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1 Considerações sobre a geografia: espaço, paisagem e região Oswaldo de Oliveira Santos Junior Objetivos: Situar o conhecimento sobre espaço, paisagem e região dentro de um processo histórico, social e político em permanente evolução e transformação, observando que os conceitos são resultado destes processos. Palavras-chave: Geografia; espaço; paisagem; região. Introdução Como em todas as ciências sociais, a geografia preza pela precisão dos conceitos, ou seja, a forma de representar ou descrever os objetos concretos ou abstratos da realidade geográfica. A análise, classificação e descrição dos objetos exigem uma abordagem metodológica capaz de dar conta da complexidade da realidade social. A reflexão sobre essa realidade social necessita de uma postura capaz de problematizar, interrogar e apontar para respostas diante das questões sociais que são apresentadas no cotidiano dos indivíduos. É correto observar que, na busca pela precisão dos conceitos, o pesquisador se depara, muitas vezes, com uma enormidade de variáveis possíveis que devem ser consideradas, analisadas e criticadas. Estas variáveis decorrem muitas vezes de diferentes “concepções de mundo” dos sujeitos que produzem e se relacionam com o conhecimento. Portanto, as análises que se seguem pressupõem uma abordagem histórica e crítica com o objetivo de delinear os conceitos que serão trabalhados ao longo do texto, tendo em vista que os mesmos são produtos de um processo histórico e que devem ser analisados no interior dele (LEME, 2002, p. 95). 2 A partir desta constatação, Dulce Leme (2002, p. 97) afirma que: “[...] a realidade científica não será, portanto, a realidade espontânea e passivamente observada, mas uma realidade constantemente construída”. O conhecimento não se limita ao estudo dos fatos e à reprodução do saber sem reflexão ou novas indagações e negações; ao contrário, ele necessita da afirmação e da negação permanentes e é, portanto, neste processo dialético (abstração e concretude num só tempo) que se dá a construção dos conceitos, compreendendo que “[...] a dialética é constituída pelas contradições reais, que se manifestam principalmente nos níveis político, social e econômico” (SANDRONI, 2001, p. 174). Assim, Para Marx, é dialético, por exemplo, o movimento histórico que faz com que o enriquecimento da burguesia implique, necessariamente e contraditoriamente, o fortalecimento do proletariado (quanto maior a acumulação capitalista, tanto maior a massa explorada) (SANDRONI, 2001, p. 174). Assim, este texto busca situar o conhecimento dentro de um processo histórico, social e político em permanente evolução e transformação, observando que os conceitos são resultado destes processos. Milton Santos e a questão do espaço geográfico A abordagem teórica sobre o espaço geográfico1 experimentou, ao longo do processo histórico, sérios problemas em seu desenvolvimento; dentre eles, o fato de que os trabalhos realizados nos países subdesenvolvidos foram feitos por estrategistas pouco preocupados em pesquisar profundamente a dinâmica espacial urbana destes países e também porque estes estudos não consideraram, por desconhecimento, as consequências profundas do período tecnológico sobre a organização do espaço, em especial a partir de 1960 (SANTOS, 2004a, p. 20). 1 O conceito de espaço geográfico, ou seja, toda transformação gerada pelo ser humano no espaço, em Milton Santos é visto como uma categoria histórica, passivo de ser estudado nas ciências sociais. Compreende-se ainda como toda realidade social é definida metodologicamente e do ponto de vista teórico por três conceitos gerais: a forma, a estrutura e a função, não podendo ser analisado em separado. Assim, “[...] o espaço deve ser considerado como um conjunto de relações realizadas através de formas que se apresentam como testemunho de uma história escrita por processos do passado e do presente [...] o espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções” (SANTOS, 1997, p. 38; SANTOS, 2004b, p. 153). 3 O geógrafo Milton Santos aponta para a realidade na qual a urbanização nos países denominados subdesenvolvidos possui uma particularidade na sua evolução em relação aos países desenvolvidos. Ele afirma que Essa especificidade aparece claramente na organização da economia, da sociedade e do espaço e, por conseguinte, na urbanização, que se apresenta como um elemento numa variedade de processos combinados (SANTOS, 2004a, p. 19). Parte desta complexidade na organização espacial dos países pobres tem sua origem no fato de que suas economias se organizam para atender interesses externos e distantes, o que influirá na construção e transformação do espaço geográfico. Desta forma, Milton Santos afirma que: [...] o espaço dos países subdesenvolvidos é marcado pelas enormes diferenças de renda na sociedade, que se exprimem, no nível regional, por tendência à hierarquização das atividades e, na escala do lugar, pela coexistência de atividades de mesma natureza, mas de níveis diferentes. [...] O comportamento do espaço acha-se assim afetado por essas enormes disparidades de situação