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Princípios específicos do Direito do Consumidor APRESENTAÇÃO O Código de Defesa do Consumidor foi elaborado com uma técnica inovadora utilizando princípios e cláusulas gerais. Dentre os princípios mais importantes que o regem encontramos o da boa-fé, vulnerabilidade, confiança, segurança, transparência e equidade. Cada um deles garante a proteção dos consumidores e obriga os fornecedores a buscarem uma conduta em prol da satisfação, comprometimento e harmonia das relações de consumo. Nesta Unidade de Aprendizagem você vai conhecer os Princípios Específicos do Direito do Consumidor. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Diferenciar os princípios específicos do consumidor.• Aplicar os princípios do consumidor no caso concreto.• Explicar a origem Constitucional do Código de Defesa do Consumidor.• DESAFIO A proteção do consumidor tem como viga mestra o princípio da vulnerabilidade conforme consta no CDC. Além do princípio da vulnerabilidade, há outros princípios que norteiam o Direito do Consumidor. Veja o seguinte caso: resolva a luz dos princípios. André procurou seu escritório com o intuito de saber com que fundamento poderia intentar contra a instituição financeira. INFOGRÁFICO Você vai ver no infográfico os Princípios Específicos do Direito do Consumidor. CONTEÚDO DO LIVRO O Código de Defesa do Consumidor possui princípios norteadores que irão fundamentar e amparar qualquer desequilíbrio nas relações de consumo. Para compreender as características de cada um destes princípios, faça a leitura do capítulo Princípios específicos do direito do consumidor, do livro Direito do consumidor. Boa leitura. Conteúdo: DIREITO DO CONSUMIDOR Gustavo Santanna 4 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: • Diferenciar os princípios específicos do consumidor. • Aplicar os princípios do consumidor no caso concreto. • Explicar a origem constitucional do Código de Defesa do Consumidor. INTRODUÇÃO O Código de Defesa do Consumidor foi elaborado utilizando-se de princípios e cláusulas gerais. Dentre os princípios que o regem destaca-se o da boa-fé, o da vulnerabilidade, o da confiança, o da segurança, o da transparência e o da equidade. Cada um deles garante a proteção dos consumidores e obriga os fornecedores a buscarem uma conduta em prol da satisfação, comprometimento e harmonia das relações de consumo. Nesta Unidade de Aprendizagem você vai conhecer os Princípios Específicos do Direito do Consumidor. ORIGEM CONSTITUCIONAL DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR O Código de Defesa do Consumidor, criado através da Lei nº 8.078/90, objetivou a regulamentação do direito fundamental de proteção das relações de consumo, o qual vem garantido no art. 5º, XXXII, da Constituição Federal. A Previsão Constitucional, que coloca a defesa do consumidor no título reservado aos direitos e garantias fundamentais, demonstra a preocupação do legislador em tutelar o hipossuficiente, a parte vulnerável da relação de consumo: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; 5 Ao prever que caberá ao Estado a defesa do consumidor, a Constituição Federal assegura uma atuação positiva do Estado na proteção de tais direitos: Promover significa assegurar afirmativamente que o Estado-Juiz, que o Estado-Executivo e o Estado-Legislativo realizem positivamente a defesa, a tutela dos interesses destes consumidores. É um direito fundamental (direito humano de nova geração, social e econômico) a uma prestação protetiva do Estado, a uma atuação positiva do Estado, por todos os seus poderes: Judiciário, Executivo, Legislativo. É direito subjetivo público geral, não só de proteção contra as atuações do Estado (direito de liberdade ou direitos civis, direito fundamental de primeira geração, em alemão Abwehrrechte), mas de atuação positiva (protetiva, tutelar, afirmativa, de promoção) do Estado em favor dos consumidores (direito a alguma coisa, direito prestacional, direito econômico e social, direito fundamental de nova geração, em alemão Rechte auf positive Handlungen).” (BENJAMIN, 2014, p. 35) Além disso, a defesa do consumidor restou assegurada, também, como princípio geral da atividade econômica, ao vir prevista no art. 170, V, da CF: Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: V - defesa do consumidor. Importante salientar, ainda, a previsão expressa do artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias para que o Código de Defesa do Consumidor fosse estabelecido: Art. 48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor. Assim, o Código de Defesa do Consumidor, criado através da Lei 8.078/90 e nascido de uma disposição constitucional, surge com o objetivo de regular as relações de consumo, dando concretude às regras e princípios relativos à defesa do consumidor, estabelecendo, já em seu art. 1º, que o referido Código é uma norma de ordem pública e de interesse social. 