (separados por Custos/Despesas variáveis e Custos/Despesas fixos), o Lucro Operacional é exatamente o mesmo. Agora que já sabemos disso, vamos ao cálculo do Ponto de Equilíbrio. 22.2 O ponto de equilíbrio operacional e financeiro O ponto de equilíbrio operacional, segundo Gitman (2010), é o nível de vendas necessário para cobrir todos os custos e despesas operacionais. Podemos encontrar o ponto de equilíbrio operacional por meio da seguinte equação: CFQ = P - CVun Em que: Q = representa a quantidade a ser vendida; CF = custos fixos; P = preço de venda; CVun = custo variável unitário. www.esab.edu.br 130 Por exemplo, suponha que na empresa Lata’s os custos fixos mensais somam o montante de R$ 10.000,00. Além disso, sabemos que a empresa vende seu produto a um preço de R$ 80,00 cada e gasta, para elaborá-lo, R$ 60,00. Quantos produtos a empresa Lata’s precisa vender por mês para atingir o seu ponto de equilíbrio? R$ 10.000,00Q = 500 unidades R$ 80,00 - R$ 60,00 = A empresa Lata’s precisaria vender 500 unidades para cobrir todos os seus custos e despesas. Porém, ao vender 500 unidades, a empresa não teria lucro e nem prejuízo, ou seja, seu resultado seria zero. Para calcular o nível de vendas necessário para se atingir um lucro mínimo, calculamos o ponto de equilíbrio financeiro a partir da seguinte fórmula: CF + Lucro mínimoQ = P - CVun Assim, se a empresa Lata’s espera ter um lucro de R$ 5.000,00 no mês, qual deverá ser a quantidade vendida? R$ 10.000,00 + R$ 5.000,00Q = 750 unidades R$ 80,00 - R$ 60,00 = Para obter um lucro de R$ 5.000,00, a empresa precisará vender 750 unidades ao mês. www.esab.edu.br 131 Estudo complementar O cálculo do ponto de equilíbrio está bastante relacionado à formação do preço de venda para obtenção de lucratividade. Sobre esse tema, assista a palestra do SEBRAE clicando aqui. Nesta unidade, aprendemos a análise custo/volume/lucro ou ponto de equilíbrio. Esse cálculo é importante para se analisar a viabilidade de vendas e lucros de uma empresa, além de fornecer um parâmetro ao administrador financeiro em termos de lucratividade de cada nível de venda. Na unidade 23, analisaremos o grau de alavancagem operacional que está relacionado diretamente ao ponto de equilíbrio das empresas. www.esab.edu.br 132 23 Alavancagem operacional Objetivo Calcular, interpretar e avaliar a alavancagem operacional. Na unidade 22 distinguimos os custos/despesas fixos e variáveis das empresas e conhecemos a Demonstração do Resultado do Exercício através do método do custeio variável. Nesta unidade, vamos utilizar esses conceitos para analisar a alavancagem operacional da empresa. Para isso, iremos fundamentar nosso estudo no livro de Gitman (2010). Vamos lá? 23.1 Grau de alavancagem operacional Qual a capacidade de cada empresa em transformar suas vendas em lucro? A resposta depende diretamente de sua estrutura de custos/ despesas fixos e variáveis, conforme estudamos na unidade 22. Quanto mais a empresa tem essa capacidade, maior é sua alavancagem operacional. “A alavancagem operacional resulta da existência de custos operacionais fixos na estrutura de resultados da empresa” (GITMAN, 2010, p. 472). Essa alavancagem operacional é traduzida, em termos numéricos, por meio do Grau de Alavancagem Operacional (GAO). Podemos calcular o GAO a partir da seguinte equação: Variação percentual do LucroGrau de Alavancagem Operacional (GAO) = Variação percentual das Vendas De acordo com Gitman (2010), sempre que a variação percentual do lucro resultante de uma variação percentual das vendas é superior à variação percentual das vendas, ocorre alavancagem operacional. Isso significa que, desde que o GAO seja superior a 1, haverá alavancagem operacional. www.esab.edu.br 133 Por exemplo, considere a empresa Alfa, sua estrutura de resultados e um aumento de 10% no volume de vendas: DRE Alfa Aumento 10% Receita Custos/Despesas Variáveis Margem de contribuição Custos/Despesas Fixos Lucro Operacional R$ - R$ R$ - R$ R$ 20,000.00 12,000.00 8,000.00 5,000.00 3,000.00 R$ - R$ R$ - R$ R$ 22,000.00 13,200.00 8,800.00 5,000.00 3,800.00 Quadro 12 – Demonstração do Resultado do Exercício da empresa Alfa com aumento de 10% nas vendas. Fonte: Elaborado pela autora (2013). Ao aumentar em 10% o volume de vendas (passando de R$ 20.000,00 para R$ 22.000,00 ou R$ 20.000,00 x 1,1), os custos e as despesas variáveis também aumentaram (passando de R$ 12.000,00 para R$ 13.200,00 ou R$ 12.000,00 x 1,1), enquanto que os custos fixos não se alteraram. Dessa forma, o lucro aumenta em 26,67%, passando de R$ 3.000,00 para R$ 3.800,00 ( R$ 800,00 100 26,67% R$ 3.000,00 × = ). Assim, o GAO da empresa Alfa é: 26,67%GAO = 2,67 10% = Isso significa dizer que a empresa aumenta as vendas e os lucros na proporção de 1:2,67 (1 para 2,67), ou seja, para cada aumento de 1% no volume de vendas, seu lucro aumenta em 2,67%. Esse é o grau de alavancagem operacional da empresa Alfa. Você sabe quem é o principal responsável pela alavancagem da empresa Alfa? A existência de custos fixos nos seus gastos. Esse é o tema do próximo tópico. www.esab.edu.br 134 23.2 Custos fixos e alavancagem operacional Segundo Gitman (2010), as variações dos custos operacionais fixos afetam de modo significativo a alavancagem operacional. Suponha que as empresas X e Y apresentem o mesmo volume de vendas e o mesmo lucro operacional; sua diferença está basicamente na estrutura de custos, veja: DRE X Y Receita Custos/Despesas Variáveis Margem de contribuição Custos/Despesas Fixos Lucro Operacional R$ - R$ R$ - R$ R$ 1,000.00 700.00 300.00 200.00 100.00 R$ - R$ R$ - R$ R$ 1,000.00 200.00 800.00 700.00 100.00 Quadro 13 – Demonstração do Resultado do Exercício pelo custeio variável da empresa X e Y. Fonte: Elaborado pela autora (2013). Como você pode observar no Quadro 13, a empresa X tem mais custos variáveis e menos custos fixos, e a empresa Y apresenta menos custos variáveis e mais custos fixos na sua estrutura de custos. Agora, vamos aplicar uma variação no volume de vendas: considere que as vendas aumentaram em 20%, tanto para a empresa X quanto para a empresa Y. O que acontecerá com o lucro das duas? Vamos acompanhar. Lembre-se, para um aumento de 20% basta multiplicar o valor por 1,2. DRE X Aumento 20% Receita Custos/Despesas Variáveis Margem de contribuição Custos/Despesas Fixos Lucro Operacional R$ - R$ R$ - R$ R$ 1,000.00 700.00 300.00 200.00 100.00 R$ - R$ R$ - R$ R$ 1,200.00 840.00 360.00 200.00 160.00 Quadro 14 – Variação de 20% nas vendas da empresa X. Fonte: Elaborado pela autora (2013). www.esab.edu.br 135 De acordo com o Quadro 14, as vendas da empresa X aumentaram em 20% (passando de R$ 1.000,00 para R$ 1.200,00). Assim, os custos e as despesas variáveis também aumentaram em 20% (passando de R$ 700,00 para R$ 840,00). A nova Margem de Contribuição agora é de R$ 360,00. Os custos fixos não se alteram em função do volume de atividade; dessa forma, permaneceram em R$ 200,00. O novo lucro operacional passou de R$ 100,00 para R$ 160,00, ou seja, aumentou em 60% (R$ 60,00/R$ 100,00 x 100). Assim, a o GAO da empresa X é de: Variação percentual do Lucro60%GAO = 3 Variação percentual das Vendas 20% = = Vamos ver como os números se comportaram na empresa Y, que possui mais custos fixos? DRE Y Aumento 20% Receita Custos/Despesas Variáveis Margem de contribuição Custos/Despesas Fixos Lucro Operacional R$ - R$ R$ - R$ R$ 1,000.00 200.00 800.00 700.00 100.00 R$ - R$ R$ - R$ R$ 1,200.00 240.00 960.00 700.00 260.00 Quadro 15 – Variação de 20% nas vendas da empresa Y. Fonte: Elaborado pela autora (2013). De acordo com o Quadro 15, as vendas da empresa Y também aumentaram em 20% (passando de R$ 1.000,00 para R$ 1.200,00). Assim, os custos e as despesas variáveis aumentaram em 20% (passando de R$ 200,00 para R$ 240,00). A nova Margem de Contribuição agora é R$ 960,00. Os custos fixos não se alteraram em função do volume de atividade; dessa forma, permaneceram em R$ 700,00. O novo lucro operacional passou de R$ 100,00 para R$ 260,00, ou seja, aumentou em 160% (R$ 160,00/R$ 100,00 x 100). Assim, a o GAO da empresa Y é de: Variação percentual do Lucro 160%GAO = 8 Variação percentual das Vendas 20% = = www.esab.edu.br 136 O GAO da empresa X foi de 3, enquanto que o GAO da empresa Y foi de 8, com a mesma variação no volume de vendas, por quê? Porque a empresa Y apresenta muito mais custos fixos na sua estrutura de custos, o que possibilita a ela essa alavancagem das vendas em termos de lucro. Porém, ao alavancar operacionalmente a empresa a partir dos custos fixos, o administrador financeiro deve levar em consideração o risco assumido. Vamos estudar mais sobre isso a seguir. 23.3 Riscos da alavancagem operacional É importante lembrar que a alavancagem operacional se dá pela existência de custos fixos. Porém, uma diminuição do volume de vendas acarreta um prejuízo maior para a empresa em comparação às organizações que possuem mais custos/despesas variáveis em sua estrutura. Essa maior probabilidade de perda, caso aconteça um decréscimo no volume de vendas, representa o risco da alavancagem operacional. Nesta unidade, calculamos o grau de alavancagem operacional e pudemos perceber que a sua causa está na existência dos custos fixos. Estes, por sua vez, podem apresentar um risco, caso as vendas diminuam. Na unidade 24, vamos resolver o caso da empresa Goiabeira aplicando os conceitos aprendidos nas unidades 22 e 23. www.esab.edu.br 137 24 Análise do Custo/Volume/Lucro e alavancagem operacional na prática Objetivo Analisar a alavancagem operacional de uma empresa. Nas unidades 22 e 23 estudamos sobre a estrutura de custos de uma empresa, estruturamos essas informações com base na metodologia do custeio variável, calculamos o ponto de equilíbrio operacional e financeiro e aprendemos sobre a alavancagem operacional. Nesta unidade, vamos aplicar esses conceitos na empresa Goiabeira. Vamos utilizar a metodologia apresentada por Gitman (2010). 24.1 Apresentar um caso referente à análise do Custo/ Volume/Lucro A empresa Goiabeira fabrica e vende sucos de goiaba em embalagens de caixa de papel. Analisando as finanças dessa organização, obtivemos os seguintes preços dos produtos, dos custos e das despesas: www.esab.edu.br 138 Preço de venda de cada caixa de suco R$ 6,80 Custo do suco de cada caixa R$ 1,20 Embalagem R$ 0,80 Aluguel R$ 3.500,00 mensais Energia elétrica (essa conta é dividida em dois grupos) R$ 0,10 por caixa de suco produzida R$ 700,00 mensais para o restante do consumo Mão de obra da produção (essa conta é dividida em dois grupos) R$ 1,40 por caixa de suco produzida R$ 800,00 mensais fixos Salário do administrador R$ 4.500,00 mensais Salário do vendedor (essa conta é dividida em dois grupos) R$ 0,30 por caixa de suco vendida (comissão) R$ 1.000,00 mensais fixos Quadro 16 – Preços dos produtos, dos custos e das despesas. Fonte: Elaborado pela autora (2013). Com base nessas informações, podemos dividir as contas em fixas e variáveis, veja: Preço unitário de venda R$ 6,80 Custo/ despesas variáveis Custo do suco de cada caixa R$ 1,20 Embalagem R$ 0,80 Energia elétrica por caixa produzida R$ 0,10 Mão de obra da produção por caixa de suco produzida R$ 1,40 Salário do vendedor por caixa de suco vendida (comissão) R$ 0,30 Total De Custos/Despesas Variáveis por unidade R$ 3,80 Custo/ despesas fixos (mensais) Aluguel R$ 3.500,00 Energia elétrica R$ 700,00 Mão de obra da produção R$ 800,00 Salário do administrador R$ 4.500,00 Salário do vendedor R$ 1.000,00 Total De Custos/Despesas Fixos (mensais) R$ 10.500,00 Quadro 17 – Contas fixas e variáveis. Fonte: Elaborado pela autora (2013). Agora que já conhecemos melhor os custos da empresa Goiabeira, vamos ao próximo passo: calcular o ponto de equilíbrio. www.esab.edu.br 139 24.2 Calcular o ponto de equilíbrio operacional e financeiro Quantas caixas de suco a empresa Goiabeira precisa vender para alcançar seu ponto de equilíbrio operacional? Conforme estudamos na unidade 22, o cálculo do ponto de equilíbrio operacional se dá da seguinte forma: CF R$ 10.500,00Q = 3.500 unidades P - CV R$ 6,80 - R$ 3,80un = = Vamos construir uma Demonstração do Resultado do Exercício pelo método do custeio variável para conferir esse resultado. Considerando a venda de 3.500 caixas de suco, temos: DRE Goiabeira Unitário 3.500 uni. (+) Receita (-) Custos/Despesas Variáveis (=) Margem de contribuição (-) Custos/Despesas Fixos (=) Lucro Operacional R$ - R$ R$ 6,80 3,80 3,00 R$ - R$ R$ - R$ R$ 23.800,00 13.300,00 10.500,00 10.500,00 - Quadro 18 – Demonstração do Resultado do Exercício no ponto de equilíbrio operacional da empresa Goiabeira. Fonte: Elaborado pela autora (2013). Como podemos verificar no Quadro 18, ao vender 3.500 unidades a empresa Goiabeira cobre todos os seus custos e despesas e seu lucro é zero. Mas e se a meta da empresa fosse um lucro de R$ 4.500,00, quantas unidades precisaria vender? Conforme estudamos, o cálculo se dá a partir do ponto de equilíbrio financeiro. Veja: CF + Lucro mínimo R$ 10.500,00 + R$ 4.500,00Q = 5.000 unidades P - CV R$ 6,80 - R$ 3,80un = = Vamos conferir? www.esab.edu.br 140 DRE Goiabeira Unitário 5.000 uni. (+) Receita (-) Custos/Despesas Variáveis (=) Margem de contribuição (-) Custos/Despesas Fixos (=) Lucro Operacional R$ - R$ R$ 6,80 3,80 3,00 R$ - R$ R$ - R$ R$ 34.000,00 19.000,00 15.000,00 10.500,00 4.500,00 Quadro 19 – Demonstração do Resultado do Exercício no ponto de equilíbrio financeiro da empresa Goiabeira. Fonte: Elaborado pela autora (2013). Percebemos que, ao vender 5.000 unidades, a empresa Goiabeira atinge um lucro de R$ 4.500,00. A seguir, vamos analisar o cálculo do grau de alavancagem operacional da empresa. Preparado? 24.3 Expor a formulação do grau de alavancagem operacional O grau de alavancagem operacional mede a capacidade que a empresa tem de transformar suas vendas em lucro. Para calcular o grau de alavancagem operacional da empresa Goiabeira, vamos considerar sua Demonstração do Resultado do Exercício quando ela vende 5.000 unidades e aplicar um aumento de 50% nas vendas. Confira no Quadro 20. Lembre-se, para um aumento de 50% basta multiplicar o valor por 1,5. DRE Goiabeira 5.000 uni. Aumento 50% (+) Receita (-) Custos/Despesas Variáveis (=) Margem de contribuição (-) Custos/Despesas Fixos (=) Lucro Operacional R$ - R$ R$ - R$ R$ 31.000,00 19.000,00 15.000,00 10.500,00 4.500,00 R$ - R$ R$ - R$ R$ 51.000,00 28.500,00 22.500,00 10.500,00 12.000,00 Quadro 20 – Demonstração do Resultado do Exercício da empresa Goiabeira com aumento de 50% nas vendas. Fonte: Elaborado pela autora (2013). www.esab.edu.br 141 Perceba que as vendasaumentaram em 50% (R$ 34.000,00 x 1,5), conforme o enunciado. O lucro aumentou em R$ 7.500,00 ou 166,67% R$ 7.500,00 ( 100) R$ 4.500,00 × . Dessa forma, podemos calcular o GAO da empresa: Variação percentual do Lucro 166,6%GAO = 3,33 Variação percentual das Vendas 50% = = Isso significa dizer que a empresa aumenta as vendas e os lucros na proporção de 1:3,33 (1 para 3,33), ou seja, para cada aumento de 1% no volume de vendas, seu lucro aumenta em 3,33%. Esse é o grau de alavancagem operacional da empresa Goiabeira. Essa foi a aplicação prática dos conceitos relacionados ao tema Custo/ Volume/Lucro e alavancagem operacional. Espero que você esteja pronto para aplicá-los na empresa que trabalha. Na próxima unidade, vamos estudar a política de dividendos da empresa. Você sabe o que é isso? Então, vamos em frente. Bons estudos. www.esab.edu.br 142 Resumo Na unidade 19 estudamos a administração do passivo circulante, abrangendo os passivos espontâneos das empresas, os termos de crédito concedidos pelos fornecedores de crédito, bem como algumas alternativas de fontes de financiamento de curto prazo para as empresas. Na unidade 20 calculamos os indicadores de atividades do capital de giro, abordando os prazos médios de estocagem, de recebimento e de pagamento. Depois, calculamos o giro dos estoques e o giro das contas a receber, que mostram quantas vezes tais contas se renovam na empresa, para que, na unidade 21, pudéssemos resolver um caso prático aplicando todos esses conceitos assimilados e finalizando nossos estudos sobre o capital de giro. Na unidade 22 estudamos o conceito de Custo/Volume/Lucro, também conhecido como ponto de equilíbrio operacional da empresa. Construímos a Demonstração do Resultado do Exercício pelo método do custeio variável e entendemos que, no ponto de equilíbrio operacional, as vendas conseguem cobrir todos os custos e despesas e o lucro é zero. Para adicionar um lucro mínimo esperado, calculamos o ponto de equilíbrio financeiro. Na unidade 23 aprendemos sobre a alavancagem operacional e sua principal causa: a existência de custos fixos na estrutura de custos das empresas. Além disso, calculamos o grau de alavancagem operacional, que mede a capacidade da empresa transformar suas vendas em lucro. Por fim, com base nesses conceitos, na unidade 24 resolvemos um caso prático, analisando custos e despesas fixos e variáveis, calculando o ponto de equilíbrio operacional e financeiro e identificando o grau de alavancagem operacional da empresa. www.esab.edu.br 143 25 Política de dividendos Objetivo Entender a importância da política de dividendos nas decisões financeiras. Uma organização de produção, comercialização ou prestação de serviços, normalmente, está voltada para a busca de resultados financeiros, traduzidos pelos lucros. Esses lucros pertencem aos proprietários, os quais investiram recursos financeiros na empresa e assumiram um risco em relação a ela. Porém, os proprietários devem retirar todo o lucro que a empresa gerou? É sobre essa questão que trata a política de dividendos da empresa, ou seja, é a política para a distribuição dos lucros aos proprietários de cada organização. Na unidade 24 encerramos o tema que trata da análise custo-volume-lucro e da alavancagem operacional. Agora, vamos discutir sobre a distribuição dos lucros gerados na alavancagem de cada empresa. Nesta unidade, vamos conhecer, com base em Gitman (2010) e Groppelli e Nikbakht (2010), os fundamentos dos dividendos, os argumentos quanto à sua relevância e os fatores que afetam a política de dividendos. 25.1 Fundamentos dos dividendos Ao gerar lucros em uma empresa, o administrador financeiro tem duas alternativas sobre o destino desses recursos: • retenção dos lucros – reinvesti-los na empresa, com novos projetos de investimento ou aperfeiçoamento dos já existentes. Ao reinvestir os lucros, estes passam a ser uma nova fonte de financiamento para a empresa; • distribuição dos lucros – distribuí-los aos proprietários em forma de dinheiro. Ao distribuir aos proprietários, acontece uma saída de caixa na empresa. www.esab.edu.br 144 De acordo com Gitman (2010, p. 514), “[...] os dividendos esperados em dinheiro constituem a principal variável com a qual os proprietários e os investidores determinam o valor da ação”. Segundo Gitman (2010), a distribuição dos lucros representa uma fonte de fluxo de caixa para os proprietários e fornece informações sobre o desempenho atual e futuro da empresa. Já a retenção – o lucro que não é distribuído aos proprietários sob a forma de dividendos – representa um financiamento interno; assim, a decisão de pagar dividendos afeta as necessidades de financiamento externo da empresa de maneira significativa. Em reuniões trimestrais ou semestrais, o conselho de administração decide sobre o pagamento ou não, e o montante a ser desembolsado. O desempenho financeiro do exercício encerrado e o panorama futuro, além dos dividendos pagos recentemente, são dados cruciais para essa tomada de decisão. A data de pagamento dos dividendos, caso sejam anunciados, também precisa ser estabelecida. (GITMAN, 2010, p. 514) Como você pode notar, decidir sobre a política de dividendos tem um importante impacto sobre as finanças da empresa, principalmente em termos de caixa. Veremos, a seguir, a importância da política de dividendos. Acompanhe! 25.2 Importância da política de dividendos Você sabe por que devemos estudar a política de dividendos na administração financeira? Porque a política de dividendos de uma empresa exerce uma influência significativa na determinação do valor dessa empresa. Os proprietários visualizam os dividendos como um sinal da capacidade da empresa na geração de lucros (GROPPELLI; NIKBAKHT, 2010). Groppelli e Nikbakht (2010) afirmam que, embora alguns acadêmicos defendam que a decisão de distribuir dividendos independe das decisões de investimento, os dividendos podem, indiretamente, influenciar os planos de financiamento externos dos administradores financeiros. Por exemplo, decidir sobre distribuir dividendos elevados reduzirá os recursos internos que poderiam ser reinvestidos na empresa, além de requerer caixa suficiente da organização para esse pagamento. Isso pode forçar a empresa www.esab.edu.br 145 a necessitar de fontes de financiamentos externas que possuem um custo normalmente exemplificado pelos juros pagos. Assim, para Groppelli e Nikbakht (2010), os administradores financeiros buscam manter o equilíbrio entre pagar um dividendo razoável aos proprietários – para que estes mantenham a lealdade – e reinvestir os lucros – para assegurar o futuro crescimento e maximizar o preço das ações da empresa. Dessa forma, com o objetivo de manter um equilíbrio entre a distribuição e a retenção dos lucros, é importante que o administrador financeiro analise alguns fatores que influenciam nessa decisão. No próximo tópico vamos ver quais são eles. Saiba mais Você sabia que as Sociedades Anônimas, ou as S/ As, são obrigadas a distribuir, no mínimo, 25% do seu lucro? Para saber mais sobre a interferência dessa legislação na política de dividendos das empresas brasileiras acesse o link clicando aqui, do Valor Econômico. 25.3 Fatores que afetam a política de dividendos Geralmente, os dividendos são pagos trimestralmente. Esses pagamentos podem ser em montantes elevados ou pequenos, dependendo das condições da economia, de cada setor e da própria empresa. Segundo Groppelli e Nikbakht (2010), algumas empresas são incluídas em setores que, normalmente, pagam dividendos baixos – no caso, tratam-se de empresas que estão mais estáveis no mercado –, enquanto outras são incluídas em setores nos quais se costuma pagar altos valores em dividendos devido às suas características, comoempresas que desenvolvem tecnologias de ponta e que assumem grandes riscos nos seus investimentos. No geral, as organizações com crescimento estável de lucros pagam maiores dividendos que as de crescimento de lucros cíclicos e instáveis. www.esab.edu.br 146 Cada empresa tem a sua própria política de dividendo determinada pelos dirigentes, que avaliam a situação financeira da organização e analisam suas necessidades de investimento. Os gestores projetam os lucros futuros, bem como o fluxo de caixa da empresa e, com base nessas informações e em outras considerações, declaram um determinado montante de dividendos em dinheiro por ação. Dica Ao acessar o site de qualquer Sociedade Anônima com o capital aberto na Bolsa de Valores de São Paulo, você pode consultar, no link relacionado aos investidores, o Estatuto Social da empresa e conferir sua política de dividendos. Há quem diga que o valor de uma empresa não é afetado pelo pagamento dos dividendos ou pelas mudanças em sua política. Segundo Groppelli e Nikbakht (2010), os principais defensores dessa teoria, Modigliani e Miller, [...] apresentaram um argumento teórico baseado nos pressupostos da existência de mercados de capitais perfeitos e da inexistência de impostos. Naturalmente, eles perceberam que impostos e outros fatores são condições do mundo real que podem tornar os dividendos um aspecto significativo de avaliação. O argumento deles, contudo, é valioso, pois produz um diálogo frutífero sobre um assunto importante. (GROPPELLI; NIKBAKHT, 2010, p. 223-224) Dessa forma, considerando as limitações dos estudos de Modigliani e Miller, podemos considerar que a política de dividendos é um importante fator que atrai ou repele novos investidores e, consequentemente, influencia no valor da empresa no mercado. Nesta unidade, estudamos sobre uma importante decisão financeira: reter ou distribuir os lucros, ou seja, a política de dividendos da empresa que, por sua vez, interfere nas decisões de financiamento do administrador financeiro. A partir da unidade 26 vamos iniciar nossos estudos sobre o processo de planejamento e controle financeiro. www.esab.edu.br 147 26 Planejamento e controle financeiro Objetivo Conceituar o planejamento e controle financeiro. Quantas vezes já ouvimos falar que as empresas fecham suas portas por falta de planejamento financeiro? Muitas, certo? Os problemas financeiros decorrentes dessas organizações provêm, em muitos casos, da falta de conhecimento do gestor em relação à sua situação financeira. Todos os elementos estudados até aqui servem de base para planejar as finanças da empresa. Na unidade 25 vimos a política de dividendos da empresa, que, por exemplo, deve estar prevista no plano financeiro, pois gera saídas de caixa. Nesta unidade, vamos conceituar o planejamento e o controle financeiro e discutir sua importância nas organizações, com base em Gitman (2010) e Groppelli e Nickbaht (2010). 