Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Recuperação de Áreas Degradadas CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI Armando de Queiroz Monteiro Neto Presidente SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL – SENAI Conselho Nacional Armando de Queiroz Monteiro Neto Presidente SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL – SENAI Departamento Nacional José Manuel de Aguiar Martins Diretor Geral Regina Maria de Fátima Torres Diretora de Operações Confederação Nacional da Indústria Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Departamento Nacional Recuperação de Áreas Degradadas José Roberto de Souza de Almeida Leite Brasília 2010 © 2010. SENAI – Departamento Nacional É proibida a reprodução total ou parcial deste material por qualquer meio ou sistema sem o prévio consentimento do editor. Equipe técnica que participou da elaboração desta obra: Coordenador Projeto Estratégico 14 DRs Luciano Mattiazzi Baumgartner - Departamento Regional do SENAI/SC Coordenador de EaD – SENAI/PI José Martins de Oliveira Filho – SENAI/PI Coordenador de EaD – SENAI/SC em Florianópolis Diego de Castro Vieira - SENAI/SC em Florianópolis Design Gráfico e Diagramação Equipe de Desenvolvimento de Recursos Didáticos do SENAI/SC em Florianópolis Design Educacional, Ilustrações e Revisão Textual FabriCO Fotografias Banco de Imagens SENAI/SC http://www.sxc.hu/ http://office.microsoft.com/en-us/images/ http://www.morguefile.com/ http://www.photoxpress.com/ http://www.everystockphoto.com/ Ficha catalográfica elaborada por Luciana Effting CRB 14/937 – SENAI/SC Florianópolis SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Departamento Nacional Setor Bancário Norte, Quadra 1, Bloco C Edifício Roberto Simonsen – 70040-903 – Brasília – DF Tel.:(61)3317-9000 – Fax:(61)3317-9190 http://www.senai.br L533r Leite, José Roberto de Souza de Almeida Recuperação de áreas degradadas / José Roberto de Souza de Almeida Leite. Brasília: SENAI/DN, 2010. 74 p. : il. color ; 30 cm. Inclui bibliografias. 1. Solos – Degradação. 2. Solos - Conservação. 3. Matas ripárias. I. SENAI. Departamento Nacional. II. Título. CDU 631.4 http://www.sxc.hu/ http://office.microsoft.com/en-us/images/ http://www.morguefile.com/ http://www.photoxpress.com/ http://www.everystockphoto.com/ http://www.senai.br/ SUMÁRIO Apresentação do curso .................................................................................... 07 Plano de estudos ................................................................................................... 09 Unidade 1: Introdução à Conservação do Solo ....................................... 11 Unidade 2: Práticas da Conservação do Solo ........................................... 29 Unidade 3: Matas Ciliares .................................................................................. 43 Unidade 4: Recuperação de Áreas Degradadas: Curto e Médio Prazo 55 Conhecendo o autor ............................................................................................ 69 Referências ............................................................................................................... 71 9 Apresentação do CURSO A contaminação do solo tem se tornado uma das preocupações ambientais, uma vez que, geralmen- te, a contaminação interfere no ambiente global da área afetada (solo, águas superficiais e subterrâne- as, ar, fauna e vegetação), podendo mesmo estar na origem de problemas de saúde pública. O uso da terra para centros urbanos, para as atividades agrí- colas, pecuária e industrial tem tido como consequ- ência elevados níveis de contaminação. Com isso, têm-se aplicado técnicas de conservação do solo e de regeneração de áreas degradadas, cujo estudo torna- se importante. Este curso tem carga horária de 24 horas e está dividido em quatro unidades: as duas primeiras tratarão de aspectos relacionados ao solo e à sua conservação. A terceira unidade será sobre a mata ciliar, seu significado e sua importância para a na- tureza. A última unidade abordará a recuperação de áreas degradadas e a legislação ambiental. 11 Plano de ESTUDOS Carga horária 24 horas Ementa Estudo da conservação do solo. A degradação dos solos. Práticas da conservação do solo. As matas ciliares e técnicas para sua regeneração. A recupe- ração de áreas degradadas. Objetivos Objetivo Geral Propiciar a compreensão de questões gerais sobre conservação e práticas de manejo de solos. Objetivos Específicos Propiciar a análise da questão e da importân- cia das matas ciliares. Propiciar um diagnóstico do problema da re- cuperação de áreas degradadas. 13 Introdução à Conservação do Solo Objetivos de Aprendizagem Ao final desta unidade, você terá subsídios para: Compreender as formas de degradação dos solos. Perceber que a ação do homem sobre natureza gera modi- ficações no espaço geográfico e biológico em que ele vive. Perceber que o problema da erosão do solo faz parte tanto da vida rural quanto da vida urbana. Compreender que a degradação do solo pode ser acelerada pela ação humana. Compreender que a contaminação é um dos principais fe- nômenos de degradação dos solos. Compreender de que forma ocorre a entrada de elementos químicos no solo. Aulas Aula 1 – Introdução à degradação dos solos Aula 2 – A contribuição das ações antrópicas na degrada- ção do solo e do meio ambiente Aula 3 – Erosão do solo faz parte da vida rural e urbana Aula 4 – Degradação do solo e as consequências da erosão acelerada pelo homem Aula 5 – Um dos principais fenômenos de degradação dos solos é a contaminação Aula 6 – Contaminação química do solo 1 14 Capacitação Ambiental Para Iniciar Nesta unidade, você vai aprender que existem três tipos de degrada- ção dos solos: degradação da fertilidade (por fatores físicos, químicos e biológicos), erosão (hídrica, eólica, antropogênica) e degradação por contaminação (origem de problemas de saúde pública). Perceberá a necessidade que o homem tem de moldar a natureza para seu uso gera modificações no espaço geográfico e biológico em que ele vive, afetan- do a fauna e a flora e ocasionando problemas de saúde, de urbanização e catástrofes naturais. Além disso, você perceberá que o problema da erosão do solo faz parte tanto da vida rural quanto da vida urbana. Você verá, também, de que formas a degradação do solo pode ser acelerada pela ação humana e estudará que a contaminação é um dos principais fenômenos de degradação dos solos. Finalmente, na última aula desta unidade, você verá que a entrada de elementos químicos no solo pode ocorrer de forma deliberada ou acidental, e que o lançamen- to de poluentes pode ocorrer de forma pontual ou difusa. Aula 1: Introdução à degradação dos solos Nesta aula, você estudará três tipos de degradação dos solos: degradação da fertilidade, erosão e degradação por contaminação. O solo é um corpo vivo, de grande complexidade e muito dinâmico. Tem como componentes principais a fase sólida (matéria mineral e matéria orgânica) e a água e o ar na designada componente “não sólida” (CARAPETO, 2010, p. 1) Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 1 15 Dentro do amplo conceito de degradação dos solos, podemos distinguir alguns tipos: Degradação da fertilidade: é a diminuição de capacidade do solo de suportar e manter vida. São produzidas modificações comprometedoras em suas capacidades físicas, químicas, físico-químicas e biológicas, que a conduzemà sua degradação. Ao degradar-se, o solo perde sua capacidade de produção. Mesmo com grandes quantidades de adubo, a capacidade de produção não será a mesma de um solo não degradado. Isso pode ser ocasionado por fatores químicos (perda de nutrientes, acidifi- cação, salinização), físicos (perda de estrutura, diminuição de permeabilida- de) ou biológicos (diminuição de matéria orgânica). Erosão: é a destruição física das estruturas do solo. Seu carregamento é fei- to, em geral, pela água (erosão hídrica) e pelos ventos (erosão eólica). O processo de erosão mais grave é o causado pelas atividades do ser huma- no (erosão antropogênica), que apresenta um desenvolvimento muito rápido se comparado com a erosão natural. Além disso, a erosão natural é muito benéfica para a fertilidade do solo. Degradação por contaminação: a contaminação do solo tem se tornado uma das preocupações ambientais, uma vez que, geralmente, a contamina- ção interfere no ambiente global da área afetada (solo, águas superficiais e subterrâneas, ar, fauna e vegetação), podendo mesmo estar na origem de problemas de saúde pública. Atenção O uso da terra para centros urbanos, para as atividades agrícolas, pecuária e industrial tem tido como consequência elevados níveis de contaminação (UNIVERSO AMBIENTAL, 2007). Nesta aula, você aprendeu que existem três tipos de degradação dos solos: degradação da fertilidade (por fatores físicos, químicos e biológicos), erosão (hídrica, eólica, antropogênica) e degradação por contaminação (origem de problemas de saúde pública). Capacitação Ambiental 16 Aula 2: A contribuição das ações antrópicas na degradação do solo e do meio ambiente Nesta aula, você vai perceber que a necessidade que o homem tem de moldar a natureza para seu uso gera modificações no espaço geográfico e biológico em que ele vive, afetando a fauna e a flora e ocasionando problemas de saúde, de urbanização e catástrofes naturais. As modificações que ocorrem no ambiente natural são decorrentes da neces- sidade do homem de moldar a natureza para seu uso e benefício imediato, gerando modificações no espaço