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Evolução do pensamento geográfico

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COMPONENTE CURRICULAR: Conceitos Básicos de Geografia 
Professora Gisele Costa 
 
 
SUMÁRIO 
 
CAPÍTULO 1: BASES E CONCEITOS DA GEOGRAFIA 
 
1. 1 A Origem e o desenvolvimento da Geografia 
1.2 A História e evolução do Pensamento Geográfico 
 
CAPÍTULO 2: CATEGORIAS DE ANÁLISE GEOGRÁFICA: ESPAÇO, REGIÃO, 
TERRITÓRIO, PAISAGEM E LUGAR 
 
2.1 O espaço e as correntes do pensamento geográfico 
2.2 Região: discussão conceitual 
2.3 Território e territorialidade 
2.4 A paisagem e o lugar na perspectiva geográfica 
 
CAPÍTULO 3: TERRITORIALIDADES, REDES E FLUXOS GEOGRÁFICOS 
 
3.1 Escala e análise espacial 
3.2 Redes e fluxos geográficos 
 
 
 
 
 
 
Apresentação da Disciplina 
Prezado(a) cursista, seja bem vindo(a)! 
É preocupante a desconsideração, de um bom número de geógrafos, no que se 
refere à correta utilização dos métodos e teorias da Geografia. Isso fica claro nos 
equívocos que margeiam, por exemplo, usos incorretos, aversão e até mesmo a 
total falta de uso das categorias de análise geográficas e as principais correntes do 
pensamento geográfico, que são importantes elementos metodológicos utilizados na 
operacionalização da teoria geográfica. 
Assim, o componente curricular Conceitos Básicos de Geografia pretende 
favorecer a significação dos conceitos estruturantes da Geografia, com a 
possibilidade de sua correta utilização na leitura e interpretação dos fenômenos 
geográficos em suas diversas escalas de análise. 
O objetivo geral do componente curricular é analisar a importância do conhecimento 
dos conceitos estruturantes da Ciência Geográfica, seus métodos de análise 
utilizados no estudo da organização espacial, bem como o instrumental teórico e os 
conhecimentos sobre a história desta área científica, favorecendo a construção e o 
entendimento no/do espaço geográfico contemporâneo, caracterizado pelo território 
das redes, das velocidades, da multicentralidade e das mudanças decorrentes 
destes aspectos. 
A leitura desse material, bem como a pesquisa a outras fontes de informação, 
oportunizará a reflexão e compreensão de conceitos-chave da ciência geográfica 
para a teorização e entendimento do mundo no qual estamos inseridos. 
Aproveite a leitura! 
Profa. Gisele Costa 
 
 
 
 
CAPÍTULO 1: Bases e conceitos da Geografia 
 
1.1 A Origem e o desenvolvimento da Geografia 
Obs. 
A Geografia é a ciência que estuda o “espaço da sociedade humana, onde os 
homens e as mulheres vivem e, ao mesmo empo, produzem modificações que o 
(re)constroem permanentemente” (VESENTINI. Disponível em: 
http://www.geocritica.com.br/). Assim, para analisarmos o objeto de estudo da 
Geografia, que é o espaço geográfico, precisamos compreender as suas categorias 
de análise, quais sejam: o espaço geográfico, o lugar, a paisagem, a região, o 
território, as redes, a natureza, dentre outras. 
As categorias de análise são expressões, palavras ou conceitos às quais se atribui 
dimensão filosófica, ou seja, "produzem significado basicamente não de uso coletivo, 
mas do sentido que adquirem no contexto de sistemas de pensamento 
determinados" (GENRO FILHO, 1986, p.38). 
Como área do conhecimento que, desde que tornou-se ciência autônoma, a partir do 
século XIX, buscou sempre manifestar ou sua preocupação com a busca da 
compreensão da relação dos seres humanos com o meio (entorno natural). Tal 
busca fez com que a Geografia se diferenciasse das demais ciências, 
individualizadas em Ciências Naturais e Sociais de acordo com as suas 
classificações e objetos de estudos. Essa visão de síntese, que marca o atual 
paradigma sistêmico (CAPRA, 1996), torna tal ciência privilegiada na busca do 
entendimento das questões socioambientais contemporâneas, ainda que durante a 
modernidade, o modelo da racionalidade tenha separado, dividido o conhecimento, 
com a ruptura entre as ciências naturais e as ciências sociais, onde, inclusive a 
Geografia, fragmentou-se em Geografia Física e Humana, sem a devida interlocução 
entre as duas. 
O espaço geográfico é resultado do processo histórico no qual a sociedade imprime 
paulatinamente as suas marcas. “São as práticas espaciais, isto é, um conjunto de 
ações espacialmente localizadas que impactam diretamente sobre o espaço, 
alterando-o no todo ou em sua parte ou preservando-o em suas formas e interações 
espaciais” (CÔRREA, 2002, p. 36). 
Para Milton Santos, o espaço geográfico pode ser definido como “um sistema de 
objetos e um sistema de ações” (SANTOS, 1996, p. 63), que 
É formado por um conjunto indissociável, solidário e também 
contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não 
considerados isoladamente, mas como um quadro único na 
qual a história se dá. No começo era a natureza selvagem, 
formada por objetos naturais, que ao longo da história vão 
sendo substituídos por objetos fabricados, objetos técnicos, 
mecanizados e, depois cibernéticos fazendo com que a 
natureza artificial tenda a funcionar como uma máquina. 
(SANTOS, 1996, p. 64). 
É importante salientar que na elaboração do conceito de espaço geográfico está 
presente, de forma inconfundível, a expressão de diferentes categorias de análise. 
Assim, é importante refletir sobre como a Geografia construiu e ainda constrói estas 
categorias de análise na concepção do conceito mais abrangente que é o de espaço 
geográfico. 
Antes de nos aprofundarmos em tais categorias, vamos discutir, ainda que de forma 
sucinta, a origem e desenvolvimento da Geografia. 
Desde a antiguidade, os povos primitivos possuíam uma cultura, um modo de vida 
impregnadas de idéias geográficas, transmitidas de geração em geração através da 
tradição oral, de desenhos e de pinturas em rochas. Por exemplo, entre 3800 e 2400 
AC os babilônios produziram um mapa, considerado hoje o mais antigo que se tem 
conhecimento. Representando a região da Mesopotâmia, mais especificamente o rio 
Eufrates e adjacências, foi sulcado em barro e cozido posteriormente, com 
dimensões de 7X8cm. 
 
 
 
 
 
Figura X - O mapa de Ga-Sur, feito na Babilônia, representando provavelmente o 
vale do rio Eufrates. 
Fonte: GEOMUNDO. Disponível em <http://www.geomundo.com.br/geografia-
30174.htm>Acesso em 12.11.2011. 
 
As sociedades primitivas viviam da coleta, da caça e posteriormente, da agricultura 
primitiva, entrando assim, em contato com a natureza, dela retirando o que 
necessitavam para a sua subsistência. Com isso, a natureza era alterada pela ação 
humana, ainda que de modo insipiente. 
Tal ação foi acumulando o conhecimento geográfico pelas antigas sociedades: áreas 
fluviais e costeiras mais piscosas, mecanismos das estações e a relação com as 
migrações de de animais silvestres ou de safras, a exemplo das migrações 
empreendidas pela sociedades indígenas no nordeste brasileiro na “colheita do caju” 
na época de sua safra, antes da dominação portuguesa em seu território. Vale 
lembrar que a religiosidade praticada pois grupos sociais associava os fenômenos 
da natureza e os astros com a ideia de divindade. 
Tais conhecimentos de ordem prática e também mística concorreram para lançar as 
sementes de uma área do conhecimento que futuramente seria denominada 
Geografia. 
Na antiguidade oriental, houve o expressivo desenvolvimento do conhecimento 
empírico da Geografia, além da observação e estudos matemáticos dos astros que 
auxiliaram no conhecimento sistemático do mundo. 
Por exemplo, as antigas civilizações do Egito e da Mesopotâmia realizaram estudos 
sobre os rios Nilo, Tigre e Eufrates, com o objetivo de conhecer os seus regimes 
hídricos e as possíveis áreas a serem cultivadas ao longo do ano, com a 
consequente produção de alimentos. 
Com o acúmulo de conhecimentos e desenvolvimento técnico de tais sociedades, 
os excedentes geraram o consequente desenvolvimento do comércio, com a 
intensificação de trocas comerciais entre os povos. Com isso, a navegação também 
se aprimorou, e houve a intensificaçãoda mesma no mar Mediterrâneo e no mar 
Vermelho, com o surgimento de novos núcleos colonais, guerras pela dominação de 
rotas comerciais e de dominação política e econômica dos povos em ascensão. 
As ideias geográficas ao lado de outras ciências se desenvolveram a partir de 
conhecimentos práticos de exploração dos vários rincões da Terra e das 
observações empreendidas pelos viajantes, concomitante a sistematização de 
pensadores, filósofos e matemáticos. 
Foi com os gregos que teve início a história do pensamento geográfico. Sabe-se que 
a cultura da Grécia antiga foi a primeira cultura conhecida a explorar de forma ativa 
a Geografia como ciência e filosofia. Tales de Mileto, Heródoto, Eratóstenes, 
Hiparco, Aristóteles, Estrabão e Ptolomeu, são os primeiros nomes de destaque nos 
estudos geográficos. 
Os gregos aprenderam muito com a cultura da Mesopotâmia, aprenderam a 
reconhecer o movimento da Lua ao redor do planeta e a dividir o ano de acordo com 
tal movimentação, a distinguir planetas das estrelas, a identificar vários planetas, 
além dos estudos de geometria, que auxiliaram no estabelecimento das dimensões 
do planeta Terra. 
Dedicaram-se à navegação pelo mediterrâneo, estabelecendo contato com outros 
povos, o que concorreu para a ampliação do conhecimento geográfico e também 
para a difusão de sua cultura até o mar Cáspio e a Índia. Os escritores gregos 
fizeram várias descrições geográficas, Estrabão escreveu uma obra com 17 volumes 
intitulada “Geografia”, sendo esse o primeiro registro conhecido do termo. Nessa 
obra, a qual apenas alguns fragmentos chegaram aos dias atuais, está compilado 
grande parte do conhecimento científico e geográfico da época. 
Erastóstenes deduziu a forma esférica da Terra e indicou com relativa precisão as 
dimensões do planeta, através da medição com o gnômon, da inclinação dos raios 
solares em um poço, em dois pontos distintos – Sienna e Alexandria, porém situados 
na mesma longitude. 
Aristóteles realizou importantes estudos sobre a Terra, a partir da observação de 
fenômenos naturais tais como o eclipse, deduzindo a esfericidade da Terra através 
da observação da sombra circular projetada na Lua durante o fenômeno. Além de tal 
evidência, apresentou mais duas para corroborar a sua teoria, a de que só é 
possível explicar as mudanças produzidas no horizonte e o surgimento das 
constelações na esfera celeste pelo fato do planeta Terra ser uma esfera. A outra 
evidência apresentada é o fato de que a matéria tende a concentrar-se em torno de 
um centro comum. 
Os gregos, além de admitirem a esfericidade da Terra, apresentaram a tese da 
inclinação da superfície terrestre em relação à direção dos raios solares, tendo como 
consequência a diferenciação climática, com uma zona quente equatorial, seguida 
de uma temperada e outra muito fria, próxima ao polo. Para eles, a vida só era 
possível na zona temperada, onde viviam, pois o excesso de calor nos trópicos e o 
excesso de frio nos polos impossibilitava a presença da vida. 
 