geográfica e individual (SANTOS, 2004a, p. 21). Outra consideração feita por Milton Santos é a de que a maioria dos estudos sobre a questão do espaço geográfico (mais especificamente a questão da urbanização) se preocupa mais com os efeitos do que com as suas casualidades históricas, sociológicas e econômicas, o que torna boa parte destes estudos reduzidos às estatísticas matemáticas e tabulações de dados, como se observa na escola teorética ou quantitativa da geografia, que concentra o estudo da geografia nas estatísticas matemáticas e tabulações de dados, que são importantes fontes para o mercado e para a pesquisa em geral. Por isso, Santos afirma que O estudo da história dos países subdesenvolvidos permite revelar uma especificidade de sua evolução em relação às dos países desenvolvidos. Essa especificidade aparece claramente na organização da economia, da sociedade e do espaço e, por conseguinte, na urbanização, que se apresenta como um elemento numa variedade de processos combinados. (SANTOS, 2004a, p. 19). A partir do estudo da história, constata-se que não existem “países em desenvolvimento”, mas sim países subdesenvolvidos, que participam do sistema capitalista a partir da periferia, servindo aos interesses dos países do centro (desenvolvidos). Esta característica possui sérias implicações na construção do espaço geográfico dos países subdesenvolvidos, que é marcado por grandes diferenças de renda na sociedade (SANTOS, 2004a, p. 21). 4 Com o objetivo de possibilitar uma maior compreensão da dinâmica do espaço geográfico, Santos propõe a divisão (do espaço geográfico) em dois circuitos econômicos: o circuito superior e o circuito inferior.2 Estes dois circuitos estão interligados, sendo que o circuito superior faz uso de tecnologia de ponta e capital intensivo enquanto o circuito inferior faz uso do trabalho intensivo e baixo desenvolvimento tecnológico. Santos adverte que a cidade não pode ser compreendida como uma “máquina” única, mas como uma relação entre estes dois circuitos (SANTOS, 2004a, p. 43-55). O espaço geográfico brasileiro Em A urbanização brasileira, Santos (2005) descreve de forma mais específica a questão da urbanização no Brasil e a construção do espaço geográfico brasileiro. Como é descrito por ele, o livro é uma síntese da urbanização brasileira a partir da visão de um geógrafo, compreendendo, portanto, a urbanização como um processo, forma e conteúdo muito específicos. Assim, o Brasil alcança a urbanização da sociedade e do espaço somente em meados do século XX,tendo sido primeiramente uma urbanização litorânea e somente mais tarde se expandindo para o restante do território brasileiro (SANTOS, 2005, p. 44). Santos observa que o processo de urbanização3 no Brasil torna-se mais visível a partir do século XVIII, com a transferência da moradia dos grandes latifundiários para as cidades. Entretanto esse processo é bastante tímido, sendo que: “[...] a expansão da agricultura comercial e a exploração mineral foram a base de um povoamento e uma criação de riquezas redundando na ampliação da vida de relações e no surgimento de cidades no litoral e no interior” (SANTOS, 2005, p. 22). Este período é denominado por Santos como processo pretérito de criação urbana, o que vai acompanhar todo o processo de urbanização no Brasil (SANTOS, 2005). 2 Milton Santos (2004a, p. 43-44) compreende o circuito superior como aquele que utiliza tecnologia importada ou de ponta, com um capital intensivo, e uma organização burocrática; enquanto o circuito inferior faz uso de “trabalho intensivo” e frequentemente local, sendo o capital bastante reduzido e a organização primitiva. 3 O Brasil experimentou três etapas de organização de seu espaço e sua população: aglomeração (com o aumento dos núcleos com mais de 20 mil habitantes), depois concentração (com a multiplicação de cidades de tamanho intermediário) e por fim metropolização (com o surgimento e aumento das cidades milionárias, como São Paulo e Rio de Janeiro). (SANTOS, 2005, p. 77). 5 Mais tarde no século XIX, já com a produção do café no Estado de São Paulo, este propicia a acumulação de capitais necessários para a geração da expansão industrial no Brasil, tornando-se um importante elemento polarizador do processo de urbanização da região4 Sudeste, e também modelador do espaço geográfico brasileiro e particularmente da cidade de São Paulo. Um segundo momento apontado por Santos ocorre entre 1940 e 1980, que é quando se dá efetivamente uma mudança do quadro populacional brasileiro, e se consolida definitivamente a urbanização brasileira. Observando que a taxa de urbanização em 1940 era de 26,35% e em 1980 já alcançava 77%. Desta forma, a população urbana brasileira se multiplica por sete vezes e meia durante este período (SANTOS, 2005, p. 33). Contudo é importante notar que o processo de transformação do espaço geográfico brasileiro não foi linear, nem tão pouco gradativo, durante os anos de 1940 a 1980. É possível observar que, entre 1960 e 1980, o crescimento da população urbana teve um aumento de cerca de cinquenta milhões de novos habitantes, algo parecido ao total da população brasileira em 