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REALE, Giovani; ANTISERI, Dario. Sócrates e a fundação da filosofia moral ocidental. Platão: a concepção de homem. Aristóteles: as ciências práticas: a ética e a política. História da filosofia: filosofia pagã antiga, v. 1. Tradução de Ivo Storniolo. São Paulo, Paulus, 2003, p. 91-104, 152-157, 217-224. Aula 2: a ética grega A ÉTICA GREGA SÓCRATES E A FUNDAÇÃO DA FILOSOFIA MORAL OCIDENTAL A ÉTICA GREGA A vida de Sócrates e a questão socrática ( o problema das fontes) Sócrates nasceu em Atenas em 470/469 a.C. e morreu em 399 a.C. após condenação por “impiedade”. Nada escreveu. Seus discípulos fixaram por escrito uma série de doutrinas a ele atribuídas. Fontes: Aristófanes, Xenofonte e Platão. Uma verdadeira revolução espiritual. A ÉTICA GREGA A descoberta da essência do homem (o homem é a sua psyché) Em oposição aos filósofos naturalistas, Sócrates fixou seu interesse na problemática do homem. “O que é a essência do homem”: o homem é a sua alma. “Alma” seria a sede de nossa atividade pensante e eticamente operante. Para Sócrates, a alma é o eu consciente, ou seja, a consciência e a personalidade intelectual e moral. Com essa descoberta, Sócrates criou a tradição moral e intelectual sobre a qual a Europa se constituiu. A ÉTICA GREGA A descoberta da essência do homem (o homem é a sua psyché) Logo, é mais importante cuidar da alma que cuidar do corpo. “Que esta (...) é a ordem de Deus; e estou persuadido de que não há para vós maior bem na cidade do que esta minha obediência a Deus. Na verdade, não é outra coisa o que faço nestas minhas andanças a não ser persuadir a vós, jovens e velhos, de que não deveis cuidar do corpo, nem das riquezas, nem de qualquer outra coisa antes e mais do que da alma, de modo que ela se torna ótima e virtuosíssima; e de que não é das riquezas que nasce a virtude, mas da virtude nascem a riqueza e todas as outras coisas que são bens para os homens” (Apologia de Sócrates) A ÉTICA GREGA A descoberta da essência do homem (o homem é a sua psyché) “A alma nos ordena a conhecer aquele que nos adverte: conhece-te a ti mesmo” A ÉTICA GREGA O novo significado de “virtude” e o novo quadro dos valores Areté: Virtude para os gregos. Aquilo que se torna uma coisa boa e perfeita naquilo que é; atividade ou modo de ser que aperfeiçoa a cada coisa, fazendo-a ser aquilo que deve ser. Para Sócrates, a virtude do homem é a “ciência” ou o “conhecimento”, ao passo que o “vício” seria a privação de ciência ou conhecimento, a “ignorância”. Uma revolução no tradicional quadro de valores: os verdadeiros valores não são os ligados às coisas exteriores, como a riqueza, o poder, a fama, e tampouco, os ligados ao corpo, como a vida, a saúde física e a beleza, mas somente os valores da alma, que se resumem, todos, no “conhecimento”. A ÉTICA GREGA Os paradoxos da ética socrática. O chamado intelectualismo socrático: A virtude (cada uma e todas as virtudes: sabedoria, justiça, fortaleza, temperança), e o vício (cada um e todos os vícios) é ignorância. Ninguém peca voluntariamente; quem faz o mal, fá-lo por ignorância do bem. Sócrates tenta submeter a vida humana e os seus valores ao domínio da razão. As virtudes revelam-se como uma forma de conhecimento e ciência. Os filósofos gregos não detiveram sua atenção na “vontade”, que se tornaria central e essencial na ética dos cristãos. A ÉTICA GREGA A descoberta socrática do conceito de liberdade A mais significativa manifestação da excelência da psyché ou razão humana se dá naquilo que Sócrates denominou de “autodomínio”, ou seja, no domínio de si mesmo nos estados de prazer, dor e cansaço, no urgir das paixões e dos impulsos: “Considerando o autodomínio como a base da virtude, cada homem deveria procurar tê-lo” O domínio da própria racionalidade sobre a própria animalidade, significa tornar a alma senhora do corpo e dos instintos ligados ao corpo. O verdadeiro homem livre é aquele que sabe dominar seus instintos, o verdadeiro homem escravo é aquele que, não sabendo dominar seus instintos, torna-se escravo deles. O verdadeiro herói é o que vence os inimigos interiores. A ÉTICA GREGA O novo conceito de felicidade Em grego, “felicidade” se diz eudaimonía, que, originalmente, significava ter tido a sorte de possuir um demônio guardião bom e favorável, que garantia boa sorte e vida próspera e agradável. Heráclito: “o caráter moral é o verdadeiro demônio do homem” e que “a felicidade é bem diferente dos prazeres”. Demócrito: “não se tem a felicidade nos bens exteriores” e que “ a alma é a morada de nossa sorte”. A felicidade não pode vir das coisas exteriores, do corpo, mas somente da alma, porque esta e só esta é a sua essência. E a alma é feliz quando é ordenada, ou seja, quando é virtuosa. A ÉTICA GREGA O novo conceito de felicidade “Para mim, quem é virtuoso, seja homem ou