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Fisiologia da Água

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Fisiologia da Água
e dos Eletrólitos 7
A troca de nutrientes e dejetos entre o
sangue e os tecidos é realizada por uma ex-
tensão de capilares, equivalente a aproxi-
madamente 700 metros quadrados. Aque-
las trocas requerem a presença da água,
como o meio nobre em que as células vi-
vem e realizam as suas funções; a perma-
nência da água nos diferentes comparti-
mentos do organismo, depende da presen-
ça de um teor adequado de diversos
eletrólitos.
As alterações da distribuição da água
e dos eletrólitos, são bastante comuns e
podem levar à complicações de extrema
gravidade, ou mesmo determinar a morte
do indivíduo. A circulação extracorpórea
pode produzir distúrbios da composição
hídrica e eletrolítica do organismo, capa-
zes de gerar numerosas complicações. O
reconhecimento das principais funções
desempenhadas pela água e pelos eletrólitos
é fundamental para a prevenção das com-
plicações e suas seqüelas.
 A água corresponde à maior parte do
peso dos indivíduos. Em um neonato, a
água corresponde a cerca de 75 a 80% do
peso. Aos 12 meses de idade o teor de água
do organismo é de 65% e na adolescência
alcança o valor de 60% no sexo masculino
e 55% no feminino, que se mantém na vida
adulta. Essa pequena diferença se deve à
maior quantidade de tecido gorduroso no
organismo feminino. O tecido gorduroso
tem um baixo teor de água em relação aos
músculos e aos órgãos internos.
A água do organismo está distribuida
em dois grandes compartimentos: o intra-
celular e o extracelular. A água do interior
das células (líquido ou compartimento in-
tracelular), corresponde a cerca de 40% do
total do peso do indivíduo, enquanto a água
do líquido extracelular corresponde a 20%.
O compartimento extracelular correspon-
de à água do plasma sanguíneo (4%) e à
água do líquido intersticial (16%), como
demonstra a tabela 7.1.
A água se desloca ativa e continua-
mente entre os diferentes compartimentos
do organismo, regulando a sua composi-
ção, conforme esquematizado na figura
7.1. O fator determinante da movimenta-
Tabela 7.1. Mostra o teor de água dos diversos
compartimentos do organismo e o volume total em cada
compartimento, em um adulto de 70Kg de peso.
140
FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
ção da água entre os diversos comparti-
mentos líquidos é o gradiente osmótico; a
tendência natural da água é determinar o
equilíbrio osmótico. O plasma e o espaço
intersticial trocam água através das mem-
branas capilares; o interstício e o interior
das células, trocam água através das mem-
branas celulares. As proteinas do plasma
são um importante regulador da quantida-
de e da distribuição de água, em virtude da
pressão oncótica exercida pelas suas
macromoléculas.
O volume de um compartimento líqui-
do do organismo, por exemplo, o líquido
intersticial, pode ser medido, pela intro-
dução de substâncias que se dispersam uni-
formemente pelo compartimento. O grau
de diluição da substância, permite calcu-
lar o volume total do compartimento. Den-
tre as substâncias usadas com aquela fina-
lidade, destacam-se a uréia, a antipirina, a
tiouréia e outras marcadas com radioisó-
topos, como o deutério e a albumina.
NECESSIDADES DIÁRIAS DE ÁGUA
A água do organismo provém de duas
fontes principais. A ingestão de líquidos e
a água contida nos alimentos contribuem
com cerca de 2.100 ml/dia para os líquidos
do organismo, enquanto a oxidação dos
carbohidratos libera cerca de 200 ml/dia.
As necessidades de água dos indivídu-
os variam de acordo com as taxas metabó-
licas e com a eliminação hídrica. As crian-
ças de baixo peso necessitam mais água em
relação aos adultos, em virtude do meta-
bolismo mais acelerado que apresentam. De
um modo geral, as necessidades de água
de um indivíduo podem ser estimadas com
base nas calorias metabolizadas, na super-
fície corporal ou em relação ao peso. O or-
ganismo humano necessita, diariamente,
de 1.800ml de água, por cada metro qua-
drado de superfície corporal. As necessi-
dades de água dos diferentes indivíduos es-
tão relacionadas na tabela 7.2, conforme o
peso corporal. Aqueles valores referem-se
à indivíduos sadios, sem disfunção renal,
cardiovascular ou metabólica e, portanto,
sem restrições à ingestão normal de água.
