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PRÁTICAS INCLUSIVAS PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES 2 LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL Por um longo período histórico, a pessoa com deficiência esteve às margens da escolarização e percebemos nesta caminhada movimentos para a criação de leis na tentativa de reconfigurar a inserção da pessoa com deficiência no ensino comum. A educação inclusiva é um movimento ainda em construção e que necessita de um constante repensar sobre as políticas públicas e as práticas pedagógicas nas escolas Neste capítulo você estudará sobre as principais leis e documentos norteadores da Educação Especial, notas técnicas e os programas e ações de apoio ao desenvolvimento inclusivo dos sistemas de ensino. APRESENTAÇÃO Organização Ana Clarisse Alencar Barbosa Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora do EAD Prof.ª Francieli Stano Torres Edição Gráfica e Revisão UNIASSELVI Autora Carolina dos Santos Maiola CURSO LIVRE - LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL .02 1 DA CONFERÊNCIA DE JOMTIEN À POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA – CAMINHOS TRILHADOS... A partir do século XX, movimentos sociais de luta contra todas as formas de discriminação se tornaram mais intensas e a importância do exercício de cidadania das pessoas com deficiência surge, em nível mundial, através da defesa de uma sociedade mais inclusiva. Ainda marcado por práticas de categorização e segregação, fortalece-se a crítica a essas ações, questionando-se os modelos de ensino e aprendizagem homogeneizadores. A Constituição Federal de 1988, traz como seus objetivos fundamentais “promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (art.3º, inciso IV). Define, no artigo 205, a educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. No seu artigo, 206, inciso I, estabelece “igualdade de condições de acesso e permanência na escola” como um dos princípios para o ensino e garante como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art.208). Mesmo diante desta exposição clara relatada pela Constituição, não foi suficiente para garantir a igualdade de direitos e de oportunidades as pessoas com deficiência no contexto da educação comum. Na tentativa de enfrentar esses desafios e de se pensar em ações capazes de superar esses processos históricos de exclusão, conferências importantes aconteceram, e delas, novos documentos norteadores de políticas públicas foram criados. Veja alguns especificados a seguir. CURSO LIVRE - LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL 1.1 CONFERÊNCIA MUNDIAL DE EDUCAÇÃO PARA TODOS: JOMTIEN A Conferência Mundial de Educação para Todos aconteceu na cidade de Jomtien, na Tailândia, em 1990. Neste encontro, evidenciou-se os altos índices de crianças, adolescentes e jovens sem escolarização, objetivando assim, a promoção de transformações nos sistemas de ensino e o acesso e permanência de todos na escola. Deste encontro, surge um plano de ação (Declaração de Jomtien), do qual participaram representantes de governos e organizações não-governamentais (ONGs), com o intuito de garantir as necessidades básicas da aprendizagem de todas as crianças, jovens e adultos. Essas necessidades básicas compreendem tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem como a leitura, a escrita, a expressão oral, o cálculo, a solução de problemas; quanto a aquisição de conhecimentos, habilidades, valores e atitudes necessários para que os seres humanos possam sobreviver e se desenvolver plenamente. Ao mencionar as pessoas com deficiência, ele assim refere em seu Artigo 3º - Universalizar o acesso à educação e promover a equidade: 1. A educação básica deve ser proporcionada a todas as crianças, jovens e adultos. Para tanto, é necessário universalizá-la e melhorar sua qualidade, bem como tomar medidas efetivas para reduzir as desigualdades. 2. Para que a educação básica se torne equitativa, é mister oferecer a todas as crianças, jovens e adultos, a oportunidade de alcançar e manter um padrão mínimo de qualidade da aprendizagem. [...] 5. As necessidades básicas de aprendizagem das pessoas portadoras de deficiências requerem atenção especial. É preciso tomar medidas que garantam a igualdade de acesso à educação aos portadores de todo e qualquer tipo de deficiência, como parte integrante do sistema educativo. Os países que participaram desta Conferência foram incentivados a elaborar Planos Decenais, em que as diretrizes e metas do Plano de Ação da Conferência fossem contempladas. No Brasil, o Ministério da Educação divulgou o Plano Decenal de Educação Para Todos para o período de 1993 a 2003, elaborado em cumprimento às resoluções da Conferência. Este plano, marca a aceitação formal, do Governo Federal, das propostas formuladas nos foros internacionais para a melhoria da educação básica. Diante disso, podemos considerar que a Conferência de Jomtien foi um marco político e conceitual na educação ao reafirmar a necessidade de que todos dominem os conhecimentos indispensáveis à compreensão do mundo em que vivem, recomendando a todos os países participantes que se empenhem nesse movimento. CURSO LIVRE - LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL 1.2 CONFERÊNCIA MUNDIAL DE NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS: ACESSO E QUALIDADE. DECLARAÇÃO DE SALAMANCA A Conferência Mundial de Necessidade Educativas Especiais: Acesso e Qualidade foi realizada pela UNESCO em 1994, na cidade de Salamanca, na Espanha, com a