mulher, é feliz, ao passo que o injusto é malvado e infeliz”. O homem virtuoso entendido nesse sentido “não pode sofrer nenhum mal, nem na vida, nem na morte”. Vale a pena ser virtuoso, porque a própria virtude é um fim em si mesma. O homem é o verdadeiro artífice de sua própria felicidade ou infelicidade. A ÉTICA GREGA A revolução da não-violência Sua reação à condenação no tribunal de Atenas. “Não se deve desertar, nem retirar-se, nem abandonar o posto, mas sim, na guerra, no tribunal e em qualquer lugar, é preciso fazer aquilo que a pátria e a cidade ordenam, ou então persuadi-las em que consiste a justiça, ao passo que fazer uso da violência é coisa ímpia.” A ÉTICA GREGA O método dialético de Sócrates e sua finalidade Dialogar com Sócrates levava a um “exame da alma” e a uma prestação de contas da própria vida, ou seja, a um “exame moral”. Estrutura do método socrático: A “refutação” O momento em que Sócrates levava o interlocutor a reconhecer a sua própria ignorância. “A refutação é a maior, a fundamental purificação” A “maiêutica” A arte obstétrica espiritual que ajuda a verdade a vir à luz A ÉTICA GREGA O “não-saber” socrático Uma afirmação de ruptura: Em relação ao saber nos naturalistas; Em relação ao saber dos sofistas, presunçoso; Em relação ao saber dos políticos e dos artistas, inconsistente e acrítico. Contraste com a sabedoria divina A ÉTICA GREGA A ironia socrática É o jogo brincalhão, múltiplo e variado das funções e dos estratagemas utilizados por Sócrates para levar o interlocutor a dar conta de si mesmo. É uma brincadeira metódica. A ÉTICA GREGA PLATÃO: A CONCEPÇÃO DO HOMEM A ÉTICA GREGA Concepção dualista do homem A distinção entre alma e corpo como oposição. O corpo como prisão da alma, como raiz de todos os males. A ÉTICA GREGA Os paradoxos da “fuga do corpo” e da “fuga do mundo” e seu significado O verdadeiro filósofo deseja a morte e a verdadeira filosofia é o exercício da morte ( Fédon) A morte do corpo é a abertura para a verdadeira vida da alma. Fugir do mundo significa tornar-se virtuoso e assemelhar-se a Deus. Praticar a virtude e dedicar-se ao conhecimento significa tornar-se semelhante a Deus. A ÉTICA GREGA A purificação da alma como conhecimento e a dialética como conversão. Sócrates identificava a “cura da alma” como a suprema missão moral do homem. Para Platão, esta cura consiste numa “purificação”, que se realiza a medida que a alma, ultrapassando os sentidos, conquista o mundo do inteligível e do espiritual. Para Platão, o processo de conhecimento racional também implica um processo de “conversão moral”. A ÉTICA GREGA A imortalidade da alma A influência da religião órfica A alma constitui a dimensão incorruptível do homem. O homem como um ser de duas dimensões. A ÉTICA GREGA ARISTÓTELES: AS CIENCIAS PRÁTICAS: A ÉTICA E A POLÍTICA A ÉTICA GREGA O fim supremo do homem, ou seja, a felicidade O estudo da conduta ou fim do homem como indivíduo é a “ética”; o estudo da conduta e do fim do homem como parte da sociedade é a “política”; O bem supremo realizável pelo homem (e, portanto, a felicidade) consiste em aperfeiçoar-se enquanto homem, ouseja, naquela atividade que diferencia o homem de todas as outras coisas: o uso da razão. A ÉTICA GREGA As virtudes éticas como “meio justo” ou “meio termo entre os extremos” As virtudes são como “hábitos”, “estados” ou “modos de ser” A razão deve moderar os impulsos, as paixões e os sentimentos porque eles tendem ou para o excesso ou para a falta. A razão deve impor a “justa medida”, que é o “caminho intermediário” ou “meio termo” entre dois excessos. Ex.: A coragem é o caminho intermediário entre a temeridade e a timidez, e a liberalidade é o justo meio termo entre a prodigalidade e a avareza. O “meio termo” é a vitória da razão sobre os instintos. A justiça é a mais elevada de todas as virtudes. A ÉTICA GREGA As virtudes dianéticas e a felicidade perfeita. A perfeição da alma racional como tal é chamada por Aristóteles de virtude dianética. São duas as virtudes dianéticas: A sabedoria (phronésis): dirigir bem a vida do homem, ou seja, em deliberar de modo correto acerca daquilo que é bem ou mal para o homem. A sapiência (sophía) é o conhecimento daquelas realidades que estão acima do homem: a metafísica. É no exercício da sapiência, que constitui a perfeição da atividade contemplativa, que o homem alcança a felicidade máxima, em comunhão com o divino, que é a Mente Suprema, Pensamento de pensamento. A ÉTICA GREGA Alusões sobre a psicologia do ato moral Superava o intelectualismo socrático, percebendo que uma coisa é “conhecer o bem” e outra é “fazer e realizar o bem”. Procurou determinar os processos psíquicos do ato moral. Chamou a atenção para o ato da “escolha”, da “deliberação”. Somente o homem virtuoso pode escolher o verdadeiro bem.
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