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Direito Tributário Aplicado - Imudidade dos Templos de Qualquer Culto

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DIREITO TRIBUTÁRIO APLICADO
IMUNIDADE DOS TEMPLOS DE QUALQUER CULTO
INTRODUÇÃO
A aplicação da norma constitucional da imunidade tributária aos templos de qualquer culto, incialmente ao clero e a Nobreza. Após, uma grande evolução constitucional, tivemos os primeiros passos quanto à imunidade e isenções de tributos na promulgação da Constituição Federal de 1891.
Em seguida, o Brasil deixou de ser um país “católico” após a revolução de 1964, e passou adotar laicidade, deixando de seguir preceitos e mandamentos da igreja, sendo citada em seu preambulo a proteção de Deus desde a Constituição Federal de 1967, com o advento da Constituição Federal de 1988 constituiu introdução da liberdade de crença.
A imunidade aos templos de qualquer culto resguarda a limitação da União, Estados, Distrito Federal, e Municípios de cobrar impostos sobre imóvel, patrimônio, e renda das entidades religiosas, tendo em vista que tais entidades possui valor essencial a sociedade, conforme o professor Soares de Melo ensina que o objetivo da imunidade é a preservação dos valores culturais, e religiosos.
Com uma decisão que não reconheceu a maçonaria como uma religião, com os presentes argumentos que a mesma não pratica cultos, sendo praticadas reuniões restritas, a qual é considerada como uma “Seita” pela a sociedade, a decisão do Ministro Ricardo Lewandowski implantou a ideia descrita no parágrafo anterior de imunidade tributária ao “templo de qualquer culto”, é a preservação dos valores culturais, e religiosos.
Por fim, pode se concluir que aplicação da imunidade aos templos de quaisquer cultos, possui algumas contradições quanto a sua eficácia para abrangência do que se pode considerar “templo de qualquer culto”, pois, o pedido de reconhecimento de imunidade religiosa foi negado pelo supremo tribunal federal, tendo em vista que a maçonaria possui caráter de “seita” perante a sociedade, só participando de seus cultos membros convidados, não existindo um serviço essencial para a sociedade, sendo a aplicação da imunidade de qualquer culto uma interpretação quanto o que abrange a garantia constitucional aos templos de qualquer culto.
O reconhecimento da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, c, da Constituição Federal exige o cumprimento dos requisitos estabelecidos em lei. II Assim para se chegar-se à conclusão se o recorrente atende aos requisitos da lei para fazer jus à imunidade prevista neste dispositivo, necessário seria o reexame do conjunto fático-probatório constante dos autos. Incide, na espécie, o teor da Súmula 279 do STF. Precedentes. III A imunidade tributária conferida pelo art. 150, VI, b, é restrita aos templos de qualquer culto religioso, não se aplicando à maçonaria, em cujas lojas não se professa qualquer religião. IV - Recurso extraordinário parcialmente conhecido, e desprovido na parte conhecida. (Conferir: STF, 1ª Turma, RE: 562351/RS, Relator: Min. Ricardo Lewandowski, Julgamento: 04/09/2012).”
Lei nº 14.057/2020 foi sancionada com vetos parciais pelo Presidente da República, pois quanto aos pontos específicos das entidades religiosas e templos de qualquer denominação, o presidente Jair Bolsonaro se mostra favorável à não tributação de templos de qualquer religião, porém a proposta do projeto de lei apresentava obstáculo jurídico incontornável, podendo a eventual sanção implicar em crime de responsabilidade do presidente da República.
Por outro lado, o art. 9º foi sancionado confirmando e reforçando a previsão legal que já existe desde 2015 no tocante aos pagamentos realizados pelas entidades religiosas aos seus membros. Assim, não se considera como remuneração, para efeitos previdenciários, o valor pago por entidades religiosas aos seus ministros e membros de instituto de vida consagrada, conforme já estabelecido no §13 do art. 22 da Lei 8.212.
Nesse contexto, o artigo 9º não caracteriza qualquer perdão da dívida previdenciária, apenas permite que a Receita Federal anule multas que tenham sido aplicadas contrariando a Lei nº 13.137.
A IMUNIDADE DOS TEMPLOS
A imunidade dos templos religiosos demarca uma norma constitucional de não incidência de impostos sobre os templos de qualquer culto. Não se trata de uma isenção, mas de uma exoneração de ordem constitucional a qual se pode atribuir o rótulo de “imunidade religiosa”. Está assim, prevista na alínea b do inciso VI do art. 150 da Carta Magna.