As alterações da água consistem, prin-
cipalmente, de desidratação, quando há
perda excessiva de líquidos do organismo
ou, ao contrário, hiperidratação, quando
Fig. 7.1. Diagrama mostrando o intercâmbio líquido entre
os diferentes compartimentos do organismo. A água
atravessa as membranas capilar e celular para as
diferentes trocas.
Tabela 7.2. Necessidades diárias de água em relação ao
peso. Um indivíduo com peso entre 10 e 20Kg necessita
de 1.000ml + 50ml por cada quilo de peso acima de 10.
Exemplo: um indivíduo com 15Kg de peso, necessita
diariamente de 1000ml + 50 x 5 = 1.250ml.
2.260 mL
141
CAPÍTULO 7 – FISIOLOGIA DA ÀGUA E DOS ELETRÓLITOS
há oferta excessiva de líquidos ao organis-
mo. Na circulação extracorpórea, princi-
palmente em crianças, não é rara a ocor-
rência de hiperidratação, causada pelo ex-
cesso de soluções cristalóides no perfusa-
to. Devemos considerar que durante um
procedimento cirúrgico, a administração de
água e eletrólitos é feita pelo perfusionista
através o perfusato; pelo anestesista, atra-
vés das soluções venosas administradas
durante a operação e pelo cirurgião, atra-
vés da administração das soluções cardio-
plégicas, principalmente a cardioplegia
cristalóide. Sem controle adequado, a soma
dos volumes infundidos pode ultrapassar
em muito, as necessidades diárias dos pa-
cientes que, além de tudo, receberão mais
líquidos no pós-operatório imediato.
A hiperidratação pode também ocor-
rer em pacientes com quantidades de pro-
teinas abaixo do normal. A pressão
oncótica do plasma fica reduzida e permi-
te o extravasamento de líquidos do plasma
para o espaço intersticial, especialmente se
a oferta líquida não for adequadamente
dimensionada.
Quando há perda excessiva ou insufi-
ciente administração de sódio, também
pode ocorrer hiperidratação. A causa é a
redução da pressão osmótica do líquido
extracelular, em relação ao interior das cé-
lulas. A água passa do interstício para o
líquido intracelular, para refazer o equilí-
brio osmótico.
O paciente hiperidratado pode apre-
sentar edema de face ou generalizado,
ascite, derrame pleural, insuficiência
respiratória, astenia, desorientação, de-
lírio e convulsões ou outras manifesta-
ções neurológicas.
A migração da água entre os diferen-
tes compartimentos, depende da concen-
tração dos eletrólitos, para que o equilíbrio
hídrico do organismo seja mantido.
ELETRÓLITOS
Os eletrólitos, quando em uma solução
aquosa, comportam-se como íons. Os íons
são a menor porção de um elemento quí-
mico que conserva as suas propriedades.
Os cátions são os íons que tem carga elé-
trica positiva, como o sódio (Na
+
) e o po-
tássio (K
+
). Os anions são os íons que tem
carga elétrica negativa, como o cloro (Cl
-
)
ou o bicarbonato (HCO
3
-
). O equilibrio
químico de uma solução significa a existên-
cia de igual número de cátions e anions.
Os eletrólitos são quantificados em
miliequivalentes, que correspondem à
milésima parte de um equivalente grama,
ou simplesmente equivalente. O equiva-
lente de uma substância é a menor porção
da substância, capaz de reagir quimicamen-
te e, corresponde ao peso atômico ou ao
peso molecular, dividido pela valência. Em
geral, nos líquidos do organismo, os
eletrólitos são considerados em termos de
miliequivalentes por litro (mEq/l).
COMPOSIÇÃO ELETROLÍTICA
DOS LÍQUIDOS ORGÂNICOS
Os líquidos orgânicos tem uma com-
posição semelhante, sob o ponto de vista
da atividade química e das pressões
osmóticas. A natureza dos íons, contudo,
difere entre os compartimentos intracelu-
lar e extracelular.
O líquido extracelular inclui o liquido
A parada cardíaca induzida por solução cardioplégicapode acontecer por hiperpolarização, despolarização ou com bloqueadores da bomba de cálcio.
Cardioplegia é uma solução que promove a parada dos batimentos cardíacos durante a cirurgia cardiaca. Tal solução tem a função de proteção cardiaca, tendo em vista a mesma ser rica em potassio e oxigênio promovendo assim uma parada cardiaca em diástole.
