Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 APS – DIREITO TRIBUTÁRIO APLICADO – 8º SEMESTRE - 2021.01 IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS – QUADRO COMPARATIVO E RESENHA CRÍTICA Nome: Davi Natã Wanzeler Cassolla RA: 1732931 Turma: 3208A02 APS – Direito Tributário Aplicado – Professor Jean Paolo Simei e Silva Sumário Tabela de Imunidades Tributárias ............................................................................................. 2 Conceito de Imunidade Tributária............................................................................................. 4 Classificação das Imunidades Tributárias e as Imunidades Genéricas em espécie............ 6 Imunidade recíproca ................................................................................................................ 6 Imunidade de templos religiosos de qualquer culto ............................................................ 15 Imunidades dos partidos políticos, suas fundações e outras figuras................................... 21 Imunidades de livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão ................ 27 Imunidade de Fonogramas e Vídeofonogramas .................................................................. 36 Conclusão...................................................................................................................................... 38 2 Tabela de Imunidades Tributárias1 Previsão Legal Fundamento Natureza Extensão da Imunidade Pessoa/situação/be m imune Abrange todos os impostos? Imunidade recíproca art. 150, VI, "a" da Constituiçã o federal I - Princípio Federativo (Art. 64, §4º, I da CF) II - Autonomia Municipal (Art. 29 e 30 CF) III - Ausência de capacidade contributiva dos entes federativos Subjetiva Ontológica Os entes federativos não podem instituir impostos com o objetivo de tributar o patrimônio, renda ou serviços uns dos outros. São imunes a União, Estados, Municípios e DF da instituição de impostos entre si, estendidas para as autarquias e fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, nos termos do art. 150, §2º da CF, ressalvada a hipótese do §3º do mesmo artigo. E as empresas estatais conforme a jurisprudência. sim (com exceção aos impostos indiretos quando contribuint e de fato, segundo a jurisprudên cia) Imunidad e de templos religiosos de qualquer culto art. 150, VI, "b" da Constituiçã o federal O fundamento para essa imunidade remonta à necessidade de separação entre a Igreja e o Estado. Tendo sido consagrada em nossa Constituição Federal de 1988. Subjetiva Essa imunidade se estende ao patrimônio, a renda e os serviços, desde que sejam relacionados com a finalidade essencial de tais templos, que são "a prática do culto, a formação de religiosos, o exercício de atividades filantrópicas e a assistência moral e espiritual dos fiéis". Os templos religiosos de qualquer culto e sua renda, patrimônio e serviços, desde que relacionados à sua finalidade essencial. sim (com exceção aos impostos indiretos quando contribuint e de fato, segundo a jurisprudên cia) 1 A tabela foi preenchida com a classificação dada pela Professora Regina Helena Costa, em seu livro “Curso de Direito Tributário – Constituição e Código Tributário Nacional”, 9ª Edição, São Paulo: Saraiva Educação, 2019, E-PUB – Não paginado. especificamente na Parte II – Capítulo 3.3 (Imunidades). 3 Imunidad e de determina das figuras jurídicas art. 150, VI, "c" da Constituiçã o federal I - Direitos da Liberdade (direitos políticos e pluralismo partidário - art. 17, caput da CF) II - Liberdade de Associação Sindical refletindo a importância das entidades sindicais na ordem jurídica III - Realização de atividades próprias do Estado de relevante interesse público, ajudando a suprir deficiência estatal Subjetiva em geral Se estende ao patrimônio, a renda e aos serviços relacionados com a finalidade essencial de cada uma das figuras jurídicas imunes. Partidos políticos e suas fundações, Entidades Sindicais de Trabalhadores e Instituições de Educação e de Assistência Social (estas duas últimas, desde que não tenham fins lucrativos). sim (com exceção aos impostos indiretos quando contribuint e de fato, segundo a jurisprudên cia) Imunidad es de livros, jornais, periódicos e papéis destinados à sua impressão art. 150, VI, "d" da Constituiçã o federal I - Liberdade de comunicação II - Liberdade de manifestação do pensamento III - A expressão da atividade intelectual, artística, científica IV - Acesso à informação e à difusão da cultura e da educação V- Direito exclusivo dos autores de utilização, publicação e reprodução de suas obras Objetiva, de caráter político e incondicion ada Livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão. (Salienta-se que existe aqui uma discussão doutrinária interessante sobre o conceito de "livro", e se ele atinge apenas os livros de papel ou as novas formais digitais de livros - já decidido pelo STF) São objeto dessa imunidade os próprios livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão. Sim, com exceção aos impostos que recaem sobre a renda e patrimônio Imunidad e de fonogram as e videofono gramas art. 150, VI, "e" da Constituiçã o federal I - A liberdade de comunicação II - Liberdade de manifestação do pensamento III - Expressão da atividade artística Sendo o principal intuito, "incentivar a produção musical de autoria ou Objetiva e de caráter político Fonograma, Videofonograma produzidos no Brasil, que contenham obras musicais ou literomusicais brasileiras de autores Brasileiros, ou obras em geral interpretadas por artistas Brasileiros, assim como "os Fonograma, Videofonograma, assim como "os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham" sim (com exceção aos impostos que recaem sobre a renda e patrimônio e na etapa de replicação industrial 4 interpretação brasileira, por meio de CD's, DVD's e outras mídias" suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham" de mídias ópticas de leitura a laser). Conceito de Imunidade Tributária As imunidades tributárias, e aqui em específico as classificadas como “gerais”, previstas no art. 150, VI, e alíneas da ConstituiçãoFederal (CF) estão compreendidas dentro dos “limites constitucionais ao poder de tributar” estabelecidos pela Constituição Federal de 1988. O Professor Aliomar Baleeiro em sua obra “Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar”, com atualização da Professora “Misabel Abreu Machado Derzi”, em sua 8ª edição de 2010, acerca das imunidades tributárias: “(...) define-as, por seus efeitos, como limitações constitucionais ao poder de tributar. Não obstante, são limitações constitucionais ao poder de tributar, ainda, o princípio da legalidade, da anterioridade, da igualdade, da vedação do confisco etc., (...). Também a Constituição Federal intitula a Seção II do Capítulo VI de “As limitações ao Poder de Tributar” e, dentro dela, inclui, de modo não exaustivo, as imunidades propriamente ditas e os demais princípios e normas reguladoras dos direitos e garantias dos contribuintes, como legalidade, irretroatividade, anterioridade, vedação do confisco e outros.”2 Nesse contexto, podemos inferir que as imunidades tributárias são espécie do gênero “limitações constitucionais ao poder de tributar”. Sendo uma espécie, ela tem características muito próprias e se distingue das demais limitações previstas no art. 150, Incisos I ao V da Constituição Federal. Essa diferença se dá, pois, a imunidade é o que chamamos de “regra parcial, de exceção”3, cuja Constituição Federal, em virtude de valores e princípios fundamentais, estabelece uma situação bem definida em que a limitação criada pela imunidade irá operar. Um claro exemplo disso é a imunidade chamada “recíproca” prevista no art. 150, VI, “a” da CF que tem como fundamento o princípio federativo do Estado e a autonomia entre os entes políticos. No mesmo sentido, é a imunidade do art. 150, VI, “c” em relação as instituições de educação e de assistência social sem fins lucrativos, em razão do princípio da igualdade e da capacidade 2 BALEEIRO Aliomar. Limitações Constitucionais ao poder de tributar. 8ª ed. Atualizada por Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 372 3 Ibid. p. 374 5 contributiva delas. Ou seja, as imunidades estão calcadas e encontram fundamento em “princípios-valor”, mas com eles não se confundem, sendo então, regras4. As imunidades, portanto, são regras constitucionais expressas “que estabelecem a não competência das pessoas políticas da federação para tributar certos fatos e situações, de forma amplamente determinada (...)5”. Essas regras são inseridas na Constituição de forma a delimitar negativamente a competência tributária em certos casos definidos. Considerando que a competência tributária é definida pela própria Constituição Federal em seus artigos 145, 153, 154, 155 e 156, as imunidades operam como um “cerco limitador” que estabelece a incompetência dos entes federativos para instituir tributos em determinados casos, “estabelecendo a incompetência”, “denegando poder de instituir tributos”6 Interessante ponto traz o Professor Paulo de Barros Carvalho ao falarmos sobre a “competência tributária” quando tomamos ela no sentido de “poder tributário já delimitado”. Uma vez que ela compreenderia tanto a competência positiva (definida nos artigos que preveem a possibilidade da instituição de tributos e aqui especificamente, os impostos) quanto a competência negativa (ou seja, as limitações constitucionais ao poder de tributar e aqui em específico, a regra de exceção, que são as imunidades), teremos que: “competência tributária = norma de atribuição de poder – norma denegatória de poder (imunidade)”. Também é de se ressaltar a relação umbilical entre a imunidade como norma denegatória de poder e a norma de atribuição de poder, ou seja, a competência tributária. As imunidades nada seriam sem considerar a competência tributária, pois elas são decorrentes do próprio poder de criar tributos, consistindo em uma limitação que o Constituinte originário definiu para determinadas situações e sujeitos passivos tributários. Em sua obra, o Professor Aliomar ainda nos traz características fulcrais para entender as imunidades, quais sejam: 4 “No caso das regras, há maior determinação do comportamento em razão do caráter descritivo ou definitório do enunciado prescritivo, o aplicador deve argumentar de modo a fundamentar uma avaliação de correspondência da construção factual à descrição normativa e à finalidade que lhe dá suporte. (...) Daí se dizer que as regras possuem, em vez de um elemento finalístico, um elemento descritivo.” (HAGE, Jaap C., 1997 apud AVILA. Humberto. Teoria dos princípios da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 12ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2011. p. 73/74). 