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte é vedado à União , aos Estados , ao Distrito Federal e aos Municípios .
VI – Instituir Impostos sobre
b) Templos de qualquer culto (...).
 Do ponto de vista estritamente legalista, o entendimento do Art. 150, VI fala absolutamente em isenção de tributos, devido ao maior grau de importância que os entes tributantes dão a esse instituto, inclusive pela sua maior incidência. Nessa linha de raciocínio, é inegável que os templos de atividades religiosas teriam imunidade apenas ao pagamento de tributo.
Quanto a isso, o entendimento do Supremo Tribunal Federal aufere que, para se analisar a imunidade de entidades religiosas, é preciso mais que distinguir a ligação ente o fato gerador e a atividade de culto. Não mais importante, seria de caráter imprescindível identificar a destinação da receita advinda destes fatos geradores, uma vez que assim seria possível, por analogia, aplicar-se a súmula 724 do STF, que assim dispõe:
Súmula 724: Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, c, da Constituição, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas atividades de tais entidades.
Sob esse ponto de vista, uma vez que a receita advinda da prestação de serviços de guarda e estacionamento de veículos, bem como a receita advinda de alugueis de imóveis da entidades religiosas , fosse aplicada diretamente em prol de suas atividades , haveria imunidade. 
Portanto, a imunidade não apenas estaria abrangida ao templo em si, mas também aos imóveis que, de forma ou indireta, estão relacionadas aos templos. De forma direta quando tais imóveis geram algum tipo de receita a ser revertida em prol do templo; e de forma indireta quando o imóvel significa uma extensão do templo, como é o caso dos cemitérios.
Fato é que a Constituição Federal contempla vários casos de imunidade direcionados às taxas e às contribuições, o que torna possível sustentar a ideia de que imunidades não aplicam apenas a impostos.
PERDA PARA A RECEITA FEDERAL
Quando a questão de imunidade tributária para templos de qualquer culto surge, criam-se espaços para alguns questionamentos, quase que inerentes ao tema, principalmente para correntes que divergem do ponto de vista de que templos religiosos devam receber alguma imunidade tributária, e, um desses questionamentos teria base em quanto à receita federal, ou seja, o Estado passaria arrecadar se essa imunidade tributária não existisse, ou melhor ainda, quanto o estado deixa de arrecadar com a existência dessa tal imunidade.
É difícil chegar a uma conclusão, principalmente porque essa conclusão não seria oficial, além de exigir a análise de uma série de dados que poderiam não ser tão conclusivos assim. 
Isso ocorre porque a receita federal não calcula ou faz qualquer tipo de contabilidade do quanto deixam de arrecadar por causa da imunidade tributária da igreja, "Elas são imunes. Então, o tributo nem alcança. Se não sei nem como se tributaria essa receita, não tem como saber o que deixou de ser arrecadado", segundo a fala do coordenador de previsão e análise do Fisco, Marcelo Gomide.
Também existiriam diversos outros fatores que tornariam difíceis de contabilizar a perda real para os cofres, como o fato de existir uma grande parcela de igrejas em situação irregular, sendo assim, irrastreável pelo fisco.
Alguns dados oficiais podem ser analisados para ter a noção de pelo menos uma parcela do quanto essa imunidade pode atingir. Muitos dos templos religiosos, possuem trabalhadores formais, como por exemplo, secretárias, e, em casos assim, os templos nãosão obrigados a pagar a parcela patronal sobre os salários para a previdência social, entretanto, há o desconto em folha para o Instituto Nacional do Seguro Social e a desoneração chegou a, pelo menos, R$ 674 milhões em 2018 no âmbito previdenciário.
OUTROS PAÍSES TAMBÉM POSSUEM CONCESSÕES DE ISENÇÃO 
A concessão de facilidades a igrejas não é uma exclusividade do Brasil. DA EQUIPE DE ARTICULISTAS da Folha de São Paulo, São Paulo, domingo, 29 de novembro de 2009.
Certos países ocidentais vão ainda mais longe e, além de oferecer isenções tributárias, chegam até mesmo a sustentar diretamente alguma religião.
É o caso da Argentina, onde arcebispos, bispos e bispos auxiliares católicos têm seus salários pagos pelo poder público.
