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DEFICIÊNCIA INTELECTUAL − Antigamente, se dizia deficiência mental e retardo mental e hoje em dia se fala deficiência intelectual. − O diagnóstico precoce de DI é essencial para instituir terapêutica em tempo oportuno e a identificação da etiologia pode ser muito útil nesse sentido, permitindo: • Tratar ou manejar a causa; • Prever o prognóstico e prevenir complicações; • Melhorar a evolução; • Possibilitar o aconselhamento genético para o paciente e a família; • Resguardar o acesso do paciente aos serviços complementares • Evitar exames desnecessários e tratamentos inapropriados CONCEITO DE DEFICIENCIA INTELECTUAL − 2 critérios precisam estar presentes para configurar o diagnóstico de DI: • Deficit na função intelectual: como raciocínio, resolução de problemas, planejamento, pensamento abstrato, julgamento, aprendizagem acadêmica e pela experiência • Deficit na função adaptativa: que resultam na falha em atender aos padrões de desenvolvimento e socioculturais no que se refere à independência e responsabilidade social. Sem suporte, esses déficits limitam atividades cotidianas como comunicação, participação social e vida independente; ✓ O funcionamento adaptativo abrange 3 tipos de competências: ❖ Habilidades de linguagem e alfabetização, conceitos de dinheiro, tempo e número e auto direção ❖ Habilidades interpessoais, habilidades sociais, responsabilidade social, autoestima, credulidade, ingenuidade (ou seja, desconfiança), resolução de problemas, capacidade de seguir regras e leis ❖ Habilidades práticas de atividades diárias (cuidados pessoais), qualificação profissional, saúde, transporte/viagem, horários, rotina, segurança, uso de dinheiro, uso de telefone − E 2 esses déficits precisam acontecer no período do desenvolvimento − O desenvolvimento cerebral começa desde intraútero, até aproximadamente 18 anos • Para a pessoa ter deficiência intelectual, os déficits de funções adaptativas e cognitivas e intelectuais precisa acontecer nesse período • Se ocorrer após, como por exemplo, após um AVC ou acidente que deixa sequelas, não é considerado deficiência intelectual − INCIDÊNCIA: 1-3% da população geral no brasil tem algum grau de deficiência intelectual ETIOLOGIA − Os grupos causais são divididos em: • Pré-natal intrínseco: causas genéticas, malformações, causas metabólicas • Pré-natal extrínseco: teratógenos e infecções • Perinatal (compreende o período a partir de 22 semanas completas de gestação até sete dias após nascimento): asfixia, prematuridade, complicações neonatais • Pós-natal: toxinas, trauma, infecções, negligência/ambiente psicossocial CAUSAS AMBIENTAIS − É uma divisão para facilitar a didática, embora se saiba que o ambiente influencia na expressão genética − É importante lembrar do desenvolvimento embriofetal e a exposição a teratógenos • O primeiro trimestre é o mais relevante para o embrião. Qualquer exposição de teratógenos pode gerar consequências mais graves no embrião • A principal exposição geralmente é o álcool durante a gravidez − Muitas causas ambientais estão relacionadas à precária condição socioeconômica e ao acesso inadequado à assistência pré-natal e perinatal − A falta de imunização e a desnutrição também podem determinar a ocorrência de complicações clínicas, como meningoencefalites, que podem afetar o QI. − Países de baixa renda tem maior prevalência de DI CAUSAS GENÉTICAS DE DI − No que se refere aos fatores genéticos, são conhecidas cerca de 3.700 doenças que cursam com DI − Aberrações cromossômicas são a causa genética mais comum, sendo responsáveis por cerca de 25% de todos os casos, com destaque para trissomia do 21 • Uma das principais síndromes que causa DI é a síndrome de down • Além dela, tem a síndrome de williams, muit prevalente também − Microdeleções e microduplicações (anomalias cromossômicas estruturais menores que 5Mb) também são frequentes e, coletivamente, ocupam a segunda posição entre as cromossomopatias − Doenças monogênicas são responsáveis por cerca de 10 a 15% dos casos − No cromossomo X há muitos genes (+90 genes) de deficiência intelectual sindrômica (DI com outros sinais clínicos de síndromes) − O gene da síndrome do X-frágil é o mais testado, principalmente no SUS e é a causa de apx 5% dos casos de DI − Os erros inatos do metabolismo (EIM) também se situam entre as principais causas genéticas de DI OBSERVAÇÕES − Para diagnosticar DI, deve-se associar os fatores genéticos, ambientais, sociais, de assistência a saúde e o grau de deficiência − A elucidação da etiologia