 
Figura X - Os gregos propuseram três zonas climáticas na Terra, de acordo com a 
incidência da radiação solar de acordo com a superfície esférica do planeta. 
Fonte: Nautilus. Disponível em 
<http://nautilus.fis.uc.pt/astro/hu/movi/images/imagem14.jpg>. 
Acesso em 12.11.2011. 
 
Ptolomeu, no século II d.C., escreveu em seu livro “Sinataxis”, também conhecido 
com o nome árabe “Almagesto”, a teoria geocêntrica, na qual a Terra estava situada 
no centro do Universo, tendo ao seu redor círculos concêntricos, onde se 
localizavam o Sol, a lua, as estrelas fixas e os planetas, sua teoria só foi refutada no 
século XV, através da teoria geocêntrica de Copérnico. 
 
 
 
 
 
Figura X –Ptolomeu e o modelo 
geocêntrico. 
Disponível em 
<http://t3.gstatic.com/images?q=t
bn:ANd9GcRY1aQM17dkDDP9
mVoVSlrtw04Dw1qQs5HdoSp8g
_GdU7lUhPSU09nYlESh>. 
Acesso em 12.11.2011. 
 
“Cláudio Ptolomeu, astrônomo, geógrafo e 
matemático, nasceu no início do século II 
da era cristã em TolemaidaHerméia, colônia 
grega no Egito. Com base nas suas 
observações astronômicas, pode-se 
estabelecer com certeza quase absoluta 
que viveu em Alexandria o mais importante 
centro cultural da época – de 127 a 145. 
Nesse período de tempo seu trabalho 
atingiu o apogeu. Sendo uma das 
personalidades da época do imperador 
Marco Aurélio, procurou sintetizar o 
trabalho de seus predecessores. Por meio 
de suas obras de astronomia, matemática, 
geometria, física e geografia, deu à 
civilização medieval o seu primeiro contato 
com a ciência grega. Segundo a tradição 
árabe, Ptolomeu morreu aos 78 anos de 
idade, deixando-nos muitos dos seus 
conhecimentos astronômicos por meio de 
um tratado, em treze volumes, o Almagesto. 
(Adaptado de 
http://profs.ccems.pt/PauloPortugal/CFQ/Ge
ocentrismo_Heliocentrismo/Geocentrismo_
Heliocentrismo.html) 
 
 
Após a conquista da Grécia pelos romanos, entre os séculos II e I a.C., a geografia 
continuou a desenvolver-se. Como os romanos eram inferiores culturalmente aos 
romanos, absorveram a cultura e grega e utilizaram os pedagogos gregos para 
ensinar aos filhos dos romanos. Os romanos eram muito pragmáticos, e com o 
objetivo de desenvolver o a organização do império e o comércio sobre as suas 
inúmeras províncias, deram muito valor à geografia descritiva. Geógrafos romanos, 
tais como Pompônio Mela e Plínio, desenvolveram importantes estudos geográficos 
sobre o império. 
Durante a Idade Média, o poder da igreja influenciou o pensamento geográfico, com 
alguns retrocessos no desenvolvimento científico, na medida em que ideias já 
comprovadas pelos gregos, tais como a esfericidade da Terra, foram refutadas. 
Somente aos o século XII, com a difusão de ideias de Aristóteles, que a esfericidade 
da Terra voltou a ser discutida. Com a expansão comercial, e consequente 
expansão do mundo conhecido, estudos sobre a distribuição das águas e das terras 
na superfície do planeta, além do desenvolvimento da cartografia com rotas 
marítimas detalhadas, auxiliaram no desenvolvimento da geografia. 
As grandes navegações, nos séculos XV, foram importantes, tanto do ponto de vista 
comercial e econômico como também do desenvolvimento científico. Nas viagens, 
estudiosos acompanhavam os navegadores. Aqueles aperfeiçoavam os portulanos 
(mapas das costas), corrigindo distorções e erros, concorrendo par ao avanço da 
cartografia, além de escrever tratados, com descrições minuciosas de novas 
culturas, povos e paisagens. 
A expansão do espaço conhecido auxiliou na dominação da configuração do planeta 
e a refutação de ideias e crenças medievais sobre sua superfície. Entre os séculos 
XV e XVIII se aperfeiçoou o conhecimento sobre o magnetismo da Terra, com a 
diferenciação entre o polo geográfico e o magnético, com melhor ajuste das 
longitudes e correção de antigos mapas. 
No século XVIII ficou comprovado que a Terra era redonda e não esférica, como um 
resultado do movimento rotacional do planeta, descoberto por Galileu. Para se 
constar o achatamento nos polos, Maupertuis e Clairaut comandaram uma 
expedição à Lapônia e Bouger e Condamine outra ao Peru, onde mediram o arco 
meridiano. Ficou constatado, então, um a menor comprimento do grau do meridiano 
na região equatorial do que na região polar, comprovando o formato geóide da 
Terra: dilatado no equador e achatado nos polos. 
As descobertas de Isaac Newton sobre a lei gravitacional universal, a forma das 
órbitas dos planetas em seus movimentos de translação descobertas por Kepler, 
entre tantos outros estudiosos que deixaram o seu legado investigativo para o 
desenvolvimento do conhecimento humano, concorreram para a autonomia de 
várias áreas científicas, inclusive da Geografia. 
 
1.2 A História e evolução do Pensamento Geográfico 
 
O pensamento sistematizado da Geografia ocorre no início do século XIX, quando 
as condições históricas foram reunidas propiciandosua autonomia. Moraes (2003), 
afirma que tais condições são engendradas no desenvolvimento do modo capitalista 
de produção. Para esse autor, foram necessárias algumas condições materiais, a 
saber: 
• Conhecimento efetivo da extensão real do planeta; 
• Repertório de informações sobre variados lugares da Terra; 
• Aprimoramento das técnicas cartográficas. 
 
Todas essas condições materiais para a sistematização da 
Geografia são forjadas no processo de avanço e domínio das 
relações capitalistas. Dizem respeito ao desenvolvimento das forças 
produtivas, subjacente à emergência do novo modo de produção. 
(MORAES, 2003, p. 43). 
 
Conforme abordado, a Geografia começou a ser considerada uma ciência autônoma 
a partir do século XIX, a partir de importantes estudos desenvolvidos pelo naturalista 
alemão Alexandre von Humboldt e pelo filósofo e historiador Karl Ritter, também 
alemão (MOREIRA, 2009). 
De fato, a Alemanha trouxe a Geografia para o âmbito das ciências 
contemporâneas, assim como as discussões e estudos que elevaram a Geografia 
para uma cadeira nas universidades na França. 
 
Figura X - Alexandre von Humboldt 
Fonte: Instituto Humboldt. Disponível em 
<http://www.institutohumboldt.com.br/images/patrono.jpg> 
Acesso em 15. 11.2011 
 
 
 
Figura X – Karl Ritter. 
Fonte: Geogradicto. Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_int8A6xi-
ks/S_YSRQCN5AI/AAAAAAAAAK8/2dMLa1sKsEY/s1600/ritter_karl.jpg>. 
Acesso em 15.11.2011 
 
Humboldt contribuiu com a estruturação da ciência geográfica através de estudos 
realizados na Europa, América Latina e Ásia. Já Ritter, através de seus estudos, 
apresenta o conceito de sistema natural– área delimitada dotada de uma 
individualidade, sendo a Geografia responsável por tais arranjos individuais 
procedendo a uma comparação. Cada arranjo possui um conjunto de elementos – 
físicos, biológicos e humanos, sendo o homem seu principal elemento – compondo 
uma totalidade. Pode-se afirmar que a metodologia proposta por Ritter foca no 
estudo dos lugares e de sua individualidade. 
Moraes (2003) ressalta a importância desses dois estudiosos para a criação de uma 
linha contigua no pensamento geográfico, o que não existia até então, além do papel 
desempenhado por ambos na formação das cátedras da Geografia. 
OBS. 
 
ALEXANDRE VON HUMBOLDT 
Geógrafo, filósofo, historiador, explorador e naturalista alemão nascido em Berlim, 
que deu início, em fins do século, a memoráveis expedições naturalísticas e é 
considerado o fundador da moderna geografia física. De uma nobre e rica família da 
Pomerânia, e herdeiro de grande fortuna, foi atraído desde jovem pelas expedições 
científicas. 
 A partir dos vinte anos começou a viajar pelo mundo, notadamente Europa e 
América, Tibete e Himalaia; desenvolveu separadamente o conceito de meio 
ambiente geográfico: as características da fauna e da flora de uma região estão 
intimamente relacionadas com a latitude, tipo de relevo e condições climáticas 
existentes. 
Explorador e profundo conhecedor da América, viajoupelo rios Amazonas, Orinoco, 
Atabapo e Negro, em busca de um rio que ligasse as bacias do Amazonas e do 
Orenoco. Proibido por ordem do governo português, que não desejava estrangeiros 
em seus domínios, foi impedido de prosseguir viagem pelo território brasileiro. 
Depois de percorrer cerca de 65.000km e recolheu mais de sessenta mil espécies 
de plantas, voltou à Europa com esse rico material que estudaria pelo resto da vida, 
dando inestimável contribuição para o desenvolvimento das ciências naturais. 
Iniciou a publicação da colossal obra Voyage de Humboldt 
etBonplandauxrégionséquinoxialesdu nouveau continent, fait en 1799-1804 (1805-
1834), em trinta volumes. Outra grande obra sua foi Kosmos, 
EntwurfeinerphysischenWeltbeschreibung (1845-1862), em cinco volumes, 
concluídos aos 86 anos do autor e síntese de seus conhecimentos, gastandoa maior 
parte da fortuna que herdou nas suas viagens e na publicação de suas obras. 
Deixou muitos outros escritos quando morreu em Berlim, com a avançada idade de 
90 anos. 
Disponível em: http://www.brasilescola.com/biografia/alexander-von-humboldt.htm 
OBS. 
 