Na Espanha, até 2006, a Igreja Católica punha as mãos em 0,5239% do Imposto de Renda recolhido às pessoas físicas. Depois de 2006, após acordo entre o governo espanhol e bispos, ela fica com uma porcentagem que varia entre 0,5% e 0,7%, mas só dos contribuintes que indicarem na declaração que desejam financiar a Santa Sé.
Na Itália vigora o "otto per mille", sistema pelo qual 0,8% do IR de cada contribuinte vai para a igreja de sua preferência ou para um programa de assistência social.
Até na França, pátria do laicismo (e do anticlericalismo), igrejas gozam de certas vantagens fiscais e o contribuinte pode abater de seu IR parte do valor de doações.
No mundo germânico, a situação não é muito diferente. Na Áustria, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Islândia, Suécia e em alguns cantões da Suíça existe o "Kirchensteuer" (imposto da igreja). Isso significa que o Estado faz as vezes de coletor de "dízimo" para as instituições religiosas. Nos países em que há uma igreja oficial, ela costuma também receber subvenções diretas.
Na Alemanha nominalmente laica a "facada" é o correspondente a 8% ou 9% do imposto devido de cada contribuinte. Os que se declararem agnósticos ou ateus se livram da taxa. Na Islândia, não há saída: quem não pertence a nenhuma religião tem de pagar o tributo para a Universidade da Islândia.
Curiosamente, é nos EUA, o templo da religiosidade no Ocidente, que o sistema se afigura um pouco mais racional. Ali, as isenções não são absolutas nem incondicionais. Se a igreja se meter muito escancaradamente em ações de lobby, em campanhas eleitorais ou se violar políticas públicas consideradas fundamentais (como o combate ao racismo), pode perdê-las.
Apesar do artigo ser de 2009 continua as isenções na grande parte da comunidade Europeia e também nos Estados Unidos da América. 
POSSIBILIDADE DE PERDA DA IMUNIDADE 
A condição para os templos possuírem a imunidade é atenderem sua finalidade essencial, caso contrário, havendo qualquer desvio na aplicação do serviço, a entidade religiosa poderá perder a sua garantia constitucional.
“Entende-se que o desvirtuamento da atividade, com enriquecimento ilícito de seus dirigentes, remessa de recursos ao exterior, utilização de meios coercitivos (espirituais) visando tomar o patrimônio dos fiéis etc., uma vez comprovado, importa na perda da imunidade. (ICHICHARA, 2000, p. 240).”
Portanto, há a necessidade de fiscalização do Estado para constatar irregularidades e enriquecimento ilícito dos responsáveis pelos templos religiosos, exigindo dessa fiscalização uma prática comum e regular, para atestar que as entidades possuam moralidade e legalidade perante aos fiéis, além de punir as entidades infratoras com a perda do direito de ser imune a cobrança de impostos, responsabilizando os pastores, presidentes, e ministros penalmente, quanto à corrupção e o enriquecimento ilícito.
Vale ressaltar também que, não menos importante, é a necessidade da presença de provas para o afastamento da imunidade religiosa. A seguir um caso onde o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, deixou de apreciar o pedido de afastamento da imunidade religiosa de uma entidade, tendo em vista a ausência de provas para a comprovação de desvinculação do imóvel para a prática litúrgica, para a realização da cobrança do ITBI.
“Apelação – Ação declaratória de inexistência de relação jurídico-tributária com pedido de restituição – ITBI – Pretensão à imunidade  tributária  prevista no artigo 150, inciso VI, alínea b, da Constituição Federal – Possibilidade – Impõe-se ao Município o ônus de apresentar prova impeditiva, modificativa e extintiva ao gozo da imunidade constitucional, cabendo demonstrar que o imóvel pertencente à entidade está  desvinculado da destinação institucional - Precedentes do C. STF e STJ - Sentença mantida - Incidência dos juros de mora de 1% ao mês, a contar  do trânsito em julgado e atualização monetária com base no Índice  Nacional de Preços ao Consumidor Amplo Especial IPCA-E (IBGE) a  contar do desembolso. Descabimento da incidência de juros moratórios sobre honorários advocatícios que devem ser apenas corrigidos monetariamente de acordo com a Tabela prática do Tribunal de Justiça (INPC) - Recurso não provido. (Conferir: TJ-SP 10498777920168260114 SP 1049877-79.2016.8.26.0114, Relator: Cláudio Marques, Data de Julgamento: 22/02/2018, 14ª Câmara de Direito Público).”
COMPROVAÇÃO ESSENCIAL DAS ATIVIDADES
A comprovação de realização de cultos é essencial para a concessão do benefício de imunidade prevista no artigo 150, VI, aliena b da Constituição Federal de 1988, caso contrário os templos religiosos podem perder essa garantia constitucional. 