142
FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
intersticial e o plasma sanguíneo. O liqui-
do extracelular tem grandes quantidades
de sódio e cloreto. O sódio é o cátion pre-
dominante do líquido extracelular, en-
quanto o potássio é o cátion predominan-
te no líquido intracelular. Aproximada-
mente 95% do potássio existente no
organismo está situado no interior das cé-
lulas. A distribuição do magnésio, como o
potássio, também é predominantemente
intracelular.
Os principais eletrólitos celulares são
o potássio, magnésio, fosfato, sulfato, bi-
carbonato e quantidades menores de
sódio, cloreto e cálcio.
O liquido intracelular possui grande
quantidade de potássio e pequena quanti-
dade de sódio e de cloreto. As grandes pro-
teinas e alguns tipos de ácidos orgânicos
ionizáveis, existem exclusivamente no lí-
quido intracelular; não existem no plasma
e no líquido intersticial.
As diferenças de composição entre os
liquidos intracelular e extracelular são
muito importantes, para o desempenho
adequado das funções celulares.
O liquido extracelular inclui ainda a
linfa, o liquor, o liquido ocular e outros
liquidos especiais do organismo, menos
importantes em relação à regulação hídrica
e eletrolítica.
A tabela 7.3 demostra a comparação
da composição eletrolítica dos principais
liquidos orgânicos, o intravascular (plas-
ma), o intersticial e o intracelular.
Quando analisamos os solutos dos lí-
quidos orgânicos, pela sua carga iônica,
separando os cátions dos anions, observa-
mos o perfeito equilibrio químico entre os
diversos compartimentos (Tabela 7.4). O
plasma tem 154 mEq de cátions e 154 mEq
de anions. O mesmo equilibrio entre cáti-
ons e anions é demonstrado para os líqui-
dos intersticial e intracelular.
O plasma e o líquido intersticial são os
grandes responsáveis pela regulação da
água do organismo; a sua composição
eletrolítica é praticamente a mesma,
exceto pela presença das proteinas no plas-
ma. Os íons presentes nos liquidos orgâni-
cos desempenham funções essenciais à
manutenção do perfeito equilíbrio funcio-
nal celular.
Sódio (Na
+
): O sódio é o cátion mais
abundante no líquido extracelular; é fun-
damental na manutenção do equilíbrio
hídrico. A perda de sódio causa redução da
pressão osmótica do líquido extracelular,
que resulta na migração de água para o in-
terior das células. O aumento da concen-
tração do sódio no líquido extracelular, ao
contrário, aumenta a sua pressão osmótica
e favorece o acúmulo de água no interstí-
cio, produzindo edema.
Tabela 7.3. Compara a composição eletrolítica do plasma,
do líquido intersticial e do líquido intracelular. O plasma
e o líquido intersticial são semelhantes entre sí e diferem
substancialmente do líquido intracelular.
143
CAPÍTULO 7 – FISIOLOGIA DA ÀGUA E DOS ELETRÓLITOS
O sódio tambem é importante na pro-
dução do impulso para a condução cardía-
ca e para a contração muscular. Um meca-
nismo especial chamado de bomba de sódio,
controla o fluxo de sódio e potássio atra-
vés da membrana celular, mantendo o sódio
no exterior e o potássio no interior das cé-
lulas. A concentração do sódio é controla-
da pelos rins, pela secreção de aldosterona
e pela secreção do hormônio antidiurético.
Potássio (K
+
): O potássio é o cátion
intracelular mais importante; é transpor-
tado para o interior das células pelo meca-
nismo da bomba de sódio e tem ação fun-
damental na condução do impulso elétri-
co e na contração muscular.
O acúmulo excessivo de potássio no lí-
quido extracelular (hiperpotassemia) pode
causar redução da condução elétrica e da
potência da contração miocárdica, levan-
do à parada cardíaca em assistolia. Esse
efeito do potássio é o princípio fundamen-
tal da sua utilização nas soluções cardio-
plégicas.
Cálcio (Ca
++
): O cálcio é essencial à
formação dos dentes, ossos e diversos ou-
tros tecidos. É tambem um fator importante
na coagulação do sangue. A presença de
pequenas quantidades de cálcio é essenci-
al à manutenção do tônus e da contração
muscular, inclusive miocárdica; a deficiên-
cia do cálcio (hipocalcemia), pode produ-
zir efeitos semelhantes aos do excesso de
potássio.