 
 
KARL RITTER 
 
Geógrafo alemão, nascido em Quedlinburg, então pertencente à Prússia, 
descobridor do raio ultravioleta (1801) e de grande importância para a 
modernageografia humana. Protegido por um banqueiro de Frankfurt, entrou para 
auniversidade (1798) onde estudou ciências naturais, história e teologia por cinco 
anos. Esteve em Göttingen (1814-1819) e depois de ensinar história em Frankfurt 
(1819), assumiu a cátedra de história da Universidade de Berlim (1820), na qual se 
manteve até o fim da vida. Professor na Universidade de Berlim, publicou seu 
primeiro trabalho sobre geografia, uma série de seis mapas sobre a Europa, talvez o 
primeiro atlas físico da história (1806), que seria atualizado (1811). Iniciou sua obra 
mais importante e extensa foi Die 
erdkundimverhältniszurnaturundsurgeschichtedesmenschen (1817), de valiosos 
ensinamentos, planejada para abordar a geografia de todo o planeta, porém o autor 
morreu quando completou o 19° volume, em Berlim. Foi o fundador da Sociedade 
Geográfica de Berlim e considerava-se um discípulo e continuador do 
geógrafo Alexander von Humboldt. Foi um pioneiro da geografia moderna e do seu 
ensino nas universidades, concebendo a geografia como ciência empírica e 
sustentando que sua metodologia deveria basear-se na observação direta, ao invés 
de partir de hipóteses teóricas. Sua obra máxima foi Die 
ErdkundeimVerhältnisszurNaturundzurGeschichtedesMenschen, em 19 volumes 
(1817-1859). 
Disponível em: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/KarlRitt.html 
 
No final do século XIX, dois geógrafos deixaram marcas importantes no 
desenvolvimento da geografia como ciência: Ratzel e Élisé Reclus. O alemão Ratzel 
estava ligado ideologicamente à construção de uma Alemanha imperialista – já que 
esta havia chegado com atraso na partilha do mundo – através de estudos de 
geografia política, amplamente utilizados pelas oligarquias como justificativa para 
uma política expansionista, também chamada de pan-germanista. 
O francês Reclus, anarquista militante, sistematizou uma teoria libertária, na qual 
apresentava a luta de classes como meio de diminuir a exploração, além de 
condenar a colonização advinda do processo expansionista dos países em processo 
de industrialização. 
Durante muito tempo a Geografia permaneceu como ciência descritiva da superfície 
da Terra, tal visão reducionista tem raízes no próprio processo de expansionismo 
colonial no período da estruturação da Geografia como ciência. Os países europeus 
e os Estados Unidos preocupavam-se em catalogar as riquezas existentes nos 
novos territórios conquistados. 
Andrade (2008, p. 65) sinaliza que 
Na fase de desenvolvimento do capitalismo industrial e da 
necessidade de um conhecimento aprofundado do espaço 
produtivo, [os geógrafos] fizeram estudos corológicos, 
procurando desenvolver uma análise de porções mais ou 
menos restritas da superfície do planeta. Partiram do princípio 
de que a análise das várias partes levaria à soma das mesmas 
e ao melhor conhecimento do todo. 
Assim, em uma primeira fase de sistematização, a geografia consolidou-se como 
como uma ciência descritiva e ideográfica, pautada no método indutivo (parte do 
particular para o geral). 
O Determinismo Geográfico 
A Geografia alemã preocupou-se com a descrição e análise da paisagem. A 
Geografia francesa buscava a síntese através do estudo da paisagem, considerando 
não apenas os seus aspectos naturais, mas também a ação humana sobre a 
mesma. 
Através de sua obra denominada Antropogeografia: fundamentos da aplicação da 
Geografia à História, de 1882, Friedrich Ratzel estabeleceu o conceito de 
determinismo geográfico. 
O determinismo destaca as influências que as condições do meio natural exercem 
sobre a humanidade,quais sejam: 
• Influências sobre a fisiologia e caráter das pessoas e, através destes, na 
sociedade; 
• Influências sobre a constituição social, através dos recursos naturais 
disponíveis onde a sociedade está localizada; 
• Expansão de um povo, dificultando ou acelerando o processo; 
• Possibilidades de contato com outros povos, favorecendo a miscigenação ou 
o isolamento. 
Cumpre esclarecer que tais influências do meio serão mediadas pelas condições 
socioeconômicas da sociedade. E, para a sociedade conquistar o seu progresso e 
liberdade, deveria manter uma relação íntima com o meio, o que justifica a criação 
do Estado. “Quando a sociedade se organiza para defender o território, transforma-
se em Estado”. (RATZEL apud MORAES, 2003, p. 60). 
O território representa a própria sociedade, a as suas condições de trabalho, e a sua 
perda, significa a sua decadência. Já o progresso implica o aumento do território, a 
conquista de novas áreas. Esse é um ponto chave do determinismo geográfico, o 
qual trabalha com o conceito de espaço vital. 
 
O espaço vital é definido como a proporção existente entre a população de uma 
dada sociedade e os recursos naturais disponíveis para suprir suas necessidades. 
Este conceito indica suas possibilidades de progredir em seu próprio território e a 
necessidade de conquista de novos territórios. Este conceito naturaliza o processo 
expansionista, justificando e legitimando o imperialismo germânico. 
O ministro prussiano Otto von Bismarck (1815-1898), ministro prussiano, utilizou o 
conceito de espaço vital como ideologia subjacente ao expansionismo alemão, 
legitimando as suas ações. 
 
O determinismo geográfico é coerente com o momento histórico vivenciado pela 
Alemanha, que estava passando por um processo de unificação. 
Discípulos da escola determinista ampliaram o conceito afirmando que o homem 
seria um produto do meio onde vivia, relacionando meios naturais mais hostis. 
Muitos estudiosos, considerados discípulos da escola determinista, foram além do 
pensamento de Ratzel e chegaram a afirmar que o homem seria um produto do 
meio em que vivia. Defendiam, inclusive, que um meio natural mais hostil 
proporcionaria um maior nível de desenvolvimento, já que este exigiria também um 
alto grau de organização social para conseguir suportar todas as adversidades 
impostas pelas condições da natureza, tais como a dificuldade de ocupação, os 
rigores do Inverno, etc. 
Essa concepção justificou o neocolonialismo entre o final do século XIX e início do 
século XX, quando as potências industriais colonizaram povos do continente 
africano e asiático. A Alemanha Nazista utilizou esses mesmos princípios mais tarde 
com o objetivo de justificar as suas ações durante a Segunda Guerra Mundial. 
 
 
Brunschwig, Henri. A Partilha da África Negra: 1880-1914. São Paulo: Perspectiva, 
1974. 
Sinopse: 
“O processo de partilha do continente africano resultou de uma estreita vinculação 
da política colonial com a política geral. Começou bem antes da Conferência de 
Berlim de 1885, no início do século, mas verdadeiro imperialismo divisor data da 
generalização, após 1890, da noção de 'zona de influência'. Rivalidades e 
negociações entre os partilhantes europeus se referiam frequentemente aos tratados 
firmados com os africanos. Estes, todavia, não podiam, então, compreender termos 
tão capciosos como os de protetorado e outros e, assim, toda a imensa complicação 
diplomática delineou apenas uma história de dominação branca e de jogo de poder 
projetados na geografia negra, com as fronteiras territoriais delineadas sem respeitar 
a disposição da população local, com base nos interesses dos europeus, recorrendo 
a noções arbitrárias como latitude, longitude, linha de divisão das águas e curso 
presumível de um rio que mal se conhecia. Tais fronteiras ainda sobrevivem: cerca 
de 90% das atuais fronteiras na África foram herdadas do período colonial e em 
apenas 15% delas foram levadas em consideração questões étnicas.” 
Disponível em: 
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?isbn=8527302780&sid
=6249711481331358351189581 
http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/partilha-africa-434731.shtml 
 
