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1. Entender a fisiopatologia do TDAH e suas causas (alterações neurológicas). NEUROQUÍMICA DO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE ➔ Os sistemas de neurotransmissão monoaminérgicos, principalmente o dopaminérgico e o noradrenérgico, estão implicados na fisiopatologia do TDAH. Tal envolvimento é evidente, considerando que a ligação da dopamina (DA) e da noradrenalina (NA), também conhecida por norepinefrina (NE), aos seus respectivos receptores desencadeia diversas alterações fisiológicas implicadas na modulação da atenção, no estado de alerta e na vigilância, na memória de trabalho, na locomoção e em outras funções cognitivas e executivas normalmente prejudicadas no TDAH. Esses neurotransmissores exercem suas funções por um mecanismo com padrão de curva em um formato de U invertido, ou seja, tanto a atividade muito intensa (p. ex., durante situações de estresse) quanto a atividade muito baixa (p. ex., estados de sonolência) prejudicam o funcionamento desses sistemas. ➔ A DA exerce a maioria de suas diferentes funções por meio de ligação aos receptores dopaminérgicos, que são classificados em: tipo D1 (subtipos D1 e D5) e tipo D2 (subtipos D2, D3 e D4). ◆ Receptores dos subtipos D1 e D2: são os mais abundantes em diferentes regiões cerebrais e estão envolvidos principalmente na sinalização de circuitos de recompensa, aprendizado e memória e atividade locomotora. ◆ O envolvimento do sistema dopaminérgico no TDAH é corroborado há muito tempo por achados que demonstram que pacientes com TDAH apresentam maior densidade do transportador de dopamina (DAT), responsável pela recaptação de DA para dentro dos neurônios pré-sinápticos. No entanto, o uso prévio de estimulantes parece influenciar os níveis de DAT em indivíduos com TDAH. Em contrapartida, a densidade dos receptores de DA parece reduzida no TDAH. ➔ A NA interage com os receptores adrenérgicos, que apresentam cinco subtipos e são classificados em duas famílias principais de acordo com suas propriedades estruturais, farmacológicas e de sinalização: família alfa (receptores α1 e α2) e família beta (receptores β1, β2 e β3). ◆ Níveis moderados de NA parecem melhorar a memória de trabalho, mediada pelo córtex pré-frontal, a partir da ligação aos receptores α2A, que têm alta afinidade pela NA. Entretanto, os altos níveis de NA normalmente encontrados em situação de estresse promovem sua ligação aos receptores α1, que apresentam menor afinidade, ocasionando prejuízo para a memória de trabalho, porém facilitando a atenção sustentada. Além disso, o efeito induzido pelo tratamento com metilfenidato na memória de trabalho parece ser dependente dos receptores α2, enquanto a melhora da atenção sustentada envolve os receptores α1. ➔ O sistema serotonérgico também está implicado no TDAH, e níveis baixos de serotonina (5-HT) são observados em pacientes com o transtorno. No entanto, as evidências de envolvimento desse sistema não são tão consistentes quando comparadas às existentes para os sistemas dopaminérgico e noradrenérgico. Além disso, níveis alterados de glutamato e ácido gama-aminobutírico (GABA) já foram reportados em indivíduos com TDAH. De maneira geral, o conjunto de estudos indica, até o momento, que o TDAH apresenta neurobiologia complexa que parece ser consequência da interação entre vários sistemas neurofisiológicos disfuncionais. Fisiopatologia do TDAH FORLENZA, Compêndio de Clínica Psiquiátrica. SP. Editora Manole, 2012. Dificuldades atencionais, impulsividade e agitação são manifestações comportamentais que estão presentes em uma parcela significativa da população. Muitos indivíduos apresentam uma constelação típica desses sintomas, que se manifestam de forma intensa e persistente ao longo do tempo e que levam a prejuízos funcionais significativos. Esses indivíduos apresentam o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), uma condição descrita no início do século XX, inicialmente em crianças. Um dos importantes avanços no entendimento do TDAH foi a sua identificação em adolescentes e adultos, sendo atualmente conceitualizado como um transtorno que tem início na infância e é crônico, acompanhando os indivíduos ao longo do desenvolvimento. O extenso conhecimento acumulado na literatura científica sobre o TDAH o coloca como uma das condições mais bem estudadas da medicina. A etiologia do TDAH é entendida como multifatorial, em que diferentes condições ambientais, genéticas e biológicas concorrem para elevar o risco do transtorno. As evidências atuais indicam a existência de mecanismos psicopatológicos heterogêneos que levam ao TDAH, o que possivelmente relaciona-se à heterogeneidade do transtorno em diferentes níveis. Assim como outros transtornos psiquiátricos, vários genes de pequeno efeito podem levar a uma suscetibilidade genética. Assim, acredita-se que o desenvolvimento do TDAH surja a partir da interação de genes suscetíveis entre si e com o ambiente. Estudos de famílias e de gêmeos estimam o coeficiente de herdabilidade do TDAH em aproximadamente 76%. Dezenas de estudos de associação de genes candidatos foram realizados, investigando principalmente genes relacionados aos sistemas catecolaminérgicos, uma vez que a disfunção desse sistema é um dos substratos neurobiológicos mais consistentemente associados ao distúrbio. Além de genes envolvidos nos sistemas catecolaminérgicos, genes serotoninérgicos, nicotínicos, relacionados ao neurodesenvolvimento, entre outros, também são investigados. Alguns estudos indicam a associação significativa de polimorfismos nos genes DAT1, DRD4, DRD5, 5HTT, HTR1B e SNAP25 com o TDAH. EX: A exposição intraútero ao tabaco é o fator de risco ambiental mais frequentemente