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COMPONENTE CURRICULAR: Conceitos Básicos de Geografia Professora Gisele Costa SUMÁRIO CAPÍTULO 1: BASES E CONCEITOS DA GEOGRAFIA 1. 1 A Origem e o desenvolvimento da Geografia 1.2 A História e evolução do Pensamento Geográfico CAPÍTULO 2: CATEGORIAS DE ANÁLISE GEOGRÁFICA: ESPAÇO, REGIÃO, TERRITÓRIO, PAISAGEM E LUGAR 2.1 O espaço e as correntes do pensamento geográfico 2.2 Região: discussão conceitual 2.3 Território e territorialidade 2.4 A paisagem e o lugar na perspectiva geográfica CAPÍTULO 3: TERRITORIALIDADES, REDES E FLUXOS GEOGRÁFICOS 3.1 Escala e análise espacial 3.2 Redes e fluxos geográficos Apresentação da Disciplina Prezado(a) cursista, seja bem vindo(a)! É preocupante a desconsideração, de um bom número de geógrafos, no que se refere à correta utilização dos métodos e teorias da Geografia. Isso fica claro nos equívocos que margeiam, por exemplo, usos incorretos, aversão e até mesmo a total falta de uso das categorias de análise geográficas e as principais correntes do pensamento geográfico, que são importantes elementos metodológicos utilizados na operacionalização da teoria geográfica. Assim, o componente curricular Conceitos Básicos de Geografia pretende favorecer a significação dos conceitos estruturantes da Geografia, com a possibilidade de sua correta utilização na leitura e interpretação dos fenômenos geográficos em suas diversas escalas de análise. O objetivo geral do componente curricular é analisar a importância do conhecimento dos conceitos estruturantes da Ciência Geográfica, seus métodos de análise utilizados no estudo da organização espacial, bem como o instrumental teórico e os conhecimentos sobre a história desta área científica, favorecendo a construção e o entendimento no/do espaço geográfico contemporâneo, caracterizado pelo território das redes, das velocidades, da multicentralidade e das mudanças decorrentes destes aspectos. A leitura desse material, bem como a pesquisa a outras fontes de informação, oportunizará a reflexão e compreensão de conceitos-chave da ciência geográfica para a teorização e entendimento do mundo no qual estamos inseridos. Aproveite a leitura! Profa. Gisele Costa CAPÍTULO 1: Bases e conceitos da Geografia 1.1 A Origem e o desenvolvimento da Geografia Obs. A Geografia é a ciência que estuda o “espaço da sociedade humana, onde os homens e as mulheres vivem e, ao mesmo empo, produzem modificações que o (re)constroem permanentemente” (VESENTINI. Disponível em: http://www.geocritica.com.br/). Assim, para analisarmos o objeto de estudo da Geografia, que é o espaço geográfico, precisamos compreender as suas categorias de análise, quais sejam: o espaço geográfico, o lugar, a paisagem, a região, o território, as redes, a natureza, dentre outras. As categorias de análise são expressões, palavras ou conceitos às quais se atribui dimensão filosófica, ou seja, "produzem significado basicamente não de uso coletivo, mas do sentido que adquirem no contexto de sistemas de pensamento determinados" (GENRO FILHO, 1986, p.38). Como área do conhecimento que, desde que tornou-se ciência autônoma, a partir do século XIX, buscou sempre manifestar ou sua preocupação com a busca da compreensão da relação dos seres humanos com o meio (entorno natural). Tal busca fez com que a Geografia se diferenciasse das demais ciências, individualizadas em Ciências Naturais e Sociais de acordo com as suas classificações e objetos de estudos. Essa visão de síntese, que marca o atual paradigma sistêmico (CAPRA, 1996), torna tal ciência privilegiada na busca do entendimento das questões socioambientais contemporâneas, ainda que durante a modernidade, o modelo da racionalidade tenha separado, dividido o conhecimento, com a ruptura entre as ciências naturais e as ciências sociais, onde, inclusive a Geografia, fragmentou-se em Geografia Física e Humana, sem a devida interlocução entre as duas. O espaço geográfico é resultado do processo histórico no qual a sociedade imprime paulatinamente as suas marcas. “São as práticas espaciais, isto é, um conjunto de ações espacialmente localizadas que impactam diretamente sobre o espaço, alterando-o no todo ou em sua parte ou preservando-o em suas formas e interações espaciais” (CÔRREA, 2002, p. 36). Para Milton Santos, o espaço geográfico pode ser definido como “um sistema de objetos e um sistema de ações” (SANTOS, 1996, p. 63), que É formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como um quadro único na qual a história se dá. No começo era a natureza selvagem, formada por objetos naturais, que ao longo da história vão sendo substituídos por objetos fabricados, objetos técnicos, mecanizados e, depois cibernéticos fazendo com que a natureza artificial tenda a funcionar como uma máquina. (SANTOS, 1996, p. 64). É importante salientar que na elaboração do conceito de espaço geográfico está presente, de forma inconfundível, a expressão de diferentes categorias de análise. Assim, é importante refletir sobre como a Geografia construiu e ainda constrói estas categorias de análise na concepção do conceito mais abrangente que é o de espaço geográfico. Antes de nos aprofundarmos em tais categorias, vamos discutir, ainda que de forma sucinta, a origem e desenvolvimento da Geografia. Desde a antiguidade, os povos primitivos possuíam uma cultura, um modo de vida impregnadas de idéias geográficas, transmitidas de geração em geração através da tradição oral, de desenhos e de pinturas em rochas. Por exemplo, entre 3800 e 2400 AC os babilônios produziram um mapa, considerado hoje o mais antigo que se tem conhecimento. Representando a região da Mesopotâmia, mais especificamente o rio Eufrates e adjacências, foi sulcado em barro e cozido posteriormente, com dimensões de 7X8cm. Figura X - O mapa de Ga-Sur, feito na Babilônia, representando provavelmente o vale do rio Eufrates. Fonte: GEOMUNDO. Disponível em <http://www.geomundo.com.br/geografia- 30174.htm>Acesso em 12.11.2011. As sociedades primitivas viviam da coleta, da caça e posteriormente, da agricultura primitiva, entrando assim, em contato com a natureza, dela retirando o que necessitavam para a sua subsistência. Com isso, a natureza era alterada pela ação humana, ainda que de modo insipiente. Tal ação foi acumulando o conhecimento geográfico pelas antigas sociedades: áreas fluviais e costeiras mais piscosas, mecanismos das estações e a relação com as migrações de de animais silvestres ou de safras, a exemplo das migrações empreendidas pela sociedades indígenas no nordeste brasileiro na “colheita do caju” na época de sua safra, antes da dominação portuguesa em seu território. Vale lembrar que a religiosidade praticada pois grupos sociais associava os fenômenos da natureza e os astros com a ideia de divindade. Tais conhecimentos de ordem prática e também mística concorreram para lançar as sementes de uma área do conhecimento que futuramente seria denominada Geografia. Na antiguidade oriental, houve o expressivo desenvolvimento do conhecimento empírico da Geografia, além da observação e estudos matemáticos dos astros que auxiliaram no conhecimento sistemático do mundo. Por exemplo, as antigas civilizações do Egito e da Mesopotâmia realizaram estudos sobre os rios Nilo, Tigre e Eufrates, com o objetivo de conhecer os seus regimes hídricos e as possíveis áreas a serem cultivadas ao longo do ano, com a consequente produção de alimentos. Com o acúmulo de conhecimentos e desenvolvimento técnico de tais sociedades, os excedentes geraram o consequente desenvolvimento do comércio, com a intensificação de trocas comerciais entre os povos. Com isso, a navegação também se aprimorou, e houve a intensificaçãoda mesma no mar Mediterrâneo e no mar Vermelho, com o surgimento de novos núcleos colonais, guerras pela dominação de rotas comerciais e de dominação política e econômica dos povos em ascensão. As ideias geográficas ao lado de outras ciências se desenvolveram a partir de conhecimentos práticos de exploração dos vários rincões da Terra e das observações empreendidas pelos viajantes, concomitante a sistematização de pensadores, filósofos e matemáticos. Foi com os gregos que teve início a história do pensamento geográfico. Sabe-se que a cultura da Grécia antiga foi a primeira cultura conhecida a explorar de forma ativa a Geografia como ciência e filosofia. Tales de Mileto, Heródoto, Eratóstenes, Hiparco, Aristóteles, Estrabão e Ptolomeu, são os primeiros nomes de destaque nos estudos geográficos. Os gregos aprenderam muito com a cultura da Mesopotâmia, aprenderam a reconhecer o movimento da Lua ao redor do planeta e a dividir o ano de acordo com tal movimentação, a distinguir planetas das estrelas, a identificar vários planetas, além dos estudos de geometria, que auxiliaram no estabelecimento das dimensões do planeta Terra. Dedicaram-se à navegação pelo mediterrâneo, estabelecendo contato com outros povos, o que concorreu para a ampliação do conhecimento geográfico e também para a difusão de sua cultura até o mar Cáspio e a Índia. Os escritores gregos fizeram várias descrições geográficas, Estrabão escreveu uma obra com 17 volumes intitulada “Geografia”, sendo esse o primeiro registro conhecido do termo. Nessa obra, a qual apenas alguns fragmentos chegaram aos dias atuais, está compilado grande parte do conhecimento científico e geográfico da época. Erastóstenes deduziu a forma esférica da Terra e indicou com relativa precisão as dimensões do planeta, através da medição com o gnômon, da inclinação dos raios solares em um poço, em dois pontos distintos – Sienna e Alexandria, porém situados na mesma longitude. Aristóteles realizou