1950 (SANTOS, 2005, p. 32). Diante desta questão, Milton Santos (2005, p. 32) afirma que: “Os anos 60 marcam um significativo ponto de inflexão. Tanto no decênio entre 1940 e 1950 quanto entre 1950 e 1960, o aumento anual da população urbana era, em números absolutos, menor que o da população total do país”. No entanto, o crescimento urbano brasileiro não representou necessariamente uma organização espacial em que a igualdade e a justiça social fossem referências marcantes. Antes, a organização do espaço brasileiro criou e perpetuou uma profunda desigualdade e foi orientada para privilegiar os interesses corporativos em detrimento das populações 4 Região: Este conceito geográfico, de área com características próprias, foi desenvolvido em princípio no século XIX pela escola francesa, e logo tomou o sentido político-administrativo tornando-se um instrumento de planejamento. Milton Santos rejeita a noção de regionalismo geográfico, por compreender o mundo como um sistema único e integrado entre as “partes”. A região perdeu sua coerência interna e passou a ser definida de fora, sendo que seus limites se alteram de acordo com vários critérios. Assim, região é tomada como área que reproduz a totalidade; pode ser vista como as diferenças entre os lugares. Tais diferenciações podem ser inclusive oriundas do processo de globalização. Santos não considera que a globalização tenha eliminado as regiões, ao contrário, quanto mais este processo avança mais a diferenciação entre as regiões torna-se mais evidente. Assim, para ele, "as regiões são o suporte e a condição de relações globais que de outra forma não se realizariam", ou seja, a região é "um espaço de conveniência" (GIOVANNETTI, 1996, p. 179-180; SANTOS, 2004b, p. 39-41; CASTRO, 2002). 6 locais (SANTOS, 2005, p. 63); disto resulta a urbanização corporativa, que veremos em seguida. A região Sudeste, por exemplo, experimentou um crescimento urbano e um desenvolvimento das cidades muito mais acentuado que o das regiões Norte e Nordeste. É certo que este crescimento foi acompanhado do que Santos (2005) denominou macrocefalia urbana5, gerando nas grandes cidades da região Sudeste espaços em que a população passou a conviver com a pobreza crônica e a falta de equipamentos públicos suficientes para atender suas demandas básicas, como creches, hospitais e escolas. A urbanização corporativa e a sociedade líquida A organização das cidades no Brasil apresenta características muito semelhantes, e nesta direção sinaliza Milton Santos (2005, p. 105) quando afirma que, Com diferenças de grau e de intensidade, todas as cidades brasileiras exibem problemáticas parecidas. Seu tamanho, tipo de atividade, região em que se inserem, etc. são elementos de diferenciação, mas, em todas elas, problemas como os do desemprego, da habitação, dos transportes, do lazer, da água, dos esgotos, da educação e saúde são genéricos e revelam enormes carências. Os fatores causadores do caos urbano que se instala nas cidades brasileiras possuem elementos comuns que são geradores desta desordem. Dentre um destes elementos situa-se a urbanização corporativa, ou seja, um processo de urbanização inteiramente orientado para atender aos interesses do mercado e à expansão capitalista. Compreende-se que, no contexto neoliberal, o Estado, ao orientar as políticas públicas6 para o atendimento destes interesses, gera um processo de urbanização excludente e 5 Macrocefalia urbana refere-se ao crescimento desordenado das cidades, sem que o mesmo seja acompanhado de políticas públicas que possibilitem a inserção das populações aos sistemas de saúde, educação, habitação, transporte e outros. Este fenômeno está intimamente relacionado ao processo de organização econômica dos países pobres, que possuem sua economia orientada para atender aos interesses externos (SANTOS, 2005). 6 Trata-se de um conjunto de diretrizes garantidas por lei, que possibilitam a promoção e a garantia de direitos para o cidadão. A sociedade civil tem uma participação considerável na elaboração das políticas públicas, tornando o acompanhamento e execução das mesmas muito mais eficientes. “No contexto internacional, a doutrina neoliberal passou a ser o fundamento de políticas públicas, configurando-se como ideologia conservadora e hegemônica no Ocidente a partir do final dos anos de 1970 e, sobretudo, durante a década de 1980, quando foi posta em prática pelos governos Thatcher, na Grã-Bretanha, e Reagan, nos Estados Unidos.” (GROS, 2004). 