participação de 92 governos e 25 organizações internacionais, cujo objetivo consistiu na discussão sobre a escola não acessível a todos os estudantes. A partir dessas discussões sobre as práticas educacionais e a desigualdade social, surge o documento denominado Declaração de Salamanca e Linhas de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais, onde se evidencia a necessidade de se combater as atitudes discriminatórias, conforme vemos em Brasil (1997): O princípio fundamental desta Linha de Ação é de que as escolas devem acolher todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Devem acolher crianças com deficiência e crianças bem-dotadas; crianças que vivem nas ruas e que trabalham; crianças de populações distantes ou nômades; crianças de minorias linguísticas, étnicos ou culturais e crianças de outros grupos e zonas desfavorecidas ou marginalizados (p.17 e 18) Para conhecimento, selecionamos alguns dos itens discutidos nesse documento, que nos mostram as ações indicadas para uma perspectiva de educação para todos. Ele perpassa pelo âmbito tanto dos conceitos da educação especial, quanto sobre a estrutura escolar, profissionais envolvidos, capacitação, recursos financeiros, participação da família, mercado de trabalho e outros. Seguem alguns recortes do documento pertinentes para nosso estudo e compreensão: Assim, proclama-se que: 2 • toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem; • toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas; • sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais deveriam ser implementados no sentido de se levar em conta a vasta diversidade de tais características e necessidades; • aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades; CURSO LIVRE - LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL • escolas regulares que possuamtal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos; além disso, tais escolas proveem uma educação efetiva à maioria das crianças e aprimoram a eficiência e, em última instância, o custo da eficácia de todo o sistema educacional. Propondo a todos os governos que: 3 • atribuam a mais alta prioridade política e financeira ao aprimoramento de seus sistemas educacionais no sentido de se tornarem aptos a incluírem todas as crianças, independentemente de suas diferenças ou dificuldades individuais; • adotem o princípio de educação inclusiva em forma de lei ou de política, matriculando todas as crianças em escolas regulares, a menos que existam fortes razões para agir de outra forma; • desenvolvam projetos de demonstração e encorajem intercâmbios em países que possuam experiências de escolarização inclusiva; • estabeleçam mecanismos part ic ipatór ios e descentra l izados para planejamento, revisão e avaliação de provisão educacional para crianças e adultos com necessidades educacionais especiais; • encorajem e facilitem a participação de pais, comunidades e organizações de pessoas portadoras de deficiências nos processos de planejamento e tomada de decisão concernentes à provisão de serviços para necessidades educacionais especiais; • invistam maiores esforços em estratégias de identificação e intervenção precoces, bem como nos aspectos vocacionais da educação inclusiva; • garantam que, no contexto de uma mudança sistêmica, programas de treinamento de professores, tanto em serviço como durante a formação, incluam a provisão de educação especial dentro das escolas inclusivas. Na estrutura de ação, esclarece como termos: CURSO LIVRE - LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL [...] "necessidades educacionais especiais" refere-se a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades educacionais especiais se originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem. Muitas crianças experimentam dificuldades de aprendizagem e, portanto, possuem necessidades educacionais especiais em algum ponto durante a sua escolarização. Escolas devem buscar formas de educar tais crianças bem-sucedidamente, incluindo aquelas que possuam desvantagens severas. Existe um consenso emergente de que crianças e jovens com necessidades educacionais especiais devam ser incluídas em arranjos educacionais feitos para a maioria das crianças. E reforça a importância da Educação Inclusiva: 6 [...] O desafio que confronta a escola inclusiva é no que diz respeito ao desenvolvimento de uma pedagogia centrada na criança e capaz de bem- sucedidamente educar todas as crianças, incluindo aquelas que possuam desvantagens severas. O mérito de tais escolas não reside somente no fato de que elas sejam capazes de prover uma educação de alta qualidade a todas as crianças: o estabelecimento de tais escolas é um passo crucial no sentido de modificar atitudes discriminatórias, de criar comunidades acolhedoras e de desenvolver uma sociedade inclusiva. [...] 7 Princípio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter. Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos os estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos através de um currículo apropriado, arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de recurso e parceria com as comunidades. Na verdade, deveria existir uma continuidade de serviços e apoio proporcional ao contínuo de necessidades especiais encontradas dentro da escola. 