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INSURREIÇÕES NEGRAS

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INSURREIÇÕES NEGRAS
Acadêmico ¹
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RESUMO
Este artigo intenciona trazer conhecimento em relação ao percurso histórico percorrido pelo povo negro brasileiro para alcançar o direito a moradia e o direito a educação, os desafios ainda presentes mesmo após estabelecidos tais direitos . A mobilizaçãosocial negra é responsável pelo reconhecimento de direitos e pela efetivação da Cidadania em todos os cantos do mundo. O Continente Africano e sua grandiosidade territorial , suas riquezas naturais e minerais , a diversidade cultural dos povos habitantes, as negociações comerciais com outras nações resultando na abertura de suas fronteiras para invasão e exploração . A Diáspora Africana e o início da saga do povo africano escravizado para retornar a sua terra ancestral e para readquirir o direito de decisão em relação ao que fosse tocante a sua própria vida. A luta, continua e diária, para conquistar e garantir os mais básicos direitos, do Brasil Imperial ao Brasil Republicano, do final do século 19 à contemporaneidade do século 21. 
Palavras-chave: Movimento Negro, Eugenia, Quilombos, Resistência.
1. INTRODUÇÃO
Continente Africano, população africana e seus descendentes, cultura, costumes, economia, ciências, organização social ... os conhecimentos sobre a história deste Continente e seus habitantes, enfim, passa a ser tema abordado em discussões acadêmicas e assunto didático em ambiente escolar.
Longe ainda no entanto do que estipula a Lei 10.639/2003 e a lei 11.645/2008., o ambiente da sala de aula ainda não vivencia a experiência intercultural em seu cotidiano. 
A proposta deste trabalho é estimular a discussão e a reflexão em torno da temática da mobilização social negra dentro e fora do território africano. Abrangendo o período que transcorre desde o rapto desta população de sua terá natal , ao desembarque no Brasil Colônia do século XV ao Brasil Republicano Democrático do século XXI . Buscando contribuir com a partir de que momento o negro africano e sua descendência passa a 
Como reestruturar ou modificar , em uma sociedade, um pensamento e sua conseqüente prática comportamental nociva , sendo que ambos são considerados inexistentes por estão mesma sociedade ? Quais são as motivações que levam um grupo de pessoas e a cada um de seus indivíduos, a perceber o outro como menos confiável, ou incapaz ou indigno de ter escolhas ou exercer direitos que tornem sua vivência e suas experiências plenas? E o grupo vitimado e agredido em questão, a população negra brasileira, por quais razões nega-se, a si mesma, por vezes chegando a defender seu agressor partilhando suas idéias e as inveracidades repetidas e reeditadas pelo mesmo através dos séculos?
O assunto foi demonstrando-se complexo a medida em que as informações a cerca do Movimento Negro Unificado e outras formas de mobilização social da população negra, foram sendo pesquisadas. Mesmo não sendo esmiuçado o assunto por apresentar uma bibliografia pouco numerosa, e, perigosamente tendenciosa por vezes, percebe-se a extrema significância do tema para o combate formal as práticas xenófobas e racistas realizadas e legitimadas, dentro do território brasileiro e a nível mundial. 
Os movimentos sociais ou populares, são responsáveis pelo reconhecimento de direitos e pela efetivação da Cidadania em todos os cantos do mundo. A busca do indivíduo por condições que lhe proporcionem uma vivencia plena, alcança seu objetivo quando esta busca passa a ser compartilhada por outros que possuem em comum uma mesma necessidade.
A invasão do Continente Africano e a disputa das nações européias pelo domínio do mesmo, resultou em uma serie de conseqüências cujas marcas são visíveis sinais de desigualdade econômica e social. Os efeitos colaterais provocados pela suposta solução para a incivilidade e o retardamento do progresso, a idéia eurocêntrica que determina o que deve ser considerado e compreendido ou desconsiderado e apagado, não afetaram somente a África e seus habitantes, mas, em cascata, desencadearam acontecimentos que modificaram o panorama mundial. 
Os pactos e acordos firmados entre as nações exploradoras buscando subjugar os nativos do Continente Africano, as atrocidades cometidas com as populações dominadas, a saída forçada destes de sua terra lar , são fatores que influenciaram a forma como este povo e seus descendentes, hoje, se posicionam frente as suas necessidades e articulam-se em ações para supri-las. 
No primeiro tópico, será comentada a exploração econômica do território e da população local, o “tráfico” de seres humanos provocando o esvaziamento populacional em regiões inteiras, o tratado da Conferência de Berlim e as causas da Primeira Guerra Mundial. Na seqüência o objetivo do texto é despertar a reflexão sobre a resistência do povo africano e seus descendentes, dentro e fora de seus territórios, os quilombos em terras brasileiras e o porquê o Quilombo de Palmares e seu líder Zumbi se tornaram referência para o movimento negro, a falsa democracia racial instituída entre as décadas de 60 e 70, permanecendo ainda na atualidade como sendo realidade vivenciada pela população. E como fechamento, destacamos a principal razão que motivou o surgimento e o fortalecimento do movimento negro brasileiro, a exigência por ações afirmativas que garantissem a cidadania da população negra brasileira em contraponto as táticas, políticas e sociais, que favoreciam a generalização da negrofobia e do racismo institucionalizado, dentro e fora do ambiente escolar. 
2 . FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1.1Diáspora Africana E A Divisão Do Território Africano
 A invasão do Continente Africano e a disputa das nações européias pelo domínio do mesmo, resultou em uma serie de conseqüências cujas marcas são visíveis sinais de desigualdade econômica e social. Os efeitos colaterais provocados pela falsa solução para uma suposta incivilidade e o retardamento do progresso, obsessiva idéia eurocêntrica em determinar o que deve ser considerado e compreendido, ou, desconsiderado e apagado, não afetou somente a África e seus habitantes, mas, em cascata, desencadeou acontecimentos que modificaram o panorama mundial. Os pactos e acordos firmados entre as nações exploradoras buscando subjugar os nativos do Continente Africano, as atrocidades cometidas com as populações dominadas, a saída forçada destes de sua terra lar , são fatores que influenciaram a forma como este povo e seus descendentes, hoje, se posicionam frente as suas necessidades e articulam-se em ações para supri-las. 
Como consta em qualquer livro didático de história, o desbravamento marítimo foi impulsionado no século XIV pelos portugueses por diversos motivos, entre estes, a necessidade de tomar o domínio comercial que os árabes possuíam sobre as rotas e a venda das especiarias indianas e chinesas , garantindo para si o mercado europeu. Acostumados a viagens marítimas com destino a França e a Inglaterra, entre 1415 e 1425, os exploradores portugueses iniciam suas expedições impulsionados por Dom Henrique , o infante, e posteriormente por ordenações religiosas , como a Cruz de Cristo e a Companhia Jesuíta no movimento da Contra Reforma realizado pela Igreja Católica , obtendo como primeiro resultado a conquistam da cidade de Ceuta, importante entreposto comercial sob domínio mulçumano, as ilhas da Madeira e dos Açores,( localidade de onde pouco mais de três séculos após, partiriam 60 casais com o objetivo de povoar as terras das Missões primeiramente , mas acabaram por se instalar no Porto de Viamão, atual Porto Alegre). Foram as primeiras dominações territoriais que deram início a outras tantas sucessivamente, e que encorajariam a outros dependentes do comercio islâmico a aventurar-se igualmente. 
	Seguindo pela costa africana, os marinheiros lusitanos perceberam que poderiam obter lucros maiores se além da matéria prima passassem a explorar e comercializar um outro tipo de mercadoria, muito mais lucrativoe em abundancia em todo território, a população local... em 1444 Portugal realiza a primeira venda pública de 200 pessoas escravizadas. Isso se tornaria um vício lucrativo, propulsor econômico , cujo o hábito não seria abandonado nem mesmo após encontrado o caminho para as Américas em 1492 e para as Índias em 1498 .
	Motivados pelo sucesso português, Espanha, França, Inglaterra e Holanda decidem igualmente aventurar-se, e ao final do século XV, a África, Ásia e as Américas não possuía mais domínio sobre seus territórios.
Analisando a ordenação dos acontecimentos e a forma como são relatados por Farias ( 2015, p. 34 ), percebe-se que o autor considera a ocupação do território africano neste período do século XV e XVI como mínima, relatando o período neocolonial, século XIX, como sendo o período onde a invasão foi mais significativa, conseqüência da consolidação do capitalismo e da Revolução Industrial. 
“ No início do século XIX, eram poucas as áreas do continente africano dominadas pelos europeus. A África era vista, até então, como uma fornecedora de produtos exóticos ( pimenta, marfim ect . ) e sobretudo de escravos. Com a Revolução Industrial, porém, as potências européias passaram a ver a África como mercado fornecedor de matérias- primas, consumidor de produtos industrializados e área para aplicação de capitais ( ferrovias, exploração de diamantes ect.)”. ( FARIAS, 2015, p. 34 )
De fato, a Primeira e a Segunda Revolução Industrial trouxe uma nova motivação para que a exploração ao continente tivesse continuidade, aumentando o interesse no continente africano por ser fornecedor em potencial de matéria prima e por ser também um prospero mercado consumista , também aumentou o interesse dos mercadores africanos em suprir as necessidades do mercado europeu, as negociações entre africanos e estrangeiros modificou a situação econômica de muitas tribos e da população litorânea. 