varia de acordo com os estudos e o tipo de investigação, mas se observa que nos casos severos, 80% das vezes uma causa é encontrada, enquanto na deficiência intelectual moderada, só 24% das investigações encontram um fator causal. − Quanto mais grave a deficiência, maior a importância do componente genético CLASSIFICAÇÃO DA GRAVIDADE DA DI − Clinicamente é dividida em 4 níveis: leve, moderada, grave e profunda − Essa classificação é baseada no QI e no funcionamento adaptativo − A DI não é progressiva, porém, em algumas condições genéticas específicas, há períodos de piora seguidos de estabilização e, em outras, ocorre piora progressiva da função intelectual (crises de descompensação metabólica e regressão neuropsicomotora, em pacientes com erros inatos de metabolismo, por exemplo). A evolução clínica é influenciada por condições subjacentes e comorbidades − Transtornos psiquiátricos são frequentes em pacientes com DI, com prevalência variando na literatura entre 10 e 40%. Contudo, vale ressaltar que quanto mais grave a DI, mais difícil é avaliar os sintomas psicopatológicos − Outras condições frequentes associadas com a DI são: transtorno do espectro autista, epilepsia e déficits visuais e/ou auditivos DI LEVE − Representa 80% dos casos e é definida pela faixa de QI entre 50-69 e apresenta mentalidade de 7-12 anos − Pacientes não se beneficiam da instrução que recebem para um maior desempenho na vida acadêmica e laboral, tem falhas nos processos de conceituação abstrata e atenção oscilante, mas tem autonomia nas atividades de vida diária (alimentar-se, realizar medidas de higiene pessoal, usar transporte, tomar decisões) − Podem desenvolver aprendizagens sociais e de comunicação e tem capacidade de adaptação e integração no mundo laboral − A DI pode não ser percebida na primeira infância, sendo reconhecida na fase de escolarização e diagnosticada na adolescência • Na maior parte das vezes, foi uma criança que não teve atrasos no DNPM, mas quando chegou na adolescência e teve a necessidade de estudar mais, dificuldade de socializar e conviver com outras pessoas − Tem falhas nos processos de conceituação abstrata e tem atenção oscilante − A DI leve costuma ser multifatorial, estando correlacionada com o estado nutricional e variáveis socioculturais que se somam aos fatores hereditários que interferem no QI DI MODERADA − Refere-se a faixas de QI entre 35-49 e com mentalidade de 2-7 anos − Esses pacientes possuem falhas importantes de atenção, fluxo lento de ideias, pobreza de associações, dificuldade para realizar abstrações e síntese, comportamento variável (dócil X agressivo) − Apresentam também erros perceptíveis, como atraso no DNPM, com atraso em marcos do desenvolvimento − Semidependência nas atividades diárias − Podem aprender a se comunicar pela linguagem verbal, mas apresentam dificuldades de expressão oral e na comunicação dos convencionalismos sociais − tem possibilidade de adquirir conhecimentos tecnológicos básicos que lhe permitam realizar algum trabalho − apesar das dificuldades, com apoio, pode dominar técnicas instrumentais de leitura, escrita e cálculo − Comete erros repetitivos DI SEVERA/GRAVE − DI GRAVE → QI 20-25 e − Tem faixas de QI entre 20-34 e mentalidade de 0-2 anos− Os pacientes tem déficit significativo na comunicação (que pode ser realizada através de palavras simples), atraso acentuado no desenvolvimento psicomotor − Necessitam de rigorosa supervisão para realizar medidas simples de autocuidado − Precisam de proteção ou ajuda, pois seu nível de autonomia pessoal e social é extremamente limitado − Podem aprender algum sistema de comunicação e serem treinados em atividades básicas da vida diária e aprendizagens pré-tecnológicas simples − Tem déficit significativo na comunicação (que pode ser feita através de palavras simples) ou comunicação inteligível − Atraso acentuado no desenvolvimento psicomotor − Alteração acentuada no padrão da marcha (dispraxia) DI PROFUNDA − DI profunda é a mais rara e tem faixas de QI < 20 e mentalidade de 0-2 anos − Tem grave atraso na fala e linguagem (comunicação eventual por meio de fala rudimentar e estereotipada) − Tem atraso psicomotor com grave restrição de mobilidade − O desempenho em funções baiscas encontra-se seriamente comprometido e apresenta comportamento de automutilação − Tem problemas sensórios-motores e de comunicação com o meio, sendo dependende dos outros nas funções e atividades − Terão autonomia para se deslocar e responder a treinos simples de autocudiado se forem ensinados INVESTIGAÇÃO CLÍNICA − Há checklists