Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Somestesia e Vias sensoriais INTRODUÇÃO Hoje iniciaremos o sistema somatossensorial, para entender como os estímulos são captados pelos receptores e interpretados pelo nosso cérebro. O sistema sensorial pelos receptores sensoriais, que estão na superfície corpórea, em algumas vísceras ocas, no arco aórtico, entre outros. Sendo assim, existem os receptores exteroceptivos, que estão na superfície corpórea, para percepção e reações ao ambiente em que vivemos e os receptores interoceptivos, que funcionam mais para controle da homeostase. Além dos receptores, o sistema sensorial conta com as vias ascendentes (neurônios de 1ª,2ª e 3ª ordem), os circuitos neuronais que elas integram e os centros superiores de integração para construção perceptiva do que está se sentindo. RECEPTORES Os receptores exteroceptivos atuam nas relações somáticas (visão, audição, gustação, olfato, temperatura, tato-pressão, dor e equilíbrio) junto dos receptores proprioceptivos dos músculos, tendões e cápsulas articulares (propriocepção). Já os receptores interoceptivos das vísceras atuam nas relações viscerais (sentido visceral) para regulação da homeostasia (manutenção do pH, da pressão arterial e da osmolaridade do plasma). TIPOS DE RECEPTORES Para produzir essas diversas sensações, existem diversas modalidades de receptores. Os mecanorreceptores, que vão responder à deformação mecânica, seja da pele ou dos vasos sanguíneos. Geralmente, esses receptores são integrados à membrana plasmática por meio de proteínas do citoesqueleto, que vão detectar essa deformidade e atuam operando a abertura ou fechamento de canais. Os termorreceptores, que vão detectar modificação de temperatura. Existem termorreceptores tanto para o meio interno quanto para o meio externo. Daí existem os termorreceptores para calor e os termorreceptores para frio. Os nociceptores, responsáveis por produzir a dor para informar sobre lesão tecidual. Os eletromagnéticos (retina) que vão detectar a luz, determinando o comprimento de onda e gerando a visão. OBS.: Acima de 46ºC, os receptores já operaram o máximo de calor, daí para cima inicia a sensação de dor pelos receptores (nociceptores) de calor para dor. No frio, os receptores térmicos atingem até 8ºC, abaixo disso inicia a sensação de dor pelos receptores (nociceptores) de frio para dor. PROFA. ALESSANDRA 2 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Os quimiorreceptores que são envolvidos nas modalidades sensoriais de gosto, olfato, nível de pressão parcial de O2 e CO2 no sangue, pH e osmolaridade plasmática. INTERPRETAÇÃO DO ESTÍMULO Existem várias modalidades de receptores, porém o sistema nervoso só entende uma forma de energia, que é a eletroquímica. Logo, os nossos receptores são transdutores, eles transformam o estímulo (seja ele térmico, químico, eletromagnético...) em potencial eletroquímico propagável ou não. Resumindo, eles pegam a informação do meio externo e a traduz em alteração do potencial eletroquímico no neurônio sensitivo. Essa alteração do potencial de membrana no neurônio sensitivo é chamado de potencial gerador e nem sempre é um potencial de ação. Algumas vezes não há necessidade de criar potencial de ação para se perceber o estímulo, como é o caso da retina, visto que as camadas são tão próximas que a corrente é eletrotônica. Porém, na maioria dos casos, o potencial gerador tem que atingir o limiar de abertura de canais de sódio para produzir o potencial de ação e levar à percepção do estímulo (Ex.: tato). Outra característica importante desses receptores é que eles são específicos para certos estímulos, o receptor de calor nunca vai sentir o frio e vice-versa. Então, todos os estímulos que vão atuar sobre esses diferentes receptores têm que, de alguma maneira, alterar a permeabilidade de canais iônicos para produzir um potencial gerador. Se o potencial gerador atingir um certo limiar, produz um potencial de ação. A frequência com que o potencial de ação é desenvolvido vai determinar a intensidade do estímulo (essa é apenas uma das formas de interpretação de intensidade). Ex.: Um importante estímulo para liberar o ADH é o aumento da osmolaridade plasmática que é detectada por osmorreceptores (quimiorreceptores) na região hipotalâmica. OBS.: Potencial gerador = É uma alteração do potencial de membrana causada por um estímulo detectado pelo receptor. OBS.: Alguns receptores são as terminações nervosas dos próprios nervos sensitivos, como por exemplo o Corpúsculo de Paccini. Já em outras situações, o nervo sensitivo inerva esse receptor. 