Para comprovar suas atividades é preciso evidenciar o início das atividades e a realização de cultos, não sendo permitido requerer a imunidade a qualquer tempo, ou seja, não é aceito o requerimento da imunidade de período anterior sem a comprovação necessária.
Vale destacar também a possibilidade de se determinar improcedente a citada imunidade quando ausente às comprovações essenciais para tal garantia, como podemos observar no caso em tela, onde o Supremo Tribunal Federal negou provimento ao agravo de instrumento sob nº AI 814822 / MS - MATO GROSSO DO SUL, referente ao pedido de imunidade tributária durante período onde não fora capaz de comprovar a realização de destinação de cultos no imóvel, requerendo anulação da cobrança de IPTU concretizada pelo município entre os anos de 2003 a 2017.
“Agravo de instrumento. Direito tributário. Imposto predial e territorial urbano – iptu. Imóvel pertencente a templo religioso. Impossibilidade de verificação, no caso concreto, da destinação do imóvel. Súmula n. 279 do supremo tribunal federal. Precedentes. Agravo ao qual se nega seguimento. A decisão agravada teve como fundamento para a inadmissibilidade do recurso extraordinário a incidência da Súmula n. 279 do Supremo Tribunal Federal. (Conferir: STF,1ª turma, AI 814822 / MS - mato grosso do sul, agravo de instrumento, Relator(a): Min. Cármen Lúcia, julgamento: 27/10/2010).”
No relatório foi enfatizado que o templo religioso não comprovou a realização de liturgia dentro do período que o município efetuou as cobranças de IPTU sobre o imóvel em debate, sendo que no acórdão anteriormente, a turma julgadora destacou a falta de provas comprobatórias quanto à destinação do imóvel.
REFERÊNCIAS
MELO, José Eduardo Soares. Curso de Direito Tributário, 10ª ed. São Paulo: Dial e Ética, 2012.
BRASIL, Constituição Federal da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado.
BRASIL, Supremo Tribunal Federal – Recurso Extraordinário 562.351 (1ª turma).
Pacte (s): Município de Porto Alegre. Impte (s): Grande Oriente do Rio Grande do Sul.   Relator.   :              Min.                  Ricardo          Lewandowski,          13.12.2012.    Disponível      em:  http://stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28IMUNIDADE+RELIGIOSA+MACONARIA%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/ychdmals
BRASIL, Supremo Tribunal Federal – Agravo de Instrumento 814.822 (1ª turma).
CORDEIRO, Ricardo Assis Souza – O alcance das imunidades de templos de qualquer culto.
AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro 13 º ed. Ver. São Paulo: Saraiva 2007
CARRAZA, Elizabeth Nazar Progressividade e IPTU, Curitiba Juruá, 1996.Arrecadação de igrejas quase dobra em oito anos e vai a R$ 24,2 bilhões, disponível em
<https://www.otempo.com.br/economia/arrecadacao-de-igrejas-quase-dobra-em-oito-anos-e-vai-a-r-24-2-bilhoes-1.2224545> acesso em 13/11/2020
Sem impostos, igrejas dobram receita em oito anos, com faturamento de R$ 24,2 bi em 2013, disponível em <https://www.sul21.com.br/ultimas-noticias/politica/2019/08/sem-impostos-igrejas-dobram-receita-em-oito-anos-com-faturamento-de-r-242-bi-em-2013/> acesso em 13/11/2020
Como funciona e se aplica a isenção de impostos a igrejas no Brasil, disponível em <https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2020/09/12/brasil-e-unico-a-garantir-isencao-de-imposto-a-igrejas-pela-constituicao.htm> acesso em 13/11/2020
ICHIHARA, Yoshiaki. Imunidades tributárias. São Paulo: Atlas. 2000.
Jurisprudência: BRASIL, Supremo Tribunal Federal – Agravo de Instrumento 814.822 (1ª turma). Pacte (s): Município de Campo Grande. Impte (s): Igreja Evangélica Assembléia de Deus de Mato Grosso. Relator: Min. Cármen Lúcia, 23.02.2011. Disponível em <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28%28A+PERDA+DE+IMUNIDADE+RELIGIOSA%29%29+NAO+S%2EPRES%2E&base=baseMonocraticas&url=http://tinyurl.com/yazgbh4f > acesso em 12/11/2020

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