7 que precariza, quando não suprime as relações entre o Estado e o indivíduo, em que o cidadão não tem participação e nenhum acesso aos bens que a cidade produz. A urbanização corporativa contribui para a desordem urbana, favorecendo a proliferação dos “guetos”, cortiços e moradias de autoconstrução, ou seja, a total ausência de planejamento urbano e de uma política urbana voltada para os interesses dos indivíduos. A construção do espaço geográfico encontra-se voltada para atender aos interesses dos grandes grupos econômicos, com a construçãode vias para o escoamento da produção e cessão de áreas públicas para a construção de empreendimentos industriais (SANTOS, 2005). Observa-se, contudo, que a construção do espaço geográfico possui múltiplas origens, sendo, portanto, poligênico. A urbanização corporativa se depara com as reflexões elaboradas por Marx e Engels no Manifesto Comunista e, posteriormente, analisadas por diversos pensadores, dentre eles Marshall Berman (1986). A manutenção da sociedade capitalista necessita transformar o espaço constantemente, ainda que neste processo voraz ocorra a destruição das relações humanas e de suas próprias estruturas. Assim, Marx já observava, em 1848, que: A burguesia submeteu o campo à cidade. Criou cidades enormes, aumentou tremendamente a população urbana em relação à rural, arrancando assim contingentes consideráveis da população do embrutecimento da vida rural. Assim como subordinou o campo à cidade, subordinou os países bárbaros e semi-bárbaros aos civilizados, as nações de camponeses às nações de burgueses, o Oriente ao Ocidente (MARX; ENGELS, 1987, p. 107). Como observa Marshall Berman (1986, p. 104-107), nota-se aí o desenvolvimento e consolidação de um mercado mundial, que, na medida em que vai se expandindo, vai absorvendo e consumindo violentamente todos os mercados locais e regionais dos quais se aproxima. O ativismo da burguesia é, ao mesmo tempo, construtor e destruidor, criando inúmeras possibilidades para o desenvolvimento humano. Contudo somente o que realmente lhe interessa é fazer mais e mais dinheiro, aplicando todos os seus esforços nesta direção: o lucro. O espaço geográfico torna-se assim um meio que facilita a expansão desta riqueza; por esta razão, sua destruição ou manutenção atendem a uma lógica que se orienta pelo acúmulo de capital. Diante destas questões, Marx aponta para o fato de que a burguesia possui uma existência revolucionária, sendo forçada à renovação permanentemente dos meios de 8 produção, o que implica e se estende até as relações sociais e ao espaço geográfico. Neste aspecto é possível constatar que o próprio espaço geográfico experimenta constantemente as transformações que atingem as relações capitalistas, que dissolvem os sólidos e liquefaz relações, espaços e economias (BERMAN, 1986, p. 108) Observando esta dinâmica, Marx e Engels (1987, p. 107) afirmam que “A burguesia só pode existir com a condição de revolucionar incessantemente os instrumentos de produção e, por conseguinte, as relações de produção, quer dizer, o conjunto das relações sociais”. Compreende-se que as transformações do espaço geográfico decorrem destas condições de permanente “revolucionar” do capitalismo, sendo certo o atendimento dos interesses coorporativos e da própria expansão do capital, mesmo que para isso se processe a destruição dos “sólidos” e de todas as possibilidades humana criadas por ele, estimulando um tipo de desenvolvimento orientado para atender aos seus interesses (BERMANN, 1986, p. 109-110). Sobre este aspecto, Marx e Engels (1987, p. 105-106) continuam afirmando que A revolução contínua da produção, o abalo constante de todas as condições sociais, a eterna agitação e incerteza distinguem a época burguesa de todas as precedentes. Suprimem-se todas as relações fixas, cristalizadas, com seu cortejo de tradicionais e veneradas concepções e idéias; todas as novas relações tornam-se antiquadas, antes mesmo de se consolidarem. Tudo o que era sólido e estável evapora-se no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e por fim os homens são obrigados a encarar com serenidade suas verdadeiras condições de vida e suas relações com os demais homens. Tudo é transformado em mercadoria, seres humanos e natureza são manipulados e explorados para atender aos interesses privados ao ponto de levar à saturação e exaustão dos espaços, provocando, por exemplo, as macrocefalias urbanas. Nota-se que o crescimento das macrocefalias urbanas tem chegado a níveis insustentáveis do ponto de vista humano e ambiental. Relatórios das Nações Unidas (ONU) apontam que até 2025 a Ásia terá mais de 10 hipercidades, ou seja, conurbações7 com mais de 20 milhões de habitantes, sendo previsto para Mumbai (Bombaim) uma população de 33 milhões de habitantes, “[...] embora ninguém saiba se concentrações de pobreza tão gigantescas são sustentáveis em termos biológicos e ecológicos” (DAVIS, 2006, p. 16). 7 A conurbação decorre da fusão de dois ou mais aglomerados urbanos (cidades), formando uma extensa área urbana. A região metropolitana de São Paulo é um exemplo de conurbação. 