importantes estudos sobre a Terra, a partir da observação de fenômenos naturais tais como o eclipse, deduzindo a esfericidade da Terra através da observação da sombra circular projetada na Lua durante o fenômeno. Além de tal evidência, apresentou mais duas para corroborar a sua teoria, a de que só é possível explicar as mudanças produzidas no horizonte e o surgimento das constelações na esfera celeste pelo fato do planeta Terra ser uma esfera. A outra evidência apresentada é o fato de que a matéria tende a concentrar-se em torno de um centro comum. Os gregos, além de admitirem a esfericidade da Terra, apresentaram a tese da inclinação da superfície terrestre em relação à direção dos raios solares, tendo como consequência a diferenciação climática, com uma zona quente equatorial, seguida de uma temperada e outra muito fria, próxima ao polo. Para eles, a vida só era possível na zona temperada, onde viviam, pois o excesso de calor nos trópicos e o excesso de frio nos polos impossibilitava a presença da vida. Figura X - Os gregos propuseram três zonas climáticas na Terra, de acordo com a incidência da radiação solar de acordo com a superfície esférica do planeta. Fonte: Nautilus. Disponível em <http://nautilus.fis.uc.pt/astro/hu/movi/images/imagem14.jpg>. Acesso em 12.11.2011. Ptolomeu, no século II d.C., escreveu em seu livro “Sinataxis”, também conhecido com o nome árabe “Almagesto”, a teoria geocêntrica, na qual a Terra estava situada no centro do Universo, tendo ao seu redor círculos concêntricos, onde se localizavam o Sol, a lua, as estrelas fixas e os planetas, sua teoria só foi refutada no século XV, através da teoria geocêntrica de Copérnico. Figura X –Ptolomeu e o modelo geocêntrico. Disponível em <http://t3.gstatic.com/images?q=t bn:ANd9GcRY1aQM17dkDDP9 mVoVSlrtw04Dw1qQs5HdoSp8g _GdU7lUhPSU09nYlESh>. Acesso em 12.11.2011. “Cláudio Ptolomeu, astrônomo, geógrafo e matemático, nasceu no início do século II da era cristã em TolemaidaHerméia, colônia grega no Egito. Com base nas suas observações astronômicas, pode-se estabelecer com certeza quase absoluta que viveu em Alexandria o mais importante centro cultural da época – de 127 a 145. Nesse período de tempo seu trabalho atingiu o apogeu. Sendo uma das personalidades da época do imperador Marco Aurélio, procurou sintetizar o trabalho de seus predecessores. Por meio de suas obras de astronomia, matemática, geometria, física e geografia, deu à civilização medieval o seu primeiro contato com a ciência grega. Segundo a tradição árabe, Ptolomeu morreu aos 78 anos de idade, deixando-nos muitos dos seus conhecimentos astronômicos por meio de um tratado, em treze volumes, o Almagesto. (Adaptado de http://profs.ccems.pt/PauloPortugal/CFQ/Ge ocentrismo_Heliocentrismo/Geocentrismo_ Heliocentrismo.html) Após a conquista da Grécia pelos romanos, entre os séculos II e I a.C., a geografia continuou a desenvolver-se. Como os romanos eram inferiores culturalmente aos romanos, absorveram a cultura e grega e utilizaram os pedagogos gregos para ensinar aos filhos dos romanos. Os romanos eram muito pragmáticos, e com o objetivo de desenvolver o a organização do império e o comércio sobre as suas inúmeras províncias, deram muito valor à geografia descritiva. Geógrafos romanos, tais como Pompônio Mela e Plínio, desenvolveram importantes estudos geográficos sobre o império. Durante a Idade Média, o poder da igreja influenciou o pensamento geográfico, com alguns retrocessos no desenvolvimento científico, na medida em que ideias já comprovadas pelos gregos, tais como a esfericidade da Terra, foram refutadas. Somente aos o século XII, com a difusão de ideias de Aristóteles, que a esfericidade da Terra voltou a ser discutida. Com a expansão comercial, e consequente expansão do mundo conhecido, estudos sobre a distribuição das águas e das terras na superfície do planeta, além do desenvolvimento da cartografia com rotas marítimas detalhadas, auxiliaram no desenvolvimento da geografia. As grandes navegações, nos séculos XV, foram importantes, tanto do ponto de vista comercial e econômico como também do desenvolvimento científico. Nas viagens, estudiosos acompanhavam os navegadores. Aqueles aperfeiçoavam os portulanos (mapas das costas), corrigindo distorções e erros, concorrendo par ao avanço da cartografia, além de escrever tratados, com descrições minuciosas de novas culturas, povos e paisagens. A expansão do espaço conhecido auxiliou na dominação da configuração do planeta e a refutação de ideias e crenças medievais sobre sua superfície. Entre os séculos XV e XVIII se aperfeiçoou o conhecimento sobre o magnetismo da Terra, com a diferenciação entre o polo geográfico e o magnético, com melhor ajuste das longitudes e correção de antigos mapas. No século XVIII ficou comprovado que a Terra era redonda e não esférica, como um resultado do movimento rotacional do planeta, descoberto por Galileu. Para se constar o achatamento nos polos, Maupertuis e Clairaut comandaram uma expedição à Lapônia e Bouger e Condamine outra ao Peru, onde mediram o arco meridiano. Ficou constatado, então, um a menor comprimento do grau do meridiano na região equatorial do que na região polar, comprovando o formato geóide da Terra: dilatado no equador e achatado nos polos. As descobertas de Isaac Newton sobre a lei gravitacional universal, a forma das órbitas dos planetas em seus movimentos de translação descobertas por Kepler, entre tantos outros estudiosos que deixaram o seu legado investigativo para o desenvolvimento do conhecimento humano, concorreram para a autonomia de várias áreas científicas, inclusive da Geografia. 1.2 A História e evolução do Pensamento Geográfico O pensamento sistematizado da Geografia ocorre no início do século XIX, quando as condições históricas foram reunidas propiciandosua autonomia. Moraes (2003), afirma que tais condições são engendradas no desenvolvimento do modo capitalista de produção. Para esse autor, foram necessárias algumas condições materiais, a saber: • Conhecimento efetivo da extensão real do planeta; • Repertório de informações sobre variados lugares da Terra; • Aprimoramento das técnicas cartográficas. Todas essas condições materiais para a sistematização da Geografia são forjadas no processo de avanço e domínio das relações capitalistas. Dizem respeito ao desenvolvimento das forças produtivas, subjacente à emergência do novo modo de produção. (MORAES, 2003, p. 43). Conforme abordado, a Geografia começou a ser considerada uma ciência autônoma a partir do século XIX, a partir de importantes estudos desenvolvidos pelo naturalista alemão Alexandre von Humboldt e pelo filósofo e historiador Karl Ritter, também alemão (MOREIRA, 2009). De fato, a Alemanha trouxe a Geografia para o âmbito das ciências contemporâneas, assim como as discussões e estudos que elevaram a Geografia para uma cadeira nas universidades na França. Figura X - Alexandre von Humboldt Fonte: Instituto Humboldt. Disponível em <http://www.institutohumboldt.com.br/images/patrono.jpg> Acesso em 15. 11.2011 Figura X – Karl Ritter. Fonte: Geogradicto. Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_int8A6xi- ks/S_YSRQCN5AI/AAAAAAAAAK8/2dMLa1sKsEY/s1600/ritter_karl.jpg>. Acesso em 15.11.2011 Humboldt contribuiu com a estruturação da ciência geográfica através de estudos realizados na Europa, América Latina e Ásia. Já Ritter, através de seus estudos, apresenta o conceito de sistema natural– área delimitada dotada de uma individualidade, sendo a Geografia responsável por tais arranjos individuais procedendo a uma comparação. Cada arranjo possui um conjunto de elementos – físicos, biológicos e humanos, sendo o homem seu principal elemento – compondo uma totalidade. Pode-se afirmar que a metodologia proposta por Ritter foca no estudo dos lugares e de sua individualidade. Moraes (2003) ressalta a importância desses dois estudiosos para a criação de uma linha contigua no pensamento geográfico, o que não existia até então, além do papel desempenhado por ambos na formação das cátedras da Geografia. OBS. ALEXANDRE VON HUMBOLDT Geógrafo, filósofo, historiador, explorador e naturalista alemão nascido em Berlim, que deu início, em fins do século, a memoráveis expedições naturalísticas e é considerado o fundador da moderna geografia física. De uma nobre e rica família da Pomerânia, e herdeiro de grande fortuna, foi atraído desde jovem pelas expedições científicas. A partir dos vinte anos começou a viajar pelo mundo, notadamente Europa e América, Tibete e Himalaia; desenvolveu separadamente o conceito de meio ambiente geográfico: as características da fauna e da flora de uma região estão intimamente relacionadas com a latitude, tipo de relevo e condições climáticas existentes. Explorador e profundo conhecedor da América, viajoupelo rios Amazonas, Orinoco, Atabapo e Negro, em busca de um rio que ligasse as bacias do Amazonas e do Orenoco. Proibido por ordem do governo português, que não desejava estrangeiros em seus domínios, foi impedido de prosseguir viagem pelo território brasileiro. Depois de percorrer cerca de 65.000km e recolheu mais de sessenta mil espécies de plantas, voltou à Europa com esse rico material que estudaria pelo resto da vida, dando inestimável contribuição para o desenvolvimento das ciências naturais. Iniciou a publicação da colossal obra Voyage de Humboldt etBonplandauxrégionséquinoxialesdu nouveau continent, fait en 1799-1804 (1805- 1834), em trinta volumes. Outra grande obra sua foi Kosmos, EntwurfeinerphysischenWeltbeschreibung (1845-1862), em cinco volumes, concluídos aos 86 anos do autor e síntese de seus conhecimentos, gastandoa maior parte