Magnésio (Mg
++
): O magnésio é um
íon importante na função de numerosas
enzimas e participa ativamente no meta-
bolismo da glicose, de diversos outros
hidratos de carbono e das proteinas. Parti-
cipa também, ativamente, nos processos da
contração e irritabilidade neuromuscular;
o seu excesso (hipermagnesemia) pode pro-
duzir relaxamento muscular, inclusive
miocárdico, além de alterações da condu-
ção elétrica cardíaca.
Cloro (Cl
-
): O anion cloro (cloreto) é
predominante no líquido extracelular; sua
função principal é a manutenção do equilí-
brio químico com os cátions presentes. O clo-
ro participa ainda nos efeitos tampão do san-
gue em intercâmbio com o bicarbonato.
Bicarbonato (HCO
3
-): A função mais
importante do íon bicarbonato é a regula-
ção do equilíbrio ácido-basico, em que par-
Tabela 7.4. Composição do plasma,
líquido intersticial e líquido intrace-
lular em relação aos seus cátions e
anions. Plasma e líquido intersticial
tem composição semelhante e são
isotônicos. O líquido intracelular é
levemente hipertônico em relação ao
plasma e ao interstício.
A quantidade de sódio no sangue é controlada pelo hormônio aldosterona, secretado pelo córtex da glândula adrenal (suprarrenal). Quando a quantidade de sódio no sangue baixa, aumenta a secreção de aldosterona. Esse hormônio atua sobre os túbulos distais e sobre os túbulos coletores, estimulando a reabsorção de sódio do filtrado glomerular. 
A secreção do hormônio aldosterona, por sua vez, é regulada pela renina e pela angiotensina. Se a pressão sanguínea ou a concentração de sódio diminuir, os rins liberam renina no sangue.
A renina é uma enzima que catalisa a formação de uma proteína sanguínea chamada angiotensina, a qual provoca a diminuição do calibre dos vasos sanguíneos, Há, assim, aumento da pressão arterial, o que estimula a secreção de aldosterona. Esta, por sua vez, leva a um aumento da reabsorção de sódio pelos rins. 
Cardioplegia é uma solução que promove a parada dos batimentos cardíacos durante a cirurgia cardiaca. Tal solução tem a função de proteção cardiaca, tendo em vista a mesma ser rica em potassio e oxigênio promovendo assim uma parada cardiaca em diástole.
Incapacidade de o coração realizar uma sístole completa.
Sístole: parte do ciclo cardíaco caracterizada por contração rítmica, esp. dos ventrículos, por meio da qual o sangue é ejetado para a aorta e para a artéria pulmonar.
Tônus muscular é o estado de tensão elástica (contração ligeira) que apresenta o músculo em repouso, e que lhe permite iniciar a contração rapidamente após o impulso dos centros nervosos. Num estado de relaxamento completo (sem tônus), o músculo levaria mais tempo a iniciar a contração.
Equilíbrio do pH
A bomba de sódio e potássio é um tipo de transporte ativo que ocorre em todas as células do corpo.
O processo ocorre devido às diferenças de concentrações dos íons sódio (Na+) e potássio (K+) dentro e fora da célula.
Para manter a diferença de concentração dos dois íons no meio interno e externo da célula, é preciso utilizar energia na forma de ATP. Assim, a bomba de sódio e potássio é um tipo de transporte ativo.
A bomba de sódio e potássio está diretamente relacionada com a transmissão de impulsos nervosos e contração muscular.
https://www.todamateria.com.br/bomba-de-sodio-e-potassio/
144
FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
ticipa com o ácido carbônico (dióxido de
carbono + água ), formando o principal
sistema tampãodo organismo.
Para que ocorra o intercâmbio de água
por osmose, através da membrana capilar
ou celular, é necessário que haja diferença
na concentração total de solutos nos dois
lados da membrana. As membranas celu-
lares e capilares são permeáveis à agua e
aos solutos dos líquidos orgânicos e não são
permeáveis às proteinas.
OSMOSE E PRESSÃO OSMÓTICA
Um soluto é uma substância, como o
cloreto de sódio, cloreto de potássio,
glicose, ou proteina, que pode ser dissolvi-
da em um solvente, para formar uma solu-
ção; a solução salina, por exemplo, tem o
cloreto de sódio como soluto e a água como
o solvente.
