Buscar

Remédios Constitucionais

Prévia do material em texto

REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS
A Constituição Federal de 1988 consagrou uma ampla gama de direitos fundamentais para os indivíduos. Paralelamente, a fim de proteger e assegurar efetividade a esses direitos, a Constituição criou garantias fundamentais, como são exemplos os remédios constitucionais.
Assim, os remédios constitucionais são instrumentos colocados à disposição do indivíduo para salvaguardar seus direitos diante de ameaça ou abuso de poder por parte do Estado.
1 – Habeas corpus
O habeas corpus é o remédio constitucional utilizado contra legalidade ou abuso de poder relacionado ao direito de locomoção - direito de ir, vir e permanecer (CF, art. 5°, LXVIII). 
O HC pode ser: repressivo (liberatório), para reparar ofensa ocorrida ao direito de locomoção; e preventivo (salvo-conduto), para prevenir a ofensa, quando há apenas ameaça ao direito de locomoção.
Ademais, o habeas corpus é cabível não só contra ofensa direta, mas também frente à ofensa indireta ao direito de locomoção. A ofensa indireta ocorre quando o ato impugnado poderá resultar em procedimento que, no final, resulte na reclusão do impetrante.
O habeas corpus é ação de natureza penal e, devido à relevância do direito protegido (liberdade de locomoção), não se exige formalidades para a impetração dessa ação.
Assim, é universal a legitimação ativa do habeas corpus. Qualquer pessoa poderá impetrar essa ação, sem que seja exigido advogado ou alguma forma pré-definida (pode ser menor, analfabeto, estrangeiro ou mesmo terceiro). Ademais, deve-se destacar que se trata de ação gratuita.
2 – Mandado de segurança
Segundo a Constituição, conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público (CF, art. 5°, LXIX).
O mandado de segurança será concedido para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação (por ação ou por omissão) ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça (Lei 12.016/09).
Portanto, de acordo com essa definição, o mandado de segurança tem natureza subsidiária, na medida em que é cabível apenas quando o direito não tiver amparado por outros remédios constitucionais.
O mandado de segurança pode ser repressivo (caso sofra violação) ou preventivo (caso haja apenas receio de violação), sendo legitimadas a impetrar o mandado de segurança tanto pessoas físicas como jurídicas, nacionais ou estrangeiras, independentemente de residirem no Brasil ou no exterior, até mesmo órgãos públicos podem impetrar essa ação, em defesa de suas prerrogativas e atribuições. 
Mesmo a omissão de autoridade pode ensejar impetração de mandado de segurança, se violar direito líquido e certo. Além disso, as autoridades contra as quais se impetra a ação poderão ser agentes públicos ou mesmo qualquer pessoa que esteja exercendo função pública.
O mandado de segurança é ação de natureza civil, ainda quando impetrado contra ato de juiz criminal, praticado em processo penal.
O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado. 
Quanto à competência para julgamento do mandado de segurança, ela é definida pela categoria da autoridade coatora e sua sede funcional. Ou seja, é a partir da autoridade que comete o ato coator, que se estabelece quem será competente para o julgamento da ação. 
A Constituição Federal de 1988 prevê ainda a figura do mandado de segurança coletivo. Assim, o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por (art. 21, Lei 12.016/09): partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos aos seus integrantes ou à finalidade partidária; ou organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial.
Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo dividem-se em (art. 21, §1°): coletivos, transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica; e individuais homogêneos, decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante.
3 – Mandado de Injunção
Segundo o inc. LXXI do art. 5° da CF/88: “conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania”.
Ou seja, se um indivíduo perceber que omissão governamental está inviabilizando o exercício de seus direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania poderá utilizar-se do mandado de injunção. 
É um remédio constitucional a ser utilizado para viabilizar o exercício de direito previsto na Constituição Federal, mas carente de regulamentação. Se o direito for previsto em norma infraconstitucional (lei, medida provisória, tratado internacional com força de lei etc.) não cabe o mandado de injunção. 