26.1 Planejamento financeiro de longo e curto prazo O planejamento financeiro pode ser abordado de acordo com sua projeção no tempo e o impacto que causa a toda empresa. Dessa forma, vamos analisar dois tipos de planejamento financeiro: de longo e de curto prazo. Os planos financeiros de longo prazo (estratégicos) expressam as ações financeiras planejadas por uma empresa e o impacto previsto dessas ações ao longo de períodos que vão de dois a dez anos. São comuns planos estratégicos de cinco anos, revistos à medida que novas informações relevantes tornam-se disponíveis. De modo geral, as empresas sujeitas a alto grau de incerteza operacional, a ciclos de produção relativamente breves, ou a ambos, tender a usar horizontes de planejamento mais curtos. (GITMAN, 2010, p. 106) www.esab.edu.br 148 Gitman (2010, p. 106) indica que [...] os planos financeiros de longo prazo fazem parte da estratégia da empresa que, juntamente com os planos de produção e marketing, orientam a empresa [e seus funcionários] em direção a suas metas estratégicas”. Esses planos podem abordar propostas de investimento em ativo imobilizado, atividades de pesquisa e desenvolvimento, ações de marketing e desenvolvimento de produtos, estrutura de capital e principais fontes de financiamento. Além disso, podem abordar encerramento de projetos, linhas de produto, de negócios existentes ou até outros mercados, amortização de dívidas, entre outras decisões que impactam na empresa no longo prazo. Os planos financeiros de curto prazo (operacionais) especificam ações financeiras de curto prazo e o impacto previsto. Esses planos geralmente cobrem períodos de um ou dois anos. As principais informações usadas são a previsão de vendas e diversos dados operacionais e financeiros (GITMAN, 2010, p. 107). Ou seja, os planos financeiros operacionais têm como objetivo informar aos gestores as metas e os planos para o próximo ano, por exemplo. O processo de planejamento financeiro de curto prazo encontra-se representado na Figura 6. www.esab.edu.br 149 Balanço patrimonial do período corrente Plano de investimento em ativo imobilizado Orçamento de caixa Plano de �nanciamento de longo prazo Informações necessárias Resultado para análise Previsão de vendas Planos de produçao Demonstração do resultado pró-forma Balanço Patrimonial pró-forma Figura 6 – Planejamento financeiro de curto prazo. Fonte: Gitman (2010, p. 107). Note, na Figura 6, que o planejamento de curto prazo começa com a projeção das vendas (estimativa de vendas futuras). A partir daí, as empresas desenvolvem planos de produção que levam em conta os prazos de fabricação e incluem estimativas das necessidades de matérias-primas. Os planos de produção permitem à empresa estimar as despesas de custo fixo, as referentes à folha de pagamento e as despesas operacionais. Depois de realizadas essas estimativas, a organização pode elaborar uma demonstração do resultado do exercício pró-forma e um orçamento de caixa. Com essas informações básicas, pode, finalmente, desenvolver um balanço patrimonial pró-forma, ou seja, um balanço patrimonial projetado para que o gestor financeiro tenha uma visualização clara de como ficará a empresa caso o plano se concretize. Agora que já sabemos que o planejamento financeiro se dá no curto e no longo prazo, vamos discutir a importância de elaborá-lo. www.esab.edu.br 150 26.2 A importância do planejamento financeiro Segundo Groppelli e Nikbakht (2010), o planejamento financeiro é o processo que permite calcular o financiamento que uma empresa necessita para dar continuidade às suas operações e que decide quando e como a necessidade de recursos será financiada. Os autores, ao referirem-se ao planejamento financeiro, argumentam que sem um procedimento confiável para estimar as necessidades de financiamento uma empresa pode acabar não tendo recursos financeiros suficientes para saldar os seus compromissos, tais como salários a pagar, fornecedores, despesas de aluguel, impostos e taxas de serviços públicos. Uma empresa que não cumpre com as suas obrigações financeiras tem sérios problemas de crédito no mercado, prejudicando ainda mais a situação. Assim, os autores afirmam que a falta de um planejamento financeiro sólido e confiável pode causar a falta de liquidez e, por conseguinte, a falência da empresa. É importante entender claramente que o aumento de vendas e investimentos rentáveis não garantem o sucesso e a solvência de uma organização. Para Groppelli e Nickbakht (2010), a crise de liquidez, ou seja, a falta de dinheiro para cumprir com as obrigações financeiras, sempre representa perigo para uma empresa. Esse problema pode ainda ser agravado quando o crédito é restringido, como para as pequenas empresas, já que, normalmente, grandes corporações possuem amplas alternativasde financiamento. Porém, isso não significa que as grandes empresas não enfrentem esse tipo de problema. Mesmo as contas a receber, provenientes das vendas a prazo, não têm liquidez, a menos que sejam prontamente transformadas em caixa. Inclusive, um aumento extraordinário no índice de vendas da empresa não a protege de uma possível falência. O administrador financeiro precisa fazer um planejamento financeiro metódico para analisar as necessidades futuras de financiamento. Além disso, a época dos diferentes tipos de financiamento também é crucial para o plano financeiro. Por exemplo, em um momento de elevação das taxas de juros, um empréstimo com juro fixo de longo prazo é preferível a um empréstimo de curto prazo. Quando se espera que as taxas de juros diminuam, um administrador financeiro preferirá captar no curto prazo e refinanciar o empréstimo a uma taxa de juros inferior, no momento em que as taxas tenham caído (GROPPELLI; NICKBAHT, 2010). www.esab.edu.br 151 Já sabemos que elaborar um planejamento financeiro é importante para manter o funcionamento e a liquidez da empresa. Porém, o planejamento não é eficaz se não tiver o devido acompanhamento, ou seja, o controle, que será estudado a seguir. Estudo complementar O plano de negócios é um instrumento bastante utilizado na elaboração do planejamento financeiro. Além de projeção de vendas, custos e despesas, ele traz um panorama da empresa no mercado e um diagnóstico da sua situação. Para conhecer esse instrumento, o SEBRAE disponibiliza um manual prático para construí-lo. Acesse o site clicando aqui e desfrute de todas as dicas. 26.3 O controle financeiro O controle financeiro está intimamente relacionado ao seu planejamento. Depois de estimar e projetar vendas, custos, despesas e demonstrações financeiras, o administrador deve acompanhar esse plano, isto é, deve controlá-lo. Um acompanhamento permitirá que haja uma visualização clara das metas estipuladas no planejamento. Caso as vendas estejam abaixo das estimativas programadas, é preciso rever todo o processo orçamentário, o que também ocorre quando as vendas ultrapassam as metas estabelecidas. Além disso, qualquer mudança no ambiente externo da empresa requer alterações no processo de planejamento. A utilização de indicadores financeiros, que você estudou nas unidades 6 a 9, também auxilia na avaliação financeira da empresa frente ao plano seguido. Nesta unidade, introduzimos o tema referente ao planejamento e controle financeiro. Nas próximas unidades vamos adentrar nossos estudos no instrumento que realiza esse planejamento: o orçamento. www.esab.edu.br 152 Você já ouviu falar no processo orçamentário de uma empresa? Então vamos descobrir do que esse tema trata. Tarefa dissertativa Caro estudante, convidamos você a acessar o Ambiente Virtual de Aprendizagem e realizar a tarefa dissertativa. www.esab.edu.br 153 27 Introdução ao orçamento Objetivo Conhecer o orçamento, seu conceito, seus objetivos, suas características e ciclo orçamentário. Após a elaboração do planejamento estratégico (de longo prazo), passa- se à elaboração de planos de ação (curto prazo), conforme estudamos na unidade 26. Cada área funcional da empresa, como produção, vendas e recursos humanos, refletirá seu papel no futuro da organização, materializando-se em ações, as quais se pretende desenvolver, para alcançar objetivos no curto e no longo prazo. O componente final do plano de ação é o orçamento; estudaremos os seus principais conceitos nesta unidade com base em Lunkes (2011). 27.1 O que é o orçamento? O orçamento refere-se ao componente final do planejamento estratégico da empresa. Na Figura 7 você pode observar como se dá o processo do planejamento estratégico até a elaboração do orçamento. www.esab.edu.br 154 1. Identi�cação dos objetos Processo de planejamento estratégico 2. Identi�cação do potencial e curso de ação (estratégias) 3. Avaliação das alternativas e opções estratégicas 4. Seleção das alternativas e curso de ação 5. Implementação dos planos de longo prazo na forma de orçamento anual 6. Monitoração dos resultados obtidos 7. Correção de divergências do plano Processo orçamentário anual Figura 7 – Passos na elaboração e implementação do planejamento estratégico. Fonte: Adaptado de Drury (1996, p. 464 apud LUNKES, 2011). Como você pode observar na Figura 7, o processo de planejamento estratégico envolve desde a identificação dos objetivos da organização, a identificação do potencial e curso de ação, a avaliação das alternativas e opções estratégicas, até a seleção de qual alternativa e curso de ação serão desenvolvidos na empresa. A partir daí, o planejamento foca-se em um aspecto operacional, ou seja, de curto prazo. O processo orçamentário anual envolve a implementação dos planos de longo prazo na forma de orçamento anual (previsão de receitas e gastos gerais), de monitoração (controle) dos resultados obtidos e de correção de divergências do que foi planejado. Porém, o que é necessariamente um orçamento? Temos alguns conceitos retirados de Lunkes (2011, p. 38): [...] Welsch (1973, p. 27) define o orçamento como um plano administrativo que abrange todas as fases das operações para um período futuro definido. É a expressão formal das políticas, planos, objetivos e metas estabelecidas pela alta administração para a empresa como um todo, bem como para uma de suas subdivisões. [...] Zdanowicz (1983, p. 20) também define orçamento como um instrumento que descreve um plano geral de operações e/ou de investimentos por determinado período, orientado pelos objetivos e metas propostas pela alta administração. www.esab.edu.br 155 Podemos observar que o orçamento, para os autores citados, diz respeito a um plano financeiro. A seguir vamos estudar quais os objetivos e as características necessárias a um processo orçamentário. 27.2 Os objetivos e características do orçamento Os orçamentos são essenciais para o planejamento e o controle das empresas. Brookson (2000 apud LUNKES, 2011) lista seis objetivos que são cumpridos pelo orçamento quando aplicados em organizações. Podemos acompanhar esses objetivos no Quadro 21. Objetivos Descrição PLANEJAMENTO Auxiliar a programar atividades de um modo lógico e sistemático que corresponda à estratégia de longo prazo da empresa. COORDENAÇÃO Ajudar a coordenar as atividades das diversas partes da organização e garantir a consistência dessas ações. COMUNICAÇÃO Informar, mais facilmente, os objetivos, oportunidades e planos da empresa aos diversos gerentes de equipes. MOTIVAÇÃO Fornecer estímulo aos diversos gerentes para que atinjam metas pessoais e da empresa. CONTROLE Controlar as atividades da empresa por comparação com os planos originais, fazendo ajustes onde necessário. AVALIAÇÃO Fornecer bases para a avaliação de cada gerente, tendo em vista suas metas pessoais e as de seu departamento. Quadro 21 – Os seis objetivos do orçamento. Fonte: Brookson (2000, p. 9 apud LUNKES, 2011, p. 41). Os objetivos de planejamento, coordenação, comunicação, motivação, controle e avaliação ajudam a coordenar as ações dos gestores de diferentes áreas, estabelecendo um compromisso com os objetivos da empresa. Além dos seus objetivos listados, Zdanowicz (1983 apud LUNKES, 2011) enfatiza que o processo orçamentário deve, necessariamente, apresentar as seguintes características: • projeção de futuro – o orçamento visa um período futuro. O objetivo é pensar as finanças e programa-las; www.esab.edu.br 156 • flexibilidade na aplicação – deve-se evitar a falta de flexibilidade no processo orçamento devido às mudanças ocorridas tanto no ambiente interno e externo da empresa ao longo do tempo; e • participação direta dos responsáveis – implementarum orçamento requer envolvimento e compromisso de todos os participantes do processo. Tung (1994 apud LUNKES, 2011) complementa, citando outras caraterísticas do orçamento: um grau de acerto razoável, a adaptabilidade ao ciclo operacional da empresa e a capacidade de demonstrar com rapidez pontos críticos e indicar soluções por meio de relatórios emitidos à direção da empresa. Todos esses objetivos e características do orçamento devem ser elaborados e revistos sucessivamente. É o que chamamos de ciclo orçamentário, tema que será estudado a seguir. 27.3 Ciclo orçamentário De acordo com Horngren, Foster e Datar (1997 apud LUNKES, 2011, p. 41), as empresas bem administradas normalmente têm o seguinte ciclo orçamentário: • Planejamento do desempenho da empresa como um todo, assim como as respectivas subunidades. Todos os gestores concordam com o que é esperado deles; • Estabelecimento de um parâmetro de referência, isto é, um conjunto de expectativas específicas com relação às quais os resultados reais possam ser comparados; • Análise das variações dos planos, seguida, se necessário, das respectivas ações corretivas; • Replanejamento, levando em consideração o feedback e a mudança das condições. O ciclo orçamentário indica que o orçamento não é um processo estático, ou seja, o ciclo orçamentário deve ser realizado ininterruptamente: a empresa deve sempre planejar e controlar, acompanhando as variações e reprogramando as suas finanças de acordo com as mudanças ocorridas. www.esab.edu.br 157 Nesta unidade, pudemos conhecer os principais conceitos, objetivos, características e o ciclo do orçamento. Com essa introdução, vamos nos aprofundar no tema na unidade 28, identificando a estrutura e as etapas do processo orçamentário. Atividade Chegou a hora de você testar seus conhecimentos em relação às unidades 19 a 27. Para isso, dirija-se ao Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e responda às questões. Além de revisar o conteúdo, você estará se preparando para a prova. Bom trabalho! www.esab.edu.br 158 28 Estrutura e processo orçamentário Objetivo Definir a estrutura de um processo orçamentário e suas etapas. Na unidade 27 pudemos entender um pouco mais sobre o processo orçamentário como um plano financeiro que busca dar liquidez à empresa, necessitando de comprometimento de todos os responsáveis para que as metas propostas possam ser cumpridas. Além disso, estudamos que o processo orçamentário não é estático, ou seja, ele precisa ser revisto periodicamente para se adequar às mudanças ocorridas no mercado e na empresa. Nesta unidade, vamos prosseguir nossos estudos acerca do orçamento, discutindo a respeito da estrutura e do processo orçamentário. Esse tema é importante para iniciar o processo de construção do orçamento. Para isso, vamos começar discutindo a estrutura básica do orçamento, nos fundamentando nas ideias de Lunkes (2011). 28.1 Estrutura básica do orçamento Em relação à estrutura básica do orçamento, segundo Lunkes (2011), ela é formada pelas projeções financeiras dos orçamentos individuais de cada unidade da empresa, podendo ser dividida por departamento, por produto ou por mercado, e de um conjunto de orçamentos para determinado período futuro, normalmente um ano, abrangendo o impacto tanto das decisões operacionais quanto das decisões financeiras. Na Figura 8 podemos visualizar um exemplo de orçamento global. www.esab.edu.br 159 Orçamento de vendas/receitas Orçamento peracional Orçamento de fabricaçãoOrçamento doestoque �nal Orçamento dos custos dos materiais diretos Orçamento dos custos de mão de obra direta Orçamento das despesas: Orçamento dos custos indiretos de fabricação Orçamento de capital Balanço patrimonial orçado Orçamento de caixa Orçamento do custo dos produtos vendidos Demonstração do resultado orçada Orçamento �nanceiro Pesquisa de desenvolvimento Vendas e marketing Distribuição Administraçao Outros Figura 8 – Exemplo de orçamento global. Fonte: Lunkes (2011, p. 43). Como pode ser observado no esquema da Figura 8 e de acordo com Lunkes (2011), o orçamento operacional possui relação com o orçamento global, aparecendo em primeiro plano. O orçamento operacional é constituído por: orçamento dos custos indiretos de fabricação, orçamento de vendas, orçamento de fabricação, orçamento da mão de obra direta, orçamento de custos dos materiais, orçamento do estoque final e orçamento das despesas departamentais. www.esab.edu.br 160 Já o orçamento financeiro fica em segundo plano, sendo composto por: orçamento de capital, orçamento de caixa, Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado projetado. Se por um lado as decisões operacionais têm por objetivo a aquisição e a utilização de recursos escassos, as decisões financeiras procuram conquistar meios para adquiri-los. O orçamento global, ilustrado na Figura 8, é um resumo geral de toda a estrutura orçamentária. Após a elaboração dessa estrutura, que será desmembrada ao longo das próximas unidades, é necessário implementar o orçamento. Esse é o tema do próximo tópico. 28.2 Implementação do orçamento Implementar um orçamento é uma das partes mais importantes do processo orçamentário e, por isso, exige atenção e comprometimento de todos os agentes que serão envolvidos com os dados operacionais e financeiros no processo. Outro elemento fundamental na implementação do orçamento é um sistema de informação normalmente informatizado. Welsch (1883 apud LUNKES, 2011) concorda com isso ao dizer que o processo orçamentário exige da empresa um sistema de informação, com dados contábeis e históricos adequados, apropriados e confiáveis. Para Zdanowicz (1983 apud LUNKES, 2011), na implementação do orçamento a empresa deve ter, no mínimo, estrutura organizacional definida, contabilidade aberta e informatizada e fixação de objetivos, como mostra a Figura 9. www.esab.edu.br 161 Objetivos operacionais Taxa interna de retorno; Participação no mercado global; Controle ambiental; Maximização do lucro etc. Estrutura organizacional Níveis hierárquicos existentes; Interdependência dos órgãos subordinados; Linhas de comunicação ascendentes e descendentes; Delegação de autoridades e cobrança de responsabilidade. Contabilidade aberta e informatizada Voltada para o aspecto gerencial; Possibilitar o controle orçamentário; Atender além dos aspectos gerenciais, legais, acionistas etc; Análise dos fatores macroeconômicos Situação geral da economia; Tendência da política governamental; Evolução do setor em que atua a empresa; Evolução da taxa de in�ação; Evolução do real em relação ao dólar; Mercado de trabalho; Tendência dos preços dos produtos, tendências da MP (preços, qualidade, riscos de fornecimento); Taxa de juros, entre outras. Condições para implementação Figura 9 – Condições para implementação do orçamento. Fonte: Zdanowicz (1983, p. 22 apud LUNKES, 2011, p. 45). Como você pode notar na Figura 9, Zdanowicz (1983, apud LUNKES, 2011) desdobra cada um dos quatro elementos que julga essenciais na empresa para a implementação do orçamento. Isso significa que, na implementação do orçamento, a empresa necessita, no mínimo, de organização e estrutura. Essa condição é essencial para que o processo orçamentário tenha bases para ser executado. A seguir vamos discutir as vantagens e as desvantagens de se implementar essa ferramenta de gestão. www.esab.edu.br 162 Para sua reflexão As micro e pequenas empresas, normalmente com recursos financeiros limitados, dificilmente apresentam estruturados os quatro elementos apresentados por Zdanowicz (apud LUNKES, 2011). Por outro lado, por terem recursosfinanceiros escassos, seria essencial a implementação de um processo orçamentário para o planejamento e o controle das finanças. Reflita como esses dados contraditórios são frequentemente encontrados na realidade da maioria das empresas brasileiras. A resposta a essa reflexão forma parte de sua aprendizagem e é individual, não precisando ser comunicada ou enviada aos tutores. 28.3 Vantagens e limitações do orçamento O processo orçamentário apresenta inúmeras vantagens na sua implementação e execução. Entre elas, Sanvicente (2000, apud LUNKES, 2011, p. 46-47) elenca algumas: • A existência e a utilização do sistema para que sejam concretamente fixados objetivos e políticas para a empresa e suas unidades; • Por meio de uma integração de diversos orçamentos parciais num orçamento global, este sistema de planejamento força todos os membros da administração a fazerem planos de acordo com os planos de outras unidades da empresa; • Obriga os gestores a quantificarem e datarem as atividades pelas quais serão responsáveis, em lugar de se limitarem a compromissos com metas ou alvos vagos e imprecisos; • Reduz o envolvimento dos altos administradores com as operações diárias, por meio de delegação de poderes e de autoridade que se refletem nos orçamentos de diferentes unidades operacionais; www.esab.edu.br 163 • Identifica os pontos de eficiência ou ineficiência no desempenho das unidades da empresa e permite acompanhar em que termos está havendo progresso para a consecução dos objetivos gerais e parciais da empresa; e • A preparação de um orçamento para toda a empresa tende a melhorar a utilização dos recursos a ela disponíveis, bem como ajustá-los às atividades consideradas prioritárias, para que sejam alcançados seus objetivos. Apesar das inúmeras vantagens que o orçamento traz para a empresa, ele também pode apresentar algumas limitações, conforme apresenta Lunkes (2011): • os dados contidos nos orçamento são estimativas e estão sujeitos a eventos internos e externos à empresa como, por exemplo, mudança dos hábitos do consumidor; • alguns dados são difíceis de serem estimados: movimento da clientela, patamar de juros, nível de aceitação dos sindicados, entre outros; e • o processo orçamentário leva um tempo extraordinariamente longo para ser implementado, requerendo a contribuição de todos. Essas limitações devem ser analisadas cuidadosamente pelos responsáveis pelo processo orçamentário, uma vez que o sucesso ou o fracasso dependem, consideravelmente, da previsão correta e das estimativas acertadas. Saiba mais O artigo “As 10 maiores armadilhas do orçamento”, da Revista HSM, traz um elenco de elementos com os quais o gestor financeiro deve ter atenção no processo orçamentário. Você pode ler o artigo na íntegra clicando aqui. Nesta unidade, continuamos nossos estudos sobre o orçamento e conhecemos a estrutura básica do instrumento, sua implementação e algumas de suas vantagens e desvantagens. Na unidade 29 vamos aprofundar nossos estudos adentrando em uma das principais etapas do processo orçamentário: o orçamento das vendas. Vamos lá? www.esab.edu.br 164 29 Orçamento de vendas Objetivo Elaborar o orçamento para as vendas. Nas unidades 27 e 28 introduzimos o tema do processo orçamentário nos nossos estudos. Vimos alguns conceitos, objetivos, características, etapas e a implementação do orçamento global. Nesta unidade, vamos desdobrar esse orçamento global em suborçamentos e o primeiro deles é o orçamento de vendas, que dará todo o suporte para o restante do processo. Para estudar o orçamento de vendas vamos utilizar Gitman (2010) e Lunkes (2011). 