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DESCOLAMENTO PREMATURO DE PLACENTA DPP: é a separação da placenta normalmente inserida (corpo ou fundo do útero) antes da expulsão do feto em gestação de 20 ou mais semanas completas. Associada a maior incidência de coagulopatias, hemotransfusão, histerectomia e infecções puerperais. Causa imediata →A rotura de vasos maternos na decídua basal. Raramente, o sangramento pode ser originado das veias fetais e placentárias. O sangue acumulado separa a placenta da decídua, inicialmente, por uma fina camada. Esse hematoma resultante pode ser: • Pequeno e autolimitado → Separação parcial • Dissecar a interface placenta-decídua → separação total A placenta separada não é capaz de manter troca de gases e nutrientes → feto torna-se progressivamente comprometido. Hemorragia externa → uma parte do sangue resultante da separação da placenta contorna as membranas ao longo da cavidade uterina, exteriorizando-se pelo orifício externo do colo uterino. Hemorragia oculta → sangue fica acumulado entre a placenta descolada e o útero Útero de couvelaire → sangue atravessa o miométrio e atinge a serosa do órgão. MORBIDADE E MORTALIDADE PERINATAIS A mortalidade perinatal é elevada nesses casos, e agrava-se ainda mais pela associação com altas taxas de prematuridade terapêutica e por ocorrer mais frequentemente em gestações já complicadas com restrição do crescimento fetal (RCF). O óbito fetal costuma ocorrer quando há separação de pelo menos 50% da placenta. A maioria dos óbitos perinatais (até 77%) ocorre intraútero; óbitos no período pós-parto decorrem, em geral, da prematuridade associada. Mulheres que apresentam qualquer grau de descolamento da placenta têm chance nove vezes maior de óbito fetal, quatro vezes maior de parto prematuro (40 versus 9%) e o dobro de restrição do crescimento fetal (14 versus 8%), quando comparadas com pacientes sem DPP. FISIOPATOLOGIA Ainda não está claro se o descolamento prematuro de placenta resulta de evento único ou é decorrente de alterações de longa evolução da interface uteroplacentária. Em alguns casos decorrentes de trauma, um único fator pode desencadear todo o processo; em outros, a rotura prematura de membranas com inflamação aguda pode ter papel decisivo no início do processo. Entretanto, na maior parte dos casos estão envolvidas anormalidades vasculares e placentárias, incluindo aumento da fragilidade vascular, malformações dos vasos ou placentação anômala, sendo a separação da placenta o evento final de uma longa sequência de alterações. É possível que em certos casos esse processo tenha início bem precoce, ainda no 1º trimestre da gestação. A associação dessa condição com quadros de insuficiência placentária crônica reforça a hipótese de um processo patológico vascular. Esse fato também está implicado na maior taxa já relatada de distúrbios do crescimento e prematuridade. *As alterações fisiológicas observadas após a invasão trofoblástica das artérias uteroplacentárias podem estar relacionadas com esse processo. → Em gestações normais, as artérias espiraladas perdem a camada muscular, transformando-se em vasos dilatados de baixa resistência. Essas alterações decorrem durante a primeira e a segunda ondas de invasão trofoblástica. → A ausência dessas modificações está associada à doença hipertensiva espeáfica da gestação (DHEG) e também ao descolamento prematuro de placenta (DPP). A invasão trofoblástica deficiente resulta em diminuição do fluxo sanguíneo placentário e em resposta endotelial anormal a substâncias vasoativas. Esses vasos placentários anormais estão predispostos à isquemia e à rotura, levando ao descolamento prematuro da placenta. FATORES DE RISCO SÍNDROMES HIPERTENSIVAS → as condições que apresentam maior associação com o descolamento