Na prática, as soluções podem ser clas-
sificadas conforme o tamanho das
párticulas do soluto ou conforme a sua na-
tureza. Uma solução cristalóide é aquela que
contém partículas homogeneamente dis-
persas no solvente até que ocorra a passa-
gem de uma corrente elétrica ou a sua mis-
tura com outra solução. Os solutos das so-
luções cristalóides, ou simplesmente
cristalóides, são pequenos íons, ácidos e ba-
ses simples, aminoácidos, pequenas molé-
culas orgânicas, como glicose e frutose, pe-
quenas moléculas nitrogenadas, como uréia
e creatinina ou pequenas cadeias de poli-
peptídeos. O limite superior para o tama-
nho das partículas cristalóides está em tor-
no de 50.000 Daltons. Uma solução coloidal
ou, simplesmente, coloide, contém partícu-
las que quando deixadas em repouso por
um tempo prolongado, tendem a deposi-
tar, perdendo a homogeneidade; o proces-
so de deposição pode ser acelerado por
centrifugação e outros meios físico-quí-
micos. As partículas que formam as so-
luções coloidais tem peso molecular mai-
or que os solutos cristalóides, acima de
50.000 Daltons.
As membranas biológicas, membrana
capilar e membrana celular, não permitem
a passagem dos coloides e permitem a livre
passagem de água e dos cristalóides.
Se colocarmos uma solução de cloreto
de sódio (NaCl) em um lado de uma mem-
brana permeável à água e ao sal, e colocar-
mos água pura no outro lado da membra-
na, as moléculas de sódio, cloro e água, vão
passar livremente através dos dois lados da
membrana, até que a concentração de
sódio e cloro nos dois lados seja a mesma.
A passagem da água e dos eletrólitos Na
+
e Cl
-
 para o lado da membrana, onde a sua
concentração é menor, ocorre pelo fenô-
meno da osmose.
A pressão osmótica corresponde à
pressão exercida pelas partículas ou íons de
soluto em uma determinada solução. A
pressão osmótica é medida em osmol ou
miliosmol (mOsm). Uma molécula de
cloreto de sódio, por exemplo, se dissocia
em dois íons, Na
+
 e Cl
-
; portanto, a solu-
ção de uma molécula de cloreto de sódio
exercerá uma pressão osmótica de 2 osmol/
litro de água ou por Kg de água (1litro de
água = 1 Kg).
O intercâmbio de água entre os dife-
rentes compartimentos é governado pela
osmose. As membranas celulares e capila-
res são muito permeáveis à água e o inter-
Peptídeos e polipeptídeos são cadeias de aminoácidos de vários comprimentos.
Cristalóides 
Soluções de íons inorgânicos e pequenas moléculas orgânicas dissolvidas em água. 
https://proqualis.net/sites/proqualis.net/files/Anexo8-%20Treinamento_Cristalóides%20e%20Colóides.pdf
Colóides
 Substância homogênea não cristalina, consistindo de grandes moléculas ou partículas ultramicroscópicas de uma substância dispersa em outra.
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CAPÍTULO 7 – FISIOLOGIA DA ÀGUA E DOS ELETRÓLITOS
câmbio diário é enorme, entre os compar-
timentos líquidos do organismo. Quando
a pressão osmótica se altera, a água se
move através das membranas, para resta-
belecer o equilíbrio e manter o estado
isosmótico. A regulação da água, entre o
líquido intracelular e o líquido intersticial,
é representada na figura 7.2.
A tonicidade compara as diferentes
soluções em termos da pressão osmótica
que exercem. Duas soluções com o mes-
mo número de partículas dissolvidas por
unidade de volume, tem a mesma pressão
osmótica e são chamadas, soluções
isotônicas. Quando uma solução tem um
número maior de partículas, é dita
hipertônica em relação à outra e, finalmen-
te, se o número de partículas de uma solu-
ção é menor que a solução de compara-
ção, diz-se que ela é hipotônica. O padrão
de comparação que nos interessa, é o plas-
ma sanguíneo. As soluções que serão mis-
turadas ao plasma, devem ser isotônicas, a
fim de evitar alterações significativas da
pressão osmótica. As soluções hipertônicas,
se necessário, podem apenas ser adminis-
tradas em pequenos volumes, para corrigir
déficits de algum eletrólito específico.
As moléculas de colóides, em geral, são
adicionadas às soluções para acrescentar
pressão oncótica. As soluções coloidais, são
o plasma sanguíneo, as soluções de
albumina, gelatina (Isocel), dextran
(Rheomacrodex) e hidroxietil starch
(Hetastarch).