da fortuna que herdou nas suas viagens e na publicação de suas obras. Deixou muitos outros escritos quando morreu em Berlim, com a avançada idade de 90 anos. Disponível em: http://www.brasilescola.com/biografia/alexander-von-humboldt.htm OBS. KARL RITTER Geógrafo alemão, nascido em Quedlinburg, então pertencente à Prússia, descobridor do raio ultravioleta (1801) e de grande importância para a modernageografia humana. Protegido por um banqueiro de Frankfurt, entrou para auniversidade (1798) onde estudou ciências naturais, história e teologia por cinco anos. Esteve em Göttingen (1814-1819) e depois de ensinar história em Frankfurt (1819), assumiu a cátedra de história da Universidade de Berlim (1820), na qual se manteve até o fim da vida. Professor na Universidade de Berlim, publicou seu primeiro trabalho sobre geografia, uma série de seis mapas sobre a Europa, talvez o primeiro atlas físico da história (1806), que seria atualizado (1811). Iniciou sua obra mais importante e extensa foi Die erdkundimverhältniszurnaturundsurgeschichtedesmenschen (1817), de valiosos ensinamentos, planejada para abordar a geografia de todo o planeta, porém o autor morreu quando completou o 19° volume, em Berlim. Foi o fundador da Sociedade Geográfica de Berlim e considerava-se um discípulo e continuador do geógrafo Alexander von Humboldt. Foi um pioneiro da geografia moderna e do seu ensino nas universidades, concebendo a geografia como ciência empírica e sustentando que sua metodologia deveria basear-se na observação direta, ao invés de partir de hipóteses teóricas. Sua obra máxima foi Die ErdkundeimVerhältnisszurNaturundzurGeschichtedesMenschen, em 19 volumes (1817-1859). Disponível em: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/KarlRitt.html No final do século XIX, dois geógrafos deixaram marcas importantes no desenvolvimento da geografia como ciência: Ratzel e Élisé Reclus. O alemão Ratzel estava ligado ideologicamente à construção de uma Alemanha imperialista – já que esta havia chegado com atraso na partilha do mundo – através de estudos de geografia política, amplamente utilizados pelas oligarquias como justificativa para uma política expansionista, também chamada de pan-germanista. O francês Reclus, anarquista militante, sistematizou uma teoria libertária, na qual apresentava a luta de classes como meio de diminuir a exploração, além de condenar a colonização advinda do processo expansionista dos países em processo de industrialização. Durante muito tempo a Geografia permaneceu como ciência descritiva da superfície da Terra, tal visão reducionista tem raízes no próprio processo de expansionismo colonial no período da estruturação da Geografia como ciência. Os países europeus e os Estados Unidos preocupavam-se em catalogar as riquezas existentes nos novos territórios conquistados. Andrade (2008, p. 65) sinaliza que Na fase de desenvolvimento do capitalismo industrial e da necessidade de um conhecimento aprofundado do espaço produtivo, [os geógrafos] fizeram estudos corológicos, procurando desenvolver uma análise de porções mais ou menos restritas da superfície do planeta. Partiram do princípio de que a análise das várias partes levaria à soma das mesmas e ao melhor conhecimento do todo. Assim, em uma primeira fase de sistematização, a geografia consolidou-se como como uma ciência descritiva e ideográfica, pautada no método indutivo (parte do particular para o geral). O Determinismo Geográfico A Geografia alemã preocupou-se com a descrição e análise da paisagem. A Geografia francesa buscava a síntese através do estudo da paisagem, considerando não apenas os seus aspectos naturais, mas também a ação humana sobre a mesma. Através de sua obra denominada Antropogeografia: fundamentos da aplicação da Geografia à História, de 1882, Friedrich Ratzel estabeleceu o conceito de determinismo geográfico. O determinismo destaca as influências que as condições do meio natural exercem sobre a humanidade,quais sejam: • Influências sobre a fisiologia e caráter das pessoas e, através destes, na sociedade; • Influências sobre a constituição social, através dos recursos naturais disponíveis onde a sociedade está localizada; • Expansão de um povo, dificultando ou acelerando o processo; • Possibilidades de contato com outros povos, favorecendo a miscigenação ou o isolamento. Cumpre esclarecer que tais influências do meio serão mediadas pelas condições socioeconômicas da sociedade. E, para a sociedade conquistar o seu progresso e liberdade, deveria manter uma relação íntima com o meio, o que justifica a criação do Estado. “Quando a sociedade se organiza para defender o território, transforma- se em Estado”. (RATZEL apud MORAES, 2003, p. 60). O território representa a própria sociedade, a as suas condições de trabalho, e a sua perda, significa a sua decadência. Já o progresso implica o aumento do território, a conquista de novas áreas. Esse é um ponto chave do determinismo geográfico, o qual trabalha com o conceito de espaço vital. O espaço vital é definido como a proporção existente entre a população de uma dada sociedade e os recursos naturais disponíveis para suprir suas necessidades. Este conceito indica suas possibilidades de progredir em seu próprio território e a necessidade de conquista de novos territórios. Este conceito naturaliza o processo expansionista, justificando e legitimando o imperialismo germânico. O ministro prussiano Otto von Bismarck (1815-1898), ministro prussiano, utilizou o conceito de espaço vital como ideologia subjacente ao expansionismo alemão, legitimando as suas ações. O determinismo geográfico é coerente com o momento histórico vivenciado pela Alemanha, que estava passando por um processo de unificação. Discípulos da escola determinista ampliaram o conceito afirmando que o homem seria um produto do meio onde vivia, relacionando meios naturais mais hostis. Muitos estudiosos, considerados discípulos da escola determinista, foram além do pensamento de Ratzel e chegaram a afirmar que o homem seria um produto do meio em que vivia. Defendiam, inclusive, que um meio natural mais hostil proporcionaria um maior nível de desenvolvimento, já que este exigiria também um alto grau de organização social para conseguir suportar todas as adversidades impostas pelas condições da natureza, tais como a dificuldade de ocupação, os rigores do Inverno, etc. Essa concepção justificou o neocolonialismo entre o final do século XIX e início do século XX, quando as potências industriais colonizaram povos do continente africano e asiático. A Alemanha Nazista utilizou esses mesmos princípios mais tarde com o objetivo de justificar as suas ações durante a Segunda Guerra Mundial. Brunschwig, Henri. A Partilha da África Negra: 1880-1914. São Paulo: Perspectiva, 1974. Sinopse: “O processo de partilha do continente africano resultou de uma estreita vinculação da política colonial com a política geral. Começou bem antes da Conferência de Berlim de 1885, no início do século, mas verdadeiro imperialismo divisor data da generalização, após 1890, da noção de 'zona de influência'. Rivalidades e negociações entre os partilhantes europeus se referiam frequentemente aos tratados firmados com os africanos. Estes, todavia, não podiam, então, compreender termos tão capciosos como os de protetorado e outros e, assim, toda a imensa complicação diplomática delineou apenas uma história de dominação branca e de jogo de poder projetados na geografia negra, com as fronteiras territoriais delineadas sem respeitar a disposição da população local, com base nos interesses dos europeus, recorrendo a noções arbitrárias como latitude, longitude, linha de divisão das águas e curso presumível de um rio que mal se conhecia. Tais fronteiras ainda sobrevivem: cerca de 90% das atuais fronteiras na África foram herdadas do período colonial e em apenas 15% delas foram levadas em consideração questões étnicas.” Disponível em: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?isbn=8527302780&sid =6249711481331358351189581 http://guiadoestudante.abril.com.br/estudar/historia/partilha-africa-434731.shtml O Possibilismo No final do século XIX, em reação ao determinismo alemão, surgiu na França a corrente de pensamento geográfico denominado Possibilismo, tendo Paul Vidal de La Blache como seu principal pensador. O Possibilismo afirma que o meio exerce alguma influência sobre o indivíduo e a sociedade, porém através da racionalidade humana é possível aos grupos sociais alterar o meio ambiente, adaptando o mesmo de acordo com as suas necessidades. La Blache apresenta várias críticas ao modelo determinista ratzeliano, entre elas, podemos destacar: • Concepção fatalista e mecanicista, propondo uma postura relativista; • Caráter exclusivamente naturalista, propõe a ideia de que o homem faz parte do processo geográfico interferindo na paisagem e modificando-a; • Mistura entre ciência e política, propondo a separação das mesmas. Esse estudioso estabeleceu uma série de princípios através dos quais a Geografia deveria balizar suas investigações: • A unidade dos fenômenos terrestres; • A relação da Geografia com todos os fenômenos da superfície da Terra; • A influência do meio sobre o homem, e os processos de relação homem- meio; • A premência de um método científico próprio para definir e classificar os fenômenos; • O reconhecimento do papel das sociedades na alteração do meio ambiente, modelando e transformando o mesmo. La Blache afirma que as sociedades aprenderam, através dos séculos, a apropriar- se da natureza, dela retirando o seu sustento através do trabalho. Cunhou o conceito "gênero de vida" afirmando que o meio não é