 
O Possibilismo 
No final do século XIX, em reação ao determinismo alemão, surgiu na França a 
corrente de pensamento geográfico denominado Possibilismo, tendo Paul Vidal de 
La Blache como seu principal pensador. 
O Possibilismo afirma que o meio exerce alguma influência sobre o indivíduo e a 
sociedade, porém através da racionalidade humana é possível aos grupos sociais 
alterar o meio ambiente, adaptando o mesmo de acordo com as suas necessidades. 
La Blache apresenta várias críticas ao modelo determinista ratzeliano, entre elas, 
podemos destacar: 
• Concepção fatalista e mecanicista, propondo uma postura relativista; 
• Caráter exclusivamente naturalista, propõe a ideia de que o homem faz parte 
do processo geográfico interferindo na paisagem e modificando-a; 
• Mistura entre ciência e política, propondo a separação das mesmas. 
Esse estudioso estabeleceu uma série de princípios através dos quais a Geografia 
deveria balizar suas investigações: 
• A unidade dos fenômenos terrestres; 
• A relação da Geografia com todos os fenômenos da superfície da Terra; 
• A influência do meio sobre o homem, e os processos de relação homem-
meio; 
• A premência de um método científico próprio para definir e classificar os 
fenômenos; 
• O reconhecimento do papel das sociedades na alteração do meio ambiente, 
modelando e transformando o mesmo. 
La Blache afirma que as sociedades aprenderam, através dos séculos, a apropriar-
se da natureza, dela retirando o seu sustento através do trabalho. Cunhou o 
conceito "gênero de vida" afirmando que o meio não é determinista sobre o homem 
ou a sociedade, oferece oportunidades, cabendo ao grupo social fazer escolhas, por 
isso a sua escola é denominada possibilista. 
Cumpre ressaltar, no entanto, que o indivíduo não é totalmente livre, uma vez que 
está submetido a uma determinada cultura, com seus sistemas de valores, 
organização, tecnologia, ou seja, a um gênero de vida. Tal afirmação denota uma 
sutil contradição em sua teoria: ao passo que critica o expansionismo alemão, 
legitima o colonialismo francês nos continentes asiático e africano. 
Dessa maneira, tanto o determinismo alemão como o possibilismo francês foram 
poderosas armas ideológicas para legitimar a ação imperialista das duas potências. 
O possibilismo deixou vários discípulos que deram continuidade à obra de La 
Blache. O mesmo organizou uma obra – Geografia Universal – na qual onde cada 
discípulo discorreu sobre uma “região” da Terra. A partir de La Blache, o conceito 
de “região” ganhou uma maior amplitude, deixando de ser visto apenas do ponto de 
vista geológico, passando a ser entendido como a expressão da relação homem-
natureza, ou seja, como um produto histórico. 
A região, na escola possibilista, é considerada como uma unidade de análise na 
Geografia, a qual sintetiza a organização de determinada sociedade sobre o espaço 
terrestre, sendo, portanto, um dado concreto da pesquisa geográfica, cabendo, para 
o seu desvelamento, a sua delimitação, descrição e explicação pelo geógrafo. 
O estudo da região favoreceu o surgimento da Geografia Regional, a qual busca 
estudar minuciosamente as regiões, através da aplicação de conhecimentos 
cartográficos, da análise da formação histórica, dos setores da economia. 
Estudos se multiplicaram sob tal perspectiva geográfica, o que gerou um acúmulo 
expressivo de análises locais e isoladas, gerando, inclusive, as especializações da 
Geografia, tais como a Geografia Política, Geografia Urbana, Geografia Agrária, 
Geografia Econômica, Geografia Histórica, entre outras. 
O Método Regional 
O Método Regional não é considerado uma escola do pensamento geográfico, 
estuda áreas delimitadase regiões, tendo como base os conhecimentos 
desenvolvidos por Vidal de La Blache e Richard Hartshorne. 
Cumpre esclarecer que, desde o século XVII, estudos sobre a região foram 
desenvolvidos, através da obra intitulada Geografia General: en la que se explican 
las propriedades generales de la Tierra, de Bernardo Varenius (1650). Nos séculos 
XVIII e XIX, Kant e Ritter também desenvolveram investigações regionais. 
Nos anos 40 do século XX, através dos estudos do geógrafo estadunidense Richard 
Hartshorne, o método regional voltou a ser valorizado. Esse método produz um 
conhecimento regional, sintético, sobre as diferentes áreas do globo. 
As principais publicações do geógrafo Richard Hartshorne ocorreram entre as 
décadas de trinta e sessenta do século XX nos Estados Unidos. Foi muito valorizado 
sobretudo por introduzir o debate teórico e metodológico na ciência geográfica. 
Com base descritiva, reafirmou a Geografia como o estudo do espaço e dos lugares, 
com o estudo exaustivo das características de determinada área ou região. 
 
Figura X – Richard Hartshorne. 
Fonte: Realmagick. Disponível em: 
<http://www.geography.wisc.edu/images/richard_hartshorne_jpg.jpg>. 
Acesso em 16.11.2011 
Hartshorne não considera a região como o objeto de estudo da ciência geográfica, e 
sim como método utilizado para estabelecer a unidade espacial (região) resultante 
de um arranjo único de fenômenos heterogêneos, e também para identificar as 
diferenças existentes entre as áreas. 
O método regional consolidou a descrição de lugares como meio de construção do 
conhecimento geográfico. Neste, a Geografia traduz-se como ciência da natureza e 
da sociedade, a qual estuda as diferenciações entre as áreas da superfície terrestre. 
No método regional, a região seria definida como uma combinação singular de 
elementos cujas interrelações seriam o objeto de estudo dos geógrafos. 
Enquanto os historiadores estudam a origem e desenvolvimento dos fenômenos, os 
geógrafos, no método regional, buscam apreender, através da descrição, a 
articulação de fenômenos no presente, com as características resultantes de tal 
articulação. Com isso seria possível interpretar o caráter variável da superfície do 
planeta, sem, no entanto, buscar teorias com explicações gerais ou generalizações. 
Enquanto que no determinismo e possibilismo o geógrafo deveria descrever tudo o 
que estivesse visível aos olhos, no método regional, o geógrafo deveria selecionar 
previamente os fenômenos significativos para delimitar a área estudada. “As 
divisões regionais são reproduzidas pelo intelecto, segundo objetivos determinados 
pelo pesquisador.” (CORRÊA, 2002, p. 15). 
Sendo considerada uma ciência de síntese, a partir da qual todo e qualquer 
fenômeno espacial teria interesse para a Geografia, não possuía um objeto de 
estudo específico, e sim um método próprio – diferenciação de áreas – através do 
processo corológico, o qual favorecia o diálogo interdisciplinar. 
Tal método teve também como proposta a superação da dicotomia já então 
existente na Geografia: geografia física X geografia humana e geografia geral X 
geografia regional. Com o método regional, seria possível alcançar uma síntese de 
tais perspectivas, com um caráter idiográfico e nomotético, sendo que no primeiro, 
busca-se a singularidade do lugar, já no segundo busca-se definir normas gerais, 
padrões de relações entre elementos, no sentido de estabelecer normas gerais, 
perspectiva que acabou prevalecendo no restante do século XX e considerada 
adequada para os estudos da natureza, em vista da regularidade dos seus 
fenômenos. Assim sendo, o estudo regional, voltado para as sínteses das relações 
complexas, consiste tanto no trabalho empírico de observação como no de 
estabelecer relações gerais. 
 
O objeto da geografia regional é unicamente o caráter variável 
da superfície da Terra – uma unidade que só pode ser dividida 
arbitrariamente em partes, as quais, em qualquer nível da 
divisão, são como as partes temporais da história, únicas em 
suas características (HARTSHORNE, 1939, apud CORRÊA, 
2002, p. 18). 
 
De todo modo, Hartshorne é tido como um dos principais responsáveis pela 
transição de uma fase clássica da Geografia para uma fase moderna. Suas 
proposições, conforme Moraes (2003), finalizam o ciclo da chamada Geografia 
Tradicional que havia se caracterizado como uma ciência de síntese e desenvolvida 
a partir do trabalho empírico. 
“A região, para Hartshorne, não passa de uma área mostrando a sua unicidade, 
resultando de uma integração de natureza única de fenômenos heterogêneos”. 
(CORRÊA, 2002, p.16). 
 
A Nova Geografia 
Contexto histórico e socioeconômico (CORRÊA, 2002): 
• Surge após a Segunda Guerra Mundial; 
• Nova fase de expansão capitalista; 
• Recuperação da economia europeia; 
• Guerra fria envolvendo os EUA e a URSS; 
• Desmantelamento dos impérios coloniais, a partir dos anos sessenta; 
• Nova divisão social e territorial do trabalho; 
• Difusão de novas culturas; 
• Urbanização e industrialização acelerada. 
Os antigos paradigmas geográficos (determinismo, possibilismo e método regional) 
no contexto anteriormente descrito caíram por terra, pois não eram mais suficientes 
para justificar a expansão do capitalismo. 
Assim, a nova geografia, conhecida também como geografia teorética ou 
quantitativa, cumpre o papel ideológico de apontar para o desenvolvimento a médio 
prazo, com o subdesenvolvimento como uma etapa a ser superada. 
Características da nova geografia (CORRÊA, 2002, p. 18 - 20): 
• Nasce na Suécia, Inglaterra e Estados Unidos; 
• Abordagem locacional: espaço como resultado das decisões locacionais; 
• Teoria dos Polos de Desenvolvimento; 
• Difusão do sistema de planejamento do Estado capitalista; 
• Positivismo lógico: método de apreensão do real, com pretensa neutralidade 
científica; 
• Procura leis ou regularidades empíricas sob a forma de padrões espaciais; 
• Emprego de técnicas estatísticas, dotadas de maior ou menor grau de 
sofisticação (média, desvio padrão, coeficiente de correlação, etc.); 
• Utilização da geometria (por exemplo a teoria dos grafos); 
• Uso de modelos normativos; 
• Analogias com as ciências da natureza; 
• Emprego de princípios da economia. 
Na nova geografia, se desenvolve “o conceito de organização espacial entendido 
como padrão espacial resultante de decisões locacionais, privilegiando as formas e 
os movimentos sobre a superfície da Terra”. (CORRÊA, 2002, p. 21, grifo do autor). 
Essa corrente é bastante criticada pela Geografia Crítica, que veremos a seguir, na 
medida em que aquela é considerada alienada e pragmática, focada meramente em 
padrões espaciais e não em problemas de ordem socioeconômica e com função 
ideológica na sociedade capitalista. 
A Geografia Crítica 
Nas décadas de 70 e 80, com o materialismo histórico e a dialética marxista como 
base epistemológica, surge a geografia crítica, a qual questiona severamente os 
modelos clássicos da Geografia. 
Cumpre ressaltar que o geógrafo francês Elisée Reclus e o geógrafo russo Piotr 
Kropotkin, já no final do século XIX, lançaram as bases da Geografia crítica, sem, no 
entanto, estruturar uma escola geográfica. 
 
PIOTR KROPOTKIN 
 
Figura X - Piotr Kropotkin 
Fonte: Open Library. Disponível em <http://covers.openlibrary.org/a/id/6257014-
L.jpg>. 
Acesso em 12.11.2011. 
 
Piotr Ayexeyevich Kropotkin viveu entre 1842 e 1921. Foi um moscovita de família 
rica e aristocrática que decidiu viver modestamente de seu próprio trabalho – como 
geógrafo e secretário, durante alguns anos, da Sociedade Geográfica Russa, como 
professor, como jornalista e até como tipógrafo. Sua obra, que procura incorporar 
ou integrar determinadas idéias libertárias na geografia, representa seguramente um 
dos principais capítulos ainda não escritos da história (crítica) do pensamento 
geográfico. Ele foi, sem nenhuma dúvida, o principalomitido em quase todas as 
obras que buscaram discorrer sobre essa tradição discursiva. Sua fala e seus 
inúmeros escritos via de regra foram solenemente ignorados e assim silenciados, e 
isso numa proporção muito maior do que em relação a Élisée Reclus, seu grande 
amigo. Mesmo a “geografia crítica” francesa, que em grande parte nasceu ao redor 
da revista Hérodote, buscou recuperar as idéias de Réclus e deixou Kropotkin de 
lado. (Adaptado de VESENTINI, José William. Geografia e liberdade em Piotr 
Kropotkin. Disponível em: <http://www.geocritica.com.br/artigos.htm>. Acesso em: 16 
out. 2011. 
 