29.1 Conceito do orçamento de vendas O ponto de partida para qualquer orçamento empresarial é a elaboração do orçamento de vendas. Gitman (2010) corrobora afirmando que a previsão das vendas é a principal informação de base para o processo orçamentário e que essa previsão de vendas, ao longo de um dado período, costuma ser elaborada pelo departamento de marketing. É com base no orçamento de vendas que o administrador financeiro irá programar todos os outros suborçamentos que envolvem produção, venda e fluxos de caixa estimados, além do nível de ativo imobilizado necessário e o montante de financiamento para sustentar o nível de vendas (GITMAN, 2010). Sanvicente e Santos (2000 apud LUNKES, 2011) afirmam que o orçamento de vendas constitui um plano de vendas futuras da empresa para determinado período de tempo. O orçamento de vendas estima as quantidades de cada produto que a empresa planeja vender, além do preço de cada um deles, com base nos custos da empresa, o praticado www.esab.edu.br 165 no mercado e a margem de lucro objetivada. O orçamento de vendas também determina os valores da receita total que será obtida, as condições dessa venda (termos de crédito, estudados na unidade 14), se será à vista ou a prazo, como também desencadeia os dados seguintes para elaboração do orçamento dos custos de fabricação, das despesas de venda, da distribuição dos produtos e das despesas administrativas. A projeção de vendas, segundo Gitman (2010), pode se basear em uma análise de dados externos, de dados internos ou uma combinação de ambos. A previsão externa contempla [...] as relações observadas entre as vendas da empresa e determinados indicadores econômicos externos fundamentais, como produto interno bruto (PIB), construção de novos imóveis residenciais, confiança do consumidor e renda pessoal disponível. (GITMAN, 2010, p. 108) Já a previsão interna está relacionada às [...] previsões consensuais de vendas dos canais da própria empresa. Normalmente, pede-se aos vendedores que estimem quantas unidades de cada tipo de produto esperam vender no ano vindouro. Essas previsões são coletadas e totalizadas pelo gerente de vendas, que pode ajustá-las com base no conhecimento que tem de mercados específicos ou da capacidade de precisão dos vendedores. Finalmente, alguns ajustes podem ser feitos com base em fatores internos, como capacidade de produção (GITMAN, 2010, p. 108). A Figura 10 traz alguns exemplos adicionais em termos de fatores internos e externos, necessários para a projeção das vendas. Fatores internos Produção Vendas e marketing P&D e engenharia Gestão e �nanças Outros Fatores externos Mercado Competitivos Econômicos e governamentais Tecnológico Sociais e culturais Figura 10 – Fatores internos e externos para a projeção das vendas. Fonte: Lunkes (2011, p. 54). www.esab.edu.br 166 Uma combinação de variáveis internas e externas completa a análise para projetar as vendas para um período futuro. Quanto maior a quantidade de informações e, claro, a qualidade dessas informações, mais acertada será a previsão das vendas. Porém, alguns fatores limitam a elaboração do orçamento de vendas; vamos estudá-los a seguir. 29.2 Fatores limitadores do orçamento de vendas O orçamento de vendas baseia-se, basicamente, em estimativas, uma vez que é uma tentativa de projetar o futuro. Quantas unidades serão vendidas e a que preço? Essas são as questões primordiais que antecipam o orçamento de vendas. Por se tratar de futuro, não há garantias em relação a essas projeções. O que há é uma estimativa ou uma tentativa de se cumprir metas em termos de vendas. Além das limitações em termos de estimativas, Wood e Sangster (1996 apud LUNKES, 2011), citando algumas ações ou reações indesejáveis das pessoas em relação ao orçamento, mencionam que o gerente de vendas pode recusar o pedido de despesas extras, o que ocorre quando se deseja atender a um pedido urgente e inesperado por não estar previsto no orçamento. O orçamento não pode limitar a empresa em relação às tendências do mercado. Dito isso, vamos estudar, a seguir, os principaiscomponentes do orçamento de vendas. 29.3 Principais componentes do orçamento de vendas Antes de elaborar o orçamento de vendas, alguns componentes importantes devem ser analisados. A projeção das vendas é feita considerando: as condições econômicas que se aplicam aos produtos ou serviços os quais serão ofertados e o que se sabe sobre a ação da concorrência, além de informações internas da empresa, como seu histórico de vendas e sua capacidade de produzir. Na Figura 11 podemos observar, de forma sistematizada, tais componentes que formam o orçamento de vendas. www.esab.edu.br 167 Orçamento publicidade Orçamento salários Orçamento capital Orçamento distribuição Orçamento propaganda Orçamento promoção Plano geral de operações de vendas Projeção quantitativa do mercado Projeção qualitativa do mercado Projeção histórica e correlações Medidas de tendências Demanda por zonas Desenho do produto Promoção e publicidade Embalagem Embalagem Projeção de mercado (Quantitativa e �nanceira) Orçamento operacional de vendas Figura 11 – Orçamento das vendas e seus principais componentes. Fonte: Zdanowicz (1983, p. 63 apud LUNKES, 2011, p. 56). Como você pode notar, para se chegar ao orçamento das vendas há inúmeros componentes que servem de base para essa estimativa: projeção quantitativa do mercado, projeção histórica das vendas e suas correlações, medidas de tendências de consumo por parte dos consumidores, demandas por zonas, projeção qualitativa do mercado, desenho do produto, embalagem, promoção, publicidade e distribuição. Com a análise desses dados chega-se à projeção do mercado, a qual serve de base para a construção do orçamento operacional de vendas. www.esab.edu.br 168 O orçamento operacional de vendas desdobra-se para a construção de outros suborçamentos: orçamento de capital (ativos imobilizados como máquinas, equipamentos, imóveis, móveis etc.), orçamento dos salários, orçamento da publicidade do produto, orçamento da promoção, orçamento da propaganda e orçamento da distribuição. Vimos, nesta unidade, o primeiro passo no processo orçamentário: o orçamento de vendas. Depois de a quantidade a ser vendida em um período futuro ser projetada, passamos para o orçamento da produção dos produtos que pretendem ser vendidos. Esse tema é tratado na unidade 30. www.esab.edu.br 169 30 Orçamento de produção Objetivo Identificar os elementos que compõem o orçamento de produção. Depois de elaborar o orçamento de vendas, estudado na unidade 29, e definir a quantidade a ser vendida no período que se está orçando, passamos, agora, ao orçamento de produção, o qual busca responder ao seguinte questionamento: quanto deverá ser produzido no período orçado? Você poderá conferir nesta unidade, que a resposta a esse questionamento depende, diretamente, da política de estoque da empresa. Vamos estudar o orçamento de produção com base em Lunkes (2011). Preparado? 30.1 Conceito do orçamento de produção Assim que o orçamento de vendas estiver preparado e o administrador financeiro já tiver estimado quantas unidades de cada produto pretende vender, é hora de elaborar o orçamento de produção. De acordo com Lunkes (2011), o objetivo do orçamento de produção é assegurar um nível de fabricação suficiente para atender à demanda estimada no orçamento de vendas. O plano de produção, segundo Lunkes (2011), envolve: a programação de uso da capacidade instalada da empresa; a sua política de estoques (produtos acabados, produtos em elaboração e matérias-primas); o alinhamento com a projeção das necessidades de investimento para atender ao orçamento de vendas; a projeção dos custos variáveis e dos custos fixos, eventuais equipamentos ociosos e seu destino; os objetivos da produtividade considerada no orçamento; e outros aspectos possivelmente necessários. www.esab.edu.br 170 Antes de, efetivamente, elaborar o orçamento de produção, é necessário colher algumas informações que influenciam no processo de planejamento. A seguir, vamos conhecer esses requisitos para o orçamento de produção. 30.2 Requisitos fundamentais para o orçamento de produção Wood e Sangster (1996 apud LUNKES, 2011) descrevem que, nas estimativas de produção, deve-se levar em conta fatores como: • espaço de armazenamento dos estoques de materiais, produtos em processo e produtos acabados; • disponibilidade de mão de obra para elaboração dos produtos; • prazo de entrega dos materiais por parte dos fornecedores; e • capacidade de fabricação das máquinas e dos equipamentos e sua tecnologia. Zdanowicz (1983 apud LUNKES, 2011) completa esses fatores, dizendo também ser necessário considerar para a elaboração do orçamento de produção: o volume total de vendas, a política de estoque da empresa, a capacidade de produção, a adequação das instalações, a disponibilidade de matéria-prima e de mão de obra e a determinação das escalas ou lotes de produção. Podemos completar esses fatores alertando para a necessidade da capacidade de financiamento da empresa em capital de giro para a fabricação dos produtos. Todos esses fatores podem ser limitadores da produção da empresa. Ou seja, havendo demanda suficiente por parte do mercado, a organização produzirá somente até a sua capacidade de fabricação, a qual pode limitar-se à capacidade das máquinas, à disponibilidade de mão de obra, materiais, fornecedores, entre outros. Segundo Welsch (1983 apud LINKES, 2011), a elaboração de um orçamento global exige que as necessidades estabelecidas pelo orçamento de vendas sejam convertidas em termos das atividades auxiliares das www.esab.edu.br 171 outras funções principais da empresa. Devemos atentar-nos para o fato que a produção não segue, necessariamente, o volume de vendas. As vendas podem ser sazonais e a fabricação constante ou, ainda, as vendas podem ser constantes e a fabricação sazonal. O quanto deverá ser fabricado depende, basicamente, de duas informações: o quanto será vendido e qual é o nível de estoque desejado pela empresa. Segundo Sanvicente e Santos (2000 apud LUNKES, 2011), no orçamento de produção podem ser observadas diferentes alternativas de produção: • fabricação constante – a vantagem da fabricação constante é estabelecer maior constância nas atividades da empresa, principalmente em termos de mão de obra. A desvantagem é que, com essa alternativa, os níveis de estoques podem aumentar caso as vendas não acompanhem a fabricação; • fabricação ao nível das vendas – a principal vantagem quando a fabricação acompanha o nível de vendas é que os estoques da empresa diminuem e, consequentemente, os seus custos de armazenagem também diminuem; por outro lado, as atividades normais da empresa tornam-se inconstantes se as vendas forem sazonais, acarretando mão de obra ociosa ou até demissões em certos períodos de recesso do mercado; • fabricação por ciclos – na fabricação por ciclos, a fabricação é sazonal e programada; • política de estoques – quando a empresa define uma política de estoques, a fabricação acompanha o nível de vendas em conjunto com a quantidade a ser mantida como estoque. Sobanski (2000 apud LUNKES, 2011) afirma que, para se elaborar o orçamento de fabricação, são necessários alguns requisitos: • plano de vendas; • características relativas à armazenagem dos materiais; • escala econômica de fabricação; www.esab.edu.br 172 • capacidade máxima de fabricação da empresa; • duração e etapas do processo industrial; • lotes econômicos de fabricação; • utilização de mão de obra direta, em face da variação da fabricação; e • arranjos entre os programas de fabricação de produtos de diferentes sazonalidades. A definição do volume de produção, aliado à política de estoque, é o que veremosa seguir. 30.3 Cálculo do orçamento de produção Basicamente, o cálculo do volume de produção deve levar em consideração: • a quantidade a ser vendida; • o estoque inicial de produtos acabados; e • o estoque final de produtos acabados. Com base nisso, podemos definir que: Unidade a produzir = Vendas + Estoques - Estoque inicial. O total a ser produzido deve ser o total das vendas e o que a empresa deseja manter como estoque final, menos o estoque inicial, que já existe e não precisa ser fabricado. Exemplo Supondo que a empresa Alfa esteja programando um orçamento global para o ano de 2015. Ao elaborar o orçamento de vendas, com base nos dados do mercado e dados internos da empresa, estimou-se que o total a ser vendido no ano era de 500.000 unidades do seu único produto. Ao verificar o Balanço Patrimonial do dia 01/01/2015, conta que existem 50.000 unidades no estoque (estoque inicial) e, quando 2015 terminar, a empresa deseja manter 100.000 unidades no estoque (estoque final). Qual deverá ser o volume a ser fabricado em 2015? www.esab.edu.br 173 Aplicando a nossa fórmula temos: Unidades a produzir = Vendas + Estoque final - Estoque inicial. Unidades a produzir = 500.000 + 100.000 - 50.000 + 550.000 unidades. Ou seja, a empresa Alfa deverá estar preparada para a fabricação de 550.000 unidades no ano de 2015. Note que o volume a produzir é diferente do volume de vendas em função da política de estoque da empresa. Nesta unidade, estudamos o orçamento de produção, o seu conceito e os componentes que devem ser levados em consideração para a determinação da produção, além do cálculo do volume que deverá ser produzido. Na unidade 31 vamos calcular o custo da fabricação desses itens. www.esab.edu.br 174 Resumo Na unidade 25 falamos sobre a política de dividendos da empresa, relevante informação para a programação das finanças, principalmente do fluxo de caixa. Vimos que, na política de estoques, há duas importantes alternativas para a tomada de decisão: reter os lucros para novos investimentos – dessa forma, os lucros passam a ser uma fonte de financiamento para empresa –; e distribuir os lucros aos proprietários, o que gera uma saída de caixa da empresa. Na unidade 26 iniciamos nossos estudos sobre o planejamento e o controle financeiro, identificando o planejamento no curto e no longo prazo, além de discutir o controle como forma de acompanhar o que foi planejado em comparação ao que está sendo realizado. Com base nos conceitos de planejamento e controle financeiro, partimos, na unidade 27, para um instrumento muito utilizado nas finanças para realização desse plano: o orçamento. Conceituamos o orçamento como um plano administrativo que abrange todas as fases das operações para um período futuro definido. Na unidade 28 falamos sobre a estrutura e a implementação do processo orçamentário, além de discutir algumas vantagens e desvantagens que a sua implementação traz para o ambiente organizacional. Na unidade 29 iniciou-se o desdobramento das etapas do processo orçamentário com o orçamento de vendas. Falamos que o orçamento de vendas é o ponto de partida de todo o processo e leva em consideração variáveis internas e externas para a sua definição. Com base no orçamento de vendas é que a empresa irá programar todo o restante das suas atividades. www.esab.edu.br 175 Enfim, na unidade 30, estudamos o orçamento de produção, calculando o quanto deverá ser produzido, levando em consideração o volume de vendas e a política de estoques da empresa. www.esab.edu.br 176 31 Problema resolvido Objetivo Resolver um problema a fim de contextualizar os conceitos apresentados. Na unidade 29 estudamos o orçamento de vendas e vimos que ele baseia-se em uma análise do mercado e dos fatores internos à empresa, como a disponibilidade de mão de obra e a capacidade produtiva. Em seguida, na unidade 30, falamos sobre o orçamento de produção, o qual é derivado do orçamento de vendas e influenciado pela política de estoques da empresa. No orçamento de produção define-se o quanto será produzido em cada período para atender às vendas e às necessidades de manter estoques na empresa. A informação de quanto será produzido é levada para inúmeras áreas da empresa, por exemplo, o setor de recursos humanos, que precisa contratar e capacitar as pessoas para desenvolver a atividade; a área de compras, que precisa comprar todos os materiais necessários para produção; a área financeira, que precisa prever as entradas e saídas de caixa, garantindo a solidez financeira da empresa e assim por diante. Nesta unidade, vamos aplicar os conceitos aprendidos do orçamento de vendas e produção para o caso da empresa Global, com base em Lunkes (2011). Vamos considerar que a empresa Global produz e vende dois tipos de produtos para todo o território nacional: • Café Global Premium; e • Café Global Standard. Conforme destacou Lunkes (2011), uma das etapas do processo orçamentário consiste em elaborar o orçamento de vendas, ou seja, qual a estimativa das vendas para o período orçado. Essa previsão terá como base fatores internos e externos à organização. www.esab.edu.br 177 Com o objetivo de elaborar um orçamento para a empresa Global para os meses de janeiro, fevereiro e março de 2015, a área de marketing realizou um estudo de mercado para estimar as vendas da organização para o primeiro trimestre de 2015, além de analisar fatores internos à empresa. A seguir serão fornecidos os dados colhidos pelo departamento de marketing para estimar as vendas da Global. 31.1 Apresentar os dados de uma empresa quanto ao seu orçamento de vendas Com o objetivo de elaborar um orçamento para os meses de janeiro, fevereiro e março de 2015, foi solicitado ao departamento de marketing que fossem levantadas informações de mercado para estimar as vendas para o período futuro. Após algumas análises, constatou-se que: • o café de maior qualidade consumido no país é importado, o que faz com que os preços sejam bastante elevados, limitando a parcela da população que tem acesso a ele; • a região Sudeste é a maior consumidora de café, com um mercado bastante aquecido; • há inúmeras políticas públicas que estimulam a produção e o consumo do café nacional, como benefícios fiscais para essas empresas; • cada vez mais a medicina estimula o consumo do café para benefícios da saúde. A empresa Global está bastante animada com as informações que vieram do mercado. Dessa forma, decide-se trabalhar “a plena carga”, ou seja, produzir a capacidade máxima. Assim, são avaliados alguns fatores internos de produção e constata-se que: • a empresa dispõe de 1.000 hectares para cultivo do grão de café; • as máquinas e equipamentos têm capacidade de processar 100 toneladas de grão por mês; e • a mão de obra necessária para cultivo, produção e comercialização do café é disponível no mercado. www.esab.edu.br 178 Com base nesses dados, a Global elaborou seu orçamento de vendas para o primeiro trimestre de 2015, considerando a produção máxima, conforme a Tabela 16. Tabela 16 – Orçamento de vendas da empresa Global para o primeiro trimestre de 2015 Produtos Janeiro Quantidade Preço Unitário Faturamento Total Café Global Premium 10.000 latas R$ 12,00 R$ 120.000,00 Café Global Standard 30.000 latas R$ 5,00 R$ 150.000,00 Total 40.000 latas R$ 270.000,00 Produtos Fevereiro Quantidade Preço Unitário Faturamento Total Café Global Premium 15.000 latas R$ 12,00 R$ 180.000,00 Café Global Standard 40.000 latas R$ 5,00 R$ 200.000,00 Total 55.000 latas R$ 380.000,00 Produtos Março Quantidade Preço Unitário Faturamento Total Café Global Premium 20.000 latas R$ 12,00 R$ 240.000,00 Café GlobalStandard 50.000 latas R$ 5,00 R$ 250.000,00 Total 70.000 latas R$ 490.000,00 Produtos Total do Trimestre Quantidade Preço Unitário Faturamento Total Café Global Premium 45.000 latas R$ 12,00 R$ 540.000,00 Café Global Standard 120.000 latas R$ 5,00 R$ 600.000,00 Fonte: Elaborada pela autora (2014). A Tabela 16 é divida em produtos, quantidade a ser vendida, preço unitário que será praticado no mercado e faturamento total da empresa, quando todas as unidades serão vendidas pelo preço estipulado. Feito o orçamento de vendas, o próximo passo é decidir sobre a política de estoques da empresa para, em seguida, elaborar o orçamento de produção. www.esab.edu.br 179 31.2 Definir uma política de estoques A empresa Global está bastante otimista com as informações de mercado e, por isso, quer manter estoques altos para o caso de a demanda ser maior. Quando o mês de janeiro se iniciar, a empresa terá o seguinte volume de estoque: • Café Global Premium: 2.000 latas • Café Global Standard: 5.000 latas Note que essas informações referem-se ao estoque inicial do mês de janeiro. A política de estoques da empresa Global para os próximos períodos será de: • Café Global Premium • Estoque final de janeiro – 4.000 latas • Estoque final de fevereiro – 6.000 latas • Estoque final de março – 8.000 latas • Café Global Standard • Estoque final de janeiro – 7.000 latas • Estoque final de fevereiro – 10.000 latas • Estoque final de março – 15.000 latas Com base nessas informações, qual será o volume de produção de cada um dos meses do trimestre? É o que veremos a seguir. 