geográfico e biológico em que vive. Leia o que dizem Machado e Silva no artigo A contribuição das ações antrópicas na degradação do solo e do meio ambiente: A necessidade do homem em obter maior conforto torna-o mais egoísta com o meio ambiente, pois ele utiliza todos os recursos naturais em benefício próprio. A recuperação ambiental em locais altamente urbanizados é praticamente impossível. Os resíduos gerados pelo homem poluem o meio ambiente, gerando problemas de saúde para toda a população, principalmente a de baixo poder aquisitivo. As doenças geradas pela urbanização comprometem seu estado psíquico normal, causando estresse devido a engarrafamentos, a poluição visual, sonora e a doenças respiratórias associadas à poluição emitida pelas indústrias e pelos meios de transportes. Ônibus, caminhões e automóveis que não passam por revisões periódicas são os principais causadores da poluição atmosférica nos centros urbanos. A ausência de rede coletora e de estações de tratamento de esgoto contamina a água dos rios, mares, lagoas, até mesmo de poços construídos muito próximos às fossas, causando várias doenças de veiculação hídrica. (MACHADO e SILVA) Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 1 17 Além das doenças, outro problema causado pela ação antrópica no meio am- biente é resultado direto do crescimento da taxa de urbanização e da falta de planejamento urbano: O processo de urbanização foi tão acelerado que o Poder Público não conseguiu controlá-lo, tampouco dotar esses locais com a infraestrutura urbana, levando à queda da qualidade de vida da população. Por isso, em muitas áreas urbanas periféricas, o saneamento não existe, ou então, é incapaz de atender toda a demanda. O desmatamento de novas áreas para dar lugar a construções de casas, edifícios, ruas e estradas gera uma diminuição da cobertura vegetal, deixando o solo exposto, descaracterizando totalmente o ambiente natural. A vegetação exerce um importante papel de fixação do solo, diminuindo os riscos de deslizamentos e mesmo da erosão. Assim, nas áreas urbanas, as alterações ambientais ocasionam, entre outros problemas: aumento da temperatura, ocasionando ilhas de calor; alterações do relevo e da cobertura vegetal; alterações no ciclo hidrológico; contaminação dos recursos hídricos; aumento das enchentes devido à canalização de rios e à imper- meabilização do solo. A cronologia da transformação dos processos hidrológicos nas áreas urbanas ocorre em três fases: 1 A primeira corresponde à transformação do pré-urbano para o urbano inicial, que á marcada pela remoção da vegetação e a construção das primeiras casas, aumentando a vazão dos rios e a sedimentação. 2 A segunda fase engloba a construção de um maior número de casas e edifícios, maior calçamento das ruas, acarretando dimi- nuição na infiltração e aumento do escoamento superficial. Nessa fase, a falta de coleta do lixo e de tratamento do esgoto ocasiona a poluição das águas superficiais e subterrâneas. 3 Na última fase, que corresponde ao urbano avançado, a edifica- ção residencial e pública, a instalação de indústrias, impermeabi- liza totalmente o solo, aumentando o escoamento superficial, a vazão, os picos de cheias dos rios, ocasionando maior incidência de enchentes. O alargamento dos canais pode aliviar alguns des- ses problemas. Capacitação Ambiental 18 As ações antrópicas também afetam a fauna e a flora ocasionando perdas de espécies endêmicas, levando a uma alteração de um ecossistema que pode, futuramente, ser perdido. Perceba que alguns animais, como os morcegos, adaptaram-se bem ao ambiente urbano e, em épocas de reprodução, acabam invadindo residências e alimentando-se das frutas. Insetos, como mosquitos, baratas e cupins, também são frequentes nas residências, principalmente nos períodos em que a temperatura é mais quente, nas estações da primavera e do verão, época de reprodução desses insetos e aumento do metabolismo. Além desses incômodos, a retirada da cobertura vegetal pode levar à perda total de espécie da fauna e flora ameaçadas ou já em extinção e espécies endêmicas, empobrecendo a diversidade biológica da região.” (MACHADO e SILVA) Reflita Você já presenciou ou ouviu falar de algum tipo de catástrofe am- biental na sua cidade? Você consegue imaginar por que isso pode ter acontecido? “Os movimentos de massa (escorregamentos) ocorrem naturalmente no ambiente, porém são potencializados pela ocupação desordenada das encostas. Muitas vezes, esses escorregamentos são antecipados, levando a muitas perdas materiais e de vidas humanas. As catástrofes naturais que vêm ocorrendo hoje são consequências diretas do mau uso que o homem faz da natureza. Existem alternativas para se fazer o uso sustentável dos recursos naturais disponíveis na Terra, mas o grande problema está no alto investimento em setores pouco rentáveis como a agricultura. Resumindo, pode-se compreender que a alteração do ambiente natural para a instalação das necessidades humanas leva a prejuízos significativos em relação à perda das espécies de fauna e flora. A exposição do solo devido ao desmatamento desequilibra o ecossistema existente naquela área. Alguns animais podem chegar a ser extintos pela alteração de seu habitat natural, desequilíbrio da teia alimentar e competição com outras espécies.” (MACHADO e SILVA) Nesta aula, você viu que a necessidade que o homem tem de moldar a natureza para seu uso gera modificações no espaço geográfico e biológico em que ele vive, afetando a fauna e a flora e ocasionando problemas de saúde, de urbani- zação e,inclusive, catástrofes naturais. Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 1 19 Aula 3: Erosão do solo faz parte da vida rural e urbana Nesta aula, você vai perceber que o problema da erosão do solo faz parte tanto da vida rural quanto da vida urbana. Leia o artigo Erosão do solo faz parte da vida rural e urbana, publicado no site do SENAR da Paraíba, em 2009: Quinze de abril é dia da Conservação do Solo e, embora muitos pensem que esse assunto relaciona-se apenas com o campo, ele tem grande ligação também com as cidades. Nos dois cenários, nem sempre a erosão é percebida pelo homem, e daí seus maiores reflexos. Na área rural, muitas vezes, o produtor não percebe o processo erosivo, que acontece pouco a pouco, com pequenas perdas de solo por vez. Porém, os pesquisadores ressaltam que poucos milímetros de solo perdidos, multiplicados por centenas de hectares, resultam em amplo dano. Veja o que diz a pesquisadora do IAC, Isabella Clerici de Maria: Um pouquinho de terra aqui e outro ali, quando juntos no curso de água, causam um grande estrago. Na zona rural, a erosão reduz a qualidade do solo, que causa perda de produtividade na lavoura, gerando menor quantidade de produtos e de menor qualidade. Além disso, o solo perdido vai prejudicar os cursos de água na região da lavoura, que são as grandes vítimas quando o assunto é erosão. No campo, há eficientes técnicas para evitar o processo erosivo, como o sistema de plantio direto na palha, que protege o solo. A cobertura vegetal constitui o principal recurso para controlar a erosão. As localidades de maior risco de erosão são: áreas ciliares, áreas de maior inclinação e áreas de solo raso. Esses espaços poderiam ter o risco reduzido com o aumento da cobertura vegetal. Desde 1900, há técnicas para amenizar esses impactos, mas planejamento é fundamental para evitar a produção de sedimentos. Nas cidades, por sua vez, as edificações urbanas, quando não obedecem as determinações legais, causam erosões bastante prejudiciais aos cursos de água que receberão esse solo. E o complicador: as pessoas não têm essa consciência. (SENAR, 2009) Capacitação Ambiental 20 Na figura a seguir, você pode visualizar um processo de erosão. Figura 1 - Erosão: destruição do solo Atenção Poucos sabem que o solo é um recurso natural, cuja renovação é extremamente lenta. A maioria desconhece que a formação do solo leva milhares de anos, e que ele pode ser degradado num piscar de olhos. Antigas civilizações quase desapareceram em virtude da degradação dos seus solos. Somente alguns percebem que há necessidade de se proteger o solo. O solo não é indestrutível. Pelo contrário, ele demora para nascer, não se reproduz e morre facilmente! (LIMA; LIMA, 2007) Nesta aula, você viu que a erosão do solo é um problema existente tanto na zona rural como na urbana. Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 1 21 Aula 4: Degradação do solo e as consequências da erosão acelerada pelo homem Nesta aula, você vai ler parte de um artigo que Paula Scheidt escreveu para o Instituto Carbono Brasil, explicando de que formas a degradação do solo pode ser acelerada pela ação humana. “A desertificação é considerada um dos problemas mais graves decorrentes da degradação do solo, pois pode levar milhares de pessoas a terem que deixar suas terras. Mais de 1 bilhão de pessoas vive em regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas, responsáveis por 22% da produção de alimentos do mundo. Em áreas como na região subsaariana e na Ásia Central, as taxas de mortalidade infantil são de 10% a 20% maiores que nos países industrializados e também há sérias preocupações sobre os movimentos maciços de pessoas, segundo o professor Zafar Adeel, diretor da Rede Internacional sobre Água, Meio Ambiente e Saúde – um organismo subordinado à Universidade das Nações Unidas com sede no Canadá. Segundo a Confagri, uma cooperação agrícola portuguesa, nos últimos 40 anos, cerca de um terço dos solos agrícolas mundiais deixou de ser produtivos, do ponto de vista agrícola, devido à erosão. A erosão destrói as estruturas que compõem o solo, como areias, argilas, óxidos e húmus. O solo é considerado desértico quando perde a capacidade de realizar suas funções e não é mais capaz de sustentar vegetações. A fertilidade do solo depende de vários fatores físicos e químicos.” (SCHEIDT) Capacitação Ambiental 22 Aula 5: Um dos principais fenômenos de degradação dos solos é a contaminação A contaminação é um dos principais fenômenos de degradação dos solos. Ela pode acontecer, especialmente, por alguns fatores: presença de resíduos só- lidos, líquidos e gasosos; águas contaminadas e efluentes sólidos e líquidos lançados diretamente sobre os solos; efluentes provenientes de atividades agrí- colas. Veja esses fatores com detalhes: À medida que a maioria dos resíduos sólidos, líquidos e gasosos prove- nientes de aglomerados urbanos e áreas industriais ainda é depositada no solo sem qualquer controle, os lixiviados produzidos, e não recolhidos para posterior tratamento, contaminam facilmente solos e águas. Além disso, o metano produzido pela degradação anaeróbia da fração orgânica dos resí- duos pode acumular-se em bolsas, no solo, criando riscos de explosão. Águas contaminadas e efluentes sólidos e líquidos são lançados diretamen- te sobre os solos. Além disso, ocorre a deposição de partículas sólidas no solo, cujas descargas continuam, na maioria, sem controle, provenientes da indústria, principalmente da indústria química, de destilarias e lagares, da indústria de celulose, da indústria de curtumes, da indústria cimenteira, de centrais termoelétricas e de atividades mineiras e siderúrgicas, assim como daquelas cujas atividades industriais constituem maiores riscos de poluição para o solo. Das atividades agrícolas que despejam efluentes que apresentam um ele- vado risco de poluição, destacam-se as atividades agropecuárias intensivas (suinoculturas), que possuem taxa bastante baixa de tratamento de efluen- tes. Seu efeito no solo depende do tipo e da concentração de efluente e do modo de dispersão. Os sistemas agrícolas intensivos têm grandes contri- butos de pesticidas e adubos, podendo provocar a acidez dos solos, o que facilita a mobilidade dos metais pesados. Assim, os sistemas de rega, por incorreta implantação e uso, podem originar a salinização do solo e/ou a toxicidade das plantas com excesso de nutrientes. Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 1 23 <inserir imagem 1.5.5> O processo de contaminação pode, então, definir-se como a adição no solo de compostos, que qualitativa e/ou quantitativamente podem modificar as suas características naturais e utilizações, produzindo então efeitos negativos, cons- tituindo poluição. Como a contaminação do solo está diretamente relacionada com os efluentes líquidos e sólidos lançados, e com a deposição de partículas sólidas, independentemente da sua origem, é importante considerar a imedia- ta necessidade de controle de poluentes, na tentativa de preservar e conservar a integridade natural dos meios receptores, como sendo os recursos hídricos, solos e atmosfera (REDAÇÃO AMBIENTE BRASIL, 2010). Figura 2 – Água contaminada Assim, a contaminação, além de degradar os solos, atinge também as águas, provocando doenças na população que a consome. Das muitas doenças causadas por contaminação de águas, destacam-se três: A disenteria amebiana é causada pelo protozoário Entamoeba histolytica. Ele pode invadir tecidos intestinais e tornar-se patogênico. Essa doença é transmitida por cistos que são eliminados nas fezes de pessoas doentes, contaminando a água dos rios ou das águas subterrâneas.Os cistos podem ser levados por essas águas ou pela poeira e pelas moscas, baratas e outros animais, que também contaminam frutos, verduras e diversos alimentos, permitindo o alastramento dessa doença. As gastroenterites bacterianas constituem a principal causa de mortalida- de infantil nos países subdesenvolvidos, onde as classes mais pobres vivem Capacitação Ambiental 24 em péssimas condições sanitárias e de moradia. São doenças causadas por diversas bactérias, como a Shigella e a Salmonella, e pelos colibacilos pato- gênicos. Transmitem-se pela ingestão de água e alimentos contaminados e exigem pronto-atendimento médico. A profilaxia só pode ser feita por medi- das de saneamento e melhoria das condições socioeconômicas da popula- ção. Não basta o “soro caseiro” para evitar a desidratação. A giardíase é uma parasitose intestinal provocada pelo protozoário Giardia lamblia ou Giardia intestinalis, transmitida por contágio direto, por água e alimentos contaminados. Daí a necessidade e a importância do saneamento básico. A probabilidade de infestação e infecção aumenta com a proximi- dade de uma vila sem saneamento, como ocorre em grandes avenidas, em grandes cidades. Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 1 25 Figura 3 − Protozoários e bactérias causadores de doenças por contaminação de águas A destruição do manto florestal, os incêndios ambientais ou provocados, o sobrepastoreio e as inúmeras obras de urbanização, acelerando os processos erosivos, têm destruído, ao longo dos anos, enormes áreas de solos cultivados. Milhões de toneladas de solos perdem-se todos os anos devido à erosão. Com a introdução da agricultura, o homem modificou o equilíbrio ecológico em numerosas zonas. Muitos animais que no seu ambiente natural são eliminados devido à presença de predadores e parasitas, em outro meio são capazes de aumentar numericamente de forma considerável. Assim, para encontrar um novo equilíbrio ecológico e lutar contra os animais e as plantas prejudiciais, há vários anos já se utilizam certos produtos químicos cujo número e eficácia não parou de aumentar. Entre esses produtos, destacam- se os pesticidas (fungicidas e inseticidas), os agrotóxicos e os herbicidas. Capacitação Ambiental 26 Atenção O lançamento de quantidades maciças de pesticidas e herbicidas, além de matar os animais “indesejáveis”, destrói muitos seres vivos que interferem na construção do solo, impedindo, desse modo, a sua regeneração. Os produtos tóxicos, acumulando-se nos solos, podem permanecer ativos durante longos anos. As plantas cultivadas nesses terrenos infectados podem absorvê-los, ainda mesmo quando estes não foram utilizados para o seu pró- prio tratamento. Assim se explica a existência de pesticidas nos nossos alimen- tos principais, como o leite e a carne, acabando a sua acumulação por se dar fundamentalmente no homem, que se encontra no fim das cadeias alimentares. Tabela 1: Principais poluentes do solo Fonte poluidora Produto químico Efeitos Inseticidas DDT BHC Câncer, danos no fígado, em embriões e em ovos de aves Câncer, danos a embriões Solventes, produ- tos farmacêuticos e detergentes Benzina Dor de cabeça, náusea, perda de coordenação dos músculos, leucemia Plásticos Cloro Vinil Câncer do fígado e do pul- mão, atinge o sistema nervoso central Herbicidas, incinera- ção do lixo Dioxina Câncer, defeitos congênitos, doença de pele Componentes eletrônicos, fluídos hidráulicos, luzes fluorescentes PCBs Danos à pele e ao sistema gas- trointestinal; possíveis carcinó- genos Tintas, gasolina Chumbo Dor de cabeça, irritabilida- de, perturbações mentais em crianças, danos ao fígado, aos rins e ao sistema neurológico Fonte: Manual Global de Ecologia Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 1 27 A acumulação dos resíduos sólidos constitui hoje também um problema an- gustiante das sociedades de consumo a que pertencemos. A acumulação dos refugos sólidos, que são os lixos domésticos, constituídos de papel, papelão, plásticos, vidros, restos de comida etc. pode gerar um foco de contaminação ou um excelente meio para o desenvolvimento de insetos e roedores. Além disso, destrói a paisagem, podendo ainda contribuir para a contaminação das águas superficiais e subterrâneas, por meio da água da chuva, principalmente quando os terrenos são permeáveis (AMBIENTE BRASIL, 2010). Aula 6: Contaminação química do solo Nesta aula, você vai aprender que a entrada de elementos químicos no solo pode ocorrer de forma deliberada ou acidental e que o lançamento de poluen- tes pode ocorrer de forma pontual ou difusa. O uso de compostos e elementos químicos expandiu-se consideravelmente a partir da Revolução Industrial. Isso significa que os contaminantes derivados da indústria, da agricultura e das atividades domésticas foram se acumulando por um longo período de tempo em solos e sedimentos. Alguns contaminantes são acumulados em áreas localizadas (como depósitos de resíduos industriais e domésticos), mas outros se encontram difusamente distribuídos (como a depo- sição atmosférica). A entrada de substâncias químicas no solo pode ser classificada como: Deliberada: é o caso da atividade agrícola, já incluído a aplicação de bios- sólidos provenientes de estações de tratamento de esgotos (ETE), estercos, fertilizantes, defensivos, corretivos e irrigação. Acidental: pode acontecer pela emissão atmosférica de resíduos industriais e urbanos, atividades de mineração e outras fontes. Capacitação Ambiental 28 O lançamento de poluentes pode acontecer de duas formas: pontual ou difuso. Compreenda os detalhes de ambos: Lançamento pontual: como na disposição de resíduos agrícolas, urbanos ou industriais. Nesse caso, tem-se uma pequena área atingida, porém con- centrações mais elevadas do poluente podem ser encontradas. Esse fato im- plica