e algorítimos que foram criados por sociedades que estudam a DI com vista a facilitar o processo de diagnóstico da etiologia − Tudo começa com história clínica, exame físico e exame neurológico − É sempre importante olhar para as manifestações clínicas tentando apontar uma etiologia específica e solicitar testes para esse diagnóstico primeiro − Antes de exames complementares, deve haver um direcionamento clico que passa por uma anamnese, cujo principais pontos são: • Abordos recorrentes • Defeitos ao nascimento • Mortes infantis • Histórico de deficiência intelectual e atraso global do desenvolvimento • Condições neurológicas • Condições genéticas • Etnia • Consanguinidade • Historia psicossocial, com nível educacional e socioeconômico da família, uso de álcool na gestação, drogas, cuidados com a criança e o contexto biopsicossocial da criança • Historia pré-natal, com exames de rotina e condições maternas como diabetes, hipertensçao, infecções e exposição a medicamentos e toxinas • Historia do nascimento, com peso, altura ao nascer, perímetro cefálico, apgnar, tempo de hospitalização, marcos do desenvolvimentos e suas datas − Avaliar o grau de desenvolvimento neuropsicomotor, com grau de desenvolvimento atual e um exame físico detalhado para apontar um possível diagnóstico − Ressonância magnética é recomendada como exame de primeira linha quando há alterações no exame neurológico − Deve ser feito diagnóstico diferencial com outros transtornos específicos do desenvolvimento que podem cursar com baixo rendimento escolar, como transtorno do espectro autista, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e transtornos de aprendizagem específicos, como dislexia e discalculia − A parte mais difícil é reconhecer a etiologia, pois muitas vezes trata-se de um grupo de condições clínicas complexas com fatores etiológicos distintos e simultaneamente envolvidos, o que dificulta inclusive esclarecer quais fatores são primários e secundários no desenvolvimento da doença − Caso não chegue ao diagnóstico ainda assim, é indicado reavaliar a pessoa a cada 6 meses para ver a evolução do quadro − No brasil é difícil ter acesso fácil a tantos exames genéticos, devido a custo e a dificuldade de achar laboratórios que façam esses exames DIAGNÓSTICO − DIAGNÓSTICO APÓS 5 ANOS: Clinicamente, só é possível dar o diagnóstico preciso após 5 anos de idade. • Antes dos 5 anos, não é possível avaliar sistematicamente a função cognitiva e adaptativa. • Antes dos cinco anos, quando se percebe que a criança tem algum tipo de atraso, é chamado de atraso global do desenvolvimento, atraso no DNPM, entre outras nomenclaturas. • Crianças com esses tipos de atrasos requerem reavaliações por longos períodos, para averiguar se o paciente vai evoluir com deficiência intelectual ou não. − Não existe um teste genético que diga se a pessoa terá ou não deficiência intelectual. Mas sim, é um critério clínico que se avalia ao longo do desenvolvimento do indivíduo → deficiência intelectual tem DIAGNÓSTICO CLÍNICO, mas isso não exclui a possibilidade de haver genes mutados • Os testes genéticos auxiliam a determinar uma possível causa, etiologia e o risco de recorrência para realizar aconselhamento genético • O geneticista deve investigar a origem do fenótipo DI, tentando entender a fisiopatogenia e etiologia TRATAMENTO − O tratamento NÃO depende do estabelecimento da etiologia ou da fisiopatogenia − A etiologia pode orientar melhor o TTO, mas não o limita − Necessitam de rigorosa supervisão para realizarem medidas simples de autocuidado CONSIDERAÇÕES FINAIS − Independente do estabelecimento de um diagnóstico causal, é imprescindível salientar que pessoas com DI constituem um grupo heterogêneo, que reúne, em uma mesma condição clínica, indivíduos com doenças distintas e vários problemas de saúde associados • Deve-se ter trabalho em equipe interdisciplinar e intersetorial • Medidas de promoção, prevenção e reabilitação • Considerar diferentes demandas e permitir a construção de um plano terapêutico individualizado de acordo com as necessidades de saúde e educação mapeadas para cada indivíduo ALGUMAS REFERÊNCIAS USADAS − 1. Melo DG, Pilotto RFP, Rodrigues SA, Avó LRS, Germano CMR. Investigação etiológica nas situações de deficiência intelectual ou atraso global do desenvolvimento. Rev Saúde e Des Hum. 2018 Out; 6(3): 73-85. − 2. Bélanger AS, Caron J. Evaluation of the child with global developmental delay and intellectual disability. Paediatr. Child Health. 2018; 23: 403–410.
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