5 BALEEIRO, Op. Cit., p. 374 6 BALEEIRO Aliomar. Limitações Constitucionais ao poder de tributar. 8ª ed. Atualizada por Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 375 6 “1. São normas que somente atingem certos fatos e situações, amplamente determinadas (ou necessariamente determináveis) na Constituição; 2. reduzem, parcialmente, o âmbito de abrangência das normas atributivas de poder aos entes políticos da Federação delimitando-lhes negativamente a competência; 3. e, sendo proibições de tributar expressas (ou fortes), têm eficácia ampla e imediata; 4. criam direitos ou permissões em favor das pessoas imunes, de forma juridicamente qualificada”7 Classificação das Imunidades Tributárias e as Imunidades Genéricas em espécie Diante da conceituação de imunidades como regras de exceção a competência tributária, a doutrina ainda cuidou de classificar todas as imunidades que estão inseridas na Constituição Federal como: “Gerais ou específicas”, levando em consideração os valores constitucionais que a imunidade protege e o grau de amplitude dela; e “Subjetivas ou Objetivas”, que leva em conta o modo de incidência da imunidade. A classificação que nos importa no presente trabalho é a que divide as imunidades em “gerais e específicas”. O objeto do nosso estudo serão as imunidades consideradas gerais ou “genéricas”, que estão previstas no art. 150, VI, alíneas “a” até “e” e seus §§ 2º a 4º, da Constituição Federal. A professora Regina Helena Costa as conceitua e nos mostra que: “As imunidades genéricas são, como visto, as contidas no art. 150, VI, e §§ 2º a 4º, da Lei Maior, e assim denominadas porque dirigem vedações a todas as pessoas políticas, abrangendo quaisquer impostos que recaiam sobre o patrimônio, a renda e os serviços das entidades consideradas. Portanto, outras espécies de tributos, como taxas e contribuições, estão fora do alcance de tais normas.”. Assim, veremos cada uma das imunidades previstas no art. 150, VI da Constituição Federal, a inserção de seu contexto histórico dentro do ordenamento jurídico, sua fundamentação e as vicissitudes. Imunidade recíproca Em sua obra, o Professor Aliomar Baleeiro ao tratar das imunidades recíprocas o faz em relação ao texto dado pela Emenda Constitucional nº 1 de 17 de outubro de 1969, que em seu art. 19, determina que: “Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - instituir ou aumentar tributo sem que a lei o estabeleça, ressalvados os casos previstos nesta Constituição; 7 Ibidem. 7 II - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou mercadorias, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais; e III - instituir impôsto sôbre: a) o patrimônio, a renda ou os serviços uns dos outros; b) os templos de qualquer culto; c) o patrimônio, a renda ou os serviços dos partidos políticos e de instituições de educação ou de assistência social, observados os requisitos da lei; e d) o livro, o jornal e os periódicos, assim como o papel destinado à sua impressão.” A construção brasileira feita pela Emenda Constitucional nº 1 de 1969, que alterou o antigo texto que foi introduzido na Constituição de 1891, em seuart. 10, sofreu uma fortíssima influência da experiência americana acerca do princípio lá implícito da “reciprocal immunity of Federal and State Instrumentalities”8, que teve sua construção ao longo dos anos pela jurisprudência. Além da experiência norte americana, a experiência argentina acerca da instituição de tributos reciprocamente entre os entes federativos, inspirou a criação brasileira. Na argentina, essa imunidade tributária recíproca também advém de uma construção jurisprudencial dos Tribunais, não obstante, como exposto pelo Professor Aliomar em sua obra, não estão incluídas nessas imunidades as taxas e contribuições de melhoria. Ponto interessante é que “reformada em março de 1949, a Constituição argentina não sofreu alterações fundamentais em suas disposições financeiras, de sorte que a interpretação acima resumida, com base na jurisprudência e na doutrina, continua válida e atual”9. Com efeito, diante da opção do poder constituinte originário pela forma Federativa do estado, em que há a criação de um Estado Federativo, composto por Estados Membros não dotados de soberania, mas sim de autonomia, não haveria de ser outro o caminho em relação a previsão das imunidades recíprocas entre os entes federativos, e por isso, com o advento da Constituição Federal de 1988, o constituinte originário tratou de expressamente assentar a imunidade recíproca no art. 150, VI, “a”. A consagração dessa imunidade revela o claro respeito a autonomia dos entes federativos e do próprio princípio federativo inerente a forma do Brasil. “A evolução do princípio federal, compreendido como garantia adicional da liberdade – forma de evasão da concentração de poder – e profundamente impregnada da igualdade, da redução das grandes disparidades econômico-materiais, em favor de um 8 BALEEIRO Aliomar. Limitações Constitucionais ao poder de tributar. 8ª ed. Atualizada por Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 383. 9 BALEEIRO Aliomar. Limitações Constitucionais ao poder de tributar. 8ª ed. Atualizada por Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 397. 8 desenvolvimento harmonioso e solidário – federalismo cooperativo – se faz sentir, como demonstra ALIOMAR BALEEIRO, na teoria da imunidade recíproca.”10 Em nossa visão, totalmente acertada a escolha do constituinte originário pela consagração da imunidade recíproca em nossa carta magna, vez que assim, se garante uma forma clara de desconcentrar o poder – e aqui falamos em relação materialmente hierárquica – das mãos da União, garantindo aos demais entes federativos: Estados, Municípios e Distrito Federal suas autonomias, não ficando em matéria de instituição de impostos sobre patrimônio, rendas e serviços, a possibilidade da União tributa-los, diminuindo assim as disparidades regionais e não permitindo a direta intervenção dos entes federativos entre si por meio da instituição de impostos, com um caráter de extrafiscalidade por exemplo. Além de ser uma homenagem à forma federativa do Estado Brasileiro, a imunidade recíproca traz em seu bojo uma forte influência do princípio da capacidade contributiva (art. 145, §1º da CF), e a ausência dessa capacidade em relação aos entes federativos, “uma vez que a riqueza estatal se destina a fins públicos”11 e dessa maneira, não tendo as atividades estatais uma finalidade lucrativa mas sim de perquirir o bem comum por meio de sua função administrativa, a ausência da capacidade contributiva é uma fundamentação complementar para a existência da imunidade recíproca. Dado o contexto histórico da imunidade recíproca e suas raízes, passaremos a explanação da imunidade no campo do regime jurídico tributário propriamente dito, ultrapassando a propedêutica já abordada. A imunidade recíproca é caracterizada por Regina Helena Costa como uma imunidade de natureza subjetiva e ontológica. Dizendo-se subjetiva pois “estabelecida em função de pessoas políticas”12 e ontológica pois é “consequência necessária do princípio da isonomia, revelado sob dois fundamentos diferentes”13, quais sejam: o princípio da capacidade contributiva e da autonomia das pessoas políticas. Essa imunidade está prevista no art. 150, VI, “a” da Constituição Federal, que define a vedação da União, dos Estados, Municípios e do Distrito Federal de instituírem impostos 10 BALEEIRO, Op.Cit. p. 403 11 BALEEIRO Aliomar. Limitações Constitucionais ao poder de tributar. 8ª ed. Atualizada por Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 403 12 COSTA, Regina Helena: Curso de Direito Tributário – Constituição de Código Tributário Nacional, 9ª Edição. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. Parte II – Capítulo 3.3.3.1 – E-PUB, não paginado. 13 COSTA. Op. Cit. 9 “sobre o patrimônio, renda ou serviços uns dos outros”. Em que pese parecer um texto simples, sua profundidade está implícita, causando inclusive algumas divergências doutrinárias acerca da abrangência em relação a quais impostos seriam alcançados por essa imunidade. Mas um ponto é claro: essa imunidade abrange apenas os impostos, tendo o STF claramente se pronunciado sobre a não extensão dessa imunidade às contribuições sociais14: “EMENTA: I. Ação direta de inconstitucionalidade: seu cabimento - sedimentado na jurisprudência do Tribunal - para questionar a compatibilidade de emenda constitucional com os limites formais ou materiais impostos pela Constituição ao poder constituinte derivado: precedentes. II. Previdência social (CF, art. 40, § 13, cf. EC 20/98): submissão dos ocupantes exclusivamente de cargos em comissão, assim como os de outro cargo temporário ou de emprego público ao regime geral da previdência social: argüição de inconstitucionalidade do preceito por tendente a abolir a "forma federativa do Estado" (CF, art. 60, § 4º, I): improcedência. 