em maior possibilidade da capacidade de retenção do solo ser alcança- da mais rapidamente, aumentando assim o risco de contaminação de outros compartimentos ambientais como a biota e as águas subterrâneas. Lançamento difuso: como a partir das chaminés de grandes indústrias ou escapamento de veículos automotores. Esse lançamento também pode ser classificado como “mais abrangente”, quando se trata da poluição causada pela aplicação de corretivos de solo, fertilizantes ou outros condicionadores de solo. Nesse caso, a principal característica é a possibilidade de alcance de uma grande área, algumas vezes maiores do que um estado ou países, mas com concentrações menos elevadas. O risco de contaminação ou poluição do solo por fontes de poluição atmosférica, por exemplo, está ligado ao fato de que elementos químicos, como metais pesados, podem ser liberados jun- to ao material particulado e, após viajar por um determinado raio e tempo de alcance, podem ser depositados no solo constituindo assim a chamada deposição atmosférica. Nesta aula, você aprendeu que a entrada de elementos químicos no solo pode ocorrer de forma deliberada ou acidental e que o lançamento de poluentes pode ocorrer de forma pontual ou difusa. Colocando em Prática Parabéns! Você terminou a Unidade 1! Para fixar o que você viu até aqui, acesse o AVA e faça as atividades de aprendizagem propostas. Relembrando Nesta unidade, você aprendeu que existem três tipos de degradação dos solos: degradação da fertilidade (por fatores físicos, químicos e biológicos), erosão (hídrica, eólica, antropogênica) e degradação por contaminação (origem de problemas de saúde pública). Percebeu que a necessidade que o homem tem de moldar a natureza para seu uso gera modificações no espaço geográficoe biológico em que ele vive, afetan- do a fauna e a flora e ocasionando problemas de saúde, de urbanização Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 1 29 e catástrofes naturais. Além disso, aprendeu que o problema da ero- são do solo faz parte tanto da vida rural quanto da vida urbana. Você viu, também, de que formas a degradação do solo pode ser acelerada pela ação humana e estudou que a contaminação é um dos principais fenômenos de degradação dos solos – ela pode acontecer, especial- mente, por alguns fatores: presença de resíduos sólidos, líquidos e gasosos; águas contaminadas e efluentes sólidos e líquidos lançados diretamente sobre os solos; efluentes provenientes de atividades agrí- colas. Finalmente, na última aula desta unidade, você viu que a entra- da de elementos químicos no solo pode ocorrer de forma deliberada ou acidental e que o lançamento de poluentes pode ocorrer de forma pontual ou difusa. Alongue-se Aproveite que você terminou a Unidade 1 para relaxar um pouco. Levante-se, beba alguma coisa, alimente-se com algo leve, se achar necessário, e, antes de partir para as atividades, alongue-se um pouco para garantir a concentração na próxima etapa dos estudos. Comece inspirando lentamente, pelo nariz, contando até cinco. Depois, solte o ar, assoprando-o pela boca, também contando até cinco. Repita essa respiração dez vezes ou mais, se achar conveniente. Depois, movimente a cabeça lentamente, como em um sinal de “não”, mantendo 20 segun- dos de cada lado. Realize esse movimento três vezes ou mais, se de- sejar. Lembre-se de respirar lenta e profundamente enquanto faz este exercício. Práticas da Conservação do Solo Objetivos de Aprendizagem Ao final desta unidade, você terá subsídios para: Compreender que o manejo inadequado do solo pode trazer problemas de escassez de alimentos em uma popu- lação. Compreender as principais práticas de conservação de solo. Compreender os processos para evitar a degradação do solo. Aulas Aula 1 – Introdução Aula 2 – Principais práticas de conservação de solo Aula 3 – Manejo e conservação de solo 31 2 Capacitação Ambiental 32 Para Iniciar Nesta unidade, você vai aprender que o manejo inadequado do solo pode trazer problemas de escassez de alimentos em uma população. Também vai estudar as principais técnicas de conservação do solo: plantio em nível, rotação de culturas e adubação verde; e verá alguns processos para evitar a degradação do solo: sistema plantio direto, sistematização da lavoura, correção da acidez e da fertilidade do solo, descompactação do solo, planejamento de sistemas de rotação de culturas, manejo de restos culturais, manejo de enxurrada em sistema plantio direto e terraceamento. Aula 1: Introdução Nesta aula, você vai aprender que o manejo inadequado do solo pode trazer problemas de escassez de alimentos em uma população. Conservação do solo, na agricultura ou pecuária, é o conjunto de práticas aplicadas para promover o uso sustentável do solo para o plantio. A erosão, a compactação e o aumento da salinidade do solo, que você já estudou na Uni- dade 1 deste curso, são os maiores problemas relacionados ao manejo inade- quado e terão relação direta com a escassez de alimentos em um futuro não muito distante, resultando em um profundo desequilíbrio do sistema produtivo, se práticas corretas não forem adotadas. A população do mundo gira em torno seis bilhões de habitantes, obrigando a hu- manidade a disponibilizar, pelo menos, um bilhão de hectares de área agricultável. Atenção As áreas com manejo inadequado reduzem significativamente seu potencial de produção, por isso, hoje, trabalha-se em virtude da renovação e do aprimoramento das técnicas produtivas. Deve-se observar que os recursos são limitados e não podem ser desperdiçados. Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 2 33 Figura 4 - Terraços para cultivo de arroz, na China O planejamento técnico e antecipado é importante para a conservação do solo. É preciso ver todo o processo de produção, pois não adianta atacar somente uma parte do problema. Devem-se considerar, também, os custos econômicos envolvidos e os preços pagos pelo mercado, pois a falta de retorno financeiro é um dos principais motivos de abandono das terras sem cobertura vegetal (AMARAL, 1984). Aula 2: Principais práticas de conservação de solo Nesta aula, você vai aprender as principais técnicas de conservação do solo: plantio em nível, rotação de culturas e adubação verde. A agricultura deu um salto evolutivo quando descobriu um modo prático de adubar as culturas com os produtos químicos necessários. No entanto, hoje, o problema é o aumento da salinidade do solo, provocado pelo excesso de adu- bação. Uma análise prévia das características físico-químicas do solo em função das culturas, feita em laboratório especializado, permite a aplicação da quanti- Capacitação Ambiental 34 dade ótima de fertilizante, evitando seu uso em excesso e o aumento da salini- dade do solo. Além disso, algumas técnicas de plantio, como o plantio em nível, a rotação de culturas e a adubação verde, podem ajudar a minimizar os impac- tos da agricultura sobre o meio ambiente. A seguir, você estudará os detalhes dessas técnicas. Plantio em nível Consiste em preparar o solo para plantio e plantar de acordo com o nível do terreno. A erosão reduz significativamente o potencial de produção, pois a água que escorre leva consigo o potencial produtivo do solo. Esse problema pode ser evitado quando se reduz a velocidade de escoamento da água, com a utilização de barreiras, curvas de nível, terraços e outros artifícios adequados, baseados em levantamentos topográficos da área e projeto feito por técnico competente (AMARAL, 1984). Figura 5 - Plantio em nível, também chamado de plantio em contorno Dica O plantio em nível, também chamada de plantio em contorno, é a medida mais básica de conservação do solo. Como o nome indica, nessa prática, as linhas de plantio são feitas seguindo as curvas de nível, ou seja, locais com a mesma altitude. Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 2 35 Seguindo-se as curvas de nível, cada linha de plantio atua como um obstáculo para reduzir a velocidade da água da enxurrada, caso essa se forme sobre o terreno. Com isso, comparando-se com locais em que não há plantio em nível, há mais tempo para a água poder sofrer o processo de infiltração, deixando de escorrer na superfície e, desse modo, reduzindo o risco de erosão. Em muitos locais do Brasil, observa-se, ainda, o chamado plantio ‘morro abaixo’, ou seja, o plantio que não respeita as curvas de nível. Nesse caso, o plantio é feito no sentido do declive do terreno. Assim, as linhas se iniciam na porção alta da encosta terminando na porção baixa. Esse tipo de plantio traz consequências desastrosas, porque ele, por si só, cria caminhos pelos quais a água pode percorrer e ganhar velocidade acumulando- se morro abaixo. Dessa maneira, criam-se as condições ideais para ocorrer a erosão. O plantio em nível cria exatamente a condição contrária. Nele, as linhas inter- ceptam a enxurrada, reduzindo a velocidade dessa e permitindo que a água se infiltre, como já mencionado. Em locais em que o sistema de manejo do solo é do tipo “cultivo mínimo do solo” não se deve abrir mão do plantio em nível, pois nunca se deve favorecer o fluxo de água. Link Para ler sobre o cultivo mínimo, acesse: <www.webartigos.com/ articles/27100/1/cultivo-mnimo-do-solo/pagina1.html>. Às vezes, plantam-se eucaliptos seguindo o sentido morro abaixo com a justifi- cativa de que essa planta recobre rapidamente o solo.Todavia, não se recomen- da fazer isso, uma vez que a coincidência de solos pouco cobertos e tempesta- des podem trazer consequências irreparáveis ao solo, ainda mais