9 Uma estabilidade sólida e permanente e um crescimento voltado para o ser humano não condizem com a natureza do capitalismo, o que o transforma no principal modelador do espaço geográfico e das relações sociais, transformando-o em sua própria imagem e semelhança: desigual, excludente e em permanente crise. Observa-se, por exemplo, que a África negra terá em 2015 cerca de 332 milhões de pessoas morando em favelas, dobrando a cada 15 anos e que a região subsaariana da África somente atingirá a universalização do ensino fundamental em 2130, a redução dos níveis de miséria em 50% somente por volta do ano 2150 e a erradicação da mortalidade infantil, possível de ser evitada, em 2165 (DAVIS, 2006, p. 28). Castells e a “cultura urbana” Ao abordar o conceito de urbanização, Manuel Castells faz referência a dois sentidos diferentes do termo urbanização: o primeiro faz referência à concentração espacial de uma população em relação aos limites espaciais e de densidade (forma espacial, como no mapa anterior) e o segundo faz referência à “[...] difusão do sistema de valores, atitudes e comportamentos denominado ‘cultura urbana’” (CASTELLS, 2000, p. 39) (conteúdo cultural), esta segunda também denominada tendência culturalista da análise da urbanização; ou seja, a cidade não se resume aos seus aspectos físicos, mas também é marcada por um estilo de vida muito particular, a vida urbana, tornando este modelo um modo de vida que ultrapassa os limites físicos da própria cidade (SANT'ANNA, 2002). A partir das considerações de Castells, observa-se que urbanização e industrialização são dois processos que caminham conjuntamente gerando uma forma própria de organização espacial. Entretanto, Castells (2000, p. 40) menciona que a relação entre o que se denomina forma espacial e conteúdo cultural não pode se constituir num elemento de definição da urbanização. Para fundamentar a necessidade de uma análise histórica, Castells propõe a observação das relações estabelecidas historicamente entre espaço e sociedade, o que em sua visão permite a base dos estudos sobre a urbanização. Desta maneira, ele procede à investigação sobre as primeiras aglomerações sedentárias na Mesopotâmia, Egito, China e Índia na Antiguidade; as cidades imperiais, particularmente Roma, onde ele observa que as cidades eram locais de gestão e domínio administrativo, e não de produção; já a 10 cidade da Idade Média, vai se caracterizar pela luta da burguesia comercial em se libertar do feudalismo, o que dá origem a uma organização espacial própria (CASTELLS, 2000, p. 41-44). Castells também analisa a urbanização ligada à primeira fase da revolução industrial, que por sua vez está inserida totalmente no sistema de produção capitalista. A organização do espaço a partir deste momento se alicerça sobre duas características fundamentais: 1. A decomposição prévia das estruturas sociais agrárias e a emigração da população para os centros urbanos [...], fornecendo a força de trabalho essencial à industrialização. 2. A passagem de uma economia doméstica para uma economia de manufatura, e depois para uma economia de fábrica [...], concentração de mão-de-obra, criação de um mercado e constituição de um meio industrial (CASTELLS,2000, p. 45). O capitalismo provoca e modela os espaços urbanos, organiza e domina a paisagem urbana, constituindo novos elementos nas relações humanas. Castells (2000, p. 46) aponta que os problemas atuais do espaço urbano giram em torno de quatro dados fundamentais, que são: 1. O acelerado ritmo de crescimento urbano (que irá afetar diretamente as paisagens); 2. O fato deste crescimento ocorrer especialmente nas regiões denominadas subdesenvolvidas, provocando as macrocefalias e o surgimento das hipercidades; 3. O surgimento de novas organizações urbanas, as grandes metrópoles; 4. A relação do fenômeno urbano com novas formas de articulação oriundas do modo de produção capitalista. Desta forma, Castells (2000, p. 46) termina por conceituar urbanização como [...] a constituição de formas espaciais específicas das sociedades humanas, caracterizadas pela concentração significativa das atividades e das populações num espaço restrito, bem como à existência e a difusão de um sistema cultural específico, a cultura urbana. A cidade deixa de ser tão somente uma aglomeração de pessoas, numa complexa relação econômica, e passa a ser caracterizada também pelo surgimento de uma cultura urbana, dentro de um sistema cultural específico. Urbanização, portanto, significa concentração de atividades e a criação de uma cultura específica nesta sociedade, 11 denominada cultura urbana. Refere-se, portanto, ao processo de concentração populacional num espaço determinado, em que se constituem aglomerações internamente interdependentes e hierarquizadas, denominada rede urbana (CASTELLS, 2000, p. 47). Assim, Castells (2000, p. 127) afirma que, Quando falamos de “sociedade urbana”, não se trata nunca da simples constatação de uma forma espacial. A “sociedade urbana”, no sentido antropológico do termo, quer dizer um certo sistema de valores, normas e relações sociais possuindo uma especificidade histórica e uma lógica própria de organização e de transformação. A sociedade urbana possui um sistema de valores, normas e relações sociais muito próprias, onde as formas associativas se opõem às formas comunitárias. A segmentação dos papéis e os rompimentos dos laços de solidariedade marcam as relações nas sociedades urbanas. Novamente observamos os sólidos se desmanchando frente às imposições de expansão permanente do capital, voraz destruidor de tudo o que toca. Observa-se que este processo vem se aprofundando na medida em que avança a globalização neoliberal. Globalização neoliberal A globalização é um aprofundamento e desdobramento de um longo processo histórico de exploração e expropriação do