Alegando ofertar “civilidade”, o que o colonialismo realmente oferecia eram roubos, seqüestros, incêndios criminosos, estupros, assassinatos e o estimulo que nutria guerras . A conseqüência no presente é a instabilidade econômica do continente a qual uma das causas foi a dissolução da população causada pelo tráfico de pessoas. No inicio do século XV , Farias ( 2015, p. 30 ), “ ... todas as grandes nações européias de então, fossem católicas ou protestantes, envolveram-se no tráfico e disputaram acirradamente sua fatia nesse lucrativo negócio”. Entendemos com esta afirmação que, de alguma forma , ingleses, holandeses, franceses, portugueses e brasileiros, obtinham algum lucro com exploração do trabalho escravo , sendo através do trabalho direto de um ou por meio da venda de um africano.
2.1.2 África_ Antes E Depois Do Colonialismo
A origem do nome é definida na bibliografias mencionadas neste trabalho como oriundo de uma tribo que habitava o norte do continente e tornou-se conhecida pelos romanos por sua valentia, os AVRINGA ou AFRI eram difíceis de se deixar conquistar . 
Nas diferentes referências mencionadas neste trabalho, o ato de escravizar alguém é descrito como não sendo ação desconhecida para os povos africanos do século XV que praticavam a escravidão doméstica ou patriarcal . Esta forma de escravizar , não envolvia transação financeira (troca de moeda), consistia em usufruir do direito de ter como serviçal alguém que obteve alguma espécie de dívida, financeira ou moral, como os capturados em alguma guerra ou batalha. Outra forma de realizar este tipo de exploração era capturar pessoas de outra região com o intuito de explorar a força de trabalho e garantir a sobrevivência do grupo familiar dominante ou aumentar o contingente militar . Em geral estes escravos recebiam alguns benefícios e possuíam alguns direitos como constituir e sustentar família, algo que era completamente não cogitado na escravidão comercial européia. 
As fronteiras geopolíticas do continente eram delimitadas por tribos ou clãs familiares , fixados em aldeias ou nômades, e reinos. Estas unidades eram geralmente dirigidas por um curandeiro, um chefe, e um guerreiro no caso das tribos; os pais , lideres das família e seus filhos no caso dos clãs; e os reinos, estruturas mais complexas que funcionavam como um Estado tendo um rei ou uma rainha por governante. As terras e os rebanhos eram bens coletivos, distribuídos pela liderança governamental que exigia em troca uma parcela do que fosse produzido, a conseqüência era homens com mais de uma companheira e famílias numerosas . Em comum, todas estas estruturas cultivavam fidelidade aos vínculos, aos laços familiares, aos costumes e suas culturas, às lideranças e as suas práticas religiosas.
Berço da humanidade e da ciência, alguns dos povos africanos possuíam conhecimentos além dos que os europeus trouxeram ao invadir o continente. Cálculos matemáticos, astronomia, técnicas sanitárias, cirúrgicas, de assepsia, de anestesia e de cauterização, engenharia para construção incluindo metalurgia. E estes conhecimentos não são exclusivos do povo egípcio, como quase todos os livros didáticos afirmam, os povos Banyoro, Dogon, Haya e povos da região da Uganda, realizavam desde cirurgias de catarata à cesarianas; estudos voltados a prevenir e remediar doenças; construções semelhantes as dos Incas e Egipcios; registros em pinturas com desenhos do Sistema Solar e da Lua.
“ Os povos da África, porém, apresentavam grandes conhecimentos em áreas diversas, algumas vezes bem superiores aos dos brancos europeus. O saber médico, sanitário, os cálculos matemáticos e o universo astronômico existiam no continente há séculos. O conhecimento médico não estava apenas no Egito como estudamos normalmente – relatos dão conta que um cirurgião inglês, em 1879, ao visitar a região africana que hoje compreende a Uganda, testemunhou e registrou uma cesariana feita por médicos do povo banyoro, os quais demonstraram profundo conhecimento dos conceitos e técnicas de assepsia, anestesia, hemostasia...na Inglaterra o número de mortes de operários e seus familiares crescia devido ás péssimas condições sanitárias...”. (FARIAS, p.09, 2015)
A África representava um território extremamente rico em recursos e posteriormente visto pelos colonizadores como abastecedor inesgotável para o mercado escravagista, força de trabalho que foi disputada intensamente na fase da Revolução Industrial, e o grande número de pessoas despatriadas é evidenciado em um trecho do texto de outro autor , Pereira ( 2014, p. 26, 27 ) “ ... enfraqueceu comunidades inteiras ... Empobreceu muitos povoados e deixou famílias sem filhos e sem pais. “ . Foram quatro séculos de raptos que retirou 11 milhões de pessoas de sua pátria e as espalhou pelo mundo inteiro , muitas no período mais produtivo de suas vidas sendo metade destas trazidas para solo brasileiro. A escravidão comercial zerou a população de muitas regiões , desfazendo famílias e desestabilizando a economia destas localidades, lançando-as na pobreza e na escassez de alimentos , deixando-as imersas na fome e no abandono. 
“ ... além da sua força de trabalho, os africanos trouxeram sua civilização, seus conhecimentos e saberes. Porém, não se deve esquecer: o comércio de africanos escravizados trazia principalmente pessoas. Eram seres humanos retirados de sua terra natal, de suas aldeias, de suas casas e de suas famílias.” ( PEREIRA, 2014, p. 26 )
Em 1880, de acordo com Boahen (2010, p.30), o território do continente Africano era em sua totalidade (80%) dirigido por lideres governamentais africanos, situação que foi sendo alterada de forma no decorrer das 5 décadas seguintes, período em que a colonização do continente atingiu seu auge, somente os países da Etiópia e da Libéria permaneciam sem a governança dos estrangeiros europeus.
Na Conferência de Berlim, na Alemanha em 1884 as grandes potências estabeleceram, no território africano, fronteiras as quais segundo Farias (2015, p. 34), o estabelecimento destas não foi pacífico, “...era brutal e sanguinária, sem nenhum respeito pelas populações locais...”, assim como nenhuma das tomadas territoriais realizadas pelos exploradores dentro do continente, quando não havia acordo com os lideres ou governantes locais, a força ou o conflito armado se confirmava.
Estas novas demarcações também tornaram-se facilitadoras para a consolidação do domínio estrangeiro no continente, visto que ao dividir a população, acabava por enfraquecer e por vezes impossibilitar uma resistência a invasão, colocando em um mesmo território povos conflituosos de longa data. Essa condição soube ser aproveitada pelos Estados da Europa e pelo Estado Americano(após independência), que incitavam e influenciavam as lutas entre estes povos, chegando a fornecer armamento, favorecendo um dos lados. Ainda hoje, conflitos insuflados durante a 1ª e 2ª fase da Revolução Industrial no Continente não extinguiram-se.
“ O objetivo era delimita as fronteiras e as áreas de influência de cada potência colonizadora – daí porque se criaram muitas fronteiras artificiais, deixando em um mesmo território povos africanos rivais ou o mesmo povo dividido entre territórios distintos. Era evidente que isso iria provocar vários confrontos e guerras, o que repercute ainda hoje.” ( FARIAS, 2015, p. 34 )
Fonte:http://historiaehistoriografia2.blogspot.com.br/2016/03/9_25.html
2.1.3 A resistência dos povos africanos e as insurreições afro brasileiras
Portugal, inicialmente fazia uso do trabalho escravo no Império passando depois a enviar mão de obra explorada para sua colônia, o Brasil. Em Portugal assim como em grande parte da Europa, o uso de pessoas negras retiradas da África para o comércio escravagista era comum e estruturado, tanto quanto a resistência que se erguia no Continente Africano contra os europeus.
“ ( ... ) Marcha dos Jaga, que reuniu milhares de guerreiros, homens e mulheres, para lutar contra o invasor português, teve como pontos de apoio acampamentos fortificados denominados kilombos. Deles emanava uma forte organização política, religiosa e militar, capaz de agir em vastas regiões. Ao longo de suas expedições, invadiram e devastaram o Congo; seu objetivo era a destruição dos reinos aliados dos europeus ... Na América do Norte, Central e do Sul, os revoltosos intitulavam-se palenques, mambises, cumbes, saramakas, cimarrones, mocambolas ou quilombolas.” ( PRIORI , 2017, p. 49 )
Em nenhum momento, durante a história de invasão da África por seus colonizadores, a população local deixou de resistir. A nova forma de se pesquisar e escrever a história instituída a partir da reformulação historiográfica por meio dos questionamentos erguidos pela Escola de Annales, torna visível acontecimentos históricos não relatados na historiografia tradicional ou colocados de maneira errônea. Um destes erros de informação, a afirmação de que a população africana se submeteu pacificamente aos seus dominadores, é responsável pelo conceito pré-conceituoso, que se arrasta pelos séculos, de que o povo negro é submisso por ser incapaz de se articular de forma a defender sua própria liberdade.
“ A segunda seção trata das iniciativas e reações africanas diante da conquista e da ocupação do continente, tema grosseiramente deturpado ou inteiramente ignorado, até os anos de 1960, pela escola colonial da historiografia africana. Para os membros desta escola... os africanos teriam de fato acolhido favoravelmente o domínio colonial, já que ela não só os preservava da anarquia e das guerras civis e também lhes trazia algumas vantagens concretas. ( PEREIRA, 2014, p. 37 )
A ocupação estrangeira no continente em nenhum momento foi pacífica, os governantes ou reis africanos apresentaram posicionamento contrário ao plano que os estrangeiros intencionavam implantar a população, em resposta a negativa povoados eram totalmente exterminados, o que forçava alianças estratégicas “inimigo do meu inimigo é meu amigo” , resultando em trocas que favoreciam a aquisição de algum armamento, possibilitando uma maior resistência. 