3 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 O estímulo pode ser interpretado, em termos de intensidade, por uma somação temporal ou por uma somação espacial. Um alfinete enfiado na pele, por exemplo, pode exemplificar a somação temporal, porque quando o alfinete está raso, poucos receptores estão sendo estimulados, portanto menor é o estímulo e sensação dolorosa. Quando se aprofunda o alfinete, mais receptores são estimulados, o que é interpretado como um estímulo maior aumentando a sensação dolorosa. ADAPTAÇÃO DOS RECEPTORES Uma característica muito importante está relacionada a adaptação ou não dos receptores envolvidos nos estímulos por exemplo de tato, pressão, dor, temperatura etc. Os receptores fásicos são aqueles que detectam o início e o fim do estímulo, mas não detectam a manutenção dele. Fornecem informações sobre a variação do estímulo (início-fim; velocidade e taxa). Adaptados para detectarem vibrações e estímulos em movimento. O estímulo está presente, mas o receptor acusa como se não estivesse. O Corpúsculo de Paccini, por exemplo, assim que o estímulo é aplicado, ele gera um impulso, mas depois não gera mais. Ele detecta estímulo tátil sobre a pele, ao colocar uma blusa por exemplo ele detecta, mas durante o dia não se percebe a blusa no corpo, porque aquele líquido do corpúsculo acaba se acomodando com o estímulo e não ativa mais o receptor. Na hora que se tira a blusa, o corpúsculo é ativado novamente. Ex.: As endorfinas diminuem a geração de potencial de ação e o cérebro interpreta isso como redução do nível de dor. Outras substâncias aumentam a sensibilidade e reduzem o limiar para produção de potencial de ação na via da dor, o cérebro interpreta isso como aumento da dor (hiperalgelsia). OBS.: Corpúsculo de Paccini é a terminação do neurônio sensitivo modificado. Existe um líquido, que quando ocorre orientação da pele esse líquido, por estímulo mecânico, abre canais para carga, gerando potencial receptor, se esse potencial receptor abre canais de sódio, há a formação de um potencial de ação e a detecção de um estímulo sobre a pele. OBS.: Cada tipo de receptor tem a sua modulação sobre o canal. 4 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Os receptores tônicos são aqueles que não se adaptam, fornecem informações sobre intensidade e duração. O receptor informa o cérebro continuamente sobre a presença do estímulo. Esse sistema é utilizado, muitas vezes, para evitar lesões. O Disco de Merkel, por exemplo, detecta o tato mantido ou uma pressão mais forte sobre a pele. Ao se sentar sobre uma cadeira, por exemplo, há a ativação constante do Disco de Merkel, visto que se permanecermos na mesma posição por muito tempo, pode haver lesão de estruturas, como a escara, que ocorre pela diminuição do fluxo sanguíneo em regiões do corpo pela falta de retificação da postura. CAMPOS RECEPTIVOS Uma unidade sensorial é formada pela fibra sensorial e os receptores sensoriais que ela vai inervar (ou ela mesma forma os próprios receptores). Esse conjunto de receptores inervadospela fibra sensitiva ou que faz parte dessa fibra é o campo receptivo. Para se sentir o estímulo, ele deve ser aplicado sobre o campo receptivo. Daí se tem vias sensoriais com campos receptivos maiores e vias sensoriais com campos receptivos menores. Quanto menor o campo receptivo, maior vai ser a localização do estímulo. Estímulos diferentes em campos receptivos diferentes são interpretados como estímulos diferentes (+ de 1 estímulo). Já estímulos diferentes no mesmo campo receptivo são interpretados como o mesmo estímulo (apenas 1 estímulo). O número de campos receptivos determina qual a representação cortical aquela região vai ter. A mão, por exemplo, tem uma representação cortical maior que as costas, visto que possui mais campos receptivos. Ex.: Compasso atingindo 2 campos receptivos = Percepção de 2 estímulos. / 3 estímulos no mesmo campo receptivo = Percepção de um estímulo. 