trabalho e da riqueza da humanidade, que, ao longo dos últimos séculos, experimenta a ampliação e o aperfeiçoamento das formas de circulação de mercadorias. Não só na circulação, mas essencialmente o modo de produzir bens e capitais, até chegarmos na fase atual denominada globalização neoliberal ou mundialização, conforme François Chesnais (veremos no próximo item). A globalização é a maximização de um complexo sistema de dominação e apropriação das riquezas dos povos; é o desmanchar dos sólidos, num mundo em que não existe um centro definidor e controlador que seja visível ou a previsibilidade das ações econômicas e políticas sejam possíveis, assim como observa Bauman (2003a, p. 66- 67): “[...] globalização [...] refere-se primordialmente aos efeitos globais, notoriamente não pretendidos e imprevistos, e não às iniciativas e empreendimentos globais”, ou seja, não existe um projeto global voltado para o humano, já que a dinâmica imposta pelo capital visa atender tão somente seus interesses. 12 Na avaliação do sociólogo István Mészáros, na presente fase do capitalismo, dois aspectos possuem importância fundamental: o primeiro é a tendência de integração global do capital, que não pode ser assegurada no plano político devido à multiplicidade de Estados Nacionais8 quase sempre com interesses antagônicos; o segundo aspecto é que, não obstante todas as tentativas de dominação (inclusive pela força), “[...] o capital foi incapaz de produzir o estado do sistema do capital como tal” (MÉSZÁROS, 2004, p. 12). Assim, Dada a atual situação do desenvolvimento, com seus grandes problemas intrínsecos que reclamam uma solução duradoura, somente uma resposta universalmente válida pode funcionar. Mas, não obstante sua globalização imposta, o sistema irreversivelmente perverso do capital é estruturalmente incompatível com a universalidade, em cada sentido do termo (MÉSZÁROS, 2004, p. 16). As crises causadas pela globalização neoliberal pedem respostas globais, por se tratarem de questões que atingem a todos os grupos humanos em diversas dimensões e áreas (políticas, sociais, econômicas e culturais). Entretanto, as regras impostas por seus agentes tornam a aplicação de soluções globais algo complexo dentro do sistema, isto porque o capitalismo se articula numa rede de contradições e paradoxos, exigindo ao mesmo tempo a ampliação dos mercados e o monopólio, a fiança e o protecionismo do Estado e o livre mercado, etc. Nesta direção, argumenta Jacob Gorender (1995) quando afirma que: O Estado é o fiador dos direitos do capital, ao mesmo tempo incumbindo-se da legitimação política da organização social. Sem o poder legitimador e coercitivo do Estado, não haveria sequer como explicar a própria existência do capital financeiro. Do ponto de vista estritamente econômico, o Estado conserva sua força, mesmo após as mudanças liberais dos últimos tempos. István Mészáros (2004, p. 33) argumenta ainda que mesmo diante da tendência globalizante e liberal, o Estado Nacional permanece como avalista último dos grandes conglomerados, e não somente isto, mas a serviço do capital moldando o espaço para lhe facilitar a acumulação de capitais; não é, portanto, a supressão do Estado que se deseja, mas seu controle. 8 “Justamente na fase atual de concorrência acirrada, as empresas multinacionais recorrem ao poder do Estado nacional, em cuja jurisdição se situam suas matrizes, visando a enfrentar os concorrentes e a influir nas decisões dos Estados nacionais, em cujas jurisdições operam suas subsidiárias”. (GORENDER, 1995). 13 François Chesnais e a mundialização Para o economista francês François Chesnais (2005, p. 18), a mundialização corresponde aos encadeamentos entre uma diversidade de fatores, tais como, “[...] punções da finança sobre o investimento público e privado, redução do Estado, mobilidade internacional do capital – cujos efeitos cumulativos representam um terrível obstáculo para o crescimento e portanto, do emprego”. Desta forma, Chesnais conceitua mundialização como um fluxo intenso de capitais em busca de melhores mercados. Em sua reflexão, Chesnais afirma que a estrutura econômica internacional atual, baseada na dominação do capital, resulta da articulação de dois processos: o primeiro é o ressurgimento e a consolidação de uma forma específica de acumulação de capital, onde uma parcela cada vez maior de pessoas “conserva a forma dinheiro e pretende se valorizar pela via de aplicações financeiras nos mercados especializados”; o segundo processo ocorre a partir de Ronald Reagan (EUA) e Margaret Thatcher (Inglaterra), com a imposição de políticas de liberalização, desregulamentação, privatização e flexibilização. A precarização e a flexibilização das leis trabalhistas, por exemplo, tornaram-se marcas da globalização neoliberal. Bauman descreve este ambiente da seguinte forma: Modernizar a maneira como a empresa é dirigida consiste em tornar o trabalho “flexível” – desfazer-se da mão-de-obra e abandonar linhas de produção de uma hora para outra, sempre que uma relva mais verde se divise em outra parte, sempre que possibilidades comerciais mais lucrativas, ou mão-de-obra maissubmissa