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DESCOLAMENTO PREMATURO DE PLACENTA − Definição: Descolamento Prematuro de Placenta (DPP) consiste na separação da placenta inserida (no corpo ou fundo do útero) antes da expulsão do feto, em gestações de 20 ou mais semanas − Tem grande potencial de morbidade e mortalidade materna e fetal − Pode levar a: • Coagulopatias • Hemotransfusões • Histerectomia • Infecções puerperais − Principal causa: rotura de vasos maternos da decídua basal • Raramente, pode ser ocasionado de veias fetais ou placentárias − O sangue acumulado separa a placenta da decídua por meio de uma camada de sangue • Esse hematoma pode ser pequeno e autolimitado (separação parcial) ou pode continuar e dissecar a interface placenta-decídua (separação total) − OBS: A placenta separada da decídua não é capaz de manter a oxigenação e nutrição do feto, comprometendo-o − Sinais: − Em geral, uma parte e do sangue, resultante da separação da placenta, contorna as membranas ao longo da cavidade uterina e sai pelo orifício externo do colo uterino (hemorragia externa) − Pode haver, ainda, infiltração do miométrio pelo sangue, dificultando a contração uterina, podendo levar a necessidade de histerectomia para controle do sangramento → condição chamada de Útero de Couvelaire − Menos frequentemente, o sangue fica acumulado entre a placenta deslocada e o útero, não havendo saída pelo colo uterino → hemorragia oculta INCIDÊNCIA − Entrono de 0,4 a 1,3% dos nascimentos − A mortalidade fetal e entorno de 0.12% − Tem aumentado a frequência nos últimos anos − 1/3 das hemorragias anteparto são resultados dessa condição MORBIDADE E MORTALIDADE PERINATAIS − A mortalidade pré-natal em casos de DPP é elevada, devido a prematuridade e a restrição do crescimento fetal − Mesmo para os recém-nascidos a termo, a mortalidade perinatal foi 25 vezes maior quando associada ao DPP • O óbito fetal costuma ocorrer quando há separação de pelo menos 50% da placenta • A maioria dos óbitos ocorre intraútero • Óbitos pós-parto geralmente estão associados à prematuridade − Mulheres com qualquer grau de DPP tem: • Chances 9x maior de óbito fetal • 4x maior de parto prematuro • O dobro de chances de restrição do crescimento fetal − Os RN que sobreviverem têm maior risco de sequelas neurológicas: • 15% de déficits neurológico no 1 ano • 20% paralisia cerebral. FISIOPATOLOGIA − Ainda não está claro se o descolamento prematuro de placenta resulta de evento único ou é decorrente de alterações ao longo da evolução da interface uteroplacentária − O trauma pode desencadear DPP − Rotura prematura de membranas com inflamação aguda pode desencadear o processo da DPP − Na maior parte dos casos, estão envolvidas anormalidades vasculares e placentárias, como fragilidade vascular, malformação dos vasos e placentação anormal − As alterações fisiológicas observadas após a invasão trofoblástica das artérias uteroplacentárias podem estar relacionadas com esse processo • Em gestações normais, as artérias espiraladas perdem a camada muscular, transformando-se em vasos dilatados de baixa resistência o Essas alterações ocorrem durante a invasão trofoblástica o A ausência dessas modificações esta associada à doença hipertensiva específica da gestação (DHEG) • A invasão trofoblástica deficiente resulta em diminuição do fluxo sanguíneo placentário e em resposta endotelial anormal às substâncias vasoativas o Esses vasos placentários anormais estão predispostos à isquemia e à rotura, levando ao descolamento prematuro da placenta FATORES DE RISCO PARA DPP Hipertensão arterial Trombofilias Rotura prematura de membranas ovulares Cocaína Tabagismo Trauma DPP em gestação anterior Multiparidade Gestação múltipla Leiomioma uterino Anomalias uterinas e placentárias Rápida descompressão uterina (polidrâmnio) SÍNDROMES HIPERTENSIVAS − As síndromes hipertensivas apresentam a maior associação com o deslocamento prematuro de placenta − Está fortemente associado a hipertensão crônica materna, pré-eclâmpsia sobreposta e pré-eclâmpsia grave − Pacientes hipertensas tem 5x mais chances de ter DPP − O uso de drogas anti-hipertensivas não parece reduzir o risco de DPP nos casos de hipertensão crônica CESÁRIA PRÉVIA − A cicatriz uterina próximo da implantação da placenta na parede anterior do útero poderia ocasionar perfusão sanguínea