5 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 FOCALIZAÇÃO DO ESTÍMULO SENSORIAL A via sensorial é uma via divergente, isto é, ela começa com um receptor sensorial, vai para os neurônios de 2ª e 3ª ordem até chegar no córtex. Portanto, se não houver o que chamamos de inibição lateral, esse sinal fica tão divergente que não se consegue localizar o estímulo. Logo, em torno de um campo receptivo, há a presença de neurônios inibitórios, que impedem que esse sinal se espalhe ao longo da via. Essa inibição lateral, portanto, foca exatamente onde o estímulo está sendo aplicado. OBS.: O homúnculo sensorial é proporcional aos campos receptivos. Logo, quanto maior o número de campos receptivos, maior a representação cortical da área (maior no homúnculo), como por exemplo lábios, mãos e face. 6 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 LIMIAR DE DISCRIMINAÇAÕ ENTRE DOIS PONTOS O limiar de discriminação entre dois pontos é determinado pelo tamanho dos campos receptivos. OBS.: Esse limiar foi importante para a criação da escrita em Braille, visto que se a distância fosse muito pequena entre um ponto e outro, não iria ser possível perceber mais de um estímulo. Portanto, a distância de um ponto ao outro respeita o limiar de discriminação entre dois pontos. 7 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 VIAS ASCENDENTES Uma vez ativados os receptores, eles adentram pela raiz posterior da medula e ativam vias ascendentes até chegar no córtex somatossensorial. Cada tipo de estímulo entra num determinado nível diferente das lâminas da medula. Não é necessário gravar qual entra em qual. Porém, é importante saber da proximidade do término das fibras táteis e das fibras de dor para poder entender o sistema da comporta da dor. Toda informação somestésicas vai ascender por uma das 2 vias até o córtex somatossensorial, ou por uma que decussa na coluna dorsal da medula ou por uma que decussa no bulbo (no tronco cerebral). Na via da coluna dorsal, o neurônio sensitivo vai ativar o neurônio de 2ª ordem na região do bulbo, daí este neurônio decussa nessa via e segue depois ipsilateral até o córtex. A informação que essa via leva é do tato epicrítico (mais fino), da propriocepção e da vibração contralaterais. Na coluna dorsal, essas informações seguem pelos fascículos grácil (informação dos membros inferiores) e cuneiforme (informação dos membros superiores), passam pelo bulbo e vão ao córtex, passando antes no tálamo. Na via anterolateral, o neurônio sensitivo vai ativar o neurônio de 2ª ordem na própria medula, depois segue ipsilateral até o córtex. A informação que essa via leva é a do tato protopático, da dor e da temperatura contralaterais. Em relação à via da dor, essa coluna anterolateral possui duas vertentes: o trato espinotalâmico lateral (NEO) que leva a informação da dor rápida e bem localizada; e o trato espino-(reticulo)talâmico (PALEO) que leva a dor lenta e difusa (sem somatotopia exata). Já o trato espinotalâmico anterior leva a informação de pressão e tato protopático. 8 FISIOLOGIA RAUL BICALHO – MEDUFES 103 A sensibilidade somestésica da cabeça é conduzida ao córtex principalmente pelo Nervo Trigêmeo. O trato trigeminal também tem uma via que conduz informação de tato epicrítico e propriocepção campos receptivos pequenos e alta discriminação espacial. Além de uma via que descende (mas volta a ascender um pouco) que é de dor, temperatura e tato protopático com campos receptivos grandes e baixa discriminação espacial. CENTROS SUPERIORES O córtex sensorial tem uma representação proporcional aos campos receptivos, áreas com menores campos receptivos possuem uma maior representação. Todas as informações vão se projetar primeiramente para o córtex somatossensorial primário (S1). Lembrando que é uma via contralateral, portanto toda a informação direita chega no córtex sensorial esquerdo. O córtex somatossensorial secundário (S2) vai receber informações do córtex somatossensorial primário e projetar isso para o lobo temporal e córtex insular, o que tem relação com a memória e a aprendizagem tátil. Resumindo, o S1 é o sentido e o S2 começa a te dar percepção daquela modalidade sensorial (daquele estímulo). Já o córtex parietal posterior é responsável por receber diversas informações sensoriais e correlacionar elas com o mundo exterior. Promove, portanto, a integração sensorial, visual, auditiva e motora. OBS.: Existe um mapa somatotópico no córtex somatossensorial que é mantido por toda a via. Portanto, a somatotopia existe desde a entrada da ativação do neurônio de 1ª ordem até a chegada dessa via no córtex somatossensorial. OBS.: É importante saber que isso varia entre as espécies. OBS.: Lesão do córtex parietal posterior direito leva à ignorância sensorial completa do seu lado esquerdo (síndrome da negligência corporal). O paciente, portanto, não veste este lado do corpo, não lava durante o banho, não tem noção nem de que existe um espaço extracorpóreo correspondente.
Compartilhar