prematuro de placenta. Este está fortemente associado à hipertensão crônica materna, pré-eclâmpsia sobreposta e pré-eclâmpsia grave. Infelizmente, o uso de drogas anti-hipertensivas não parece reduzir o risco de descolamento prematuro de placenta nos casos de hipertensão crônica. CESÁREA PRÉVIA → A cicatriz uterina próxima da implantação da placenta na parede anterior do útero poderia ocasionar perfusão sanguínea deficiente com inadequado fluxo de sangue para os espaços intervilosos, predispondo ao descolamento prematuro de placenta. ROTURA PREMATURA DE MEMBRANA OVULARES (RPMO) PRÉ-TERMO → O descolamento prematuro de placenta ocorre em 2 a 5% das gestações que apresentam rotura prematura de membranas ovulares (RPMO) pré-termo. O risco aumenta nas mulheres com infecção intrauterina ou oligoâmnio associados à RPMO pré- termo. Alterações agudas da frequência cardíaca fetal são verificadas em cerca de metade das gestações complicadas por descolamento prematuro de placenta e RPMO pré-termo. Resta, no entanto, uma dúvida sobre o papel do descolamento prematuro de placenta como causa ou consequência da RPMO pré-termo. O aumento da trombina decidual causado pelo descolamento prematuro de placenta pode levar ao incremento da produção de proteases, com enfraquecimento das membranas e alterações vasculares locais. Por outro lado, verifica-se que o risco de descolamento prematuro de placenta aumenta quanto maior for o período de latência até o desencadeamento do trabalho de parto. TROMBOFILIAS HEREDITÁRIAS → têm sido associadas ao aumento do risco para tromboembolismo venoso materno, óbito fetal, restrição do crescimento fetal, pré-eclârnpsia grave e descolamento prematuro de placenta. As mais prevalentes são a heterozigoticidade para a mutação do fator V de Leiden ou do gene da protrombina e a homozigoticidade para o alelo termolábil do gene da etilenotetraidrofolato redutase, que leva à hiper- homocisteinemia e ao alelo do inibidor da ativação do plasminogênio tipo 1. Outras menos frequentes, mas com risco maior de complicações, incluem deficiências autossômicas dominantes de proteína C, proteína S e antitrombina, assim como elevações dos fatores de coagulação VII, VIII, IX e XI. Quanto maior o número de trombofilias, maior o risco verificado de descolamento prematuro de placenta. Particularmente, há importante relação entre a deficiência de antitrombina e o descolamento prematuro de placenta. A concentração média de homocisteína está significativamente aumentada em mulheres com descolamento prematuro de placenta, quando comparadas a controles. Nas gestantes com descolamento prematuro de placenta, a hiper-homocisteinemia poderia ser consequência de defeitos genéticos de enzimas envolvidas no metabolismo da homocisteína, deficiências nutricionais de cofatores de vitaminas, tabagismo, algumas doenças crônicas, drogas, entre outros fatores. USO DE COCAÍNA → Cerca de 10% das gestantes usuárias de cocaína apresentarão descolamento prematuro de placenta no terceiro trimestre. O efeito dessa droga na gênese do descolamento prematuro de placenta ainda não está claro, mas pode estar relacionado à vasoconstrição aguda induzida pela cocaína, que leva à isquemia, vasodilatação reflexa e quebra da integridade vascular. FATORES MECÂNICOS → trauma abdominal externo pode causar rápida compressão/descompressão na interface placenta-decídua, levando o descolamento prematuro de placenta. Quando associado ao trauma, o descolamento prematuro de placenta tende a ser de maior gravidade, ocorrendo em geral nas primeiras 24 horas após o evento traumático. A presença de atividade uterina aumentada, em especial taquissistolia, após trauma abdominal requer maiores cuidados, devendo a monitorização fetal se estender por até 24 horas, avaliando-se também