avaliado, e variantes nos genes DAT1 e DRD4 são os fatores de risco genético mais frequentemente avaliados. Os estudos com maior qualidade metodológica são aqueles que apontam para interação entre um conjunto de polimorfismos no DAT1 e exposição intraútero ao álcool, entre uma variante no DAT1 e adversidade familiar e interação entre dois polimorfismos (no DAT1 e DRD4) e exposição intraútero à nicotina. Atualmente, estuda-se também a hipótese de que deleções ou duplicações do DNA de tamanho variável, chamadas de variações no número de cópias, seriam importantes para o desenvolvimento do TDAH. Além de investigações centradas no efeito de fatores genéticos sobre a etiologia do TDAH, há inúmeros estudos que avaliaram o efeito de fatores de risco ambientais sobre o desenvolvimentodo transtorno. Entre as condições com evidências conclusivas de associação com relação tempo, destaca-se a prematuridade e a exposição intraútero ao tabaco e baixo peso ao nascimento. Há evidências em investigação relacionadas à exposição intraútero ao álcool e a drogas, condições psicológicas maternas durante a gestação, complicações no período pré e perinatal, traumatismo craniano grave, duração do aleitamento materno, privação grave precoce e fatores familiares psicossociais. Há também evidências insuficientes para demonstrar relação causal com exposição a aditivos alimentares e dieta, toxinas ambientais como chumbo ou poluentes orgânicos. A maturação e mielinização do encéfalo ocorre de maneira póstero-anterior, assim, seguindo a cronologia de desenvolvimento neurológico é considerado fisiológico algum nível de hiperatividade isolada em crianças sem acometimento até cerca de 4 anos de idade, pois a região pré-frontal (responsável pelo controle motor) só finaliza seu processo de mielinização nesse período. Estudos mais recentes sugerem que crianças com TDAH apresentam atividade reduzida, menor volume e uma lentificação na maturação do córtex pré-frontal, que entre outras coisas, está relacionado à capacidade de atenção e controle de impulsos. A menor disponibilidade de receptores D2 e D3 de dopamina está associada a sintomas de desatenção, enquanto que a hiperatividade está mais ligada ao bloqueio de receptores α2 de serotonina. Com relação aos fatores ambientais, questões psicossociais que modifiquem o funcionamento adaptativo da criança, como presença de doença mental nos pais e história de abuso infantil, podem participar do surgimento e manutenção do transtorno. Complicações da gestação também parecem aumentar o risco de desenvolvimento do TDAH, como eclampsia, estresse fetal e hemorragia pré-parto. Pacientes com muito baixo peso ao nascer tem risco amentado de 2 a 3 vezes de desenvolver o transtorno do que a população geral. A exposição intrauterina ao álcool ou tabaco também aumentam o risco. Estudos neuroanatômicos encontraram uma redução de cerca de 3 a 4% do volume cerebral total de indivíduos com TDAH, sendo afetados todos os lobos cerebrais, o cerebelo e ambas as substâncias, branca e cinzenta. Familiares de primeiro grau de indivíduos com TDAH sem o transtorno também apresentaram diminuição cerebral. Metanálises indicaram que com as alterações de expressão gênicas, algumas regiões são alteradas (resultados evidenciados entre indivíduos com TDAH e controles) como, cerebelo, corpo caloso, volume cerebral total e direito e caudado direito e volume do putâmen/globo pálido direito. Além disso, há evidências que apontam para alterações corticais na região pré-frontal. Dessa forma, a manifestação dos sintomas parece está associado a parte predominantemente afetada. 2. Conhecer os tipos, graus e sintomas do TDAH. O TDAH é classificado em 3 subtipos: apresentação predominantemente desatenta, apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva e apresentação combinada. ● Predominantemente hiperativo/impulsivo: o paciente é classificado assim quando somente os critérios de hiperatividade/impulsividade são preenchidos, sem preencher os 6 critérios de desatenção. ● Predominantemente desatento: é considerado quando somente os critérios de desatenção são preenchidos, sem preencher os 6 critérios de hiperatividade/impulsividade. ● Subtipo combinado: é classificado quando preenche critérios para desatenção e hiperatividade/impulsividade. Também pode ser classificado conforme a gravidade em leve, moderado e grave. ● Leve: É considerado leve se o paciente apresentar poucos ou nenhum sintoma além dos necessários para o diagnóstico e tenha apenas pequenos prejuízos no âmbito social ou acadêmico/profissional. ● Grave: É classificado como grave se tiver muitos sintomas além dos necessários para o diagnóstico ou apresenta sintomas graves ou que resulte em grande prejuízo nas relações sociais ou na função acadêmica ou profissional. ● Moderado: É considerado moderado quando os sintomas não se encaixam nem em leve nem em grave. 3. Conhecer as consequências sociais da pessoa com TDAH (relação interpessoal). Conhecer = citar e falar brevemente. 