determinista sobre o homem ou a sociedade, oferece oportunidades, cabendo ao grupo social fazer escolhas, por isso a sua escola é denominada possibilista. Cumpre ressaltar, no entanto, que o indivíduo não é totalmente livre, uma vez que está submetido a uma determinada cultura, com seus sistemas de valores, organização, tecnologia, ou seja, a um gênero de vida. Tal afirmação denota uma sutil contradição em sua teoria: ao passo que critica o expansionismo alemão, legitima o colonialismo francês nos continentes asiático e africano. Dessa maneira, tanto o determinismo alemão como o possibilismo francês foram poderosas armas ideológicas para legitimar a ação imperialista das duas potências. O possibilismo deixou vários discípulos que deram continuidade à obra de La Blache. O mesmo organizou uma obra – Geografia Universal – na qual onde cada discípulo discorreu sobre uma “região” da Terra. A partir de La Blache, o conceito de “região” ganhou uma maior amplitude, deixando de ser visto apenas do ponto de vista geológico, passando a ser entendido como a expressão da relação homem- natureza, ou seja, como um produto histórico. A região, na escola possibilista, é considerada como uma unidade de análise na Geografia, a qual sintetiza a organização de determinada sociedade sobre o espaço terrestre, sendo, portanto, um dado concreto da pesquisa geográfica, cabendo, para o seu desvelamento, a sua delimitação, descrição e explicação pelo geógrafo. O estudo da região favoreceu o surgimento da Geografia Regional, a qual busca estudar minuciosamente as regiões, através da aplicação de conhecimentos cartográficos, da análise da formação histórica, dos setores da economia. Estudos se multiplicaram sob tal perspectiva geográfica, o que gerou um acúmulo expressivo de análises locais e isoladas, gerando, inclusive, as especializações da Geografia, tais como a Geografia Política, Geografia Urbana, Geografia Agrária, Geografia Econômica, Geografia Histórica, entre outras. O Método Regional O Método Regional não é considerado uma escola do pensamento geográfico, estuda áreas delimitadase regiões, tendo como base os conhecimentos desenvolvidos por Vidal de La Blache e Richard Hartshorne. Cumpre esclarecer que, desde o século XVII, estudos sobre a região foram desenvolvidos, através da obra intitulada Geografia General: en la que se explican las propriedades generales de la Tierra, de Bernardo Varenius (1650). Nos séculos XVIII e XIX, Kant e Ritter também desenvolveram investigações regionais. Nos anos 40 do século XX, através dos estudos do geógrafo estadunidense Richard Hartshorne, o método regional voltou a ser valorizado. Esse método produz um conhecimento regional, sintético, sobre as diferentes áreas do globo. As principais publicações do geógrafo Richard Hartshorne ocorreram entre as décadas de trinta e sessenta do século XX nos Estados Unidos. Foi muito valorizado sobretudo por introduzir o debate teórico e metodológico na ciência geográfica. Com base descritiva, reafirmou a Geografia como o estudo do espaço e dos lugares, com o estudo exaustivo das características de determinada área ou região. Figura X – Richard Hartshorne. Fonte: Realmagick. Disponível em: <http://www.geography.wisc.edu/images/richard_hartshorne_jpg.jpg>. Acesso em 16.11.2011 Hartshorne não considera a região como o objeto de estudo da ciência geográfica, e sim como método utilizado para estabelecer a unidade espacial (região) resultante de um arranjo único de fenômenos heterogêneos, e também para identificar as diferenças existentes entre as áreas. O método regional consolidou a descrição de lugares como meio de construção do conhecimento geográfico. Neste, a Geografia traduz-se como ciência da natureza e da sociedade, a qual estuda as diferenciações entre as áreas da superfície terrestre. No método regional, a região seria definida como uma combinação singular de elementos cujas interrelações seriam o objeto de estudo dos geógrafos. Enquanto os historiadores estudam a origem e desenvolvimento dos fenômenos, os geógrafos, no método regional, buscam apreender, através da descrição, a articulação de fenômenos no presente, com as características resultantes de tal articulação. Com isso seria possível interpretar o caráter variável da superfície do planeta, sem, no entanto, buscar teorias com explicações gerais ou generalizações. Enquanto que no determinismo e possibilismo o geógrafo deveria descrever tudo o que estivesse visível aos olhos, no método regional, o geógrafo deveria selecionar previamente os fenômenos significativos para delimitar a área estudada. “As divisões regionais são reproduzidas pelo intelecto, segundo objetivos determinados pelo pesquisador.” (CORRÊA, 2002, p. 15). Sendo considerada uma ciência de síntese, a partir da qual todo e qualquer fenômeno espacial teria interesse para a Geografia, não possuía um objeto de estudo específico, e sim um método próprio – diferenciação de áreas – através do processo corológico, o qual favorecia o diálogo interdisciplinar. Tal método teve também como proposta a superação da dicotomia já então existente na Geografia: geografia física X geografia humana e geografia geral X geografia regional. Com o método regional, seria possível alcançar uma síntese de tais perspectivas, com um caráter idiográfico e nomotético, sendo que no primeiro, busca-se a singularidade do lugar, já no segundo busca-se definir normas gerais, padrões de relações entre elementos, no sentido de estabelecer normas gerais, perspectiva que acabou prevalecendo no restante do século XX e considerada adequada para os estudos da natureza, em vista da regularidade dos seus fenômenos. Assim sendo, o estudo regional, voltado para as sínteses das relações complexas, consiste tanto no trabalho empírico de observação como no de estabelecer relações gerais. O objeto da geografia regional é unicamente o caráter variável da superfície da Terra – uma unidade que só pode ser dividida arbitrariamente em partes, as quais, em qualquer nível da divisão, são como as partes temporais da história, únicas em suas características (HARTSHORNE, 1939, apud CORRÊA, 2002, p. 18). De todo modo, Hartshorne é tido como um dos principais responsáveis pela transição de uma fase clássica da Geografia para uma fase moderna. Suas proposições, conforme Moraes (2003), finalizam o ciclo da chamada Geografia Tradicional que havia se caracterizado como uma ciência de síntese e desenvolvida a partir do trabalho empírico. “A região, para Hartshorne, não passa de uma área mostrando a sua unicidade, resultando de uma integração de natureza única de fenômenos heterogêneos”. (CORRÊA, 2002, p.16). A Nova Geografia Contexto histórico e socioeconômico (CORRÊA, 2002): • Surge após a Segunda Guerra Mundial; • Nova fase de expansão capitalista; • Recuperação da economia europeia; • Guerra fria envolvendo os EUA e a URSS; • Desmantelamento dos impérios coloniais, a partir dos anos sessenta; • Nova divisão social e territorial do trabalho; • Difusão de novas culturas; • Urbanização e industrialização acelerada. Os antigos paradigmas geográficos (determinismo, possibilismo e método regional) no contexto anteriormente descrito caíram por terra, pois não eram mais suficientes para justificar a expansão do capitalismo. Assim, a nova geografia, conhecida também como geografia teorética ou quantitativa, cumpre o papel ideológico de apontar para o desenvolvimento a médio prazo, com o subdesenvolvimento como uma etapa a ser superada. Características da nova geografia (CORRÊA, 2002, p. 18 - 20): • Nasce na Suécia, Inglaterra e Estados Unidos; • Abordagem locacional: espaço como resultado das decisões locacionais; • Teoria dos Polos de Desenvolvimento; • Difusão do sistema de planejamento do Estado capitalista; • Positivismo lógico: método de apreensão do real, com pretensa neutralidade científica; • Procura leis ou regularidades empíricas sob a forma de padrões espaciais; • Emprego de técnicas estatísticas, dotadas de maior ou menor grau de sofisticação (média, desvio padrão, coeficiente de correlação, etc.); • Utilização da geometria (por exemplo a teoria dos grafos); • Uso de modelos normativos; • Analogias com as ciências da natureza; • Emprego de princípios da economia. Na nova geografia, se desenvolve “o conceito de organização espacial entendido como padrão espacial resultante de decisões locacionais, privilegiando as formas e os movimentos sobre a superfície da Terra”. (CORRÊA, 2002, p. 21, grifo do autor). Essa corrente é bastante criticada pela Geografia Crítica, que veremos a seguir, na medida em que aquela é considerada alienada e pragmática, focada meramente em padrões espaciais e não em problemas de ordem socioeconômica e com função ideológica na sociedade capitalista. A Geografia Crítica Nas décadas de 70 e 80, com o materialismo histórico e a dialética marxista como base epistemológica, surge a geografia crítica, a qual questiona severamente os modelos clássicos da Geografia. Cumpre ressaltar que o geógrafo francês Elisée Reclus e o geógrafo russo Piotr Kropotkin, já no final do século XIX, lançaram as bases da Geografia crítica, sem, no entanto, estruturar uma escola geográfica. PIOTR KROPOTKIN Figura X - Piotr Kropotkin Fonte: Open Library. Disponível em <http://covers.openlibrary.org/a/id/6257014- L.jpg>. Acesso em 12.11.2011. Piotr Ayexeyevich Kropotkin viveu entre 1842 e 1921. Foi um moscovita de família rica e aristocrática que decidiu viver modestamente de seu próprio trabalho – como geógrafo e secretário, durante alguns anos, da Sociedade Geográfica Russa, como professor, como jornalista e até como tipógrafo. Sua obra, que procura