a coagulação materna nesse período. Entretanto, se nas primeiras 4 a 6 horas a monitorização revelar quiescência uterina e padrão normal de variabilidade da frequência cardíaca fetal, e clinicamente não houver sangramento vaginal, rotura prematura de membranas ovulares ou dor à palpação uterina,esse período já será suficiente para a avaliação. Tomografia computadorizada → auxilia no diagnóstico de DPP em casos de trauma abdominal. Achados tomográficos sugestivos de DPP → áreas retroplacentárias, contíguas, de baixa atenuação, que formam ângulos agudos com o miométrio. Uma rápida descompressão do útero, como observado na rotura prematura de membranas ovulares em casos de polidrâmnio ou após o nascimento do primeiro gemelar, pode também precipitar o descolamento prematuro de placenta. Outros fatores mecânicos incluem a implantação da placenta em regiões anormais do útero ou em miomas, já que esses locais estão mais sujeitos à torção e à deciduação inadequada. Mais raramente, podem também estar associados ao descolamento prematuro de placenta e a casos de placenta circunvalada e cordão umbilical curto. TABAGISMO → mulheres que consomem de 10-19 cigarros/dia têm chance 40% maior de apresentar DPP ao longo da gestação. Um mecanismo possível está relacionado à necrose isquêmica periférica decidual observada em fumantes, o que predispõe à erosão dos vasos. Há sinergismo entre os efeitos da hipertensão e do consumo de cigarros. HISTÓRIA PREVIA DE DPP → aumenta chance em cerca de 10x. IDADE MATERNA E PARIDADE → O mecanismo pelo qual a maior paridade aumenta o risco de descolamento prematuro de placenta não é conhecido, mas fatores relacionados a alterações endometriais, decidualização anormal e vasos uterinos anômalos podem desempenhar papel importante. GESTAÇÃO MÚLTIPLA E POLIDRÂMNIO → Gestação Múltipla: risco atribuído à rápida descompressão uterina após o nascimento do primeiro gemelar. Verifica-se mecanismo semelhante nos casos de descolamento prematuro de placenta associado à perda rápida de grande quantidade de líquido amniótico na rotura de membranas ou à amniodrenagem nas gestações complicadas por polidrâmnio. DIAGNÓSTICO Clínico Auxiliado pela USG e sugerido por achados da cardiotocografia. Algumas vezes, o diagnóstico será retrospectivo e feito com base no exame histopatológico da placenta, que pode revelar coágulo retroplacentário ou depressão na face materna. Em casos de DPP agudo, esse achado pode estar ausente, sendo mais comum o encontro de corioamnionite e funisite (inflamação do tecido conjuntivo do cordão umbilical). Nem sempre haverá concordância entre achados clínicos e histopatológicos da placenta. 1) DIAGNÓSTICO CLÍNICO • Sangramento vaginal • Dor súbita e intensa no abdome • Dor à palpação do útero • Contrações uterinas (taquissistolia ou hipertonia) *Todos esses sinais podem não estar presentes sempre e a ausência de um ou outro não exclui o diagnóstico *A quantidade de sangramento vaginal não apresenta boa correlação com a extensão da hemorragia materna e não deve ser utilizada como parâmetro da gravidade do quadro. * A presença dos sinais, com exceção do sangramento vaginal, pode significar hemorragia oculta severa (sangue acumulado entre a placenta e o útero, sem exteriorização pela vagina). O sangue pode também atravessar o útero e atingir sua superfície serosa (útero de Couvelaire ou apoplexia uteroplacentária), achado tipicamente diagnosticado na cesárea. Ao exame físico: Convergência tensional → (1) valores de PA sistólica e diastólica mais próximos (observados na hipertensa por causa do aumento da PA diastólica), (2) estado de pré-choque ou choque hipovolêmico ou (3) sinais indiretos de coagulação intravascular disseminada (CIVD), como petéquias, equimoses e hematomas. Ao exame físico obstétrico: (1) Sangramento genital visível externamente, (2) aumento progressivo da AFU (altura uterina) nos casos de sangramento oculto), (3) hipertonia e/ou hiperatividade uterina, (4) ausculta fetal difícil ou ausente e (4) bolsa das águas tensa ao toque. OUTRA FORMA DE APRESENTAÇÃO → sangramento vaginal de pequena monta, às vezes recorrente, com ou sem sensibilidade uterina ou contrações. Nesses casos, não se verifica coagulopatia e cardiotocografia é normal → DPP crônico ou DPP parcial → e menos frequentemente está associado à separação da placenta ou à hiperestimulação uterina. *A diferenciação com o trabalho de parto na sua fase inicial pode ser difícil, sendo sua maior complicação o parto prematuro. No caso de ocorrer no 2º trimestre, especialmente quando associado a oligoâmnio, o descolamento prematuro de placenta crônico tem prognóstico ruim → oligoâmnio está relacionada à inadequada função placentária, levando a baixa perfusão renal fetal. 2) COAGULOPATIA A coagulação intravascular disseminada (CIVD) ocorre em casos de DPP grave (com óbito fetal) e raramente é observada com feto vivo. Causa → infusão na circulação materna de fatores tissulares e/ ou materiais tromboplásicos originários da decídua anormal ou do leito placentário defeituoso. Grande quantidade de fibrina se deposita na cavidade uterina quando há DPP grave e hipofibrinogenemia, mas essa concentração local de fibrina não explica toda a queda verificada no plasma. A CIVD pode estar relacionada à diluição de fatores de coagulação em consequência da hemorragia maciça. Em alguns casos de DPP pode haver hipofibrinogenemia sem coagulação intravascular disseminada. Depósitos de fibrina no espaço intravascular podem resultar na formação de trombos em órgãos distantes, como os rins. 3) ALTERAÇÕES DA VITALIDADE FETAL Casos agudos: Alterações na cardiotocografia → bradicardia ou taquicardia fetal persistente, padrão sinusoidal ou desacelerações tardias Alterações no perfil biofísico fetal → indicativas de insuficiência uteroplacentária aguda → decorrente da hipotensão materna ou de menos superfície placentária funcionante para a troca de oxigênio 4) DIAGNÓSTICO ULTRASSONOGRÁFICO USG realizada apenas em casos duvidosos. Achados → (1) visualização de coágulo retroplacentário, (2) elevações da placa coriônica, (3) aumento localizado da espessura placentária e (4) imagens compatíveis com coágulos no estômago fetal. Hemorragias: (1) subcoriônica (entre a placenta e as membranas) (2) retroplacentária (entre a placenta e o miométrio) (3) pré-placentária (entre a placenta e o líquido amniótico). Hemorragia aguda → aspecto ultrassonográfico hiperecoico (branco) ou isoecoico com a placenta, podendo mimetizar espessamento placentário. Após 7 dias, o hematoma torna-se hipoecoico (cinza) e após 2 semanas, anecoico (preto). 5) DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Exames laboratoriais não se mostram úteis para diagnóstico de DPP. Testes de Kleihauer-Betke para Hb fetal e elevação do CA-125 → não demonstraram bons resultados. Em alguns estudos, Dímero D (produto da degradação da fibrina) e a trombomodulina apresentavam-se aumentados em gestações complicadas por DPP → nenhum desses achados é suficiente para diagnosticar ou excluir essa complicação. Alfafetoproteína materna → pode estar elevada → pode representar placentação anormal e também mostrar-se útil para a identificação mais precoce das mulheres de alto risco para essa complicação. Ainda não está estabelecida sua importância clínica. Aparecimento de coagulopatia, especialmente hipofibrinogenemia → sugere o diagnóstico → quando o fibrinogênio plasmático se encontra abaixo de 100 mg% e se associa a trombocitopenia ( < 100.000/mm3) → diagnóstico de DPP é altamente provável. CONDUTA Gestante com suspeita de DPP → hospitalizada imediatamente. A conduta dependerá de alguns fatores → (1) condições materna e fetal, (2) idade gestacional e (3) exame do colo uterino. Monitorizadas avaliando-se cuidadosamente o estado hemodinâmico materno (pressão arterial, frequência cardíaca, débito urinário), com imediata estabilização da função cardiovascular, quando necessária. Exames laboratoriais iniciais → avaliação do hematócrito, contagem de plaquetas, concentração de fibrinogênio, tempo de protrombina, tempo de tromboplastina parcial ativada,produtos de degradação da fibrina e tipo sanguíneo (ABO e RhD). Impossibilidade de avaliar a concentração de fibrinogênio → avaliação da formação e dissolução de coágulo, em situação de urgência → não formação de coágulo entre 5 e 10 minutos após o início do teste → coagulação deficiente, muito provavelmente relacionada à queda de fibrinogênio e plaquetas. Medidas iniciais de assistência → acesso venoso, sondagem vesical e administração de oxigênio úmido. Nos casos mais graves, é necessário ter acesso venoso que permita medir a pressão venosa central (acesso venoso central ou flebotomia). Hipovolemia severa ou choque hemorrágico → administrados cristaloides e/ou transfusões sanguíneas, o mais precocemente possível. A insuficiência renal aguda pode ocorrer com o DPP, incluindo os casos em que a correção da hipovolemia é insuficiente. Pelo fato de a pré-eclâmpsia com frequência estar presente nas pacientes com DPP, verifica-se maior vasoespasmo renal. Cada unidade de concentrado de hemácias (300 mL) contém 200 mL de glóbulos vermelhos → em uma pessoa adulta, eleva a taxa do hematócrito em 3 a 4% na ausência de sangramento. *O Ht deve ser mantido acima de 30% e o débito urinário igual ou superior a 30 mL/h. Em gestantes com hipertensão prévia, o próprio sangramento causado pelo DPP pode levar à perda volêmica com consequente queda da pressão arterial e do hematócrito, o que por vezes resulta em uma falsa impressão clínico-laboratorial de aparente normalidade. *Quando forem necessárias múltiplas transfusões → sistema de coagulação deve ser rigorosamente monitorizado → medidas de tempo de protrombina (TP), tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) e contagem de plaquetas, sobretudo a cada cinco unidades de sangue. Tempo de protrombina (TP) e do tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) 1,5 vezes acima do normal → transfundir 2 unidades de plasma fresco congelado. Plaquetopenia (< 50.000/mm3) → devem ser administradas 6 unidades de plaquetas. Aumento do tempo de tromboplastina parcial ativada, presença de plaquetopenia (< 100.000/mm3), diminuição do fibrinogênio plasmático (< 150 mg/ dL) e concentração dos produtos de degradação da fibrina acima de 20 mg/mL → sinais de coagulação intravascular disseminada (CIVD). CONDUTA OBSTÉTRICA Feto vivo e viável → se parto vaginal não for iminente → interromper a gestação → cesárea de emergência. Obs.: na Clínica Obstétrica do HC-FMUSP, consideram-se viáveis fetos > 25 semanas de gestação. Hemorragia intensa e/ou choque hipovolêmico → associa-se a reposição volêmica (cristaloides e hemoderivados) ao parto imediato, objetivando o controle do sangramento. Se o diagnóstico for duvidoso, com feto vivo e vitalidade normal, essa gestante deve permanecer continuamente monitorizada e sob estrita observação clínica. FETO VIVO VIÁVEL Feto vivo e viável → interrupção imediata e pela via mais rápida. Cervicodilatação → recomenda-se a amniotomia imediata e, em seguida, a gestante deverá ser encaminhada ao centro obstétrico. Obs.: A amniotomia é realizada com o objetivo de reduzir a pressão intra-amniótica e, dessa forma, diminuir a entrada na circulação materna de tromboplastina e fatores de coagulação ativados no coágulo retroplacentário. Paciente em trabalho