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Concretismo e Neoconcretismo
Mario Schenberg *
1977
O surgimento dos movimentos concretista e neoconcretista foi um acontecimento de 
extraordinária importância da vida cultural brasileira na década de 1950, tanto no campo das artes
plásticas como na literatura e na música. A realização da exposição sobre o Projeto Construtivo 
Brasileiro na Arte na Pinacoteca do Estado de São Paulo permitirá sem dúvida o início de uma 
avaliação crítica mais profunda de um dos momentos mais interessantes de nossa história cultural
(...).
Os movimentos concretista e neoconcretista permitiram a assimilação dos resultados das 
inovações da linguagem visual desenvolvidas desde o cubismo, na Europa, sobretudo por 
Mondrian e Malevich, assim como pela vanguarda russa, os artistas do Stijl1 holandês, o grupo da 
Bauhaus2, e posteriormente aprofundadas em certas direções por Max Bill e a escola suíça, e o 
grupo de Ulm3. Parece-me, porém, que o admirável senso metafísico subjacente às linguagens 
visuais de Mondrian e de Malevich não foram bem percebidos pelos construtivistas brasileiros, 
com raríssimas exceções como Mira Schendel, que absorvera admiravelmente o existencialismo 
de Heidegger e Kierkegaard, e depois descobriria caminhos do Oriente, do I Ching ao Taoísmo e 
o Zen.
A assimilação da experiência internacional pelos artistas brasileiros de tendência construtiva foi 
um processo altamente criativo que levou às contribuições de grande originalidade para a arte 
cinética, a op art e a arte ambiental – além da que foi dada à pintura e à escultura concreta. A arte
construtiva brasileira passou assim para uma nova situação internacional, como a que já havia 
adquirido a arquitetura, a música e a literatura de vanguarda do Brasil, de resto altamente 
enriquecidas pelo desenvolvimento do projeto construtivo nas artes plásticas. Nesse processo a 
nossa literatura se distinguiu pela criação da poesia concreta e neoconcreta.
É importante observar que contribuições relevantes da arte construtiva brasileira foram também 
dadas por aristas fora dos movimentos concretista e neoconcretista, tanto em São Paulo como no 
Rio de Janeiro. Basta recordar Alfredo Volpi, Mira Schendel e Arnaldo Ferrari em São Paulo além 
de artistas que vieram do grupo Abstração. No Rio de Janeiro podemos destacar as contribuições 
tão originais de Rubem Valentim, Abraham Palatnik, Milton Dacosta e Maria Leontina. Houve 
durante a década de 1950 uma tendência generalizada para o construtivismo, contrastando 
nitidamente com a tendência para o expressionismo característica da década de 1940. Os 
movimentos concretista e neoconcretista podem mesmo ser vistos como frutos daquela tendência,
provavelmente relacionada com o clima desenvolvimentista daqueles anos de muito otimismo e 
despreocupação. Já desde o começo da década de 1960 houve mudança radical do clima, que 
levou à debilitação das tendências construtivistas espontâneas e ao declínio do concretismo e do 
1 Ver <https://www.atelier.guide/home/a-arte-total-de-mondrian-e-o-movimento-de-stijl>
2 Ver <https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-foi-a-bauhaus/>
3 Ver <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/instituicao372976/hochschule-fur-gestaltung-ulm-alemanha>
neoconcretismo. Na década de 1960 surgiram poderosas tendências para manifestações pop e 
neodadaístas, associadas com obras de marcado conteúdo político e social a partir de 1964. Nos 
últimos anos de 1960 essas tendências conduziram ao movimento brasileiro de arte conceitual.
No Rio de Janeiro, o movimento neoconcretista conseguiu atrair tendências construtivistas 
generalizadas, graças a maior flexibilidade das concepções de personalidades como Mario 
Pedrosa, Ligia Clark, Ferreira Goulart, Franz Weissmann e Amílcar de Castro. Em São Paulo, o 
grupo concreto tornou-se mais fechado, em conseqüência da liderança autoritária de Waldemar 
Cordeiro e da sua ortodoxia doutrinária, fortemente ligada às concepções de Max Bill e do grupo 
suíço, que permitiu apenas o desenvolvimento de uma arte concreta de pura visualidade por 
Cordeiro, Charoux, Fiaminghi, Maluf, Nogueira Lima e Sacilotto, ou uma arte de visualização de 
idéias como a de Judith Lauand e Fejer.
