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03 CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO

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15/11/2020 UNINTER - CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO
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CONTABILIDADE APLICADA AO
SETOR PÚBLICO
AULA 3
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. José Luis Modena
15/11/2020 UNINTER - CONTABILIDADE APLICADA AO SETOR PÚBLICO
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CONVERSA INICIAL
Já debatemos sobre despesa pública, que é a parte das finanças que representa os dispêndios
destinados ao atendimento do bem comum. Para fazer frente a esses gastos, o governo conta com as
receitas públicas, que serão o objeto do nosso estudo no decorrer desta aula. Para tanto, traremos
inicialmente os conceitos legais e doutrinários correspondentes e, em seguida, veremos que, para fins
de registro e controle, essas entradas são segregadas em diferentes classificações.
Também mencionaremos as etapas da receita pública, que de modo geral passam pelo processo
de planejamento e execução. Falaremos ainda acerca das receitas públicas e a Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF). Por último, abordaremos os impactos que essas receitas geram nos
subsistemas patrimonial, orçamentário e de compensação.
CONTEXTUALIZANDO
As receitas públicas possibilitam a realização de ações governamentais. É por meio desses
recursos que o governo tem amparo creditício para agir em programas educacionais, de segurança
pública e de saúde, bem como outras iniciativas que vislumbrem o bem comum.
Nesse contexto, os tributos representam a maior fonte de receita do Poder Público. Para se ter
uma ideia, dados do Portal da Transparência relativos a 2019 evidenciam uma receita corrente
pública, no âmbito da União, de R$ 1,69 trilhão, e desse montante 82% possui origem tributária
(Brasil, [S.d.]). Matias-Pereira (2017) lembra que o Estado depende desses recursos, sem os quais se
torna impossível a execução das atribuições que se espera dele. Obviamente, o governo conta com
outras fontes de entradas financeiras, como as receitas advindas das ações do Estado como
empresário e as receitas de capital. De todo modo, é notória a importância da arrecadação pública
para as ações que promove.
É nesse contexto que a compreensão de algumas peculiaridades atinentes ao conceito e à
aplicação da receita no contexto público se faz relevante. Seria o entendimento doutrinário da receita
pública equivalente ao existente no ambiente corporativo? Como podemos classificar essas entradas
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financeiras nas contas públicas? E os registros, quais subsistemas são impactados pela ocorrência das
receitas? No decorrer de nossa aula, responderemos a esses e a outros questionamentos acerca da
receita pública.
TEMA 1 – CONCEITO
No campo doutrinário, existem peculiaridades que diferenciam a aplicação do conceito de
receita nas esferas pública e privada. Conforme explicam Araújo e Arruda (2020), no âmbito privado,
ela é entendida, de modo simplificado, como as movimentações patrimoniais que geram variação
positiva no patrimônio líquido da entidade, como venda de mercadoria, juros e aluguéis. Por outro
lado, no setor público, trata-se, em um sentido amplo, de todas as entradas de recursos ao governo,
inclusive aquelas que transitam pelas contas públicas apenas em caráter transitório.
Essa amplitude conceitual, para Kohama (2016), deriva do fato de a contabilidade pública
reconhecer a receita no enfoque orçamentário e patrimonial. Na esfera orçamentária, ela ganha uma
extensão mais abrangente: em observância aos preceitos contidos no art. 57 da Lei n. 4.320/1964,
seriam consideradas como receita orçamentária “todas as receitas arrecadadas, inclusive as
provenientes de operações de crédito” (Brasil, 1964).