deficiente com inadequado fluxo de sangue para os espaços intervilosos, predispondo ao DPP ROTURA PREMATURA DE MEMBRANAS OVULARES PRÉ-TERMO – RPMO − Gestações com RPMO apresentaram DPP 2-5% dos casos − O aumento foi de 7-9x em mulheres com infecção intrauterina ou oligoâmnio associados à RPMO − Alterações cardíacas fetais são observadas em metade das gestações complicadas por DPP e RPMO TROMBOFILIAS HEREDITÁRIAS − As trombofilias hereditárias têm sido associadas ao aumento do risco para tromboembolismo venoso materno, óbito fetal, restrição do crescimento fetal, pré-eclâmpsia grave e descolamento prematuro de placenta, mas há conflitos nos estudos que consideram essas associações − Exemplos de trombofilias hereditárias: • Mutação do fator V de Leiden • Mutação no gene da protrombina • Hiper-homocisteinemia • Mutações na proteina C, proteina S e anti-trombina • Elevação de fatores de coagulação − Quanto maior o risco de trombofilia, maior o risco de DPP USO DE COCAÍNA − 10% das gestantes usuárias de cocaína apresentam DPP no terceiro trimestre − A cocaína pode levar a vasoconstrição aguda, isquemia, vasodilatação reflexa e quebra de integridade vascular FATORES MECÂNICOS − Traumas abdominais podem causar rápida compressão/descompressão entre placenta e decídua − Quando associado ao trauma, o DPP tem maior gravidade, ocorrendo geralmente dentro das primeiras 24 horas após o trauma − Uma rápida descompressão do útero, como observado na rotura prematura de membranas ovulares em casos de polidrâmnio ou após o nascimento do primeiro gemelar, pode também precipitar o descolamento prematuro de placenta TABAGISMO − O tabagismo aumenta 2,5x o risco de DPP e óbito fetal − Um mecanismo possível está relacionado à necrose isquêmica periférica decidual, observada em fumantes, o que predispõe à erosão dos vasos HISTÓRICO PRÉVIO DE DPP − Histórico de DPP elevam os riscos de recorrência em 10x IDADE MATERNA E PARIDADE − Aumento da idade materna e paridade elevam o risco de descolamento prematuro de placenta GESTAÇÃO MÚLTIPLA E POLIDRÂMNIO − Gestações múltiplas aumentam a frequência de DPP • Esse risco é associado à rápida descompressão uterina após o nascimento do primeiro gemelar CLASSIFICAÇÃO − A classificação varia de acordo com o grau de descolamento placentário • Leve – não detectáveis – sangra pouco • Grave – apresenta choque materno, hipovolemia e morte fetal − Tipo de sangramento: • Forma oculta – 20% - apresenta hematoma, mas não há saída do sangue pelo canal vaginal • Forma externa – 80% A – Separação parcial com sangramento oculto B – Separação parcial com sangramento visível C – Separação completa com hemorragia ocultada DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL − Placenta prévia − Sangramentos do seio marginal − Ectopias cervicais − Pólipos cervicais − Carcinoma cervical DIAGNÓSTICO − Diagnóstico é clínico, sugerido por achados de ultrassonografia − O diagnostico pode ser retrospectivo feito com base no exame histopatológico da placenta DIAGNÓSTICO CLÍNICO − Sinais e sintomas: • Sangramento vaginal 78% • Dor súbita e intensa no abdome 66% • Dor à palpação do útero • Contrações uterinas (taquissistolia ou hipertonia) 34% − OBS: A ausência de um ou outro sinal não exclui o diagnóstico − Trabalho de parto prematuro foi identificado em 22% dos casos de DPP − A presença dos sinais clássicos de descolamento prematuro de placenta, contudo sem sangramento vaginal, pode significar hemorragia oculta severa (sangueacumulado entre a placenta e o útero, sem exteriorização pela vagina) − O sangue pode também atravessar o útero e atingir sua superfície serosa (útero de Couvelaire ou apoplexia uteroplacentária), achado tipicamente diagnosticado na cesária − Exame físico geral: • Valores de PAS e PAD próximos • Estado de pré-choque ou estado hipovolêmico • Sinais indiretos de coagulação intravascular disseminada (CIVD), como petéquias, equimoses e hematomas − Exame físico obstétrico • Sangramento genital visível externamente • Aumento progressivo da altura uterina (nos casos de sangramento oculto) • Hipertonia e/ou hiperatividade uterina • Ausculta fetal difícil ou ausente • Bolsa de água tensa ao toque − Outros sintomas atípicos: • Sangramento pequeno, pode ser recorrente, com ou sem sensibilidade uterina ou contrações. Não se verifica coagulopatia. Cardiotocografia