PRESSÃO OSMÓTICA E PRESSÃO
ONCÓTICA (COLOIDO-OSMÓTICA)
A pressão osmótica de uma solução
depende do número de partículas ou mo-
léculas na solução. Quanto menor o peso
da molécula de uma substância, mais mo-
léculas existirão, em um determinado peso
da substância. Dessa forma, 1 grama de
cloreto de sódio conterá um número infi-
nitamente maior de moléculas do que 1
grama de albumina; o peso da molécula de
cloreto de sódio é 58,5 enquanto o peso da
molécula de albumina é 80.000. Podemos,
portanto, afirmar que 1 grama de cloreto
de sódio exerce uma pressão osmótica
muito maior que 1 grama de albumina.
Quando em uma solução, adicionamos
um soluto como a albumina, cuja molécu-
la é de elevado peso, confinada por uma
membrana impermeável à albumina, esta
exercerá uma grande pressão oncótica (ou
coloido-osmótica).
A adição de grandes moléculas, como
albumina, dextran e outras, aumenta a
pressão oncótica da solução. Contudo,
Fig. 7.2. Regulação do intercâmbio de água entre o líquido
extracelular (E) e o líquido intracelular. C, representa
uma célula. Em A, está representada a situação normal
do equilíbrio entre os dois líquidos, intra e extracelular.
A concentração iônica normal de 300mOsm/l existe em
ambos. Se adicionarmos solutos (íons), ao líquido
extracelular, aumentando a sua osmolaridade para
450mOsm/l, a água passa do interior da célula para o
líquido extracelular, representado em B. A célula de
desidrata. Se, diluirmos os solutos no líquido extracelular,
reduzindo a sua osmolaridade para 200 mOsm/l, a água
passa para o interior da célula, como representado em
C, produzindo edema celular acentuado, que pode,
inclusive, romper a célula.
Pressão oncótica é a pressão osmótica gerada pelas proteínas no plasma sanguíneo. No plasma sanguíneo, os componentes dissolvidos possuem uma pressão osmótica.
146
FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
como o número de moléculas na solução é
pequeno, o seu efeito sobre a pressão
osmótica é negligível. A pressão oncótica
é expressa em milímetros de mercúrio
(mmHg) e tem grande importância na
manutenção da água do plasma e na cap-
tação da água do líquido intersticial. Quan-
do a pressão oncótica do plasma está redu-
zida a água tende a migrar para o líquido
intersticial.
PERDAS DIÁRIAS DE ÁGUA
O organismo normal mantém o equilí-
brio entre o ganho e a perda diária de água,
regulando a diurese, o suor e as perdas insen-
síveis. Qualquer interferência nos mecanis-
mos normais da regulação, pode gerar distúr-
bios do equilíbrio dos líquidos e de eletrólitos.
Durante a circulação extracorpórea, a oferta
excessiva de líquidos ou de eletrólitos atra-
vés o perfusato, pode romper aquele equi-
líbrio e produzir complicações.
A perda diária de água corresponde à
eliminação pela urina, pelas fezes, pela eva-
poração nos pulmões, durante a respiração
(perda insensível), e pela formação do suor,
dependendo da temperatura ambiente e
do grau de atividade física. A perda total
diária de um indivíduo adulto é de aproxi-
madamente 2.400 à 2.900 ml (tabela 7.5).
O adequado equilíbrio da água e dos
eletrólitos do organismo deve serlembra-
do na preparação da perfusão, na escolha
dos componentes do perfusato e nos volu-
mes necessários ao procedimento. As so-
luções para o perfusato devem ter a com-
posição química e a pressão osmótica idên-
ticas ao plasma, para minimizar a
possibilidade de produzir distúrbios hídricos
e eletrolíticos.
A liberação de radicais livres e de nu-
merosas citoquinas e outros agentes pró-
inflamatórios durante a circulação extra-
corpórea altera a permeabilidade das mem-
branas capilares e celulares e contribui
substancialmente para alterar os volumes
de água contidos nos diferentes comparti-
mentos do organismo. Esse processo é par-
te importante da reação inflamatória sis-
têmica do organismo e, quando intenso,
pode produzir complicações difíceis de
controlar ou reverter.
Tabela 7.5. Perdas
diárias de água de um
adulto, pelas diversas
vias de eliminação.
Radicais livres são moléculas instáveis e que apresentam um elétron que tende a se associar de maneira rápida a outras moléculas de carga positiva com as quais pode reagir ou oxidar
Há endógenos e hexógenos
https://www.youtube.com/watch?v=UcZvIUtAYBc
147
CAPÍTULO 7 – FISIOLOGIA DA ÀGUA E DOS ELETRÓLITOS
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