8 Dentro das escolas inclusivas, crianças com necessidades educacionais especiais deveriam receber qualquer suporte extra requerido para assegurar uma educação efetiva. Educação inclusiva é o modo mais eficaz para construção de solidariedade entre crianças com necessidades educacionais especiais e seus colegas. O encaminhamento de crianças a escolas especiais ou a classes especiais ou a sessões especiais dentro da escola em caráter permanente, CURSO LIVRE - LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL deveriam constituir exceções, a ser recomendado somente naqueles casos infrequentes onde fique claramente demonstrado que a educação na classe regular seja incapaz de atender às necessidades educacionais ou sociais da criança, ou quando sejam requisitados em nome do bem-estar da criança ou de outras crianças. Da política e organização: 16 Políticas educacionais em todos os níveis, do nacional ao local, deveriam estipular que a criança portadora de deficiência deveria frequentar a escola de sua vizinhança: ou seja, a escola que seria frequentada caso a criança não portasse nenhuma deficiência. Exceções à esta regra deveriam ser consideradas individualmente, caso por caso, em casos em que a educação em instituição especial seja requerida. 17 A prática de desmarginalização de crianças portadoras de deficiência deveria ser parte integrante de planos nacionais que objetivem atingir educação para todos. Mesmo naqueles casos excepcionais em que crianças sejam colocadas em escolas especiais, a educação dela não precisa ser inteiramente segregada. Frequência em regime não-integral nas escolas regulares deveria ser encorajada. Provisões necessárias deveriam também ser feitas no sentido de assegurar inclusão de jovens e adultos com necessidade especiais em educação secundária e superior bem como em programa de treinamento. Atenção especial deveria ser dada à garantia da igualdade de acesso e oportunidade para meninas e mulheres portadoras de deficiências. 18 Atenção especial deveria ser prestada às necessidades das crianças e jovens com deficiências múltiplas ou severas. Eles possuem os mesmos direitos que outros na comunidade, à obtenção de máxima independência na vida adulta e deveriam ser educados neste sentido, ao máximo de seus potenciais. [...] 19 Políticas educacionais deveriam levar em total consideração as diferenças e situações individuais. A importância da linguagem de signos como meio de comunicação entre os surdos, por exemplo, deveria ser reconhecida e provisão deveria ser feita no sentido de garantir que todas as pessoas surdas tenham acesso à educação em sua língua nacional de signos. Devido às necessidades particulares de comunicação dos surdos e das pessoas surdas/ cegas, a educação deles pode ser mais adequadamente provida em escolas especiais ou classes especiais e unidades em escolas regulares. CURSO LIVRE - LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL [...] 26 O currículo deveria ser adaptado às necessidades das crianças, e não vice-versa. Escolas deveriam, portanto, prover oportunidades curriculares que sejam apropriadas à criança com habilidades e interesses diferentes. 27 Crianças com necessidades especiais deveriam receber apoio instrucional adicional no contexto do currículo regular, e não de um currículo diferente. O princípio regulador deveria ser o de providenciar a mesma educação a todas as crianças, e também prover assistência adicional e apoio às crianças que assim o requeiram. [...] 29 Para que o progresso da criança seja acompanhado, formas de avaliação deveriam ser revistas. Avaliação formativa deveria ser incorporada no processo educacional regular no sentido de manter alunos e professores informados do controle da aprendizagem adquirida, bem como no sentido de identificar dificuldades e auxiliar os alunos a superá-las. 30 Para crianças com necessidades educacionais especiais, uma rede contínua de apoio deveria ser providenciada, com variação desde a ajuda mínima na classe regular até programas adicionais de apoio à aprendizagemdentro da escola e expandindo, conforme necessário, à provisão de assistência dada por professores especializados e pessoal de apoio externo. 31 Tecnologia apropriada e viável deveria ser usada, quando necessário, para aprimorar a taxa de sucesso no currículo da escola e para ajudar na comunicação, mobilidade e aprendizagem. Auxílios técnicos podem ser oferecidos de modo mais econômico e efetivo se eles forem providos a partir de uma associação central em cada localidade, onde haja know-how que possibilite a conjugação de necessidades individuais e assegure a manutenção. Ainda, sobre a Administração da escolar: 34 Diretores de escola têm a responsabilidade especial de promover atitudes positivas através da comunidade escolar e via arranjando uma cooperação efetiva entre professores de classe e pessoal de apoio. Arranjos apropriados para o apoio e o exato papel a ser assumido pelos vários parceiros no processo educacional deveria ser decidido através de consultoria e negociação. CURSO LIVRE - LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL 35 Cada escola deveria ser uma comunidade coletivamente responsável pelo sucesso ou fracasso de cada estudante. O grupo de educadores, ao invés de professores individualmente, deveria dividir a responsabilidade pela educação de crianças com necessidades especiais. Pais e voluntários deveriam ser convidados assumir participação ativa no trabalho da escola. Professores, no entanto, possuem um papel fundamental enquanto administradores do processo educacional, apoiando as crianças através do uso de recursos disponíveis, tanto dentro como fora da sala de aula. Recomenda a participação dos alunos com deficiência nas áreas prioritárias de atendimento: Educação Infantil: 51 O