Contexto sociohistórico nos países desenvolvidos: 
• Agravamento de tensões sociais; 
• Aumento do desemprego; 
• Crise habitacional; 
• Intolerância racial. 
Nos países subdesenvolvidos ocorre uma intensificação dos movimentos 
nacionalistas e de emancipação política. Nesse contexto, a geografia crítica busca 
reinterpretar, à luz da teoria marxista, questões que abordadas pela geografia 
teorético-quantitativa. 
Questões como uso do solo urbano, circulação e transporte, questões trabalhistas 
tais como jornada de trabalho, além da habitação, organização espacial, etc., são 
discutidas na geografia crítica, a qual analisa o Estado, o empresariado (industriais, 
incorporadores imobiliários), os latifundiários, entre outros, como agentes de 
organização espacial. 
 
A Geografia crítica surgiu no Brasil no final da década de 70. Em 1978, a Associação 
dos Geógrafos Brasileiros (AGB) organiza em Fortaleza – CE o 3º Encontro Nacional 
de Geógrafos, considerado um marco no debate crítico da Geografia no país. 
Moreira (2009, p. 39) indica que, por ocasião do evento de 1978, 
a Geografia brasileira vivia já um estado de grande ebulição. E 
isto pelo menos desde 1974. Nos vários cantos do país 
movimentos de critica e renovação, espontâneos, difusos e, 
portanto, sem hegemonia nacional vinham acontecendo. O 3º 
ENG possibilitou o olhar recíproco, o conhecimento dos 
protagonistas uns dos outros, a conscientização dos 
descontentamentos que promovem a necessidade das 
mudanças e a aglutinação das ideias que precipitam a crise da 
ciência. 
Os geógrafos críticos “assumem o conteúdo político de conhecimento científico, 
propondo uma Geografia militante, que lute por uma sociedade mais justa [e] 
pensam a análise geográfica como um instrumento de libertação do homem”. 
(MORAES, 2003, p. 109). 
Para Moraes (2003), os geógrafos críticos fazem uma avaliação das razões da crise, 
buscam transpor o os questionamentos geográficos academicistas e empiristas e de 
fundamentação positivista. Além disso, salientam em seus estudos (CORRÊA, 2002; 
MORAES, 2003): 
• Vinculação entre as teorias geográficas tradicionais e o imperialismo; 
• Relação, no capitalismo, da Geografia e a superestrutura de dominação de 
classes; 
• Análise das relações dialéticas entre as formas espaciais e os processos 
históricos que modelam os grupos sociais. 
A geografia crítica considera como fundamental na análise geográfica os modos de 
produção, sendo que as configurações socioeconômicas espaciais resultam de tais 
modos de produção. 
 
MILTON SANTOS 
(�1926 �2001) 
 
Figura X – Milton Santos. 
Fonte: TV Brasil. Disponível em: <http://www.tvbrasil.org.br/novidades/wp-
content/uploads/2011/06/MILTON-SANTOS2-300x225.jpg>. 
Acesso em 15.11.2011 
 
 
Milton Santos foi um importante representante da Geografia Crítica, sendo 
responsável por uma obra numerosa e complexa, uma verdadeira teoria geográfica 
do espaço. Seu pensamento e a organização de seus estudos percorre duas 
vertentes: reflexões filosóficas sobre a natureza do espaço geográfico; e trabalhos 
de natureza empírica, com a reconstrução intelectual do espaço com o destaque à 
categoria lugar. 
BIOGRAFIA 
• 1948 – Bacharel em Direito, Universidade pela Universidade Federal da 
Bahia; 
• 1958 – Doutor em Geografia, Universidade de Strasbourg, sob orientação do 
Prof. Jean Tricart. (Tese de doutorado intitulada O Centro da Cidade de 
Salvador); 
• 1954-1964 – Jornalista e redator do jornal A Tarde; 
• 1956-1960 – Professor de Geografia Humana na Universidade Católica de 
Salvador e na Universidade Federal da Bahia onde cria o Laboratório de 
Geociências; 
• 1959-1961 – Diretor da Imprensa Oficial da Bahia; 
• 1961 – Representante da Casa Civil do presidente Janio Quadros na Bahia; 
• 1962-1964 – Presidente da Fundação Comissão de Planejamento Econômico 
do Estado da Bahia; 
• Até 1964 – Suas pesquisas e publicações da época focalizam as realidades 
locais, principalmente a capital e também as cidades e a região do 
Recôncavo; 
• 1964 – Deixa o Brasil em razão do golpe militar iniciando uma carreira 
internacional; 
• 1964-1977 - Professor convidado nas universidades de Toulouse, Bordeaux e 
Paris-Sorbonne, e no IEDES (Instituto de Estudos do Desenvolvimento 
Econômico e Social); 
• 1971 a 1977 – Inicia uma carreira itinerante, ao sabor dos convites: no MIT 
(Massachusetts Institute of Technology – Boston) como pesquisador; e como 
professor convidado nas universidades de Toronto (Canadá), Caracas 
(Venezuela), Dar-es-Salam (Tanzânia), Columbia University (New York). 
Período abre uma longa caminhada em direção a teorização em Geografia, 
com o intenso aproveitamento das ricas bibliotecas das grandes 
universidades. Primeiro uma ampliação do foco com o livro Les Villes Du Tiers 
Monde, 1971, onde já aparece o interesse em estudar as peculiaridades da 
economia urbana dos países então chamados subdesenvolvidos, 
caracterizada pelos seus dois circuitos, superior e inferior, e resultando no 
livro L’Espace Partagé: les deux circuits de l’économie des pays sous-
développés publicado em francês em 1975, em inglês e português em 1979; 
• 1977 – Retorno ao Brasil; 
• 1979-1983 – Professor Universidade Federal do Rio de Janeiro; 
• 1983 – Ingressa por concurso na Universidade de São Paulo, como professor 
titular de Geografia Humana até a aposentadoria compulsória, recebendo o 
título de Professor Emérito da USP em 1997. Continua a pesquisar, publicar e 
orientar estudantes até o final de sua vida; 
• 1994 – Recebe o Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud. Nesta última 
fase de seu percurso, publica Por uma Geografia Nova, da crítica da 
geografia a uma geografia crítica (1978), contribuição à efervescência e ânsia 
de renovação dessa ciência no Brasil. O espaço é definido como uma 
instancia social ativa, a noção de formação socioespacial introduzida; 
• 1995 - Reintegrado oficialmente à Universidade Federal da Bahia em 1995, 
da qual tinha sido demitido por “ausência”; 
• 1995 - Doze universidades brasileiras e sete universidades estrangeiras lhe 
outorgaram o titulo de Doutor Honoris Causa. 
 
Algumas publicações: 
• Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico 
informacional (1994); 
• Da totalidade ao lugar (1996); 
• Metamorfose do espaço habitado (1997); 
• A Natureza do Espaço (1996). Considerado um de seus maiores livros, onde 
busca “uma teoria geral do espaço humano, uma contribuição da Geografia 
reconstrução da teoria social” (SANTOS, 1996); 
• Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal 
(2000). 
 
(Adaptado de Milton Santos – Biografia. Disponível em: 
<http://miltonsantos.com.br/site/biografia/>. Acesso em 23 jun. 2011.) 
 
Conheça a biografia completa de Milton Santos e também a sua produção 
teórica acessando o seguinte endereço eletrônico na Internet: 
http://miltonsantos.com.br/site/biografia/ 
A Geografia Humanística 
Essa corrente geográfica, que possui como base filosófica a fenomenologia 
existencial, onde o espaço é entendido como espaço presente, diferente do espaço 
abstrato da geometria e da perspectiva científica, onde é concebido como 
dimensional e passível de uma representação. 
Tem como principais representantes Yi-Fu Tuan, Anne Buttimer, Edward Relph eMercer e Powell. Estes autores estudaram a experiência individual ou grupal, seus 
comportamentos e sentimentos em relação aos seus lugares de vivência. 
 
 
 
LIVRO: ESPAÇO E LUGAR: A PERSPECTIVA DA EXPERIÊNCIA 
 
Figura X – Yi Fu Tuan. 
Fonte: ACLS Advancing Humanities. Disponível em: 
<http://www.acls.org/uploadedImages/About/Annual_Meetings/Previous_Meetings/tu
an_120x150.jpg>. 
Acesso em 23.03.2011 
 
 
SINOPSE: 
As pessoas constroem suas realidades e respondem ao espaço e ao lugar de 
maneiras diferentes influenciadas pela cultura, moldam seus valores baseadas nas 
experiências que vão adquirindo através de seus órgãos dos sentidos e pelas 
emoções vivenciadas. 
Ao mover-se, o ser humano vivencia o espaço que é organizado baseado na postura 
e estrutura do seu corpo e as relações de distância entre as pessoas, de acordo com 
as suas necessidades biológicas e as relações sociais, firmando-se no eu que se 
move e se direciona, consciente de que "não apenas ocupo o espaço, mas o dirijo e 
coordeno". 
O espaço, à medida em que adquire significado e definição, vai se transformando 
em lugar. Lugar pode significar mais do que espaço físico, pode dar noção de 
espaciosidade, que significa mais liberdade para agir ou para movimentar-se. 
Instrumentos ou máquinas ampliam estas sensações. Noções de lugar, espaço, 
proximidade e distância podem ter outras conotações, podem significar uma posição 
social, um cargo hierárquico ou um grupo com afinidades em comum. Leitura 
fundamental para aqueles que querem compreender melhor a corrente humanística 
da Geografia. 
Referência: TUAN, Y. F. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: 
Difel, 1983. 
 