com linhas de plantio que favorecem o aumento da velocidade da água. Como efeito dessa prática, por exemplo, há a formação de voçorocas (GALETI, 1984). Rotação de culturas Cada tipo de cultura agrícola tem sua necessidade e, muitas vezes, o que falta para uma é o que sobra da outra. Assim, um manejo adequado das culturas resulta em menor necessidade de adubos e defensivos. Como regra geral, não se deve repetir o gênero da planta em safras consecutivas. http://www.webartigos.com/ Capacitação Ambiental 36 WW Adubação verde Consiste, basicamente, em plantar uma cultura que não se aproveita economi- camente, apenas para manter o solo coberto e diminuir a erosão entre os perío- dos de plantios comerciais ou nas linhas de culturas permanentes. Dica Várias atividades agrícolas são complementares, podendo gerar economia de recursos se bem exploradas. Associar culturas anuais com pecuária ou criação de aves ou suínos com produção de energia e adubação só rende lucros ao agricultor e ao meio ambiente (AMARAL, 1984). “Como, normalmente, empregam-se culturas que aumentam a fertilidade do solo, como as leguminosas, que fixam o nitrogênio diretamente do ar com a ajuda de bactérias, o resultado é uma melhor produtividade no próximo plantio. Existem, também, plantas que reduzem a compactação do solo com suas raízes profundas”. (AMARAL, 1984) Figura 6 − Plantio direto em curvas de nível Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 2 37 Aula 3: Manejo e conservação de solo O uso excessivo de arações e/ou gradagens superficiais e continuamente nas mesmas profundidades no processo de preparo de solo provoca a desestrutura- ção da camada arável, transformando-a em duas camadas distintas: uma super- ficial pulverizada e outra subsuperficial compactada. Essa transformação reduz a taxa de infiltração de água no solo e, consequen- temente, incrementa a enxurrada e eleva os riscos de erosão hídrica do solo. Igualmente, prejudica o desenvolvimento radicular de plantas e afeta o poten- cial de produtividade do sistema agrícola. O preparo excessivo, associado à cobertura deficiente do solo, às chuvas inten- sas e ao uso de áreas inaptas para culturas anuais, constitui o principal fator desencadeador dos processos de degradação dos solos da Região Sul do Brasil. Como meio de prevenção do problema, indicam-se técnicas como redução da intensidade de preparo, máxima cobertura de solo, cultivo de áreas aptas para culturas anuais e emprego de semeadura em contorno, associadas ao conjunto de práticas conservacionistas orientadas à prevenção da erosão. Nesta aula, você vai estudar alguns processos para evitar a degradação do solo: sistema plantio direto, sistematização da lavoura, correção da acidez e da ferti- lidade do solo, descompactação do solo, planejamento de sistemas de rotação de culturas, manejo de restos culturais, manejo de enxurrada em sistema plan- tio direto, terraceamento. Sistema plantio direto O sistema plantio direto é o processo de exploração agropecuária que envolve diversificação de espécies, via rotação de culturas, mobilização de solo apenas na linha/cova de semeadura e manutenção permanente da cobertura de solo. A adoção do sistema plantio direto objetiva expressar o potencial genético das espécies cultivadas mediante a maximização do fator ambiente e do fator solo, sem, contudo, degradá-los. Capacitação Ambiental 38 A consolidação do sistema plantio direto, entretanto, está essencialmente alicerçada na rotação de culturas orientada ao incremento da rentabilidade, à promoção da cobertura permanente de solo, à geração de benefícios fitossani- tários e à manifestação da fertilidade integral do solo (aspectos físicos, quími- cos e biológicos). Dessa forma, a integração da rotação de culturas ao abando- no da mobilização de solo e à manutenção permanente da cobertura de solo assegura a evolução paulatina da melhoria física, química e biológica do solo (REUNIÃO..., 2005). Atenção “Na impossibilidade de adoção do sistema plantio direto, a melhor opção para condicionar o solo para semeadura de cevada é o preparo mínimo, empregando implementos de escarificação do solo. Nesse caso, o objetivo é reduzir o número de operações e não a profundidade de trabalho dos implementos. As vantagens desse sistema são: aumento da rugosidade do terreno, proteção da superfície do solo com restos culturais, rendimento operacional de máquinas e menor consumo de combustível.” (REUNIÃO..., 2005) Sistematização da lavoura Sulcos e depressões no terreno, decorrentes do processo erosivo, concentram enxurrada, provocam transtornos ao livre tráfego de máquinas na lavoura, promovem focos de infestação de plantas daninhas e constituem manchas de menor fertilidade de solo. Assim, por ocasião do estabelecimento do sistema plantio direto, recomenda-se a eliminação desses obstáculos, mediante siste- matização do terreno com emprego de plainas, motoniveladoras ou mesmo es- carificadores e grades. A execução dessa operação objetiva evitar a necessidade de mobilização de solo após a adoção do sistema plantio direto. Correção da acidez e da fertilidade do solo Em solos ácidos e com baixos teores de fósforo (P) e de potássio (K), a aplicação e incorporação de calcário e de fertilizantes na camada de 0 a 20 cm de profundida- de são fundamentais para viabilizar o sistema plantio diretos nos primeiros anos, período em que a reestruturação do solo ainda não manifestou efeitos benéficos. Resultados de pesquisa obtidos nos últimos anos indicam que o sistema plantio direto pode também ser estabelecido e mantido mediante aplicação superficial de calcário, conforme indicado no item calagem no sistema plantio direto. Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 2 39 Descompactação do solo Em solos compactados, verificam-se baixa taxa de infiltração de água, ocorrên- cia frequente de enxurrada, raízes deformadas e/ou concentradas na camada superficial, estrutura degradada e elevada resistência às operações de preparo e de semeadura. Assim, sintomas de deficiência de água nas plantas podem ser evidenciados mesmo em situações de breve estiagem. Constatada a existência de camada compactada, indica-se abrir pequenas trincheiras (30 x 30 x 50 cm) com o objetivo de detectar o limite inferior da camada mediante observação do aspecto morfológico da estrutura do solo, da forma e da distribuição do siste- ma radicular das plantas e/ou da resistência ao toque com instrumento pontia- gudo. Normalmente, o limite inferior da camada compactada não ultrapassa 25 cm de profundidade. Para descompactar o solo, indica-se usar implementos de escarificação equi- pados com hastes e ponteiras estreitas (não superiores a 8 cm de largura), reguladas para operar imediatamente abaixo da camada compactada. O espa- çamento entre hastes deve ser de 1,2 a 1,3 vez a profundidade de operação. A descompactação deve ser realizada em condições de solo friável. Em sequência, a operação de descompactação do solo é indicada à semeadura de culturas de elevada produção de biomassa e de sistema radicular abundante. Os efeitos benéficos dessa prática dependem do manejo adotado após a descompactação. Em geral, havendo intensa produção de biomassa em todas as safras agrícolas e controle do tráfego de máquinas na lavoura a escarificação do solo não neces- sitará ser repetida. Planejamento de sistemas de rotação de culturas O tipo e a frequência das espécies contempladas no planejamento de um sis- tema de rotação de culturas devem atender tanto aos aspectos técnicos, que objetivama conservação do solo, quanto aos aspectos econômicos e comerciais compatíveis com os sistemas de produção praticados regionalmente. A sequência de espécies a serem cultivadas em uma mesma área deve consi- derar, além do potencial de rentabilidade do sistema, a suscetibilidade de cada cultura à infestação de pragas e de plantas daninhas e à infecção de doenças, a disponibilidade de equipamentos para manejo das culturas e dos restos cultu- rais e o histórico e o estado atual da lavoura, atentando para aspectos de fertili- dade integral do solo e de exigência nutricional das plantas. O arranjo das espécies no tempo e no espaço deve ser orientado para o escalo- namento da semeadura e da colheita. Capacitação Ambiental 40 No Sul do Brasil, um dos sistemas de rotação de culturas compatível com a pro- dução de cevada, para um período de três anos, envolve a seguinte sequência de espécies: aveia/soja, cevada/soja e leguminosa ou nabo/milho. Manejo de restos culturais Na colheita de grãos das culturas que precedem a semeadura de cevada, é im- portante que os restos culturais sejam distribuídos em uma faixa equivalente à largura da plataforma de corte da colhedora, independentemente de os resídu- os serem ou não triturados. Manejo de enxurrada em sistema plantio direto A cobertura permanente do solo e a consolidação e estabilização da estrutura do solo, otimizadas pelo sistema plantio direto, têm sido, em determinadas si- tuações, insuficientes para disciplinar os fluxos de matéria e de energia gerados pelo ciclo hidrológico, em escala de lavoura ou no âmbito da microbacia hidro- gráfica. Embora no sistema plantio direto a cobertura de solo exerça função primordial na dissipação da energia erosiva da chuva, há limites críticos de comprimento do declive em que essa eficiência é superada e, consequentemente, o processo de erosão hídrica estabelecido. Assim, mantendo-se constantes todos os fato- res responsáveis pelo desencadeamento da erosão hídrica e incrementando-se