A economia não sustentava-se apenas no comercio de matéria prima e minerais com os estrangeiros mas principalmente em práticas agrícola comunitárias ou familiares, onde o escravo era incorporado ao serviço diário juntamente com a família a que servia, apresentando características mais de um serviçal do que escravo, podendo até mesmo constituir família e trabalhara para sustentá-la em um espaço de terra fornecida pelo próprio escravizador .
 Com a invasão esses núcleos foram desfeitos e quem não era comercializado permanecia na terra para produzir exclusivamente para os colonizadores e trabalhar forçadamente sem descanso na mineração, na construção de ferrovias, na produção e o escoamento da mesma, na estrutura de novas cidades e na captura de africanos que fugiam ou se negavam a viver nestas condições. 
	Algumas famílias eram lançadas em terras pouco ou nada férteis, isto quando acontecia era um significante ato de “benevolência” do colonizador, mas, os impostos e taxas cobrados eram tão altos que igualmente a família trabalhava apenas para quitar sua dívida. Por conseqüência, ao não pagamento, um membro ou membros do grupo eram entregues, ou se entregavam para a comercialização.
	Foram tantas as revoltas que se ergueram a partir do século XV, que para enumera-las e descreve-las com seriedade a UNESCO fundou na Mesquita de Tombuctu um centro de estudos onde estão sendo arquivados documentos encontrados em bibliotecas africanas inexploradas e realiza a transcrição dos relatos da tradição Griot . 
Pouco ou nunca mencionadas por historiadores no contexto da sala de aula, batalhas como as que travou SamoriTouré, general do exercito militarizado dos Ashanti contra os franceses em 1824, resistindo ao domínio por 50 anos, e em 1900 sob a liderança da rainha Nana YaaAsantewaa contra os ingleses; Jaja de Opóbo, defendendo o delta do Niger contra os ingleses; os Nandis que conseguiram unir guerreiros de clãs diferentes para resistir durante 15 anos a ocupação européia; A rainha NzingaMbandi, que resistiu aos portugueses de 1624 à 1671 lutando a frente do seu exercito as batalhas na região da atual Angola. Hernandes (....., p.89), nos lista outras tribos entre tantas que não se submeteram ao domínio : os Boêres, os Sans, os Xhosas, os zulus, os Ndebeles, os Bembas, as guerreiras do Reino de Daomé, e outros tantos, que mesmo em desvantagem numérica ou bélica não renderam-se.
A descolonização ainda é um processo que está em curso em muitas colônias africanas.
Em terras brasileiras, os engenhos e a economia passa a se mover com os braços negros vindos da África, serviçais de um custo maior mas com retorno financeiro imediato e mais duradouro, pois os negros, segundo os colonizadores, possuíam uma maior resistência a doenças, possuíam uma maior habilidade para o trabalho agrícola, criação de gado e metalúrgico, e conseqüentemente, devido a forma como foram trazidos e alojados, teriam uma maior dificuldade para fugir já que não conheciam o lugar para onde foram trazidos.
A medida que a população indígena extinguia-se devido ao duro trabalho e maus tratos no cativeiro, mortes por epidemias, por cansaço, assassinato ou suicídio, intensificava-se o trafico de pessoas negras trazidas do continente africano de diferentes partes da África e diferentes tribos e reinos, vindas de dois principais ramos étnicos segundo Fausto ( 1995, p. 41 ), “(...) iorubás, jejes, tapas, hauças, entre os sudaneses; e os angolas, bengalas, mojolos, moçambiques, entre os bantos.” 
Essa população negra escravizada não poderia contar com o mesmo auxílio e intervenção dos padres jesuítas e da igreja que passou a proteger a nação indígena que trabalhava em suas terras e igrejas “de forma gratuita, voluntária e com regularidade” , nem esconder-se sob a proteção de leis contra o morticínio que procuravam amenizar os prejuízos causados com a caça e morte desenfreada de “escravos vermelhos” ( após terem exterminado todos que resistirame condenado a servidão ou a fuga e isolamento os poucos vivos ) . Estes, os africanos, estavam sós, referindo Fausto ( 1995, p.42 ), “( ... ) nem a Igreja nem a Coroa se opuseram à escravização do negro. “ 
Na recém estabelecida colônia portuguesa brasileira, o trabalho braçal era uma constância , a ocupação e expansão territorial, a construção dos engenhos, atividade agropecuária absorvia uma demanda de braços sem fim, possuir quem realizasse tal tarefa, escravos, era entendida como uma necessidade e demonstração de colocação social e poder, quantos mais se possuísse, mais representatividade social e poder lhe seria atribuído. 
Um hábito entendido como perverso nos dias atuais, mas que neste Brasil Colonial era comum, o escravo negro deveria ser castigado fisicamente sempre que para o seu senhor houvesse necessidade, porque estes homens, mulheres e crianças eram vistos como qualquer mercadoria disposta para se comprar ou vender, animais, ou algo sem definição, como descrito por Priori ( 1995, p. 39 ) ao escrever que “( ... ) Tratá-los como “coisa” era natural ( ... )”, mercadoria de alto custo, mas nada além disso.
“ (... ) a percentagem de escravos índios envolvidos na produção do açúcar foi, por outro lado, baixando à medida que os senhores enriqueciam e podiam importar africanos. O castigo físico exagerado era, contudo, condenado. Todo o cuidado que lhes era dispensado devia ser entendido como zelo pelo capital que representavam.” ( PRIORI, 2017, p. 39 )
2.2 .1 A Organização Social E A Econômia Quilombola
As revoltas e as exigências desta população desembarcou junto com ela em terras da colônia portuguesa, emergindo dos porões dos navios negreiros, não esmaecida.
Mesmo que, obviamente, sua fuga fosse dificultada pelo fato de não conhecer a região,como menciona Fausto, as fugas eram individuais e coletivas , combinadas quando a semelhança no idioma ajudava ou até mesmo quando as pessoas eram de tribos distintas, cada qual com singularidades na linguagem. Não era incomum acontecer encontros, não combinados destas pessoas em fuga, em meio a mata onde buscavam esconderijo, por vezes, algumas destas pessoas eram capturadas novamente e havia também aqueles que por medo decidiam por retornar ao explorador de que havia fugido, mas estes eram exceções, a maciça maioria optava por aventurar-se e procurar sobreviver da forma que conseguissem.
“Seria errôneo pensar que, enquanto os índios se opuseram a escravidão, os negros aceitavam passivamente. Fugas individuais ou em massa, agressões contra senhores, resistência cotidiana fizeram parte das relações entre senhores e escravos, desde os primeiros tempos.”( FAUSTO,1995, p.42 ).
Essa motivação, a de sobreviver a esse inimigo em comum, reunia em agrupamentos pessoas negras que foram escravizadas, oriundas de diferentes tribos, diferentes localidades da África, formando pequenas vila, originando os quilombos.
Ao falarmos em quilombo e quilombola, nos vem a mente a representação da única figura mencionada nos livros de história, Palmares e Zumbi, nos passa a falsa impressão de que foram poucos os escravizados negros e poucos os resistentes, mas a resistência negra, assim como a de qualquer outra etnia ou grupo oprimido, contou com outras lideranças e estratégias para alcançar seu objetivo. 
Outro engano é imaginar que a população de um quilombo se restringia a somente pessoas negras, escravizadas e fugitivas, Moura ( 1981, p. 10 ), relata que os quilombos nunca foram sociedades fechadas, e serviam de refúgio para todo indivíduo oprimido pela sociedade escravista “( ... ) fugidos do serviço militar considerados a partir de então criminosos, índios, mulatos e negros marginalizados. Analise o que escreve a historiadora Mary Del Priore:
“ Outra característica da resistência negra nessa região foi a aliança com os indígenas. Os quilombos de Quariterê, Sepotuba e Rio Manso abrigavam índios, negros e mestiços – os caburés – vivendo em harmonia. Entre os negros, havia libertos convivendo com fugidos. Como em toda parte, os quilombolas desenvolviam agricultura de subsistência, plantando milho, feijão,mandioca, amendoim, cará, banana e ananases. Decorrente de sua forma
de organização, a produtividade alimentar dessas comunidades contrastava com a penúria de cidades importantes ( ... ).” ( PRIORI, 2017, p. 51 )
Os grandes quilombos tinham uma organização social e uma rotina de trabalho que proporcionava a todos os seus habitantes viver bem e sem restrições alimentares, condições de vida melhor que em muitas vilas da colônia. Mantinham na maioria das vezes,relações comerciais com a comunidade que se formava em seu entorno ou já existentes, chegando a movimentar a economia da localidade, vendendo o excedente do que produziam, pescavam ou criavam.Além do quilombo dos Palmares, faremos menção a outros quilombos que igualmente movimentavam a economia ao seu entorno, como o de Campo Grande com aproximadamente dez mil habitantes, e o de Ambrósio, com uma população de dez mil habitantes. Todos com organização econômica e social semelhantes.
“Os beneditinos, que mantinham um engenho em terras iguaçuanas, por exemplo, fechavam os olhos para as comunicações entre seus escravos e os aquilombados. A pesca abundante nos rios garantia-lhes ainda mais do que comer, vender e viver. O comércio era tão lucrativo que tornava os pequenos comerciantes e barqueiros seus aliados. A complexidade dessas organizações se evidencia no caso do quilombo do rio Moquim, no norte fluminense:cerca de trezentas pessoas mantinham enormes lavouras de milho,mandioca e feijão, criavam galinhas e porcos, possuíam uma ferraria para a construção de ferramentas de trabalho, além de oratórios e umcemitério. Seus moradores habitavam “senzalas arruadas” e as crianças alinascidas eram batizadas por um padre pardo, foragido da justiça mineira. ( PRIORI, 2017, p. 52,53 )
Os quilombos de tamanho menor também possuíam uma organização própria para garantir a proteção e sobrevivência de seus habitantes, diferenciados dos grandes que eram defensivos a maior parte do período, estes, os pequenos quilombos eram militarizados.
