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Crimes contra a Administração Pública Direito Penal IV – Estácio Castanhal Profa. Thaiana Bitti I - Considerações gerais: Bem jurídico tutelado. Bem jurídico: Moralidade, probidade, eficácia, incolumidade. Administração Pública: Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e outros entes públicos. Funcionário público (servidor público) ➔ para o Direito Penal há uma conceituação mais ampla em comparação ao Direito Administrativo, com o fim de proteção dos bens públicos e interesses da Administração, incluindo inclusive quem exerce temporariamente função pública, ainda que gratuita (ex.: jurado no Tribunal do Júri e mesário na Eleição). Art. 327, CPB - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. Por equiparação a jurisprudência do STJ também considera: empregado de sociedade de economia mista, estagiário de autarquia, estagiário de órgão público. Munus público: não são considerados funcionários públicos para efeitos penais, aqueles que exercem certos encargos, como inventariantes, depositários judiciais, curadores, tutores, administradores judiciais – eles não ocupam cargo público, mas têm atribuídos a si um encargo, um munus pelo Juízo. I - Considerações gerais: Bem jurídico tutelado. Autoridade Pública, conforme Lei n 13.869/2019 – Lei de Abuso de Autoridade: Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público, servidor ou não, da administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território, compreendendo, mas não se limitando a: I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas; II - membros do Poder Legislativo; III - membros do Poder Executivo; IV - membros do Poder Judiciário; V - membros do Ministério Público; VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas. Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos pelo caput deste artigo. Aplicação do Princípio da Insignificância EMENTA PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. DANO QUALIFICADO. INUTILIZAÇÃO DE UM CONE. IDOSO COM 83 ANOS NA ÉPOCA DOS FATOS. PRIMÁRIO. PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO. MITIGAÇÃO EXCEPCIONAL DA SÚMULA N. 599/STJ. JUSTIFICADA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INCIDÊNCIA. RECURSO PROVIDO. 1. A subsidiariedade do direito penal não permite tornar o processo criminal instrumento de repressão moral, de condutas típicas que não produzam efetivo dano. A falta de interesse estatal pelo reflexo social da conduta, por irrelevante dado à esfera de direitos da vítima, torna inaceitável a intervenção estatal-criminal. 2. Sedimentou-se a orientação jurisprudencial no sentido de que a incidência do princípio da insignificância pressupõe a concomitância de quatro vetores: a) a mínima ofensividade da conduta do agente; b) nenhuma periculosidade social da ação; c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada. 3. A despeito do teor do enunciado sumular n. 599, no sentido de que O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública, as peculiaridades do caso concreto – réu primário, com 83 anos na época dos fatos e avaria de um cone avaliado em menos de R$ 20,00, ou seja, menos de 3% do salário mínimo vigente à época dos fatos – justificam a mitigação da referida súmula, haja vista que nenhum interesse social existe na onerosa intervenção estatal diante da inexpressiva lesão jurídica provocada. 3. Recurso em habeas corpus provido para determinar o trancamento da ação penal n. 2.14.0003057-8, em trâmite na 2ª Vara Criminal de Gravataí/RS. (STJ, RHC 85.272) Não se aplica também a Súm. 599, STJ aos crimes tributários e de descaminho II. Crimes em espécie praticados por funcionário público. Parte I. Crimes funcionais podem ser: PRÓPRIOS: a condição de funcionário público é essencial para configuração do crime, de forma que, sem ela, não há sequer outro delito (atipicidade da conduta). Ex.: prevaricação (Art. 319, CPB) IMPRÓPRIOS: a ausência da condição de funcionário público desclassifica a infração para outro tipo penal. Ex.: peculato-apropriação (Art. 312, caput, CPB) para apropriação indébita (Art. 168, CPB) - O concurso de pessoas e a incidência do art. 30, do Código Penal: Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. É possível que um particular (extraneus) concorra para o crime funcional praticado pelo funcionário público (intraneus), aplicando-se as regras do concurso de