6 PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR A doutrina apresenta alguns princípios específicos com relação ao Código de Defesa do Consumidor, dentre eles: boa-fé, vulnerabilidade, confiança, segurança, transparência e equidade, aos quais passa-se a expor. Princípio da boa-fé O princípio da boa-fé é princípio que vem insculpido no Código Civil, artigo 113, na qual os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Da mesma forma, o artigo 422 coloca que os contratantes são obrigados a guardar, assim, na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. Nessa norma é possível identificar a boa-fé objetiva da subjetiva. A primeira, pautada na probidade, na honestidade e na lealdade. Já a subjetiva, localizada na “consciência” do agente, não se tratando, propriamente, de um princípio, mas, sim, de mero estado psicológico. (MIRAGEM, 2014, p. 134) O INSTITUTO DA BOA-FÉ NO DIREITO CIVIL por Fabio Augusto Generoso SAIBA MAIS No Código de Defesa do Consumidor, a boa-fé aparece já no artigo, 4º, III, impondo ao fornecedor um dever de informar qualificado, protegendo a legítima expectativa gerada pela informação (MIRAGEM, 2014, p. 135). De acordo com James Eduardo Oliveira (2009, p. 48): No âmbito das relações de consumo, tem especial relevo, sobretudo na verificação das expectativas depositadas pelo consumidor. Ao contratar, o fornecedor não assume apenas os deveres expressamente contraídos, pois à luz do Estatuto Protecionista, a vontade não é a única nascente obrigacional: assume também os chamados “deveres anexos” consubstanciados nas obrigações imanentes ao contrato ou impostos pelos bons costumes. (OLIVEIRA, 2009) 7 Como magistralmente já destacou o Superior Tribunal de Justiça, no Recurso Especial nº 1.568.244/RJ, julgado em 14/12/2016: Para evitar abusividades (Súmula nº 469/STJ) nos reajustes das contraprestações pecuniárias dos planos de saúde, alguns parâmetros devem ser observados, tais como (i) a expressa previsão contratual; (ii) não serem aplicados índices de reajuste desarrazoados ou aleatórios, que onerem em demasia o consumidor, em manifesto confronto com a equidade e as cláusulas gerais da boa-fé objetiva e da especial proteção ao idoso, dado que aumentos excessivamente elevados, sobretudo para esta última categoria, poderão, de forma discriminatória, impossibilitar a suapermanência no plano; e (iii) respeito às normas expedidas pelos órgãos governamentais. Princípio da vulnerabilidade O art. 4º, inciso I do CDC, prevê, dentre os princípios informadores da Política Nacional das Relações de Consumo o “reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo”, consagrando, assim, o princípio da vulnerabilidade. O princípio da vulnerabilidade é a base do Direito do Consumidor, eis que é justamente essa vulnerabilidade, essa fragilidade do consumidor nas relações de consumo que fez com que o Direito se preocupasse em tutelar a defesa do consumidor: A existência do direito do consumidor justifica-se pelo reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor. É esta vulnerabilidade que determina ao direito que se ocupe da proteção ao consumidor. (MIRAGEM, 2014, p. 122). O Superior Tribunal de Justiça já se manifestou no sentido de que o princípio da vulnerabilidade é o “princípio motor” da política nacional das relações de consumo e, ainda, que a atuação do Estado deve ocorrer no sentido de minimizar a desigualdade entre as partes: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA. AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO E REPARAÇÃO DE DANOS. AQUISIÇÃO DE CONCHA BRITADORA. HIPOSSUFICIÊNCIA E DESPROPORÇÃO DE FORÇAS ENTRE AS PARTES. RECONHECIMENTO NA ORIGEM. INVERSÃO DO JULGADO. IMPOSSIBILIDADE. VEDAÇÃO AO REEXAME PROBATÓRIO. 8 ENUNCIADO Nº 7 DA SÚMULA DO STJ. INCIDÊNCIA. RELAÇÃO DE CONSUMO. COMPETÊNCIA DO FORO DO DOMICÍLIO DO CONSUMIDOR. POSSIBILIDADE. PRECEDENTE. 