de parto, hemodinamicamente estável, e cardiotocografia sem sinais de sofrimento fetal → aguardar o parto vaginal. Obs.: Deve-se monitorar o feto com cardiotocografia contínua, já que o descolamento parcial pode progredir rapidamente e uma sala cirúrgica deve estar disponível em caso de urgência. Obs.: A cesárea é indicada se a mãe se encontrar instável, se houver sinais de sofrimento fetal ou alguma contraindicação ao parto vaginal. Obs.: Se o achado intraoperatório for de útero de Couvelaire (extravasamento de sangue para o miométrio), apesar de maior risco de sangramento, não está indicada a histerectomia de imediato, já que pode haver resposta a drogas uterotônicas e outras medidas conservadoras. FETO VIVO INVIÁVEL OU FETO MORTO Se condições maternas estiverem preservadas → amniotomia imediata, sedação com meperidina, controle dos parâmetros maternos e, quando a evolução do parto não for satisfatória, estimulação com ocitocina. O parto deverá ocorrer dentro de 4 a 6 horas, reavaliando-se os quadros clínico e obstétrico a cada hora. A amniotomia também é conduta obrigatória nestes casos, pelos mesmos motivos explicados anteriormente. O ocitócito poderá ser empregado nos casos em que a hipertonia não for acentuada. A meperidina deverá ser administrada na dose de 100 mg (1 ampola) IM, se não existirem evidências de insuficiência renal ou hepática, o que alteraria o metabolismo e a excreção da droga, somando seus efeitos e aumentando a toxicidade → Se houver suspeita dessas alterações, deve-se ministrar 20 mg (2 mL de solução de diluição decimal - 100 mg de meperidina diluídos em água destilada para um volume final de solução de 10 mL) IV lentamente e repetir a critério do médico. Se as condições maternas estiverem ruins (hipovolemia, choque, distúrbios hidroeletrolíticos, alterações da coagulação) → devem-se corrigir os distúrbios de volemia, anemia e hipoxia o mais rápido possível, interrompendo a gestação pela via mais rápida. A coagulopatia é mais frequente em casos de DPP com óbito fetal. Deve-se considerar cesárea quando sangramento for significativo e houver contraindicações ao parto vaginal. DESCOLAMENTO PREMATURO DE PLACENTA CRÔNICO Apresenta evolução imprevisível. Feto maduro → interrupção da gestação! Feto imaturo ou inviável → conduta personalizada para cada caso no que se refere ao momento e à via do parto. Se adotada conduta expectante → avaliar os parâmetros maternos em intervalos regulares e realizar monitorização fetal diária, com perfil biofísico fetal e Dopplervelocimetria. Cardiotocografia alterada → nos casos de hipoxia fetal, dada a progressiva evolução da área do descolamento → pode haver diminuição da variabilidade, ligeira taquicardia, desaparecimento das acelerações transitórias aos movimentos fetais e, em face de maior gravidade, desacelerações. Ultrassonografia → diariamente → avaliação do volume do coágulo retroplacentário, mesmo nos fetos inviáveis. Corticoterapia → pode ser utilizada em gestações entre 25 e 34 semanas. Se alterações maternas, especialmente da coagulação → interrupção da gestação. Obs.: Apesar de alguns estudos mostrarem benefícios com a tocólise em DPP crônico antes de 36 semanas, ela ainda não é formalmente indicada nessa situação. RISCO DE RECORRÊNCIA O risco de recorrência de DPP em gestação subsequente é de cerca de 5 a 15%. Após 2 episódios de descolamento prematuro de placenta, esse risco se eleva para 25%. Se DPP grave e ocorrer óbito do feto, há risco de 7% do mesmo resultado em uma próxima gestação. Mulheres com DPP → maiores taxas de complicações nas próximas gestações, como recém-nascidos pequenos para a idade gestacional, parto prematuro espontâneo e pré-eclâmpsia, mesmo na ausência de novo episódio de DPP.
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