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Resumo Parasitologia Beatriz Cunta – 2024 Antes de falar sobre o parasitismo, vamos falar sobre outras relações ecológicas: - Comensalismo: relação não obrigatória (+/0) - Mutualismo: também não obrigatória (+/+) - Simbiose: obrigatória (+/+) O parasito é um organismo que se aproveita da relação de proximidade com o outro para sua nutrição/benefício. O parasitismo é uma associação ecológica desenvolvida entre espécies diferentes em que se estabelece uma relação íntima e duradoura entre os parceiros, com graus variados de dependência metabólica. Essa dependência vai variar de acordo com a história evolutiva que o parasito tem com o hospedeiro, e o hospedeiro tem com o parasito. Na parasitologia humana, não vemos nenhum parasita que estimula o hospedeiro, vendo sempre um espectro em que a relação parasito- hospedeiro é danosa (-/+). Contudo, há exemplos diferentes (protozoários que estimulam a produção de ovos de formiga para maior infecção estimula sistema reprodutor, trazendo maiores danos para aquela população), mostrando que o caráter patogênico do parasitismo é incidental e não deve ser incluído na definição da condição. Dentre os parasitas eucariotos, temos: - Protozoários – Reino Protista - Helmintos e Artrópodes – Reino Animalia. Até que ponto é interessante o parasito matar o hospedeiro? R: É interessante, ao parasito, que o hospedeiro esteja vivo para sua própria nutrição e reprodução. A morbidade (indivíduo infectado pode até manifestar sintomas clínicos, mas geralmente não é um quadro grave que o leva próximo da morte) é bem maior que a mortalidade. A fase crônica das parasitoses é bem mais comum. TIPOS DE PARASITISMO OBRIGATÓRIO: o parasita está sempre dentro do hospedeiro, dependendo dele para as suas funções mais básicas. A maior parte das parasitoses é desse tipo (representante forte = Leishmaniose). PERIÓDICO: o ser vivo apresenta um estágio de sua vida em que se apresenta como parasito. Ex: moscas na fase de larva, causando a miíase. TEMPORÁRIO: o ser vivo tem uma ação/hábito que o classificaria como parasito. Ex: barbeiro, mosquitos hematófagos (sugam o sangue de outro animal para se alimentar). A Dermatobia Hominis (mosca varejeira) atua como parasita periódico, ocupando lesões de bois em seu estágio larval. Conforme cresce, cai no solo no estado de pulpa e passa a sobreviver sozinha. Logo realiza metamorfose e vira mosca adulta, que irá procurar outros insetos (moscas domésticas, por exemplo) para transportar seus ovos por elas, depositando-os em lesões de outros animais, de forma que eclodirão e repetirão o ciclo. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO CICLO BIOLÓGICO MONOXENOS: depende de um único hospedeiro para completar seu ciclo Resumo Parasitologia Beatriz Cunta – 2024 (Exemplos: Giárdia lamblia e Ascaris lumbricoides). Nesse único hospedeiro ocorre a reprodução sexuada; quando a reprodução é somente assexuada, o vertebrado é o hospedeiro definitivo. Esse tipo de parasita pode ser facilmente controlado pela contenção do hospedeiro, tratando-o e evitando a contaminação (com exceção de reservatórios naturais). HETEROXENOS: apresenta mais de um hospedeiro (geralmente 2). Apresenta diferentes nomenclaturas para o hospedeiro (não focando apenas no indivíduo parasitado): HOSPEDEIRO INTERMEDIÁRIO: carrega o parasito em fase de reprodução assexuada. HOSPEDEIRO DEFINITIVO: carrega o parasito em fase adulta, fase de reprodução sexuada. É importante evitar a ocorrência de hospedeiros intermediários (controlando sua proliferação), de modo a evitar que o parasito feche seu ciclo. Na maior parte das vezes, o hospedeiro definitivo é um vertebrado (homem), com exceção da malária (invertebrado é). Exemplos: Taenia Solium/Saginata homem como hospedeiro definitivo e porco/boi, como hospedeiros intermediários, respectivamente. OBS: OUTROS TIPOS DE HOSPEDEIRO - PARATÊNICO: carrega o parasito em uma forma viável, mas que não consegue se desenvolver/reproduzir = “portador”. Ele mantém o parasito viável até que encontre outro hospedeiro. - ACIDENTAL: não faz parte do ciclo biológico do parasito OBS: DIFERENÇA ENTRE HOSPEDEIRO E RESERVATÓRIO o reservatório abriga o parasita numa área endêmica, mas muitas vezes não desenvolve as características clínicas da doença. O reservatório está infectado, é uma fonte de infecção. Pode não manifestar a doença, mas ajuda a perpetuá-la naquela área. Ele é extremamente importante para manter o ciclo fechado em ambiente silvestre. Ex: rato d’água, na esquistossomose, que come o caramujo, fechando o ciclo sem sintomas; leishmaniose visceral (brasiliensis), em que o cachorro atua como ótimo reservatório, trazendo-a para o homem. A situação do reservatório parece decorrer de uma adaptação recíproca parasito- hospedeiro (evolução conjunta). Quanto mais hospedeiros forem necessários para fechar o ciclo, mais difícil será para o parasito sobreviver no ambiente e se reproduzir. O ser humano, inclusive, selecionou parasitas com nenhum ou apenas um hospedeiro intermediário, encurtando o ciclo e aumentando a eficiências dos parasitos. A exceção à regra seria o Diflobotrium latrium (quatro hospedeiros) no seu ciclo temos o urso/ser humano (hospedeiros definitivo), que come o salmão infectado com a larva do parasito. Esse hospedeiro irá permitir o desenvolvimento de uma taenia, eliminando seus ovos pelas fezes. No caso dos ursos (defecam nos rios), os ovos serão consumidos por crustáceos consumidos por pequenos peixes consumidos por maiores peixes, como o salmão, e o ciclo reinicia. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À LOCALIZAÇÃO ECTOPARASITOS: estão fora do corpo. Exemplos: piolho, chato (pediculose pubiana), sarna, miíase. Eles apresentam adaptações para se fixar na pele: patas são recurvadas, as larvas têm espinhos para fixação. A esses parasitos usa-se o termo infestação. ENDOPARASITOS: muitos estão no sistema digestório, na luz intestinal. A tendência é sua expulsão pelo peristaltismo + movimento do conteúdo intestinal. Para isso têm adaptações: ventosas, espécie de dentes, estruturas para se enrolar nas vilosidades, Resumo Parasitologia Beatriz Cunta – 2024 algumas proteínas adesinas. Essa fixação promove espoliação/agressão espoliativa, assemelhando uma infecção (termo usado a esses parasitos) a uma eosinofilia, mas o processo de recrutamento do SI não ocorre de modo intenso pela tolerância existente no intestino. HEMOPARASITOS: chegam na corrente sanguínea (maioria unicelulares ou filárias). Podem entrar nas células como estratégia para fugir do SI. Alguns até invadem células do SI (macrófagos – leishmaniose). OBS: DOENÇA INFECTO-PARASITÁRIA: infecção não necessariamente significa doença. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ESPÉCIE DO HOSPEDEIRO EURIXENO: Apresenta ampla gama de hospedeiros (toxoplasma gondii, tripanosoma cruzi, áscaris lumbricoides, giárdia lamblia). ESTENOXENO: Apresenta uma espécie de hospedeiro, mais comum em helmintos. Ex: Filariose (Wuchereria parasita somente humanos), Enterobius vermicularis, Plasmodium falciparum. VETORES VETORES BIOLÓGICOS: São hospedeiros intermediários, em geral artrópodes (dípteros – mosquitos hematófagos) ou moluscos. Servem de meio de transporte do parasito entre hospedeiros. VETORES MECÂNICOS: carream ovos, cistos, mas não entram em contato direto com o parasito (não fazem parte do processo de desenvolvimento biológico dele). Ex: mosca doméstica. AÇÃO PATOGÊNICA DOS PARASITOS Resumo Parasitologia Beatriz Cunta – 2024 A tendência é existir equilíbrio entre parasito e hospedeiro. Quando ele é deslocado, ocorrem os sintomas clínicos. AÇÃO ESPOLIATIVA:parasitos roubam nutrientes do hospedeiro. Muitos têm hábito hematófago. AÇÃO TÓXICA: é direta e proveniente de uma substância produzida pelo parasito. Gera resposta inflamatória local. AÇÃO MECÂNICA: obstrução da luz de órgãos. AÇÃO TRAUMÁTICA: danificação de tecidos por migração, por exemplo (trauma mecânico). Ex: larvas. AÇÃO IRRITATIVA: presença constante do parasito gera irritação da mucosa (ventosas, lábios, cílios). AÇÃO ENZIMÁTICA: parasito produz enzimas que facilitam a penetração dele ou facilitam a assimilação de nutrientes. AÇÃO ANÓXICA: espoliação do oxigênio. RELAÇÃO PARASITO-HOSPEDEIRO O organismo humano apresenta dispositivos fisiológicos que oferecem resistência à penetração ou à sobrevivência dos parasitos. Em quase todas as parasitoses são descritas formas clínicas variadas, se estendendo desde casos assintomáticos a formas graves da doença. A manifestação dessa relação depende de: FATORES RELACIONADOS AO PARASITO: - VIRULÊNCIA: capacidade de um agente infeccioso produzir efeitos graves ou fatais e está relacionada às propriedades bioquímicas do agente, à produção de toxinas e à sua capacidade de multiplicação o organismo parasitado. - CARGA VIRAL: “quantidade” do agente infeccioso recebida pelo hospedeiro. - LOCALIZAÇÃO: pode ser decisiva. Ex: único cisticerco no cérebro ou no olho pode causar a morte ou a cegueira desse olho; quando larvas de tênia se localizam na pele ou músculos, pode permanecer assintomático. FATORES RELACIONADOS AO HOSPEDEIRO: - IDADE - ESTADO NUTRICIONAL: majoritariamente ligado a condições socioeconômicas precárias. - ESTADO IMUNOLÓGICO E PRESENÇA DE COMORBIDADES - ESTRESSE Supõe-se que o desenvolvimento da doença indique relações ecológicas relativamente recentes, da falta de mecanismos de adaptação suficientemente desenvolvidos para assegurar o equilíbrio biológico. EPIDEMIA x ENDEMIA ENDEMIA: é uma doença restrita a uma localidade, com características ambientais, vetores e hospedeiros bem delimitados. As regiões endêmicas devem se encontrar sempre em alerta, além de requerer políticas para a contenção das doenças e evitar sua dispersão. EPIDEMIA: quando a doença supera o número de casos esperados, sendo igual à definição de surto. É normal em doenças que tendem a se agudizar, o oposto das verminoses, que não se espalham tão drasticamente e são contidas com mais facilidade. DOENÇAS NEGLIGENCIADAS São um conjunto de 17 doenças, em que 11 são causadas por protozoários ou helmintos. São fruto de pouco investimento em seu controle, pouco investimento na sua pesquisa e pouco interesse por parte da indústria farmacêutica (não vê como negócio lucrativo). São vistas como doenças de países mais pobres, que matam indivíduos mais Resumo Parasitologia Beatriz Cunta – 2024 pobre público não poderia pagar. Os medicamentos existentes hoje, em sua maioria, são datados da década de 1950, como os da tuberculose.
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