Fonte: http://pt.shvoong.com/social-sciences/1819180-espa%C3%A7o-
lugar/#ixzz1jC9O9WeA 
 
Cada grupo social possui diferentes visões de mundo, as quais se manifestam em 
atitudes, valores e hábitos que redundam em determinada organização do espaço. 
O reconhecimento dos objetos implica o reconhecimento de 
intervalos e relações de distância entre os objetos e, pois, de 
espaço. A distância é de âmbito espaço-temporal, pois envolve 
não só as noções de perto e longe, mas também as de 
passado, presente e futuro [...] a integração espacial faz-se 
mais pela dimensão afetiva que pela métrica. Estar junto, estar 
próximo, não significa a proximidade física, mas o 
relacionamento afetivo com outra pessoa ou com outro lugar. 
(TUAN, 1983, p. 81, grifo do autor). 
 
Assim, a categoria lugar é entendida como a porção espacial na qual a pessoa 
encontra-se emocionalmente integrada, é especial na medida em que possui um 
profundo significado afetivo para um indivíduo ou até mesmo um grupo social. 
Já a categoria espaço, para a Geografia da Percepção, vale-se da combinação da 
percepção visual, do pensamento, do movimento, e do tato, para compreender a 
estrutura e disposição espacial. 
Espaço e lugar estão no âmago da nossa disciplina. Sob a 
perspectiva positivista a geografia é a análise da organização 
espacial. Sob a perspectiva humanística o espaço e lugar 
assumem características muito diferentes. A tarefa básica do 
geógrafo humanista é mostrar o que eles são através de uma 
estrutura coerente. (TUAN, 1983, p. 97, grifo do autor). 
 
 
Síntese das Correntes Geográficas: 
O Determinismo argumenta que a vida não é uma simples consequência das 
condições ambientais, mas sim de um conjunto de técnicas, hábitos, usos e 
costumes, que lhe permitiram utilizar os recursos naturais disponíveis para o 
crescimento da sociedade. 
 
O Possibilismo consiste numa corrente do pensamento geográfico que percebe o 
ambiente natural como um simples fornecedor de possibilidades para a modificação 
humana, por isso o meio não determina a evolução das sociedades e do homem, 
encarado como o principal agente geográfico. 
O Método Regional evidencia a necessidade de produção de um conhecimento 
sintético sobre as diferentes áreas da superfície da Terra, sem considerar, contudo, 
a região como objeto da Geografia. O que importa é o método de diferenciações de 
áreas que resultam de uma integração única de fenômenos heterogêneos. 
A Geografia Teorética Quantitativa utilizou modelos matemáticos e o método 
estatístico para analisar e explicar o espaço geográfico. Foi intensamente utilizado 
no planejamento territorial. 
A Geografia Crítica entende o espaço como social, vivido, em estreita correlação 
com a prática social. É socialmente engajada, nega a neutralidade científica e o 
comprometimento implícito da Geografia quantitativa com o poder instituído, com o 
Estado capitalista e com as grandes empresas. 
A Geografia Humanística prioriza a experiência individual ou grupal, seus 
comportamentos e sentimentos em relação aos seus lugares de vivência. 
- Com qual Corrente Geográfica você mais se identifica? 
- Escolha um conteúdo geográfico escolar e registre possibilidades 
metodológicas em sala de aula considerando os pressupostos da Corrente 
Geográfica escolhida. 
 
 
 
 
 
QUESTÃO 01 - A ideia, de que o homem de regiões de clima temperado teria maior 
possibilidade de desenvolvimento que o homem de regiões tropicais, é típica da 
corrente 
A) Determinista 
B) Possibilista 
C) Humanística 
D) Teorética-quantitativa 
E) Crítica 
 
QUESTÃO 02 - A institucionalização da Geografia como ciência, não se deu por 
acaso na Alemanha, mas, principalmente, porque 
I. O desenvolvimento do capitalismo, e de ideias envolvendo as relações homem-
espaço neste país, fizeram a sociedade alemã valorizar a temática geográfica. 
II. A sociedade alemã valorizava o estudo de elementos naturais, que para eles 
estavam acima das questões sociais. 
III. Os alemães valorizavam a sociedade em detrimento da natureza, que não tinha 
qualquer importância científica. 
Das proposições acima, estão corretas 
A) I e III, apenas 
B) I e II, apenas 
C) II e III, apenas 
D) I, II e III 
E) II, apenas 
 
QUESTÃO 03 - Sobre a corrente determinista do pensamento geográfico, analise as 
proposições abaixo: 
I. O determinismo ambiental foi o primeiro paradigma a caracterizar a Geografia, que 
emerge no final do século XIX. 
II. Os teóricos deterministas afirmam que as condições naturais, em especial as 
climáticas, são determinantes para a evolução do homem. 
III. Segundo os deterministas desenvolver-se-iam os povos ou países que 
estivessem localizados em áreas climáticas mais favoráveis. 
 
Das proposições acima, estão corretas 
A) I, apenas 
B) I e II, apenas 
C) I e III, apenas 
D) II e III, apenas 
E) I, II e III 
 
QUESTÃO 04 - Sobre a história do pensamento geográfico, analise as afirmações 
abaixo: 
I. Em vários momentos da história, o saber geográfico serviu como instrumento de 
dominação do território. 
II. As teorias de Ratzel pertencem à escola geográfica alemã. 
III. A Geografia Crítica é responsável pela efetivação de políticas de planejamento 
territorial e de controle social, que são utilizadas atualmente pelos governos. 
 
Das proposições acima, está(ao) correta(s) apenas 
A) I 
B) II 
C) III 
D) I e II 
E) II e III 
 
QUESTÃO 05 - O conhecimento do meio geográfico é considerado de grande 
importância, desde a Antiguidade, porque 
A) Influi na tomada de decisões sobre a utilização racional dos recursos naturais, 
algo que é feito desde que o homem se organizou em sociedade. 
B) Permite um melhor aproveitamento dos recursos e gera informação indispensável 
para qualquer atividade comercial e política. 
C) O conhecimento do lugar onde se desenvolve qualquer atividade humana é 
fundamental para preservar o espaço natural. 
D) Favorece o reconhecimento das facilidades e problemas que o homem pode 
encontrar ao transformar o espaço. 
E) Auxilia o processo de desenvolvimento sustentável na relação homem-natureza, 
que vem sendo implementado pelos países emergentes desde a década de 1940. 
 
QUESTÃO 06 - Entre as personalidadesmais importantes para o desenvolvimento 
da geografia como ciência destaca-se Humboldt, que 
A) Lançou as bases da geografia moderna, com ênfase na observação direta e nas 
medições acuradas como base para leis gerais. 
B) Escreveu a principal obra literária destinada à cartografia, revolucionando a 
confecção de mapas, a partir de então. 
C) Apresentou novas teorias do pensamento geográfico, criando as bases da 
geografia crítica moderna. 
D) Desenvolveu a corrente filosófica possibilista, a qual criou um contra-senso com o 
determinismo. 
 
QUESTÃO 07 – A terceira corrente de pensamento geográfico é o Método Regional. 
Essa corrente se caracteriza, principalmente, por 
A) Utilizar frequentemente técnicas estatísticas e matemáticas. 
B) Considerar a influência dos elementos da natureza no desenvolvimentos das 
sociedades. 
C) Acreditar que o homem pode dominar o meio hostil e, a partir daí, criar o espaço 
ideal de acordo com as suas necessidades. 
D) Se opor ao determinismo e ao possibilismo, visto que “a diferenciação de áreas 
não é vista a partir das relações entre o homem e a natureza, mas sim da integração 
de fenômenos. 
QUESTÃO 8 - Considera-se como perspectiva humanística: 
I. A análise de pensamentos e atos que são unicamente humanos. 
II. O estudo dos elementos da natureza que possuem intensa relação com o homem. 
III. O estudo dos elementos do espaço geográfico que, de forma direta ou indireta, 
são resultados da ação humana. 
Das proposições acima, está(ao) correta(s) apenas 
A) I 
B) II 
C) I e III 
D) II e III 
Respostas: 
1- A; 2 - B; 3 - E; 4 - D; 5 - B; 6 – A; 7 – D; 8 – A. 
 
CAPÍTULO 2: Categorias de análise geográfica: espaço, região, território, 
paisagem e lugar 
 
2.1 O espaço e as correntes do pensamento geográfico 
 
A Geografia é uma ciência social que estuda a sociedade e suas interações na 
superfície terrestre, através dos seus conceitos-chave que possuem um “forte 
parentesco entre si” (CORRÊA, 2002), uma vez que o espaço, em seus diferentes 
recortes e perspectivas – região, paisagem, território ou lugar – passam por 
alterações antropogênicas, cujos efeitos cumulativos determinam certa historicidade 
de ocupação, marcando a superfície terrestre (CORRÊA, 2002). 
Para Corrêa (2006, p. 15), 
a expressão espaço geográfico [...] aparece como vaga, ora 
estando associada a uma porção específica da superfície da 
Terra identificada pela sua natureza, seja por um modo 
particular como o homem ali imprimiu as suas marcas, seja 
como referência à simples localização. 
 
Entre 1870 e 1950, período de vigência da Geografia Tradicional (CORRÊA, 2006), 
a categoria espaço não ocupou um lugar de destaque, sendo tratado principalmente 
nas produções de Ratzel e Hartshorne. Os conceitos paisagem e região foram mais 
valorizados para a escola tradicional. 
O espaço para Ratzel (MORAES, 1990): 
• É a base indispensável para a vida do homem; 
• Contém as condições para ação humana através do trabalho; 
• Possui a necessidade de apropriação como premissa para a evolução da 
sociedade; 
• É considerado como espaço vital, o qual atende as necessidades territoriais 
de um grupo social em função de seu desenvolvimento tecnológico, do total 
de população e dos recursos naturais. 
 
 
 
 
Figura X – Puzzle Globe. 
Fonte: Corbis. Disponível em: <http://www.corbis.com.br>. 
Acesso em 18.11.2011 
 
“A preservação e ampliação do espaço vital constitui-se [...] na própria razão 
de ser do Estado [transformando-se] através da política, em território, conceito 
chave da Geografia”. (CORRÊA, 2006, p.18) 
 
O espaço para Hartshorne (CORRÊA,2006): 
• Entendido como espaço absoluto – conjunto de pontos que tem existência 
entre si, sendo independente de qualquer coisa; 
• É um quadro de referência na análise geográfica, isto é, não deriva da 
experiência, sendo apenas intuitivamente utilizado na experiência; 
• Considerado como um receptáculo que contém os objetos (rios, cidades, 
estradas, etc.); 
• É uma área, ou seja, uma porção do espaço absoluto que resulta da 
combinação única dos fenômenos naturais e sociais. 
 