incorporar ou integrar determinadas idéias libertárias na geografia, representa seguramente um dos principais capítulos ainda não escritos da história (crítica) do pensamento geográfico. Ele foi, sem nenhuma dúvida, o principalomitido em quase todas as obras que buscaram discorrer sobre essa tradição discursiva. Sua fala e seus inúmeros escritos via de regra foram solenemente ignorados e assim silenciados, e isso numa proporção muito maior do que em relação a Élisée Reclus, seu grande amigo. Mesmo a “geografia crítica” francesa, que em grande parte nasceu ao redor da revista Hérodote, buscou recuperar as idéias de Réclus e deixou Kropotkin de lado. (Adaptado de VESENTINI, José William. Geografia e liberdade em Piotr Kropotkin. Disponível em: <http://www.geocritica.com.br/artigos.htm>. Acesso em: 16 out. 2011. Contexto sociohistórico nos países desenvolvidos: • Agravamento de tensões sociais; • Aumento do desemprego; • Crise habitacional; • Intolerância racial. Nos países subdesenvolvidos ocorre uma intensificação dos movimentos nacionalistas e de emancipação política. Nesse contexto, a geografia crítica busca reinterpretar, à luz da teoria marxista, questões que abordadas pela geografia teorético-quantitativa. Questões como uso do solo urbano, circulação e transporte, questões trabalhistas tais como jornada de trabalho, além da habitação, organização espacial, etc., são discutidas na geografia crítica, a qual analisa o Estado, o empresariado (industriais, incorporadores imobiliários), os latifundiários, entre outros, como agentes de organização espacial. A Geografia crítica surgiu no Brasil no final da década de 70. Em 1978, a Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB) organiza em Fortaleza – CE o 3º Encontro Nacional de Geógrafos, considerado um marco no debate crítico da Geografia no país. Moreira (2009, p. 39) indica que, por ocasião do evento de 1978, a Geografia brasileira vivia já um estado de grande ebulição. E isto pelo menos desde 1974. Nos vários cantos do país movimentos de critica e renovação, espontâneos, difusos e, portanto, sem hegemonia nacional vinham acontecendo. O 3º ENG possibilitou o olhar recíproco, o conhecimento dos protagonistas uns dos outros, a conscientização dos descontentamentos que promovem a necessidade das mudanças e a aglutinação das ideias que precipitam a crise da ciência. Os geógrafos críticos “assumem o conteúdo político de conhecimento científico, propondo uma Geografia militante, que lute por uma sociedade mais justa [e] pensam a análise geográfica como um instrumento de libertação do homem”. (MORAES, 2003, p. 109). Para Moraes (2003), os geógrafos críticos fazem uma avaliação das razões da crise, buscam transpor o os questionamentos geográficos academicistas e empiristas e de fundamentação positivista. Além disso, salientam em seus estudos (CORRÊA, 2002; MORAES, 2003): • Vinculação entre as teorias geográficas tradicionais e o imperialismo; • Relação, no capitalismo, da Geografia e a superestrutura de dominação de classes; • Análise das relações dialéticas entre as formas espaciais e os processos históricos que modelam os grupos sociais. A geografia crítica considera como fundamental na análise geográfica os modos de produção, sendo que as configurações socioeconômicas espaciais resultam de tais modos de produção. MILTON SANTOS (�1926 �2001) Figura X – Milton Santos. Fonte: TV Brasil. Disponível em: <http://www.tvbrasil.org.br/novidades/wp- content/uploads/2011/06/MILTON-SANTOS2-300x225.jpg>. Acesso em 15.11.2011 Milton Santos foi um importante representante da Geografia Crítica, sendo responsável por uma obra numerosa e complexa, uma verdadeira teoria geográfica do espaço. Seu pensamento e a organização de seus estudos percorre duas vertentes: reflexões filosóficas sobre a natureza do espaço geográfico; e trabalhos de natureza empírica, com a reconstrução intelectual do espaço com o destaque à categoria lugar. BIOGRAFIA • 1948 – Bacharel em Direito, Universidade pela Universidade Federal da Bahia; • 1958 – Doutor em Geografia, Universidade de Strasbourg, sob orientação do Prof. Jean Tricart. (Tese de doutorado intitulada O Centro da Cidade de Salvador); • 1954-1964 – Jornalista e redator do jornal A Tarde; • 1956-1960 – Professor de Geografia Humana na Universidade Católica de Salvador e na Universidade Federal da Bahia onde cria o Laboratório de Geociências; • 1959-1961 – Diretor da Imprensa Oficial da Bahia; • 1961 – Representante da Casa Civil do presidente Janio Quadros na Bahia; • 1962-1964 – Presidente da Fundação Comissão de Planejamento Econômico do Estado da Bahia; • Até 1964 – Suas pesquisas e publicações da época focalizam as realidades locais, principalmente a capital e também as cidades e a região do Recôncavo; • 1964 – Deixa o Brasil em razão do golpe militar iniciando uma carreira internacional; • 1964-1977 - Professor convidado nas universidades de Toulouse, Bordeaux e Paris-Sorbonne, e no IEDES (Instituto de Estudos do Desenvolvimento Econômico e Social); • 1971 a 1977 – Inicia uma carreira itinerante, ao sabor dos convites: no MIT (Massachusetts Institute of Technology – Boston) como pesquisador; e como professor convidado nas universidades de Toronto (Canadá), Caracas (Venezuela), Dar-es-Salam (Tanzânia), Columbia University (New York). Período abre uma longa caminhada em direção a teorização em Geografia, com o intenso aproveitamento das ricas bibliotecas das grandes universidades. Primeiro uma ampliação do foco com o livro Les Villes Du Tiers Monde, 1971, onde já aparece o interesse em estudar as peculiaridades da economia urbana dos países então chamados subdesenvolvidos, caracterizada pelos seus dois circuitos, superior e inferior, e resultando no livro L’Espace Partagé: les deux circuits de l’économie des pays sous- développés publicado em francês em 1975, em inglês e português em 1979; • 1977 – Retorno ao Brasil; • 1979-1983 – Professor Universidade Federal do Rio de Janeiro; • 1983 – Ingressa por concurso na Universidade de São Paulo, como professor titular de Geografia Humana até a aposentadoria compulsória, recebendo o título de Professor Emérito da USP em 1997. Continua a pesquisar, publicar e orientar estudantes até o final de sua vida; • 1994 – Recebe o Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud. Nesta última fase de seu percurso, publica Por uma Geografia Nova, da crítica da geografia a uma geografia crítica (1978), contribuição à efervescência e ânsia de renovação dessa ciência no Brasil. O espaço é definido como uma instancia social ativa, a noção de formação socioespacial introduzida; • 1995 - Reintegrado oficialmente à Universidade Federal da Bahia em 1995, da qual tinha sido demitido por “ausência”; • 1995 - Doze universidades brasileiras e sete universidades estrangeiras lhe outorgaram o titulo de Doutor Honoris Causa. Algumas publicações: • Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico informacional (1994); • Da totalidade ao lugar (1996); • Metamorfose do espaço habitado (1997); • A Natureza do Espaço (1996). Considerado um de seus maiores livros, onde busca “uma teoria geral do espaço humano, uma contribuição da Geografia reconstrução da teoria social” (SANTOS, 1996); • Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal (2000). (Adaptado de Milton Santos – Biografia. Disponível em: <http://miltonsantos.com.br/site/biografia/>. Acesso em 23 jun. 2011.) Conheça a biografia completa de Milton Santos e também a sua produção teórica acessando o seguinte endereço eletrônico na Internet: http://miltonsantos.com.br/site/biografia/ A Geografia Humanística Essa corrente geográfica, que possui como base filosófica a fenomenologia existencial, onde o espaço é entendido como espaço presente, diferente do espaço abstrato da geometria e da perspectiva científica, onde é concebido como dimensional e passível de uma representação. Tem como principais representantes Yi-Fu Tuan, Anne Buttimer, Edward Relph eMercer e Powell. Estes autores estudaram a experiência individual ou grupal, seus comportamentos e sentimentos em relação aos seus lugares de vivência. LIVRO: ESPAÇO E LUGAR: A PERSPECTIVA DA EXPERIÊNCIA Figura X – Yi Fu Tuan. Fonte: ACLS Advancing Humanities. Disponível em: <http://www.acls.org/uploadedImages/About/Annual_Meetings/Previous_Meetings/tu an_120x150.jpg>. Acesso em 23.03.2011 SINOPSE: As pessoas constroem suas realidades e respondem ao espaço e ao lugar de maneiras diferentes influenciadas pela cultura, moldam seus valores baseadas nas experiências que vão adquirindo através de seus órgãos dos sentidos e pelas emoções vivenciadas. Ao mover-se, o ser humano vivencia o espaço que é organizado baseado na postura e estrutura do seu corpo e as relações de distância entre as pessoas, de acordo com as suas necessidades biológicas e as relações sociais, firmando-se no eu que se move e se direciona, consciente de que "não apenas ocupo o espaço, mas o dirijo e coordeno". O espaço, à medida em que adquire significado e definição, vai se transformando em lugar. Lugar pode significar mais do que espaço físico, pode dar noção de espaciosidade, que significa mais liberdade para agir ou para movimentar-se. Instrumentos ou máquinas ampliam estas sensações. Noções de lugar, espaço, proximidade e distância podem ter outras conotações, podem significar uma posição social, um cargo hierárquico ou um grupo com afinidades em comum. Leitura fundamental para aqueles que querem compreender melhor a corrente humanística da Geografia. Referência: TUAN, Y. F. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel, 1983. Fonte: http://pt.shvoong.com/social-sciences/1819180-espa%C3%A7o- lugar/#ixzz1jC9O9WeA Cada grupo social possui diferentes visões de mundo, as quais se manifestam em atitudes, valores e hábitos que redundam em determinada organização do espaço. O reconhecimento dos objetos implica o reconhecimento de intervalos e relações de distância entre os objetos e, pois, de espaço. A distância é de âmbito espaço-temporal, pois envolve não só as noções de perto e longe, mas também as de passado, presente e futuro [...] a integração espacial faz-se mais pela dimensão afetiva que pela métrica. Estar junto, estar próximo, não significa a proximidade física, mas o relacionamento afetivo com outra pessoa ou com outro lugar. (TUAN, 1983, p. 81, grifo do autor). Assim, a categoria lugar é entendida como a porção espacial na qual a pessoa encontra-se emocionalmente integrada, é especial na medida em que possui um profundo significado afetivo para um indivíduo ou até mesmo um grupo social. Já a categoria espaço, para a Geografia da Percepção, vale-se da combinação da percepção visual, do pensamento, do movimento, e do tato, para compreender a estrutura e disposição espacial. Espaço e lugar estão no âmago da nossa disciplina. Sob a perspectiva positivista a geografia é a análise da organização espacial. Sob a perspectiva humanística o espaço e lugar assumem características muito diferentes. A tarefa básica do geógrafo humanista é mostrar o que eles são através de uma estrutura coerente. (TUAN, 1983, p. 97, grifo do autor). Síntese das Correntes Geográficas: O Determinismo argumenta que a vida não é uma simples consequência das condições ambientais, mas sim de um conjunto de técnicas, hábitos, usos e costumes, que lhe permitiram utilizar os recursos naturais disponíveis para o crescimento da sociedade. O Possibilismo consiste numa corrente do pensamento geográfico que percebe o ambiente natural como um simples fornecedor de possibilidades para a modificação humana, por isso o meio não determina a evolução das sociedades e do homem, encarado como o principal agente geográfico. O Método Regional evidencia a necessidade de produção de um conhecimento sintético sobre as diferentes áreas da superfície da Terra, sem considerar, contudo, a região como objeto da Geografia. O que importa é o método de diferenciações de áreas que resultam de uma integração única de fenômenos heterogêneos. A Geografia Teorética Quantitativa utilizou modelos matemáticos e o método estatístico para analisar e explicar o espaço geográfico. Foi intensamente utilizado no planejamento territorial. A Geografia Crítica entende o espaço como social, vivido, em estreita correlação com a prática social. É socialmente engajada, nega a neutralidade científica e o comprometimento implícito da Geografia quantitativa com o poder instituído, com o Estado capitalista e com as grandes empresas. A Geografia Humanística prioriza a experiência individual ou grupal, seus comportamentos e sentimentos em relação aos seus lugares de vivência. - Com qual Corrente Geográfica você mais se identifica? - Escolha um conteúdo geográfico escolar e registre possibilidades metodológicas em sala de aula considerando os pressupostos da Corrente Geográfica escolhida. QUESTÃO 01 - A ideia, de que o homem de regiões de clima temperado teria maior possibilidade de desenvolvimento que o homem de regiões tropicais, é típica da corrente A) Determinista B) Possibilista C) Humanística D) Teorética-quantitativa E) Crítica QUESTÃO 02 - A institucionalização da Geografia como ciência, não se deu por acaso na Alemanha, mas, principalmente, porque I. O desenvolvimento do capitalismo, e de ideias envolvendo as relações homem- espaço neste país, fizeram a sociedade alemã valorizar a temática geográfica. II. A sociedade alemã valorizava o estudo de elementos naturais, que para eles estavam acima das questões sociais. III. Os alemães valorizavam a sociedade em detrimento da natureza, que não tinha qualquer importância científica. Das proposições acima, estão corretas A) I e III, apenas B) I e II, apenas C) II e III, apenas D) I, II e III E) II, apenas QUESTÃO 03 - Sobre a corrente determinista do pensamento geográfico, analise as proposições abaixo: I. O determinismo ambiental foi o primeiro paradigma a caracterizar a Geografia, que emerge no final do século XIX. II. Os teóricos deterministas afirmam que as condições naturais, em especial as climáticas, são determinantes para a evolução do homem. III. Segundo os deterministas desenvolver-se-iam os povos ou países que estivessem localizados em áreas climáticas mais favoráveis. Das proposições acima, estão corretas A) I, apenas B) I e II, apenas C) I e III, apenas D) II e III, apenas E) I, II e III QUESTÃO 04 - Sobre a história do pensamento geográfico, analise as afirmações abaixo: I. Em vários momentos da história, o saber geográfico serviu como instrumento de dominação do território. II. As teorias de Ratzel pertencem à escola geográfica alemã. III. A Geografia Crítica é responsável pela efetivação de políticas de planejamento territorial e de controle social, que são utilizadas atualmente pelos governos. Das proposições acima, está(ao) correta(s) apenas A) I B) II C) III D) I e II E) II e III QUESTÃO 05 - O conhecimento do meio geográfico é considerado de grande importância, desde a Antiguidade, porque A) Influi na tomada de decisões sobre a utilização racional dos recursos naturais, algo que é feito desde que o homem se organizou em sociedade. B) Permite um melhor aproveitamento dos recursos e gera informação indispensável para qualquer atividade comercial e política. C) O conhecimento do lugar onde se desenvolve qualquer atividade humana é fundamental para preservar o espaço natural. D) Favorece o reconhecimento das facilidades e problemas que o homem pode encontrar ao transformar o espaço. E) Auxilia o processo de desenvolvimento sustentável na relação homem-natureza, que vem sendo implementado pelos países emergentes desde a década de 1940. QUESTÃO 06 - Entre as personalidadesmais importantes para o desenvolvimento da geografia como ciência destaca-se Humboldt, que A) Lançou as bases da geografia moderna, com ênfase na observação direta e nas medições acuradas como base para leis gerais. B) Escreveu a principal obra literária destinada à cartografia, revolucionando a confecção de mapas, a partir de então. C) Apresentou novas teorias do pensamento geográfico, criando as bases da geografia crítica moderna. D) Desenvolveu a corrente filosófica possibilista, a qual criou um contra-senso com o determinismo. QUESTÃO 07 – A terceira corrente de pensamento geográfico é o Método Regional. Essa corrente se caracteriza, principalmente, por A) Utilizar frequentemente técnicas estatísticas e matemáticas. B) Considerar a influência dos elementos da natureza no desenvolvimentos das sociedades. C) Acreditar que o homem pode dominar o meio hostil e, a partir daí, criar o espaço ideal de acordo com as suas necessidades. D) Se opor ao determinismo e ao possibilismo, visto que “a diferenciação de áreas não é vista a partir das relações entre o homem e a natureza, mas sim da integração de fenômenos. QUESTÃO 8 - Considera-se como perspectiva humanística: I. A análise de pensamentos e atos que são unicamente humanos. II. O estudo dos elementos da natureza que possuem intensa relação com o homem. III. O estudo dos elementos do espaço geográfico que, de forma direta ou indireta, são resultados da ação humana. Das proposições acima, está(ao) correta(s) apenas A) I B) II C) I e III D) II e III Respostas: 1- A; 2 - B; 3 - E; 4 - D; 5 - B; 6 – A; 7 – D; 8 – A. CAPÍTULO 2: Categorias de análise geográfica: espaço, região, território, paisagem e lugar 2.1 O espaço e as correntes do pensamento geográfico A Geografia é uma ciência social que estuda a sociedade e suas interações na superfície terrestre, através dos seus conceitos-chave que possuem um “forte parentesco entre si” (CORRÊA, 2002), uma vez que o espaço, em seus diferentes recortes e perspectivas – região, paisagem, território ou lugar – passam por alterações antropogênicas, cujos efeitos cumulativos determinam certa historicidade de ocupação, marcando a superfície terrestre (CORRÊA, 2002). Para Corrêa (2006, p. 15), a expressão espaço geográfico [...] aparece como vaga, ora estando associada a uma porção específica da superfície da Terra identificada pela sua natureza, seja por um modo particular como o homem ali imprimiu as suas marcas, seja como referência à simples localização. Entre 1870 e 1950, período de vigência da Geografia Tradicional (CORRÊA, 2006), a categoria espaço não ocupou um lugar de destaque, sendo tratado principalmente nas produções de Ratzel e Hartshorne. Os conceitos paisagem e região foram mais valorizados para a escola tradicional. O espaço para Ratzel (MORAES, 1990): • É a base indispensável para a vida do homem; • Contém as condições para ação humana através do trabalho; • Possui a necessidade de apropriação como premissa para a evolução da sociedade; • É considerado como espaço vital, o qual atende as necessidades territoriais de um grupo social em função de seu desenvolvimento tecnológico, do total de população e dos recursos naturais. Figura X – Puzzle Globe. Fonte: Corbis. Disponível em: <http://www.corbis.com.br>. Acesso em 18.11.2011 “A preservação e ampliação do espaço vital constitui-se [...] na própria razão de ser do Estado [transformando-se] através da política, em território, conceito chave da Geografia”. (CORRÊA, 2006, p.18) O espaço para Hartshorne (CORRÊA,2006): • Entendido como espaço absoluto – conjunto de pontos que tem existência entre si, sendo independente de qualquer coisa; • É um