Possuindo uma rotina de treinamentos, preparam-se para revide e ataque, costumavam realizar incursões de conhecimento e represália, praticando roubos ( a venda de pólvora, armamento, sal e alguns outros itens de importância vital era proibida de ser efetuada a pessoa negra ), invadindo fazendas, auxiliando negros cativos a fugir. Recebendo a cobertura de libertos e de escravizados das senzalas, adquiriam a informação antecipada das excursões punitivas realizadas por militares da coroa ou senhores de engenho, com tempo para fuga, mudavam de localidade, levando consigo o que pudesse ser levado. 
Estes quilombolas também se movimentavam em auxilio a outros quilombos e atuavam também como força armada junto a movimentos de insurreição negra ou associando-se as batalhas travadas pelas elites,ou pelo Império, em troca de sua liberdade.
Por diversas vezes os afro-brasileiros foram chamado para integrar estas batalhas, por serem em grande número, e, obstinados a reaver sua liberdade a ponto de participar de qualquer conflito que lhe retribuísse com este preço final. Haviam também aqueles que eram impulsionados a ocupar o lugar de seus exploradores.
A maioria dos conflitos armados entre as elites na disputa de poder, foram usadas forças militarizadas de escravos combatentes. Exemplificando estas situações citamos a Guerra contra o Paraguai (1864 – 1870 ), a Revolução Farroupilha e a Balaiada Maranhense onde um homem conhecido como Preto Cosme, aderiu a revolta com um efetivo de três mil homens armados.
2.2.2 Quilombo Dos Palmares
Mas afinal, o que representa o Quilombo dos Palmares e seu líder Zumbi para a população afro brasileira e para a população geral? O Quilombo dos Palmares localizava-se no estado onde atualmente é o Alagoas e estendia-se para o estado de Pernambuco, abrigando, próximo de sua desarticulação cerca de 20 mil pessoas, dentre as quais nemtodas eram africanas ou afro-descendentes, colonos descriminados e falidos e indígenas também formavam o composto populacional deste quilombo. Obviamente que a intenção maior dos moradores desta comunidade era resistir, mas além deste pensamento , estava o desejo de tornar o local uma extensão da terra pátria. 
“ ... Quilombo dos Palmares ou N’gola janga (Pequena Angola ), como aparentemente o quilombo era denominado por seus habitantes. Aquele era, na verdade, um complexo territorial constituído por diversos mocambos _ nome dado aos aldeamentos _ criados e controlados por ex-escravos na região da Serra da Barriga ... “ . ( PEREIRA, 2014, p. 37 )
A vontade de tornar qualquer lugar representação singular de sua terra natal, era comum a todos os quilombos brasileiros, não sendo o Quilombo dos Palmares, especial entre os outros por este motivo. O que tornou o Palmares símbolo de referencia foi sua força em proteger seus nativos, suas memórias e tudo o que a mais isso representasse. Segundo Pereira ( 2014, p. 37 ), este agrupamento de povoados em particular, abrigou três gerações de homens livres, e por três gerações resistiu as investidas de portugueses e holandeses. 
Mas este longo período, na época, de existência, não seria possível se não houvesse uma organização administrativa, social e econômica sustentando a luta por autonomia. A agricultura, com produção farta, garantia o sustento de todos os habitantes da localidade e permitia ainda a troca com outros quilombos e até mesmo negociação, a venda para o comércio ou pequenas propriedades no entorno.
Alguns historiadores atribuem tamanha resistência também ao fato de serem estes moradores, deste quilombo em especial, em sua maioria, naturais da região de Angola, lugar governado por uma rainha guerreira chamada N’Zinga M’Bandi, uma ancestral que também resistiu a invasão colonial no país que governava, Ndongo, região litorânea ao Oceano Atlântico. O Quilombo dos Palmares sucumbiu, mas não sem lutar , com a morte de seu líder Zumbi, em 20 de novembro de 1695. Este dia , por sugestão do Movimento Negro Unificado do RGS , passou a ser reverenciado como Dia da Consciência Negra nacionalmente após ampla discussão, incluindo na plenária constitucional de 1988.
O quilombo dos Palmares foi sem dúvida o maior em extensão territorial, em número de habitantes e em tempo de resistência, segundo Fausto ( 1995, p. 42 ), “( ... ) uma rede de povoados situado a em uma região que hoje corresponde em parte ao estado de Alagoas, com vários milhares de habitantes ( ... )”, estes “milhares de habitantes” chegou a vinte mil pessoas, resistindo a ataques frequentes de portugueses, holandeses e proprietários de engenho buscando resgatar escravos que conseguiam fugir e lá encontravam abrigo, por mais de cem anos.
Palmares assim como outros quilombos, buscava reproduzir a vida que fora obrigatoriamente deixada pra trás em sua terra natal, seu líder, o rei Ganga Zumba, tentava junto as autoridades portuguesas negociar a legalização das terras de Palmares, mas tornar Palmares uma sesmaria portuguesa não era compatível com os ideais de uma terra de pessoas livres e uma economia autônoma, seria um retrocesso, econômico e social para Palmares e todos os outros quilombos, pois o sistema econômico era movimentado pela policultura e a criação de animais comunitária e cooperativa, onde todos contribuíam com trabalho no plantio e no cuidado com os animais, até que a reserva fosse suficiente para todo o quilombo. Primeiramente era realizada a distribuição, depois o armazenamento, e somente então o excedente era trocado com outros quilombos ou comercializado com os vilarejos ao redor.
2.2.3 Abolição - A Política De Mediação Emancipacionista Ouabolicionistas Radical
Na historiografia brasileira, no que se refere a grande maioria das obras em que se aborda o tema escravidão no Brasil, a culminância, que seria a liberdade tão esperada, se da por um agente externo a população escravizada, seja ela indígena ou negra, um bem feitor ou uma união conjunta entre organizações políticas e religiosas, cujo senso de justiça se sobrepõe a favorecimentos, assinalando a ação correta a ser iniciada. Nunca, nunca há o reconhecimento, talvez por não haver percepção, que a ocasional libertação deste ou daquele povo, foi por sua persistência em resistir, ofensiva ou defensivamente. 
Alguns autores, entre eles o abolicionista Joaquim Nabuco ( 2010, p. 12 ), apresenta uma hipótese a ser considerada para justificar o porque a liberação da população escravizada deveria concretizar-se: “ ( ... ) vendo uma classe, e essa a mais influente e poderosa do Estado, exposta à vindita bárbara e selvagem de uma população mantida até hoje ao nível dos animais e cujas paixões, quebrado o freio do medo, não conheceriam limites no modo de satisfazer-se ( ... )”.
	
“Talvez elas tenham finalmente cedido, extinguindo o tráfico em 1850, por temerem outro tipo de ameaça: aquela proveniente da sociedade escravista,consubstanciada nas rebeliões da senzala; temor intensificado a partir de 1835, em razão da Revolta dos Malês, em Salvador, quando então foram descobertos planos, escritos em árabe, que, entre outras coisas, previam a morte de todos os brancos imediatamente após os escravos conquistarem o poder.” ( PRIORE,2017, p. 151 )
Este temor se justifica por um simples observação matemática, nas palavras De Priori ( 2017, p.151 ), “( ... ) as estimativas relativas ao período de 1500 e 1822 sugerem que, no máximo, um milhão de portugueses vieram para o Brasil, ao passo que o número referente aos africanos é da ordem de três milhões”. O número de africanos traficados para o Brasil era muito superior que a quantidade de portugueses vindos na mesma época. De 1821 a 1830 a cada mil portugueses que entraram no país, 43 mil africanos eram capturados e escravizados visando intensificar o trabalho para garantir o sustento e as regalias das classes dominantes.
“A historiografia oficial sempre procurou esconder ou camuflar o predomínio de africanos como “povoadores forçados” do território brasileiro, mas os líderes do Império nunca deixaram de perceber e escrever amargas notas a respeito do predomínio de negros no conjunto da população, alertando por isso mesmo para o constante risco de rebelião escrava”.( PRIORI, 2017, p.151 )
Buscando solução para o problema, haviam duas propostas de libertação das pessoas escravizadas, a radical e a emancipadora. A radical propunha a imediata soltura do cativeiro de todo homem, mulher e criança sob o regime de escravidão, e a emancipadora que visa remediar a instabilidade social provocada pelo regime escravocrata, agradar a Inglaterra que exigia o fim do trafico de pessoas africanas, e para as elites dominantes que não consideram a possibilidade de se manter economicamente, naquele momento, sem o trabalho escravo,possibilitava a adaptação através de um processo gradual e prolongado. Todas as medidas emancipacionistas quase nenhuma vantagem oferecia aos escravizados: código negro ( 1824 – Constituição ), lei do ventre livre 1871 ( ingênuo, era chamado o filho nascido de escrava com o ventre livre ), lei do sexagenário 1885, buscava sim um meio termo e a protelação em prol dos escravocratas, favorecendo ainda mais a descaracterização da população negra.