Com base nessa constatação, destaca-se primeiramente o fato de que no aspecto orçamentário a
receita deve ser reconhecida pelo regime de caixa, conforme mencionamos anteriormente. Não
obstante, percebe-se ainda que até mesmo os valores advindos das operações de crédito também
são tidos como receitas.
Já no âmbito patrimonial, o conceito e o reconhecimento da receita estão mais aderentes à
doutrina aplicada no setor privado. Dessa forma, são reconhecidas como receitas somente os valores
que geram uma variação patrimonial aumentativa. Além disso, conforme ressalta Kohama (2016), essa
valoração, para fins patrimoniais, independe do recebimento, ou seja, registra-se de acordo com o
regime de competência.
Vale destacar também que a receita pública pode não estar vinculada à realização de algum tipo
de despesa. Uma das principais fontes de arrecadação pública é de origem tributária, cuja cobrança
deriva do poder coercitivo do governo; em alguns casos, como o dos impostos, a lei não obriga uma
contraprestação do Estado para com o indivíduo que arcou com o ônus do tributo. Em outras
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palavras, registra-se uma receita, sem necessariamente implicar um reconhecimento concomitante de
uma despesa.
TEMA 2 – CLASSIFICAÇÃO
A receita, para fins de registro e controle, recebe uma classificação que irá distinguir as diferentes
entradas nos cofres públicos. A primeira diferenciação desses recebimentos é com relação à previsão
nas leis orçamentárias, dividindo-os em orçamentários e extraorçamentários. De acordo com o
Manual de Contabilidade Aplicado ao Setor Público (MCASP), as receitas orçamentárias ainda podem
ser subdivididas por natureza e por indicador de resultado primário (Brasil, 2018). A seguir, falaremos
a respeito de cada uma dessas classificações.
2.1 RECEITA ORÇAMENTÁRIA E EXTRAORÇAMENTÁRIA
As receitas orçamentárias, de modo geral, são previstas em dispositivos legais aprovados pelo
Poder Legislativo. Conforme explicado pelo MCASP, essa conjectura deriva do princípio da
universalidade, cuja definição pressupõe que o orçamento irá prever todas as receitas e despesas
públicas (Brasil, 2018).
Ocorre que determinadas receitas, mesmo não previstas na Lei Orçamentária Anual (LOA), são
tidas como orçamentárias. Squizzato (2013) lembra que a natureza delas irá determinar se podem ser
assim classificadas – é o caso de algum tipo de tributo não previsto no orçamento, mas que adentrou
aos cofres públicos. Kohama (2016), de modo prático, menciona que se a entrada financeira pertence
ao ente público de forma permanente, então estamos diante de uma receita orçamentária.
Não obstante, temos ainda as entradas extraorçamentárias, ou seja, as receitas que adentram as
disponibilidades financeiras do ente público apenas de modo temporário (Brasil, 2018). Em outras
palavras, não representam acréscimos ao patrimônio líquido da entidade pública. É o caso, de acordo
com o parágrafo único do art. 3º da Lei n. 4.320/1964, da “operação de crédito por antecipação da
receita, as emissões de papel-moeda e outras entradas compensatórias” (Brasil, 1964). As situações
elencadas, de modo geral, não servem para amparar a realização de despesas públicas orçamentárias.
2.2 CLASSIFICAÇÃO EM RELAÇÃO À NATUREZA
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Assim como ocorre com as despesas, as receitas também podem ser classificadas por natureza.
Em referência ao MCASP, essa distinção permitirá identificar a origem delas, espécie, desdobramento
dessa espécie e tipo (Brasil, 2018). Cada um desses fragmentos empregados para discriminar as
receitas recebe uma codificação numérica. Para ilustrarmos essa divisão e codificação, evidenciamos
na Figura 1 o exemplo utilizado pelo Manual Técnico do Orçamento (MTO) (Brasil, 2020a), em que se
evidenciam receitas com imposto de renda pessoa física.
Figura 1 – Classificação da despesa por natureza
Fonte: Brasil, 2020a.