quadro de referência na análise geográfica, isto é, não deriva da experiência, sendo apenas intuitivamente utilizado na experiência; • Considerado como um receptáculo que contém os objetos (rios, cidades, estradas, etc.); • É uma área, ou seja, uma porção do espaço absoluto que resulta da combinação única dos fenômenos naturais e sociais. Figura X – Book Globe. Fonte: Corbis. Disponível em: <http://www.corbis.com.br>. Acesso em 18.11.2011 O espaço “é somente um quadro intelectual do fenômeno, um conceito abstrato que não existe em realidade [...] a área, em si própria, está relacionada aos fenômenos dentro dela, somente naquilo que ela os contém em tais e tais localizações”. (HARTSHORNE apud CORRÊA, 2006, p. 19). Harvey (apud CORRÊA, 2006) aponta que as diferentes práticas humanas estabelecem diferentes conceitos de espaço que são utilizados em certas circunstâncias. A partir de 1950, a Nova Geografia, ou a escola teorética-quantitativa se apropriou do conceito espaço. Características da Planície Isotrópica: GEOGRAFIA TEORÉTICO-QUANTITATIVA ESPAÇO Considerado de duas formas REPRESENTAÇÃO MATRICIAL PLANÍCIE ISOTRÓPICA CONCEITO-CHAVE • Construção teórica que resume a concepção de espaço; • Derivada de um paradigma racionalista e hipotético-dedutivo; • Considerada, como ponto de partida, uma superfície uniforme; • Uniformidade em relação aos elementos naturais: geomorfologia, clima e cobertura vegetal; • Uniformidade em relação aos elementos antrópicos: densidade demográfica, renda e padrão cultural; • Circulação em possível em todas as direções; • Racionalidade econômica – maximização dos lucros e minimização dos custos; • Sobre as mesmas desenvolvem-se ações e mecanismos econômicos que levam a diferentes criações do espaço; • Ponto de partida: homogeneidade; ponto de chegada: criação diferenciada do espaço, vista como um equilíbrio espacial; • Variável mais importante: distância, pois a mesma determinará, em um espaço inicialmente homogêneo, a diferenciação espacial. Exemplos de utilização da Planície Isotrópica (CORRÊA, 2006): → Anéis concêntricos de uso da terra (Von Thüsen); → Gradientes de preço da terra; → Densidades demográficas intra-urbanas; → Hierarquia de lugares centrais (Christaller), originados da ação conjunta de mecanismos de alcance espacial máximo e mínimo; → Teoria de localização industrial (Weber); → Esquemas centro-periferia nos níveis intraurbano, regional, nacional e internacional. Todos os exemplos enunciados anteriormente derivam da ideia de efeito declinante da distância – distance decay (CORRÊA, 2006). Na Geografia Teorética-quantitativa, o espaço é entendido como relativo, resultante da relação entre os objetos e os custos daí derivados: dinheiro, tempo, energia; que serão maiores ou menores de acordo com a distância entre si. Considerando que o conceito-chave espaço é considerado de duas formas – como planície isotrópica e como representação matricial, iremos agora discorrer sobre a segunda forma de apreensão de tal conceito. Características da Representação Matricial: • Espaço geográfico representado por uma matriz; • O grafo como representação espacial; • Utilizada largamente pelos economistas espaciais em suas propostas de análise locacional com base nos temas movimento, redes, nós, hierarquias e superfícies; • Desenvolvimento de estudos sobre redes em Geografia. A Escola Teorética-quantitativa com geógrafos de tradição lógico-positivista abordaram o espaço com uma visão limitada ( CORRÊA, 2006) na medida em que “privilegia-se em excesso a distância vista como variável independente [e] as contradições, as agentes sociais, o tempo e as transformações são inexistentes ou relegadas a um plano secundário”. (CORRÊA, 2006, p. 22). A Geografia Teorética-quantitativa valoriza a noção paradigmática de equilíbrio espacial. Concluindo, Corrêa (2006) indica que, retirada a carga ideológica burguesa do conceito de espaço (planície isotrópica, racionalidade econômica, competição perfeita e a negaçãoda historicidade dos fenômenos sociais); o mesmo favorece o conhecimento operacional sobre: → Localizações; → Fluxos; → Hierarquias; → Especializações funcionais. O autor ainda afirma que tais modelos oferecem “pistas e indicações efetivamente relevantes para a compreensão crítica da sociedade em sua dimensão espacial e temporal, não devendo ser considerados como modelos normativos como se pretendia”. (CORRÊA, 2006, p. 23). A partir da década de 1970, observamos uma nova interpretação para o conceito espaço, calcada no materialismo histórico e na dialética marxista. É a Geografia Crítica que entende o espaço como “social, vivido, em estreita correlação com a prática social” (CORRÊA, 2006, p. 25). “Os modos de produção tornam-se concretos numa base territorial historicamente determinada [...] as formas espaciais constituem uma linguagem dos modos de produção”. (SANTOS, 1985, p.05). Figura X – Milton Santos. E S P A Ç O Locus da reprodução das relações sociais de produção REPRODUÇÃO DA SOCIEDADE Fonte: TV Brasil. Disponível em: <http://www.tvbrasil.org.br/novidades/wp- content/uploads/2011/06/MILTON-SANTOS2-300x225.jpg> Acesso em 22.11.2011 Milton Santos afirma que espaço, modo de produção e formação socioeconômica são categorias interdependentes, na medida em que a formação socioespacial, com seus fixos e fluxos, é resultante do espaço produzido pela sociedade, através do trabalho. LIVRO ESPAÇO E MÉTODO Figura X – Capa do livro Espaço e Método. Fonte: Sebo do Messias. Disponível em: <http://www.sebodomessias.com.br/loja/imagens/produtos/produtos/289346_229.jpg > Acesso em 22.11.2011 Sinopse: Neste livro, Milton Santos reflete sobre as ferramentas teórico- metodológicas necessárias para interpretar criticamente o mundo através do espaço e sua dinâmica. O livro oferece proposições significativas para entender o papel ativo do espaço no movimento da totalidade social. O autor insiste na necessidade de elaborar uma periodização a partir da compreensão do presente para analisar, a cada momento histórico, a combinação de variáveis que compõe determinado subespaço. Este caminho de método lhe permite explicar a transformação do meio técnico em meio técnico-científico, atribuindo papel central ao trabalho intelectual e ao processo de circulação. A procura por entender a dialética espacial está presente também na definição do espaço como campo de força, incluindo o conflito entre o velho e o novo, entre as forças externas e internas, entre o Estado e o mercado. Fonte: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?sid=189511007141 15733568088946&isbn=8531410851 Referência: SANTOS, Milton. Espaço e método. São Paulo: Nobel, 1985. Corrêa (1986 apud CORRÊA, 2006) define organização espacial como um conjunto de objetos criados pela sociedade e dispostos em determinada área, compreendendo, portanto, uma materialidade social. O espaço na concepção crítica da Geografia , contém categorias de análise, quais sejam: estrutura, processo, função e forma (SANTOS, 1985). Sintetizando: • Forma: aspecto visível; • Função: implica em uma tarefa; • Estrutura: natureza social e econômica de uma sociedade; • Processo: uma estrutura em seu movimento de transformação. Aspecto visível e exterior de um objeto, quer seja visto isoladamente ou considerando o mesmo inserido em um conjunto de objetos e formando um padrão espacial. FORMA Tarefa, atividade ou papel a ser desempenhado pelo objeto criado, a forma. Exemplos: Forma - casa, bairro, cidade. Função - moradia, trabalho, compras, lazer. FUNÇÃO Ação que se realiza de modo contínuo visando determinado resultado o que implica em tempo e mudança. PROCESSO Matriz social onde as formas e funções são criadas e justificadas, diz respeito à natureza social e economia de uma sociedade. ESTRUTURA Forma, função, estrutura e processo são quatro termos disjuntivos associados, a empregar segundo um contexto do mundo de todo o dia. Tomados individualmente, representam apenas realidades parciais, limitadas, do mundo. Considerados em conjunto, porém, e relacionados entre si, eles constroem uma base teórica e metodológica a partir da qual podemos discutir os fenômenos espaciais em totalidade. (SANTOS, 1985, p. 53). Ainda na década de 1970, a corrente humanística da Geografia trouxe contribuições à ciência através do conceito-chave espaço. O espaço adquire o significado de espaço vivido e tem na fenomenologia existencialista sua base filosófica. Para Tuan (1983), no mesmo devem ser considerados os sentimentos espaciais e as ideias de um grupo social sobre o seu espaço, a partir da experiência. O espaço vivido vincula-se à geografia francesa com enraizamento na tradição vidalina, na psicologia genética de Piaget, na sociologia e na psicanálise (CORRÊA, 2006). Tal concepção de espaço vivido contém significados particulares os quais advêm de associações subjetivas do indivíduo com o espaço, tal como indica Massey (2002, p. 14), ao afirmar que o mesmo “é idiossincrático para nós por causa da singularidade de suas formas, superfícies e cores”. Leia com atenção o fragmento textual e a seguir faça o que se pede. Eis o espaço geográfico, a morada do Homem. Absoluto, relativo, concebido como uma planície isotrópica, representado através de matrizes e grafos, descrito através de diversas metáforas, reflexo e condição social, experenciado de diversos modos, rico em simbolismos e campos de lutas, o espaço geográfico é multidimensional. (CORRÊA, 2006, p. 44). Fonte: www.corbis.com.br O texto faz referência a várias interpretações do conceito-chave espaço, a partir das correntes de pensamento geográfico, o que nos remete a sua multidimensionalidade. Para