agentes (teoria monista do concurso de pessoas). Assim, “funcionário público” é elementar do tipo, então se comunica, mas o particular precisa ter conhecimento da qualidade de funcionário público do agente, caso contrário, responderá por tipo diverso. Exemplo CARLOS, funcionário público de um determinado Ente Federativo, auxiliado por seu irmão SÉRGIO, vendedor autônomo, no dia 14 de janeiro de 2016, apropriou-se, em proveito de ambos, de alguns Notebooks pertencentes à repartição pública em que se achava lotado, os quais eram utilizados, diariamente, para a realização de suas tarefas administrativas. Levado o fato ao conhecimento da autoridade policial, instaurou-se o competente inquérito, restando indiciados CARLOS e SÉRGIO, sendo o primeiro como incurso no art. 312, caput, (peculato apropriação) e o segundo no art. 168 (apropriação indébita), ambos do Código Penal. Pergunta-se: Está correta tal classificação? Resolução Não está correta a classificação, os dois são coautores do crime de peculato apropriação (art. 312 CP). Conforme vem decidindo o STF, há possibilidade particular receber este tipo de imputação, desde que tenha conhecimento da condição de funcionário público do outro coautor. Segue notícia de decisão em que tal posicionamento foi adotado: 1ª Turma recebe denúncia contra deputada Jaqueline Roriz por peculato: Em sessão realizada na tarde desta terça-feira (2), a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu a denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) no Inquérito 3113, contra a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF), por suposta prática, em 1º de setembro de 2006, do crime de peculato (artigo 312 do Código Penal). A decisão ocorreu por maioria dos votos...O relator, ministro Luís Roberto Barroso, votou pelo recebimento da denúncia. O crime de peculato tem natureza de delito funcional impróprio na medida em que se caracteriza não somente pelo atentado ao dever funcional, mas também pelos elementos característicos de apropriação indébita, ressaltou. Portanto, o relator entendeu que a circunstância de a acusada, à época dos fatos, não ser funcionária pública, não impede que seja imputada a ela a prática de peculato se, aderindo conscientemente à ação dos demais autores e partícipes do crime, for beneficiada pela apropriação ou desvio. (http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=28 1029) Caso Concreto No dia 15 de março de 2017, por volta das 23h30min, em um hospital integrante do Sistema Único de Saúde (SUS), na cidade de Eugenópolis, PAULO ALBERTO, médico do referido hospital, solicitou, para si, diretamente, o valor de R$3.000,00 (três mil reais) referente ao pagamento de uma cirurgia de urgência, à paciente ELEONORA, que se encontrava internadano hospital sob seus cuidados com hemorragia interna. A vítima alegou não ter condições de pagar o procedimento. Diante da negativa do médico na realização da cirurgia sem o pagamento solicitado, este solicitou a transferência de ELEONORA para o hospital integrante do Sistema Único de Saúde (SUS) de Itamuri, aonde o procedimento cirúrgico foi realizado por outro médico, sem qualquer ônus a ELEONORA. Dos fatos, PAULO ALBERTO restou denunciado pela prática de crime contra a Administração Pública. Em defesa afirmou não ter solicitado valores para realização cirurgia, mas que apenas referiu que se fosse fazer a cirurgia seria de forma particular e custaria R$3.000,00 (três mil reais). Disse, ainda, que era médico contratado pelo hospital e, portanto, não poderia ser considerado funcionário público, conforme relatado na denúncia. Ante o exposto, com base nos estudos realizados sobre o tema, responda de forma objetiva e fundamentada: a) A alegação de PAULO ALBERTO de que não pode ser caracterizado funcionário público deve prosperar? b) Qual a correta tipificação da conduta de PAULO ALBERTO? Ainda, o fato de ELEONORA não ter feito o pagamento solicitado possui alguma relevância? Para continuar: Assistir à animação feita para a Controladoria Geral da União, denominada “A fábula da corrupção”, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Q -pl-oqK_z8 Assistir aos filmes: “EDISON – Poder e Corrupção” e Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro. Leitura do livro didático de Direito Penal IV – Capítulo 1. https://www.youtube.com/watch?v=Q-pl-oqK_z8
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