4. Compreender o diagnóstico e exames complementares do TDAH. 5. Entender o tratamento (medicamentoso e não medicamentoso) do TDAH. 6. Conhecer outros tipos de transtornos de conduta e aprendizagem. Repercussões biopsicossociais Rev. Episteme Transversalis, Volta Redonda-RJ, v.8, n.2, p.119-132, jul./dez.2017 Em função dos sintomas apresentados, os pacientes diagnosticados sofrem um grande impacto nas atividades diárias. O que para muitas pessoas pode parecer ser algo simples, como exemplo, prestar atenção em uma conversa e organizar as tarefas ao longo da semana, para um paciente com TDAH essas são tarefas muito complexas. Os pacientes têm grande dificuldade em prestar atenção em detalhes e em atividades que exigem organização. Os sintomas de TDAH geram ao paciente muitas dificuldades para fazer as coisas no dia a dia. Muitas vezes os pacientes com TDAH não conseguem cumprir prazos, se esquecem de compromissos importante, como por exemplo pagar contas e datas comemorativas. Em outros casos, os prejuízos são maiores nos casos de pacientes que perdem a carteira ou o carro no estacionamento do shopping. Esse comportamento acaba por trazer sofrimento ao portador de TDAH. As inúmeras atitudes impensadas podem levar o indivíduo adulto a viver numa constante instabilidade, gerando um “entra e sai” de diversos relacionamentos, empregos, escolas e grupos sociais. A desatenção, tanto no adulto quanto na criança, é um sintoma e não a causa, como pode parecer. O comprometimento das funções executivas é o centro do problema, afetando a atenção, mas não só a atenção. Este comprometimento afeta a capacidade de planejamento, execução de tarefas, organização, manejo do tempo, memória de trabalho, regulação emocional, iniciação de tarefas e persistência ao alvo. Nos adultos, este comprometimento aparece frequentemente como dificuldade em terminar tarefas no prazo determinado, atrasos habituais, esquecimento de atividades planejadas, etc. Boa parte desse prejuízo causado no relacionamento é em decorrência de seu comportamento. A agitação mental provocada pelo TADH é a grande responsável pelo fracasso nas relações sociais, fazendo com que o indivíduo tenha dificuldades em cultivar amigos. No campo do trabalho, podem surgirconflitos por não conseguir dar conta de seus afazeres, visto que tem dificuldades em terminar tarefas. Pode-se distrair com qualquer coisa que o chame atenção deixando o trabalho pela “metade”, o que gera sensação de incompetência por não ter conseguido dar cabo ao que lhe foi delegado. O TDAH no adulto frequentemente apresenta um importante comprometimento nas esferas ocupacionais e laborativas a longo prazo, menor produtividade, maior número de faltas, e maior número de acidentes de trabalho e maior número de demissões. Não por acaso, quando surge alguma oportunidade de se promover no emprego, acaba se esquivando por não se sentir capaz. O portador de TDAH tende a não aceitar grandes responsabilidades, por se sentir “menor” e incapaz de assumir postos de grande importância hierárquica. Quando em fase escolar, costumam ser chamados de “avoados” ou “elétricos”, devido ao seu comportamento que pode oscilar bastante prejudicando-o. Além disso podem falar em demasia, principalmente em ambientes onde o silêncio é esperado, ou seja, a hiperatividade é o sintoma gerador de insatisfação social e é o que geralmente leva a criança ou o adolescente aos consultórios. No que tange à vida estudantil, seu percurso é tortuoso, traçado por grandes dificuldades em prestar atenção ao que está sendo dito, bem como transmitir o conhecimento retido ao longo do período nas avaliações Já no âmbito dos relacionamentos conjugais, sabe-se que “Entre os problemas de origem neurobiológica, provavelmente o TDAH é o que mais contribui para as dificuldades entre marido e mulher”. Sendo assim, constantemente seus cônjuges sentem-se sozinhos e sobrecarregados com as tarefas domésticas, pois seus parceiros portadores de TDAH tendem a adiar a execução de tarefas que julgam enfadonha. De acordo com este fato, o cérebro do portador de TDAH não produz certas substâncias químicas na quantidade e velocidade necessárias para garantir o funcionamento equilibrado de certas atividades (funções executivas), por esta razão é ‘natural’, até óbvio, que o próprio corpo peça por atividades que compensem esta deficiência. Atividades prazerosas e/ou estimulantes aumentam esta produção química, trazendo esta sensação de equilíbrio ao cérebro. Neste sentido, a grande desorganização mental, as constantes distrações, a perda de objetos, o esquecimento de datas importantes a impontualidade trazida pela dificuldade em mensurar espaço versus tempo, fazendo com que acumule muitas tarefas para só depois perceber que não dará conta de tudo que planejou. Esses acontecimentos frequentes acabam por gerar atrito dentro do relacionamento afetivo do TDAH, o cônjuge com o tempo se sente frustrado, pois perde sua admiração do companheiro (a). Esse processo ocorre de forma rotineira, podendo tornar o relacionamento afetivo um verdadeiro caos com perda de qualidade significativa. Portanto, devido aos sintomas do transtorno, uma série de acontecimentos provocam o desgaste nas relações conjugais dos portadores de TDAH. Por conta desses impactos, as pessoas com TDAH são afetadas psicologicamente por se sentirem incapazes, por não terem autonomia e confiança para exercer atividades ou tarefas importantes em função do grande número de erros cometidos e das dificuldades vividas. Classificação (tipos e graus) e manifestações clínicas Fonte: sanar. ❖ Classificação: a classificação se associa com o predomínio das manifestações clínicas listadas pelo DSM 5. ↳ Desatento: mais comum no período escolar e fase adulta (>17 anos), sendo classificado quando o paciente apresenta predomínio das manifestações relacionadas a desatenção. ■ Não prestam atenção em detalhes ou cometem erro por descuido em tarefas escolares, no trabalho ou durante as atividade. ■ Dificuldade de manter atenção em tarefas ou atividades lúdicas (ex: aulas e leituras). ■ Parecem não escutar quando alguém lhe dirige a palavra diretamente mesmo na ausência de outras distrações. ■ Não conseguem seguir instruções até o fim e terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres no local de trabalho. ■ Dificuldade para organizar tarefas e atividades (aparentam ser desleixados). ■ Evitam tarefas que exijam esforço mental prolongado. ■ Perdem coisas necessárias