Na primeira classificação da receita, temos a divisão por categoria econômica, em que é
permitido segregar as entradas orçamentáriasem receita corrente e de capital. Para fins de
identificação numérica, empregam-se 1 para referir-se à receita corrente e 2 para as receitas de
capital.
As receitas correntes, de acordo com o MCASP, são recursos que entram nas finanças públicas
dentro do exercício financeiro e que alteram o patrimônio líquido da entidade (Brasil, 2018). É o caso,
conforme indica o art. 11 da Lei n. 4.320/1964, das “receitas tributária, de contribuições, patrimonial,
agropecuária, industrial, de serviços e outras” (Brasil, 1964). Esses recursos também servem de
amparo para realização das despesas correntes.
Em relação às receitas de capital, o MCASP as define como o montante financeiro cuja entrada
também ocorre ao longo do exercício financeiro, mas que não altera o patrimônio líquido da
entidade pública (Brasil, 2018). Estão contidos nessa categoria, em observância ao parágrafo 2º do art.
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11 da Lei n. 4.320/1964, os “recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas; de conversão,
em espécie, de bens e direitos” (Brasil, 1964). A norma também inclui nesse rol o superávit do
orçamento corrente, que se refere ao montante positivo derivado do confronto entre receitas e
despesas correntes.
Com base nessa primeira segregação da receita, podemos então identificar sua origem, que é
uma subdivisão da categoria econômica. Giacomoni (2017) menciona que essa discriminação da
receita, além de representar uma forma mais analítica, também viabiliza o acompanhamento de cada
tipo de entrada que foi preteritamente estimada na lei orçamentária. Para tanto, o MTO, em
observância às origens mencionadas no art. 11 da Lei n. 4.320/1964, salienta a possibilidade segregar
a receita corrente e de capital (Brasil, 2020a), conforme elencado a seguir.
a) Para as receitas correntes:
Impostos, taxas e contribuições de melhoria: nessa categoria, são inseridas as receitas de origem
tributária, exceto as direcionadas para a divisão relatada a seguir.
Contribuições: também de origem tributária, mas nesse caso essa subdivisão é destinada a
abarcar as receitas de contribuição social e econômica. De modo exemplificativo, temos o caso
da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e a Contribuição de Intervenção no
Domínio Econômico (Cide).
Receita Patrimonial: são entradas provenientes da exploração do patrimônio público, como
aluguel e concessões.
Receita Agropecuária: conforme mencionado pelo MCASP (Brasil, 2018), são receitas do Estado
agindo como empresário no ramo do agronegócio.
Receita Industrial: envolve atividades industriais, incluindo a extração (inclusive mineral) da
matéria-prima e seu beneficiamento.
Receita de Serviços: trata-se de receitas provenientes da cobrança de tarifa, em que o Estado
presta serviço ao particular.
Transferências Correntes: recebimento de receita pública de outro ente federado. Por exemplo,
temos o caso do repasse dos estados, para os municípios, de parte da arrecadação com ICMS.
Outras receitas correntes: subdivisão destinada aos casos não amparados nas classificações
precedentes (Brasil, 2020a).
b) Para as receitas de capital:
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Operação de crédito: derivada da contratação de empréstimos.
Alienação de bens: receita oriunda da venda de bens públicos.
Amortização de empréstimos: para os casos nos quais o ente público concedeu empréstimos;
no momento do recebimento, o valor amortizado é reconhecido como receita.
Transferências de capital: valores recebidos de outras entidades públicas, classificados como
receita de capital.
Outras receitas de capital: classificação utilizada para as situações não enquadradas nos itens
precedentes (Brasil, 2020a).
Somada à classificação por origem, ainda é possível determinar a espécie da receita, dando mais