Figura X – Book Globe. 
Fonte: Corbis. Disponível em: <http://www.corbis.com.br>. 
Acesso em 18.11.2011 
 
O espaço “é somente um quadro intelectual do fenômeno, um conceito 
abstrato que não existe em realidade [...] a área, em si própria, está relacionada 
aos fenômenos dentro dela, somente naquilo que ela os contém em tais e tais 
localizações”. (HARTSHORNE apud CORRÊA, 2006, p. 19). 
 
Harvey (apud CORRÊA, 2006) aponta que as diferentes práticas humanas 
estabelecem diferentes conceitos de espaço que são utilizados em certas 
circunstâncias. 
A partir de 1950, a Nova Geografia, ou a escola teorética-quantitativa se apropriou 
do conceito espaço. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Características da Planície Isotrópica: 
 
GEOGRAFIA TEORÉTICO-QUANTITATIVA 
ESPAÇO 
Considerado de duas formas 
REPRESENTAÇÃO 
MATRICIAL 
PLANÍCIE 
ISOTRÓPICA 
CONCEITO-CHAVE 
• Construção teórica que resume a concepção de espaço; 
• Derivada de um paradigma racionalista e hipotético-dedutivo; 
• Considerada, como ponto de partida, uma superfície uniforme; 
• Uniformidade em relação aos elementos naturais: geomorfologia, clima e 
cobertura vegetal; 
• Uniformidade em relação aos elementos antrópicos: densidade demográfica, 
renda e padrão cultural; 
• Circulação em possível em todas as direções; 
• Racionalidade econômica – maximização dos lucros e minimização dos 
custos; 
• Sobre as mesmas desenvolvem-se ações e mecanismos econômicos que 
levam a diferentes criações do espaço; 
• Ponto de partida: homogeneidade; ponto de chegada: criação diferenciada do 
espaço, vista como um equilíbrio espacial; 
• Variável mais importante: distância, pois a mesma determinará, em um 
espaço inicialmente homogêneo, a diferenciação espacial. 
 
Exemplos de utilização da Planície Isotrópica (CORRÊA, 2006): 
 
→ Anéis concêntricos de uso da terra (Von Thüsen); 
→ Gradientes de preço da terra; 
→ Densidades demográficas intra-urbanas; 
→ Hierarquia de lugares centrais (Christaller), originados da ação conjunta de 
mecanismos de alcance espacial máximo e mínimo; 
→ Teoria de localização industrial (Weber); 
→ Esquemas centro-periferia nos níveis intraurbano, regional, nacional e 
internacional. 
Todos os exemplos enunciados anteriormente derivam da ideia de efeito declinante 
da distância – distance decay (CORRÊA, 2006). 
Na Geografia Teorética-quantitativa, o espaço é entendido como relativo, resultante 
da relação entre os objetos e os custos daí derivados: dinheiro, tempo, energia; que 
serão maiores ou menores de acordo com a distância entre si. 
Considerando que o conceito-chave espaço é considerado de duas formas – como 
planície isotrópica e como representação matricial, iremos agora discorrer sobre a 
segunda forma de apreensão de tal conceito. 
 
Características da Representação Matricial: 
• Espaço geográfico representado por uma matriz; 
• O grafo como representação espacial; 
• Utilizada largamente pelos economistas espaciais em suas propostas de 
análise locacional com base nos temas movimento, redes, nós, hierarquias e 
superfícies; 
• Desenvolvimento de estudos sobre redes em Geografia. 
 
A Escola Teorética-quantitativa com geógrafos de tradição lógico-positivista 
abordaram o espaço com uma visão limitada ( CORRÊA, 2006) na medida em que 
“privilegia-se em excesso a distância vista como variável independente [e] as 
contradições, as agentes sociais, o tempo e as transformações são inexistentes ou 
relegadas a um plano secundário”. (CORRÊA, 2006, p. 22). 
A Geografia Teorética-quantitativa valoriza a noção paradigmática de equilíbrio 
espacial. Concluindo, Corrêa (2006) indica que, retirada a carga ideológica burguesa 
do conceito de espaço (planície isotrópica, racionalidade econômica, competição 
perfeita e a negaçãoda historicidade dos fenômenos sociais); o mesmo favorece o 
conhecimento operacional sobre: 
→ Localizações; 
→ Fluxos; 
→ Hierarquias; 
→ Especializações funcionais. 
 
O autor ainda afirma que tais modelos oferecem “pistas e indicações efetivamente 
relevantes para a compreensão crítica da sociedade em sua dimensão espacial e 
temporal, não devendo ser considerados como modelos normativos como se 
pretendia”. (CORRÊA, 2006, p. 23). 
A partir da década de 1970, observamos uma nova interpretação para o conceito 
espaço, calcada no materialismo histórico e na dialética marxista. 
É a Geografia Crítica que entende o espaço como “social, vivido, em estreita 
correlação com a prática social” (CORRÊA, 2006, p. 25). 
 
 
 
 
 
 
“Os modos de produção tornam-se concretos numa base territorial historicamente 
determinada [...] as formas espaciais constituem uma linguagem dos modos de 
produção”. (SANTOS, 1985, p.05). 
 
 
 
Figura X – Milton Santos. 
E 
S 
P 
A 
Ç 
O 
Locus da reprodução das relações 
sociais de produção 
REPRODUÇÃO 
DA 
SOCIEDADE 
Fonte: TV Brasil. Disponível em: <http://www.tvbrasil.org.br/novidades/wp-
content/uploads/2011/06/MILTON-SANTOS2-300x225.jpg> 
Acesso em 22.11.2011 
 
Milton Santos afirma que espaço, modo de produção e formação socioeconômica 
são categorias interdependentes, na medida em que a formação socioespacial, com 
seus fixos e fluxos, é resultante do espaço produzido pela sociedade, através do 
trabalho. 
 
 
 
LIVRO ESPAÇO E MÉTODO 
 
 
Figura X – Capa do livro Espaço e Método. 
Fonte: Sebo do Messias. Disponível em: 
<http://www.sebodomessias.com.br/loja/imagens/produtos/produtos/289346_229.jpg
> 
Acesso em 22.11.2011 
 
Sinopse: Neste livro, Milton Santos reflete sobre as ferramentas teórico-
metodológicas necessárias para interpretar criticamente o mundo através do 
espaço e sua dinâmica. O livro oferece proposições significativas para entender o 
papel ativo do espaço no movimento da totalidade social. O autor insiste na 
necessidade de elaborar uma periodização a partir da compreensão do presente 
para analisar, a cada momento histórico, a combinação de variáveis que compõe 
determinado subespaço. Este caminho de método lhe permite explicar a 
transformação do meio técnico em meio técnico-científico, atribuindo papel 
central ao trabalho intelectual e ao processo de circulação. A procura por 
entender a dialética espacial está presente também na definição do espaço como 
campo de força, incluindo o conflito entre o velho e o novo, entre as forças 
externas e internas, entre o Estado e o mercado. 
Fonte: 
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?sid=189511007141
15733568088946&isbn=8531410851 
Referência: SANTOS, Milton. Espaço e método. São Paulo: Nobel, 1985. 
 
Corrêa (1986 apud CORRÊA, 2006) define organização espacial como um conjunto 
de objetos criados pela sociedade e dispostos em determinada área, 
compreendendo, portanto, uma materialidade social. 
O espaço na concepção crítica da Geografia , contém categorias de análise, quais 
sejam: estrutura, processo, função e forma (SANTOS, 1985). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sintetizando: 
• Forma: aspecto visível; 
• Função: implica em uma tarefa; 
• Estrutura: natureza social e econômica de uma sociedade; 
• Processo: uma estrutura em seu movimento de transformação. 
 
 
Aspecto visível e exterior de um objeto, quer 
seja visto isoladamente ou considerando o 
mesmo inserido em um conjunto de objetos e 
formando um padrão espacial. 
FORMA 
Tarefa, atividade ou papel a ser 
desempenhado pelo objeto criado, a forma. 
Exemplos: Forma - casa, bairro, cidade. 
Função - moradia, trabalho, compras, lazer. 
FUNÇÃO 
Ação que se realiza de modo contínuo 
visando determinado resultado o que implica 
em tempo e mudança. 
PROCESSO 
Matriz social onde as formas e funções são 
criadas e justificadas, diz respeito à natureza 
social e economia de uma sociedade. 
ESTRUTURA 
Forma, função, estrutura e processo são quatro termos 
disjuntivos associados, a empregar segundo um contexto do 
mundo de todo o dia. Tomados individualmente, representam 
apenas realidades parciais, limitadas, do mundo. Considerados 
em conjunto, porém, e relacionados entre si, eles constroem 
uma base teórica e metodológica a partir da qual podemos 
discutir os fenômenos espaciais em totalidade. (SANTOS, 
1985, p. 53). 
 
Ainda na década de 1970, a corrente humanística da Geografia trouxe contribuições 
à ciência através do conceito-chave espaço. 
O espaço adquire o significado de espaço vivido e tem na fenomenologia 
existencialista sua base filosófica. Para Tuan (1983), no mesmo devem ser 
considerados os sentimentos espaciais e as ideias de um grupo social sobre o seu 
espaço, a partir da experiência. 
 
 
 
O espaço vivido vincula-se à geografia francesa com enraizamento na tradição 
vidalina, na psicologia genética de Piaget, na sociologia e na psicanálise (CORRÊA, 
2006). 
Tal concepção de espaço vivido contém significados particulares os quais advêm de 
associações subjetivas do indivíduo com o espaço, tal como indica Massey (2002, p. 
14), ao afirmar que o mesmo “é idiossincrático para nós por causa da singularidade 
de suas formas, superfícies e cores”. 
 
 
 
Leia com atenção o fragmento textual e a seguir faça o que se pede. 
 
 
Eis o espaço geográfico, a morada do Homem. 
Absoluto, relativo, concebido como uma planície 
isotrópica, representado através de matrizes e grafos, 
descrito através de diversas metáforas, reflexo e 
condição social, experenciado de diversos modos, rico 
em simbolismos e campos de lutas, o espaço 
geográfico é multidimensional. (CORRÊA, 2006, p. 44). 
 