31.3 Calcular a produção do período Agora que já temos a estimativa de vendas de cada um dos meses do primeiro trimestre de 2015 e a política de estoques da empresa, vamos calcular qual deverá ser a produção em cada período. Para isso, vamos relembrar a fórmula do cálculo da produção do período, visto na unidade 30: Unidade a produzir = Vendas + Estoque final - Estoque inicial. www.esab.edu.br 180 Com essa fórmula, vamos calcular as unidades a serem produzidas em janeiro, fevereiro e março. Acompanhe a Tabela 17. Tabela 17 – Orçamento da produção do primeiro trimestre de 2015 Produtos Janeiro Vendas Estoque Final Estoque Inicial* Produção Café Global Premium 10.000 latas 4.000 latas 2.000 latas 12.000 latas Café Global Standard 30.000 latas 7.000 latas 5.000 latas 32.000 latas * Estoque inicial é dado no enunciado do caso Produtos Fevereiro Vendas Estoque Final Estoque Inicial* Produção Café Global Premium 15.000 latas 6.000 latas 4.000 latas 17.000 latas Café Global Standard 40.000 latas 10.000 latas 7.000 latas 43.000 latas * Note que o estoque inicial de feveiro é o mesmo que o estoque final de janeiro Produtos Março Vendas Estoque Final Estoque Inicial* Produção Café Global Premium 20.000 latas 8.000 latas 6.000 latas 22.000 latas Café Global Standard 50.000 latas 15.000 latas 10.000 latas 55.000 latas * Note que o estoque inicial de março é o mesmo que o estoque final de fevereiro Fonte: Elaborada pela autora (2014). Conforme destacado na Tabela 17, o estoque inicial de um período é o mesmo que o estoque final do período anterior. Portanto, se fevereiro termina com 6.000 latas de Café Global Premium, março começará com a mesma quantidade. Com a quantidade total a ser produzida em cada período, o passo seguinte é estimar os custos dessa produção. É o que estudaremos na unidade 32. www.esab.edu.br 181 Fórum Caro estudante, dirija-se ao Ambiente Virtual de Aprendizagem da instituição e participe do nosso Fórum de discussão. Lá você poderá interagir com seus colegas e com seu tutor de forma a ampliar, por meio da interação, a construção do seu conhecimento. Vamos lá? www.esab.edu.br 182 32 Orçamento dos custos dos produtos Objetivo Orçar os custos dos produtos. Na unidade 29 estudamos que o orçamento de vendas é o primeiro orçamento a ser elaborado. A partir dele, junto com a política de estoques da empresa, pudemos construir o orçamento de produção na unidade 30, ou seja, informar quanto será produzido. Agora, vamos elaborar o orçamento dos custos dos produtos que serão vendidos com base em Lunkes (2011). Em um primeiro momento, os gestores estimam os materiais que serão necessários para atender à demanda de fabricação, para, em seguida, definir os custos relacionados à fabricação: matéria- prima, mão de obra direta e custos indiretos de fabricação. Vamos ver? 32.1 Orçamento da matéria-prima Na elaboração do orçamento de produção, o qual nos informa o quanto será produzido, podemos calcular as necessidades de materiais para a elaboração dos produtos. Esses materiais referem-se às matérias-primas que formam os produtos ou, até mesmo, as suas embalagens. Assim, o departamento de compras é o responsável por providenciar esses itens na quantidade certa, a preço desejável e no tempo adequado para que seja iniciado o processo de fabricação. Podemos ver um modelo de orçamento de matérias-primas da empresa Móveis S/A, que fabrica e vende mobília doméstica, na Tabela 18. Tabela 18 – Orçamento de matéria-prima da empresa Móveis S/A para janeiro e fevereiro de 2014 www.esab.edu.br 183 Matéria-prima Janeiro Quantidade necessária para a produção Preço Unitário Preço Total Madeira A 500 metros R$ 50,00 / metro R$ 25.000,00 Madeira B 900 metros R$ 25,00 / metro R$ 22.500,00 Alumínio 200 Kilogramas R$ 5,00 / Kg R$ 1.000,00 Parafusos 1.000 unidades R$ 0,10 / unidade R$ 100,00 Total R$ 48.600,00 Matéria-prima Fevereiro Quantidade necessária para a produção Preço Unitário Preço Total Madeira A 600 metros R$ 50,00 / metro R$ 30.000,00 Madeira B 1.300 metros R$ 25,00 / metro R$ 32.500,00 Alumínio 300 Kilogramas R$ 5,00 / Kg R$ 1.500,00 Parafusos 2.000 unidades R$ 0,10 / unidade R$ 200,00 Total R$ 64.200,00 Fonte: Elaborada pela autora (2014). Note que a Tabela 18 traz uma lista das matérias-primas, a quantidade que será necessária no período para concretizar a produção, o preço unitário e o preço total que deverá ser pago ao fornecedor (quando estudarmos o orçamento de caixa é importante prever esses valores como saídas de caixa). De acordo com Sobanski (2000 apud LUNKES, 2011, p. 60), as matérias-primas são bens adquiridos que se integram nos produtos acabados; além disso, a elaboração do seu orçamento requer o cumprimento das seguintes fases: • determinação das quantidades de matérias-primas exigidas para atendimento da fabricação e fornecimento das informações à área de compras; • estabelecimento de estocagem de matérias-primas; • elaboração do programa de suprimentos, além de informações sobre qualidade, desperdício, entre outros; www.esab.edu.br 184 • determinação do custo estimado das matérias-primas necessárias à fabricação, incluindo o plano de investimentos e informações à área financeira. Agora que já sabemos como elaborar o orçamento das matérias-primas, vamos ao segundo elemento que compõe o custo dos produtos: a mão de obra direta. 32.2 Orçamento da mão de obra direta De acordo com Lunkes (2011, p. 61), “[...] o orçamento de mão de obra direta é de responsabilidade dos gerentes dos respectivos departamentos que compõem a fase de fabricação[...]” dos produtos. Para a elaboração desse orçamento, são determinadas as horas necessárias de mão de obra para atender à fabricação estimada (LUNKES, 2011). Lembrando que mão de obra direta refere-se ao pessoal que participa diretamente das atividades de fabricação dos produtos. O objetivo macro do orçamento de mão de obra direta é estimar a necessidade de recursos humanos, recrutamento, treinamento, avaliação e especificaçãode tarefas, avaliação de desempenho, negociação com sindicatos e administração salarial. (LUNKES, 2011, p. 61) Como você pode notar, a elaboração de um orçamento de mão de obra direta ultrapassa os interesses financeiros da empresa. Além disso, é um orçamento importante por, normalmente, absorver uma parcela substancial dos custos totais. Segundo Sanvicente (2000 apud LUNKES, 2011), sua elaboração envolve dois passos básicos: • determinação do número de horas necessárias de mão de obra direta para atender ao volume de fabricação; e • determinação do valor da hora dessa mão de obra. Vamos ver o modelo de orçamento de mão de obra direta da empresa Móveis S/A? Temos que a elaboração de cada móvel, em média, dura aproximadamente 12 horas, e que o valor da mão de obra direta é de R$ 11,00 por hora. Acompanhe na Tabela 19. Tabela 19 – Orçamento de mão de obra direta da empresa Móveis S/A para janeiro e fevereiro de 2014 www.esab.edu.br 185 Janeiro Fevereiro Unidades a produzir 500 unidades 600 unidades Tempo de fabricação - Uni./Hora 12 horas/unidade 12 horas/unidade Total de horas necessárias 6.000 horas 7.200 horas Valor/Hora Mão-de-Obra direta R$ 11,00 R$ 11,00 Total R$ 66.000,00 R$ 79.200,00 Fonte: Elaborada pela autora (2014). Na Tabela 19 podemos notar o cálculo do custo da mão de obra direta, multiplicando o total de horas necessárias para atender à demanda de fabricação pelo valor da hora da mão de obra direta. Esse custo também deverá ser previsto como uma saída no orçamento de caixa, o qual veremos em unidades seguintes. Após a construção de um orçamento de matéria-prima e de mão de obra direta, vamos ao último elemento que compõe o custo do produto: os custos indiretos. 32.3 Orçamento dos custos indiretos de produção. Os custos indiretos de fabricação compõem o terceiro grupo de custos que formam o custo de fabricação. Sanvicente e Santos (2000 apud LUNKES, 2011) dizem que os custos indiretos de fabricação envolvem todos os custos fabris que não podem ser classificados como mão de obra direta e matéria-prima. São custos como o salário do supervisor de fabricação (mão de obra indireta, ou seja, não está relacionada diretamente ao produto), depreciação das máquinas e equipamentos, seguros, aluguéis, serviços de terceiros, energia elétrica, entre outros. É importante lembrar que o termo custo está relacionado somente aos gastos gerados na fabricação dos produtos. Portanto, os custos indiretos são aqueles que não estão envolvidos diretamente com o produto, mas são necessários para a sua fabricação. www.esab.edu.br 186 Para exemplificar, acompanhe um modelo de orçamento de custos indiretos de fabricação da empresa Móveis S/A para os meses de janeiro e fevereiro. Vamos ver? Tabela 20 – Orçamento dos custos indiretos de fabricação da empresa Móveis S/A para janeiro e fevereiro de 2014 Custos indiretos de fabricação Janeiro Fevereiro Salário do supervisor R$ 5.000,00 R$ 5.000,00 Aluguel da fábrica R$ 8.000,00 R$ 8.000,00 Energia elétrica da fábrica R$ 2.500,00 R$ 3.000,00 Depreciação das máquinas R$ 1.000,00 R$ 1.200,00 Total R$ 16.500,00 R$ 17.200,00 Fonte: Elaborada pela autora (2014). Note, na Tabela 20, que todos os custos indiretos listados estão envolvidos na fabricação dos produtos (se não estiverem, são chamados de despesas, como veremos na unidade 34). Os valores orçados para os custos indiretos também devem ser previstos como saídas de caixa no orçamento de caixa. Diferentemente dos custos de matérias-primas primas e de mão de obra direta, que são facilmente identificados e atribuídos a cada produto, os custos indiretos, ao serem distribuídos para cada item fabricado, precisam de um critério de rateio. Por exemplo, se a empresa Móveis S/A fabrica dois produtos (mesas e cadeiras), quanto cada produto ganhará do custo da energia elétrica ou da depreciação das máquinas? O critério de rateio adotado pela empresa determinará essa distribuição. Nesta unidade, conhecemos os três elementos que fazem parte do custo de produção e da elaboração do seu orçamento: matéria-prima, mão de obra direta e custo indireto de fabricação. Na unidade 33 vamos resolver o caso da empresa Móveis S/A e definir quanto custa cada um dos produtos que ela vende. www.esab.edu.br 187 33 Problema resolvido Objetivo Resolver um problema a fim de contextualizar os conceitos apresentados. Na unidade 31 vimos o caso da empresa Global e elaboramos um orçamento de vendas e produção. Na unidade 32 estudamos sobre o custo dos produtos vendidos e, agora, vamos dar continuidade ao caso da Global calculando esses custos. Vamos resgatar o caso da empresa Global? Lembrando que a Global produz e vende dois tipos de produtos para todo o território nacional: • Café Global Premium; e • Café Global Standard. Na unidade 31 elaboramos o orçamento de vendas, a política de estoques da empresa e calculamos o volume de produção para os meses de janeiro, fevereiro e março de 2015. Assim, chegamos aos seguintes valores, conforme a Tabela 21. Tabela 21 – Volume de produção da empresa Global para o primeiro trimestre de 2015 Produtos Janeiro Fevereiro Maço Total Produção Produção Produção Café Global Premium 12.000 latas 17.000 latas 22.000 latas 51.000 latas Café Global Standard 32.000 latas 43.000 latas 55.000 latas 130.000 latas Total 44.000 latas 60.000 latas 77.000 latas 181.000 latas Fonte: Elaborada pela autora (2014). Agora, com base no volume de produção de cada mês, vamos calcular as necessidades de matérias-primas, mão de obra direta e custos indiretos de fabricação. Os conceitos desses três elementos foram vistos na unidade 32 com base no livro de Lunkes (2011). Vamos lá? www.esab.edu.br 188 33.1 A partir do problema anterior, orçar as matérias- primas, mão de obra direta e custos indiretos de produção Iniciaremos nossos cálculos a partir das necessidades de matérias-primas para atender à demanda da produção dos dois produtos da empresa Global: Café Global Premium e Café Global Standard. Para se produzir uma unidade de Café Global Premium precisamos dos seguintes materiais: • 100 gramas de café selecionado – cada 100 gramas custa R$ 5,00. • 1 embalagem – cada embalagem custa R$ 1,00. • Total dos custos de matéria-prima por unidade – R$ 6,00. Para se produzir uma unidade de Café Global Standard precisamos dos seguintes materiais: • 100 gramas de café comum – cada 100 gramas custa R$ 2,00. • 1 embalagem – cada embalagem custa R$ 1,00. • Total dos custos de matéria-prima por unidade – R$ 3,00. Assim, temos três matérias-primas necessárias: café selecionado, café comum e embalagem (comum aos dois produtos). Já podemos elaborar um orçamento para o montante de matérias-primas necessárias para o trimestre, conforme a Tabela 22. Tabela 22 – Orçamento de matéria-prima da empresa Global para o primeiro trimestre de 2015 Café selecionado Produção Custo 100 g Custo total Janeiro 12.000 latas R$ 5,00 R$ 60.000,00 Fevereiro 17.000 latas R$ 5,00 R$ 85.000,00 Março 22.000 latas R$ 5,00 R$ 110.000,00 Total 51.000 latas R$ 5,00 R$ 255.000,00 Café comum Produção Custo 100 g Custo total Janeiro 32.000 latas R$ 2,00 R$ 64.000,00 Fevereiro 43.000 latas R$ 2,00 R$ 86.000,00 Março 55.000 latas R$ 2,00 R$ 110.000,00 www.esab.edu.br 189 Total 130.000 latas R$ 2,00 R$ 260.000,00 Embalagem Produção Custo unitário Custo total Janeiro 44.000 latas R$ 1,00 R$ 44.000,00 Fevereiro 60.000 latas R$ 1,00 R$ 60.000,00 Março 77.000 latas R$ 1,00 R$ 77.000,00 Total 181.000 latas R$ 1,00 R$ 181.000,00 Fonte: Elaborada pela autora (2014). As informações relacionadas ao custo total da matéria-prima devemestar previstas como uma saída de recursos financeiros no orçamento de caixa, conforme veremos na unidade 35. Agora, vamos elaborar um orçamento para mão de obra direta. Com base nas informações colhidas na empresa, chegamos aos seguintes tempos em relação à produção de um dos produtos: • 1 unidade de Café Global Premium leva 0,2 hora para ser fabricada; e • 1 unidade de Café Global Standard leva 0,1 hora para ser fabricada. Sabendo que o custo da mão de obra para cada hora trabalhada vale R$ 10,00, temos: • 1 Unidade Café Global Premium – 0,2 hora de fabricação – custa R$ 2,00 por unidade (R$ 10,00 x 0,2 hora); e www.esab.edu.br 190 • 1 Unidade Café Global Standard – 0,1 hora de fabricação – custa R$ 1,00 por unidade (R$ 10,00 x 0,1 hora). O orçamento da mão de obra direta ficaria conforme a Tabela 23. Tabela 23 – Orçamento de mão de obra direta da empresa Global para o primeiro trimestre de 2015 Café Global Premium Produção Tempo de produção unitário Tempo de produção total Custo da hora Custo total Janeiro 12.000 latas 0,2 hora 2.400 horas R$ 10,00 R$ 24.000,00 Fevereiro 17.000 latas 0,2 hora 3.400 horas R$ 10,00 R$ 34.000,00 Março 22.000 latas 0,2 hora 4.400 horas R$ 10,00 R$ 44.000,00 Total 51.000 latas 0,2 hora 10.200 horas R$ 10,00 R$ 102.000,00 Café Global Standard Produção Tempo de produção unitário Tempo de produção total Custo da hora Custo total Janeiro 32.000 latas 0,1 hora 3.200 horas R$ 10,00 R$ 32.000,00 Fevereiro 43.000 latas 0,1 hora 4.300 horas R$ 10,00 R$ 43.000,00 Março 55.000 latas 0,1 hora 5.500 horas R$ 10,00 R$ 55.000,00 Total 130.000 latas 0,1 hora 13.000 horas R$ 10,00 R$ 130.000,00 Fonte: Elaborada pela autora (2014). As informações relacionadas ao custo total da mão de obra direta devem estar previstas como uma saída de recursos financeiros no orçamento de caixa, conforme veremos na unidade 35. Agora, vamos identificar os custos indiretos de fabricação. A Tabela 24 apresenta os custos indiretos de fabricação da empresa Global para os meses de janeiro, fevereiro e março de 2015. Vamos ver. Tabela 24 – Orçamento de custos indiretos de fabricação da empresa Global para o primeiro trimestre de 2015 Custos indiretos de fabricação Janeiro Fevereiro Março Total Salário do supervisor da fábrica R$ 2.500,00 R$ 2.500,00 R$ 2.500,00 R$ 7.500,00 www.esab.edu.br 191 Aluguel da fábrica R$ 1.200,00 R$ 1.200,00 R$ 1.200,00 R$ 3.600,00 Depreciação das máquinas R$ 800,00 R$ 800,00 R$ 900,00 R$ 2.500,00 Energia elétrica da fábrica R$ 1.500,00 R$ 1.500,00 R$ 1.500,00 R$ 4.500,00 Total R$ 6.000,00 R$ 6.000,00 R$ 6.100,00 R$ 18.100,00 Fonte: Elaborada pela autora (2014). Para sua reflexão Como você pode notar, a Tabela 24 traz os gastos dos custos indiretos de fabricação por período, não é mesmo? Agora perguntamos: e como vamos atribuir esses custos aos produtos? Não se preocupe, veremos a resposta para essa pergunta no tópico a seguir. A resposta a essa reflexão forma parte de sua aprendizagem e é individual, não precisando ser comunicada ou enviada aos tutores. www.esab.edu.br 192 33.2 Definir um critério de rateio para custear os produtos Os custos indiretos, por não estarem diretamente relacionados aos produtos, precisam de um critério de rateio, conforme estudamos na unidade 32, para serem atribuídos aos produtos. Por exemplo, se um produto ocupa um espaço muito maior da fábrica para ser elaborado, podemos utilizar esse espaço para atribuir uma parte maior do custo do aluguel a ele. Ou, se um produto não utiliza uma máquina específica, a depreciação desta máquina não deve ser atribuída como custo desse produto, e assim por diante. No caso da empresa Global, a fabricação dos dois produtos é bastante similar, não gerando diferenças significativas na concepção dos custos. Assim, nosso critério de rateio será uma média simples. Conforme nos mostrou o orçamento de produção, no primeiro trimestre de 2015 serão fabricadas 181.000 latas, incluindo Café Global Premium e Café Global Standard. Além disso, sabemos que, nesse trimestre, os custos indiretos totais somam R$ 18.100 (ver Tabela 24). Assim: = R$ 18.100,00Custo indireto unitário R$ 0,10 / lata 181.000 latas Ou seja, cada lata de café produzida gasta R$ 0,10 em custos indiretos de fabricação. Agora já podemos saber quanto custa fabricar cada lata, somando matéria-prima, mão de obra direta e custos indiretos de fabricação. Veja a Tabela 25. Tabela 25 – Custo total unitário de cada produto da empresa Global Produtos Matéria-prima unitária Mão de obra direta unitária Custos indiretos de fabricação unitário Custo total unitário Café Global Premium R$ 6,00 R$ 2,00 R$ 0,10 R$ 8,10 Café Global Standard R$ 3,00 R$ 1,00 R$ 0,10 R$ 4,10 www.esab.edu.br 193 Fonte: Elaborada pela autora (2014). Agora já sabemos que fabricar uma lata de Café Global Premium custa R$ 8,10 e fabricar uma lata de Café Global Standard custa R$ 4,10. 33.3 Diferenciar o custo dos produtos fabricados e dos produtos vendidos Há uma diferença básica entre o custo dos produtos fabricados e o custo dos produtos vendidos. O custo dos produtos fabricados refere-se aos gastos que a empresa tem em cada período em função da demanda pela produção. Normalmente esses valores devem ir para o fluxo de caixa para futuros pagamentos dos fornecedores, salários etc. O custo dos produtos vendidos é a informação que consta na Demonstração do Resultado do Exercício, ou seja, evidencia quanto custaram os produtos que a empresa vendeu. Como você já notou na elaboração do orçamento, a quantidade de venda não é, necessariamente, a mesma da produção, pois os estoques influenciam nesse processo. Nesta unidade, calculamos o custo dos produtos com base no custo das matérias-primas, mão de obra direta e custos indiretos de fabricação. Todos esses elementos referem-se a gastos que a organização gera na elaboração dos seus produtos. A seguir veremos outros gastos da empresa que estão fora do âmbito da produção: as despesas. www.esab.edu.br 194 34 Orçamento das despesas de vendas e administrativas Objetivo Orçar as despesas de vendas e despesas administrativas Nas unidades 32 e 33 estudamos o custo dos produtos de uma empresa no processo de elaboração do processo orçamentário. Como você viu, os custos referem-se às matérias-primas, mão de obra direta e custos indiretos de fabricação, ou seja, todos os gastos envolvidos no processo de transformação dos produtos. Nesta unidade, dando continuidade ao orçamento, vamos estudar as despesas de uma empresa. Você sabe a diferença entre um custo e uma despesa? É o que vamos descobrir a seguir com base em Lunkes (2011) e Camargo (2007). 34.1 Definição de despesas Quando um gasto está relacionado diretamente à fabricação de produtos para venda, ele é definido como um custo. E quando um gasto é definido como uma despesa? Segundo Camargo (2007), as despesas representam gastos indiretamente relacionados ao processo produtivo, porém, necessários para o desenvolvimento das atividades normais de uma empresa. Ou seja, a despesa representa o gasto despendido, basicamente, para a administração da empresa e a venda dos produtos. Camargo (2007, p. 173) classifica as despesas em: www.esab.edu.br 195 • Despesas gerais e administrativas: são gastos que sustentam as atividades administrativas da empresa, incluindo dispêndio com pessoal, aluguel e material de escritório, cobrança, entre outros. • Despesas financeiras: são contas que representam os pagamentos de encargos (juros e correções) sobreoperações financeiras. • Despesas com vendas: são despesas incorridas com o intuito de comercializar os produtos no mercado. Por exemplo: salários e comissão de vendedores, publicidade e propaganda, despesas com viagens e representações comerciais. • Outras despesas ou receitas operacionais: este item abriga outras despesas operacionais não classificadas como administrativas, financeiras e de vendas. Por exemplo: gastos para venda de sucatas da empresa. Como você pôde notar, nenhuma das despesas classificadas anteriormente são necessárias para a elaboração dos produtos, mas sim para que a empresa tenha um funcionamento mínimo. Por exemplo, o salário do administrador não é necessário para que o produto seja fabricado, no entanto, é importante para que a organização seja gerida; a comissão do vendedor não está relacionada à fabricação dos produtos, mas é importante para que o produto seja vendido, e assim sucessivamente. www.esab.edu.br 196 Dica Sempre que o gasto está relacionado à elaboração do produto é denominado custo. Sempre que o gasto está relacionado à administração e à venda dos produtos, é denominado despesa. Em algumas situações práticas, essa diferença não é tão clara como parece ser. Por exemplo: o salário da administradora de recursos humanos, que elabora também a folha de pagamento do pessoal da produção, é custo ou despesa? Se um rateio desse salário em custo ou despesa for irrelevante para os resultados finais, deve-se optar, conforme orientação da contabilidade, pela classificação como uma despesa. 34.2 Orçamento das despesas de vendas, administrativas e financeiras As despesas administrativas, de vendas, financeiras, de acordo com Lunkes (2011, p. 64), [...] incluem todos os gastos necessários para a gestão das operações de uma empresa e também os itens relativos a pessoal, viagens, telefone, correio, fax, material de escritório, depreciação dos bens de escritório, seguros, taxas, energia elétrica, entre outros. Conforme Zdanowicz (1983 apud LUNKES, 2011, p. 64), [...] essas despesas estão relacionadas à alta administração da empresa, ao pessoal burocrático e aos gastos de expediente, incluindo custos comerciais, marketing, custos financeiros e custos tributários. Para Lunkes (2011), na elaboração do orçamento das despesas, diferentes gestores são envolvidos no processo. Por exemplo, o gerente de vendas prepara o orçamento das despesas das vendas, o gerente financeiro www.esab.edu.br 197 prepara o orçamento das despesas financeiras e o gerente administrativo prepara o orçamento das despesas gerais da empresa. Na elaboração do orçamento das despesas, deve-se listar todos os gastos que a organização irá ter com a finalidade de cumprir com as suas atividades normais. Na Tabela 26 podemos visualizar um exemplo de orçamento de despesas da empresa Móveis S/A. Vamos ver? Tabela 26 – Orçamento de despesas da empresa Móveis S/A para janeiro e fevereiro de 2014 Despesas administrativas Janeiro Fevereiro Salário do administrador R$ 3.000,00 R$ 3.000,00 Aluguel do escritório R$ 1.500,00 R$ 1.500,00 Depreciação dos móveis e equipamentos da administração R$ 1.000,00 R$ 1.000,00 Energia elétrica do escritório R$ 500,00 R$ 600,00 Despesas com vendas Salário dos vendedores R$ 2.000,00 R$ 2.000,00 Comissão dos vendedores R$ 2.000,00 R$ 2.500,00 Propaganda e publicidade dos produtos R$ 1.000,00 R$ 1.000,00 Frete para entrega dos produtos R$ 500,00 R$ 700,00 Viagens de negócio R$ 800,00 R$ 1.000,00 Material de representação comercial R$ 900,00 R$ 1.200,00 Despesas financeiras Encargos bancários R$ 700,00 R$ 600,00 Juros de empréstimos R$ 1.600,00 R$ 1.800,00 Total R$ 15.500,00 R$ 16.900,00 Fonte: Elaborada pela autora (2014). No exemplo citado da empresa Móveis S/A foram elencadas todas as despesas necessárias para a empresa executar as suas atividades normais em janeiro e fevereiro de 2014. Após orçar todos esses gastos, tais informações terão, basicamente, dois destinos: • Inserção na Demonstração do Resultado do Exercício: você deve estar lembrado que, na unidade 4, estudamos esse demonstrativo financeiro. Resumidamente, a Demonstração do Resultado do www.esab.edu.br 198 Exercício desconta das Receitas (vendas) todos os Custos dos Produtos Vendidos e as Despesas para se chegar ao resultado, ou seja, o lucro ou o prejuízo do período; e • Inserção no Orçamento de Caixa: você percebeu que, ao longo de todo o processo orçamentário ,há informações sobre a previsão dos gastos no caixa? Com as despesas não pode ser diferente. Após identificá- las, a previsão de pagamento do orçamento de caixa é importante para analisar a liquidez que a empresa terá em pagar essas contas. Depois de ter estudado o orçamento de vendas, de custos e de despesas, nossa próxima etapa no processo orçamentário consiste em projetar todos esses gastos no fluxo de caixa. Essa projeção permite verificar quando o recebimento das vendas ocorrerá e se a empresa terá capacidade financeira para saldar os seus gastos (sejam eles custos ou despesas) nas datas previstas. www.esab.edu.br 199 35 Orçamento de caixa Objetivo Orçar as entradas e saídas de caixa. Nos nossos estudos sobre o processo orçamentário já vimos o orçamento de vendas, o orçamento da produção, o orçamento do custo dos produtos (o qual inclui orçamento de matérias-primas, mão de obra direta e custos indiretos de fabricação) e o orçamento das despesas. Como você deve ter notado, cada um desses orçamentos remetia as informações ao orçamento de caixa, isso porque todas as previsões do planejamento devem estar programadas no caixa da empresa. O orçamento de caixa responderá: a empresa terá capacidade financeira para desenvolver as atividades programadas no orçamento? O conflito entre entradas e saídas de caixa será o objetivo principal do orçamento de caixa. Vamos estudar esse tema com base em Lunkes (2011), Gitman (2010) e Groppelli e Nikbakht (2010). 