para as tarefas ou atividades. ■ Esquecem de realizar atividades cotidianas. ■ Fácilmente distraídos por estímulos externos. ↳ Hiperativo/impulsivo: mais comum no período pré-escolar, sendo classificado quando o paciente apresenta predomínio das manifestações relacionadas a hiperatividade/impulsividade. ■ Remexem e batucam mãos e pés (não consegue ou não se sente confortável em ficar quieto por muito tempo). ■ Levantam da cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado. ■ Correm e sobem nas coisas em situações inapropriadas (ex: durante a aula ou consulta médica). ■ Incapazes de se envolver em atividades de lazer calmas (ex: ouvir histórias ou ver filme). ■ “Não param”, agindo como se estivessem com o “motor ligado”. ■ Falam demais. ■ Interrompem ou se intrometem na brincadeira dos outros. ■ Respondem antes da conclusão da pergunta. ■ Dificuldade para esperar a vez. ↳ Misto/Combinado: quando apresenta predomínio de ambos. OBS: os sintomas podem variar conforme o ambiente e o contexto em que a pessoa está inserida. Para crianças, os sintomas podem se tornar menos perceptíveis se o paciente está sob supervisão de um adulto, inserido no contexto social novo, recebendo estímulos externos, envolvidos em atividades do seu interesse ou recebendo recompensas constantes por seguir determinado comportamento. OBS: o CID-10 possui a nomenclatura “transtornos hipercinéticos” para o TDAH, mas é uma versão desatualizada. A versão mais recente é a do DSM-5. ❖ Gravidade: varia conforme a quantidade de sintomas presentes e o impacto na vida cotidiana. ↳ Leve: apresenta poucos ou nenhum sintoma além dos necessários para o diagnóstico (mínimo 5 em adultos e 6 em crianças), com apenas pequenos prejuízos no âmbito social ou acadêmico/profissional. Moderado: não se enquadra em nenhum dos outros dois. ↳ Grave: apresenta muitos sintomas além dos necessários para o diagnóstico ou sintomas graves que resultem em grande prejuízo nas relações sociais ou função acadêmica/profissional. Diagnóstico e tratamento (medicamentoso e não medicamentoso) Diagnóstico O diagnóstico do TDAH é eminentemente clínico e não exige exames laboratoriais ou de imagem. Não existe nenhum marcador biológico para diagnóstico de TDAH. Exames de eletroencefalograma mostram que crianças com TDAH apresentam um aumento de ondas lentas, e ressonância magnética do crânio apresenta volume encefálico total menor que crianças semo transtorno. Porém, esses exames não são indicados para a prática clínica, ficando limitado ao uso em pesquisas. Exames de acuidade visual e auditiva, entretanto, são importantes para identificar se o déficit de atenção é proveniente de alteração nessas funções sensoriais ou se podem estar relacionadas ao TDAH. Além disso,caso o paciente apresente características que indiquem uma possível síndrome do X frágil, é necessário descartar essa hipótese antes de concluir que é TDAH. A avaliação médica deve ser abrangente e confirmar as características e complicações dos sintomas, além de excluir diagnósticos diferenciais e diagnósticos de alterações comportamentais, emocionais e médicas existentes. Para o diagnóstico, a avaliação deve ter o histórico médico, familiar e social; conversas clínicas com pais e pacientes; análise de possíveis problemas comportamentais e emocionais presentes. O retorno ao consultório de pacientes com TDAH é necessário em casos de piora dos sintomas antigos ou surgimento de novos. Avaliação médica Aspectos importantes da história médica incluem exposições pré-natais, complicações perinatais, traumatismo craniano, infecções do sistema nervoso central, uso de medicamentos e infecções recorrentes de otite média. O histórico familiar também é importante, além de informações de distúrbios do sono, se presentes, e histórico alimentar. Antes de iniciar medicações, o estado cardíaco também deve ser avaliado. A avaliação do desempenho e comportamento na escola também deve ser feita e o exame físico da maioria dos pacientes não apresenta alterações. É importante ainda analisar o comportamento da criança durante a consulta. Avaliação de desenvolvimento e comportamento Escalas de classificação de comportamento: as escalas de classificação específicas para o TDAH têm sensibilidade e especificidade > 90% se usadas em população específica. Apenas as escalas de Avaliação de Comportamento Abrangente de Conners e a Escala de Classificação de TDAH IV são destinadas a pré-escolares. As escalas de classificação de Vanderbilt podem ser utilizadas em crianças a partir de 4 anos. Escalas de banda larga: as escalas de banda larga avaliam muitos sintomas comportamentais e não são utilizadas para diagnóstico do TDAH. No entanto, são importantes para análise de condições médicas coexistentes e para exclusão de diagnósticos diferenciais. Avaliação educacional: a avaliação educacional se baseia nos principais sintomas do âmbito educacional da criança a partir do auxílio de relatos de professores e outros meios (avaliações, boletins, trabalhos escolares). Transtornos coexistentes: a avaliação de possíveis distúrbios coexistentes (como transtorno de conduta, ansiedade, depressão, transtorno desafiador opositor e dificuldades de aprendizagem) pode incluir histórico do paciente, escalas de comportamento ou testes psicométricos. Até metade dos pacientes com TDAH têm transtornos coexistentes, podendo ser primários ou secundários e necessitando de tratamento conjunto com o destinado ao TDAH. Além disso, pacientes adolescentes com diagnóstico recente de TDAH precisam de avaliação quanto ao uso abusivo de substâncias psicoativas. Se estes estiverem presentes, deve-se tratar a dependência antes de tratar o TDAH. Teste psicométrico: pode ser usado para excluir outros