Fonte: www.corbis.com.br 
 
O texto faz referência a várias interpretações do conceito-chave espaço, a partir das 
correntes de pensamento geográfico, o que nos remete a sua 
multidimensionalidade. Para Corrêa, ao aceitarmos tal fato, verificamos a existência 
de práticas sociais distintas, as quais permitem construir diferentes conceitos de 
espaço. 
A partir da reflexão realizada, das leituras empreendidas no curso e em sua história 
de vida, construa um conceito de espaço geográfico, a partir dos itens descritos a 
seguir: 
1. TÍTULO: Espaço geográfico 
2. OBJETO (o que é): 
3. FINALIDADE (para que): 
4. JUSTIFICATIVA/FUNDAMENTO (por que): 
 
2.2 Região: discussão conceitual 
 
O termo região remete à noção de diferenciação de áreas, com determinados 
critérios pré-estabelecidos. De origem latina – regere – significa regência, regente, 
governar. 
 
 
 
 
 
Figura X – Exemplo de regionalização a partir de critérios socioeconomicos: Norte - 
Sul. 
Fonte: IBGE TEENS. Disponível em: 
<http://ensinomedio3.files.wordpress.com/2010/08/norte_sul.jpg?w=289&h=175> 
Acesso em 22.11.2011 
 
2.2 - REGIÃO DISCUSSÃO CONCEITUAL 
LENCIONI (1999, p.14), afirma que “[...] o significado de região liga-se fortemente às 
tendências filosóficas de cada época”. Assim, a compreensão de tal conceito 
estruturante deve ser realizada considerando o contexto têmporo-espacial e a partir 
do significado dado ao mesmo em cada corrente do pensamento geográfico. 
No determinismo geográfico, surgiu o primeiro conceito de região natural, a partir do 
qual onde L. Gallois, em sua obra de 1908 – Régions naturelles et noms de pays – 
indica que “o ambiente impõe certo domínio na orientação do desenvolvimento das 
atividades humanas”. 
Corrêa (2002) explicita que no determinismo uma região se diferenciava da outra 
pelos seus aspectos físicos, sendo resultante de uma combinação dos elementos 
naturais do espaço, tais como geologia, tipos de solos, clima, vegetação, relevo; e 
de fatores antrópicos. A mesma possuiria escalas e dimensões variadas de acordo 
com os elementos descritos anteriormente. 
Vale destacar que o climasempre se destacou como um importante critério para a 
definição de regiões naturais e, na corrente determinista, cada configuração 
socioespacial seria diretamente influenciada pela região natural, principalmente pelo 
clima, indicando, os padrões de desenvolvimento dos grupos sociais. Vale lembrar o 
caráter ideológico e geopolítico de tal conceito no processo de expansionismo 
germânico. 
 
Figura X – Exemplo de regionalização a partir de critérios naturais: Tipos climáticos 
brasileiros. 
Fonte: IBGE TEENS. Disponível em: 
<http://1.bp.blogspot.com/__owLQBeF_Hw/Sgy2n-
oTYtI/AAAAAAAAAFI/PMzjIdaJq0c/s400/climas_do_brasil.gif> 
Acesso em 22.11.2011 
 
 
A regionalização do território brasileiro realizada pelo IBGE também utilizou o critério 
da região natural no estabelecimento de suas cinco regiões. Esse assunto será 
discutido posteriormente. 
 
 
 
 
Figura X – Regiões do Brasil. 
Fonte: IBGE TEENS. Disponível em: 
<http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/mapas/imagens/brasil_regioes_gde.gif> 
Acesso em 22.11.2011 
 
A corrente possibilista francesa, ao considerar a capacidade do homem na 
adaptação/transformação do ambiente, ultrapassa o conceito determinista de região 
natural, passando a considerar a região humana, geográfica, onde estão 
sintetizados tanto elementos naturais como humanos, conforme pode ser percebido 
na famosa citação de Henri Le Fébvre: a natureza propõe e o homem dispõe. 
Vidal de La Blache considerou a região como uma entidade concreta em seu livro de 
1903 - Tableau de la Geographie de la France. Propõe o termo região–paisagem 
ou região geográfica, onde a mesma é a expressão do trabalho humano, onde o 
mesmo tem papel ativo em sua transformar. 
Nesse perspectiva, caberia ao geógrafo investigar quais as combinações dos fatores 
responsáveis por sua configuração e singularidade. 
 
Sobre a região no possibilismo geográfico é importante que você saiba: 
 
• Limites são estabelecidos por um componente natural – clima, relevo, 
vegetação, solo, etc.; 
• É a associação de elementos naturais e humanos que configura a região; 
• O Homem como maior responsável por sua transformação; 
• Gênero de vida do grupo social – nível socioeconômico, cultural e técnico-
científico – transforma a região, singularizando-a; 
• Não existe diferença entre a região natural e a geográfica no que diz respeito 
aos processos evolutivos; 
• A população de uma região bem como a sua relação com as regiões 
circunvizinhas são responsáveis por sua singularidade; 
• Por tratar a região como uma unidade singular, fortaleceu esse conceito 
estruturante na ciência geográfica; 
• Do possibilismo derivou o método regional, ainda que esse estabelecesse o 
conceito de diferenciação de áreas – região percebida como uma área de 
fenômenos heterogêneos – servindo como base para o planejamento 
territorial realizado pelo Estado. 
 
A Nova Geografia, ou Geografia Teorética-quantitativa, cujos que tem como 
pressupostos são a racionalidade técnica e a utilização da estatística e de modelos 
matemáticos, compreende a região como “um conjunto de lugares onde as 
diferenças internas dos lugares são menores que as existentes entre eles e 
qualquer elemento de outro conjunto de lugares” (CORRÊA, 2002, p. 34). 
 
A região na Nova Geografia (CORRÊA, 2002): 
• Pauta-se no positivismo lógico, buscando a superação da subjetividade e da 
base empírica; 
• Produção intelectual, sendo delimitada através de critérios estabelecidos de 
acordo com os objetivos a serem alcançados pelo pesquisador; 
• Considerada uma classe de área constituída por vários objetos similares entre 
si; 
• Divide-se, de acordo com a tipologia adotada, em região simples, região 
complexa, região homogênea e região funcional ou polarizada; 
• Sistema de regiões está calcado explicitamente nos princípios de 
classificação, tal como se verifica nas ciências da natureza, como a botânica; 
• Inexiste um método regional estabelecido, e sim estudos nos quais as regiões 
formam classificações espaciais; 
• Identificam-se padrões espaciais de fenômenos vistos estaticamente ou em 
movimento. 
 
 
 
Em relação à região funcional (ou polarizada), na mesma existe uma maior dinâmica 
de fluxos, coma a funcionalidade regional assentada na economia, onde a 
rentabilidade e o mercado são aspectos importantes para a regionalização do 
território e/ou sua análise regional (CORRÊA, 2002, p. 34). 
Tal região representa as múltiplas relações espaciais coexistentes ais quais dão 
forma a um território, diferenciando-o dos demais. As cidades são, nessa 
perspectiva, o centro de tal forma de organização espacial, com o papel de centro 
polarizador, organizadora da hinterlândia, e estruturadora de sua área de influência. 
Para a Geografia Teórica-quantitativa, as regiões simples e complexas podem 
conviver ou se sobrepor no espaço, enquanto que nas regiões funcionais ou 
polarizadas e as homogêneas isso não seria possível, uma vez que são 
excludentes. 
Nessa corrente geográfica, a região é estudada a partir de objetivos 
preestabelecidos e com uma referência teórica (uso agrícola da terra, localidades 
centrais, desenvolvimento regional, entre outras) que dará o suporte necessário para 
o estudo de um segmento da superfície da Terra. 
A área é vista como laboratório de estudos sistemáticos, 
realimentando os referenciais teóricos que estes formulam. 
Assim, na nova geografia, estudos sistemáticos e de área não 
se distinguem entre si: mais do que uma complementação, eles 
são, em última instância, a mesma coisa. (CORRÊA, 2002, p. 
41, grifo do autor). 
 
A Geografia Crítica repensa o conceito de região, discutindo a postura empirista de 
análise regional empreendida pela geografia tradicional. Dentre as novas 
perspectivas teóricas trazidas pela Geografia Crítica, podemos destacar o conceito 
de região e o tema regional: 
• Sob uma articulação dos modos de produção; 
• Através de conexões entre classes sociais e acumulação capitalista; 
• Por meio das relações entre o Estado e a sociedade local; 
• Com a introdução da dimensão política. 
 
Para Corrêa (1997, p. 75), o processo de regionalização se acentua no modo de 
produção capitalista, pois é marcado “pela simultaneidade dos processos de 
diferenciação e integração, verificada dentro da progressiva mundialização da 
economia[...]”. 
 
Mecanismos de diferenciação de áreas no modo de produção capitalista (CORRÊA, 
2002): 
→ Divisão territorial do trabalho, que define o que será produzido aqui e ali; 
→ Desenvolvimento dos meios e técnicas de produção e a combinação das 
relações de produção originadas em momentos distintos da história e que 
definem como se realizará a produção; 
→ Ação do Estado e da ideologia que se especializa desigualmente, garantindo 
novos modos de vida e a pretensa perpetuação deles; 
→ Ampla articulação, através dos progressivamente mais rápidos e eficientes 
meios de comunicação, entre as regiões criadas ou transformadas pelo e 
para o capital. 
 
Assim, para a Geografia Crítica, a diferenciação do espaço é resultante da divisão 
territorial do trabalho e do processo de acumulação capitalista, que “produz e 
distingue espacialmente possuidores e despossuídos”. (GOMES, 2006, p. 65). 
Para Massey (2002), a identificação de regiões em uma perspectiva crítica deve se 
ater ao que é essencial no processo de produção do espaço, ou seja, a divisão 
socioespacial do trabalho. 
Critérios para a regionalização na perspectiva crítica: 
→ Diferentes padrões de acumulação; 
→ Nível de organização das classes sociais; 
→ Desenvolvimento espacial desigual; 
→ Entre outros. 
Gomes (2006) sinaliza que a Geografia crítica mantém a constituição de uma região 
através do processo de classificação do espaço segundo diferentes variáveis, 
mantendo os procedimentos metodológicos da Geografia Tradicional, alterando 
apenas a escolha dos critérios para o

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