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1 O objetivo da Teologia A Teologia, segundo Boff (1998), existe com o propósito de amar e de conhecimento de Deus tanto no sentido teórico da reflexão quanto na prática da fé. Ela é integrante dos diversos aspectos da vida: estrutural (social, histórica e política); no cotidiano das relações interpessoais; e interior (emocional e espiritual). Libanio e Murad (1996, p. 69) evocam o texto da primeira epístola de São Pedro (São Pedro 3,15) em que se deve buscar justificativa intelectual para a razão da esperança, da confiança em Deus: "Estai sempre prontos a responder para vossa defesa a todo aquele que vos pedir a razão de vossa esperança, mas fazei-o com suavidade e respeito". A mais significativa razão pela qual a teologia torna-se necessária é porque ela tem um benefício particular para os crentes e suas comunidades. Na generosa e poética abertura da carta de Paulo aos Efésios, o apóstolo ora por eles: “Eu continuo pedindo que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai glorioso, possa dar-lhes o Espírito de sabedoria e revelação, para que vocês possam conhecê-lo melhor ” (Ef 1.17, itálico adicionado). Observe que o objetivo de nossa instrução nas Escrituras e o propósito do nosso exame da fé cristã é conhecer melhor a Deus, para que possamos crescer em nosso conhecimento de Deus e abundar em discernimento e intimidade. Isso foi expresso de modo mais apropriado por Anselmo, que falou de uma “fé que busca entendimento” (fides quaerens intellectum). Isso não significa tentar substituir a fé pela doutrina; em vez disso, significa algo como buscar um conhecimento mais profundo de Deus através da fé informada pelo aprendizado – não um conhecimento puramente cognitivo, mas um crescimento para um relacionamento mais próximo com alguém que nos ama. A teologia é nossa tentativa de aprofundar o nosso relacionamento com Deus, por ter um conhecimento mais profundo com sua 2 pessoa e obra. Ao nos envolvermos num estudo teológico planejado, aspiramos nos tornar “maduros e plenamente seguros” (Cl 4.12) e, assim, “verdadeiramente [compreendemos] a graça de Deus” (Cl 1.6). Inácio de Antioquia, bispo e mártir da igreja, instruiu aos crentes em Magnésia com estas palavras: “Portanto, estejam ansiosos por estarem firmados nos preceitos do Senhor e dos apóstolos, a fim de que, em tudo quanto possam prosperem física e espiritualmente, na fé e no amor, no Filho e no Pai e no Espírito, no princípio e no fim” [Ignatius, Magn. 13.1.]. Se quisermos prosperar e crescer espiritualmente, é necessário estarmos ancorados, enraizados e ancorados nos ensinamentos que foram entregues por Jesus e pelos apóstolos. Razão e a Fé No período medieval, invasões bárbaras atacaram o império romano e causaram uma nova estrutura de vida social. No entanto, a Igreja Católica em meio a essas mudanças, conseguiu manter-se como instituição social. A Igreja Católica consolidou sua organização religiosa e difundiu o cristianismo preservando muitos elementos da cultura greco-romana. Junto com essa expansão, a Igreja passou a exercer importante papel político na sociedade da época. Já no campo do conhecimento, ela traçou um quadro intelectual em que a fé tornou-se a base fundamental de toda vida cristã, o que marcou o pensamento filosófico produzido nesta época. A fé é a base da maioria das religiões, sendo que a fé é uma crença sem exigir provas racionais, ou seja, uma adesão incondicional às verdades reveladas por Deus aos seres humanos. Essas verdades estão expressas na Bíblia e interpretadas pelas autoridades da Igreja. Assim sendo, segundo as autoridades da época, toda investigação filosófica ou científica não poderia contrariar as verdades 3 estabelecidas pela fé católica, em outras palavras, não precisa investigar o que era verdade, pois esta já tinha sido revelada nas escrituras. Entretanto, bastava apenas demonstrar racionalmente as verdades da fé. A Igreja Católica tem dois pensadores que se destacam. Santo Agostinho, que tem o dogma da crença como absoluto; e Santo Tomás de Aquino, que procurou através da Filosofia de Aristóteles demonstrar a existência de Deus pela razão. Isto provocou uma reação aos filósofos conhecedores da filosofia grega. Quando perceberam que as autoridades da Igreja estavam usando filósofos gregos para provar as verdades da fé e a própria existência de Deus. Justamente neste período, cometeu a grande atrocidade de condenar publicamente as pessoas