problemas, não sendo necessário de rotina para diagnóstico de TDAH, bem como outras avaliações auxiliares (avaliação de fala/linguagem, terapia ocupacional, nível de chumbo no sangue se suspeita de intoxicação por este metal, teste genético, entre outros). Fatores psicossociais e ambientais: são importantes de serem analisados pela capacidade de influenciar na hiperatividade, desatenção ou impulsividade e podem incluir: estresse oriundo do ambiente doméstico, ambiente educacional inadequado e uso de mídia digital em alta frequência. Tratamento O tratamento do TDAH é multiprofissional e engloba intervenções psicossociais e farmacológicas para atingir um bom resultado. Com relação às intervenções psicossociais, o pediatra deve orientar os pais sobre intervenções comportamentais que podem ajudar a manejar os sintomas da criança, como, fornecer um ambiente sem estímulos visuais e silencioso para estudar, além de conhecer técnicas de reforço positivo, que podem favorecer o comportamento adaptativo social. Deve-se indicar tratamento psicológico, sendo que a modalidade mais estudada e com maior evidência científica de benefício para esses quadros é cognitivo-comportamental. A terapia medicamentosa para o TDAH é amplamente difundida através de medicamentos estimulantes, sendo essa classe a primeira escolha para o tratamento. O metilfenidato (ritalina) é um dos medicamentos dessa classe, que age inibindo a recaptação da dopamina e pode ser administrado na dose inicial de 10 mg/Kg a cada 4 horas. Existem formulações de liberação lenta que permitem uma única dose diária. Outra medicação estimulante é a lisdexanfetamina que também inibe a recaptação da dopamina e pode ser administrada na dose inicial de 30 mg uma vez ao dia. Por serem medicações estimulantes, só estão indicados para crianças maiores de 6 anos. Como medicações estimulantes podem apresentar efeitos colaterais como mudanças de humor, ansiedade, dificuldade para adormecer, diminuição do apetite, cefaleia e com uso prolongado pode causar desaceleração do crescimento o uso de medicação não estimulante pode ser melhor indicada. Assim, a atomoxetina, um fármaco não estimulante que inibe seletivamente a noradrenalina e está liberada para uso em maiores de 6 anos pode ser prescrita, em dose de 0,3 mg/Kg, uma vez ao dia. Antes de iniciar a farmacoterapia, o paciente deve compreender os efeitos e possíveis benefícios/malefícios da medicação, com ênfase nos riscos cardiovasculares em casos de crianças com sintomas cardíacos ou história familiar de doença cardíaca. Além disso, efeitos colaterais comuns também devem ser alertados: insônia, anorexia e tiques. Nesse contexto, se tique coexistente, pode ser necessário o uso associado de alfa-2-agonista, como a clonidina. Se o paciente tem a partir de 6 anos e seus pais, o médico e ele próprio concordam em teste terapêutico, a primeira escolha é um agente estimulante, que tem rápido início de ação e evidências de segurança e eficácia. A taxa de resposta a um estimulante específico é positiva em cerca de 70% dos casos. Em casos de pacientes com histórico de uso de substâncias ilícitas, suspeita de abuso ou escolha da família contra agentes estimulantes, a atomoxetinaé uma alternativa. ESCOLHA ENTRE OS AGENTES ESTIMULANTES - Formas de ação curta: comumente usadas em crianças abaixo de 6 anos, e devem ser iniciadas em baixas doses; - Formas intermediárias ou de ação prolongada: indicadas para crianças que precisam de duração > 4 horas do efeito da medicação. Estes medicamentos têm mais chances de serem melhor aderidos de maneira geral; - Combinação de formas de ação curta e longa: em alguns casos, é necessária associação de medicamento de ação longa no início do dia com o uso de um de ação curta ao fim da tarde para conclusão de trabalhos ou para dirigir. - Crianças em idade pré-escolar: crianças pré-escolares que não respondem a terapia comportamental podem precisar de medicamentos. Como sugestão, tentar, inicialmente, metilfenidato ao invés de anfetaminas ou medicamentos não estimulantes. A farmacoterapia no TDAH tem três fases: titulação, manutenção e término. - Titulação de estimulantes: nessa fase, são estabelecidas a dose e a frequência ideais de uso da medicação. Essa fase dura de um a três meses, com monitorização, geralmente, semanal do paciente. Medicamentos estimulantes, normalmente, são iniciados em doses baixas e aumentados gradualmente. Além disso, a decisão sobre a frequência do uso da medicação estimulante depende do tipo de TDAH e do foco do tratamento (ex: criança com predomínio de desatenção pode precisar ser medicada apenas em dias letivos). - A titulação da atomoxetina varia de acordo com o peso do paciente. - Gerenciamento de alguns efeitos adversos dos estimulantes * Diminuição do apetite: administrar o medicamento após refeição ou durante a mesma, oferecer alimentos do gosto da criança e incentivá-la a comer alimentos ricos em nutrientes antes daqueles pobres do ponto de vista nutritivo; * Limitações de crescimento: períodos sem uso da medicação podem ser benéficos, mas isso só deve ser feito se puder ser tolerado sem comprometer o tratamento. Além de ser indicada consulta nutricional. * Tontura: deve-se monitorizar PA e pulso, garantir ingesta hídrica e tentar preparação de ação longa se a tontura for associada apenas ao pico da medicação. * Rebote = efeitos adversos que ocorrem no fim do medicamento: pode-se aumentar a dose do medicamento de ação prolongada da manhã ou adicionar doses menores do medicamento de ação curta no fim do dia. * Psicose: se secundária a medicação e a dose estiver apropriada, deve-se interromper caso esteja em uso de medicamento estimulante, sem precisar desmame, além de encaminhamento para especialista