35.1 Definição do orçamento de caixa A principal parte do processo orçamentário é a administração da liquidez. Em termos simples, o propósito da administração da liquidez, de acordo com Groppelli e Nikbakht (2010), é assegurar que a empresa nunca tenha falta de caixa e problemas com os pagamentos devidos. A técnica do orçamento de caixa é normalmente utilizada para tal objetivo. Vamos começar com uma definição breve do que é o orçamento de caixa. Gitman (2010, p. 108) diz que [...] o orçamento de caixa, ou projeção de caixa, é uma demonstração das entradas e saídas de caixa previstas da empresa. Serve para estimar as necessidades de caixa no curto prazo, dando especial atenção ao planejamento de superávits e déficits de caixa. www.esab.edu.br 200 Com a técnica do orçamento de caixa, o administrador financeiro compara as entradas de caixa futuras com as saídas de caixa futuras em um determinado período de tempo (pode ser uma semana, um mês, um bimestre etc.) e determina se há excesso (superávit) ou falta (déficit) de caixa. O objetivo do orçamento de caixa é assegurar recursos financeiros suficientes para atender às operações da empresa estabelecidas nos outros suborçamentos (vendas, produção, custos dos produtos e despesas). Para Lunkes (2011, p. 71), “[...] o orçamento de caixa está sujeito a incertezas e falhas; é necessário ter uma margem de segurança que permite assim atender a um eventual erro da previsão”. Tal afirmação é compartilhada por Zdanowicz (1983 apud LUNKES, 2011, p. 71), quando o autor descreve que [...] o objetivo do orçamento de caixa é proporcionar o levantamento dos recursos financeirosnecessários para a execução do plano geral de operações e, também, da realização das transações monetárias da empresa. Padoveze (1997 apud LUNKES, 2011) argumenta que o orçamento de caixa é a etapa do orçamento que reúne todos os suborçamentos que apresentam previsões de entradas e saídas de caixa, com um resumo de todo o orçamento operacional. O orçamento de caixa pode ajudar a empresa a equilibrar o caixa, identificando deficiências de recursos monetários com antecedência, o que pode levar a empresa a buscar empréstimos a juros menores, como também a estimar os excessos de recursos, permitindo projetar investimentos com certa antecedência. (LUNKES, 2011, p. 72) Vamos estudar agora como ele é elaborado. 35.2 Elaboração do orçamento de caixa O orçamento de caixa, segundo Lunkes (2011), pode ser preparado por meio do fluxo de caixa, no qual são relacionadas as entradas e as saídas de caixa previstas para o período orçamentário. Para Welsch e Zdanowicz (1983 apud LUNKES, 2011, p. 72), as principais finalidades do orçamento de caixa podem ser assim esquematizadas: www.esab.edu.br 201 • indicar a posição financeira provável em resultado das operações planejadas; • indicar o excesso ou a insuficiência de disponibilidades; • indicar a necessidade de empréstimos ou a disponibilidade de fundos para investimento temporário; • permitir a coordenação dos recursos financeiros em relação a: (1) capital de giro total; (2) vendas; (3) investimentos; e 4 (capital de terceiros); • estabelecer bases sólidas para a política de crédito; • estabelecer bases sólidas para o controle corrente da posição financeira. Para Lunkes (2011), a elaboração do orçamento de caixa envolve a projeção das movimentações de entradas e saídas previstas de caixa, o que permite ao administrador financeiro avaliar sua provável situação financeira futura. Essa análise das finanças no futuro é útil para indicar excessos ou necessidades de fundos, antecipando a tomada de decisão em relação à obtenção e à alocação dos recursos financeiros. Na Tabela 27 podemos visualizar um exemplo de orçamento de caixa da empresa Móveis S/A, no qual ocorre o conflito entre as entradas e saídas de caixa. Veja. Tabela 27 – Orçamento de caixa da empresa Móveis S/A para janeiro e fevereiro de 2014 Janeiro Fevereiro Saldo Inicial R$ 12.000,00 R$ 500,00 Recebimento R$ 230.500,00 R$ 270.000,00 R$ 242.500,00 R$ 270.500,00 Pagamentos Fornecedores R$ 120.000,00 R$ 120.000,00 Salários R$ 98.000,00 R$ 98.000,00 Outros custos e despesas R$ 24.000,00 R$ 26.000,00 R$ 242.000,00 R$ 244.000,00 Saldo Final R$ 500,00 R$ 26.500,00 Fonte: Adaptada de Lunkes (2011, p. 72). www.esab.edu.br 202 O saldo inicial refere-se ao valor contido no caixa quando o período projetado teve início; soma-se a ele todas as previsões de recebimento do período – normalmente esses recebimentos estão relacionados às vendas dos produtos da empresa. A partir daí, desconta-se todas as saídas de caixa previstas. No caso da empresa Móveis S/A temos fornecedores, salários e outros custos e despesas. O saldo final é a diferença entre o saldo inicial mais os recebimentos e as saídas de caixa. Note que o saldo inicial de fevereiro é o mesmo que o saldo final de janeiro. No caso da Móveis S/A, contata-se que, no mês de fevereiro, há uma grande sobra de caixa. Dessa forma, a organização deve decidir sobre o destino desses recursos financeiros, já que mantê-los no caixa não traz rentabilidade para as operações da empresa. Após a definição do orçamento de caixa e sua elaboração, um tema bastante importante em relação a esse instrumento diz respeito à sua avaliação, ou seja, ao acompanhamento dos valores previstos em termos de caixa. 35.3 Avaliação do orçamento de caixa A avaliação do orçamento de caixa baseia-se na premissa de que a empresa necessita saldar com suas obrigações na data do vencimento para manter uma boa relação com o mercado, além dos aspectos éticos envolvidos. Groppelli e Nikbakht (2010) dizem que a empresa torna-se inadimplente quando não tem capacidade financeira de saldar obrigações como despesas com pessoal, despesas operacionais, custos do processo de fabricação ou despesas de juros sobre empréstimos, por exemplo. Assim, a falta da elaboração de um orçamento de caixa pode causar falta de liquidez e, como consequência, a falência de algumas organizações. Porém, garantir o sucesso e a solvência de uma empresa somente por projetos rentáveis e pela ampliação das vendas não é, necessariamente, uma tarefa fácil. A “crise de liquidez”, apontada por Groppelli e Nikbakht (2010), isto é, a incapacidade de saldar as obrigações financeiras, sempre põe em perigo uma organização. E o problema torna-se mais crítico quando o crédito é limitado; portanto, as pequenas e médias empresas correm maior perigo de deficiências de caixa do www.esab.edu.br 203 que as grandes empresas, que, geralmente, possuem um amplo leque de alternativas de financiamento. No entanto, isso não significa que as grandes empresas nunca tenham problemas de liquidez (GROPPELLI; NIKBAKHT, 2010). Segundo Gitman (2010), o orçamento de caixa permite que o administrador financeiro analise o fluxo de recursos financeiros da empresa em termos de entradas e saídas de caixa. O administrador, para Gitman (2010), deve dedicar atenção especial tanto às principais categorias de fluxo de caixa (operacional, de investimento ou financiamento) quanto a cada item específico de entradas e saídas de caixa, para saber se a política financeira da organização está refletida no demonstrativo ou apresenta variações que precisam ser investigadas a fundo. Além disso, a demonstração pode ser usada, ainda, para avaliar o progresso em direção a metas projetadas ou para isolar pontos de ineficiência (GITMAN, 2010). Tarefa dissertativa Caro estudante, convidamos você a acessar o Ambiente Virtual de Aprendizagem e realizar a tarefa dissertativa. www.esab.edu.br 204 36 Problema resolvido Objetivo Resolver um problema a fim de contextualizar os conceitos apresentados. Baseando-se em todos os suborçamentos elaborados que previram entradas ou saídas de caixa (orçamento de vendas, de matérias-primas, de mão de obra direta e de despesas), vamos elaborar um orçamento de caixa da empresa Global. Para tanto, vamos utilizar nossos conhecimentos adquiridos a partir de Lunkes (2011), Gitman (2010) e Groppelli e Nikbakht (2010) na unidade 35. 36.1 Elaborar um orçamento das entradas de caixa, considerando a política de crédito O primeiro passo para a elaboração do orçamento de caixa é projetar as entradas de caixa. As entradas de caixa da empresa Global advêm das vendas de seus dois produtos: Café Global Premium e Café Global Standard. É importante que você resgate o orçamento de vendas da Global elaborado na unidade 31. Segundo a Tabela 16, as vendas seriam de: • Janeiro = R$ 270.000,00, sendo: • Café Global Premium = R$ 120.000,00 • Café Global Standard = R$ 150.000,00 • Fevereiro = R$ 380.000,00, sendo: • Café Global Premium = R$ 180.000,00 • Café Global Standard = R$ 200.000,00 • Março = R$ 490.000,00, sendo: • Café Global Premium = R$ 240.000,00 • Café Global Standard = R$ 250.000,00 www.esab.edu.br 205 Sendo essas as vendas previstas pela empresa, qual é a sua política de crédito, ou seja, quais os termos de recebimento em relação aos seus clientes? Na política de crédito da empresa Global, todas as vendas são recebidas da seguinte forma: • 50% a vista; e • 50% em 30 dias. Dessa forma, seu orçamento de caixa em relação às entradas ficaria da seguinte forma: Tabela 28 – Orçamento das entradas de caixa da empresa Global para o primeiro trimestre de 2015 Entradas decaixa Janeiro Fevereiro Março Vendas de janeiro R$ 135.000,00 R$ 135.000,00 Vendas de fevereiro R$ 190.000,00 R$ 190.000,00 Vendas de março R$ 245.000,00 Total R$ 135.000,00 R$ 325.000,00 R$ 435.000,00 Fonte: Elaborada pela autora (2014). Como você pode verificar na Tabela 28, as vendas de janeiro (R$ 270.000,00) serão recebidas: 50% em janeiro, ou seja, à vista; e 50% em fevereiro, ou seja, em 30 dias. As vendas de fevereiro (R$ 380.000,00) serão recebidas: 50% em fevereiro, ou seja, à vista; e 50% em março, ou seja, em 30 dias. As vendas de março (R$ 490.000,00) serão recebidas: 50% em março, ou seja, à vista; e 50% em abril, ou seja, em 30 dias. Como abril está fora do nosso período orçamentário, excluímos essa informação. O passo seguinte é elaborar um orçamento das saídas de caixa. 36.2 Elaborar um orçamento das saídas de caixa, considerando a política de pagamentos Vamos resgatar, dos problemas resolvidos nas unidades anteriores, todos os desembolsos previstos para a empresa Global. Nessa organização, todos os gastos gerados são pagos no próprio mês. Veja a Tabela 29. www.esab.edu.br 206 Tabela 29 – Orçamento das saídas de caixa da empresa Global para o primeiro trimestre de 2015 Saídas de caixa Janeiro Fevereiro Março Matérias primas Café selecionado R$ 60.000,00 R$ 85.000,00 R$ 110.000,00 Café comum R$ 64.000,00 R$ 84.000,00 R$ 110.000,00 Embalagem R$ 44.000,00 R$ 60.000,00 R$ 77.000,00 Mão de obra direta Café Global Premium R$ 24.000,00 R$ 34.000,00 R$ 44.000,00 Standard R$ 32.000,00 R$ 43.000,00 R$ 55.000,00 Custos indiretos de fabricação Salário do supervisor da fábrica R$ 2.500,00 R$ 2.500,00 R$ 2.500,00 Aluguel da fábrica R$ 1.200,00 R$ 1.200,00 R$ 1.200,00 Depreciação das máquinas R$ 800,00 R$ 800,00 R$ 900,00 Energia elétrica da fábrica R$ 1.500,00 R$ 1.500,00 R$ 1.500,00 Despesas Administrativas R$ 6.000,00 R$ 6.000,00 R$ 6.000,00 Vendas R$ 4.000,00 R$ 4.000,00 R$ 4.000,00 Financeiras R$ 3.000,00 R$ 3.000,00 R$ 3.000,00 Total R$ 243.000,00 R$ 325.000,00 R$ 415.100,00 Fonte: Elaborada pela autora (2014). Agora que já temos as previsões de entradas e saídas de caixa da empresa Global para o primeiro trimestre de 2015, vamos avaliar o seu caixa e verificar se há excesso ou falta de caixa. Havendo falta de caixa, a empresa deverá captar empréstimos bancários para saldar as dívidas. 36.3 Avaliar o orçamento de caixa Nos itens anteriores fizemos um levantamento de todas as entradas e saídas de caixa da empresa Global. Agora chegou o momento de confrontar essas informações para avaliar a situação financeira da organização em relação à sua capacidade de saldar as obrigações em dia. Para, isso precisamos das seguintes informações: www.esab.edu.br 207 • o saldo inicial de caixa de janeiro era de R$ 50.000,00; • havendo falta de caixa, a empresa necessitará de empréstimos bancários para cobrir o déficit. O empréstimo deve cobrir o déficit e deixar, no mínimo, R$ 5.000,00 no caixa; e • havendo excesso de caixa, esse montante permanecerá no caixa da empresa. O confronto das entradas e saídas de caixa pode ser visualizado na Tabela 30. Tabela 30 – Orçamento de caixa da empresa Global para o primeiro trimestre de 2015 Janeiro Fevereiro Março Saldo Inicial R$ 50.000,00 R$ 5.000,00 R$ 5.000,00 Recebimento R$ 135.000,00 R$ 325.000,00 R$ 435.000,00 Total R$ 185.000,00 R$ 330.000,00 R$ 440.000,00 Saídas R$ 243.000,00 R$ 325.000,00 R$ 415.100,00 Diferença (3 - 4) -R$ 58.000,00 R$ 5.000,00 R$ 24.900,00 Empréstimos a captar R$ 63.000,00 Saldo final R$ 5.000,00 R$ 5.000,00 R$ 24.900,00 Fonte: Elaborada pela autora (2014). Como você pode acompanhar na Tabela 30, no primeiro mês, a empresa Global necessitou de um empréstimo de R$ 63.000,00 para saldar as suas dívidas e deixar R$ 5.000,00 no caixa como prevenção. No mês de fevereiro, as contas foram pagas e sobraram os R$ 5.000,00 no caixa. Já no mês de março, há uma sobra no valor R$ 24.900,00. Esse é o objetivo de elaborar o orçamento de caixa: o gestor financeiro saberá quando a empresa terá necessidades de financiamento, tendo tempo hábil para procurar empréstimos com juros mais baixos; e também quando haverá sobras de caixa, as quais poderão ser destinadas a um investimento que renda juros. www.esab.edu.br 208 Nesta unidade, tivemos a oportunidade de gerar o orçamento de caixa da empresa Global a partir de todos os suborçamentos já elaborados anteriormente. Vimos que a Global terá falta de caixa no primeiro mês, mas excesso de caixa no último mês do período orçado. Na unidade 37 vamos falar da projeção das demonstrações financeiras, definindo qual será o lucro da organização com base no orçamento e como ficará o seu Balanço Patrimonial. Atividade Chegou a hora de você testar seus conhecimentos em relação às unidades 28 a 36. Para isso, dirija-se ao Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e responda às questões. Além de revisar o conteúdo, você estará se preparando para a prova. Bom trabalho! www.esab.edu.br 209 Resumo Depois de termos iniciado nossos estudos sobre o processo orçamentário, na unidade 31 resolvemos o problema da empresa Global, elaborando um orçamento de vendas e definindo a política de estoques da organização, bem como calculando o seu volume de produção para o primeiro trimestre de 2015, ou seja, o período no qual serão projetadas as finanças da empresa. Na unidade 32 estudamos o custo dos produtos e a elaboração do seu orçamento. Vimos que no orçamento do custo dos produtos há três suborçamentos: orçamento de matéria-prima, orçamento de mão de obra direta e orçamento dos custos indiretos de produção. Dessa forma, na unidade 33 pudemos aplicar os conceitos aprendidos no caso da empresa Global, quando elaboramos esses três orçamentos e definimos o custo dos produtos. Além disso, diferenciamos o custo dos produtos fabricados do custo dos produtos vendidos. Na unidade 34 estudamos o orçamento das despesas. Vimos que elas representam gastos indiretamente relacionados ao processo produtivo, porém, necessários para o desenvolvimento das atividades normais de uma organização. Elas podem ser classificadas como despesas administrativas, de vendas e financeiras. Na unidade 35 estudamos o orçamento de caixa e vimos que ele está relacionado à administração da liquidez da empresa. O orçamento de caixa confronta todas as entradas e saídas de caixa da empresa no período orçado para visualizar a falta ou o excesso de dinheiro disponível na organização. Na unidade 36 elaboramos o orçamento de caixa da empresa Global para o primeiro trimestre de 2015 e pudemos verificar os períodos nos quais haverá falta de caixa, o momento em que fizemos empréstimos bancários e quando haverá excesso de caixa. www.esab.edu.br 210 37 Projeção dos Demonstrativos Contábeis Objetivo Projetar os demonstrativos contábeis a partir do orçamento elaborado. Desde a unidade 27 estamos estudando e discutindo o processo orçamentário em organizações empresariais. Ao resgatar esse processo, vimos que o orçamento refere-se ao componente final do planejamento estratégico das empresas, sendo um instrumento utilizado para a elaboração do planejamento e do controle financeiro. O seu processo de elaboração envolve a construção do orçamento das vendas, de produção, do custo dos produtos vendidos, das despesas administrativas, de vendas e financeiras, bem como o orçamento de caixa. Ao finalizar todos esses suborçamentos, é hora de projetar as demonstrações contábeis com o objetivo de averiguar se o plano elaborado gera resultadospositivos para a empresa, solvência em termos de caixa e também analisar como ficará a situação financeira da empresa ao final do período orçado. Três demonstrativos contábeis são utilizados na finalização do processo orçamentário: a Demonstração do Resultado do Exercício, a Demonstração do Fluxo de Caixa e o Balanço Patrimonial. Vamos resgatar cada um desses demonstrativos, relacionando a sua projeção com os dados colhidos no orçamento empresarial. Veremos esse tema balizados em Seleme (2010), Camargo (2007) e Gitman (2010). www.esab.edu.br 211 37.1 Projeção da Demonstração do Resultado do Exercício Para iniciar os estudos desta unidade, vamos resgatar a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), estudada na unidade 4. Você deve estar lembrado de que a DRE é um método de apuração do resultado, ou seja, confere se a empresa apresentou lucro ou prejuízo ao final de um período. Dessa forma, ao final do período orçado, é importante organizar as informações financeiras na estrutura de uma DRE para conferir se as vendas estimadas são capazes de gerar lucro para a empresa. Vamos rever, no Quadro 22, a estrutura básica apresentada pela DRE. Receita Bruta Valores (-) Deduções da receita = Receita líquida (-) Custo das vendas = Lucro bruto (-) Despesas operacionais = Lucro operacional (-) Despesas não operacionais + Receitas não operacionais = Lucro antes do Imposto de Renda (LAIR) (-) Provisão para Imposto de Renda = Lucro depois do Imposto de Renda __________ __________ __________ __________ __________ __________ __________ __________ __________ __________ __________ Quadro 22 – Estrutura da Demonstração do Resultado do Exercício. Fonte: Seleme (2010, p. 149). Podemos observar, a partir do Quadro 22, que para a DRE apurar o lucro ou o prejuízo de um período precisa deduzir das suas receitas os custos e as despesas incorridos na atividade operacional. Relacionando ao orçamento, as receitas referem-se à estimativa de vendas realizada para o período orçado, que estudamos na unidade 29. Da receita bruta, podemos realizar algumas deduções como descontos, devoluções ou impostos que incidem sobre o preço de venda dos produtos. Dessa dedução temos a receita líquida. www.esab.edu.br 212 A partir da receita líquida vamos diminuir os custos das vendas, ou seja, o custo dos produtos vendidos. Esse foi um dos orçamentos que elaboramos na unidade 32. Ao descontar os custos das vendas da receita, temos o lucro bruto. Do lucro bruto vamos descontar as despesas operacionais. Essas despesas foram vistas e orçadas na unidade 34 e são despesas administrativas, despesas com vendas e despesas financeiras. O resultado dessa equação é o lucro operacional. Podemos, a seguir, descontar algumas despesas não operacionais ou somar receitas não operacionais, lembrando que despesas e receitas não operacionais referem-se às contas que não têm relação com a atividade principal da empresa. Em algumas empresas essas contas simplesmente não existem. Dessa forma, temos o lucro antes do imposto de renda (LAIR), que servirá de base para o cálculo do imposto de renda da empresa. E, finalmente, teremos o lucro depois do imposto de renda. Esse é o resultado da empresa a partir do orçamento elaborado. A segunda demonstração contábil que podemos projetar é a Demonstração do Fluxo de Caixa, que veremos a seguir. 37.2 Projeção da Demonstração do Fluxo de Caixa A Demonstração do Fluxo de Caixa é bastante similar ao Orçamento de Caixa, visto na unidade 35. Esse demonstrativo responderá se a empresa terá capacidade financeira para desenvolver as atividades programadas no orçamento. Sobre a definição do que é o orçamento de caixa, Gitman (2010, p. 108) diz que [...] o orçamento de caixa, ou projeção de caixa, é uma demonstração das entradas e saídas de caixa previstas da empresa. Serve para estimar as necessidades de caixa no curto prazo, dando especial atenção ao planejamento de superávits e déficits de caixa. www.esab.edu.br 213 Assim, todas as contas geradas na Demonstração do Resultado do Exercício do período orçado ou todas as contas que já existiam antes do período orçado devem estar previstas na Demonstração do Fluxo de Caixa. Essas contas podem ser entradas de caixa a partir dos recebimentos das vendas; ou podem ser saídas de caixa para pagamento do custo dos produtos vendidos, das despesas e impostos. Por fim, o Balanço Patrimonial compõe o conjunto de demonstrações contábeis para a projeção ao término do processo orçamentários. Vamos vê-lo em seguida. 