1. A "forma federativa de Estado" - elevado a princípio intangível por todas as Constituições da República - não pode ser conceituada a partir de um modelo ideal e apriorístico de Federação, mas, sim, daquele que o constituinte originário concretamente adotou e, como o adotou, erigiu em limite material imposto às futuras emendas à Constituição; de resto as limitações materiais ao poder constituinte de reforma, que o art. 60, § 4º, da Lei Fundamental enumera, não significam a intangibilidade literal da respectiva disciplina na Constituição originária, mas apenas a proteção do núcleo essencial dos princípios e institutos cuja preservação nelas se protege. (...). 4. A matéria da disposição discutida é previdenciária e, por sua natureza, comporta norma geral de âmbito nacional de validade, que à União se facultava editar, sem prejuízo da legislação estadual suplementar ou plena, na falta de lei federal (CF 88, arts. 24, XII, e 40, § 2º): se já o podia ter feito a lei federal, com base nos preceitos recordados do texto constitucional originário, obviamente não afeta ou, menos ainda, tende a abolir a autonomia dos Estados-membros que assim agora tenha prescrito diretamente a norma constitucional sobrevinda. 5. É da jurisprudência do Supremo Tribunal que o princípio da imunidade tributária recíproca (CF, art. 150, VI, a) - ainda que se discuta a sua aplicabilidade a outros tributos, que não os impostos - não pode ser invocado na hipótese de contribuições previdenciárias. 6. A auto-aplicabilidade do novo art. 40, § 13 é questão estranha à constitucionalidade do preceito e, portanto, ao âmbito próprio da ação direta.”15 – grifo nosso Para definir os contornos dessa imunidade, a carta constitucional prevê as disposições do §2º do referido artigo, nos mostrando que a imunidade recíproca se estende às autarquias e fundações instituídas e mantidas pelo poder público, no entanto, essa imunidade será extensível a essas duas figuras da Administração Pública indireta apenas em relação a renda, patrimônio e serviços que sejam vinculadosà sua finalidade essencial ou sejam delas decorrentes, isto, porque tanto as autarquias quanto as fundações públicas, dotadas de especialidade em relação a atividade praticada, prestam um serviço público, assim, a constituição decidiu erigi-las ao 14 No mesmo sentido: RE 388.373/PA, Segunda Turma, Relator Min. Dias Toffoli, j. em 02/10/2021; RE 626.837/GO, Tribunal Pleno, Relator Min. Dias Toffoli, j. em 25/05/2017. 15 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2024. Tribunal Pleno. Requerente: Governador do Estado de Mato Grosso do Sul. Relator(a): Min. Sepúlveda Pertence. Julgado em 03/05/2007, publicado em 22/06/2007. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur89658/false. Acesso em: 03 abr. 2021. https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur89658/false 10 mesmo patamar dos entes políticos (pelo menos no que tange às imunidades) porque em tese, - ao menos formalmente - por prestar um serviço público, ela se “igualaria” ao ente federativo que a instituiu.16 No mesmo sentido do §2º, sobre as imunidades recíprocas, a jurisprudência do Pretório Excelso reconhece que tal imunidade se aplica as empresas públicas prestadoras de serviços públicos, uma vez que o objeto delas é a prestação desse serviço. Nos autos da Ação Cível Originária nº 789 de Relatoria do Min. Marco Aurélio Mello, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT (popularmente conhecida como “Correios”), pleiteava o reconhecimento da extensão da imunidade prevista no art. 150, VI, “a” da Constituição: “EMENTA Tributário. Imunidade recíproca. Art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal. Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Empresa pública prestadora de serviço público. Precedentes. 1. A jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal, desde o julgamento do RE nº 407.099/RS, Relator o Ministro Carlos Velloso, DJ de 6/8/04, firmou-se no sentido de que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, empresa pública prestadora de serviço público, é beneficiária da imunidade tributária recíproca prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição da República. Esse entendimento foi confirmado pelo Plenário desta Corte na ACO nº 765/RJ, Redator para o acórdão o Ministro Menezes Direito. 2. Ação cível originária julgada procedente.”17 Ainda, reconhecendo a extensão da imunidade às empresas públicas, na medida em que prestam serviços públicos e não privados: “EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS - ECT. IMUNIDADE RECÍPROCA RECONHECIDA. JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.”18 “EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS: IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA: C.F., art. 150, VI, a. EMPRESA PÚBLICA QUE EXERCE ATIVIDADE ECONÔMICA E EMPRESA PÚBLICA PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO: DISTINÇÃO. I. - As empresas públicas prestadoras de serviço público distinguem-se das que 16 “Outra ideia ligada à de autarquia é a de descentralização, porque ela surge precisamente quando se destaca determinado serviço público do Estado para atribuí-lo a outra pessoa jurídica”. (DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, 33ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. E-PUB, não paginado. Capítulo 10.3.4) 17 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Cível Originária nº 789/PI. Tribunal Pleno. Autor: EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS – ECT. Réu: Estado do Piauí. Relator Min. Marco Aurélio Mello, julgado em 01/03/2010; publicado em 15/10/2010. Disponível em http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2313753. Acesso em: 27 mar. 2021. 18 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Agravo Regimental no Recurso Extraordinário nº 552.736. Primeira Turma. Agravante: Município de Porto Alegre. Agravado: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT. Relator(a): Min. Cármen Lúcia. Julgado em 20/10/2009, publicado em 20/11/2009 - LEXSTF v. 31, n. 372, 2009, p. 226-231. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur169850/false. Acesso em: 28 abr. 2021. http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2313753 https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur169850/false 11 exercem atividade econômica. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos é prestadora de serviço público de prestação obrigatória e exclusiva do Estado, motivo por que está abrangida pela imunidade tributária recíproca: C.F., art. 150, VI, a. II. - R.E. conhecido em parte e, nessa parte, provido.”19 “Recurso extraordinário com repercussão geral. 2. Imunidade recíproca. Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. 3. Distinção, para fins de tratamento normativo, entre empresas públicas prestadoras de serviço público e empresas públicas exploradoras de atividade. Precedentes. 4. Exercício simultâneo de atividades em regime de exclusividade e em concorrência com a iniciativa privada. Irrelevância. Existência de peculiaridades no serviço postal. Incidência da imunidade prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal. 5. Recurso extraordinário conhecido e provido.”20 Conseguinte, ainda em relação as imunidades recíprocas, a constituição previu no art. 150, VI, o §3º que ela não se estende para aquelas figuras jurídicas da Administração Pública indireta que tenham o patrimônio, a renda e os serviços voltados à exploração de atividade economia que sejam regidas pelas normas aplicadas a empreendimentos privados, na medida em que essa atividade não constitui a prestação de um serviço público. Poderemos falar então, além das empresas públicas já citadas acima, as sociedades de economia mista. Apesar da regra do §3º do art. 150, VI da CF, o mesmo raciocínio da imunidade em relação as empresas públicas se aplica as sociedades de economia mista, contudo, considerando que elas podem prestar serviços públicos ou explorarem atividade econômica, a imunidade só abarcará os impostos que recaiam sobre o patrimônio, rendas ou serviço da sociedade de economia mista, quando ela prestar um serviço público essencial. Nesse sentido: “EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. SERVIÇO PÚBLICO DE ÁGUA E ESGOTO. APLICABILIDADE. 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal entende que a sociedade de economia mista prestadora de serviço público de água e esgoto é abrangida pela imunidade tributária recíproca, nos termos da alínea “a” do inciso VI do art. 150 da Constituição Federal. Precedentes. 2. Agravo regimental desprovido.”21 19 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário nº 407.099. Segunda Turma. Recorrente: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT. Recorrido: Município de São Borja. Relator(a): Min. Carlos Velloso. Julgado em 22/06/2004, publicado em 06/08/2004 - RJADCOAS v. 61, 2005, p. 55-60 LEXSTF v. 27, n. 314, 2005, p. 286-297. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur97113/false. Acesso em: 28 abr. 2021. 