em saúde mental. - Desvio e uso indevido: importante monitorização de sinais/sintomas de efeitos adversos para análise de possível relação com uso indevido da medicação prescrita. Além disso, orientar os pacientes a evitarem uso de tabaco, álcool, maconha e outras drogas durante o tratamento. - Falha no tratamento: definida por falta de resposta satisfatória dos principais sintomas de TDAH apesar de tratamento na dose máxima ou pela ocorrência de efeitos adversos não toleráveis. Nesse caso, crianças com falha no tratamento, diante de um primeiro estimulante, deve-se realizar troca de medicamento. Se mesmo assim não responder, pode ser tentado uso adicional de clonidina ou guanfacina de liberação prolongada. TERAPIA DE MANUTENÇÃO O intervalo de acompanhamento na fase de manutenção da medicação varia de trimestral a semestral, dependendo da adesão, persistência dos sintomas e condições coexistentes. Pode ser necessária a comunicação com outras pessoas do convívio do paciente de acordo com as demandas deste e dos seus familiares. Durante a fase de manutenção, deve-se monitorizar altura, peso, pressão sanguínea e pulso, além de possíveis efeitos adversos adicionais da medicação. Além disso, ajustes de dose para além da dose que mostrou eficácia no período de titulação podem ser necessários de acordo com o estilo de vida do paciente. A duração da terapia com drogas é individualizada. Após vários anos de tratamento, no entanto, pode-se oferecer a pacientes com melhora clínica estável, um teste terapêutico para análise da necessidade de continuar a medicação. Esse teste deve ser feito com monitorização cuidadosa. Transtornos de conduta e aprendizagem Santos, Rotta, Newra Tellechea; Ohlweiler, Lygia; Riesgo, Rudimar D. Transtornos da Aprendizagem. Grupo A, 2016. Transtornos de aprendizagem Os transtornos da aprendizagem compreendem uma inabilidade específica, como de leitura, escrita ou matemática, em indivíduos que apresentam resultados significativamente abaixo do esperado para seu nível de desenvolvimento, escolaridade e capacidade intelectual. O transtorno da aprendizagem pode ser suspeitado naquela criança que apresenta algumas características como: inteligência normal, ausência de alterações motoras ou sensoriais, bom ajuste emocional, nível socioeconômico e cultural aceitável. Por definição, esses transtornos não têm uma causa definida, são total ou parcialmente irreversíveis, levando-se à suposição de fatores biológicos para a etiologia. Qualquer fator que possa alterar o desenvolvimento cerebral do feto facilita o surgimento de um quadro de transtorno da aprendizagem. Considera-se que as lesões precoces e localizadas não afetam o desenvolvimento das funções cerebrais superiores, já que existe a plasticidade cerebral, que permite a reorganização do tecido nervoso; o distúrbio ocorreria posteriormente, na fase de histogênese. Transtornos específicos da aprendizagem ● Transtorno da leitura: é caracterizado por uma dificuldade específica em compreender palavras escritas. Dessa forma, pode-se afirmar que se trata de um transtorno específico das habilidades de leitura, em que foram eliminadas todas as outras causas. ● Transtorno da matemática: também conhecido como discalculia, não é relacionado à ausência de habilidades matemáticas básicas, como contagem, e sim à forma com que a criança associa essas habilidades com o mundo que a cerca. A aquisição de conceitos matemáticos, bem como de outras atividades que exigem raciocínio, é afetada nesse transtorno, cuja baixa capacidade para manejar números e conceitos matemáticos não é originada por lesão ou outra causa orgânica. ● Transtorno da expressão escrita: refere-se apenas à ortografia ou caligrafia, na ausên- cia de outras dificuldades da expressão es- crita. Nesse transtorno, geralmente há uma combinação de dificuldades na capacida- de de compor textos escritos, evidenciada por erros de gramática e pontuação dentro das frases, má organização dos parágrafos, múltiplos erros ortográficos,na ausência de outros prejuízos na expressão escrita Transtorno do espectro autista (TEA) tornou-se um dos distúrbios mais bem estu- dados na atualidade. O interesse pela área é justificado tendo em vista tanto a gravida- de deste transtorno quanto o impacto social que produz. ● O espectro de apresentações e manifestações clínicas sugere uma heterogeneidade neurobiológica, provavelmente influenciada por uma combinação de fatores ambientais e genéticos. ● O TEA tem como características essenciais prejuízo persistente na comunicação social recíproca e na interação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Estes sintomas estão presentes desde o início da infância, ocasionando prejuízo no funcionamento diário. Transtornos da comunicação ● Transtornos da linguagem oral (da fala) ○ Transtorno da fonação: pode ser causado por afecções primárias ou secundárias, tanto orgânicas quanto funcionais. As disfonias são secundárias à lesão de vias dos nervos cranianos que inervam as cordas vocais ou a região chamada de sistema ressoador laringofaríngeo-rinobucal. Os distúrbios da fonação ocorrem por lesão do X nervo craniano ou vago espinal, que interfere na movimentação das cordas vocais, e/ou do IX nervo craniano ou glossofaríngeo, que compromete a movimen- tação da faringe e do véu palatino. ○ Transtorno da articulação da palavra: as disartrias são distúrbios articulatórios que podem ter etiologia periférica ou central. No primeiro caso, ocorrem devido ao comprome- timento dos nervos cranianos VII e XII, en- volvidos, respectivamente, no movimento da face e da língua. As disartrias de causa central podem ocorrer por comprometimento cerebelar, ex- trapiramidal e pseudobulbar. Nas patologias