37.3 Projeção do Balanço Patrimonial Agora vamos relembrar o Balanço Patrimonial que, ao ser projetado ao final do período orçamentário, informará ao administrador financeiro como ficará a situação financeira da empresa. Vimos, na unidade 4, que o Balanço Patrimonial é um relatório que apresenta, de forma equilibrada, toda a estrutura de patrimônio de uma organização, sendo este composto por seus bens (representa tudo o que a empresa possui), direitos (tudo o que ela tem a receber) e obrigações (tudo o que ela deve) (CAMARGO, 2007). www.esab.edu.br 214 O Balanço Patrimonial das empresas brasileiras apresenta a seguinte estrutura: Balanço patrimonial Ativos Passivo e PL Circulante Circulante Disponível Duplicatas a receber Estoque Ativos que serão transformados em caixa no curto prazo. Fornecedores Salários Impostos Dívidas com terceiros que serão pagas no curto prazo Não circulante Não circulante Realizável a longo prazo Ativos que serão tranformados em caixa no longo prazo. Exemplo: empréstimos que a empresa concedeu as suas coligadas. Exigível a longo prazo Dívidas com terceiros que serão pagas no longo prazo Investimentos Investimento que não tem relaçãi com a atividade da empresa. Exemplo: Ações de outras companhias. Patrimônio líquido Imobilizado Investimentos relacionados diretamente com a atividade da empresa. Exemplo: Máquinas e equipamentos. Capital Social Recurso aplicados diretamente pelos proprietários da empresa. Intangível Seu objetivo é incorpóreo. Exemplo: Marcas e patentes. Lucros acumulativos Recurso aplicados pelos proprietários da empresa por meio da geração de lucro. Quadro 23 – Estrutura do Balanço Patrimonial. Fonte: Adaptado de Camargo (2007). Do lado esquerdo do Balanço Patrimonial, o administrador financeiro poderá conferir como ficará a estrutura de ativos (bens e direitos) da empresa ao final do orçamento. Do lado direito (obrigações), o administrador financeiro poderá conferir a estrutura de dívidas da empresa, bem como a evolução do seu Patrimônio Líquido. www.esab.edu.br 215 Nesta unidade, podemos resgatar os demonstrativos financeiros que servirão de base para o processo orçamentário. A projeção de cada um deles ao final do orçamento permitirá ao administrador financeiro ter uma visão clara da situação financeira da empresa caso o plano se concretize. Além disso, poderá realizar algumas mudanças antes que o orçamento seja efetivado. Na unidade 38 vamos elaborar um exemplo de projeção das demonstrações financeiras a partir do exemplo da empresa Global. www.esab.edu.br 216 38 Exemplo de projeção das demonstrações financeiras Objetivo Simular uma projeção para as demonstrações financeiras. Na unidade 37 resgatamos três importantes demonstrativos que serão projetados ao final do processo orçamentário, com o objetivo de avaliar o plano financeiro: a Demonstração do Resultado do Exercício, a Demonstração do Fluxo de Caixa e o Balanço Patrimonial. Nesta unidade, vamos projetar essas três demonstrações financeiras com base no orçamento desenvolvido para a empresa Global nas unidades 31, 33 e 36. Vamos lá? 38.1 Apresentar dados para um orçamentode uma empresa Você se lembra da empresa Global? A Global produz e vende dois tipos de produtos para todo o território nacional: Café Global Premium e Café Global Standard. No início do seu período orçamentário, a empresa apresentava a seguinte situação financeira, demonstrada no Balanço Patrimonial (Tabela 31): www.esab.edu.br 217 Tabela 31 – Balanço Patrimonial da empresa Global em 01/01/2015 Balanço Patrimonial da empresa Global em 01/01/2015 Ativo Passivo Ativo circulante Passivo circulante Caixa Contas a receber Estoques Café Global Premium Estoques Café Global Standard R$ 50,000.00 R$ 115,000.00 R$ 16,200.00 R$ 20,500.00 Empréstimos a pagar R$ 26,000.00 Não circulante Não circulante Máquinas Equipamentos Móveis R$ 55,000.00 R$ 10,000.00 R$ 5,000.00 Capital Social R$ 245,700.00 Total do ativo R$ 271,700.00 Total do passivo R$ 271,700.00 Fonte: Elaborada pela autora (2014). A Tabela 31 apresenta como a empresa Global estava quando o período orçamentário se inicia. A partir disso, vamos projetar as outras demonstrações contábeis para verificar a situação na qual a Global se encontrará caso o plano seja implementado. 38.2 Projetar as demonstrações financeiras Agora, vamos projetar as demonstrações financeiras com base em todas as informações do processo orçamentário da empresa Global. Vamos começar pela Demonstração do Resultado do Exercício com base no orçamento de vendas, no orçamento do custo dos produtos vendidos e no orçamento das despesas. Essa demonstração ficaria conforme a Tabela 32 para o primeiro trimestre de 2015. www.esab.edu.br 218 Tabela 32 – Demonstração do Resultado do Exercício projetado para o primeiro trimestre de 2015 DRE 1 tri. 2015 Café Global Premium Café Global Standard Total Receita (-) Custo do produtos vendidos (=) Lucro bruto (-) Despesas administrativas (-) Despesas de vendas (-) Despesas financeiras (=) Lucro antes do Imposto de Renda (-) IR 20% do LAIR (=) Lucro operacional depois do IR R$ 540,000.00 -R$ 364,500.00 R$ 175,500.00 R$ 600,000.00 -R$ 492,000.00 R$ 108,000.00 R$ 1,140,000.00 -R$ 856,500.00 R$ 283,500.00 -R$ 18,000.00 -R$ 12,000.00 -R$ 9,000.00 R$ 244,500.00 -R$ 48,900.00 R$ 195,600.00 Fonte: Elaborada pela autora (2014). A partir da receita descontamos o custo dos produtos vendidos. Lembre-se: o custo de cada lata do Café Global Premium era de R$ 8,10 e seriam vendidas 45.000 latas no trimestre; e o custo de cada lata do Café Global Standard era de R$ 4,10 e seriam vendidas 120.000 latas no trimestre. Do Lucro Bruto deduziu-se todas as despesas administrativas, de vendas e financeiras para se chegar ao lucro antes do imposto de renda de R$ 244.500,00. Considerando que o imposto de renda da empresa Global é de 20%, ela ficará devendo, ao final do período, R$ 48.900,00 desse imposto. Seu lucro operacional depois do imposto de renda será de R$ 195.600,00. Agora, vamos projetar a Demonstração do Fluxo de Caixa, conforme a Tabela 33. Tabela 33 – Demonstração do Fluxo de Caixa projetado para o primeiro trimestre de 2015 Saldo inicial R$ 50,000.00 Entradas de caixa Vendas Contas a receber 01/01/2015 Empréstimo feito em janeiro R$ 895,000.00 R$ 115,000.00 R$ 63,000.00 Saídas de caixa Gastos operacionais Pagamento de empréstimos -R$ 983,100.00 -R$ 10,000.00 Saldo final R$ 129,900.00 Fonte: Elaborada pela autora (2014). www.esab.edu.br 219 Podemos resgatar as informações da Tabela 31, que indicavam que a empresa Global iniciou o trimestre com R$ 50.000,00 no caixa. Suas entradas de caixa correspondem: • às vendas efetuadas no trimestre: do total de R$ 1.140.000,00 de vendas do trimestre, a empresa receberá R$ 895.000,00 durante o período e R$ 245.000,00 será recebido somente em abril; • durante o trimestre, a empresa receberá seu contas a receber contido no Balanço Patrimonial de 01/01/2015; e • durante o trimestre, a empresa fez um empréstimo no valor de R$ 63.000,00, que entrará no caixa. As saídas de caixa correspondem a todos os gastos operacionais gerados pela empresa durante o período orçado (você pode ver o orçamento de caixa da unidade 36), além de R$ 10.000,00 dos R$ 26.000,00 de empréstimos contidos no Balanço Patrimonial de 01/01/2015. Dessa forma, a empresa Global terminará seu trimestre com um saldo de caixa de R$ 129.900,00. Com base nessas informações, podemos agora projetar a Demonstração do Resultado do Exercício no final do período orçado. Veja na Tabela 34: Tabela 34 – Balanço Patrimonial projetado para o final do trimestre Balanço patrimonial da empresa Global em 31/03/2015 Ativo Passivo Ativo circulante Passivo circulante Caixa Contas a receber Estoques Café Global Premium Estoques Café Global Standard R$ 129,900.00 R$ 245,000.00 R$ 63,800.00 R$ 60,500.00 Empréstimos a pagar Empréstimos a pagar Imposto de renda R$ 16,000.00 R$ 63,000.00 R$ 48,900.00 Não circulante Não circulante Máquinas Equipamentos Móveis R$ 55,000.00 R$ 10,000.00 R$ 5,000.00 Capital Social Lucros acumulados R$ 245,700.00 R$ 195,600.00 Total do ativo R$ 569,200.00 Total do passivo R$ 569,200.00 Fonte: Elaborada pela autora (2014). www.esab.edu.br 220 Vamos destacar algumas contas que sofreram modificações ao longo do trimestre orçado: • Caixa: conforme a demonstração de fluxo de caixa, a empresa terminará o trimestre com um caixa de R$ 129.900,00 depois de todas as entradas e saídas de caixa. • Contas a receber: do total de vendas de R$ 1.140.000,00, quando o trimestre terminar, a empresa ainda não terá recebido R$ 245.000,00 dos seus clientes. • Estoques: conforme a política de estoques da Global, vista na unidade 31, ao final do trimestre a empresa deve manter 8.000 latas de Café Global Premium a um custo de R$ 8,10 cada (8.000 latas x R$ 8,10 = R$ 64.800,00); além disso, a empresa deve manter 15.000 latas de Café Global Standard a um custo de R$ 4,10 cada (15.000 latas x R$ 4,10 = R$ 61.500,00). Cabe ressaltar que descontamos R$ 1.000,00 de cada estoque em função da inflação na qual o país se encontra. • Empréstimo a pagar: note que em 01/01/2015 a empresa Global tinha um empréstimo de R$ 26.000,00. Durante o trimestre ela pagou R$ 10.000,00. Dessa forma, a sua dívida é de R$ 16.000,00. Além disso, durante o trimestre, a empresa contraiu mais um empréstimo de R$ 63.000,00, que ainda não foi pago. • Lucros acumulados: durante o trimestre, conforme a DRE apresentada, a empresa Global gerou R$ 195.600,00 de lucro. Todo o lucro foi reinvestido na empresa. Com base nas três Demonstrações projetadas, a seguir, faremos uma avaliação dos resultados encontrados com o processo orçamentário da empresa Global. www.esab.edu.br 221 38.3 Avaliar os resultados Como podemos notar nos resultados da empresa Global, com base no plano orçamentário ela terá um lucro de R$ 195.600,00 em um trimestre. Considerando o investimento inicial de R$ 271.700,00, poderíamos calcular a sua rentabilidade. Conforme estudamos na unidade 8, a rentabilidade pode ser conhecida a partir da seguinte fórmula: Lucro líquido do exercícioRetorno sobre o ativo (RSA) = Ativo total Assim, R$ 195.600,00Retorno sobre o ativo (RSA) = R$ 271.700,00 0,7199 ou 71,99% ao trimestre = Além de apresentar uma rentabilidade bastante atrativa, podemos verificar, a partir da Demonstração do Fluxo de Caixa, que a empresa também preservará sua liquidez, apresentando um saldo positivo de R$ 129.900,00, com o qual poderá saldar os empréstimos nos próximos períodos. A projeção das demonstrações financeiras é o último passo no processo orçamentário. Na unidade 39 vamos apresentare discutir outros métodos de elaboração de orçamentos que também podem ser utilizados pelas empresas. www.esab.edu.br 222 39 Outras formas orçamentárias Objetivo Conhecer as diversas modalidades do orçamento. Desde a unidade 27 temos estudando o orçamento empresarial com base na estimativa de vendas, produção, custo dos produtos vendidos, despesas, orçamento de caixa e projeção das demonstrações contábeis. Nesta unidade, vamos conhecer outras formas orçamentárias: orçamento contínuo, orçamento de base zero, orçamento flexível, orçamento por atividades e orçamento perpétuo. Vamos conceituá-las e apresentar as principais vantagens de cada modalidade de orçamento com base em Lunkes (2011). 39.1 Conceituar outras modalidades de orçamentos (contínuo, de base zero, flexível, por atividades e perpétuos) Não é somente o orçamento empresarial clássico que os gestores financeiros utilizam para a elaboração do planejamento e do controle financeiro. Outras modalidades são estudadas e desenvolvidas por teóricos das finanças. Vamos estudar aqui cinco outros tipos de orçamento que possibilitam planejar as finanças empresariais. Orçamento contínuo De acordo com Lunkes (2011, p. 83), “[...] o orçamento contínuo é baseado em um prazo movente que se estende em função de um período fixo [...]”, ou seja, quando um período terminar, outro é acrescentado do final do ciclo orçamentário. www.esab.edu.br 223 Por exemplo, ao elaborarmos um orçamento para um prazo de 12 meses indo de 1 de janeiro de 2015 a 31 de dezembro de 2015, esse prazo é alterado quando se termina o primeiro mês: o período orçamentário passa para 1 de fevereiro de 2015 a 31 de janeiro de 2016 e assim sucessivamente, acrescentando um período cada vez que outro se finaliza. Normalmente o período será de 12 meses e o orçamento contínuo, não tendo uma data final. Orçamento de base zero (OBZ) Conforme destacam Warren, Reeve e Fess (2001 apud LUNKES, 2011), o orçamento de base zero exige que os administradores financeiros estimem as vendas, a fabricação dos produtos e outros suborçamentos como se as operações estivessem começando da estaca zero. O orçamento de base zero, segundo Lunkes (2011, p. 94), “[...] propõe reexaminar todas as atividades empresariais e prioridades, recursos financeiros a partir da estaca ‘zero’” ao se projetar um novo período orçamentário. No OBZ os administradores devem apresentar justificativas para apropriações dos recursos, levando em consideração o custo/benefício ou a análise evolutiva dos acontecimentos. Orçamento flexível Sabemos que alguns custos variam com a mudança no volume de atividades da empresa. Portanto, de acordo com Lunkes (2011), é essencial, quando se elabora um orçamento, informar aos centros de custo para que considerarem essa variabilidade. Por exemplo, se o volume real de atividades é maior que o seu volume estimado, então esses custos que variam com a atividade são maiores que os custos orçados. Para Garrisson e Norren (1996 apud LUNKES, 2011), o orçamento flexível tem suas diferenças básicas face ao orçamento empresarial: (1) não limita a projeção a um único volume de atividades, mas para uma gama de opções; e (2) os resultados atuais não são comparados com os custos no volume de atividade do orçamento original, ou seja, os custos incorridos são comparados com os necessários para esse volume de atividade. www.esab.edu.br 224 Orçamento por atividades McLemore (1997 apud LUNKES, 2011) conceitua o orçamento por atividade como a expressão quantitativa das atividades esperadas pela empresa. Ele reflete a capacidade necessária para produzir o volume desejado e os recursos financeiros e não financeiros, de acordo com as metas estratégicas e as mudanças planejadas para melhorar o desempenho empresarial. “A análise de atividades identifica atividades significativas de uma empresa para estabelecer uma base que descreva com precisão as operações do negócio e determinar seu custo e desempenho.” (LUNKES, 2011, p. 122). Orçamento perpétuo “O orçamento perpétuo é um sistema de planejamento que prevê custos e uso de recursos fundamentado nas relações de causa e efeito entre os processos correntes.” (BRIMSON, 2000 apud LUNKES, 2011, p. 142). Segundo Lunkes (2011), seus atributos-chaves são os seguintes: • atualiza os planos quando ocorrem eventos-chave; • modela relatório de dados de numerosas fontes; e • usa dados atualizados para validar os processos. O orçamento perpétuo permite a identificação das inter-relações entre as atividades da empresa e de como essas relações influenciam no desempenho individual e no resultado global da organização. Com base nessas cinco modalidades de orçamento vamos, a seguir, identificar as principais vantagens que cada uma delas proporciona para o planejamento financeiro. www.esab.edu.br 225 39.2 Vantagens na utilização de cada tipo de orçamento Dependendo da situação na qual a empresa se encontra, cada modalidade orçamentária traz algumas vantagens quando da sua utilização. Vamos pontuar algumas delas para cada tipo de orçamento. • Orçamento contínuo: • Facilidade em orçar períodos menores, de forma contínua e no menor tempo; • Incorporação de novas variáveis; • Resulta em um orçamento mais preciso e detalhado. (LUNKES, 2011, p. 90) • Orçamento de base zero: • Força os gestores a refletir sobre as operações e procurar oportunidades de melhorias; • Fornece informações detalhadas relativas a recursos necessários para se realizarem os fins desejados; • Chama a atenção para os excessos e duplicidade entre as atividades ou departamentos; • Concentra-se nas reais necessidades e não nas variações do ano anterior; • Proporciona melhor acompanhamento do planejado versus realizado. (LUNKES, 2011, p. 103) • Orçamento flexível: • Pode ser usado para preparar a empresa antes que algum evento aconteça, orçando para vários volumes de atividades esperados; • Possibilita identificar de onde vêm as diferenças entre o orçado e o realizado, se elas foram causadas pela variação do preço, volume etc., ou se foram causadas por eficiência ou ineficiência no uso dos materiais, mão de obra, entre outros; e • A simulação do orçamento flexível por meio de softwares gera grande riqueza de detalhes, flexibilidade e facilidade na construção de cenários. (LUNKES, 2011, p. 136) www.esab.edu.br 226 • Orçamento por atividades • Capacidade de elaborar orçamentos mais realistas; • Melhor identificação dos recursos necessários; • Associação dos custos à produção; • Vinculação mais clara dos custos com as responsabilidades do quadro funcional; e • Identificação das folgas orçamentárias. (LUNKES, 2011, p. 136) • Orçamento perpétuo • Alterações e atualização do processo orçamento quando da mudança de evento-chave; • Maior aproveitamento das oportunidades; • Melhor gerenciamento do excesso ou da falta de capacidade da empresa; • Diminuição dos custos; • Aumento da produtividade; • Maior flexibilidade nas metas orçamentárias; • Aumento na participação do mercado; e • Permanência no negócio. (LUNKES, 2011, p. 90) A enumeração dessas vantagens permite ao administrador financeiro escolher o tipo de orçamento que mais se encaixa à sua realidade, levando em consideração, também, o nível de informação que ele está disposto a obter. Quanto maior o detalhamento e a precisão do orçamento, mais recursos financeiros, humanos e tecnológicos serão dispendidos nessa atividade. Nesta unidade, pudemos conhecer outras modalidades orçamentárias. A seguir, vamos extrapolar o nosso tema de orçamento estudando aspectos não vistos até então: o orçamento de capital, ou seja, o orçamento dos investimentos que a empresa está disposta a realizar, seja para abrir novos mercados, seja para ampliar mercados existentes ou, até mesmo,para adquirir máquinas e equipamentos modernos. Vamos lá? www.esab.edu.br 227 Estudo complementar Na administração pública muito se fala em Orçamento Participativo, que é outra modalidade de elaboração de orçamento. Para saber mais sobre o assunto, acesse o texto “Construção e consolidação de instituições democráticas: papel do orçamento participativo” de Celina Souza clicando aqui. www.esab.edu.br 228 40 Orçamento de capital Objetivo Compreender o conceito de orçamento de capital e os principais motivos para a realização de investimento de capital. O orçamento empresarial que estudamos até aqui diz respeito, basicamente, às atividades operacionais de uma organização empresarial, como a estimativa de vendas, quanto vão custar os produtos que serão fabricados, quais serão as despesas que irão dar suporte às atividades de produção e os lucros gerados a partir de tais vendas. A esse orçamento podemos denominar operacional, isto é, se refere ao planejamento e ao controle das atividades operacionais da empresa. Por exemplo, ao decidir sobre a projeção das vendas, sobre os custos e as despesas de uma empresa, essas definições levam em consideração o curto prazo, normalmente de um ano. Qualquer erro nesse processo é facilmente convertido ou não compromete definitivamente a saúde financeira da empresa. A partir desta unidade vamos dar ênfase ao orçamento de capital. Esse orçamento, ao contrário do orçamento operacional, está relacionado aos investimentos de longo prazo que as empresas fazem em seus negócios. Será que a compra de novas máquinas ou a abertura de novas lojas trarão rentabilidade para a empresa? Essa é uma pergunta que o orçamento de capital poderá responder. Ao tomar decisões não acertadas em termos de capital, dificilmente o administrador financeiro terá condições de reverter a situação, ou o fará com sérios prejuízos. Dessa forma, o orçamento de capital é importante uma vez que leva em consideração o futuro da empresa. Vamos estudar o orçamento de capital com base nos livros de Gitman (2010) e Lunkes (2011). Preparados? www.esab.edu.br 229 40.1 Conceito de orçamento de capital Já construímos uma clara ideia do significado do orçamento. Welsch (1973 apud LUNKES, 2011) conceitua o orçamento como um planejamento que abrange um período futuro. Quando nos referirmos ao termo capital estamos nos referindo aos bens que geram rentabilidade à empresa, como máquinas, equipamentos e o imóvel no qual ela está localizada. Assim, Gitman (2010, p. 326) diz que Orçamento de capital é o processo de avaliação e seleção de investimento de longo prazo condizentes com o objetivo empresarial de maximizar a riqueza dos proprietários. As empresas costumam fazer muitos tipos de investimento de longo prazo, mas os mais comuns entre as indústrias são em ativos imobilizados, que abrangem terrenos, instalações e equipamentos. Esses ativos, às vezes chamados de ativos geradores de lucros, costumam dar base à rentabilidade e ao valor do negócio. Agora que conhecemos o significado do orçamento de capital, vamos discutir os motivos que levam ao investimento de capital por parte das empresas. 40.2 Motivos para realizar investimentos de capital Ao abrir um negócio, uma das primeiras etapas desse processo é a realização de um investimento de capital. O proprietário escolherá um local para investir seus recursos financeiros, comprará máquinas e equipamentos para o processo produtivo, irá adquirir móveis para adequação do espaço físico, entre outros. Gitman (2010, p. 326) diz que um investimento de capital é um “[...] desembolso de fundos que uma empresa faz na expectativa de produzir benefícios ao longo de um prazo superior a um ano”. Assim, desembolsos em ativos imobilizados, os quais encontramos no Balanço Patrimonial das empresas, constituem investimento de capital. Adquirir uma máquina nova com vida útil de 10 anos é um exemplo de investimento de capital que seria registrado no Balanço Patrimonial na conta Ativo Imobilizado. www.esab.edu.br 230 Segundo Gitman (2010), as empresas fazem investimentos de capital por inúmeros motivos, entre os quais: • Expansão das operações: seja no que diz respeito à abertura de novos mercados, seja no âmbito de diversificação dos produtos. Normalmente aumentar a capacidade produtiva para atender à demanda que existe no mercado carece de um investimento de capital. • Substituição dos ativos imobilizados: isso acontece quando os ativos imobilizados existentes estão completamente depreciados. O motivo também pode ser relacionado à modernização das máquinas e equipamentos por outras que tenham um desempenho melhor. Esse exemplo é bastante comum em empresas que necessitam constantemente de novas tecnologias. Independente do motivo pelo qual a empresa necessita realizar um investimento de capital, este deve seguir algumas etapas, com o objetivo de que seja tomada uma decisão acertada em termos de resultados financeiros. Essas etapas do processo de orçamento de capital é o que vamos estudar a seguir. 