sucesso de escolas inclusivas depende em muito da identificação precoce, avaliação e estimulação de crianças pré-escolares com necessidades educacionais especiais. Assistência infantil e programas educacionais para crianças até a idade de 6 anos deveriam ser desenvolvidos e/ou reorientados no sentido de promover o desenvolvimento físico, intelectual e social e a prontidão para a escolarização. Tais programas possuem um grande valor econômico para o indivíduo, a família e a sociedade na prevenção do agravamento de condições que inabilitam a criança. Programas neste nível deveriam reconhecer o princípio da inclusão e ser desenvolvidos de uma maneira abrangente, através da combinação de atividades pré-escolares e saúde infantil. Preparação para a Vida Adulta 53 Jovens com necessidades educacionais especiais deveriam ser auxiliados no sentido de realizarem uma transição efetiva da escola para o trabalho. Escolas deveriam auxiliá-los a se tornarem economicamente ativos e provê-los com as habilidades necessárias ao cotidiano da vida, oferecendo treinamento em habilidades que correspondam às demandas sociais e de comunicação e às expectativas da vida adulta. Isto implica em tecnologias adequadas de treinamento, incluindo experiências diretas em situações da vida real, fora da escola. O currículo para estudantes mais maduros e com necessidades educacionais especiais deveria incluir programas específicos de transição, apoio de entrada para a educação superior sempre que possível e, consequente, treinamento vocacional que os prepare a funcionar independentemente enquanto membros contribuintes em suas comunidades e após o término da escolarização. Tais atividades deveriam ser levadas a cabo com o envolvimento ativo de aconselhadores vocacionais, oficinas de trabalho, associações de profissionais, autoridades locais e seus respectivos serviços e agências. CURSO LIVRE - LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL [...] Educação de Adultos e Estudos Posteriores 55 Pessoas portadoras de deficiências deveriam receber atenção especial quanto ao desenvolvimento e implementação de programas de educação de adultos e de estudos posteriores. Pessoas portadoras de deficiências deveriam receber prioridade de acesso aos tais programas. Cursos especiais também poderiam ser desenvolvidos no sentido de atenderem às necessidades e condições de diferentes grupos de adultos portadores de deficiência. Enfatiza a participação da família e comunidade: 57 A educação de crianças com necessidades educacionais especiais é uma tarefa a ser dividida entre pais e profissionais. Uma atitude positiva da parte dos pais favorece a integração escolar e social. Pais necessitam de apoio para que possam assumir seus papéis de pais de uma criança com necessidades especiais. O papel das famílias e dos pais deveria ser aprimorado através da provisão de informação necessária em linguagem clara e simples; ou enfoque na urgência de informação e de treinamento em habilidades paternas constitui uma tarefa importante em culturas onde a tradição de escolarização seja pouca. 58 Pais const i tuem parceiros pr iv i legiados no que concerne às necessidades especiais de suas crianças, e desta maneira eles deveriam, o máximo possível, ter a chance de poder escolher o tipo de provisão educacional que eles desejam para suas crianças. 59 Uma parceria cooperativa e de apoio entre administradores escolares, professores e pais deveria ser desenvolvida e pais deveriam ser considerados enquanto parceiros ativos nos processos de tomada de decisão. Pais deveriam ser encorajados a participar em atividades educacionais em casa e na escola (onde eles poderiam observar técnicas efetivas e aprender como organizar atividades extracurriculares), bem como na supervisão e apoio à aprendizagem de suas crianças. FONTE: Procedimentos-Padrões das Nações Unidas para a Equalização de Oportunidades para Pessoas Portadoras de Deficiências, A/RES/48/96, Resolução das Nações Unidas adotada em Assembleia Geral. Referência: Declaração de Salamanca CURSO LIVRE - LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL A Declaração de Salamanca foi um documento fundamental para impulsionar novas práticas educacionais que beneficiassem as pessoas com deficiência, valorizando a busca pelo repensar do espaço escolar e os rumos da educação especial, a fim de assegurar condições de acesso, participação e aprendizagem de todos, concebendo a escola como uma instituição que reconhece as diferenças. 1.3 POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL A Política Nacional de Educação Especial de 1994, ficou conhecida como um documento que veio na contramão dos movimentos de educação para todos. Utilizou como foco o paradigma ainda integracionista, dando ênfase ao modelo clínico de deficiência e o caráter incapacitante dessas pessoas, criando-se barreiras de impedimento para sua inclusão educacional e social. Este documento delineia as modalidades de atendimento em educação especial, dispondo as escolas e classes especiais, atendimento domiciliar, classe hospitalar e sala de recursos, ensino itinerante, estimulação essencial e as classes regulares. Mantém a estrutura paralela e substitutiva da educação especial e o acesso da pessoa com deficiência ao ensino comum condicionado ao seu nível de aprendizagem e a sua capacidade de acompanhar o ritmo da turma onde estará inserido. Conforme nos mostra Brasil (1994), Ambiente dito regular de ensino/aprendizagem, no qual também, são matriculados, em processo de integração instrucional, os portadores de necessidades especiais que possuem condições de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que os alunos ditos normais (p.19). Diante dessa configuração política, dá-se continuidade às práticas tradicionais que justificam a segregação em razão da deficiência. 