detalhes. No âmbito municipal, por exemplo, além de identificar que é com impostos, há a
prerrogativa de visualizar se diz respeito a IPTU, ISS ou ITBI. Em outras palavras, representa um
desdobramento da origem dela.
2.3 CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM O RESULTADO PRIMÁRIO
De acordo com o MCASP, a divisão da receita por resultado primário foi uma inovação trazida no
âmbito da União, não sendo de uso obrigatório para os demais entes públicos. Trata-se de uma
segregação da receita em dois blocos: as primárias e as financeiras (Brasil, 2018). As primárias,
conforme indicado no item 3.2.4 do MCASP, incluem as receitas correntes, exceto aquelas advindas
dos juros, bem como as de capital provenientes de alienação de bens e transferências de capital
(Brasil, 2018).
Por consequência, as receitas financeiras são as demais entradas correntes e de capital. Nas
palavras do MCASP, são as que “criam uma obrigação ou extinguem um direito” (Brasil, 2018, p. 49).
De modo exemplificativo, temos o caso das operações de crédito, tidas como receita de capital e que
criam para o Estado a obrigação de uma reposição financeira futura.
Não obstante, faz-se necessário retomarmos o assunto sobre despesa, na ótica da apuração do
resultado primário. À vista disso, tem-se como esse tipo de despesa aquelas empregadas para o
custeio da máquina pública e a realização de investimentos, exceto os montantes despendidos para
pagamento da dívida pública e dos juros dela.
Do confronto entre as receitas primárias e as despesas primárias, o governo tem a possibilidade
de apurar o que chamamos de resultado primário. Esse indicador é um dos parâmetros empregados
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para avaliar as contas públicas, compondo as metas fiscais contidas na Lei das Diretrizes
Orçamentárias (LDO).
Saiba mais
Quer conhecer um pouco mais a respeito das receitas e despesas primárias? Uma boa dica é
conferir as explicações do Senado Federal que estão disponíveis no vídeo intitulado Orçamento
fácil. O link de acesso é: <https://www.youtube.com/watch?v=lB6ofoyonxc&t=188s>.
TEMA 3 – ESTÁGIO DA RECEITA
As receitas orçamentárias, para integrar as disponibilidades financeiras do ente público, passam,
de modo geral, por duas etapas: o planejamento e a execução. A seguir, veremos alguns detalhes
sobre essas duas fases percorridas pela maior parte dessas receitas.
3.1 PLANEJAMENTO
Na Lei Orçamentária Anual (LOA), as receitas públicas são devidamente previstas, adentrando nas
finanças públicas no contexto orçamentário. É nesse instrumento que a intenção arrecadatória da
fazenda pública é exposta, como resultado da aplicação de critérios, com pressupostos básicos já
previamente estabelecidos na Lei.
De acordo com o art. 12 da Lei Complementar n. 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal), as
previsões da receita orçamentária:
Considerarão os efeitos das alterações na legislação, a variação do índice de preços, do crescimento
econômico ou de qualquer outro fator relevante e serão acompanhadas de demonstrativo de sua
evolução nos últimos três anos, da projeção para os dois seguintes àquele a que se referirem, e da
metodologia de cálculo e premissas utilizadas. (Brasil, 2000)
Perceba que esse fragmento legislativo determina parâmetros mínimos que o ente público
deverá observar para estimar as receitas, mas não impõe de forma arbitrária nenhuma métrica de
cálculo. No nível federal, o Manual de Demonstrativos Fiscais (Brasil, 2020b) esclarece que as receitas
futuras são projetadas com base em: histórico de arrecadação, índice de preço, variação
macroeconômica dos segmentos atinentes à fonte arrecadatória e mudanças legislativas, como
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alteração da alíquota ou criação de novos tributos. Os demais entes têm a prerrogativa de aplicação
de outros parâmetros, desde que obedeçamaos critérios mencionadas na Lei de Responsabilidade