40.3 Etapas do processo de orçamento de capital Um investimento de capital costuma ser uma decisão bastante importante nas organizações, isso porque envolve o longo prazo da empresa e seu futuro no mercado. Uma vez tomada, essa decisão dificilmente pode ser revertida sem sérios prejuízos para o resultado da empresa. Dessa forma, Gitman (2010, p. 327) elenca cinco etapas do processo de orçamento de capital compreende: • Geração da proposta. Propostas são feitas em todos os níveis organizacionais e revistas pelo pessoal financeiro. Aquelas que exijam grandes desembolsos são submetidas a um escrutínio maior do que as mais modestas. • Revisão e análise. Realizam-se revisões e análises mais detidas para avaliar a adequação e a viabilidade econômica das propostas. Uma vez concluída a análise, um relatório resumido é submetido aos tomadores de decisão. www.esab.edu.br 231 • Tomada de decisão. As empresas costumam delegar a tomada de decisões em investimentos de capital com base em tetos de valor. De modo geral, é necessário obter autorização do conselho de administração para dispêndios além de um determinado valor. Muitas vezes, os diretores de unidades produtivas recebem delegação para tomar as decisões necessárias para manter a linha em funcionamento. • Implementação. Depois da aprovação, os investimento são realizados e os projetos, implementados. Os dispêndios em projetos de grande porte muitas vezes ocorrem em etapas. • Acompanhamento. Os resultados são monitorados e os custos e benefícios efetivos, comparados com as expectativas. Poderá ser necessário tomar algumas providências, se os resultados efetivos forem diferentes dos projetados. Gitman (2010) ressalta que todas as etapas do processo de orçamento de capital são importantes, mas a revisão e análise e a tomada de decisões normalmente consomem a maior parte dos esforços para a realização do investimento. Estudo complementar Você quer ver uma aplicação prática dos conceitos de orçamento de capital? Acesse o trabalho intitulado “Uma análise exploratória do processo de orçamento de capital em empresas algodoeiras”, de autoria de Afonso Carneiro Lima, José Augusto Giesbrecht da Silveira, Mário Tanabe; Fábio Lotti Oliva e Celso Cláudio de Hildebrand. Nesse trabalho os autores analisam o orçamento de capital voltado a investimentos em ativos de capital (máquinas e equipamentos), desempenhado por gestores de empresas algodoeiras. Acesse o link clicando aqui. www.esab.edu.br 232 41 Fluxo de caixa relevante Objetivo Discutir os fluxos de caixa relevantes, a diferença entre decisões de expansão e substituição, os custos irrecuperáveis e os custos de oportunidade. Na unidade 40 iniciamos os nossos estudos sobre o orçamento de capital.O orçamento de capital é o tema que trata do planejamento financeiro em termos de investimento de bens de longo prazo, por exemplo, máquinas, edifícios e tecnologias. Além disso, é elaborado e avaliado em função do incremento de caixa que o projeto de investimento consegue gerar para a empresa ao longo do tempo. Dessa forma, o fluxo de caixa é o instrumento que fornecerá os insumos para a tomada de decisão acerca do investimento. Mais precisamente, a construção de um fluxo de caixa relevante é a base do orçamento de capital. Quer saber como elaborar um fluxo de caixa relevante para a tomada de decisão de investimento? É o que vamos estudar nesta unidade com base no livro do Gitman (2010). De acordo om Gitman (2010), na avaliação de alternativas de investimento o administrador financeiro deve determinar os fluxos de caixa relevantes. Os fluxos de caixa relevantes representam a saída de caixa do investimento realizado e o confronto com as entradas de caixa que o investimento irá proporcionar. Por exemplo, ao adquirir uma nova máquina, as vendas adicionais que essa nova máquina proporciona são consideradas para o fluxo de caixa relevante. As vendas que já existiam antes dessa nova aquisição são irrelevantes para a tomada de decisão em relação à compra da nova máquina. Vamos agora identificar os componentes que constituem no fluxo de caixa relevante. www.esab.edu.br 233 41.1 Componentes do fluxo de caixa Os fluxos de caixa relevantes de um projeto de investimento de capital incluem, segundo Gitman (2010), três componentes básicos: 1. Um investimento inicial – refere-se ao desembolso para aquisição do bem de capital; 2. Entradas de caixa operacionais – as entradas de caixa operacionais estão relacionadas ao benefício que o investimento irá proporcionar; e 3. Fluxo de caixa terminal – representa o valor residual do investimento após o término do projeto. Na Figura 12 você pode acompanhar um exemplo de um fluxo de caixa relevante em uma linha de tempo. Nessa linha do tempo há os três componentes descritos anteriormente. Final do ano 0 1 R$ 4.000 R$ 50.000 R$ 5.000 Investimento inicial Fluxo de caixa terminal Entradas de caixa operacionais R$ 7.000 R$ 8.000 R$ 8.000 R$ 10.000 R$ 25.000 R$ 6.000 R$ 7.000 R$ 8.000 R$ 9.000 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Figura 12 – Componentes do fluxo de caixa. Fonte: Gitman (2010, p. 331). A Figura 12 representa os fluxos de caixa de um projeto de investimento ao longo de uma linha do tempo. O investimento inicial do projeto é de R$ 50.000,00, que representa um desembolso (saída de caixa) relevante na data zero. As entradas de caixa operacionais, ocasionadas pelo www.esab.edu.br 234 investimento, vão de R$ 4.000,00 no primeiro período até R$ 10.000,00 no último período. O fluxo de caixa terminal foi de R$ 25.000,00 e representa o valor que o investimento inicial tem após os 10 anos. Para dar continuidade ao processo de tomada de decisão de investimento de capital vamos discutir sobre as decisões de expansão ou substituições e suas principais diferenças. 41.2 Decisões de expansão e de substituição Gitman (2010) afirma que estimar o fluxo de caixa relevante em decisões de expansão é um processo mais simples. Nesse caso, os três componentes do fluxo de caixa (investimento inicial, entradas de caixa operacionais e o fluxo de caixa terminal) estão diretamente associados à proposta de investimento de capital. É o caso, por exemplo, da compra de novas máquinas para aumento da produção: as entradas das novas vendas e os custos que elas causam são mais facilmente isoladas para a construção do fluxo de caixa relevante. Já a construção do fluxo de caixa relevante para decisões de substituição é um processo mais complexo porque a empresa precisa identificar as entradas e saídas incrementais que resultariam da troca do investimento (GITMAN, 2010). O investimento inicial, nos casos de substituição, é representado pela diferença entre o investimento inicial necessário para adquirir um novo ativo e as entradas de caixa providas pela liquidação do ativo antigo. Além disso, as entradas de caixa operacionais resultam da diferença entre as entradas de caixa operacionais do novo antigo e as do antigo ativo (GITMAN, 2010). Por exemplo, se a máquina antiga vendia R$ 100,00 e a máquina nova passará a vender R$ 150,00, será considerado como entradas de caixa operacionais somente o incremento, ou seja, os R$ 50,00 (os outros R$ 100,00 já existiam antes do investimento de capital, assim, são irrelevantes para a tomada de decisão). Outra variável importante na avaliação de propostas de investimento são os custos irrecuperáveis e os custos de oportunidade. Vamos estudá-los a seguir. www.esab.edu.br 235 41.3 Custos irrecuperáveis e custos de oportunidade Ao avaliar uma proposta de investimento de capital, a empresa deve conhecer os custos irrecuperáveis e os custos de oportunidade desse projeto. Gitman (2010) alerta que é fácil lidar incorretamente com esses custos e, até mesmo, ignorá-los, sobretudo ao determinar os fluxos de caixa relevantes e incrementais de um projeto. Gitman (2010, p. 331) explica cada um desses custos: Custos irrecuperáveis são desembolsos de caixa já realizados (desembolsos passados) e que, portanto, não exercem efeito sobre os fluxos de caixa relevantes para a decisão em questão. Assim, os custos irrecuperáveis não devem ser incluídos nos fluxos de caixa incrementais de um projeto. Dessa forma, todos os custos passados são irrelevantes para o a avaliação da proposta de investimento, uma vez que não podem ser alterados. Por exemplo, o valor pago pela máquina que será substituída é irrelevante para a tomada de decisão sobre o futuro da empresa. É um custo irrecuperável. Custos de oportunidade são fluxos de caixa que poderiam ser realizados por meio do melhor uso alternativo de um ativo pertencente à empresa. Representam, portanto, fluxos de caixa que não serão realizados por causa do emprego do ativo no projeto proposto. Por isso, quaisquer custos de oportunidade devem ser incluídos como saídas de caixa para determinar os fluxos de caixa incrementais de um projeto. (GITMAN, 2010, p. 331) Supondo que, ao optar por expandir a produção e comprar uma nova máquina, o administrador financeiro deixe de ganhar os juros que o recurso financeiro estava rendendo em uma aplicação. Esse “deixar de ganhar” é um custo de oportunidade, caso a compra da máquina seja efetivada. Nesta unidade, estudamos o instrumento utilizado nas avaliações de propostas de investimento de capital: o fluxo de caixa relevante. Na unidade 42 aprenderemos a calcular um dos componentes que formam esse fluxo de caixa: o investimento inicial. www.esab.edu.br 236 Estudo complementar O custo de oportunidade é um valor normalmente ignorado em avaliações de investimento. Ao comprar uma casa ou um novo carro, você conhece o custo de oportunidade, ou seja, o que você está deixando de ganhar por ter feito essa escolha? Esse é um conceito importante para as finanças, principalmente quando o objetivo é maximizar os resultados. Para saber mais sobre esse conceito, acesse o texto “Custo de oportunidade: conceitos e contabilização”, de Anísio Cândido Pereira, Benedito Felipe de Souza, Dauro Rodrigues Redaelli e Joshua Onome Imoniana clicando aqui. www.esab.edu.br 237 42 Investimento inicial Objetivo Calcular o investimento inicial associado a uma proposta de investimento de capital. Na unidade 41 estudamos sobre o fluxo de caixa relevante, instrumento utilizado para avaliar as decisões em relação aos investimentos de capital. Um dos componentes estudados no fluxo de caixa relevante é o investimento inicial. Esse investimento representa um desembolso gerado pela proposta de investimento. Nesta unidade, iremosestudar e aprender a calcular o montante do investimento inicial com base em Gitman (2010). 42.1 Custo de aquisição de novos ativos O investimento inicial refere-se aos desembolsos de caixa relevante a serem considerados na avaliação de uma proposta de investimento de capital. Esse investimento inicial ocorre na data zero, ou seja, no momento da realização do investimento. Calculamos o montante do investimento inicial subtraindo todos os ingressos de caixa que ocorrem em função da aquisição do novo ativo (como a venda do ativo antigo) de todos os desembolsos de caixa que ocorrem também em função da aquisição do novo bem. Gitman (2010, p. 334) mostra um formato básico para a determinação do investimento inicial, como você pode ver em destaque: www.esab.edu.br 238 Custo ativo total novo = Custo de aquisição do ativo novo + Custo de instalação - Recebimentos pela venda do ativo antigo, após o imposto de renda = Recebimentos pela venda do ativo antigo ± Imposto de renda sobre a venda do ativo antigo ± Variação do capital de giro líquido = Investimento inicial Segundo Gitman (2010), o custo do ativo novo representa o desembolso líquido necessário à aquisição do novo bem. Já os custos de instalação consistem em quaisquer custos adicionais necessários para que o novo ative esteja em perfeito funcionamento. O custo ativo total novo é a soma do custo de aquisição com os custos de instalação. O próximo passo é descontar os recebimentos pela venda dos ativos antigos, ou seja, os que serão substituídos. É o que veremos a seguir. 42.2 Recebimentos pela venda de ativos antigos No quadro de destaque no tópico anterior você pôde ver o desconto dos recebimentos pela venda do ativo antigo após o imposto de renda. Esses recebimentos, de acordo com Gitman (2010, p. 334), “[...] são a diferença entre o que se recebeu com a venda do ativo antigo e quaisquer impostos incidentes ou abatimentos de impostos a ela relacionadas”. Isso significa que o valor da venda do ativo antigo deve ser líquido. Os recebimentos pela venda de um ativo antigo (como mostrado no quadro-destaque anterior) “[...] são as entradas de caixa líquidas por ele proporcionadas” (GITMAN, 2010, p. 334). Também pode haver custos de remoção dos ativos antigos. www.esab.edu.br 239 O último item a ser considerado no cálculo do investimento inicial é a variação do capital de giro líquido, que veremos a seguir. 42.3 Variação do capital de giro líquido O capital de giro líquido é a parcela pela qual o ativo circulante de uma empresa supera o passivo circulante, conforme estudamos na unidade 11 com o Balanço Patrimonial. As variações do capital de giro líquido, segundo Gitman (2010), por vezes acompanham as decisões de investimento de capital. Por exemplo, se uma empresa adquirir novas máquinas para aumentar o nível de suas atividades produtivas, necessitará de um aumento em níveis de caixa, contas a receber, estoques, fornecedores e contas a pagar, ou seja, das contas do circulante da empresa. Esses aumentos resultam da necessidade de mais recurso financeiro disponível para sustentar o novo nível operacional de atividades, mais contas a receber e estoques para sustentar o aumento das vendas e mais fornecedores e contas a pagar para sustentar os maiores desembolsos feitos para atender à maior demanda por produtos (GITMAN, 2010). A diferença entre a variação do ativo circulante (caixa, contas a receber e estoques) e a variação do passivo circulante (fornecedores a pagar, contas a pagar, impostos a pagar) é a variação do capital de giro líquido (GITMAN, 2010). Geralmente, na aquisição de novos bens de capital, o ativo circulante sofre um aumento maior do que o passivo circulante, resultando em maior investimento em capital de giro líquido. Esse maior investimento é tratado como uma saída inicial, ou seja, incluído no montante do investimento inicial da proposta de investimento. Se a variação do capital de giro líquido for negativa, ou seja, se o passivo circulante aumentar mais que o ativo circulante, será apresentada como uma entrada inicial. A variação do capital de giro líquido – seja ela um aumento ou uma redução – não é tributável, porque envolve apenas um acúmulo líquido ou uma redução líquida de contas circulantes (GITMAN, 2010). www.esab.edu.br 240 No que se refere à variação do capital de giro líquido, vamos acompanhar o exemplo da empresa Alfa, que está considerando expandir as operações, aumentando o volume de produção e vendas. Os administradores financeiros esperam que a variação das contas circulantes apresentadas na Tabela 35 ocorra e se mantenha ao longo da expansão. Tabela 35 – Cálculo da variação do capital de giro líquido da empresa Alfa Conta circulante Variação do saldo Caixa + R$ 4.000 Contas a receber + R$ 10.000 Estoques + R$ 8.000 (1) Ativo circulante + R$ 22.000 Fornecedores + R$ 7.000 Contas a pagar + R$ 2.000 (2) Passivo circulante + R$ 9.000 Variação do capital de giro líquido [(1) - (2)] + R$ 13.000 Fonte: Gitman (2010, p. 337). Espera-se que o ativo circulante aumente em R$ 22.000,00 e o passivo circulante em R$ 9.000,00, resultando em um crescimento de R$ 13.000,00 (R$ 22.000,00 - R$ 9.000,00) do capital de giro líquido. Nesse caso, a variação representará maior investimento em capital de giro líquido e será tratada como um desembolso adicional no cálculo do investimento inicial. Saiba mais O Sebrae disponibiliza uma cartilha para o cálculo do Investimento Inicial de uma empresa, chamado “Como calcular o investimento inicial”. Você pode acessá-lo clicando aqui. www.esab.edu.br 241 Resumo Na unidade 37 estudamos uma das últimas etapas de um processo operacional com a projeção das demonstrações contábeis e revisitamos o Balanço Patrimonial, a Demonstração do Resultado do Exercício e a Demonstração do Fluxo de Caixa. Essas demonstrações servem de base para reunir as informações do orçamento e mostrar a situação financeira da empresa ao término do plano. Em seguida, na unidade 38, projetamos as demonstrações financeiras da empresa Global e avaliamos os resultados proporcionados pelo orçamento realizado. Finalizado o estudo do orçamento empresarial, na unidade 39 conhecemos outras formas orçamentárias disponíveis na literatura de finanças, entre elas orçamento contínuo, base zero, flexível, por atividades e perpétuos. Conceituamos cada um desses orçamentos e identificamos as principais vantagens da utilização de cada um deles. Na unidade 40 iniciamos os nossos estudos sobre o orçamento de capital, que está relacionado aos investimentos de longo prazo da empresa. Vimos que o orçamento de capital é o processo de avaliação e seleção de investimento de longo prazo condizente com o objetivo empresarial de maximizar a riqueza dos proprietários e identificamos os motivos pelos quais as empresas realizam orçamentos de capital e suas etapas. Em seguida, já na unidade 41, iniciamos a discussão do fluxo de caixa relevante. O fluxo de caixa relevante é o instrumento utilizado para projetar e avaliar os resultados de cada alternativa de investimento para a tomada de decisão. Vimos que os componentes do fluxo de caixa relevante são o investimento inicial, as entradas de caixa operacionais e o fluxo de caixa terminal. Na unidade 42 desdobramos o cálculo do investimento inicial para projetos de investimento. Nesse cálculo estão inclusos o custo do novo ativo, os recebimentos pela venda do antigo ativo e as variações do capital de giro líquido. www.esab.edu.br 242 43 Exercício resolvido Objetivo Resolver um exercício a fim de contextualizar os conceitos apresentados. Na unidade 41, estudamos o fluxo de caixa relevante e vimos que trata- se de uma ferramenta importante na análise dos projetos de orçamentode capital. O fluxo de caixa relevante representa a saída de caixa do investimento realizado e o confronto com as entradas de caixa que o investimento proporcionará. Além disso, vimos que o fluxo de caixa relevante é composto por três elementos: um investimento inicial, entradas de caixa operacionais e um fluxo de caixa terminal. Depois disso, na unidade 42, falamos exclusivamente do cálculo do investimento inicial. Agora que já estamos familiarizados com os conceitos apresentados, vamos resolver o caso da empresa Aquarela, calculando o investimento inicial e elaborando um fluxo de caixa relevante. Utilizaremos a metodologia apresentada por Gitman (2010). Vamos lá? 43.1 Apresentar uma empresa e suas informações acerca da substituição de ativos A empresa Aquarela, uma grande fabricante de tintas para a construção civil, está buscando determinar o investimento inicial necessário para substituir uma máquina em uso por um modelo novo e mais sofisticado. A expectativa é de que as vendas da empresa Aquarela aumentem, já que há demanda no mercado para isso. O preço proposto dessa aquisição é de R$ 380.000,00, e serão necessários mais R$ 20.000,00 para instalações do novo equipamento. A nova máquina será depreciada ao longo dos próximos cinco anos. www.esab.edu.br 243 A máquina antiga foi comprada há três anos, a um custo de R$ 240.000,00 e também depreciava em um período de cinco anos, ou seja, a cada ano de uso, a máquina perdia R$ 48.000,00 do seu valor pelo uso (R$ 240.000,00 / 5 anos de vida útil = R$ 48.000,00 por ano). Hoje, o valor contábil dessa máquina antiga é de R$ 96.000,00 ([R$ 240.000,00 – (R$ 48.000,00 x 3 anos de uso)] = R$ 96.000,00). Porém, encontrou- se um comprador disposto a pagar R$ 180.000,00 por ela. Dessa forma, a empresa Aquarela lucrará R$ 84.000,00 pela venda da máquina antiga (R$ 180.000,00 da venda – R$ 96.000,00 do valor contábil = R$ 84.000,00). Na empresa Aquarela, qualquer tipo de lucro é tributado pelo imposto de renda a uma taxa de 30%, ou seja, a empresa Aquarela pagará R$ 25.200,00 (R$ 84.000,00 x 30%) de imposto de renda pela venda da máquina antiga. Além disso, para que a produção de tintas e, consequentemente, as vendas da empresa Aquarela aumentem, ela precisará realizar um investimento adicional em capital de giro, como caixa, contas a receber e estoques, no valor de R$ 80.000,00. Percebe-se também que, com o aumento do volume de atividades, o passivo circulante da empresa também aumentará em contas, como salários a pagar, fornecedores a pagar e impostos a pagar, no montante de R$ 30.000,00. Isso significa que, ao substituir a máquina, a empresa Aquarela terá uma variação positiva, ou seja, um aumento no capital de giro líquido de R$ 50.000,00, acompanhe: Capital de giro líquido = Ativo Circulante – Passivo Circulante Capital de giro líquido = R$ 80.000,00 – R$ 30.000,00 = R$ 50.000,00 Com base nos dados apresentados, vamos calcular o investimento inicial que a empresa Aquarela realizará ao substituir o seu ativo. www.esab.edu.br 244 43.2 Calcular o investimento inicial Antes de iniciar o cálculo do investimento inicial da empresa Aquarela, ao substituir um dos seus antigos por outro mais moderno, vamos resgatar o método apresentado por Gitman (2010) para calcular o investimento inicial. Custo ativo total novo = + Custo de aquisição do ativo novo Custo de instalação - Recebimentos pela venda do ativo antigo, após o imposto de renda = ± Recebimentos pela venda do ativo antigo Imposto de renda sobre a venda do ativo antigo ± Variação do capital de giro líquido Investimento inicial Quadro 24 – Formato básico para determinação do investimento inicial. Fonte: Gitman (2010, p. 334). Com base no Quadro 24, que apresenta a sequência dos dados para o cálculo do investimento inicial, vamos inserir as informações da empresa Aquarela para conhecer qual será o montante final que ela desembolsará ao substituir um dos seus ativos. Podemos acompanhar o cálculo no Quadro 25. Custo de aquisição da nova máquina R$ 380.000,00 + Custo de instalação R$ 20.000,00 = Custo total R$ 400.000,00 – Recebimentos com a venda da máquina antiga, após o Imposto de Renda Recebimentos com a venda da máquina antiga R$ 180.000,00 – Imposto de renda -R$ 25.200,00 = Recebimento total, após o imposto de renda R$ 154.800,00 + Variação do capital de giro líquido R$ 50.000,00 Investimento inicial R$ 295.200,00 Quadro 25 – Cálculo do investimento inicial da empresa Aquarela. Fonte: Elaborado pela autora (2014). www.esab.edu.br 245 O valor de R$ 295.200,00 representa o total que será desembolsado pela empresa Aquarela ao substituir seu ativo. Ao custo de aquisição da nova máquina somou-se R$ 400.000,00. Daí desconta-se o total de recebimentos pela venda do ativo antigo, após o imposto de renda, de R$ 154.800,00. Por fim, soma-se a variação positiva que o capital de giro líquido sofreu pela mudança no volume de atividades de R$ 50.000,00. A seguir, vamos definir como ficará o fluxo de caixa relevante dessa empresa. 