A rigidez doutrinária visualista tornou o movimento concretista de São Paulo pioneiro da op art, 
mas dificultou o encontro com a pop art na década de 1960, tentada por Waldemar Cordeiro na 
sua arte pop-concreta. Cordeiro procurou alargar o círculo de idéias da escola suíça pela teoria da
arte de Konrad Fiedler, que o levou a concepção de um pensamento por imagens, também 
inspiradas por filósofos russos, como Bukharin.
Obras de Waldemar Cordeiro
No Rio de Janeiro, Ferreira Gullar, baseando-se nas experiências profundamente criativas de 
Ligia Clark, elaborou a sua notável teoria do não objeto4, que forneceu uma orientação de 
conjunto para as tendências construtivistas cariocas. Apoiando-se na crítica de Merleau Ponty e 
ao fisicalismo da psicologia da percepção da Gestalt5, Ferreira Gullar estabeleceu uma ponte 
4 O texto de Ferreira Gullar aponta, entre outras coisas, para os eventos que levaram ao desenvolvimento da abstração 
nas artes plásticas e visuais. Ver <https://monoskop.org/images/b/b3/Gullar_Ferreira_1959_1977_Teoria_do_nao-
objeto.pdf>
5 Em termos mais gerais, é o conjunto de entidades físicas, biológicas, fisiológicas ou simbólicas que juntas formam 
um conceito, padrão ou configuração unificado que é maior do que a soma de suas partes. Ver 
entre o construtivismo e as concepções fenomenológicas, que facilitou a evolução posterior de 
Ligia Clark e Helio Oiticica, transcendendo o construtivismo.
Metaesquema 153, Hélio Oiticica, 1958.
Grande Núcleo, Hélio Oiticica, 1960.
Uma das personalidades mais importantes da arte de São Paulo que tivera relações com o 
concretismo é sem dúvida Geraldo de Barros. Surgiu na década de 1940 com o grupo dos 15 e foi
um dos integrantes do grupo Ruptura, depois de ter estado em Ulm em 1951. As suas Fotoformas 
de 1950 representam um marco na história das artes visuais brasileiras, pelo emprego artístico da 
fotografia como forma de expressão plástica. Geraldo de Barros teve sempre uma compreensão 
dos problemas das possibilidades de novas técnicas de comunicação artísticas oferecidas pelo 
desenvolvimento tecnológico e pelos meios de comunicação de massa. Foi um pioneiro da criação
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Gestalt>
e da produção de múltiplos.
Alexandre Wollner foi um dos integrantes do concretismo paulista que deram maiores 
contribuições para o desenvolvimento da comunicação de massa e do design. Colaborou com 
Geraldo de Barros, Fiaminghi e outros membros do grupo concretista em comunicação de massa.
O grupo concretista de São Paulo teve sempre muito interesse pela industrialização. Certamente 
algumas das diferenças essenciais entre os concretistas de São Paulo e os neoconcretistas do 
Rio de Janeiro refletem as diferenças entre o ambiente de São Paulo industrializado, e o da então 
capital política e administrativa do Brasil.
A compreensão da arte como manifestação ideológica e social foi muito fraca tanto no 
concretismo como no neoconcretismo, em toda a década de 1950. Aliás, o sentido social e 
ideológico dos artistas brasileiros da década de 1950 foi mais baixo que na de 1940. Houve um 
esquecimento quase total da nossa situação de país latino americano, e, portanto, do Terceiro 
Mundo, no que tangia à criação artística e cultural. 
Um dos aspectos mais interessantes do construtivismo brasileiro foi o desenvolvimento de novas 
figuras de poesia associadas à criação plástica. Em São Paulo, Augusto de Campos, Décio 
Pignatari e Haroldo de Campos haviam iniciado pesquisas sobre novas formas de expressão 
poética.
Pulsar, poema concreto de Augusto dos Campos.