1.4 LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL – LDB 9.394 (1996) A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional retoma o processo de políticas públicas para a escolarização da pessoa com deficiência, com respaldo no caráter substitutivoda educação especial, mesmo que ainda expresse a necessidade de atendimento às especificidades desta clientela inserida na escola comum. Caracteriza-se assim, a Educação Especial como uma modalidade de educação escolar e cita o “local” que preferencialmente ela deve acontecer, ou seja, no ensino comum. CURSO LIVRE - LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL Outro aspecto relevante do texto da lei é de que se preconiza que os sistemas de ensino devam assegurar aos estudantes currículo, métodos e recursos para atender suas necessidades específicas. Para melhor compreensão, realizamos um recorte da LDB que trata com detalhes sobre a Educação Especial. Veja: CAPÍTULO V DA EDUCAÇÃO ESPECIAL Art. 58. Entende-se por educação especial, para efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio, especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela da educação especial. § 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. § 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil. Art . 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicas, para atender Às suas necessidades; II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como os professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV – educação especial para o trabalho, visando sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no mercado de trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; V – acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular. Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos, especializados e com atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e financeiro para o Poder Público. CURSO LIVRE - LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL 1.5 CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA A Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência outorgada pela ONU em 2006 e ratificada pelo Brasil através do decreto Legislativo 186/2008 e Executivo 6949/2009, altera o conceito de deficiência ao considerar que: Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (ONU, Art. 1). E no seu Artigo 24 ao qual refere-se à Educação, destaca: 1 Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência à educação. Para efetivar esse direito sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades, os Estados Partes assegurarão sistema educacional inclusivo em todos os níveis, bem como o aprendizado ao longo de toda a vida, com os seguintes objetivos: a) O pleno desenvolvimento do potencial humano e do senso de dignidade e autoestima, além do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos, pelas liberdades fundamentais e pela diversidade humana. b) O máximo desenvolvimento possível da personalidade e dos talentos e da criatividade das pessoas com deficiência, assim como de suas habilidades físicas e intelectuais. c) A participação efetiva das pessoas com deficiência em uma sociedade livre. 2 Para a realização desse direito, os Estados Partes assegurarão que: a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema educacional geral sob alegação de deficiência e que as crianças com deficiência não sejam excluídas do ensino primário gratuito e compulsório ou do ensino secundário, sob alegação de deficiência. b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino primário inclusivo, de qualidade e gratuito, e ao ensino secundário, em igualdade de condições com as demais pessoas na comunidade em que vivem. c) Adaptações razoáveis de acordo com as necessidades individuais sejam providenciadas. d) As pessoas com deficiência recebam o apoio necessário, no âmbito do sistema educacional geral, com vistas a facilitar sua efetiva educação. e) Medidas de apoio individualizadas e efetivas sejam adotadas em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão plena. 3 Os Estados Partes assegurarão às pessoas com deficiência a possibilidade de adquirir as competências práticas e sociais necessárias de modo a facilitar às pessoas com deficiência sua plena e igual participação no sistema de CURSO LIVRE - LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL ensino e na vida em comunidade. Para tanto, os Estados Partes tomarão medidas apropriadas, incluindo: a) Facilitação do aprendizado do braile, escrita alternativa, modos, meios e formatos de comunicação aumentativa e alternativa, e habilidades de orientação e mobilidade, além de facilitação do apoio e aconselhamento de pares. b) Facilitação do aprendizado da língua de sinais e promoção da identidade linguística da comunidade surda. c) Garantia de que a educação de pessoas, em particular crianças cegas, surdocegas e surdas, seja ministrada nas línguas e nos modos e meios de comunicação mais adequados ao indivíduo e em ambientes que favoreçam ao máximo seu desenvolvimento acadêmico e social. 