20 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário nº 601.392. Tribunal Pleno. Recorrente: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT. Recorrido: Município de Curitiba. Relator(a): Min. Joaquim Barbosa, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Gilmar Mendes, julgado mérito com repercussão geral em 28/02/2013, publicação do acórdão – repercussão geral (mérito) 05/06/2013. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur232292/false. Acesso em: 28 abr. 2021. 21 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Agravo em Recurso Extraordinário nº 631.309. Segunda Turma. Agravante: Município de São Paulo. Agravado: CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Relator(a): Min. Ayres Britto. Julgado em 27/03/2012, publicado em 26/04/2012. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur208235/false.Acesso em: 27 abr. 2021. https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur97113/false https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur232292/false https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur208235/false 12 “EMENTA DIREITO TRIBUTÁRIO. IPTU. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA. REQUISITOS. SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. SERVIÇOS PÚBLICOS. CONSONÂNCIA DA DECISÃO RECORRIDA COM A JURISPRUDÊNCIA CRISTALIZADA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO QUE NÃO MERECE TRÂNSITO. RECURSO MANEJADO EM 1º.6.2016. 1. O entendimento adotado pela Corte de origem, nos moldes do assinalado na decisão agravada, não diverge da jurisprudência firmada no Supremo Tribunal Federal, no sentido de que a imunidade tributária prevista na alínea “a” do art. 150, VI, da Constituição Federal alcança a sociedade de economia mista prestadora de serviço público essencial, sem caráter concorrencial. 2. As razões do agravo regimental não se mostram aptas a infirmar os fundamentos que lastrearam a decisão agravada. 3. Considerado o trabalho adicional realizado em grau recursal, majoro em 10% (dez por cento) os honorários anteriormente fixados, obedecidos os limites previstos no artigo 85, §§ 2º, 3º e 11, do CPC/2015. 4. Agravo regimental conhecido e não provido.”22 Um exemplo que podemos utilizar para destacar a clara diferenciação que podemos ter aqui em relação as sociedades de economia mista que prestam serviços públicos essenciais e as que exploram atividade econômica, é a Petrobras. Porquanto seja uma sociedade de economia mista, entidade da Administração Pública indireta, ela não é prestadora de uma atividade pública essencial, portanto, não goza da imunidade recíproca: “EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA (ART. 150, VI, A DA CONSTITUIÇÃO). IMÓVEL UTILIZADO PARA SEDIAR CONDUTOS DE TRANSPORTE DE PETRÓLEO, COMBUSTÍVEIS OU DERIVADOS. OPERAÇÃO PELA PETRÓLEO BRASILEIRO S.A. - PETROBRÁS. MONOPÓLIO DA UNIÃO. INAPLICABILIDADE DA SALVAGUARDA CONSTITUCIONAL. 1. Recurso extraordinário interposto de acórdão que considerou tributável propriedade imóvel utilizada pela Petrobrás para a instalação e operação de condutos de transporte de seus produtos. Alegada imunidade tributária recíproca, na medida em que a empresa- agravante desempenha atividade sujeita a monopólio. 2. É irrelevante para definição da aplicabilidade da imunidade tributária recíproca a circunstância de a atividade desempenhada estar ou não sujeita a monopólio estatal. O alcance da salvaguarda constitucional pressupõe o exame (i) da caracterização econômica da atividade (lucrativa ou não), (ii) do risco à concorrência e à livre-iniciativa e (iii) de riscos ao pacto federativo pela pressão política ou econômica. 3. A imunidade tributária recíproca não se aplica à Petrobrás, pois: 3.1. Trata-se de sociedade de economia mista destinada à exploração econômica em benefício de seus acionistas, pessoas de direito público e privado, e a salvaguarda não se presta a proteger aumento patrimonial dissociado de interesse público primário; 3.2. A Petrobrás visa a distribuição de lucros, e, portanto, tem capacidade contributiva para participar do apoio econômico aos entes federados; 3.3. A tributação de atividade econômica lucrativa não implica risco ao pacto federativo. Agravo regimental conhecido, mas ao qual se nega provimento.”23 22 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Agravo Regimental no Agravo em Recurso Extraordinário nº 944.558. Primeira Turma. Agravante: Município de Belo Horizonte. Agravado: Companhia Brasileia de Trens Urbanos. Relator(a): Min. Rosa Weber. Julgado em 09/08/2016, publicado em 20/09/2016. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur356373/false. Acesso em 27 abr. 2021. 23 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Agravo Regimental no Recurso Extraordinário nº 285.716. Segunda Turma. Agravante: Petróleo Brasileiro S/A – PETROBRÁS. Agravado: Município de Santos. Relator(a): Min. Joaquim Barbosa. Julgado em 02/03/2010, publicado em 26/03/2010. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur175052/false. Acesso em: 27 abr. 2021. https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur356373/false https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur175052/false 13 Nesse diapasão, é necessário destacar que a imunidade não alcança os serviços em que haja uma contraprestação ou pagamento de tarifas pelo usuário, e aqui podemos destacar as hipóteses da concessão de um serviço público. A empresa que executa o serviço público (concessionária) não será abarcada pela imunidade, uma vez que essa relação entre empresa e poder público, - pautada pela descentralização – existe por intermédio de um contrato administrativo, e porque essa relação se amolda exatamente a vedação prevista na segunda parte do §3º do art. 150, VI da CF. Por fim, no mesmo §3º, há a explicitação de que a imunidade recíproca não exonera o promitente comprador da obrigação de pagar imposto relativo ao imóvel objeto do contrato de promessa de compra e venda. Para Aliomar Baleeiro: “(...) a imunidade recíproca não beneficia particulares, terceiros que tenham direitos reais em bens das entidades públicas, nem créditos ou rendas de outrem contra tais entidades (...); não se estende, pelos mesmos fundamentos, aos serviços públicos concedidos, nem exonera o promitente comprador da obrigação de pagar impostos relativamente ao bem imóvel (art. 150, II, §§2º e 3º)”24 Firme nesse sentido a jurisprudência ao reconhecer que incide IPTU em relação ao imóvel cedido ou arrendado pela pessoa jurídica de direito público à de direito privado, inclusive sociedades de economia mista: “IPTU – BEM PÚBLICO – CESSÃO – PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PRIVADO. Incide o imposto Predial e Territorial Urbano considerado bem público cedido a pessoa jurídica de direito privado, sendo esta a devedora.”25 (Tema 437 de repercussão geral) “IMUNIDADE – SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA ARRENDATÁRIA DE BEM DA UNIÃO – IPTU. Não se beneficia da imunidade tributária recíproca prevista no artigo 150, inciso VI, alínea “a”, da Constituição Federal a sociedade de economia mista ocupante de bem público.”26 (Tema 385 de repercussão geral) Em relação a amplitude da imunidade recíproca no que tange aos próprios impostos, existe uma celeuma doutrinária que entende pela não aplicação da imunidade aos impostos indiretos quando o ente federativo está na posição de contribuinte de direito. Para a Professora 24 BALEEIRO Aliomar. Limitações Constitucionais ao poder de tributar. 8ª ed. Atualizada por Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 434. 25 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário nº 601.720. Tribunal Pleno. Recorrente: Município do Rio de Janeiro. Recorrido: Barrafor Veículos LTDA. Relator(a): Min. Edson Fachin. Relator(a) p/ Acórdão: Min. Marco Aurélio. Julgado mérito com repercussão geral em 19/04/2017, publicado acórdão – repercussão geral (mérito) em: 05/09/2017. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur372799/false. Acesso em: 27 abr. 2021. 26 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário nº 594.015. Tribunal Pleno. Recorrente: Petróleo Brasileiro S/A – Petrobras. Recorrido: Município de Santos. Relator(a): Min. Marco Aurélio. Julgado mérito com repercussão geral em 06/04/2017, publicado acórdão – repercussão geral (mérito) em: 25/08/2017. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur371969/false. Acesso em: 27 abr. 2021. https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur372799/false https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur371969/false 14 Regina Helena Costa, é indiscutível a aplicação da imunidade tanto aos impostos direto quanto aos direitos: “Desse modo, nenhum imposto poderá recair sobre o patrimônio, renda, ou serviços dessas pessoas. A imunidade recíproca, em nosso entender,abarca inclusive os chamados impostos indiretos, isto é, aqueles que comportam o fenômeno da repercussão econômica – IPI e ICMS -, porquanto o patrimônio desses entes, ainda que na qualidade de “contribuintes de fato”, deve ser preservado.”27 Há decisão colegiada do STF em relação a aplicação da imunidade recíproca quando o Município está na posição de contribuinte de fato, não se reconhecendo a aplicação da imunidade: “EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. IMUNIDADE PRETENDIDA PELO MUNICÍPIO NA CONDIÇÃO DE CONTRIBUINTE DE FATO. IMPOSSIBILIDADE. É pacífico o entendimento deste Supremo Tribunal Federal no sentido de que o município não pode ser beneficiário da imunidade recíproca nas operações em que figurar como contribuinte de fato. O repasse do ônus financeiro, típico dos tributos indiretos, não faz com que a condição jurídica ostentada pelo ente federativo na condição de sujeito passivo da relação jurídica tributária seja deslocada para a figura do consumidor da mercadoria ou serviço. Agravo regimental a que se nega provimento.”28 No mesmo sentido é o Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 671.412/SP, julgado pela segunda Turma do STF em 01/04/2008: “EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. TRIBUTÁRIO. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA PARA ILUMINAÇÃO PÚBLICA. ICMS. IMUNIDADE INVOCADA PELO MUNICÍPIO. IMPOSSIBILIDADE. 2. A jurisprudência do Supremo firmou-se no sentido de que a imunidade de que trata o artigo 150, VI, a, da CB/88, somente se aplica a imposto incidente sobre serviço, patrimônio ou renda do próprio Município. 3. Esta Corte firmou entendimento no sentido de que o município não é contribuinte de direito do ICMS, descabendo confundi-lo com a figura do contribuinte de fato e a imunidade recíproca não beneficia o contribuinte de fato. Agravo regimental a que se nega provimento.”29 Historicamente, essa é uma discussão dificílima na jurisprudência, tendo o STF mudado de posição por algumas vezes desde a década de 60 até meados de 2014: 27 COSTA, Regina Helena: Curso de Direito Tributário – Constituição de Código Tributário Nacional, 9ª Edição. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. Parte II – Capítulo 3.3.3.1 – E-PUB, não paginado. 28 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário com Agravo nº 758886, Primeira Turma. Recorrente: Município de Rochedo de Minas/MG. Recorrido: Estado de Minas Gerais. Relator(a): Min. Roberto Barroso, julgado em 09/04/2014, DJE 20/05/2014. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4429448. Acesso em: 27 mar. 2021. 29 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 671.412/SP. Segunda Turma. Agravante: PREFEITURA MUNICIPAL DA ESTÂNCIA BALNEÁRIA DE CARAGUATATUBA. Agravado: Estado de São Paulo. Relator: Min. Eros Grau, julgado em 01/04/2008, publicado em 25/04/2008 EMENT VOL-02316-11 PP-02262 RF v. 104, n. 399, 2008, p. 292-294. Disponível em http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2538112. Acesso em: 27 mar. 2021. http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4429448 http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=2538112 15 “Diante da análise jurisprudencial realizada nos julgados de 1969 até a presente data, percebe-se que o Egrégio Tribunal apresentou discordâncias históricas sobre o tema. No início (décadas de 60 e 70) dividia-se entre uma interpretação de cunho substancial e a ideia de que o contribuinte de fato era estranho à relação tributária, impossibilitando opor à forma jurídica a realidade econômica para excluir uma obrigação fiscal definida legalmente. Com o passar dos anos, o impasse ficou entre uma interpretação formalista, pela qual os impostos indiretos deveriam incidir, uma vez que o ônus seria suportado pelo contribuinte de fato; e uma interpretação substancial, que defendia a não incidência tributária. Por fim, hoje é adotado o posicionamente de que a imunidade sobre os impostos indiretos deve incidir quando a entidade for contribuinte de direito, ou seja, esta se torna imune nas operações de vendas de bens, prevalecendo a corrente doutrinária que considera a repercussão tributária na dimensão jurídica, e não na perspectiva econômica. Destarte, quando se tratar da aquisição de bens, não estará a entidade abarcada pelo instituto da imunidade tributária.”30 É interessante notar a sistematização da Constituição Federal quando traz o texto das imunidades recíprocas (art. 150, VI, “a”), e logo após complementa esse texto com os §§2º e 3º, em um, definindo a extensão dessa imunidade em relação a Administração Pública Indireta e a atividade prestada por suas entidades, e no outro, traz uma “exceção da exceção”, definindo as hipóteses em que a imunidade não será extensível. Diante de uma exegese de todas essas disposições acerca da imunidade recíproca, apenas o texto constitucional não clareia toda a situação, tendo a jurisprudência, como vimos acima, atuado para pacificar esse tema. Assim, é possível concluir que a imunidade recíproca é se não a mais, é uma das mais importantes imunidades que existem em nosso ordenamento jurídico-constitucional tributário, “Por apoiar-se em dois fundamentos de grave relevo”31, consagrando o princípio federativo do Estado Brasileiro e garantindo a autonomia de cada um dos entes. Imunidade de templos religiosos de qualquer culto As imunidades de templos religiosos de qualquer culto estão previstas no art. 150, VI, “b” da Constituição Federal. Conforme o texto dado pela carta maior, a União, Estados, Municípios e o Distrito Federal não podem instituir impostos sobre “templos de qualquer culto”. Como nos mostra o Professor Aliomar Baleeiro em sua obra, “Pelo art. 19, III, incisos b, c e d, da Constituição Federal de 1969, à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos 30 CAVALCANTE, Silva Matias. O ALCANCE DA IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA NOS IMPOSTOS INDIRETOS. Revista Digital Constituição e Garantia de Direitos, v. 8, n. 1, p. 65 - 85, 28 out. 2015. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/constituicaoegarantiadedireitos/article/view/8156. Acesso em: 27 mar. 2021. 31 COSTA, Regina Helena: Curso de Direito Tributário – Constituição de Código Tributário Nacional, 9ª Edição. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. Parte II – Capítulo 3.3.3.1 – E-PUB, não paginado. https://periodicos.ufrn.br/constituicaoegarantiadedireitos/article/view/8156 16 Municípios, é vedado instituir impostos sobre: -templos de qualquer culto;”32. Podemos então notar que a imunidade de impostos sobre templos de qualquer culto não foi uma novidade introduzida pelo constituinte originário de 1988, sendo adotada em constituições anteriores à atual. Para podermos compreender a opção do constituinte de 1988 e dos anteriores sobre o estabelecimento dessa imunidade, conforme Baleeiro, nossa análise “deve ser, sobretudo, compreendida em seus fundamentos jurídicos e em sua ratio essendi 33”.34 Inicialmente, considerando as disposições da nossa própria carta maior podemos ver que o Brasil é considerado um Estado laico, ou seja, tem a característica da laicidade. “A laicidade do Estado não significa, por certo, inimizade com a fé. Não impede a colaboração com confissões religiosas, em benefício do interesse público (CF, art. 19, I). A sistemática constitucional acolhe, expressamente, medidas de ação conjunta dos Poderes Públicos com denominações religiosas. É evidente que, nesses casos de colaboração, a instituição religiosa não perde a sua essência.”35 Em que pese o preâmbulo da nossa Constituição Federal asseverar que ela é promulgada “sob a proteção de Deus”, as disposições contidas no art. 5º, VI e art. 19, I, nos demonstram claramente que o Brasil é um Estado laico, o qual adotou uma clara separação entre Estado e “Igreja”/Religião, não permitindo que a segunda, influencie os rumos da primeira,se pautando inclusive pela liberdade religiosa. Neste diapasão, não se pode reconhecer a atividade religiosa como uma atividade estatal, contudo, é sem dúvidas uma atividade dotada de certo interesse público, vez que nossa Constituição permite e acolhe a manifestação de todo e qualquer tipo de religião. Ainda, outro fundamento para que seja concedida essa imunidade aos templos de qualquer culto, além da atividade de interesse público, é o fato de que elas não visam lucro ou qualquer espécie de direito individual privado, na medida em que, não haveria sentido teleológico na incidência de impostos em face da renda, patrimônio e serviços de instituições que não tem como intuito o lucro. Em certa medida, podemos dizer que isso inviabilizaria a continuidade dessa atividade. Some-se ao fato das “atividades que, em sua essência, não configuram exploração econômica, 32 BALEEIRO Aliomar. Limitações Constitucionais ao poder de tributar. 8ª ed. Atualizada por Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 499. 33 Em latim: “Uma razão para existir”. 34 BALEEIRO, Op. Cit. p. 500. 35 MENDES, Gilmar Ferreira e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet - Curso de direito constitucional. 15. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. Capítulo 4, II, 4.2. E-PUB, não paginado. 17 são despidas de capacidade contributiva.”36temos toda fundamentação jurídica e constitucional para a instituição da imunidade dos impostos sobre templos de qualquer culto. Gilmar Mendes argumenta com clareza acerca da convergência existente na adoção da laicidade do Estado e a amplitude de sua liberdade: “O reconhecimento explícito da liberdade religiosa pela Constituição, bem como as suas demais disposições em apoio e em proteção a práticas dessa ordem, revela haver o sistema jurídico tomado a religiosidade como um bem em si mesmo, como um valor a ser preservado e fomentado. Decerto que a liberdade importa também o direito de quem quer que seja de não aderir a alguma fé transcendental; mas, como concebido, o sistema constitucional não toma essa possibilidade como razão obstativa para que a ordem jurídica acolha positivamente a pluralidade de expressões religiosas dos demais. (...) O reconhecimento da liberdade religiosa decerto que contribui para prevenir tensões sociais, na medida em que, por ela, o pluralismo se instala e se neutralizam rancores e desavenças decorrentes do veto oficial a crenças quaisquer. O reconhecimento da liberdade religiosa também tem por si o argumento de que tantas vezes a formação moral contribui para moldar o bom cidadão.”37 Portanto, ao instituir a imunidade de impostos aos templos religiosos de qualquer culto vemos uma clara obediência do constituinte originário aos demais valores e princípios consagrados em nossa constituição. Conseguinte, nos importa entender a dimensão dessa imunidade e o conceito de “templo de qualquer culto”. A imunidade contempla a renda, patrimônio e serviços dos templos religiosos de qualquer culto, no entanto, o §4º do art. 150 da CF vem delimitar a incidência dessa imunidade, esclarecendo que “compreendem somente o patrimônio, rendas e serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas”. Conforme a jurisprudência do STF, a referida disposição deve ser interpretada tal como prevista na carta maior. “EMENTA: Recurso extraordinário. 