Fiscal.
Cumpre ainda ressaltar que essa estimativa da receita é relevante para que ocorra embasamento
legal das despesas. Conforme salientado por Araújo e Arruda (2020), essa previsão inicial permite que
o governo projete as diferentes aplicações financeiras destinadas a atender às atividades de
manutenção da máquina pública e também de investimento.
3.2 EXECUÇÃO
A fase de execução da receita, tendo como base a Lei n. 4.320/1964, será representada pelo
lançamento, arrecadação e recolhimento.
O lançamento, de acordo com o art. 52 desse dispositivo legal, é aplicado para receitas de
origem tributária ou para rendas, cujo vencimento já é determinado em lei ou contrato. É o caso, a
título exemplificativo, dos impostos, lançados pela Fazenda Pública. Nessas situações, o ato
administrativo de lançar tem como propósito a identificação do devedor, o valor da receita, a origem
e o vencimento. Ressalta-se ainda que essa fase também representa o momento da ocorrência do
fato gerador da receita para efeito de reconhecimento patrimonial.
Vale lembrar ainda, conforme destacado por Araújo e Arruda (2020), que essa etapa de
lançamento pode ocorrer de três maneiras:
1. direto ou de ofício: quando o próprio ente público realiza o lançamento; é o caso do Imposto
sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), cuja cobrança independe de alguma ação
do particular;
2. homologação: ocorre em circunstâncias nas quais o particular realiza o pagamento antecipado
do tributo para que então a Administração Pública homologue o lançamento. Como exemplo,
temos o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), em que o contribuinte apura
mensalmente o valor a pagar sem que exista necessidade de uma ação do Poder Público;
3. declaração: situação na qual há participação do contribuinte com o fornecimento de
informações que irão viabilizar a realização do lançamento pela Fazenda Pública.
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Quando esses valores, objeto do lançamento, são repassados ao agente responsável pela
captação de recurso, temos a ocorrência da fase de arrecadação. Kohama (2016) lembra que há
múltiplos agentes que possuem essa autorização para arrecadar receitas, como bancos, delegacias
fiscais e alfândegas. No caso tributário, o agente de maior representatividade no recolhimento é o
sistema bancário, que, ao receber as receitas públicas, dá liquidação à obrigação de pagar do
contribuinte.
De posse das receitas públicas, os agentes arrecadadores repassarão os recursos para a conta do
Tesouro, em um processo designado como recolhimento. Para Giacomoni (2017), embora esse
estágio pareça muito óbvio, ele se faz necessário para o atendimento do princípio da unidade de
tesouraria, que possui previsão legal no art. 56 da Lei n. 4.320/1964. Essa regra representa, em outras
palavras, a existência de um único caixa do ente público para o devido gerenciamento das entradas.
Acentua-se, por oportuno, a existência de exceção ao recolhimento em conta única. No art. 43 da
LRF, há menção aos valores arrecadados a título de previdência dos servidores públicos, os quais
serão direcionados a uma conta separada (Brasil, 2000).
TEMA 4 – RECEITA E A LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL (LRF)
A receita pública, devido a sua importância, também ganhou notoriedade na Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF). O Capítulo III da referida norma foi destinado a esse assunto,
sobretudo no quesito de previsão da receita e renúncia dela.
No que tange às previsões, adicionalmente aos critérios de cálculo evidenciados no subtema 3.1
desta aula, cumpre ainda mencionar algumas limitações impostas pelo legislador em relação a
possíveis reestimativas. De acordo com o parágrafo 1º do art. 12 da LRF, o Poder Legislativo somente
pode realizar esse tipo de alteração caso seja comprovado erro ou omissão (Brasil, 2000). Com essa