Corrêa, ao aceitarmos tal fato, verificamos a existência de práticas sociais distintas, as quais permitem construir diferentes conceitos de espaço. A partir da reflexão realizada, das leituras empreendidas no curso e em sua história de vida, construa um conceito de espaço geográfico, a partir dos itens descritos a seguir: 1. TÍTULO: Espaço geográfico 2. OBJETO (o que é): 3. FINALIDADE (para que): 4. JUSTIFICATIVA/FUNDAMENTO (por que): 2.2 Região: discussão conceitual O termo região remete à noção de diferenciação de áreas, com determinados critérios pré-estabelecidos. De origem latina – regere – significa regência, regente, governar. Figura X – Exemplo de regionalização a partir de critérios socioeconomicos: Norte - Sul. Fonte: IBGE TEENS. Disponível em: <http://ensinomedio3.files.wordpress.com/2010/08/norte_sul.jpg?w=289&h=175> Acesso em 22.11.2011 2.2 - REGIÃO DISCUSSÃO CONCEITUAL LENCIONI (1999, p.14), afirma que “[...] o significado de região liga-se fortemente às tendências filosóficas de cada época”. Assim, a compreensão de tal conceito estruturante deve ser realizada considerando o contexto têmporo-espacial e a partir do significado dado ao mesmo em cada corrente do pensamento geográfico. No determinismo geográfico, surgiu o primeiro conceito de região natural, a partir do qual onde L. Gallois, em sua obra de 1908 – Régions naturelles et noms de pays – indica que “o ambiente impõe certo domínio na orientação do desenvolvimento das atividades humanas”. Corrêa (2002) explicita que no determinismo uma região se diferenciava da outra pelos seus aspectos físicos, sendo resultante de uma combinação dos elementos naturais do espaço, tais como geologia, tipos de solos, clima, vegetação, relevo; e de fatores antrópicos. A mesma possuiria escalas e dimensões variadas de acordo com os elementos descritos anteriormente. Vale destacar que o climasempre se destacou como um importante critério para a definição de regiões naturais e, na corrente determinista, cada configuração socioespacial seria diretamente influenciada pela região natural, principalmente pelo clima, indicando, os padrões de desenvolvimento dos grupos sociais. Vale lembrar o caráter ideológico e geopolítico de tal conceito no processo de expansionismo germânico. Figura X – Exemplo de regionalização a partir de critérios naturais: Tipos climáticos brasileiros. Fonte: IBGE TEENS. Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/__owLQBeF_Hw/Sgy2n- oTYtI/AAAAAAAAAFI/PMzjIdaJq0c/s400/climas_do_brasil.gif> Acesso em 22.11.2011 A regionalização do território brasileiro realizada pelo IBGE também utilizou o critério da região natural no estabelecimento de suas cinco regiões. Esse assunto será discutido posteriormente. Figura X – Regiões do Brasil. Fonte: IBGE TEENS. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/mapas/imagens/brasil_regioes_gde.gif> Acesso em 22.11.2011 A corrente possibilista francesa, ao considerar a capacidade do homem na adaptação/transformação do ambiente, ultrapassa o conceito determinista de região natural, passando a considerar a região humana, geográfica, onde estão sintetizados tanto elementos naturais como humanos, conforme pode ser percebido na famosa citação de Henri Le Fébvre: a natureza propõe e o homem dispõe. Vidal de La Blache considerou a região como uma entidade concreta em seu livro de 1903 - Tableau de la Geographie de la France. Propõe o termo região–paisagem ou região geográfica, onde a mesma é a expressão do trabalho humano, onde o mesmo tem papel ativo em sua transformar. Nesse perspectiva, caberia ao geógrafo investigar quais as combinações dos fatores responsáveis por sua configuração e singularidade. Sobre a região no possibilismo geográfico é importante que você saiba: • Limites são estabelecidos por um componente natural – clima, relevo, vegetação, solo, etc.; • É a associação de elementos naturais e humanos que configura a região; • O Homem como maior responsável por sua transformação; • Gênero de vida do grupo social – nível socioeconômico, cultural e técnico- científico – transforma a região, singularizando-a; • Não existe diferença entre a região natural e a geográfica no que diz respeito aos processos evolutivos; • A população de uma região bem como a sua relação com as regiões circunvizinhas são responsáveis por sua singularidade; • Por tratar a região como uma unidade singular, fortaleceu esse conceito estruturante na ciência geográfica; • Do possibilismo derivou o método regional, ainda que esse estabelecesse o conceito de diferenciação de áreas – região percebida como uma área de fenômenos heterogêneos – servindo como base para o planejamento territorial realizado pelo Estado. A Nova Geografia, ou Geografia Teorética-quantitativa, cujos que tem como pressupostos são a racionalidade técnica e a utilização da estatística e de modelos matemáticos, compreende a região como “um conjunto de lugares onde as diferenças internas dos lugares são menores que as existentes entre eles e qualquer elemento de outro conjunto de lugares” (CORRÊA, 2002, p. 34). A região na Nova Geografia (CORRÊA, 2002): • Pauta-se no positivismo lógico, buscando a superação da subjetividade e da base empírica; • Produção intelectual, sendo delimitada através de critérios estabelecidos de acordo com os objetivos a serem alcançados pelo pesquisador; • Considerada uma classe de área constituída por vários objetos similares entre si; • Divide-se, de acordo com a tipologia adotada, em região simples, região complexa, região homogênea e região funcional ou polarizada; • Sistema de regiões está calcado explicitamente nos princípios de classificação, tal como se verifica nas ciências da natureza, como a botânica; • Inexiste um método regional estabelecido, e sim estudos nos quais as regiões formam classificações espaciais; • Identificam-se padrões espaciais de fenômenos vistos estaticamente ou em movimento. Em relação à região funcional (ou polarizada), na mesma existe uma maior dinâmica de fluxos, coma a funcionalidade regional assentada na economia, onde a rentabilidade e o mercado são aspectos importantes para a regionalização do território e/ou sua análise regional (CORRÊA, 2002, p. 34). Tal região representa as múltiplas relações espaciais coexistentes ais quais dão forma a um território, diferenciando-o dos demais. As cidades são, nessa perspectiva, o centro de tal forma de organização espacial, com o papel de centro polarizador, organizadora da hinterlândia, e estruturadora de sua área de influência. Para a Geografia Teórica-quantitativa, as regiões simples e complexas podem conviver ou se sobrepor no espaço, enquanto que nas regiões funcionais ou polarizadas e as homogêneas isso não seria possível, uma vez que são excludentes. Nessa corrente geográfica, a região é estudada a partir de objetivos preestabelecidos e com uma referência teórica (uso agrícola da terra, localidades centrais, desenvolvimento regional, entre outras) que dará o suporte necessário para o estudo de um segmento da superfície da Terra. A área é vista como laboratório de estudos sistemáticos, realimentando os referenciais teóricos que estes formulam. Assim, na nova geografia, estudos sistemáticos e de área não se distinguem entre si: mais do que uma complementação, eles são, em última instância, a mesma coisa. (CORRÊA, 2002, p. 41, grifo do autor). A Geografia Crítica repensa o conceito de região, discutindo a postura empirista de análise regional empreendida pela geografia tradicional. Dentre as novas perspectivas teóricas trazidas pela Geografia Crítica, podemos destacar o conceito de região e o tema regional: • Sob uma articulação dos modos de produção; • Através de conexões entre classes sociais e acumulação capitalista; • Por meio das relações entre o Estado e a sociedade local; • Com a introdução da dimensão política. Para Corrêa (1997, p. 75), o processo de regionalização se acentua no modo de produção capitalista, pois é marcado “pela simultaneidade dos processos de diferenciação e integração, verificada dentro da progressiva mundialização da economia[...]”. Mecanismos de diferenciação de áreas no modo de produção capitalista (CORRÊA, 2002): → Divisão territorial do trabalho, que define o que será produzido aqui e ali; → Desenvolvimento dos meios e técnicas de produção e a combinação das relações de produção originadas em momentos distintos da história e que definem como se realizará a produção; → Ação do Estado e da ideologia que se especializa desigualmente, garantindo novos modos de vida e a pretensa perpetuação deles; → Ampla articulação, através dos progressivamente mais rápidos e eficientes meios de comunicação, entre as regiões criadas ou transformadas pelo e para o capital. Assim, para a Geografia Crítica, a diferenciação do espaço é resultante da divisão territorial do trabalho e do processo de acumulação capitalista, que “produz e distingue espacialmente possuidores e despossuídos”. (GOMES, 2006, p. 65). Para Massey (2002), a identificação de regiões em uma perspectiva crítica deve se ater ao que é essencial no processo de produção do espaço, ou seja, a divisão socioespacial do trabalho. Critérios para a regionalização na perspectiva crítica: → Diferentes padrões de acumulação; → Nível de organização das classes sociais; → Desenvolvimento espacial desigual; → Entre outros. Gomes (2006) sinaliza que a Geografia crítica mantém a constituição de uma região através do processo de classificação do espaço segundo diferentes variáveis, mantendo os procedimentos metodológicos da Geografia Tradicional, alterando apenas a escolha dos critérios para o
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