que discordavam da Igreja, sendo chamados de hereges. Podemos concluir que neste período a razão estava a serviço da fé. Mas vamos ver em linhas gerais dois períodos importantes na Idade Média, chamados de patrística e escolástica. A Patrística: dentro do processo de desenvolvimento do cristianismo, como vimos ao descrever o contexto histórico, tornou-se necessário explicar seus preceitos as autoridades romanas e ao povo geral. Os primeiros padres da Igreja começaram a elaborar diversos textos sobre a fé e a revelação cristã. Por isso, que este período é chamado de patrística. Um dos grandes expoentes é Santo Agostinho, que através da filosofia platônica procurou conciliar fé e razão. As teses de Santo Tomás de Aquino, com as provas da existência de Deus pela evidência. A Filosofia da Escolástica: 4 A palavra Escolástica vem da palavra escola, pois neste período surgiram várias escolas e universidades ligadas a Igreja. Ensinavam-se o triviun (três): gramática, retórica e dialética e o quadrivium (quatro): geometria, aritmética, astronomia e música. Sendo que ambas estavam submetidas à teologia. Um dos grandes expoentes é Santo Tomás de Aquino que sistematizou a filosofia cristã através da filosofia de Aristóteles. O pensamento de Santo Tomás de Aquino. Foi um pensador da filosofia e da Igreja, com a tese da existência de Deus pelas evidências da natureza e da teoria do Movimento, com argumentos racionais a partir da filosofia grega: A Síntese: Razão e fé são temas que ao longo da história foram polêmicos, no entanto, as autoridades da época usaram conforme seus interesses. No período medível, com a expansão do cristianismo, a fé passou a ser a verdade revelada por Deus e a razão, portanto, deveria buscar elementos na filosofia antiga, para provar a fé e a doutrina da Igreja Católica. O que entendemos por esperança Em uma perspectiva geral, a definição mais simples que podemos encontrar para esperança é o ato de esperar o que se deseja. Notamos a partir daqui, que se trata de um conceito dinâmico, algo de caráter propulsor. Esta palavra está relacionada com expectativa, ou também, com fé. Isso traz consigo a conjugação de um importante verbo, característico dela mesmo: esperar. Sua definição significa ter esperança, ficar ou estar à espera, supor, presumir, aguardar, ter fé, confiar, estar na expectativa. 5 Na medida em que esta espera é neste quesito apenas elucidaremos algumas linhas sobre as quais se debruça o termo esperança, principalmente, em âmbito geral, no pensamento grego antigo, na tradição judaico-cristã e na filosofia moderna. Nesta última apenas mencionaremos alguns aspectos relevantes como também alguns autores. Trata-se apenas de uma introdução para chegarmos ao conteúdo teológico. Aprofundada dentro do contexto esperança, categoricamente, presume-se, na maioria das vezes, em esperar por um bem. Trazendo a definição para uma perspectiva teológica observamos que o tema da esperança constitui algo essencial para a fé cristã, pois se trata de uma das três virtudes teologais, ao lado da fé e da caridade (cf. 1Cor 13,13). Estas virtudes são chamadas teologais porque o ser humano não as adquire através do próprio esforço, mas como resposta a uma força externa (graça), capaz de despertar nele uma busca de sentido,uma razão para a sua própria existência. Isso faz do ser humano um ser especial, pois na medida em que ele se sente envolvido pela graça divina, descobre em si mesmo uma abertura ao transcendente. Esta ação o direciona ao sentido último da vida (éschaton) e, a certeza que lhe é trazida pela fé só pode ser sustentada pela esperança. Ela é a chave para o futuro. Dentro deste contexto, para Belloso, a esperança se abre como horizonte da existência humana no momento presente. Por isso, comunica paz e segurança ao sujeito, porque lhe testemunha que há futuro para ele. A existência certa deste futuro permite que as pessoas aceitem e assumam, de maneira positiva, o presente em que vivem. Desta forma, ao procurar dar razões dessa sua esperança no futuro, o ser humano descobre que ele não é apenas passado e presente, mas, como atesta Leonardo Boff: “Ele é principalmente futuro. É projeto, prospecção, distensão para o amanhã”. Isto tudo, dentro de uma perspectiva cristã, não se 6 consegue por si só, mas por fruto e obra da graça, capaz de envolver a pessoa inteira. Sobre esta relação humano-divina, Mário A. Sanches confirma: “o ser humano sente que conhece e é conhecido pelo Absoluto, sente que envolve e é envolvido pelo Transcendente, sente, enfim, que é parte consciente dessa realidade Transcendente e Absoluta e, portanto, Eterna”. 