apenas o comprimento do declive, tanto a quantidade quanto a velocidade da enxurrada produzida por determinada chuva aumentarão e, em decorrência, elevar o risco de erosão hídrica. A cobertura de solo apresenta potencial para dissipar em até 100% a energia erosiva das gotas de chuva, mas não manifesta essa mesma eficiência para dissipar a energia erosiva da enxurrada. A partir de determinado comprimento de declive, o potencial da cobertura de solo em dissipar a energia erosiva da enxurrada é superado, permitindo a flutuação e o transporte de restos culturais, bem como o processo erosivo sob a cobertura. Nesse contexto, toda prática conservacionista capaz de manter o comprimento do declive dentro de limi- tes que mantenham a eficiência da cobertura de solo na dissipação da energia erosiva da enxurrada contribuirá, automaticamente, para minimizar o processo de erosão hídrica. Semeadura em contorno, terraços, taipas de pedra, faixas de retenção, canais divergentes, entre outras técnicas, constituem práticas con- servacionistas eficientes para a segmentação do comprimento do declive e, associadas à cobertura de solo, comprovadamente, contribuem para o efetivo Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 2 41 controle da erosão hídrica. Portanto, para o controle integral da erosão hídrica, é fundamental dissipar a energia erosiva do impacto das gotas de chuva e a energia erosiva da enxurrada, mediante a manutenção do solo permanentemen- te coberto e a segmentação do comprimento do declive. A tomada de decisão relativa à necessidade de implementação de práticas con- servacionistas associadas à cobertura de solo pode fundamentar-se na obser- vância do ponto de falha dos resíduos culturais na superfície do solo provocado pela enxurrada. A falha de resíduos indica o comprimento crítico do declive, ou seja, a máxima distância que a enxurrada pode percorrer sem desencadear processo de erosão hídrica. Em consequência, o comprimento crítico do declive corresponde ao espaçamento horizontal entre terraços ou prática conservacio- nista equivalente. Terraceamento O terraceamento consiste em fazer cortes formando degraus – os terraços – nas encostas das montanhas, o que, além de possibilitar a expansão das áreas agrí- colas em países montanhosos e populosos, dificulta, ao quebrar a velocidade de escoamento da água, o processo erosivo. Essa técnica é muito comum em países asiáticos, como a China, o Japão, a Tailândia e o Nepal. Terraços são estruturas hidráulicas conservacionistas, compostas por um cama- lhão e um canal, construídas transversalmente ao plano de declive do terreno. Essas estruturas constituem barreiras ao livre fluxo da enxurrada, disciplinando- a mediante infiltração no canal do terraço (terraços de absorção) ou condução para fora da lavoura (terraços de drenagem). O objetivo fundamental do terra- ceamento é reduzir riscos de erosão hídrica e proteger mananciais (rios, lagos e represas). Figura 7 - Terraceamento Capacitação Ambiental 42 A determinação do espaçamento entre terraços está intimamente vinculada ao tipo de solo, à declividade do terreno, ao regime pluvial, ao manejo de solo e de culturas e à modalidade de exploração agrícola. Experiências têm demonstrado que o critério comprimento crítico do declive nem sempre é adequado para o estabelecimento do espaçamento entre terra- ços. Isso se justifica pelo fato de que a secção máxima do canal do terraço de base larga, técnica e economicamente viável, é de aproximadamente 1,5 m2, área que poderá mostrar-se insuficiente para o fim proposto quando o com- primento do declive for demasiadamente longo. Do exposto, infere-se que a falha de resíduos culturais na superfície do solo constitui apenas indicador prático para constatar presença de erosão hídrica e identificar necessidade de implementação de prática conservacionista complementar à cobertura do solo. Por sua vez, o dimensionamento da prática conservacionista a ser estabelecida demanda o emprego de método específico. Colocando em Prática Parabéns! Você terminou a Unidade 2! Para fixar o que você viu até aqui, acesse o AVA e faça as atividades de aprendizagem propostas. Relembrando Nesta unidade, você aprendeu que o manejo inadequado do solo pode trazer problemas de escassez de alimentos em uma população. Estudou as principais técnicas de conservação do solo: plantio em nível, rotação de culturas e adubação verde; e estudou alguns processos para evitar a degradação do solo: sistema plantio direto, sistematização da lavoura, correção da acidez e da fertilidade do solo, descompactação do solo, planejamento de sistemas de rotação de culturas, manejo de restos cul- turais, manejo de enxurrada em sistema plantio direto, terraceamento. Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 2 43 Saiba Mais Para saber por que a Terra é marrom, leia o texto de Paulo Martins Lacerda no link: <http://revistagalileu.globo.com/EditoraGlobo/compo- nentes/article/edg_article_print/1,3916,1295970-1716-1,00.html>. Para saber qual é a relação que existe entre vegetação, clima e solo, leia o artigo disponível no link: <http://www.brasilescola.com/geografia/a- relacao-entre-vegetacao-clima-solo.htm>. Alongue-se Agora que você terminou a Unidade 2, descanse um pouco. Levante- se, beba alguma coisa, alimente-se com algo leve, se achar necessário. Depois, inspire lentamente, pelo nariz, contando até cinco. Solte o ar, assoprando-o pela boca, também contando até cinco. Repita essa res- piração dez vezes ou mais. Agora, alongue um pouco o pescoço, fa- zendo um movimento como se fosse encostar a orelha no ombro. Mas mantenha os ombros parados, baixos, e movimente somente a cabeça. Mantenha-sepelo menos 20 segundos nessa posição e realize esse movimento três vezes para cada lado ou mais, se desejar. http://revistagalileu.globo.com/EditoraGlobo/compo- http://www.brasilescola.com/geografia/a- Matas Ciliares 3 Objetivos de Aprendizagem Ao final desta unidade, você terá subsídios para: Compreender o que é a mata ciliar, sua importância para a natureza e como ela é ameaçada pela ação antrópica. Entender o que é uma reserva legal, as causas de sua de- gradação e sua importância ambiental. Compreender que as florestas possuem capacidade natural de se regenerar de distúrbios, mas que existem técnicas para que esse processo seja mais rápido. Aulas Aula 1 – Introdução Aula 2 – Reservas legais Aula 3 – Técnicas de regeneração de áreas ciliares 45 Capacitação Ambiental 46 Para Iniciar Nesta unidade, você vai aprender o que é a mata ciliar, sua importância para a natureza e como ela é ameaçada pela ação antrópica. Aprenderá o que é uma reserva legal, as causas de sua degradação e sua impor- tância ambiental. Verá também que as florestas possuem capacidade natural de se regenerar de distúrbios, mas que existem técnicas para que esse processo seja mais rápido. Aula 1: Introdução Nesta aula, você vai aprender o que é a mata ciliar, sua importância para a natu- reza e como ela é ameaçada pela ação antrópica. Mata ciliar é a vegetação que ocorre nas margens de rios e dos mananciais. Ela tem esse nome porque funciona como uma espécie de “cílio”, que protege os cursos de água do assoreamento. Esse tipo de vegetação também é importante no processo de barragem de detritos e para estabilização de barrancos. Essa mata desempenha o papel de filtro, situado entre as partes mais altas da bacia hidrográfica. Os ecossistemas formados pelas matas ciliares desempenham suas funções hidrológicas das seguintes formas: Estabilizam a área crítica, que são as ribanceiras do rio, pelo desenvolvimen- to e pela manutenção de um emaranhado radicular. Funcionam como tampão e filtro entre os terrenos mais altos e o ecossiste- ma aquático, participando do controle do ciclo de nutrientes na bacia hidro- gráfica, por meio de ação tanto do escoamento superficial quanto da absor- ção de nutrientes do escoamento subsuperficial pela vegetação ciliar. Atuam na diminuição e filtragem do escoamento superficial, impedindo ou dificultando o carregamento de sedimentos para o sistema aquático, contri- buindo, dessa forma, para a manutenção da qualidade da água nas bacias hidrográficas. Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 3 47 Promovem a integração com a superfície da água, proporcionando cobertu- ra e alimentação para peixes e outros componentes da fauna aquática. Por meio de suas copas, interceptam e absorvem a radiação solar, contri- buindo para a estabilidade térmica dos pequenos cursos de água. Estudos comprovaram que a manutenção da qualidade da água em microba- cias agrícolas depende da presença da mata ciliar, que absorve nutrientes do escoamento subsuperficial. Sua remoção resulta em aumento da quantidade de nutrientes no curso de água. Figura 8 − A mata ciliar e a qualidade da água Ao longo de córregos e riachos da região Centro-Oeste do Brasil, há flores- tas que se mantêm verdes durante o ano todo e que apresentam árvores com altura entre 20 e 30 metros. Essa fisionomia é comumente associada a solos hidromórficos, com excesso de umidade na maior parte do ano devido ao len- çol freático superficial e à grande quantidade de material orgânico acumulado, propiciando a decomposição que confere a cor preta característica desses solos (tipo de Cerrado). Capacitação Ambiental 48 Figura 9 - Diagrama de perfil (1) e cobertura arbórea (2) de uma mata ciliar, representando uma faixa de 80 m de comprimento por 10 m de largura As formações arbóricas existentes na mata ciliar variam de acordo com a região onde se encontram, que pode ser de Norte a Sul do Brasil, e com a vegetação que predomina no local. Por isso, muitos consideram esse tipo de mata uma espécie de “mosaico”, devido à variabilidade de formas em que se pode encon- trá-la, dependendo da região do país. As características do solo, da bacia hidro- gráfica e de outros elementos existentes durante o curso das águas influenciam diretamente nas características das espécies arbóricas existentes nestes locais. Reflita Agora que você já aprendeu o que é mata ciliar e já viu um pouco da sua importância para os cursos de água, pense um pouco sobre de que forma a mata ciliar pode ser ameaçada pela ação antrópica (do homem). A urbanização afeta grandemente as matas ciliares. Mas, além disso, outros fatores também representam ameaças: a área de mata ciliar é a diretamente mais afetada na construção de hidrelé- tricas; Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 3 49 nas regiões com topografia acidentada, são as áreas preferenciais para a abertura de estradas, para a implantação de culturas agrícolas e de pasta- gens; para os pecuaristas, representam obstáculos de acesso do gado ao curso de água. Figura 10 − Mata ciliar em torno das nascentes Segundo Ab’Sáber (2003), há diferença nos nomes a que se dão às formações arbóricas existentes na beira dos rios. Elas podem ser chamadas de formação ribeirinha, floresta de brejo, de várzeas ou aluvial. As comunidades ribeirinhas que vivem perto das áreas de mata ciliar a denominam de acordo com as espé- cies que predominam no local (cocais e buritizais). Além disso, o termo “floresta de galeria” ocorre nas regiões onde não há formação florestal, como o cerrado, a caatinga, entre outras. Quando essa formação ocorre em locais onde os solos são encharcados, é denominada floresta paludosa. A seguir, veja uma relação das principais espécies encontradas nas matas cilia- res, listadas por Ribeiro e Walter (2010): As das famílias Apocynaceae (Aspidosperma spp. – perobas), Leguminosae, Lau- raceae (Nectandra spp., Ocotea spp. – canelas, louros) e Rubiaceae e um número expressivo de espécies das famílias Leguminosae (por exemplo Apuleia leiocarpa Capacitação Ambiental 50 – garapa; Copaifera langsdorffii – copaíba; Hymenaea courbaril – jatobá; Ormo- sia spp. – tentos; e Sclerolobium spp. – carvoeiros), Myrtaceae (Gomidesia linde- niana – pimenteira, Myrcia spp.) e Rubiaceae (Alibertia spp., Amaioua spp., Ixora spp., Guettarda viburnoides – veludo-branco; e Psychotria spp.). Além dessas espécies, podem ser destacadas: Bauhinia rufa (pata-de-va- ca), Callisthene major (tapicuru), Cardiopetalum calophyllum (imbirinha), Cariniana rubra ( jequitibá), Cheiloclinum cognatum (bacupari-da-mata), Cupania vernalis (camboatá-vermelho), Erythroxylum daphnites (fruta- de- pomba), Guarea guidonea (marinheiro), Guarea kunthiana (marinhei- ro), Guatteria sellowiana (embira), Licania apetala (ajurú, oiti), Matayba guianensis (camboatá-branco), Myrcia rostrata (guaramim-da-folha-fina), Ouratea castaneaefolia (farinha-seca), Piptocarpha macropoda (coração- de- negro), Schefflera morototoni (Didymopanax morototoni – morototó), Tapura amazonica (tapura), Tetragastris altissima (breu-vermelho), Vochy- sia pyramidalis (pau-de-tucano), Vochysia tucanorum (pau-de-tucano) e Xylopia sericea (pindaíba-vermelha). Aula 2: Reservas legais Nesta aula, você vai aprender o que é uma reserva legal, as causas de sua de- gradação e sua importância ambiental. Segundo a WWF Brasil, as reservas legais são as áreas de propriedade rural particular onde não é permitido o desmatamento (corte raso), pois elas visam a manter condições de vida para diferentes espécies de plantas e animais nativos da região, auxiliando a manutenção do equilíbrioecológico. Contudo, ainda as- sim, as florestas situadas nas reservas legais podem ser manejadas e exploradas com fins econômicos. O Código Florestal Federal considera a mata ciliar como “área de preservação permanente”, protegida pela Lei no 4771, de 15 de setembro de 2003. Pergunta Quais são as causas da degradação das matas ciliares e reservas legais? Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 3 51 De acordo com a WWF Brasil, as pastagens são a principal razão da destruição das matas ciliares, pois nas áreas onde elas ocorrem, em várzeas e beira de rios, a alta umidade permite um bom desenvolvimento de pastagens na estação da seca. Outra causa importante é o desmatamento. Por exemplo, percebe-se que a Amazônia sofre, ainda hoje, um processo de diminuição contínua de sua mata ciliar devido às políticas de incentivos à pecuária e a culturas de exportação (café e cacau). O aumento das populações rurais e a prática de sistemas de produção que não são adaptados às condições locais de clima e solo têm sido responsáveis pela destruição de vastas extensões de florestas nativas na região. Além disso, alguns produtores também desmatam para que os igarapés aumen- tem a produção de água no período de estiagem. Essa prática faz com que as árvores deixem de “bombear” água usada na transpiração das plantas. Contudo, pesquisas mostram que, com o tempo, ela exerce efeito contrário, pois, sem a mata ciliar, ocorre um rebaixamento do nível do lençol freático (de água). Outra causa importante da degradação das matas ciliares são as queimadas, utilizadas como práticas agropecuárias para renovação de pastagens ou limpeza da terra: o efeito das queimadas leva ao empobrecimento progressivo do solo. Agora que você já compreendeu as causas da degradação das matas ciliares, pode perceber que não se dá a essa mata e às reservas legais a sua devida importância. Muitas pesquisas recentes privilegiam a destruição das florestas e dão importância secundária à agricultura familiar. Faltam informações sobre atividades potenciais e ecologicamente adequadas à região. Pergunta Qual é a importância ambiental das reservas legais e das matas ciliares? Segundo a WWF Brasil, as reservas legais e, especialmente, as matas ciliares, cumprem a importante função de corredores para a fauna, pois permitem que animais silvestres possam deslocar-se de uma região para outra, tanto em busca de alimentos como para fins de acasalamento. Em locais de grande diversida- de de espécies de plantas e animais, podem ser encontrados plantas e animais raros que somente ocorrem em determinadas regiões. Isso aumenta a impor- tância das reservas legais. Capacitação Ambiental 52 Além disso, as matas ciliares e outras áreas de preservação permanente permi- tem a diminuição dos problemas de erosão do solo e a manutenção da qualida- de das águas dos rios e lagos da propriedade. Por fim, as matas nas propriedades particulares da Amazônia produzem muitos alimentos de grande importância para a fauna e para o homem. O equilíbrio ecológico só é possível, de fato, com o manejo adequado das florestas e matas e preservação do meio ambiente. Link Para ler o texto completo da WWF Brasil sobre matas ciliares, visite: <http://www.wwf.org.br/informacoes/questoes_ambientais/matas_ ciliares/>. Aula 3: Técnicas de regeneração de áreas ciliares Nesta aula, você vai aprender que as florestas possuem capacidade natural de se regenerar de distúrbios, mas que existem técnicas para que esse processo seja mais rápido. Segundo Martins (2001), as florestas apresentam capacidade de se recuperarem de distúrbios naturais ou antrópicos por meio da regeneração natural. Quando uma determinada área de floresta sofre um distúrbio, como a abertura natu- ral de uma clareira, um desmatamento ou um incêndio, a sucessão secundária encarrega-se de promover a colonização da área aberta e conduzir a vegetação por uma série de estádios secionais, caracterizados por grupos de plantas quer vão se substituindo ao longo do tempo, modificando as condições ecológicas locais até chegar a uma comunidade bem estruturada e mais estável. A sucessão secundária depende de uma série de fatores como a presença de vegetação remanescente, o banco de sementes no solo, a rebrota de espécies arbustivo-arbóreas, a proximidade de fontes de sementes e a intensidade e a duração do distúrbio. Assim, cada área degradada apresentará uma dinâmica http://www.wwf.org.br/informacoes/questoes_ambientais/matas_ Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 3 53 dv secional específica. Em áreas onde a degradação não foi intensa, a regeneração natural pode ser suficiente para a restauração florestal. Nestes casos, torna-se imprescindível eliminar o fator de degradação, ou seja, isolar a área e não prati- car qualquer atividade de cultivo. A regeneração natural tende a ser a forma de restauração de mata ciliar de mais baixo custo, entretanto, é, normalmente, um processo lento. Se o objetivo é formar uma floresta em área ciliar em um tempo relativamente curto, visando à proteção do solo e do curso de água, devem-se adotar determinadas técnicas que acelerem a sucessão. Em alguns casos, a ocorrência de espécies invasoras, principalmente gramíneas exóticas, como o capim-gordura (Melinis minutiflora) e trepadeiras, pode inibir a regeneração natural das espécies arbóreas, mesmo que estejam presentes no banco de sementes ou que cheguem à área via dispersão. Nessas situações, recomenda-se o controle das populações invasoras agressivas e o estímulo à regeneração natural. Figura 11 - Mata ciliar Capacitação Ambiental 54 Seleção de espécies As matas ciliares apresentam uma heterogeneidade florística elevada por ocu- parem diferentes ambientes ao longo das margens dos