e menos dispendiosa, acenem ao longe. [...] o próprio capital já se tornou encarnação da flexibilidade (BAUMAN, 2003b, p. 50). A mundialização capitalista – neoliberal – entrou em uma nova fase, no final do século XX, em que os grandes conglomerados, bancos e fundos de investimentos, em especial dos países centrais, foram quase que exclusivamente os únicos beneficiários. Argumentando nesta mesma direção, Chesnais (2005, p. 21) afirma que A consolidação da mundialização como um regime institucional internacional do capital concentrado conduziu a um novo salto na polarização da riqueza. Ela acentuou a evolução dos sistemas políticos rumo à dominação das oligarquias obcecadas pelo enriquecimento e voltadas completamente para a reprodução da sua dominação. Os interesses destas oligarquias é que ditam as decisões planetárias, afetam as vidas de bilhões de pessoas e aceleram crises políticas, sociais e ecológicas, ou seja, ameaçam diretamente a reprodução da vida das populações e das camadas sociais mais pobres e 14 vulneráveis. Desta forma, fica bastante evidente que as questões locais não podem ser debatidas como temas restritos ao lugar9, mas são antes problemas de ordem global, exigindo, portanto, reflexões de cunho global, a partir da análise da macroestrutura. A destruição ou transformação dos lugares, como praças, marcos históricos, etc, obedecem a uma lógica que está para além do próprio lugar. Diante desta questão, encontramos diversos problemas. Em todos os países em que as oligarquias jamais perderam espaço, como é o caso do Brasil, e dos demais países da América Latina, a implantação das políticas neoliberais reforçou seus direitos de propriedade e aprimorou os mecanismos de acumulação de capital com as flexibilizações e desregulamentações dos direitos trabalhistas, possibilitando ainda ganhos nos mercados especulativos. Há de se ressaltar que o avanço das políticas e dos mecanismos de acumulação, proposto pelo neoliberalismo, é hoje forte gerador de tensões sociais, políticas e ambientais que eclodem sistematicamente no interior das sociedades submetidas ao projeto neoliberal, conforme a análise feita por Chesnais. Os países nos quais a formação de oligarquias “modernas” poderosas avançou junto com fortes processos endógenos de acumulação financeirizada e a valorização de “vantagens comparativas” conforme as necessidades das economias centrais, [...] são hoje integradas ao funcionamento do regime internacional da mundialização (CHESNAIS, 2005, p. 22). Conforme a análise proposta por David Harvey, existem três características básicas, bastante contraditórias no que se convencionou denominar globalização (neoliberal), e que levam o capitalismo a crises periódicas. São elas: a) a necessidade do crescimento incondicional, onde se faz necessária a manutenção da expansão constante, tornando as crises como resultado da falta de crescimento; b) o fato de se basear na exploração do trabalho e do seu contínuo controle, gerando o permanente conflito entre capital e 9 Para Milton Santos, é por meio do estudo do lugar que se pode compreender o mundo. O conceito de lugar pode ser compreendido como produto da experiência humana, tratando-se assim de uma construção subjetiva, ou ainda o resultado de um processo histórico muito singular (LEITE, 1998, p. 1- 15). Ainda para Adriana Leite: “Os lugares normalmente não são dotados de limites reconhecíveis no mundo concreto. Isto ocorre porque sendo uma construção subjetiva e ao mesmo tempo tão incorporada às práticas do cotidiano que as próprias pessoas envolvidas com o lugar não o percebem como tal” (LEITE, 1998, p. 11). “O lugar é, pois, o resultado de ações multilaterais que se realizam em tempos desiguais sobre cada um dos pontos da superfície terrestre. [...] O lugar assegura assim a unidade do contínuo e do descontínuo”; assim, para compreender o lugar é necessário analisar os processos históricos locais e extralocais (SANTOS, 2004b, p. 258). 15 trabalho e; c) o fato do “crescimento” ser uma necessidade vital do capitalismo, tornando as transformações dos espaços, das técnicas e da administração fundamentais na busca pelo lucro (HARVEY, 2004, p. 166-169). Ainda de acordo com Harvey, seria impossível se obter um desenvolvimento livre e equilibrado do sistema capitalista a partir da combinação destas três condições básicas. Desta forma, as crises sistêmicas são inevitáveis e geralmente se apresentam como crises de superprodução, excesso de capital, desemprego, e excesso de mercadorias em estoque. Diante destas questões é necessário refletir sobre a relação entre o local e o global, com o objetivo de elaborar análises e ações que efetivamente contribuam para resistir ao caráter perverso da globalização neoliberal. Necessidade de uma reflexão global “Pense globalmente, aja localmente”. Certamente este é um slogan muito tentador e falacioso, que carrega consigo parte do pensamento dos ideólogos da globalização neoliberal em curso. As pessoas que estão alheias aos processos de decisão global, talvez considerem como única possibilidade a intervenção tão somente em nível local. Não se pode ignorar a importância das