4 A fim de contribuir para o exercício desse direito, os Estados Partes tomarão medidas apropriadas para empregar professores, inclusive professores com deficiência, habilitados para o ensino da língua de sinais e/ou do braile, e para capacitar profissionais e equipes atuantes em todos os níveis de ensino. Essa capacitação incorporará a conscientização da deficiência e a utilização de modos, meios e formatos apropriados de comunicação aumentativa e alternativa, e técnicas e materiais pedagógicos, como apoios para pessoas com deficiência. 5 Os Estados Partes assegurarão que as pessoas com deficiência possam ter acesso ao Ensino Superior em geral, treinamento profissional de acordo com sua vocação, educação para adultos e formação continuada, sem discriminação e em igualdade de condições. Para tanto, os Estados Partes assegurarão a provisão de adaptações razoáveis para pessoas com deficiência. Podemos ainda destacar como marco pol í t ico e educacional a promulgação da Lei nº 10.436/02 que reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão, determinando que sejam garantidas formas institucionalizadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão da disciplina de Libras como parte integrante do currículo nos cursos de formação de professores e de fonoaudiologia. E ainda, a Portaria nº 2.678/02 que aprova as diretrizes e normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do Sistema Braile em todas as modalidades de ensino, compreendendo o projeto da Grafia Braile para a Língua Portuguesa e a recomendação para o seuuso em todo o território nacional. Diante do proposto, impuls iona-se o processo de elaboração e desenvolvimento de propostas educacionais para assegurar o acesso, participação e permanência de todos os alunos no ensino regular. CURSO LIVRE - LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL 2 A POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, de 2008, trouxe novas concepções às atuações da educação especial, pois sua tarefa passa a ser de complementar a formação dos alunos com deficiência, com foco no ensino e aprendizagem, recursos de acessibilidade, permanência e participação de sua clientela no contexto do ensino comum. O documento apresenta os marcos históricos e normativos da Educação Especial no Brasil e no Mundo, detalha o Diagnóstico da Educação Especial, pontua os objetivos dessa política e cria diretrizes de atendimento. Devido à importância desta política e as influências que ela nos trouxe as práticas de educação inclusiva no nosso país, realizamos um recorte do texto, enfatizando algumas partes pertinentes ao nosso estudo e entendimento. Veja: IV – Objetivo da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva tem como objetivo o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares, orientando os sistemas de ensino para promover respostas às necessidades educacionais especiais, garantindo: • Transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação superior. • Atendimento educacional especializado. • Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino. • Formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão escolar. • Participação da família e da comunidade. • Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação; e • Articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. V – Alunos atendidos pela Educação Especial [...] Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial passa a integrar a proposta pedagógica da escola regular, promovendo o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos CURSO LIVRE - LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Nestes casos e outros, que implicam em transtornos funcionais específicos, a educação especial atua de forma articulada com o ensino comum, orientando para o atendimento às necessidades educacionais especiais desses alunos. A educação especial direciona suas ações para o atendimento às especificidades desses alunos no processo educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na escola, orienta a organização de redes de apoio, a formação continuada, a identificação de recursos, serviços e o desenvolvimento de práticas colaborativas. [...] A partir dessa conceituação, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental ou sensorial que, em interação com diversas barreiras, podem ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade. Os alunos com transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do espectro do autismo e psicose infantil. Alunos com altas habilidades/superdotação demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de apresentar grande criatividade, envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse. VI – Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva A educação especial é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o atendimento educacional especializado, disponibiliza os recursos e serviços e orienta quanto a sua utilização no processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular. O atendimento educacional especializado tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específ icas. As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado diferenciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela. CURSO LIVRE - LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL Dentre as atividades de atendimento educacional especializado, são disponibil izados programas de enriquecimento curricular, o ensino de linguagens e códigos específicos de comunicação e sinalização e tecnologia assistiva. Ao longo de todo o processo de escolarização, esse atendimento deve estar articulado com a proposta pedagógica do ensino comum. O atendimento educacional especializado é acompanhado por meio de instrumentos que possibilitem