43.3 Elaborar um fluxo de caixa relevante Conforme estudamos na unidade 41, o fluxo de caixa relevante representa a saída de caixa do investimento realizado e o confronto com as movimentações de caixa que o investimento irá proporcionar. Também vimos que a construção de um fluxo de caixa relevante para decisões de substituição é um processo mais complexo, porque a empresa precisa identificar as entradas e saídas incrementais que resultariam da troca do investimento (GITMAN, 2010). As entradas e saídas de caixa incrementais referem-se somente às movimentações de caixa ocasionadas, exclusivamente em função da nova aquisição. As movimentações que já existiam anteriormente não fazem parte desse fluxo de caixa, pois não servem para avaliar o investimento realizado. Vamos verificar como fica o caso da empresa Aquarela em relação ao seu fluxo de caixa relevante. O Quadro 26 mostra os resultados operacionais apurados da empresa Aquarela antes e após a substituição da nova máquina. Conforme apontou-se anteriormente, o novo ativo tem vida útil de cinco anos. Além disso, a alíquota de imposto de renda da empresa é de 30%. Receitas operacionais Custos e despesas operacionais Fluxo operacional Resultados antes do novo investimento (R$) R$ 300.000,00 - R$ 200.000,00 R$ 100.000,00 Resultados esperados considerando o novo investimento Ano 1 R$ 370.000,00 - R$ 220.000,00 R$ 150.000,00 Ano 2 R$ 430.000,00 - R$ 250.000,00 R$ 180.000,00 Ano 3 R$ 490.000,00 - R$ 280.000,00 R$ 210.000,00 Ano 4 R$ 550.000,00 - R$ 300.000,00 R$ 250.000,00 Ano 5 R$ 590.000,00 - R$ 320.000,00 R$ 270.000,00 Quadro 26 – Resultados do projeto de investimento. Fonte: Elaborado pelo autora (2014). www.esab.edu.br 246 Como você pode notar, o Quadro 26 traz os resultados que a empresa tinha antes de realizar o novo investimento e os resultados projetados, caso ela realmente faça a aquisição da nova máquina, que proporcionará um maior volume de atividades. Note que as vendas crescem ao longo dos cinco anos comparando-se com a situação que se encontrava antes do novo investimento. Além disso, alguns custos e despesas também modificam-se em função do maior número de produção e vendas. Com base no Quadro 26, vamos elaborar nosso fluxo de caixa relevante em termos incrementais, ou seja, isolando somente as modificações ocorridas antes e depois da nova aquisição. Acompanhe o Quadro 27. *∆ significa variação Quadro 27 – Fluxo de caixa relevante em termos incrementais. Fonte: Elaborado pelo autora (2014). Como você pode notar, ao construir o fluxo relevante em termos incrementais, utilizamos somente as variações que aconteceram nas receitas, nos custos e nas despesas, em relação aos resultados antes da nova aquisição.Por exemplo, a receita operacional antes do novo investimento era de R$ 300.000,00, no ano 1 passou a ser R$ 370.000,00. Entretanto, utilizamos no fluxo de caixa relevante somente a variação, ou seja, aumentou R$ 70.000,00, e assim sucessivamente. www.esab.edu.br 247 Assim, já temos as seguintes informações: • Investimento inicial = R$ 295.200,00 • Fluxo operacional líquido Ano 1 = R$ 35.000,00 • Fluxo operacional líquido Ano 2 = R$ 56.000,00 • Fluxo operacional líquido Ano 3 = R$ 77.000,00 • Fluxo operacional líquido Ano 4 = R$ 105.000,00 • Fluxo operacional líquido Ano 5 = R$ 119.000,00 O fluxo operacional líquido representa o valor que o investimento proporcionou aos resultados da empresa. Com base nisso, vamos estudar algumas técnicas de avaliação para saber se o investimento realizado, em função da contribuição que gerou par ao fluxo de caixa, é rentável para a empresa. Nas próximas unidades, estudaremos três técnicas de avaliação: payback, Valor Presente Líquido e a Taxa Interna de Retorno. www.esab.edu.br 248 44 Payback Objetivo Calcular, interpretar e avaliar o período de payback. Na elaboração de orçamento de capital, que estamos estudando desde a unidade 40, ressaltamos que o fluxo de caixa relevante é o instrumento utilizado para gerar as informações necessárias para o processo de avaliação das propostas de investimento. Na unidade 43, exemplificamos um fluxo de caixa relevante e chegamos ao fluxo operacional líquido, ou seja, ao resultado que o investimento proporcionou à empresa em termos de caixa. Nesta unidade, vamos estudar uma das técnicas de avaliação de proposta de investimento: o payback. Essa técnica de avaliação será apresentada com base em Groppelli e Nickbaht (2010) e Gitman (2010). 44.1 Conceitualizar o payback Em uma tradução literal, payback significa retorno. Nas finanças, de acordo com Groppelli e Nickbaht (2010, p. 134), “[...] o número de anos necessários para recuperar o investimento inicial é chamado de período de recuperação do investimento (payback)”. Ou seja, o payback é uma medida de avaliação de investimento que mede o tempo que o investimento realizado será recuperado, isto é, voltará para o caixa da empresa. Na comparação de dois ou mais projetos de investimento, os que apresentam um menor período de amortização são os preferidos, segundo os critérios financeiros. Isso significa que os investimentos com menores paybacks serão os que voltarão mais rapidamente para o caixa da empresa. Dessa forma, o payback é uma medida temporal. A seguir, vamos conhecer a formulação do cálculo do payback, para, em seguida, interpretá-lo. www.esab.edu.br 249 44.2 Expor a formulação do payback O payback é o método mais simples de elaboração do cálculo e de fácil compreensão. Para compreendermos o payback, vamos considerar os fluxos operacionais líquidos de caixa de um projeto de investimento que possui uma vida útil de cinco anos. Acompanhe, no Quadro 28, um exemplo de um Fluxo Operacional Líquido de Caixa, resultante de um investimento de R$ 300,00. Com base nele, vamos calcular o payback. Fluxo operacional líquido Investimento Inicial - R$ 300,00 Ano 1 R$ 120,00 Ano 2 R$ 110,00 Ano 3 R$ 130,00 Ano 4 R$ 150,00 Ano 5 R$ 100,00 Quadro 28 – Resultado do fluxo de caixa relevante. Fonte: Elaborado pela autora (2014). Como o período de payback é o tempo necessário para se recuperar o investimento inicial (R$ 300,00), nota-se que se deve trazer de volta ao caixa da empresa cada uma das entradas previstas para cada ano. Dessa forma, temos no Ano 1: Ano 1: Investimento inicial + FOL Ano1 = -300,00 + 120,00 = -180,00 Em que: FOL = Fluxo operacional líquido Podemos observar que, ao realizar um investimento inicial de R$ 300,00 e obter um fluxo operacional líquido de caixa no Ano 1 de R$ 120,00, o projeto ainda não se recuperou, faltando, ainda. 180,00 para “zerar” o dispêndio de capital feito. Assim, vamos para o Ano 2: Ano 2: Resultado do Ano 1 + FOL2 = -180,00 + 110,00 = -70,00 www.esab.edu.br 250 Com o fluxo operacional líquido de caixa de R$ 110,00, o investimento inicial ainda não se recuperou, faltando, ainda, 70,00 para pagar o investimento realizado. Dessa forma, passamos para o Ano 3: Ano 3: Resultado do Ano 2 + FOL3 = -70,00 + 130,00 = 60,00 Durante o terceiro ano o projeto pagou-se. Porém, qual foi exatamente esse tempo? Sabemos que o projeto completou dois anos, mas não sabemos quantos meses foram demandados do terceiro ano. Para maior precisão, elaboramos o seguinte cálculo: = 70,00 0,54 130,00 O terceiro ano se iniciou com um déficit de 70,00 e, nesse mesmo ano, teríamos um acréscimo de 130,00 do fluxo operacional líquido do Ano 3. Basta dividir um pelo outro, obtendo-se o resultado de 0,54. Em seguida, multiplicamos o resultado encontrado (0,54) pelos meses do ano (12 meses): 0,54 x 12 meses = 6,46 meses Temos, então, um payback de, aproximadamente, dois anos e seis meses. Um dos maiores problemas encontrados no payback é que ele não leva em consideração o valor do dinheiro ao longo do tempo. Ou seja, compara todas as entradas de caixa futuras com um investimento desembolsado hoje, na data zero. Sabemos que o valor do dinheiro muda ao longo do tempo. Nesses casos, o ideal é trazer todos os valores futuros a valores presentes para comparar com o investimento inicial. O valor do dinheiro no tempo é um dos conceitos mais importantes da Teoria Financeira. Isso porque o dinheiro que a empresa tem em mãos hoje tem mais valor do que o dinheiro no futuro, pois, hoje, pode ser investido e render retornos positivos (GITMAN, 2010), além de que o dinheiro no futuro perde seu valor em função de inflação, risco e preferência pela liquidez. www.esab.edu.br 251 A seguir, vamos abordar os critérios para análise do payback. 44.3 Interpretar os resultados do payback De acordo com Gitman (2010, p. 366, grifo do autor), quando utilizamos a metodologia do payback para a tomada de decisão em relação à seleção de projetos de investimento, aplica-se os seguintes critérios de decisão: • Se o período de payback for menor do que o período máximo aceitável de payback, aceitar o projeto. • Se o período de payback for maior do que o período máximo aceitável de payback, rejeitar o projeto. Lembrando que a duração do período máximo aceitável de payback é definida pelos gestores da empresa. Segundo Gitman (2010, p. 366), “[...] esse valor é fixado subjetivamente, com base em uma série de fatores, inclusive tipo de projeto (expansão, substituição, renovação ou outros), percepção do risco do projeto e relação percebida entre o período de payback e o valor da ação”. Segundo Groppelli e Nickbakht (2010), o método do payback tem vantagens e desvantagens. Para os autores, a principal vantagem é que esse método é de fácil cálculo, utilização e entendimento, uma vez que não é necessário fazer cálculos complicados para encontrar o tempo que um investimento demora para recuperar seu investimento inicial. Nesta unidade, conhecemos a técnica mais simples de avaliação de investimentos. A seguir, estudaremos o Valor Presente Líquido, que se apresenta como uma metodologia mais sofisticada na análise dos investimentos. www.esab.edu.br 252 45 Valor presente líquido Objetivo Calcular, interpretar e avaliar o valor presente líquido. Na unidade 44, estudamos a primeira técnica de análise de projetos de investimentos: o payback. Vimos que o payback calcula o tempo de retorno que o investimento proporciona à empresa em termos de caixa. Agora, vamos à segunda técnica que é bastante complementar à anterior, denominada Valor Presente Líquido (VPL). Essa técnica, ao contrário do payback, visto anteriormente, leva em consideração o valor do dinheiro ao longo do tempo. Vamos estudá-laa partir de Gitman (2010) e Groppelli e Nikbakht (2010). 45.1 Conceitualizar o Valor Presente Líquido O Valor Presente Líquido é uma técnica de análise de orçamento de capital que leva em consideração o valor do dinheiro no tempo e exige a escolha de uma taxa mínima desejada para fins de desconto. Essa taxa representa o percentual mínimo que os investidores desejam obter de retorno no investimento realizado. Os valores futuros do fluxo de caixa relevante projetado são descontados considerando essa taxa mínima de retorno para os períodos envolvidos. Dessa forma, podemos comparar o desembolso inicial com os fluxos operacionais líquidos de caixa na mesma data. Segundo Gitman (2010), essa taxa é o retorno mínimo que os investidores esperam de um projeto para que o valor de mercado da empresa fique inalterado. No próximo tópico, veremos qual o cálculo para identificar o VPL do investimento. www.esab.edu.br 253 45.2 Expor a formulação do Valor Presente Líquido Para calcular o Valor Presente Líquido de um projeto de investimento, utilizamos a seguinte fórmula de cálculo: = − +∑ 01 VLP = (1 ) n t t t FC I K Em que: FCt = fluxo operacional líquido de caixa de cada período. K = taxa de desconto do projeto, representada pela rentabilidade mínima exigida pelos proprietários. I0 = investimento inicial. Ou seja, o cálculo do VPL representa a soma dos valores atuais das entradas de caixa descontada do valor do investimento inicial. Vamos exemplificar. Suponha que uma empresa está realizando um investimento qualquer e definiu que a taxa mínima de retorno desse investimento seja de 20% ao ano e que o investimento seja desembolsado integralmente no momento inicial. Assim, temos o resultado do seu fluxo de caixa relevante, conforme o Quadro 29. Fluxo operacional líquido Investimento inicial - R$ 300,00 Ano 1 R$ 120,00 Ano 2 R$ 110,00 Ano 3 R$ 130,00 Ano 4 R$ 150,00 Ano 5 R$ 100,00 Quadro 29 – Resultado do fluxo de caixa relevante. Fonte: Elaborado pela autora (2014). www.esab.edu.br 254 Vamos calcular o Valor Presente Líquido desse investimento, veja: ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) = + + + + − + + + + + = + + + + − = 1 2 3 4 5 120 110 130 150 100VLP 300 1 0,20 1 0,20 1 0,20 1 0,20 1 0,20 VLP 100 76,39 75,23 72,34 40,18 300 VLP 64,14 Ao se descontar os fluxos operacionais líquidos de caixa futuros pela taxa anual de 20% (taxa de retorno mínima exigida pelos proprietários do investimento), o VPL foi de R$ 64,14. Mas, como podemos interpretar esse valor do VPL? É o que veremos a seguir. 45.3 Interpretar os resultados do Valor Presente Líquido Quando o VPL é usado para tomar decisões do tipo “aceitar-rejeitar” uma proposta de investimento, adota-se os seguintes critérios, segundo Gitman (2010): • se o resultado do VPL for maior que zero, o investimento é aceito; • se o resultado do VPL for menor que zero, o investimento é rejeitado; e • se o resultado do VPL for igual a zero, o investimento que não cria valor econômico, ou seja, apenas remunera a taxa de retorno mínima exigida pelos proprietários. Se o VPL for maior que zero, a empresa obterá um retorno maior do que seu retorno mínimo exigido do projeto. Com isto, estaria aumentando o valor de mercado da empresa e, consequentemente, a riqueza dos seus proprietários. No caso do nosso exemplo, o VPL foi de R$ 64,14, mostrando que, além de conferir o retorno mínimo exigido (20% ao ano), gera R$ 64,14 de riqueza aos acionistas. A taxa mínima de retorno que os proprietários do investimento definem depende, diretamente, do risco da implantação de um negócio. Quanto maior o risco do investimento, maior será essa taxa exigida pelo www.esab.edu.br 255 investidor. Para exemplificar, vamos admitir que a exigência mínima nesse investimento passa a ser de 40% ao ano. Vamos calcular novamente o VPL? ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) = + + + + − + + + + + = + + + + − = − 1 2 3 4 5 120 110 130 150 100VLP 300 1 0,40 1 0,40 1 0,40 1 0,40 1 0,40 VLP 85,71 56,12 47,38 39,05 18,60 300 VLP 53,14 Nesse caso, por exigir um retorno mínimo de 40% ao ano, o VPL foi negativo. Isso significa que esse investimento não tem capacidade de pagar a exigência mínima do investidor. Para calcular o VPL na calculadora HP12c, utilize os seguintes comandos: Comandos Significado f REG Limpa os registros armazenados 300 CHS g CF0 Investimento inicial 120 g CFj Fluxo operacional Líquido Ano 1 110 g CFj Fluxo operacional Líquido Ano 2 130 g CFj Fluxo operacional Líquido Ano 3 150 g CFj Fluxo operacional Líquido Ano 4 100 g CFj Fluxo operacional Líquido Ano 5 20i Taxa de desconto de 20% f NPV VPL para taxa de desconto de 20% = R$ 64,14 40i Taxa de desconto de 40% f NPV VPL para taxa de desconto de 40% = R$ -53,14 * VPL em inglês – Net Present Value (NPV). Quadro 30 – Cálculo do VPL na calculadora HP12c. Fonte: Elaborado pela autora (2014). www.esab.edu.br 256 Dica Você também poderá calcular o VPL com a Calculadora Financeira; Disponível clicando aqui material de estudo dos fundamentos de manuseio da calculadora HP 12C. Nesta unidade, conhecemos o cálculo do Valor Presente Líquido e identificamos qual a interpretação dos seus resultados. A terceira técnica a ser estudada diz respeito à Taxa Interna de Retorno, outra forma de avaliar investimentos. www.esab.edu.br 257 46 Taxa interna de retorno Objetivo Calcular, interpretar e avaliar a taxa interna de retorno. Nas unidades anteriores, pudemos conhecer duas técnicas de avaliação de orçamento de capital: o payback, que indica o tempo de retorno que o investimento proporcionará em termos de caixa, e o Valor Presente Líquido, que informa se o investimento irá gerar a rentabilidade esperada pelos investidores. Nesta unidade, vamos estudar a terceira técnica de avaliação: a Taxa Interna de Retorno ou, simplesmente, TIR. Essa é uma das técnicas mais utilizadas na avaliação de propostas de investimento de capital e indica o retorno gerado por cada uma delas. Vamos conhecer a TIR com base em Gitman (2010) e Groppelli e Nikbakht (2010). 46.1 Conceitualizar a Taxa Interna de Retorno Ao contrário do Valor Presente Líquido, a Taxa Interna de Retorno (TIR) calcula a taxa de retorno gerada pelo investimento. Isso significa dizer que não é preciso determinar uma taxa mínima de retorno esperado, como fizemos no VPL. O objetivo da TIR é justamente calcular qual a taxa de retorno que o investimento a ser avaliado é capaz de gerar. Por exemplo, ao calcular o VPL precisávamos definir uma taxa mínima de rentabilidade que o investidor pretendia com o seu investimento. Ao inserir essa taxa mínima no cálculo, o VPL informava se o investimento conseguia gerar tal rentabilidade. Porém, o que o VPL não diz é qual é, exatamente, a taxa de retorno do investimento. Quem nos dá essa informação é a Taxa Interna de Retorno. A TIR é uma medida de desempenho muito utilizada na avaliação de orçamento de capital. Ela é uma medida de taxa de rentabilidade. www.esab.edu.br 258 Por definição, a TIR é uma taxa de desconto que iguala o valor presente dos fluxos de caixa futuros ao investimento inicial. Ou seja, a TIR é uma taxa de desconto que torna o VPL igual a zero. A taxa abaixo da qual os projetos são rejeitados chama-se taxa de corte, a taxa-meta, a taxa mínima de retorno, ou taxa requerida de retorno. As empresas determinam suas taxas de corte pelo custo do financiamento e pelo risco do projeto. (GROPPELLI; NIKBAKHT, 2010, p.139-140) A seguir, veremos como calcular o indicador da Taxa Interna de Retorno. Acompanhe! 46.2 Expor a formulação da Taxa Interna de Retorno Agora que já sabemos que a Taxa Interna de Retorno nos informa sobre o retorno exato que o investimentoé capaz de gerar em termos de caixa, vamos aprender a fórmula de cálculo desse indicador financeiro. Veja: = + ∑0 1 = (1 ) n t t t FC I K Em que: I0 = investimento inicial. FCt = fluxo operacional líquido de caixa de cada período. K = taxa de retorno do projeto, ou a TIR Vamos aplicar essa fórmula ao nosso exemplo? Resgatando o fluxo relevante de caixa, temos o Quadro 31: www.esab.edu.br 259 Fluxo operacional líquido Investimento inicial - R$ 300,00 Ano 1 R$ 120,00 Ano 2 R$ 110,00 Ano 3 R$ 130,00 Ano 4 R$ 150,00 Ano 5 R$ 100,00 Quadro 31 – Resultado do fluxo de caixa relevante. Fonte: Elaborado pela autora (2014). Sendo o investimento inicial de R$ 300,00 e subsequentes resultados do fluxo operacional líquido de caixa, qual a Taxa Interna de Retorno desse investimento? O cálculo da TIR é desenvolvido da seguinte maneira: ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) = + + + + + + + + + = 1 2 3 4 4 120 110 130 150 100300 1 1 1 1 1 TIR (K) 29,31% ao ano K K K K K De acordo com Gitman (2010), a taxa interna de retorno, apesar de ser consideravelmente mais difícil de calcular, à mão, quando comparada ao VPL, é, possivelmente, a técnica sofisticada mais usada para a avaliação de alternativas de investimentos. Assim, precisaremos do auxílio de uma calculadora financeira HP 12C. Vamos chegar à Taxa Interna de Retorno através dos seguintes comandos: Comandos Significado f REG Limpa os registradores de armazenamento 300 CHS g CF0 Fluxo de caixa inicial 120 g CFj Fluxo de caixa do Ano 1 110 g CFj Fluxo de caixa do Ano 2 130 g CFj Fluxo de caixa do Ano 3 150 g CFj Fluxo de caixa do Ano 4 100 g CFj Fluxo de caixa do Ano 5 f IRR TIR do projeto = 29,31% ao ano TIR em inglês – Internal Rate of Return (IRR) Quadro 32 – Comandos da calculadora HP para cálculo da TIR. Fonte: Elaborado pela autora (2014). www.esab.edu.br 260 Agora que já sabemos como calcular a TIR, vamos discutir um pouco sobre a interpretação dos seus resultados. 46.3 Interpretar os resultados da Taxa Interna de Retorno Segundo o método da TIR, um investimento é aceito quando a taxa interna de retorno calculada for igual ou maior ao retorno exigido pelos investidores. No caso de o investimento apresentar uma taxa de retorno menor que o retorno exigido pelos investidores, ele precisa ser rejeitado. Se resgatarmos o exemplo quando calculamos o VPL, podemos concluir que ele foi aceito quando os investidores exigiam dele 20% ao ano. Isso porque a TIR desse investimento é de 29,31% ao ano, ou seja, supera a expectativa dos proprietários do capital. Podemos relembrar, também, que o investimento foi rejeitado quando os investidores passaram a exigir 40% ao ano. Esse comportamento da TIR em relação ao VPL é explicado porque a TIR de um investimento é o retorno exigido, que resulta em VPL nulo quando usado como taxa de desconto, ou seja, se utilizarmos, nesse exemplo, uma taxa de retorno mínima do VPL em 29,31% ao ano, encontraremos um VPL igual a zero. Vimos as três ultimas unidades técnicas de avaliação de orçamento de capital: payback, Valor Presente Líquido e Taxa Interna de Retorno. Na unidade 47 vamos resolver um exercício envolvendo essas três metodologias de avaliação para aplicarmos os conceitos estudados. Agora que já estudamos três técnicas de análise de investimentos (payback, Valor Presente Líquido e, nesta unidade, a Taxa Interna de Retorno) vamos, a seguir, resolver o caso da empresa Grandiosa em relação à escolha de um investimento e sua rentabilidade. Preparados? www.esab.edu.br 261 47 Análise prática das técnicas de avaliação de investimento Objetivo Analisar as técnicas de avaliação de investimento na prática. Desde a unidade 40, viemos estudando o tema orçamento de capital. Vimos que o orçamento de capital é avaliado com base em fluxos de caixa relevantes, ou seja, os fluxos de caixa que são provocados diretamente pelos investimentos realizados. Também estudamos que, a partir do fluxo de caixa relevante, podemos aplicar três técnicas de avaliação das propostas de investimento: payback, Valor Presente Líquido e Taxa Interna de Retorno. Essas três técnicas auxiliam na tomada de decisão quanto à aceitação ou rejeição do investimento. Nesta unidade, vamos aplicar esses conceitos a um caso: da empresa Grandiosa. Utilizaremos a metodologia apresentada por Gitman (2010) e Groppelli e Nikbakht (2010). 47.1 Apresentar o investimento inicial e o fluxo de caixa relevante de uma proposta de investimento A empresa Grandiosa produz e vende bebidas enlatadas para todo o território nacional. Dentre os produtos da empresa Grandiosa, podemos encontrar água, refrigerantes e sucos enlatados. Com o objetivo de aumentar sua produção e vendas, a empresa Grandiosa está analisando algumas propostas de novos investimentos a partir da compra de mais uma máquina para produção. Dentre as alternativas disponíveis, temos a Máquina A, a Máquina B e a Máquina C, sendo que todas apresentam um vida útil de cinco anos. Isso significa dizer que, ao final desse período, as máquinas não terão mais nenhum valor econômico. Cada uma delas possui algumas vantagens em termos de quantidade e qualidade do produto fabricado. Considerando que as três máquinas são mutuamente excludentes, ou seja, a escolha de um implica a rejeição das outras duas, e analisando as três alternativas de investimento, a empresa Grandiosa projetou o seguinte fluxo de caixa relevante para as três máquinas: www.esab.edu.br 262 Propostas Máquina A Máquina B Máquina C Investimento inicial -R$ 200.000,00 -R$ 300.000,00 -R$ 400.000,00 Fluxo operacional líquido Ano 1 R$ 50.000,00 R$ 80.000,00 R$ 100.000,00 Fluxo operacional líquido Ano 2 R$ 60.000,00 R$ 90.000,00 R$ 120.000,00 Fluxo operacional líquido Ano 3 R$ 70.000,00 R$ 110.000,00 R$ 120.000,00 Fluxo operacional líquido Ano 4 R$ 80.000,00 R$ 110.000,00 R$ 120.000,00 Fluxo operacional líquido Ano 5 R$ 90.000,00 R$ 110.000,00 R$ 120.000,00 Quadro 33 – Resultado do fluxo de caixa relevante da empresa Grandiosa para a Máquina A, B e C. Fonte: Elaborado pela autora (2014). Com base no Quadro 33, que apresenta o fluxo de caixa relevante para as três máquinas, ou seja, o benefício que cada máquina irá proporcionar para o fluxo de caixa da empresa nos cinco anos, vamos calcular o payback, Valor Presente Líquido e Taxa Interna de Retorno de cada uma das propostas de investimento. 47.2 Calcular o payback, VPL e TIR Agora que temos as informações relacionadas ao investimento inicial e aos fluxos operacionais líquidos de caixa que cada proposta de investimento irá proporcionar, vamos iniciar a nossa avaliação calculando o payback. • Payback Máquina A – Investimento inicial de R$ 200.000,00 Ano 1: Investimento inicial + FOL Ano1 = -R$ 200.000,00 + R$ 50.000,00 = -R$ 150.000,00 Ano 2: Resultado do Ano 1 + FOL2 = -R$ 150.000,00 + R$ 60.000,00 = -R$ 90.000,00 Ano 3: Resultado do Ano 2 + FOL3 = -R$ 90.000,00 + R$ 70.000,00 = -R$ 20.000,00 www.esab.edu.br 263 Ano 4: Resultado do Ano 3 + FOL4 = -R$ 20.000,00 + R$ 80.000,00 = R$ 60.000,00 Durante o quarto ano o projeto pagou-se. Porém, qual foi exatamente esse tempo? Sabemos que o projeto completou três anos, mas não sabemos quantos meses necessitou do quarto ano. Para maior precisão, elaboramos o seguinte cálculo: R$ 20.000,00 0,25 R$ 80.000,00 ≅ O quarto ano iniciou com um déficit de -R$ 20.000,00 e, nesse mesmo ano, teríamos um acréscimo de R$ 80.000,00 do fluxo operacional líquido do Ano 4. Basta dividir um pelo outro, obtendo-se o resultado de 0,25. Em seguida, multiplicamos o resultado encontrado (0,25) pelos meses do ano (12 meses): 0,25 x 12 meses = 3 meses Temos, então, um payback de três anos e três meses. Máquina