limitação, acaba evitando que, uma vez aprovada, a previsão da receita venha a ser modificada.
Contudo, como se trata somente de uma previsão, a lei prevê um acompanhamento rotineiro
dessas entradas. Em obediência ao texto legal contido no art. 13 da mesma norma, o Poder Executivo,
após a aprovação da LOA, deverá desdobrar a projeção de entradas em metas bimestrais, elencando
as ações que serão realizadas a título de inibição de evasão fiscal. Dessa forma, viabiliza-se um
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controle maior da arrecadação, possibilitando até reajustes nos gastos públicos em função de
eventuais frustrações nas previsões de arrecadação.
Em relação à renúncia da receita, é importante primeiramente frisar que nas finanças públicas
representa um ato de dispensar o recebimento de algum tipo de arrecadação. De modo
exemplificativo, o parágrafo 1º do art. 14 da LRF cita as hipóteses de anistia, que é o perdão das
infrações tributárias; remissão, que representa o perdão do crédito tributário; alteração da alíquota; e
isenções (Brasil, 2000). Essa renúncia de receita, em observância ao parágrafo 6º do art. 150 da
Constituição Federal de 1988, deverá ser realizada por lei específica, autorizando que o Poder Público
deixe de receber créditos que já possuíam amparo legal para cobrança (Brasil, 1988).
Não obstante, a LRF também determina que essa abdicação de ganhos seja acompanhada de
previsões acerca dos impactos gerados. No art. 14 do referido dispositivo legal, essas estimativas
deverão abarcar o período em que a norma que dá legalidade à renúncia da receita começa a
produzir efeitos, bem como para os próximos dois exercícios subsequentes. Além disso, os incisos I e
II do mesmo artigo exigem a apresentação dos seguintes relatórios:
evidenciação de que a renúncia não afetará as metas fiscais previstas na LDO;
medidas compensatórias, como a elevação da alíquota de um tributo existente ou até mesmo a
criação de novos tributos, de maneira que supra os recursos que já não entrarão nos cofres
públicos.
Squizzato (2013) destaca que essa regra não se aplica a alterações na alíquota dos tributos que
possuem limites para que o próprio Poder Executivo realize mudanças, como Imposto de Importação
(II), Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e
Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro (IOF). Nesses casos, mesmo que exista uma
redução na alíquota e um impacto na arrecadação, não será necessário seguir os ditames previstos
para renúncia da receita.
Sobre o aspecto de registro nos subsistemas, o MCASP cita a necessidade de escrituração, desde
que exista a possibilidade de uma mensuração confiável (Brasil, 2018). O detalhamento desse impacto
está descrito no tema a seguir.
TEMA 5 – LANÇAMENTO CONTÁBIL DA DESPESA PÚBLICA
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Desde o momento em que a receita é aprovada na Lei Orçamentária Anual, já existe a
possibilidade de se registrar a informação no Subsistema Orçamentário. À medida que esses
ingressos vão se movimentando nas diferentes etapas, já expostas nesta aula, outros registros se
fazem necessários, impactando os subsistemas orçamentário, patrimonial e de compensação. Vamos
demonstrar como isso ocorre, de acordo com as etapas da receita.
5.1 RECONHECIMENTO DA RECEITA NOS DIFERENTES ESTÁGIOS
Para evidenciar as movimentações contábeis nos diferentes subsistemas, vamos imaginar o
seguinte caso hipotético: determinado município, em consonância com as regras da Lei de
Responsabilidade Fiscal, estabelece uma estimativa inicial R$ 1 milhão de receitas correntes e R$ 500
mil de receitas de capital. Com base nessa previsão, teríamos que realizar a seguinte movimentação
no Subsistema Orçamentário, ilustrada na Tabela 1.
Tabela 1 – Previsão da receita
  Débito Crédito
Previsão inicial
Receita correnteReceita de capital
Receitas a realizar
Receita corrente
Receita de capital
 