“Quando mesmo a emancipação total fosse decretada amanhã, a liquidação desse regime só daria lugar a uma série infinita de questões, que só poderiam ser resolvidas de acordo com os interesses vitais do país pelo mesmo espírito de justiça e humanidade que dá vida ao abolicionismo. Depois que os últimos escravos houverem sido arrancados ao poder sinistro que representa para a raça negra a maldição da cor, será ainda preciso desbastar, por meio de uma educação viril e séria, a lenta estratificação de trezentos anos de cativeiro, isto é, de despotismo, superstição e ignorância. O processo natural pelo qual a escravidão fossilizou nos seus moldes a exuberante vitalidade do nosso povo durante todo o período de crescimento,e enquanto a nação não tiver consciência de que lhe é indispensável adaptar à liberdade cada um dos aparelhos do seu organismo de que a escravidão se apropriou, a obra desta irá por diante, mesmo quando não haja mais escravos.”( NABUCO, 2010, p.4 )
Mas, ao mesmo tempo em que essas ações aconteciam, a resistência negra encontra no apoio dos abolicionistas radicais a representação política e a estrutura que precisavam para intensificar suas ações, em conjunto e com a cobertura destes, planejavam e organizavam fugas em massa, revoltas, incêndios sucessivos concomitantes em canaviais e usinas, e iam além, pagavam aos senhores escravocratas e seus capangas com a mesma moeda com a qual foram pagos, ou seja, mutilação a quem mutila e morte para quem mata.
Obviamente, estes revoltosos, como mencionado anteriormente, contavam com uma organização e estrutura que lhes possibilitava ter acesso a informações vitais e meios de fuga esquematizados. Um dos produtos desta esquematização era a “Rede Caifáses” liderada por Antônio Bento, um abolicionista radical. A Rede Caifáses consistia em, com a ajuda de trabalhadores livres ( imigrantes ) da rede ferroviária, as fugas individuais ou por até um certo número de pessoas. Consistia na retirada rápida, com pontos definidos para embarque, contribuindo com a locomoção de uma simples fuga ou após executarem retaliações aos seus opressores, eram realizadas facilmente por meio do transporte de trens, impossibilitando quase que totalmente a captura. Outro fator que também agregava era a possibilidade de se mesclar com a porcentagem de afrodescendentes forros ou libertos. 
Para refugiar estas pessoas que conseguiam escapar do cativeiro, foi planejado e montado um quilombo, organizados por afro-brasileiros e abolicionistas radicais, as Bastilhas. Os abolicionistas emancipadores também organizaram um quilombo, O Jabaquara ( 1839 ) ,as este não teve a participação de nenhum escravizado em seu planejamento, era um quilombo para a manutenção dos afro-brasileiros fugitivos e por intenção objetivava a integração, se possível, deste ao sistema, ou ao menos doutrina-lo e mantê-lo longe das senzalas para que não incita-se revoltas e mais fugas. As casas eram construídas de madeira em sua maioria, grudadas umas as outras compartilhando uma mesma parede, possuindo uma porta e uma janela cada. O líder escolhido para este quilombo era Quintino de Lacerda, negro, ex escravo, integrante da Guarda Nacional e conhecido por seu perfil conciliador. Também abolicionista, Quintino mantinha a tranquilidade e a segurança do lugar e dos seus quilombolas, lugar neutro, recebia também os fugitivos enviados pela Rede Caifáses de Antônio Bento. Outro quilombo com as mesma características estava localizado na Vila Maria, chefiado pelo ex escravo Pai Felipe. A organização econômica e social era parecida com os quilombos surgidos no furor da luta pela liberdade, mas se diferenciavam em um ponto consideravelmente importante, segundo Moura (1981, p.47 ), “( ... ) por não terem participado ativamente das lutas, tentaram uma forma de organização em que o trabalho livre poderia ser possível . No entanto a tentativa ... não pode se desenvolver como processo autônomo.” 
A mobilização expandiu-se e não era mais uma ação de apenas um determinado grupo, dos escravizados e cativos, era ideal compartilhado pela sociedade.
“ Nas área urbanas a participação do componente popular e operário irá contribuir para que o abolicionismo adquira uma conotação mais democrática. Os tipógrafos de Fortaleza negaram-se a executar qualquer impresso que defende-se o instituto da escravidão. A Imperial Associação Tipográfica Fluminense, ao tomar conhecimento que entre os seus associados havia um escravo, designou uma comissão para libertá-lo e o Centro Operário Italiano, em São Paulo, realizou muitas conferências abolicionistas.“ ( MOURA, 1981, p. 43 ).
2.3.1 MovimentoEugenista_ A Instituição Da Negrofobia Genocídio E Etnocídio Da População Negra Brasileira
A teoria da Eugenia veio para o Brasil em 1910 e desenvolveu-se, conquistando adeptos, organizando congressos e associações e sociedades o inicio da década de 50. Visível e violenta política cientifica social, que propunha o clareamento da população parda já existente no país, a princípio, por meio da miscigenação, neste período não era permitida a entrada de imigrantes que não fossem brancos. A teoria racista e xenofóbica , possuía simpatizantes em meio aos médicos higienistas e ganhou propostas mais perigosas, como esterilização, aborto e eutanásia, proibição de casamento inter-racial, até pena de morte. 
	É indiscutível o fato de que todos os povos se constituem etnocêntricos em algum momento de sua história, a medida em que julgam-se e constituem-se únicos em comparação, em contraposição, à outros povos, a forma como alguns destes povos, e seu Estado, desenvolvem este etnocentrismo, é fator que pode representar um perigo eminente para a existência de outros.
	Esse tipo de atitude está tão enraizada em nossa sociedade brasileira, que não nos percebemos como intolerantes raciais, apenas o somos de forma mais hipócrita e sutil, escondendo nossas verdadeiras intenções e responsabilizando a outros por nossas ações. Nossa percepção em relação a nossa responsabilidade está tão distorcida que nos chocamos com a banalização da morte, ou com o assassinato coletivo quando este é ocorrido em uma comunidade interiorana, talvez no sul do Brasil, onde a etnia branca é predominante, igualmente quando ocorre fora do nosso país, na Europa ou na América do Norte, mas a morte de nossos afro descendentes, de nossa população indígena e miscigenada, não nos perturba com a mesma intensidade.
Comprovadamente, o etnocentismo e a intolerância a diferenças étnicas, é o pensamento responsável por ações que desencadeiam o etnocídio e o genocídio entre as populações. Ambos passaram a ser considerados Crimes Contra a Humanidade pela Convenção de Genebra por ir contra a DUDH ( Declaração Universal dos Direitos Humanos ) instituída em 1945 após as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial pela Alemanha Nazista contra a diversidade étnica mundial, matando em torno de 6 milhões de pessoas.
A palavra “genocídio” foi mencionada pela primeira vez pelo polonês Raphael Lemkin retirada de uma termologia grega que significa “matar uma raça ou tribo”, justamente quando este procurava uma palavra que definisse o horror de se perseguir e assassinar pessoas por não aceitar suas características físicas, ou culturais, a crença de que qualquer etnia é inferior a sua e que por este motivo precisa ser extirpada, ter sua existência exterminada. Do pensamento genocida deriva-se outra concepção de intolerância e exclusão, o etnocídio.
	Etnocídio consiste em uma termologia um pouco mais atual que o genocídio e consiste em exterminar culturalmente e lentamente um povo ou etnia, destruindo sua cultura, destrói também sua identidade, no presente e no futuro, apagando sua existência da história, matando seus descendentes de dentro para fora.
Estes dois crimes, considerados hediondos e passíveis de punição jurídica, são cometidos contra a população negra desde o início de sua Diáspora no século XV até a contemporaneidade já em território brasileiro. Práticas racistas são comuns em nossa sociedade e alcançam respaldo e legitimidade por intermédio da opinião errônea exposta por intelectuais, como o escritor e médico Raymundo Nina Rodrigues, que em uma de suas obras, intitulada “ Os Africanos no Brasil”, expressa o que caracteriza a manifestação do preconceito racial no início do século XX, 1906. Nina Rodrigues ( 2010, p. 11, 12 ) cita que a população negra e mestiça brasileira seria merecedora do “(...) sentimento nobelissímo da simpatia e piedade...”, mas que não possuía as características étnicas para alcançar a civilidade ou o desenvolvimento. 
O autor segue sua narrativa ( 2010, p. 13 ), “(...) é mesmo de bom tom não ostentar desprezo por esse inferiores...” referindo-se degradantementea população africana brasileira, para logo a seguir enaltecer a descendência européia. Representante do preconceito histórico e secular cuja a população negra brasileira é submetida, embora tenha escrito vários livros onde deixava claro ser o povo negro o foco de suas pesquisas, em todas as suas obras o objeto, a população negra, é tratada com pouco apresso e descaso , de forma pejorativa, não sendo levado em consideração a mobilização desta população que já estava organizada na mesma época em que Nina construía suas suposições.
“Em São Paulo, apareceram o Club 13 de Maio dos Homens Pretos (1902), o Centro Literário dos Homens de Cor (1903), a Sociedade Propugnadora 13 de Maio (1906), o Centro Cultural Henrique Dias (1908), a Sociedade União Cívica dos Homens de Cor (1915), a Associação Protetora dos Brasileiros Pretos(1917); no Rio de Janeiro, o Centro da Federação dos Homens de Cor;6 em Pelotas/ RG, a Sociedade Progresso da Raça Africana (1891); em Lages/SC, o Centro Cívico Cruz e Souza (1918).7 Em São Paulo, a agremiação negra mais antiga desse período foi o Clube 28 de Setembro, constituído em 1897. As maiores delas foram o Grupo Dramático e Recreativo Kosmos e o Centro Cívico Palmares, fundados em 1908 e 1926, respectivamente. De cunho eminentemente assistencialista, recreativo e/ou cultural, as associações negras conseguiam agregar um número não desprezível de “homens de cor”, como se dizia na época. Algumas delas tiveram como base de formação “determinadas classes de trabalhadores negros, tais como: portuários, ferroviários e ensacadores, constituindo uma espécie de entidade sindical”. ( DOMINGUES, 2007, p. 04 )
Maioria majoritária, em todo o território brasileiro, as comunidades negras fora da África, incluindo a do Brasil, precisavam abandonar a cordialidade e o comportamento pacífico, entendido pelos brancos como submisso e mover-se em direção a si próprios, despir-se do stigma que lhes foi imposto e que paulatinamente vem lhe sendo atribuído, repetidas e repetidas vezes, até que a inverdade se torne verdade, e o próprio negro comece a duvidar de si mesmo e de sua capacidade.