2 Cf. tb. ESPERAR. In: LALANDE, A. Vocabulário técnico e crítico da filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1993, p. 326-327. Um bom aprofundamento deste verbo (esperar) se torna importante pelo fato de que nos textos sagrados ele terá grandes e diferentes conotações. Neste aspecto sagrado, ele, o verbo esperar, realça a sua força e a sua posição diante da revelação de Deus na história e, fortalece o povo que caminha e espera o futuro de Deus. Demonstra, em geral, uma ação dinâmica, sempre em movimento. 3 Cf. SANTOS, M. F. Dicionário de filosofia e ciências culturais. v. IV. 4. ed. São Paulo: Matese, 1966, p. 1408. 4 BELLOSO, J. M. R. Esperança. In: Dicionário de conceitos fundamentais do cristianismo. São Paulo: Paulus, 1999, p. 227. 5 BOFF, L. Vida para além da morte. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 17. 6 SANCHES, M. A. Bioética: ciência e transcendência.São Paulo: Loyola, 2004, p. 36. Podemos dizer, então, que a relação entre o ser humano e a sua transcendência desperta em seu interior uma expectativa superior em relação à própria vida. É o desejo de algo mais, que denominamos, por fim, de esperança. Logo, é certo afirmarmos que, esperança “é a expectação de algo superior e perfeito”. Assim, a pessoa que a tem “aguarda algo de maior, de melhor, de mais perfeito, que venha a suceder”. Isso já demonstra a sua relação com o futuro, com o éschaton, o que faz da sua fundamentação algo de grande importância para a escatologia atual. Por esta razão, é válido ressaltarmos que: A esperança não é produto de nossa vontade, mas de uma espontaneidade, cujas raízes nos 7 escapam, porque ela não é genuinamente uma manifestação do homem, porque não encontramos na estrutura da nossa vida biológica, nem da nossa vida intelectual, uma razão que a explique. Falar de esperança é falar da força positiva que nos faz caminhar rumo a um horizonte, onde apenas a alegria de estar caminhando já é de certa forma, transformadora da realidade. É uma força que transcende toda e qualquer experiência humana; é uma expectativa que aspira algo supremo, intocável, infinito. Por esta razão, torna-se difícil descrevê-la, antes é preciso se deixar envolver por ela, pois apenas a esperança nos faz desfrutar, já no presente, um kairós vivificante e anunciador de um ainda não futuro. Por isso, as promessas (passado), se transformam em prelúdios futuros, nos quais já é vislumbrado, mesmo que precocemente, um ainda não (futuro), mas que preconiza, por assim dizer, um eterno presente. Muitas são as definições atribuídas à esperança e estas se apresentam mediante traços culturais, sociais, filosóficos, psicológicos e religiosos. É uma força que leva o ser humano para além de si mesmo, que destina a historia para além da história, que propicia uma transformação, um anseio por mudança. Por certo, ao procurarmos uma resposta concreta para aquilo que entendemos por esperança, propomo-nos, pois, defini-la a partir de alguns aspectos relevantes, no intuito de fundamentar sistematicamente o nosso estudo. Para tanto, faz-se necessário conceituá-la de diferentes modos, a ponto de confrontar as definições, ao mesmo tempo em que fazemos um resgate histórico-filosófico de sua origem, linguagem e influência na história Referência COTRIM, Gilberto; FERNANDES, Mirta. Fundamentos de Filosofia. 1 ed. – São Paulo: Saraiva: 2010. 8 CABRAL, R. (Dir.). Logos. Enciclopédia Luso-brasileira de filosofia. V 2. Lisboa/São Paulo: Verbo, 1990, p. 227. 13 Ibid. 14 Cf. Ibid. 15 Ibid., p. 228. 16 Cf. Ibid., p. 229. 17 RUSS, J. Op. cit.,p. 89. 18 Cf. CABRAL, R. Op. cit., p. 229. 19 Cf. Ibid. 20 RUSS, J. Op. cit., p. 89. Cf. Ibid., p. 230. 27 Cf. PIEPER, J. Esperança. In: FRIES, H. Op. cit., p. 83. 28 Cf. Dicionário patrístico e de antiguidades cristãs,p. 502. Para maiores informações sobre o PLATONISMO, consultar este verbete neste dicionário. 29 Cf. CABRAL, R. Op. cit., p. 230. 30 Cf. Ibid. 31 Cf. CAFFARENA, J. G. Ateísmo.In: Dicionário de conceitos fundamentais do cristianismo, p. 32-39. Cf. tb. ROLFES, H. Ateísmo/Teísmo.In: Dicionário de conceitos fundamentais de teologia, p. 24-32. Cf. tb. FRAIJÓ, M. Fragmentos de esperança. São Paulo: Paulinas, 1999, p. 159-221. Cf. tb. BLOCH, E. Ateismo nel cristianesimo: Per la religione dell’Esodo e del Regno.Milano: Feltinelli, 1971.