1.000.000
500.000
 
 
 
 
 
 
 
1.000.000
500.000
Subsistema Patrimonial: não há registro.
Subsistema de Compensação: não há registro.
Após esse primeiro registro, seguindo a ordem elencada no Tema 3, teríamos a fase da execução
da receita, cujo primeiro passo consiste no lançamento dela.
Dando sequência ao nosso caso, vamos considerar agora que o município realize o lançamento
do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), no valor de R$ 150 mil. Com base nessa constatação,
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teríamos a ocorrência do fato gerador da receita para fins de registro, acarretando a necessidade de
escrituração no Subsistema Patrimonial, conforme mostrado na Tabela 2.
Tabela 2 – Lançamento da receita
  Débito Crédito
Ativo
Crédito tributário a receber
Variação patrimonial aumentativa
IPTU
 
150.000
 
 
 
 
 
150.000
Como as receitas, no âmbito orçamentário, são reconhecidas pelo regime de caixa, não há que se
falar em registro no Subsistema Orçamentário nem constará movimentação no Subsistema de
Compensação.
Partindo dessas considerações, vamos imaginar agora que o ente municipal obteve a
arrecadação e recolhimento de R$ 20.000 a título de receita tributária com IPTU. Para esse fato,
teríamos somente o reconhecimento da fase de recolhimento, gerando a seguinte movimentação:
a) Subsistema Patrimonial
Tabela 3 – Recolhimento da receita no Subsistema Patrimonial
  Débito Crédito
Ativo
Caixa e equivalente de caixa
Ativo
Crédito tributário a receber
 
20.000
 
 
 
 
 
20.000
b) Subsistema Orçamentário
Tabela 4 – Recolhimento da receita no Subsistema Orçamentário
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  Débito Crédito
Receita a realizar
Receita corrente
Receita realizada
Receita corrente
 
20.000
 
 
 
 
 
20.000
c) Subsistema de Compensação
Tabela 5 – Recolhimento da receita no Subsistema de Compensação
  Débito Crédito
Controle de disponibilidade de recursos recebidos
Disponibilidade por Destinação de Recursos a Utilizar
20.000
 
 
20.000
Por meio desses registros de recolhimento da receita pública, tem-se o encerramento do
reconhecimento patrimonial, orçamentário e compensação dela.
5.2 RECONHECIMENTO DA RENÚNCIA DA RECEITA
Conforme relatado no Tema 4, existem situações em que o Poder Público, por meio de lei, abdica
do recebimento de receitas, por vezes já reconhecidas nos demonstrativos contábeis.
Para descrevemos as movimentações, daremos continuidade ao exemplo exposto anteriormente;
entretanto, nesse caso consideraremos que o município concedeu uma redução de 10% na alíquota
no momento da ocorrência do fato gerador da receita. Portanto, supondo que existisse uma previsão
de R$ 20 mil, o valor que efetivamente produziu efeitos nas contas públicas foi de apenas R$ 18 mil.
Nesse caso hipotético, seria necessário registrar a renúncia da receita no subsistema
orçamentário, conforme indicado na Tabela 6.
Tabela 6 – Recolhimento da renúncia da receita
  Débito Crédito
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Receita realizada
Dedução da receita corrente
Receita realizada
Receita corrente
 
2.000
 
 
 
 
 