	 O intectual negro Abdias do Nascimento, em sua obra Genocídio do Negro Brasileiro_Processo de um Racísmo Mascarado ( 1978, p. 155 ), descreve as ações genocidas que ocorriam ( e ainda ocorrem ) ao redor do mundo, estimuladas e ignoradas por seus governos, como foi o exemplo dado pelo ator dos negros aborígenes australianos, que mesmo habitando a região a pelo menos 50.000 e sendo a maioria populacional do continente, foram covardemente assassinados, envenenados através das fontes de água potável que utilizavam, continuamente, sendo exterminados paulatinamente, sem que houvesse nenhuma interferência do Estado. O autor nos revela que esta “tenebrosa tendência” também foi incorporada pelo Estado brasileiro, onde a população negra é maioria mas com pouquíssima participação nas decisões políticas, econômicas, culturais e sociais de seu país.
 Mesmo possuindo nenhuma participação nas decisões do país, a temeridade de uma tomada de poder pela população negra e mestiça era algo que assombrava a minoria dominante da época, pois como mencionamos anteriormente, os negros e pardos eram a maioria populacional como revela Nina Rodrigues ( 2010, p. 15 ), “(...) consideramos a supremacia imediata ou mediata da Raça Negra nociva à nossa nacionalidade, prejudicial em todo o caso a sua influência não sofreada aos progressos e à cultura do nosso povo.”
Considerando-se a pessoa negra e afro descendente um problema, propõem-se ao estrangeiro (não qualquer estrangeiro, ao imigrante europeu) condições e subsídios favoráveis para iniciar uma nova vida em território brasileiro, incluindo entre as beneces emprego, terra para cultivo e moradia, e, para a sua população africana e descendente, o exílio, o abandono, a miséria e com toda a certeza a morte, como podemos compreender neste trecho do texto de Nina Rodrigues: 
“Ao brasileiro mais descuidado e imprevidente não pode deixar de impressionar a possibilidade da oposição futura, que já se deixa entrever, entre uma nação branca, forte e poderosa, provável mente de origem teutônica, que se está constituindo nos estados do Sul, donde o clima e a civilização eliminarão a Raça Negra , ou a submeterão, de um lado; e, de outro lado, os estados do Norte, mestiços, vegetando na turbulência estéril de uma inteligência viva e pronta, mas associada à mais decidida inércia e indolência, ao desânimo e por vezes à subserviência, e assim, ameaçados de se converterem em pasto submisso de todas as explorações de régulos e pequenos ditadores.” (RODRIGUES, 2010, p. 15,16 )
A movimentação e organização social negra brasileira, passa a se expor e impor uma visibilidade maior, buscando oficialmente reconhecimento e poder político frente a decisões que lhe afetavam diretamente, quando entre os anos de 1889 a 1949, o uso proposital da frase a seguir, “ vislumbrou um horizonte negro, preto, escuro à sua frente” , pelo movimento eugenista , encoberto por um suposto respaldo cientifico que estimula a miscigenação para favorecer o clareamento, ganha força e promove abertamente a exclusão e o genocídio da população africana e descendente. A frase mencionada, contextualiza sem erros ou contestações, a realidade vivida pela população negra neste período, que agora passaria a travar mais uma batalha, esta para manter sua existência cultural viva e pelo direito de ser quem é . 
2.3.2O Mito Da Democracia Racial No Brasil
DEMOCRACIA . Originada do vocabulário grego do século V, a.C, ( Demos : povo ou muitos, Kracia : governo ou autoridade ), a palavra exorta simpatia e credibilidade, a crença de uma sociedade regimentada por ações oriundas de um Estado que se mova em uma direção que seja benéfica a todos os seus protegidos. Em diferentes momentos da história da humanidade, mesmo na antiga Grécia, berço da democracia, observa-se que os critérios que validavam o direito de usufruir e exercer cidadania e democracia , transfiguram-se, moldados por vínculos hereditários , posição e aceitação na sociedade, condição financeira ou política. 
Como reestruturar ou modificar , em uma sociedade, um pensamento e sua conseqüente prática comportamental nociva , sendo que ambos são considerados inexistentes por estão mesma sociedade ? Quais são as motivações que levam um grupo de pessoas e a cada um de seus indivíduos, a perceber o outro como menos confiável, ou incapaz ou indigno de ter escolhas ou exercer direitos que tornem sua vivência e suas experiências plenas? E o grupo vitimado e agredido em questão, a população negra brasileira, por quais razões nega-se, a si mesma, por vezes chegando a defender seu agressor partilhando suas idéias e as inveracidades repetidas e reeditadas pelo mesmo através dos séculos?
O assunto foi demonstrando-se complexo a medida em que as informações a cerca do Movimento Negro Unificado e outras formas de mobilização social da população negra, foram sendo pesquisadas. Mesmo não sendo esmiuçado o assunto por apresentar uma bibliografia pouco numerosa, e, perigosamente tendenciosa por vezes, percebe-se a extrema significância do tema para o combate formal as práticas xenófobas e racistas realizadas e legitimadas, dentro do território brasileiro e a nível mundial. 
Entre todos os países do mundo, o Brasil esta entre os que possuem grande diversidade de pessoas e culturas, se não a maior, possui uma população com cerca de 207 milhões de brasileiros segundo senso populacional realizado pelo PNAD/IBGE em 2017. Ainda, segundo o IBGE, os negros afro descendentes e os auto declarados ou pardos, representavam 96,7 milhões de brasileiros em 2010, e conforme projeção do aumento progressivo da comunidade negra, esta será a maioria da população até o ano de 2020. 
Gráfico divulgado pelo IBGE em agosto de 2017
http://www.blogdealtaneira.com.br/2017/08/ibge-divulga-as-estimativas.htmlIsso significa que mais de 50% dessas pessoas, encontram dificuldades diárias ao tentarem realizar as ações mais simples, que vão desde pedir uma informação ou expressar uma idéia, usufruir ou exigir direitos básicos como escola, moradia, trabalho, saúde, segurança. Serão, em 2020, um número superior ao de 100 milhões de pessoas enfrentando desvantagens impostas por um racismo oculto, disfarçado e escondido sob a falsa realidade de um regime republicano e democrático, que respeita e zela de forma igualitária, por sua população pluriracial . 
Entre as conseqüências deste racismo camuflado em nossa sociedade, está a naturalização de suas práticas e a formação de uma massa de brasileiros que não se identifica e nem se reconhece, como negro, ou como indígena, ou como pardo, por ignorância ou por medo, afinal é difícil ser negro em uma sociedade que te rejeita, um poder público que não reconhece suas necessidades, subordinado a um regime capitalista que se favorece com o seu desfavorecimento. 
“Tão anestesiada está a sociedade, que grande parte das pessoas é capaz de considerar que a causa do fracasso das pessoas negras se deve a elas próprias. Elas são a causa de sua própria desdita. É provável que muitas pessoas se assustem quando descobrem que alguns negros brasileiros não gostam de ser negro, isso acontece porque é ruim ser negro. E, esta é uma experiência que não está apenas no campo da retórica, pois o negro a vive em seu cotidiano. Na prática, ele descobre o quanto é difícil ser negro numa sociedade que lhe é totalmente inóspita.” ( DEUS , 2008, p.155 )
As evidências desta insistente busca pela erradicação do negro física e culturalmente desse “ meio social “ criado pelas pretensões eurocentristas dos colonizadores, persistiram e atravessaram os séculos, assim como suas múltiplas práticas , por vezes absurdamente escancarradas, e em outras imperseptíveis, mas sempre presentes . As formas de governar mudaram, a concepção das sociedades continuamente muda, mas na organização econômica mundial que construiu suas estruturas com base na exploração dos indivíduos, o que se observa é uma mudança na forma como essa exploração acontece, substituiu a escravidão( sistema ultrapassado e pouco lucrativo para alguns) pela industrialização e o trabalho realizado por baixa remuneração. 
De acordo com Hasenbalg, o colonialismo e o neocolonialismo tem em comum a estratificação social e práticas que mantém seu explorado em condições que facilitam a sua exploração. No Brasil, o preconceito racial e as práticas xenofóbicas são ferramentas eficientes para manter este sistema. Florestan ( 1989, p.35 ) também compactua com Hasenbalg seguindo esta mesma linha de raciocínio, de que claramente o sistema alimenta a discriminação racial à seu benefício “(...) como se a escravidão houvesse se sustentado no ar... o capital ia em busca do trabalho e a passagem de escravo e liberto a assalariado seria automática.” 
 Discordando apenas nos instrumentos apontados que preconizariam a efetiva mudança, Florestan assinala a mobilização civil da comunidade negra resultado de seu descontentamento e desacordo com as opções ofertadas como propulsor de mudanças, e, Hasenbalg ( 2005, p. 49), acredita que a mudança se dará em resposta ao avanço natural do progresso econômico.“(...) na medida em que o processo de industrialização e desenvolvimento econômico avança, a desigualdade racial será provavelmente reduzida...” . 