cerebelares, observam-se disartrias devido à dissinergia entre a musculatura agonista e antagonista interessada na articulação da palavra ○ Transtorno do ritmo: entre os transtornos do ritmo ou da fluência da fala, os que mais se destacam são a gagueira, as alterações de velocidade de fala, como taquilalia e bradilalia, e o clustter (grupo de duas ou mais consoantes seguidas). A gagueira é o mais frequente transtorno do ritmo da fala, com incidência de 5% e prevalência de 1% na população geral. Trata-se de uma dificuldade na automatização da palavra, ou seja, uma interrupção do ritmo normal da fala. ○ Retardo do desenvolvimento da fala: As crianças com esse transtorno devem ter audição normal; a inteligência também de- ve estar dentro do normal, ou apresentar um atraso geral tão pequeno que não justifique, por si só, o retardo no desenvolvimento da fa- la. O exame neurológico é normal, a não ser pelo fato de que, em muitos casos, existir la- teralidade mal estabelecida. História familiar em parentes próximos ocorre em até 80% dos casos. Há predominância no sexo masculino. O retardo da fala se caracteriza por um vocabulário pobre, dificuldades na articula- ção das palavras, supressão, trocas e inver- sões de fonemas. Algumas dessas crianças apresentam gagueira, mas a maior parte fa- lará corretamente na idade escolar, quando, no entanto, muitas poderão apresentar dis- grafia e/ou dislexia. ○ Afasias: impossibilidade ou dificuldade de expressão da linguagem quando havia lesão na corticalidade frontal, mais precisamente na área 44 de Brodmann, que se tornou conhecida como área de Broca. A afasia é definida como transtornos da comunicação, adquiridos por lesão nas regi- ões cerebrais especificamente envolvidas no processo linguístico após a sua estrutura- ção. Fazem parte desse processo funções co- mo gnosias, praxias, memória e afeto. OBS: Na criança, não se pode falar sempre em afasia, pois esse conceito requer que o indi- víduo já tenha adquirido a função, que será comprometida em caso de lesão. ○ Disfasias: A disfasia pode ser definida como a inabilidade para adquirir a linguagem oral em uma criança com competência cognitiva ade- quada, sem doença e/ou lesão cerebral importante, sem alterações sensitivo-motoras significativas, sem distúrbios comportamentais e ou psicoafetivos importantes e que teve ade- quada oportunidade para a aprendizagem. Dessa forma, a alteração no desenvolvimen- to da linguagem não pode ser explicada nem por dificuldades auditivas, nem por dificul- dades intelectuais, nem por problemas afetivo-emocionais e nem por outras alterações funcionais cerebrais ● Transtorno da linguagem escrita: Dislexia ○ Refere-se a um transtorno específico do aprendizado de origem neurobiológica. Caracterizado por dificuldades no reconhecimento exato das palavras, na fluência, na soletração e nas habilidades de decodificação. Estas dificuldades resultam, geralmente, de um déficit no componente fonológico da linguagem, não esperado em re- lação às outras habilidades cognitivas e após uma efetiva instrução escolar. Secundariamente, pode haver problemas na compreensão da leitura com redução no vocabulário e no aprendizado de base. ○ É um transtorno do neurodesenvolvimento com uma origem biológica que é a base das anormalidades no nível cognitivo, as quais estão associadas com as manifestações comportamentais. A origem biológica inclui interação de fatores genéticos, epigenéticos e ambientais que influenciam a capacidade do cérebro de perceber ou processar informações verbais e não verbais com eficiência e exatidão. ○ Muito associada a TDAH. Transtornos motores ● Transtorno do desenvolvimento da coordenação: ○ Critérios diagnósticos ■ A. A aquisição e a execução de habilidades motoras coordenadas estão substancialmente abaixo do esperado considerando-se a idade cronológica do indivíduo e a oportunidade de aprender e usar a habilidade. As dificuldades manifestam-se por falta de jeito (p. ex., derrubar ou bater em objetos), bem como por lentidão e imprecisão no desempenho de habilidades motoras (p. ex., apanhar um objeto, usar tesouras ou facas, escrever a mão, andar de bicicleta ou praticar esportes). ■ B. O déficit nas habilidades motoras do Critério A interfere, significativa e persistentemente, nas atividades cotidianas apropriadas à idade cronológica (p. ex., autocuidado e automanutenção), causando impacto na produtividade acadêmica/escolar, em atividades pré-profissionais e profissionais, no lazer e nas brincadeiras. ■ C. O início dos sintomas ocorre precocemente no período do desenvolvimento. ■ D. Os déficits nas habilidades motoras não são mais bem explicados pordeficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual) ou por deficiência visual e não são atribuíveis a alguma condição neurológica que afete os movimentos (p. ex., paralisia cerebral, distrofia muscular, doença degenerativa). ● Transtorno do Movimento estereotipado ○ Critério diagnóstico ■ A. Comportamento motor repetitivo, aparentemente direcionado e sem propósito (p. ex., apertar as mãos ou abanar, balançar o corpo, bater a cabeça, morder-se, golpear o próprio corpo). ■ B. O comportamento motor repetitivo interfere em atividades sociais, acadêmicas ou outras, podendo resultar em autolesão. ■ C. O início se dá precocemente no período do desenvolvimento. ■ D. O comportamento motor repetitivo não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a condição neurológica, não sendo mais bem explicado por outro transtorno do neurodesenvolvimento ou mental (p. ex., tricotilomania [transtorno de arrancar o cabelo], transtorno obsessivo-compulsivo). ■ Especificar a gravidade atual: ■ Leve: Os sintomas são facilmente suprimidos por estímulo sensorial ou distração. ■ Moderada: Os sintomas exigem medidas protetivas ou modificação comportamental explícita. ■ Grave: Monitoração contínua e medidas de proteção são necessárias para prevenir lesão grave. ● Transtorno de Tique: movimento motor ou vocalização repentino, rápido, recorrente e não ritmado. Transtorno de conduta Transtorno de conduta é um padrão persistente ou recorrente do comportamento que viola os direitos dos outros ou as principais normas e regras próprias para a idade. O diagnóstico é pela história. O tratamento de comorbidades e psicoterapia pode ajudar; mas muitas crianças exigem supervisão considerável. A prevalência de algum nível do transtorno de conduta é cerca de 10%. O acometimento geralmente ocorre no final da infância ou início da adolescência, sendo mais comum entre os meninos. A etiologia é complexa, interagindo fatores genéticos e ambientais. Pais de adolescentes com transtorno de conduta frequentemente estão envolvidos com uso abusivo de substâncias e comportamentos antissociais e com frequência foram diagnosticados com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), distúrbios do humor, esquizofrenia ou transtorno de personalidade antissocial. Entretanto, o transtorno de conduta pode ocorrer em crianças de famílias altamente funcionais e saudáveis. Sinais e sintomas Crianças e adolescentes com transtorno de conduta não têm sentimentos quanto ao bem-estar dos outros e, às vezes, interpretam erroneamente o comportamento dos outros como ameaçador. Podem demonstrar agressividade por valentia, fazer ameaças, agitar uma arma, cometer atos de crueldade física, forçar atividades sexuais, todos com pouco ou nenhum sentimento de remorso. Em alguns casos, sua https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-relacionados-ao-uso-de-subst%C3%A2ncias/vis%C3%A3o-geral-dos-transtornos-relacionados-a-subst%C3%A2ncias https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/pediatria/dist%C3%BArbios-de-aprendizagem-e-desenvolvimento/transtorno-de-d%C3%A9ficit-de-aten%C3%A7%C3%A3o-hiperatividade-tda-tdah https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/pediatria/dist%C3%BArbios-de-aprendizagem-e-desenvolvimento/transtorno-de-d%C3%A9ficit-de-aten%C3%A7%C3%A3o-hiperatividade-tda-tdah https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-do-humor/vis%C3%A3o-geral-dos-transtornos-do-humor https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/pediatria/transtornos-mentais-em-crian%C3%A7as-e-adolescentes/esquizofrenia-em-crian%C3%A7as-e-adolescentes https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-de-personalidade/transtorno-de-personalidade-antissocial-tpas agressividade e crueldade são dirigidas contra os animais. Estas crianças ou adolescentes podem envolver-se em destruição de propriedades, fraudes e roubos. Têm baixa tolerância às frustrações, são negligentes, desobedecem regras e proibições dos pais (p. ex., fogem de casa, ausentam-se da escola com frequência). Comportamentos aberrantes diferem entre os sexos: meninos tendem a brigar, roubar e vandalizar; meninas provavelmente tendem a mentir, fugir e se envolver em prostituição. Ambos os sexos tendem ao uso de drogas e têm dificuldades escolares. As ideias suicidas são comuns, e tentativas de suicídio devem ser rigorosamente cuidadas. Diagnóstico ● Critérios clínicos O transtorno de conduta é diagnosticado em crianças e adolescentes que demonstraram ≥ 3 dos comportamentos a seguir nos últimos 12 meses mais pelo menos 1 nos 6 meses anteriores: ● Agressividade contra pessoas e animais ● Destruição de propriedade ● Trapaça, mentira ou roubo ● Violações graves da autoridade dos pais Os sintomas ou comportamentos devem ser suficientemente significativos para enfraquecer as atividades e relacionamentos, na escola ou no trabalho. Prognóstico A maioria dos jovens com DC cessa seu comportamento desagregador no início da vida adulta, mas cerca de 1/3 dos casos persiste. Muitos desses casos se encaixam nos critérios do transtorno da personalidade antissocial. O acometimento precoce está associado a prognóstico reservado. Algumas crianças e adolescentes desenvolvem subsequentemente transtornos de ansiedade, sintomas somáticos ou distúrbios relacionados, transtornos associados a fármacos, ou transtornos psicóticos que se manifestam na idade adulta. Crianças e adolescentes com transtorno de conduta tendem a apresentar taxas mais altas de transtornos físicos e outros transtornos mentais. Tratamento ● Fármacos para tratamento das comorbidades ● Psicoterapia ● Ocasionalmente acomodação em um centro residencial O tratamento das comorbidades com fármacos ou psicoterapia pode melhorar a autoestima e o autocontrole e, essencialmente, melhorar o transtorno de conduta. Os fármacos podem incluir estimulantes, estabilizadores do humor e antipsicóticos atípicos, especialmente o uso a curto prazo de risperidona. Moralização e horríveis advertências são ineficazes e devem ser evitadas. Também ajuda a psicoterapia individual, incluindo terapia cognitiva e modificação do comportamento. Crianças e adolescentes com distúrbios graves devem ser acomodados em centros de residência onde o comportamento deles possa ser trabalhado apropriadamente, afastando-os do ambiente que possa contribuir com o comportamento aberrante. https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/pediatria/transtornos-mentais-em-crian%C3%A7as-e-adolescentes/comportamento-suicida-em-crian%C3%A7as-e-adolescentes https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-de-personalidade/transtorno-de-personalidade-antissocial-tpas https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-de-personalidade/transtorno-de-personalidade-antissocial-tpas
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