2.000
Os demais lançamentos seguem o mesmo esquema apresentado no item anterior. O que requer
ajuste é justamente as previsões orçamentárias, que, por estarem com os montantes defasados,
necessitam da contabilização mencionada na Tabela 6, evidenciada anteriormente.
TROCANDO IDEIAS
Uma das necessidades inerentes à gestão orçamentária é o acompanhamento das receitas
públicas. À vista dessa realidade, os governos necessitam constantemente confrontar as previsões
com as respectivas realizações, com vistas a garantir o atingimento das metas fiscais, bem como
realizar os gastos públicos. No âmbito federal, esse acompanhamento pode ser observado por meio
do Portal da Transparência, cujo link de acesso é: <http://www.portaldatransparencia.gov.br/receitas>.
Procure explorar as informações disponibilizadas nesse portal do governo federal, bem como os
dados orçamentários da receita do seu estado e município, objetivando trazer subsídios para uma
discussão em nosso fórum.
Buscaremos desenvolver uma exposição de dados a fim de comparar as principais fontes de
arrecadação no âmbito da União, estados e munícipios, assim como a proximidade daquilo que foi
estimado, com a respectiva realização. Participe dessa discussão e conheça as diversidades
arrecadatórias existentes nas diferentes regiões do Brasil.
NA PRÁTICA
Para colocarmos em prática o conteúdo abordado nesta aula, considere a seguinte situação
hipotética: o município de Guardião dos Estudantes, no primeiro bimestre de 2020, apresentou as
seguintes informações:
Receita com IPTU – R$ 100.000,00
Receita com ISS – R$ 257.000,00
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Operação de crédito de longo prazo – R$ 1.000.000,00
Receita com contribuição de melhorias – R$ 50.000,00
Depósito recebido a título de caução – R$ 200.000,00
Despesa primária – R$ 300.000,00
Com base unicamente nesses dados, classifique as receitas de acordo com sua previsão no
orçamento, categoria econômica e origem. Por fim, apure o resultado primário do município. A
resposta se encontra na seção Gabarito, ao final do material.
FINALIZANDO
Iniciamos nossa aula trazendo conceitos atinentes à receita no âmbito público. Vimos que na
literatura consta uma intepretação tanto no sentido amplo como no estrito.
De posse desses preceitos iniciais, partimos para uma verificação da classificação das receitas
públicas. Para tanto, apresentamos as possibilidades de segregar as entradas de acordo com
previsibilidade orçamentária, natureza e resultado primário.
Também descrevemos as etapas das receitas, que passam pelo processo de planejamento e
execução. De acordo com a Lei n. 4.320/1964, a etapa de execução ainda se divide em lançamento,
arrecadação e recolhimento.
Relatamos ainda as regras contidas na Lei de Responsabilidade Fiscal pertinentes à receita.
Percebemos que a norma dita preceitos tanto para previsão das entradas como no caso de sua
renúncia.
Por último, mencionamos as movimentações contábeis necessárias para o devido
reconhecimento da receita nos subsistemas orçamentário, patrimonial e de compensação.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, I.; ARRUDA, D. Contabilidade Pública – da teoria à prática. 3. ed. São Paulo: Saraiva,
2020.
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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>.
Acesso em: 17 set. 2020.
______. Lei n. 4320, de 17 de março de 1964. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília,
DF, 17 mar. 1964. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4320.htm>. Acesso em:
16 set. 2020.
______. Lei n. 101, de 4 de maio de 2000. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 4
maio 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm>. Acesso em: 16
set. 2020.
______. Ministério da Economia. Manual Técnico do Orçamento MTO 2020. Brasília: Secretaria
Especial de Fazenda; Secretaria de Orçamento Federal, 2020a. Disponível em:
<https://www1.siop.planejamento.gov.br/mto/lib/exe/fetch.php/mto2020:mto2020-versao14.pdf>.
Acesso em: 16 set. 2020.
______. Ministério da Economia. Manual de Demonstrativos Fiscais 2020. 10. ed. Brasília:
Secretaria do Tesouro Nacional, 2020b. Disponível em: <https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:32202>. Acesso em: 17 set. 2020
______. Ministério da Fazenda. Manual de Contabilidade Aplicado ao Setor Público. 8. ed.
Brasília: Secretaria do Tesouro Nacional, 2018. Disponível em: <https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?
p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:31484>. Acesso em: 16 set. 2020.
______. Portal da Transparência. Receitas. [S.d.]. Disponível em:
<http://www.portaldatransparencia.gov.br/receitas>. Acesso em: 16 set. 2020.
GIACOMONI, J. Orçamento público. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
KOHAMA, H. Contabilidade pública – teoria e prática. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2016.
MATIAS-PEREIRA, J. Finanças públicas. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
SENADO FEDERAL. Orçamento fácil – receitas e despesas: primárias e financeiras. YouTube, 21
set. 2018. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=lB6ofoyonxc&t=188s>. Acesso em: 16
set. 2020.
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SQUIZZATO, A. C. Direito financeiro e econômico. São Paulo: Método, 2013.
GABARITO
Com base nas informações apresentadas no exercício, teríamos a seguinte classificação da
receita:
Previsão orçamentária Categoria econômica Origem Receita (R$)
Orçamentária
Corrente
Impostos, taxas e contribuição de melhorias
IPTU – 100.000
ISS – 257.000
Contribuição – 50.000
Patrimoniais Aluguel – 4.000
Capital Operação de crédito Empréstimo – 200.000
Extraorçamentária     Depósito – 200.000
No que tange ao resultado primário, conforme vimos no Subtema 2.3, seria o confronto das
receitas correntes, exceto as provenientes de juros, com as despesas primárias. Dessa forma, temos:
100.000 + 257.000 + 50.000 - 300.000 = 107.000
Portanto, o resultado primário do ente público perfaz R$ 107.000,00.

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