ações locais, ou contextuais de forma adequada. Entretanto, a frase nos chama a atenção para um “pensar” global que é isento de crítica e reflexão, e que se conforma com a inevitabilidade da imposição da exploração imposta pelo mercado global, que segue fazendo suas vítimas (MÉSZÁROS, 2004, p. 48). Diante desta questão, Mészáros (2004, p. 48) adverte afirmando que, [...] uma vez que se divorcia o “global” de sua inserção nos múltiplos ambientes nacionais, desviando a atenção das relações contraditórias que entrelaçam os Estados, também o “Local”, dentro do qual se espera agir, torna-se absolutamente míope e em última análise sem significado. Não há dúvida de que as ações todas são exercidas no local, num determinado contexto, e que necessitam de análises também contextuais; entretanto tais análises necessitam dar o salto de uma consciência comum para uma consciência reflexiva, ou seja, para o exercício da práxis, que supere a miopia da análise local, considerando a relevância das questões globais, que em última instância é onde as forças econômicas agem e as decisões são efetivamente tomadas afetando a vida de todas as pessoas. 16 Acerca desta questão, Bauman (2003a, p. 66) assegura que não existe na atualidade uma localidade com o que ele chama de “arrogância” suficiente para falar em nome da humanidade e conter o descontrole absoluto imposto pela velocidade com que o capital especulativo avança sobre todas as economias. Do agir e pensar global, que se tornam vitais diante da globalização, resulta a identificação de inúmeros problemas de cunho local que possuem sua origem nas esferas de dominação global, a mais séria das atuais tendências de dominação econômica, seja a maneira voraz e perdulária com que os Estados Unidos, por exemplo, tomam para si os recursos de energia e de matérias-primas do mundo, algo em torno de 25% das riquezas naturais para uma população que corresponde a aproximadamente 4% da população mundial (MÉSZÁROS, 2004, p. 53), transformando questões ambientais e sociais em temas globais, econômicos e geopolíticos. “Ser local num mundo globalizado é sinal de privação e degradação social”. Com esta afirmação, Bauman (2003a, p. 8) assegura também que a ilusão da mobilidade é fortemente presente na classe trabalhadora, que é local, enquanto a burguesia (que é global) possui plena mobilidade mas não necessita dela. As comunidades locais não possuem voz nas decisões tomadas pelo capital; assim, um pensar global e uma ação local, quando destituídos de reflexão e de uma práxis transformadora, somente contribuem para os interesses do capital e seus investidoresglobais, contribuíndo para a perpetuação dos mecanismos de exploração e acumulação de riqueza nas mãos do grande capital. A pergunta inevitável é se existe alternativa para o capitalismo global e, se existe, como ela deve ser trabalhada. A resposta a estes questionamentos é que não há um plano cuja aplicação consiga resolver todos os problemas globais, e que as respostas devem ser dadas pelos povos atingidos em seus diversos lugares, cabendo à geografia, em consonância com as ciências sociais e os movimentos sociais, participar da busca e proposição para a superação destas realidades. Considerações finais Cada vez que as condições gerais de realização da vida sobre a terra se modificam, ou a interpretação dos fatos particulares concernenstes à existência do homem e das coisas conhece evolução importante, todas as disciplinas científicas ficam obrigadas a 17 realinhar-se para poder exprimir, em termos de presente e não mais de passado, aquela parcela de realidade total que lhes cabe explicar (SANTOS, 2004b, p. 18). A reflexão geográfica deve estar intimamente atrelada à realidade empírica; ao contrário, ela corre o risco de se tornar sem sentido e obsoleta, ultrapassada pelo próprio objeto de seu estudo: as transformações ocorridas no espaço. Assim, colocar as bases de um espaço de fato humano, que possibilite a unidade entre os seres humanos por meio de seu trabalho, sem separá-los entre explorados e exploradores, deve ser a busca da geografia e do conjunto das ciências sociais (SANTOS, 2004b, p. 267). Compreende-se que o espaço é uma instância social e historicamente em construção, portanto para além de seus aspectos físicos e quantitativos. Deve-se considerar ainda que o capitalismo tem sido seu mais importante modelador, como foi observado, transformando-o periodicamente a fim de obter dele maiores vantagens; ou seja, a estabilidade sólida e permanente e um desenvolvimento que efetivamente considere o ser humano não condiz com a natureza do capitalismo, que cria e recria os espaços de acordo com sua própria natureza: voraz e violento. Referências BAUMAN, Zigmunt. Globalização: as conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003a. ______. O mal estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 2003b. BERMAN, Marshall. Tudo o que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. CASTELLS, Manuel. A questão urbana. São Paulo: Paz e Terra, 2000. CASTRO, Ina Elias de. A região como problema para Milton Santos. 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