monitoramento e avaliação da oferta realizada nas escolas da rede pública e nos centros de atendimento educacional especializados públicos ou conveniados. O acesso à educação tem início na educação infantil , na qual se desenvolvem as bases necessárias para a construção do conhecimento e desenvolvimento global do aluno. Nessa etapa, o lúdico, o acesso às formas diferenciadas de comunicação, a riqueza de estímulos nos aspectos físicos, emocionais, cognitivos, psicomotores e sociais e a convivência com as diferenças favorecem as relações interpessoais, o respeito e a valorização da criança. Do nascimento aos três anos, o atendimento educacional especializado se expressa por meio de serviços de estimulação precoce, que objetivam otimizar o processo de desenvolvimento e aprendizagem em interface com os serviços de saúde e assistência social. Em todas as etapas e modalidades da educação básica, o atendimento educacional especializado é organizado para apoiar o desenvolvimento dos alunos, constituindo oferta obrigatória dos sistemas de ensino. Deve ser realizado no turno inverso ao da classe comum, na própria escola ou centro especializado que realize esse serviço educacional. Desse modo, na modalidade de educação de jovens e adultos e educação profissional, as ações da educação especial possibilitam a ampliação de oportunidades de escolarização, formação para ingresso no mundo do trabalho e efetiva participação social. A interface da educação especial na educação indígena, do campo e quilombola deve assegurar que os recursos, serviços e atendimento educacional especializado estejam presentes nos projetos pedagógicos construídos com base nas diferenças socioculturais desses grupos. Na educação superior, a educação especial se efetiva por meio de ações que promovam o acesso, a permanência e a participação dos alunos. Estas ações envolvem o planejamento e a organização de recursos e serviços para a promoção da acessibilidade arquitetônica, nas comunicações, nos sistemas de informação, nos materiais didáticos e pedagógicos, que devem ser disponibilizados nos processos seletivos e no desenvolvimento de todas as atividades que envolvam o ensino, a pesquisa e a extensão. Para o ingresso dos alunos surdos nas escolas comuns, a educação bilíngue – Língua Portuguesa/ CURSO LIVRE - LEISDA EDUCAÇÃO ESPECIAL Libras desenvolve o ensino escolar na Língua Portuguesa e na língua de sinais, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua na modalidade escrita para alunos surdos, os serviços de tradutor/intérprete de Libras e Língua Portuguesa, e o ensino da Libras para os demais alunos da escola. O atendimento educacional especializado para esses alunos é ofertado tanto na modalidade oral e escrita quanto na língua de sinais. Devido à diferença linguística, orienta-se que o aluno surdo esteja com outros surdos em turmas comuns na escola regular. O atendimento educacional especializado é realizado mediante a atuação de profissionais com conhecimentos específicos no ensino da Língua Brasileira de Sinais, da Língua Portuguesa na modalidade escrita como segunda língua, do sistema Braille, do Soroban, da orientação e mobilidade, das atividades de vida autônoma, da comunicação alternativa, do desenvolvimento dos processos mentais superiores, dos programas de enriquecimento curricular, da adequação e produção de materiais didáticos e pedagógicos, da utilização de recursos ópticos e não ópticos, da tecnologia assistiva e outros. A avaliação pedagógica como processo dinâmico considera tanto o conhecimento prévio e o nível atual de desenvolvimento do aluno quanto às possibilidades de aprendizagem futura, configurando uma ação pedagógica processual e formativa que analisa o desempenho do aluno em relação ao seu progresso individual, prevalecendo na avaliação os aspectos qualitativos que indiquem as intervenções pedagógicas do professor. No processo de avaliação, o professor deve criar estratégias considerando que alguns alunos podem demandar ampliação do tempo para a realização dos trabalhos e o uso da língua de sinais, de textos em Braile, de informática ou de tecnologia assistiva como uma prática cotidiana. Cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a educação especial na perspectiva da educação inclusiva, disponibilizar as funções de instrutor, tradutor/intérprete de Libras e guia-intérprete, bem como de monitor ou cuidador dos alunos com necessidade de apoio nas atividades de higiene, alimentação, locomoção, entre outras, que exijam auxílio constante no cotidiano escolar. Para atuar na educação especial, o professor deve ter como base da sua formação, inicial e continuada, conhecimentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos específicos da área. Essa formação possibilita a sua atuação no atendimento educacional especializado, aprofunda o caráter interativo e interdisciplinar da atuação nas salas comuns do ensino regular, nas salas de recursos, nos centros de atendimento educacional especializado, nos núcleos de acessibilidade das instituições de educação superior, nas classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de educação especial. CURSO LIVRE - LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL Para assegurar a intersetorialidade na implementação das políticas públicas a formação deve contemplar conhecimentos de gestão de sistema educacional inclusivo, tendo em vista o desenvolvimento de projetos em parceria com outras áreas, visando à acessibil idade arquitetônica, aos atendimentos de saúde, à promoção de ações de assistência social, trabalho e justiça. Os sistemas de ensino devem organizar as condições de acesso aos espaços, aos recursos pedagógicos e à comunicação que favoreçam a promoção da aprendizagem e a valorização das diferenças, de forma a atender às necessidades educacionais de todos os alunos. A acessibilidade deve ser assegurada mediante a eliminação de barreiras arquitetônicas, urbanísticas, na edificação – incluindo instalações, equipamentos e mobiliários – e nos transportes escolares, bem como as barreiras nas comunicações e informações. 