Assim, são pressupostos de cabimento do mandado de injunção a falta de norma regulamentadora de um preceito constitucional de natureza mandatória, a inviabilização do exercício de um direito ou liberdade constitucional e o transcurso de prazo razoável para a elaboração da norma.
4 – Habeas Data
O habeas data é cabível contra ato de autoridade pública ou de agente de pessoa privada que possua registros ou banco de dados de caráter público (CF, art. 5º, LXXII). 
Será concedido para o conhecimento de informações, a retificação de dados ou a complementação de dados.
O habeas data é cabível contra ato de autoridade pública ou de agente de pessoa privada que possua registros ou banco de dados de caráter público (CF, art. 5º, LXXII). Um exemplo seria a impetração de habeas data para acesso ao banco de dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC).
Pode ser impetrado por qualquer pessoa física ou jurídica, brasileiro ou estrangeiro. Entretanto, tem caráter personalíssimo: não é cabível para o conhecimento de informações de terceiros, sendo que é imprescindível a comprovação de negativa administrativa.
Assim, só é dado ao interessado ajuizar habeas data perante o Poder Judiciário após receber uma negativa em seu pedido administrativo. Trata-se de interesse de agir do interessado. 
Interessa, por fim, observar que se trata de ação gratuita, como também ocorre com o habeas corpus e a ação popular. Entretanto, é necessário advogado para a impetração.
5 – Ação Popular
A ação popular é outro tipo de remédio constitucional previsto para anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. 
Nos termos do art. 5°, LXXIII da CF/88: “qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.”
É de se observar que a ação popular destina-se à defesa de direitos coletivos, sendo um remédio constitucional colocado à disposição de qualquer cidadão, como forma de controle da administração pública.
É ação gratuita e de natureza cível, podendo ser utilizada de modo preventivo ou repressivo.Trata-se de uma ação relacionada ao controle da Administração Pública, na medida em que se destina à fiscalização da gestão da coisa pública. 
Nesse sentido, o cidadão pode intentar a anulação de um ato lesivo ao patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural. O cidadão não atua na defesa de interesse próprio, mas sim da coletividade.
Ademais, o cabimento da ação popular não exige a comprovação de efetivo dano material, pecuniário. A própria ilegalidade do ato já pressupõe lesividade bastante para a propositura da ação.
É importante frisar que a legitimidade para impetração da AP é exclusiva do cidadão, no pleno gozo de seus direitos políticos. Assim, não pode o Ministério Público dar início a esse tipo de ação. 
A ação popular é ação de natureza cível. Assim, não é alcançada pela competência do foro especial por prerrogativa de função perante o STF. 
6 – Ação Civil Pública
É a ação que visa proteger a coletividade, responsabilizando o infrator por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem urbanística, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, a qualquer outro interesse, bem como a direito difuso ou coletivo. 
Poderá ser proposta pelo Ministério Público, pela Defensoria, pela União, pelos Estados e pelos Municípios, por autarquias, empresas públicas, fundações, sociedades de economia mista e associações interessadas, pré-constituídas há pelo menos um ano. Se houver desistência infundada ou abandono da ação, será facultado ao representante do Ministério Público dar prosseguimento à demanda, em substituição ao titular originário.
A legitimidade ativa deste remédio constitucional é concorrente, autônoma e disjuntiva, pois, cada um dos legitimados pode impetrar a ação como litisconsorte ou isoladamente. Embora seja uma ação de função institucional o Ministério Público não ficou como único legitimado, sendo que a C.F., assegurou o amplo acesso à justiça. Nestas ações qualquer pessoa (física ou jurídica) pode ser o impetrado da ação. 
A ação civil pública, da mesma forma que a ação popular, busca proteger os interesses da coletividade. Um dos diferenciais é que nela podem figurar como réus não apenas a administração pública, mas qualquer pessoa física ou jurídica que cause danos ao meio ambiente, aos consumidores em geral, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
O artigo 2º da Lei nº 7.347/85 diz que as ações previstas nessa lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência para processar e julgar a causa. Contudo, se houver intervenção ou interesse da União, autarquia ou empresa pública federal, e não houver na comarca, Vara da Justiça Federal, será do mesmo juízo estadual local, com recurso ao Tribunal Regional Federal da Região respectiva.

Continue navegando