“A discriminação racial no mercado de trabalho é um tipo de mecanismo dentre um complexo conjunto de práticas racistas. O efeito cumulativo dessas práticas é o de reproduzir as posições sociais inferiores dos negros ... fenômenos sociais resultantes da sobrevivência de padrões arcaicos ou tradicionais de relações intergrupais. Preconceito racial, discriminação e concordância com um elaborado código racial... eram exigências funcionais do regime escravista.” ( HASENBALG, 2005, p. 49 )
Os fatos apresentam-se e por si só bastam-se para testificar a necessidade de se suscitar debates em torno do assunto, contestando a suposta igualdade e liberdade democrática para todos, pois se o Estado se ausentou ou se neutralizou frente a desigualdade e a injustiça, caberia a sociedade sustentar as discussões e exigir soluções. O uso da palavra “caberia” é proposital, pois para posicionar-se frente a um assunto é preciso reconhecer a temática como algo relevante, e preconceito racial ou racismo, principalmente relacionado a população negra e afro descendente, é um tema quase que indiscutível no Brasil, e supostamente inexistente. A afamada democracia racial brasileira instituída durante o regime militar serviu como uma cortina de fumaça que ofuscava a verdadeira situação vivenciada pela população nos duros anos de ditadura.
2.3.3 Politização Da Representatividade Afrobrasileira
A mobilização do afro-brasileiro não aconteceu do dia para noite, é uma constante que vem se desenvolvendo desde as primeiras insurreições dos africanos escravizados, desde o início e durante todo o período colonial formando mais de mil comunidades quilombolas, com organização social e econômica própria. 
Citando Farias (2015, p.08 ), “...o povo brasileiro se formou com a participação maciça dos afrodescendentes, e a sua cultura, principalmente a popular, deve muito as contribuições das culturas africanas trazidas pelos que foram escravizados...” . Em busca de seus direitos e de proteção para sua comunidade ignorada pela estrutura do Estado, tratada como “útil mas dispensável “ , lideranças negras de diferentes seguimentos, intensificam a mobilização com a circulação de jornais, “ A imprensa negra”, buscam retirar da alienação negros e negras que cresceram acreditando que os direitos básicos aos quais não tinham acesso , realmente não lhes pertenciam .
A movimentação política negra viria a assegurar direitos e a proteger outras manifestações do povo negro mantidas por agremiações e associações culturais e artísticas, recreativas, religiosas, de assistência, educacionais e esportivas, direitos não reconhecidos pelo regime republicano recém instaurado que jogou na marginalização a população negra, neste período pós abolição, de industrialização e de modificação nas relações de trabalho.
Uma nova etapa se inicia, nas décadas que se seguem dos anos 30 aos 80 , surgiram cerca de 78 sedes, próprias, de matriz negra, desenvolvendo um trabalho mais voltado a valorização da etnia, aos seus costumes, a sua cultura e ao despertar da consciência do povo negro torna-se indissociável de questões que envolviam, e ainda envolvem, educação e trabalho . 
Estes movimentos eram alimentados por intelectuais negros brasileiros que mantinham uma estreita relação com intelectuais e militantes do continente africano, mais especificamente com as colônias de língua portuguesa, por motivações obvias. Essa relação contribuiu para que, por meio de materiais de leitura ( livros, jornais, revistas, trechos de textos e poemas ), o negro brasileiro se aproximasse da sua matriz, África, (re)conhecesse a sua identidade, confrontasse sua realidade e buscasse modificá-la. 
Entre os grupos de mobilização negra deste período, mencionamos a FNB (Frente Negra Brasileira ) que surge durante a efervescência do Movimento Eugenistaem todo território brasileiro, e o MNUCDR ( Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial ), nascido no período de transição regimental brasileiro, ditadura-democratização. O surgimento e postura destes dois grupos negro brasileiros , nestes períodos históricos extremamente significativos para a população negra, a institucionalização da negrofobia dos anos 30 e as articulações políticas para adquirir representatividade junto a elaboração da Constituição Federal de 1988, garantiram o reconhecimento do cidadão negro e asseguraram direitos, que, a ausência de representatividade não poderia garantir . 
Independente das décadas que separam o surgimento das duas instituições, em comum havia o entendimento de que era necessárioreivindicar e exigir acesso a educação, ao trabalho e a moradia, além de alertar para a falsa distribuição igualitária de oportunidades.
2.4.1 Empreendedorismo e educação : as primeiras agremiações e a educação de crianças, jovens e adultos negros
A população africana e seus descendentes, ao contrário do que a historiografia apresenta, articula-se organizadamente desde o primeiro momento em que deixou sua pátria sob a perspectiva de não mais voltar.Agrupou-se, planejando e executado ações inteligentes, freando a violência de seus inquisitores, observando e utilizando-se das necessidade e fraquesas do mesmo para reverter em beneficio para o seu povo.As associações ou agremiações, eram e ainda são, não só formas coletivas de resistência, mas também de exposição de um conceito social que impõem padrões, que se opõem e persegue a quem rotula como diferente, buscando desestruturar e extinguir, negando lembrança, negando menção . 
Inicialmente, estas associaçõesapresentavam características puramente assistenciais, como a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos,fundada em 1685 por escravos originados da Angola e ainda ativa, após 334 anos. A Irmandadeera uma entre tantas onde a presença de todos os “rejeitados” pelas igrejas católicas convencionais era aceita, não somente pessoas negras e seus descendentes, mas também pessoas indígenas, judias, e até mesmo brancas, consideradas impuras ou indignas que por alguma motivo não eram permitidas de freqüentar as igrejas tradicionais . Igualmente como as outras irmandades da região estudada pela autora, o estado do Sergipe, a instituição mantinha fundos para a compra de euforias, para garantir auxílio à família de escravos ou ex escravos que fossem assassinados ou incapacitados de seguir trabalhando (mutilados), e para o enterro dos mesmos, quando possível, pois a maioria tinham seus restos mortais abandonados, atirados aos animais ou queimados. 
Antecedendo, e após a declaração da abolição de escravatura, estas associações desempenhavam importante papel educacional no letramento de seus irmãos (associados) negros euforiados ou não, um diferencial social que contribuía na construção da auto estima do indivíduo dentro desta sociedade em que a pessoa negra , seu trabalho e sua inteligência eram desconsiderados e desprezados. Mesmo na administração destas associações, fundadas por negros e direcionadas para os negros, de acordo com Santos ( 2011, p.05 ) sua participação não alcançava as funções administrativas ou diretivas, cuja a ocupação era destinada a pessoas letradas, que soubessem ler e escrever, ou seja, neste período da história “(...) além de homens e livres tinham que ser brancos”. 
“O recorte racial é justificado devido à necessidade de que fossem pessoas alfabetizadas e familiarizadas com os números, pois os mesmos se ocupariam dos documentos da irmandade, como o livro de assento dos irmãos e das finanças da instituição. Desse modo, acredita-se que possivelmente não haveria homens negros no século XVIII que atendessem a esses critérios... A autora encontrou 10 negros que sabiam ler, de um universo de 89 pessoas que detinham esses conhecimentos e que faziam parte da irmandade dos homens pretos. Dentre os negros tinha um pardo, três crioulo, um índio e cinco pretos”. ( SANTOS, 2011, p. 05 )
Além de sua cultura, os escravizados africanos trouxeram consigo sua capacidade de empreender, o que tornou-se de vital importância tanto para os que trabalhavam como negros de ganho para seus “senhores”, quanto para os alforriados, libertos ou fugitivos que tiravam da comercialização e negociação seu sustento. No estudo das irmandades realizado por Santos ( 2011, p. 01 ), a autora transcreve um trecho de texto referente a um inventário registrado em Cartório, e arquivado no Arquivo Geral do Judiciário de Sergipe. Neste texto, são listados os bens de uma mulher idosa alforriada , Rosa Benecdita , africana do país da Guiné, que comprou sua liberdade com renda adquirida por meio de seu trabalho autônomo.
“Rosa Benedicta possivelmente mercadejava, sobrevivia do trabalho com o seu tabuleiro, com essa renda comprou a sua alforria, uma escrava, construiu a casa que residia, e estava construindo uma segunda quando faleceu. Sua escrava deveria ajudá-la nas vendas e por isso ela possuía dois tabuleiros. Essa atividade foi interrompida quando adoeceu e foi ajudada financeiramente pelo crioulo baiano João Valentino com quem também estabeleceu uma relação de solidariedade, afinal eram dois estrangeiros em terras sergipanas. Rosa Benedicta faleceu em 1816, possuindo dívidas com o crioulo João Valentim e o instituiu como herdeiro no seu testamento, esse fato evidencia uma gratidão pelo referido crioulo, quiçá um liberto”.( SANTOS, 2011, p.01 )
Através destes descritos, percebe-se não somente a forma de convívio social e organização 
financeira destas pessoas, e mais, o quanto era necessário reaprender, reiniciar, falar e escrever na nova língua, preservaras referencias de sua matriz africana , mas e ao mesmo tempo ultrapassar os obstáculos que a falta do reconhecimento dos símbolos gráficos viria a trazer . Está em jogo a emancipação da população negra no pós abolição. Mas como realizar tal feito se este simples ato, o de aprender, era algo não consentido aos negros africanos e seus descendentes, rotulados de ignorantes por não estarem alfabetizados em uma língua que não era a sua ?Oferecendo como justificativa a afirmação de que pessoas negras não eram possuidores de inteligência e eram transmissoras de doenças, o negro e seus descendentes, escravos ou não, tornam-se reféns de leis constitucionais e de uma realidade inventada que os coloca em uma constante situação de desvantagem e atraso. SILVA ( 2005, p. 68 ) expõem em sua pesquisa as leis outorgadas nas constituições de 1824 “ ...( art. 6, item 1 da Constituição de 1824) coibia o ingresso da população negra escrava, que era, em larga escala, africana de nascimento “, o ensino é destinado apenas aos cidadãos e as famílias que possuíam condições de pagar pelas aulas educacionais. Em 1854 uma reforma legislativa torna obrigatória a inserção à escola primária e secundária, pública e gratuita, o que superficialmente causa a impressão de justiça e igualdade, e seria se não fosse em seus detalhes racista e exclusória.