normal → esses casos são denomiais descolamento prematuro de placenta crônico ou parcial o Pode ser responsável por 20% dos DPP COAGULOPATIA − A CIVD ocorre entre 10-20% dos casos de DPP grave com óbito fetal − Provavelmente resulta da infusão na circulação materna de fatores tissulares e/ou materiais tromboplásicos originários da decídua anormal ou do leito placentário defeituoso − A CIVD também pode estar associada a diluição de fatores de coagulação em consequência da hemorragia maciça − Pode haver hipofibrinogenemia sem CIVD ALTERAÇÕES DA VITALIDADE FETAL − Verifica-se alterações na cardiotocografia, como: • Bradicardia ou taquicardia fetal persistente • Padrão sinusoidal • Desacelerações tardias − Pode haver insuficiência uteroplacentária aguda, decorrente da hipotensão materna ou de menor superfície placentária funcionante para as trocas gasosas DIAGNÓSTICO POR ULTRASSONOGRAFIA − O ultrassom é mais útil para avaliar casos de placenta prévia do que DPP − Sinais de ultrassom sugestivos de DPP são: • Visualização do coágulo retroplacenário • Elevações da placa coriônica • Aumento localizado da espessura placentária • Coágulos no estomago fetal DIAGNÓSTICO LABORATORIAL − Exames laboratoriais não se mostram úteis para o diagnóstico de DPP CONDUTA − Toda gestante com suspeita de DPP deve ser hospitalizada imediatamente − A conduta dependerá de fatores maternos e fetais, idade gestacional e exame do colo uterino − As condutas clínica e obstétricas devem ser simultâneas CONDUTA CLÍNICA − Monitoramento do estado hemodinâmico materno (PA, FC, débito urinário) − Exames: • Hematócrito • Contagem de plaquetas • Coagulograma o Concentração de fibrinogênio o Tempo de protrombina o Tempo de tromboplastina parcial ativada o Produtos de degradação da fibrina • Tipo sanguíneo − Acesso venoso − Sonda vesical e administração de O2 − Tratar possíveis intercorrências, como insuficiência renal, hipotensão, pré-eclâmpsia, entre outras condições CONDUTA OBSTÉTRICA CASOS DE FETO VIVO E VIÁVEL − Interrompe-se a gestação com cesária de emergência − Feto viável (segundo HC-USP) 26 semanas − Nos casos em que houver cervicodilatação, recomenda-se a amniotomia imediata e, em seguida, a gestante deverá ser encaminhada ao centro obstétrico. − A amniotomia é realizada com o objetivo de reduzir a pressão intra-amniótica e. dessa forma. diminuir a entrada na circulação materna de tromboplastina e fatores de coagulação ativados no coágulo retro placentário. HEMORRAGIA INTENSA OU CHOQUE: − Reposição hipovolêmica e parto imediato EM CASOS DE DIAGNÓSTICO DUVIDOSO − Monitorar a gestante CASOS DE DPP CRÔNICO − Estando o feto maduro, indica-se a interrupção da gestação − Se o feto estiver imaturo ou for inviável, a conduta deve ser personalizada • Pode-se realizar a conduta expectante, avaliando-se os parâmetros maternos e fetais em intervalos regulares − Deve-se fazer ultrassonografia diariamente, para avaliar o volume do coágulo retro placentário, mesmo em fetos inviáveis − A corticoterapia pode ser usada em gestantes entre 25-34 semanas FETO INVIÁVEL − Com condições maternas estáveis • Faz-se amniotomia imediata, controle dos parâmetros maternos e indução do parto. Se o parto não estiver evoluindo, pode-se fazer estimulação com ocitocina • O parto deverá ocorrer entre 4-6 horas, reavaliando-se os parâmetros clínicos e obstétricos a cada hora • Sedação é feita com meperidina − Com condições maternas instáveis • Se as condições maternas estiverem ruins, deve-se corrigir os distúrbios maternos (hipovolemia, choque, desequilíbrio eletrolítico, alterações de coagulação) • Deve-se corrigir os distúrbios de volemia, anemia e hipóxia e depois interromper a gestação pelo meio mais rápido possível (geralmente é cesária) RISCO DE RECORRÊNCIA − O risco de recorrência de DPP é de 5-15% em uma gestação futura − Após 2 episódios de DPP, o risco se eleva para 25% − Se o deslocamento for grave e houver óbito fetal, há risco de 7% de ocorrer o mesmo em uma próxima gestação − Mulheres que apresentaram descolamento prematuro de placenta também possuem maiores taxas de complicações nas próximas gestações, como: • Recém-nascidos pequenos para a idade gestacional • Parto prematuro espontâneo • Pré-eclâmpsia Referência – Zugaib – Obstetrícia – 3°ed cap.40
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