Publicaram a revista Noigandres, ainda antes do aparecimento do movimento concretista de São 
Paulo. Depois houve aproximação entre os poetas e artistas visuais.
O grupo Noigrandescriou o movimento da poesia 
concreta de São Paulo, ao mesmo tempo, que 
Gommringer e os poetas paulistas, tendo o lançamento 
do movimento internacional sido feito em 1956 na revista
(que levou o mesmo nome) Noigandres.
Um dos aspectos mais interessantes da poesia concreta 
foi a aproximação efetuada com a poesia japonesa, 
destacando basicamente a importância do conceito de 
ideograma. Assim o movimento de arte concreta 
brasileira levou ao ressurgimento pelos ideogramas entre
os jovens poetas japoneses6.
No Rio de Janeiro, Ferreira Gullar, e Theon Spanoudis 
em São Paulo desenvolveram formas de poesia 
neoconcreta, relacionadas com o movimento 
neoconcretista. 
A poesia neoconcretista levou Ferreira Gullar a uma forma importante de arte ambiental7, influindo
assim diretamente sobre a arte neoconcreta.
Poema concreto de Ferreira Gullar. 
6 Quanto à diferença entre ideogramas e palavras, há que se reconhecer que, nas palavras que escrevemos, é máximo 
o grau de arbitrariedade na relação forma-significado. Já o ideograma lembra a forma daquilo que representa. 
7 A arte ambiente ou ambiental não faz referência a um movimento artístico particular, mas sinaliza uma tendência da 
arte contemporânea que se volta mais decididamente para o espaço - incorporando-o à obra e/ou transformando-o -, 
seja ele o espaço da galeria, o ambiente natural ou as áreas urbanas. Diante da expansão da obra no espaço, o 
espectador é convocado a se colocar dentro dela, experimentando-a; não como observador distanciado, mas parte 
integrante do trabalho. 
Maravilha, Poema-objeto.
* Mario Schenberg nasceu em 2 de julho de 1914 na cidade de Recife, Pernambuco. Em 1933 transferiu-
se para a capital paulista, atraído pela criação de uma faculdade de ciências e formou-se engenheiro 
elétrico pela Escola Politécnica de São Paulo, em 1935. Apresentou sua tese sobre os princípios da 
mecânica em 1944 e tornou-se professor catedrático da cadeira de Mecânica Racional, Celeste e Superior 
da Universidade de São Paulo. Em 1947, elegeu-se deputado estadual de São Paulo pelo Partido 
Comunista, mas depois de dois meses seu mandato foi cassado e ele foi preso.
Anos mais tarde, lecionou na Bélgica e na sua volta ao Brasil foi eleito diretor do Departamento de Física da
USP, onde atuou de 1953 a 1961, realizando mudanças na estrutura e organização do curso de física. 
Aposentou-se em 1968, depois da implantação do AI-5, porém em 1980 voltou a trabalhar no Instituto de 
Física da USP. Recebeu o Prêmio de Ciência e Tecnologia do Conselho Nacional de Pesquisas e os títulos 
de Cidadão Paulistano e de Professor Emérito do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Foi pioneiro em 
vários campos da física e da química, da astrofísica e da teoria das partículas elementares, sendo autor de 
114 trabalhos sobre astrofísica, física teórica, física experimental, física matemática, análise funcional e 
geometria. Como presidente da Sociedade Brasileira de Física teve destaque no acordo contra a construção
de usinas nucleares. Faleceu em 10 de novembro de 1990.
"A minha filosofia geral para todo o ensino é de não empanturrar o aluno de conhecimentos, mas de 
estimular a criatividade dele".
	Concretismo e Neoconcretismo
	O surgimento dos movimentos concretista e neoconcretista foi um acontecimento de extraordinária importância da vida cultural brasileira na década de 1950, tanto no campo das artes plásticas como na literatura e na música. A realização da exposição sobre o Projeto Construtivo Brasileiro na Arte na Pinacoteca do Estado de São Paulo permitirá sem dúvida o início de uma avaliação crítica mais profunda de um dos momentos mais interessantes de nossa história cultural (...).

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