“...a reforma de Couto Ferraz (decreto 1.331A de 17 de fevereiro de 1854) instituía a obrigatoriedade da escola primária para crianças maiores de 07 anos e a gratuidade das escolas primárias e secundárias da Corte. Cabe ressaltar, entretanto, dois pontos relevantes nesta Lei, que comprovam a ideologia da interdição: primeiro, nas escolas públicas não seriam admitidas crianças com moléstias contagiosas e nem escravas; segundo, não havia previsão de instrução para adultos. De uma maneira geral, essa reforma educacional previa a exclusão dos negros escravos, adultos e crianças, além de associá-los às doenças contagiosas da época, provavelmente a varíola e a tuberculose.”(SILVA,2005 , p. 68 )
	Por meio de reuniões secretas, passavam uns aos outros, o que aprendiam através da observação ou até mesmo pagando “aulas particulares” a quem se dispusesse a ensinar os princípios básicos para leitura , escrita e cálculos sofisticados. SILVA ( 2005, p.68 ) afirma que “(...) tão difícil quanto viver numa sociedade escravocrata era adquirir algum tipo de instrução...”, o que se confirma com a reforma educacional de 1854 , que possibilitou a entrada à escola de libertos pardos, contudo, devemos ressaltar que a introdução da escolarização da população negra no período do início do século XX visava muito mais a contenção e a preparação para o trabalho do que ressarcir e estabelecer igualdade de direitos ou justiça.Esta motivação, ou função, das agremiações negras em todo território brasileiro, foi-se 
modelando, desconstruindo a função meramente assistencial, o que acabava contribuindo para a aculturação da população africana mesmo que de forma não intencional, para assumirum posicionamento reinvindicatório, de enfrentamento e de conscientização da própria população afrodescendente, suas necessidades não poderiam mais ser ignoradas. 
2.4.1Surgimento Dos Bolsões E Das Comunidades Quilombolas_ Zonas De Liberdade Cultural E Exclusão
Após a oficialização da abolição no século XIX, a cidade de Porto Alegre, assim como todas as grandes capitais do pais, inicia um processo de “seleção” da população. A tendência positivista da republica brasileira recém estabelecida, como referido anteriormente na pagina deste artigo,aspira para a estrutura de suas construções ares parisienses, e para essa reformulação seria preciso “refinar” não somente as edificações mas a população que teria acesso ao centro desta nova Paris... os negros , os pobres e os indígenas. As teorias eugenistas do inicio do século XX e a prática de ações que desqualificavam a população negra, foram bem aceitas entre a população de vida mais abastada, principalmente nos estados do sul do país, onde o Movimento Eugenista possuía sede e o apoio governamental, que se utiliza de subterfúgios para planejar e praticar ações exclusórias, Teixeira( 2016, p.159 ) nos evidencia esse fato quando nos relata o intenso trabalho que se realizava na região para que se concretiza-se o ideal do “branqueamento” da população sulina através da facilitação da entrada no Estado de imigrantes europeus.
	A população negra gaúcha, indiferentemente ser ex escravo ou nascido liberto, “pele escura ou moreninha “, é despejada dos pontos principais da cidade, sendo exiladaem guetos, verdadeiros bairros negros onde poderiam afastar-se do preconceito, mas não esconder-se dele.
“ No centro da cidade e, nas proximidades, populações afrodescendentes viviam, fato que não era muito bem aceito pela elite gaúcha. Foi então que três comunidades de predominância negra surgiram: a Colônia Africana, MontSerrat e o Areal da Baronesa, todos situados nos arredores do centro de Porto Alegre. “ . ( TEIXEIRA, 2016, p. 176)
A região do Areal da Baronesa abrangia do ponto da atual João Pessoa à Cidade Baixa, a Colônia Africana situava-se onde hoje localiza-se os trecho entre as ruas Dona Laura, Mostardeiros e Mariante, o bairro MontSerrat, região nobre de Porto Alegre próxima ao Parcão, também era um reduto da população afro pós abolição. Essas e outras localidades, hoje considerados bairros nobres, nas proximidades das ruas Lima e Silva, José do Patrocinio, Osvaldo Aranha e Protásio Alves próximas ao Redenção, eram regiões rejeitadas pela elite Porto Alegrense pois ou eram muito baixas e alagavam, ou eram de terreno irregular apresentando elevações (subidas).
Para que se efetua-se a retirada desta população “indesejável” das localidades centrais (Mercado, Rua dos Andradas, Voluntários da Pátria, etc), iniciou-se o despejo destes, iniciando a execução de um planejamento geopolítico social e econômico, o Plano Geral de Melhoramentos, que ambicionava a construção de um centro financeiro, onde pudessem ser realizadas as transações financeiras dos empresários e industriários porto alegrenses e da oligarquia gaúcha com o restante do país.Como conseqüência o Plano Geral de Melhoramentos foi responsável por criar bolsões onde eram depositados os segregados da capital, entre estes bolsões surge o bairro da Restinga, para onde foi empurrada parte da população afro descendente. 
“ O fato que devemos levar em consideração, no caso particular de Porto Alegre, é de que foi criada uma localidade específica para agregar, segregar, essas populações na sua maioria negra. Estamos falando da Restinga que receberá essas pessoas no final dos anos 1950 e só será oficializado como bairro em 1989.” (TEIXEIRA, 2016, p. 176 )
Como também mencionado no texto da pagina anterior, estas áreas, antes de pouca significância para a elite porto alegrense, com a expansão da classe burguesa passaram a ser valorizadas por serem as áreas mais próximas ao centro comercial e financeiro da cidade, e a novamente toda a população de baixa renda ( principalmente a negra por ser maioria nestas regiões exiladas) é outra vez empurrada para mais longe, longe do trabalho, do acesso a educação, do acesso a saúde, longe da vista ... os que ainda hoje enfrentam e resistem a especulação imobiliária das zonas onde estão localizados são os moradores dos Quilombos da Família Fidelix e Quilombo do Areal, antiga Ilhota (Cidade Baixa ), Colônia Africana ( Bairros Rio Branco e Bom Fim ), Quilombo da Família Silva ( Bairro Três Figueiras ), entre outras comunidades em processo de reconhecimento.
A prefeitura de Porto Alegre, através do DEMHAB, tem amplo e questionável participação na retirada e realocação destas famílias .
2.4.2 A Mobilização Negra E Suas Principais Conquistas
Na linha de abordagem do MNU, e antecedendo seu surgimento , em Porto Alegre , 1971, o Grupo Palmares contestava e negava o reconhecimento à data do 13 de maio como sendo um marco representativo de liberdade para a população africana brasileira, e reivindicava o 20 de novembro, dia da morte do líder Zumbi, como data comemorativa e feriado declarado, este sim, como expressão da conquista e representação da luta pela liberdade do negro brasileiro, objetivo alcançado posteriormente pelo MNU.
	O Movimento Negro Unificado, significa na contemporaneidade, a organização e a representatividade da população negra, unificadas, em todas as frentes, adquirindo e consolidando direitos, erguendo bandeiras, contra a violência policial, o genocídio étnico, exploração trabalhista, contra a aculturação e pela inserção da História da África e da cultura negra no currículo escolar .
Ações que favorecem não somente o coletivo negro e afro descendente , mas também o indivíduo, contemplando não somente esta etnia, mas outras, na liberdade e direito de conhecer e usufruir, sua cultura, sua religiosidade. Expandir seu conhecimento e ter a oportunidade de aplicá-lo em condições de igualdade ofertadas a qualquer outro grupo étnico . Pois justiça e igualdade é direito de todas a etnias.
A partir da segunda metade do século XX, a população afro-descendente começa a, enfim, ver germinar a semente plantada e replantada muitas vezes e com grande esforço. Sucessivamente, são aprovadas leis que tratam o racismo ou o pré conceito racial, de qualquer tipo , como crime passível de punição penal; leis de ações afirmativas que resultaram na inserção da pluralidade cultural e racial na grade curricular educacional brasileira; leis que asseguram a inserção de cidadãos afro-descendentes em espaços que, em um passado não muito distante, eram restritos a uma parte da população que apresentasse características físicas semelhantes a descendência européia.
· A discriminação racial passa a ser criminalizada pela Constituição federal de 1988, mesmo ano em que se cria a Fundação Palmares.
· Implementação, em 1989,da lei 7.716, que determina como crime ações demonstrativas de racismo. Anterior a essa já havia a lei Afonso Arinos, de 1951, estabelecia que a pessoa afro-brasileira não poderia ser distrata ou impossibilitada de frequentar qualquer estabelecimento sendo ele público ou privado.
· A inclusão em janeiro, nas Diretrizes Curriculares Nacionais, da LDB 10.639/2003, que estipula o estudante deve conhecer , nas três esferas de ensino, municipal, estadual e federal, e em todas as etapas da educação, da educação infantil ao ensino superior, a pluralidade étnica e cultural brasileira, a História da África e a cultura africana. influencia de africanos, indígenas , europeus e asiáticos. Esta ação, iniciada e concluída pela mobilização de grupos articulados pelos direitos do cidadão negro, abriu caminho para a criação de outra lei, que veio a inserir a menção de outro povo também matriz da formação do povo brasileiro, o indígena, a lei 11.645/2008.
· A viabilização do reconhecimento e da seguridade da propriedade da terra de territórios quilombolas para seus remanescentes através do Art 68 da Constituição Federal de 1988, por diversas entidades públicas

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