3 PROGRAMAS E AÇÕES DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO INCLUSIVO DOS SISTEMAS DE ENSINO No decorrer dos últimos anos, o Ministério da Educação implementa, em parceria com os sistemas de ensino, ações e programas para atender a Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Apresentaremos aqui alguns deles. 3.1 PROGRAMA EDUCAÇÃO INCLUSIVA: DIREITO À DIVERSIDADE Objetiva a transformação dos sistemas educacionais em sistemas educacionais inclusivos. Consiste na realização de seminários nacionais de formação dos coordenadores, com disponibilidade de materiais e apoio financeiro para a formação em cada município-polo. 3.2 PROGRAMA DE IMPLANTAÇÃO DE SALAS DE RECURSO MULTIFUNCIONAIS As salas de recursos multifuncionais consistem em espaços para oferta do Atendimento Educacional Especializado, complementar a escolarização de estudantes da Educação Especial. Estas salas estão situadas dentro do contexto do ensino comum, selecionadas pelo gestor da rede de ensino, que disponibiliza o espaço físico e o professor do AEE. CURSO LIVRE - LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL 3.3 PROGRAMA ESCOLA ACESSÍVEL Disponibiliza recursos para ações de acessibilidade nas escolas públicas, promovendo o acesso e participação da pessoa com deficiência nos ambientes escolares. Prevê-se despesas de custeio e capital para adequações estruturais e para acessibilidade, além da aquisição de recurso de tecnologia assistiva. 3.4 PROJETO LIVRO ACESSÍVEL Tem por objetivo promover a acessibilidade no âmbito dos Programas do Livro MEC/FNDE, para estudantes com deficiência visual matriculados nas escolas públicas, através de livros em formatos acessíveis. Assim, livros didáticos e paradidáticos no formato braile são distribuídos para todo o país. O projeto Livro Acessível realiza a produção das obras escolhidas pelas escolas, seguindo o cronograma estabelecido no âmbito dos programas de distribuição de livros do MEC. É possível também ter acesso ao Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue Libras - Língua Portuguesa e Inglês, para atender às necessidades de ensino e de aprendizagem de estudantes com surdez, matriculados no sistema regular de ensino. 3.5 PROLIBRAS – PROGRAMA NACIONAL PARA A CERTIFICAÇÃO DE PROFICIÊNCIA NO USO E ENSINO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – LIBRAS E PARA A CERTIFICAÇÃO DE PROFICIÊNCIA EM TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA LIBRAS/LÍNGUA PORTUGUESA Este programa tem como objetivo a certificação de proficiência no uso e ensino de Libras e na tradução e interpretação da Libras. 3.6 CENTROS DE FORMAÇÃO E RECURSOS – CAP, CAS e NAAH/S Os Centros de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência – CAP e o Núcleo de Apoio Pedagógico e Produção Braile – NAPPB são centros de apoio técnico e pedagógico aos estudantes com deficiência visual. CURSO LIVRE - LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL Os Centros de Formação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas com Surdez – CAS, têm por objetivo promover a educação bilíngue, através da formação continuada a professores do AEE. Os Núcleos de Atividades para Alunos com Altas Habilidades/Superdotação – NAAH/S, têm como função orientar os sistemas de ensino quanto às necessidades específicas dos alunos com altas habilidades/superdotação. CURSO LIVRE - LEIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição Federal do Brasil de 1988. Disponível em: <www. senado.gov.br/con1988>. Acesso em: 12 abr. 2016. _______. Educação Especial Legislação. 1997. Disponível em: <www.mec. gov.br>. Acesso em: 15 abr.2016 _______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei no. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. D.O.U. de dezembro de 1996. _______. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Documento pelo grupo de trabalho nomeado pela Portaria Ministerial no 555, de 5 de junho de 2007, prorrogada pela Portaria no 948, de 09 de outubro de 2008. Disponível em: <portal.mec.gov.br/ seesp/arquivos/pdf/política.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2016. ______. ParâmetrosCurriculares Nacionais. Brasília. MEC/SEF, 1997. ______. Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica. Brasília.MEC/SEESP, 2001. ______. Plano Nacional de Educação. Brasília. Casa Civil da Presidência da República, 2001. _________ A deficiência auditiva na idade escolar – cartilha. Programa de saúde auditiva. Bauru: H.P.R.L.L.P. USP, FUNCRAF, Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. LUCKASSON, R.; COULTER, D. L.; POLLOWAY, E. A.; REISS, S.; SCHALOCK, R. L.; SNELL, M. E. et al. Mental Retardation – definition, classification, and systems of support. Washington, DC: American Association on Mental Retardation, 1992. ONU. Declaração de Salamanca: princípios, política e prática em educação especial. 1994. Disponível em: <www.direitoshumanos.usp.br>. Acesso em: 26 abr. 2016.
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