2. Imunidade tributária de templos de qualquer culto. Vedação de instituição de impostos sobre o patrimônio, renda e serviços relacionados com as finalidades essenciais das entidades. Artigo 150, VI, "b" e § 4º, da Constituição. 3. Instituição religiosa. IPTU sobre imóveis de sua propriedade que se encontram alugados. 4. A imunidade prevista no art. 150, VI, "b", CF, deve abranger não somente os prédios destinados ao culto, mas, também, o patrimônio, a renda e os serviços "relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas". 5. O § 4º do dispositivo constitucional serve de vetor interpretativo das 36 BALEEIRO Aliomar. Limitações Constitucionais ao poder de tributar. 8ª ed. Atualizada por Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 500. 37 MENDES, Gilmar Ferreira e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Op. Cit 18 alíneas "b" e "c" do inciso VI do art. 150 da Constituição Federal. Equiparação entre as hipóteses das alíneas referidas. 6. Recurso extraordinário provido.”38 – grifo nosso Caso interessante chegou ao Supremo em relação a abrangência da imunidade em relação a um cemitério que constituía extensão da entidade de cunho religioso, instituído em anexo ao templo desde o Século XIX. Diante da peculiaridade, e na medida em que o referido cemitério foi considerado uma extensão da entidade de cunho religioso, ficou assentado o entendimento nos autos do RE 578.562, julgado pelo plenário do Supremo de que: “EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA. IPTU. ARTIGO 150, VI, "B", CB/88. CEMITÉRIO. EXTENSÃO DE ENTIDADE DE CUNHO RELIGIOSO. 1. Os cemitérios que consubstanciam extensões de entidades de cunho religioso estão abrangidos pela garantia contemplada no artigo 150 da Constituição do Brasil. Impossibilidade da incidência de IPTU em relação a eles. 2. A imunidade aos tributos de que gozam os templos de qualquer culto é projetada a partir da interpretação da totalidade que o texto da Constituição é, sobretudo do disposto nos artigos 5º, VI, 19, I e 150, VI, "b". 3. As áreas da incidência e da imunidade tributária são antípodas. Recurso extraordinário provido.”39 – grifo nosso Quando falamos do patrimônio e da finalidade essencial, uma situação que se mostra bem clara na jurisprudência é a do recebimento de alugueres pela igreja, de eventuais imóveis que foram alugados. Se esses alugueres estiverem sendo revertidos à finalidade essencial do templo, estarão abrangidos pela imunidade do art. 150, VI, b da Constituição Federal: “EMENTA: Recurso extraordinário. 2. Imunidade tributária de templos de qualquer culto. Vedação de instituição de impostos sobre o patrimônio, renda e serviços relacionados com as finalidades essenciais das entidades. Artigo 150, VI, "b" e § 4º, da Constituição. 3. Instituição religiosa. IPTU sobre imóveis de sua propriedade que se encontram alugados. 4. A imunidade prevista no art. 150, VI, "b", CF, deve abranger não somente os prédios destinados ao culto, mas, também, o patrimônio, a renda e os serviços "relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas". 5. O § 4º do dispositivo constitucional serve de vetor interpretativo das alíneas "b" e "c" do inciso VI do art. 150 da Constituição Federal. Equiparação entre as hipóteses das alíneas referidas. 6. Recurso extraordinário provido.”40 A exegese realizada em relação ao termo “templo de qualquer culto” nos permite inferir que literalmente qualquer religião assim considerada, diante das conceituações já 38 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário nº 325.822/SP, Tribunal Pleno. Recorrente: Mitra Diocesana de Jales e Outras. Recorrido: Prefeito Municipal de Jales. Relator: Min. Ilmar Galvão, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/12/2002, DJ 14/05/2004. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=1971437. Acesso em: 27. mar. 2021. 39 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário nº 578.562. Tribunal Pleno. Recorrente: Sociedade da Igreja de São Jorge e Cemitério Britânico. Recorrido: Município de Salvador. Relator(a): Min. Eros Grau. Julgado em 21/05/2008, publicado em 12/09/2008. LEXSTF v. 30, n. 358, 2008, p. 334-340. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=547393. Acesso em: 27 abr. 2021. 40 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário nº 325.822. Tribunal Pleno. Recorrentes: Mitra Diocesana de Jales e Outras. Recorrido: Prefeito Municipalde Jales. Relator(a): Min. Ilmar Galvão. Relator(a) p/ Acórdão: Min. Gilmar Mendes. Julgado em 18/12/2002, publicado em 14/05/2004. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur96910/false. Acesso em: 27 abr. 2021. http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=1971437 http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=547393 https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur96910/false 19 expostas aqui, das quais se sobressaem as características de: (I) atividade de interesse público e o (II) fato de que elas não visam lucro ou qualquer espécie de direito individual privado, estarão abarcadas pela imunidade. Conforme a obra de Aliomar Baleeiro, seguindo a jurisprudência do Supremo, “Não repugna à Constituição inteligência que equipare ao templo – imóvel – também a embarcação, o veículo, o vagão ou o avião usado como templo móvel, exclusivamente para a prática do culto.”41 Para Gilmar Mendes: “A palavra “templo”, no dispositivo, designa o local onde se pratica toda manifestação organizada de religiosidade, ainda que não seja um prédio. A proteção é válida para qualquer religião licitamente praticada. O Estado é laico: nenhuma religião é acolhida, mas todas são respeitadas. Protege-se aqui a livre manifestação de religiosidade.”42 Interessante ponto acerca da destinação da renda, patrimônio e serviço do templo é que conforme a jurisprudência do STF43 e do STJ, milita uma presunção relativa dessa destinação, cabendo a Administração Pública provar a tredestinação a qual acarreta a exclusão da imunidade: “Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. TRIBUTÁRIO. IPTU. IMUNIDADE. TEMPLO DE QUALQUER CULTO. DESTINAÇÃO DO IMÓVEL. ANÁLISE DE LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCINAL E INCURSÃO NO ACERVO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. SÚMULA Nº 279 DO STF. INCIDÊNCIA. 1. A imunidade do IPTU deferida aos templos de qualquer culto, quando controversa a comprovação da finalidade do imóvel, não enseja o cabimento de recurso extraordinário, por demandar a análise da legislação infraconstitucional, bem como, a incursão no acervo fático- probatório dos autos. Precedentes: AI 595.479-AgR, Rel. Min. Ayres Britto, Primeira Turma, DJe 6/8/2010, e AI 651.138-AgR, Rel. Min. Eros Grau, Segunda Turma, DJe 17/8/2007. (...). 4. In casu, o acórdão recorrido assentou: “Direito Tributário. Imunidade de templos religiosos (art. 150, VI, “b” da Constituição Federal). Agravo interno contra decisão que reconheceu a imunidade do imóvel da demandante. Irregularidade da representação que pode ser sanada a qualquer tempo, ratificando-se os atos anteriormente praticados, segundo jurisprudência pacífica do STJ e TJRJ. Imunidade tributária que deve ser reconhecida. De acordo com a jurisprudência mais recente do STF e STJ, milita presunção relativa de que os imóveis da entidade religiosa seriam destinados às finalidades essenciais da instituição (art. 150, § 4º da 41 BALEEIRO Aliomar. Limitações Constitucionais ao poder de tributar. 8ª ed. Atualizada por Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 503 42 MENDES, Gilmar Ferreira e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet - Curso de direito constitucional. 15. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. Capítulo 4, II, 4.2. E-PUB, não paginado. 43 Nesse sentido: BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Agravo Regimental em Agravo no Recurso Extraordinário nº 800.395. Primeira Turma. Recorrente: Igreja Cristã Maranata (...). Recorrido: Município de Serra. Relator(a): Min. Roberto Barroso. Julgado em 28/10/2014, publicado em 14/11/2014. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur284702/false. Acesso em: 27 abr. 2021. https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur284702/false 20 Constituição), sendo ônus do ente federativo provar eventual desvio de finalidade. Recurso desprovido.” 5. Agravo regimental DESPROVIDO.”44 – grifo nosso Ainda, é de se pontuar o entendimento do STF acerca da imunidade em tela e sua não aplicação em relação a maçonaria. Em mais de uma ocasião o Supremo enfrentou essa discussão se tornando uma jurisprudência consolidada de que a maçonaria não está abrangida pelo conceito de “religião” pois nas lojas maçônicas não se professar “nenhuma fé” e assim, as lojas maçônicas não gozam dessa imunidade: “Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO MANDADO DE INJUNÇÃO. DIREITO CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA. ARTIGO 150, VI, “B”, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. TEMPLOS DE QUALQUER CULTO. MAÇONARIA. INEXISTÊNCIA DE IMPOSIÇÃO CONSTITUCIONAL EXPRESSA DO DEVER DE LEGISLAR. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. O mandado de injunção ostenta a função precípua de viabilizar o exercício de direitos, de liberdades e de prerrogativas diretamente outorgados pelo constituinte, no afã de impedir que a inércia do legislador frustre a eficácia de hipóteses tuteladas pela Lei Fundamental. 2. O mandado de injunção reclama uma necessária correlação entre a imposição constitucional de legislar e o consequente reconhecimento do direito público subjetivo à legislação. Precedentes: MI 6.591 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, Tribunal Pleno, DJe de 30/6/2016 e MI 766 AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, DJe de 13/11/2009 3. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal predica que a referência a “templos de qualquer culto” na alínea “b”, inciso VI, do art. 150, da Constituição Federal, não alcança a maçonaria. Precedentes: RE 562.351, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, DJ de 14/12/2012, ARE 866.402 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, Segunda Turma, DJe de 20/4/2015, e MI 6.631 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, DJe de 9/5/2019. 4. A concessão da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “b”, da Constituição Federal não se aplica aos templos maçônicos, o que torna incabível a imputação de omissão legislativa e, consectariamente, a utilização adequada do remédio injuncional. 5. Nego provimento ao agravo regimental.”45 – grifo nosso Por fim, em termos jurisprudenciais, há o mesmo entendimento do STF no que tange aos impostos indiretos e se a imunidade os abrange ou não: “AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO TRIBUTÁRIO. ICMS. CONTRIBUINTE DE FATO. IGREJAS E TEMPLOS DE QUALQUER CULTO. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA. INAPLICABILIDADE. 1. Nos termos da jurisprudência do STF, a imunidade tributária subjetiva não afasta a incidência de tributos sobre operações em que as entidades imunes figurem como contribuintes de fato, sendo irrelevante para a verificação da existência do beneplácito 44 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Agravo Regimental no Recurso Extraordinário com Agravo nº 841.212/RJ, Primeira Turma. Recorrente: Município do Rio de Janeiro. Recorrido: IGREJA TABERNÁCULO EVANGÉLICO DE JESUS. Relator(a): Min. Luiz Fux, julgado em 18/11/2014, publicado em 09/12/2014. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4644849. Acesso em: 27 mar. 2021. 45 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Agravo Regimental no Mandado de Injunção nº 7069/SP, Tribunal Pleno. Impetrante: TOSHINOBU TASOKO. Impetrado: CONGRESSO NACIONAL. Relator(a): Min. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020, publicado em 12/05/2020. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5604980. Acesso em: 27 mar. 2021. http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4644849 http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5604980 21 constitucional a repercussão econômica do tributo envolvido. Tema 342 da repercussão geral. ADI 5816. 2. Agravo regimental a que se nega provimento.”46 Vemos que em impostos “indiretos”, estão contidos o IPI e o ICMS, mas o Supremo entende que o ICMS-Importação está agasalhado pela imunidade, desde que o bem se destine à finalidade essencial, atendendo ao requisito do §4º do art. 150 da CF: “AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.DIREITO TRIBUTÁRIO. ICMS IMPORTAÇÃO. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA. CONTRIBUINTE DE DIREITO. IGREJAS E TEMPLOS DE QUALQUER CULTO. REEXAME DE FATOS. IMPOSSIBILIDADE. 1. Nos termos da jurisprudência do STF, a imunidade tributária religiosa abrange o ICMS importação, desde que comprovado que os bens se destinam à finalidade essencial da entidade. 2. É inadmissível o recurso extraordinário quando eventual divergência em relação ao entendimento adotado pelo Colegiado de origem demandar o reexame do conjunto fático probatório dos autos. Súmula 279 do STF. Precedentes. 3. Agravo regimental a que se nega provimento.”47 Particularmente, essa imunidade não é uma “bizarrice” que muitos popularmente bordam. Diante dos preceitos estabelecidos pela Constituição, há uma razão de ser nela, ou como dito pelo Professor Aliomar Baleeiro, uma “ratio essendi”. A laicidade do Estado é um valor fundamental para o reconhecimento de uma sociedade que se mostre pronta a evoluir, e essa imunidade traz uma ferramenta apta a garantir esse valor do Estado Brasileiro. A crítica aqui reside na própria utilização dessa imunidade por quem professa a fé, e na vigilância do poder público acerca da sua utilização. Não raras vezes vemos a utilização dessa imunidade para obter vantagens pessoais, principalmente por pessoas de religiões famosíssimas. A fiscalização do Poder Público nesses âmbitos deveria ser maior, não com o objetivo de “perseguir” as religiões, mas sim de garantir a verdadeira efetividade dessa imunidade . Imunidades dos partidos políticos, suas fundações e outras figuras. A Imunidade prevista no art. 150, VI, “c” da Constituição Federal abarca, conforme o texto constitucional e desde que preenchidos os requisitos legais: os partidos políticos e suas 46 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Agravo Regimental em Recurso Extraordinário nº 1.240.154/RJ. Segunda Turma. Recorrente: ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Recorrido: Igreja Evangélica Congregacional Nova Aliança. Relator(a): Min. Edson Fachin, julgado em 15/04/2020, publicado em 19/05/2020. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5793394. Acesso em: 27 mar. 2021. 47 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Agravo Regimental em Recurso Extraordinário com Agravo nº 1.244.093/SP. Segunda Turma. Recorrente: ESTADO DE SÃO PAULO. Recorrido: Igreja Universal do Reino de Deus. Relator(a): Min. Edson Fachin, julgado em 15/05/2020, publicado em 17/06/2020. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5810213. Acesso em: 27 mar. 2021. http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5793394 http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5810213 22 fundações, as entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, e essas duas últimas, desde que não tenham fins lucrativos. Essa é a terceira e última imunidade caracterizada como “subjetiva” dentre as imunidades genéricas, objeto do presente trabalho. Antes de adentrarmos cada uma das figuras beneficiadas pela imunidade, é mister definirmos algumas bases orientadoras da caracterização dessa imunidade. A primeira é que cada uma das figuras seja formal e materialmente reconhecida como tal, ou seja, inicialmente, para desfrutar da imunidade, a figura jurídica que surge deve preencher os requisitos previstos na constituição para ser um partido político, uma entidade sindical, uma instituição de educação ou de assistência social sem fins lucrativos. Dessa forma, cada figura deve preencher estritamente os requisitos do art. 17 da Constituição, se for um partido político; do art. 8º se for uma entidade sindical de trabalhadores; e no que se refere as instituições de assistência social e de educação, é necessário a observância dos artigos 203/204 e 205 ao 214 da carta magna. Tal como em relação aos “templos de qualquer culto”, essa imunidade estará estritamente limitada ao patrimônio, rendas e serviços que estejam ligados a finalidade essenciais dos sujeitos imunes. Além disso, a constituição prevê que a imunidade só será reconhecida quando “atendidos os requisitos da lei”. Por um tempo existiu celeuma jurisprudencial e doutrinária acerca da lei que poderia instituir os requisitos para fruição da imunidade, se apenas complementar ou ordinária e complementar. Interessante é que a própria Constituição resolve essa questão em seu art. 146, II ao dizer que “cabe a lei complementar: (...) II – regular as limitações constitucionais ao poder de tributar.”. Nesse sentido, decidiu o Supremo com a fixação de tese em sede de repercussão geral48: “IMUNIDADE – DISCIPLINA – LEI COMPLEMENTAR. Ante a Constituição Federal, que a todos indistintamente submete, a regência de imunidade faz-se mediante lei complementar.”49 E tais requisitos (para fruição da imunidade) estão previstos no art. 14 do Código Tributário Nacional (Lei nº 5.172/66), esse que foi recepcionado pela Constituição de 1967 48 Destaca-se que houve oposição de embargos de declaração com acolhimento parcial do plenário do Supremo Tribunal Federal, com a modificação da Tese fixada somente no que tange ao texto dela, não alterando o entendimento fixado pelo Acórdão referido. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur423347/false. Acesso em: 30 mar. 2021. 49 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Recurso Extraordinário nº 566.622/RS com repercussão geral. Tribunal Pleno. Recorrente: SOCIEDADE BENEFICENTE DE PAROBÉ. Recorrido: UNIÃO. Relator(a): Min. Marco Aurélio, mérito julgado em 23/02/2017, publicado em 23/08/2017. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur371856/false. Acesso em: 27 mar. 2021. https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur423347/false https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur371856/false 23 como lei complementar e manteve seu status com o advento da Constituição de 1988. Ainda, o Inciso I do referido artigo teve seus contornos mais bem definidos pela Lei complementar nº 104/01. Nessa toada, o art. 14 do CTN e seus Incisos I e II definem que as figuras do art. 150, VI, “c” da CF (que são as mesmas do art. 9º, IV do CTN), para poderem gozar da imunidade de impostos sobre sua renda, patrimônio e serviços, devem atender dois requisitos essenciais: “não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título” e “aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção de seus objetivos institucionais”. Ora, uma análise detida dessas exigências nos demonstra com clareza que são substancialmente as mesmas exigidas pela constituição! Os partidos políticos e as entidades sindicais trabalhistas por si só já não possuem finalidade lucrativa, e a CF determina que as instituições de educação e assistência social não podem ter fim lucrativo para gozarem da imunidade, além disso, o §4º do art. 150 da Constituição determina que essa vedação compreende “somente o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais nela mencionadas”. A Professora Regina Helena Costa aduz sobre: “As exigências contidas nos incisos I e II do art. 14, CTN, versam exatamente sobre o requisito da ausência de finalidade lucrativa, posto constitucionalmente. A não distribuição de qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas a qualquer título caracteriza a ausência de finalidade lucrativa, mas não se confunde com a existência de lucro, necessário e mesmo indispensável para a melhor realização de seus fins. Observe-se, ainda, que a exigência de que o patrimônio, a renda e os serviços da entidade estejam relacionados com as finalidades essenciais foi “constitucionalizada”, a teor do disposto no art. 150, § 4º, CR. Já a exigência inserta no inciso III do mesmo comando legal reporta-se a dever instrumental tributário, instituído com vista a assegurar o controle da fruição do benefício.”50 Outro aspectogeral acerca de tal imunidade é que ela independe totalmente de qualquer decisão administrativa para sua fruição. Como já dissemos, uma vez preenchidos os requisitos para ser um partido político, uma entidade sindical de trabalhadores, uma instituição de educação ou assistência social sem fins lucrativos, já operará a imunidade. “(...) tratando-se de tema constitucional, sobre o qual mesmo o legislador infraconstitucional pouco pode interferir (somente para conter a eficácia da norma, estabelecendo requisitos a serem atendidos pelos sujeitos beneficiados, quando assim autorizado), não se permite ao administrador fiscal outorgar, suspender ou indeferir a aplicação da imunidade. Ou ela se aplica, por se adequar a situação de fato à hipótese constitucional e por atendidos os requisitos legais, se postos, nada mais restando à Administração Fiscal senão declará-la, ou não se aplica, por não ter ocorrido a subsunção da situação de fato à norma constitucional ou por não terem sido cumpridas as exigências legais. 50 COSTA, Regina Helena: Curso de Direito Tributário – Constituição de Código Tributário Nacional, 9ª Edição. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. Parte II – Capítulo 3.3.3.3 – E-PUB, não paginado. 24 Logo, não fica vinculado a qualquer atuação administrativa o direito à fruição da imunidade – pelo que, se, por deficiência de fiscalização, a autoridade administrativa não “suspender o benefício” de ente que não venha cumprindo os requisitos constitucionais ou legais, não será ele imune, ainda que não haja decisão administrativa a respeito.”51 No que se refere a imunidade dos partidos políticos, sua “ratio essendi” encontra guarida nos direitos de liberdade consagrados na carta magna, que incluem os direitos políticos, assim como o pluralismo partidário. Logo, vemos que a ideia dessa imunidade é o fomento da pluralidade partidária a fim de garantir uma diversidade de pensamento político no Estado Brasileiro. O Professor Aliomar Baleeiro os define como “instrumentos de governo”, entidades fundadas e mantidas exclusivamente para fins públicos, como órgãos imediatos e complementares da organização estatal”52 Em relação as entidades sindicais de trabalhadores, o fundamento para que sejam abarcados pela imunidade é o teleologismo dessa figura jurídica dentro de nosso ordenamento, consubstanciada em seu papel de defender os interesses difusos e coletivos da categoria de trabalhadores à que se destina, nos termos do art. 8º, III da Constituição. Destaca-se nesse mesmo contexto a importância do papel que as entidades sindicais de trabalhadores tem na CF, podendo denunciar irregularidades ou ilegalidades para o Tribunal de Contas da União (art. 74, §2º da CF) e propor ação direta de inconstitucionalidade (art. 103, IX da CF). Ressalta-se por oportuno nesse ponto que ambos os sujeitos acima citados já naturalmente não podem ter o intuito lucrativo, motivo pelo qual a Constituição não precisou prever a “ausência de fins lucrativos” para eles. Diferentemente do que ocorre com as instituições de educação e assistência social. E nesse ponto, é necessário fazer uma diferenciação do que é “cobrar pelos serviços” e de buscar o lucro. O Professor Baleeiro assevera nesse tema que: “(...) uma instituição de educação ou de assistência social não precisa revestir a forma jurídica de fundação. Além de fundação, ela poderá ser ainda uma associação ou sociedade civil sem fins lucrativos, conforme dispõem o Código Civil Brasileiro.” Além disso, a instituição, em especial àquela autossustentada, pode cobrar pelos serviços prestados. Inexiste qualquer proibição nesse sentido, no art. 14 do CTN. Mas a instituição precisa ser non profits, ou seja, não deve perseguir interesses econômicos, almejando a distribuição de lucros, como remuneração a seus investidores. Ainda que obtenha resultados positivos, renda no sentido de superávits, a instituição deverá 51 Ibidem. 52 BALEEIRO Aliomar. Limitações Constitucionais ao poder de tributar. 8ª ed. Atualizada por Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2010. P. 564 25 reverter todo o excedente apurado a seus próprios objetivos, jamais permitir a apropriação privada por seus sócios, fundadores ou diretores.”53 “(...)não é a ausência de lucro que caracteriza uma entidade sem fins lucrativos, visto que o lucro é relevante e mesmo necessário para que a mesma possa continuar desenvolvendo suas atividades. O que está vedado é a utilização da entidade como instrumento de auferimento de lucro por seus dirigentes, já que esse intento é buscado por outro tipo de entidade – qual seja, a empresa.”54 Baleeiro ainda cita a histórica jurisprudência do Supremo no julgamento do RE nº 202.700-6-DF (DJ, 01.03.2002), de Relatoria do Ministro Sepúlveda Pertence. O fundamento dessa abrangência da referida imunidade encontra base no fato de que as instituições em um geral exercem atividades próprias do Estado, sendo “pessoas de direito privado que exercem, sem fim lucrativo, atividades de colaboração com o Estado em funções cujo desempenho é, em princípio, atribuição deste.”55 E nessa medida, “Objetiva-se, assim, impedir sejam tais entidades oneradas por via de impostos.”56 Tanto as instituições de educação quanto as de assistência social, como já dito, para serem agasalhadas pela imunidade não podem ter finalidade lucrativa. Considerando que elas praticam atividades de interesse público, eminentemente previstas constitucionalmente como por exemplo, “a educação, o acesso à cultura, a assistência social”57, o constituinte originário decidiu outorgar a elas imunidade de impostos para evitar a oneração de suas atividades. A jurisprudência do STF também já se manifestou sobre a abrangência da imunidade em relação aos impostos indiretos, adotando o mesmo entendimento relativo as imunidades recíprocas, ao entender que: “IMPOSTO SOBRE CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS E SERVIÇOS – IMUNIDADE. A imunidade prevista no artigo 150, inciso VI, alínea c, da Constituição Federal, a impedir a instituição de impostos sobre patrimônio, renda ou serviços das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, beneficia o contribuinte de direito, não alcançando o de fato. Precedente: recurso extraordinário nº 608.872/MG, julgado no 53 BALEEIRO Aliomar. Limitações Constitucionais ao poder de tributar. 8ª ed. Atualizada por Misabel Abreu Machado Derzi. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 532 e 533 54 COSTA, Regina Helena: Curso de Direito Tributário – Constituição de Código Tributário Nacional, 9ª Edição. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. Parte II – Capítulo 3.3.3.3.3 – E-PUB, não paginado. 55 Ibidem. 56 COSTA, Regina Helena: Curso de Direito Tributário – Constituição de Código Tributário Nacional, 9ª Edição. São Paulo: Saraiva Educação, 2019. Parte II – Capítulo 3.3.3.3.3 – E-PUB, não paginado. 57 Ibidem. 26 Pleno sob o ângulo da repercussão geral, relator ministro Dias Toffoli, acórdão publicado no Diário da Justiça de 27 de setembro de 2017.”58 No mesmo contexto, há um julgamento em trâmite no STF, mas esse em relação ao IOF incidente nas aplicações financeiras de curto prazo realizadas pelos sujeitos da imunidade prevista no art. 150, VI, “c” da Constituição. Em 2010 foi admitida repercussão geral que originou o Tema 328 do STF, com o julgamento ainda não concluído. Por fim, é de se ressaltar que essa imunidade subjetiva, no olhar da jurisprudência tem uma ligação tão intrínseca a sua finalidade, conforme determina o §4º do art. 150 da CF, que foi editada a Súmula 724 do Supremo Tribunal Federal. Nela, podemos ver que o pretório excelso decidiu de uma vez por todas que “Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, "c", da Constituição, desde
Compartilhar