rios. A grande variação de fatores ecológicos nas margens dos cursos de água resulta em uma vegeta- ção arbustivo-arbórea adaptada a tais variações. Por isso, no processo de recuperação de matas ciliares, recomenda-se a adoção de alguns critérios: Plantar espécies nativas com ocorrência em matas ciliares da região. Plantar o maior número possível de espécies para gerar alta diversidade. Utilizar combinações de espécies pioneiras de rápido crescimento junto com espécies não pioneiras (secundárias tardias e climáticas). Plantar espécies atrativas à fauna. Respeitar a tolerância das espécies à umidade do solo, isto é, plantar espé- cies adaptadas a cada condição de umidade do solo. Na escolha de espécies a serem plantadas em áreas ciliares, deve-se levar em consideração a variação de umidade do solo nas margens dos cursos de água: Para as áreas permanentemente encharcadas, recomendam-se espécies adaptadas a esses ambientes, como as típicas de florestas de brejo. Para os diques, são indicadas espécies com capacidade de sobrevivência em condições de inundações temporárias. Para as áreas livres de inundação, como as mais altas do terreno e as margi- nais ao curso de água, porém compondo barrancos elevados, recomendam- se espécies adaptadas a solos bem drenados. A escolha de espécies nativas regionais é importante, porque tais espécies já estão adaptadas às condições ecológicas locais. Por exemplo, o plantio de uma espécie típica de matas ciliares do norte do país em uma área ciliar do sul pode ser um fracasso por causa de problemas de adaptação climática. Além disso, no planejamento da recuperação, deve-se considerar também a relação da vegetação com a fauna, que atuará como dispersora de sementes, contribuindo com a própria regeneração natural. Espécies regionais, com frutos comestíveis pela fauna, ajudarão a recuperar as funções ecológicas da floresta, inclusive na alimentação de peixes. Recomenda-se utilizar umgrande número de espécies para gerar diversidade florística, imitando, assim, uma floresta ciliar nativa. Florestas com maior diver- Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 3 55 sidade apresentam maior capacidade de recuperação de possíveis distúrbios, melhor ciclagem de nutrientes, maior atratividade à fauna, maior proteção ao solo de processos erosivos e maior resistência a pragas e doenças. Colocando em Prática Parabéns! Você terminou a Unidade 3! Para fixar o que você viu até aqui, acesse o AVA e faça as atividades de aprendizagem propostas. Relembrando Nesta unidade, você aprendeu o que é a mata ciliar, sua importância para a natureza e como ela é ameaçada pela ação antrópica. Além dis- so, estudou o que é uma reserva legal, as causas de sua degradação e sua importância ambiental. Aprendeu, também, que as florestas pos- suem capacidade natural de se regenerar de distúrbios, mas que exis- tem técnicas para que esse processo seja mais rápido. Saiba Mais Para ler o texto completo da WWF Brasil sobre matas ciliares, visite: <http://www.wwf.org.br/informacoes/questoes_ambientais/matas_cilia- res/>. Alongue-se Aproveite o término desta unidade para se alongar um pouco. Isso é importante para que você continue seus estudos com disposição. Comece fazendo uma respiração profunda: inspire lentamente, pelo nariz, contando até cinco. Solte o ar, assoprando-o pela boca, também contando até cinco. Repita essa respiração dez vezes ou mais, se dese- jar. Agora, sentado na cadeira em que você está, com as pernas des- cruzadas e os pés tocando o chão, dobre seu corpo na direção de suas pernas tocando o tronco nas coxas. Deixe a cabeça solta na direção dos joelhos, solte as mãos na direção dos pés e permaneça um pouco nessa posição. Volte lentamente para a posição sentada, inspirando como no início do exercício. http://www.wwf.org.br/informacoes/questoes_ambientais/matas_cilia- Recuperação de Áreas Degradadas: Curto e Médio Prazo Objetivos de Aprendizagem Ao final desta unidade, você terá subsídios para: Compreender as causas da degradação dos ecossistemas. Identificar os instrumentos legais que regulam as atividades potencialmente poluidoras. Identificar os responsáveis pela execução da política brasi- leira de meio ambiente. Compreender a importância de se recuperarem áreas de- gradadas para se evitar a degradação de outras áreas. Aulas Aula 1 – Introdução Aula 2 – Legislação Aula 3 – Licenciamento Aula 4 – Recuperar mais para degradar menos 57 4 Capacitação Ambiental 58 Para Iniciar Nesta unidade, você vai aprender que a necessidade de aumento da produção agropecuária e mineraria produziu a degradação de ecos- sistemas e que a pesquisa agropecuária tenta cumprir seu papel de viabilizar soluções. Além disso, você vai estudar os instrumentos legais que regulam as atividades potencialmente poluidoras e verá quem são os responsáveis pela execução da política brasileira de meio ambiente. Para finalizar, você vai estudar a importância de se recuperarem áreas degradadas para se evitar a degradação de outras áreas. Aula 1: Introdução Nesta aula, você vai aprender que a necessidade de aumento da produção agropecuária e mineraria produziu a degradação de ecossistemas e que a pes- quisa agropecuária tenta cumprir seu papel de viabilizar soluções. De acordo com Miranda e Salvador (2007), o rápido crescimento da população mundial levou à necessidade de grandes incrementos da produção agrope- cuária e mineraria, mas essas atividades também produzem efeitos negativos, principalmente com a degradação de ecossistemas. Além do alto crescimento demográfico e da pobreza, há outras causas para as altas taxas de desmatamento no Brasil: forças e processos externos, como a expansão das plantações comerciais, fazendas-pecuárias, madeireiras e mine- ração, atraem migrantes para a exploração de uma agricultura itinerante, que pratica derrubadas e queimadas, contribuindo para acelerar os níveis de desma- tamento. Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 4 59 Figura 12 − Derrubada parcial da mata A derrubada parcial da mata acontece quando há retirada ilegal de madeira e é o primeiro passo para o desmatamento completo. Na América Latina, a derrubada de floresta é uma das alternativas para os pos- seiros documentarem a propriedade legal das terras ocupadas, incentivando as derrubadas antieconômicas e a especulação financeira. Além disso, a constru- ção de estradas e outras obras de infraestrutura necessárias ao planejamento estratégico de atividades agrícolas também contribuem para acelerar as taxas de desmatamento. No Brasil, mudanças na política governamental, eliminando ou reduzindo os incentivos fiscais na região Amazônica, proporcionou uma considerável redução no desmatamento. A busca por alternativas tecnológicas, aplicáveis e compatíveis com as particu- laridades ecológicas da Amazônia, como a inclusão de componentes arbóreos e arbustivos para uso múltiplo, deve ser incansavelmente identificada, avaliada e difundida, visando a estabelecer objetivamente a necessidade de utilização adequada e racional dos recursos naturais e, consequentemente, reduzir a ní- Capacitação Ambiental 60 veis aceitáveis os impactos ambientais decorrentes da exploração agrícola, bem como subsidiar no planejamento da recuperação de áreas já degradadas. Neste contexto, cabe à Pesquisa Agropecuária o papel de viabilizar e tornar factíveis tais soluções. Esse tipo de pesquisa deve visualizar não apenas o aumento da produtividade ou da eficiência econômica, mas deve dar ênfase total à susten- tabilidade. A partir da Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, na Suécia, em 1972, a preocupação com as questões ambientais passou a fazer parte das políticas de desenvolvimento adotadas, principalmente, nos países mais avançados. O Brasil, embora tenha participado da Conferência de Estocolmo, promulgou a Lei no 6.938 apenas em 1981, estabelecendo a Política Nacional do Meio Am- biente. Além do desmatamento, a mineração é outra forma de degradação ambiental. Ela é uma das atividades mais primitivas exercidas pelo homem, como fonte de sobrevivência e produção de bens, mas deixa imensas áreas degradadas que, na maioria das vezes, não podem ser ocupadas racionalmente. Como atividade extrativa, a mineração exercida sem técnicas adequadas e sem controle pode deixar um quadro de degradação oneroso na área que a abriga. A atividade mineral requer, para seu êxito, cuidadoso planejamento a partir do conhecimento efetivo da situação, a adoção de tecnologia evoluída e aplicável ao caso específico por uma equipe qualificada e o restabelecimento das condi- ções anteriores encontradas ou recomendadas. Figura 13 - Exploração de minérios Recuperação de Áreas Degradadas Unidade 4 61 A exploração de minérios traz consequências prejudiciais ao planeta, e os estra- gos que causam ao meio ambiente, em geral, são graves e irreparáveis. Além do terreno, ou solos propriamente ditos, a mineração afeta também os mananciais de água, o ar, a flora e a fauna de toda uma região. As explorações a céu aberto lançam fragmentos e desestabilizam as margens dos rios. O uso de dragas e de escavadeiras nas minerações de areais aumenta os sedimentos em suspensão na água, contribui para o assoreamento de rios, ou seja, a obstrução do seu fluxo por camadas de terra, pedra ou areia. Miranda e Salvador (2007) entendem que todo ato de minerar, tanto a céu aberto como subterrâneo, modifica o terreno no processo da extração mineral e de deposição de rejeitos. O bem mineral extraído não retorna mais
Compartilhar