1. A pessoa jurídica adquirente de um produto ou serviço pode ser equiparada à condição de consumidora (art. 29 do CDC), por ostentar, frente ao fornecedor, alguma vulnerabilidade que, frise-se, é o princípio-motor da política nacional das relações de consumo (art.4º, I, do CDC). Aplicação temperada da teoria finalista frente às pessoas jurídicas, processo denominado pela doutrina como finalismo aprofundado - Precedentes. 2. Consignada no acórdão a hipossuficiência e a desproporção de forças entre as partes, fica evidenciada a existência de relação de consumo, exigindo à inversão do julgado o vedado reexame do acervo fático- probatório. Incidência do enunciado nº 7 da Súmula do STJ, óbice aplicável por ambas as alíneas do inc. III do art. 105 da Constituição Federal. 3. (...). 4. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp nº 735.249/SC – Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva – julgado em 15/12/2015) DIREITO DO CONSUMIDOR. RECURSO ESPECIAL. VÍCIO DO PRODUTO. AUTOMÓVEIS SEMINOVOS. PUBLICIDADE QUE GARANTIA A QUALIDADE DO PRODUTO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. USO DA MARCA. LEGÍTIMA EXPECTATIVA DO CONSUMIDOR. MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚM. 7/ STJ. 1. O Código do Consumidor é norteado principalmente pelo reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor e pela necessidade de que o Estado atue no mercado para minimizar essa hipossuficiência, garantindo, assim, a igualdade material entre as partes. Sendo assim, no tocante à oferta, estabelece serem direitos básicos do consumidor o de ter a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços (CDC, art. 6°, III) e o de receber proteção contra a publicidade enganosa ou abusiva (CDC, art. 6°, IV). 2. É bem verdade que, paralelamente ao dever de informação, se tem a faculdade do fornecedor de anunciar seu produto ou serviço, sendo certo que, se o fizer, a publicidade deve refletir fielmente a realidade anunciada, em observância à principiologia do CDC. Realmente, o princípio da vinculação da oferta reflete a imposição da transparência e da boa-fé nos métodos comerciais, na publicidade e nos contratos, de forma que esta exsurge como princípio máximo orientador, nos termos do art. 30. 9 3. Na hipótese, inequívoco o caráter vinculativo da oferta, integrando o contrato, de modo que o fornecedor de produtos ou serviços se responsabiliza também pelas expectativas que a publicidade venha a despertar no consumidor, mormente quando veicula informação de produto ou serviço com a chancela de determinada marca, sendo a materialização do princípio da boa-fé objetiva, exigindo do anunciante os deveres anexos de lealdade, confiança, cooperação, proteção e informação, sob pena de responsabilidade. 4. (...). 5. Recurso especial não provido. (REsp nº 1.365.609/SP – Ministro Luis Felipe Salomão – julgado em 28/04/2015) Em que pese muitas vezes serem tratados como sinônimos, há distinção entre a vulnerabilidade e a hipossuficiência. A vulnerabilidade está ligada ao direito material, com presunção absoluta. Já a hipossuficiência, consagrada no artigo 6º, VIII do CDC, se verifica no momento processual, quando o consumidor não tem condições de comprovar, por seus próprios meios, suas alegações, possibilitando a inversão do ônus da prova. FIQUE ATENTO Dessa forma, tem-se que o princípio da vulnerabilidade é aquele princípio que pressupõe a fragilidade absoluta do consumidor frente ao fornecedor, e que embasa a existência de normas de proteção em prol do consumidor, na busca pela igualdade na relação de consumo. Princípio da confiança Sendo um dos princípios mais importantes do direito privado, a proteção à confiança surge como uma resposta à massificação das contratações e das práticas negociais de mercado (MIRAGEM, 2014, p. 238). Muito próximo ao princípio da boa-fé objetiva, a confiança “é, em regra, a base de comportamentos sociais ou jurídicos individuais” e a crença de uma 10 conduta correta por parte dos contratantes, abrangendo “as expectativas de cumprimento de determinados deveres de comportamento” (MIRAGEM, 2014, p. 238). Como já decidiu o Superior Tribunal de Justiça, no Recurso Especial nº 1.269.691/PB: “A empresa que fornece estacionamento aos veículos de seus clientes responde objetivamente pelos furtos, roubos e latrocínios ocorridos no seu interior, uma vez que, em troca dos benefícios financeiros indiretos decorrentes desse acréscimo de conforto aos consumidores, o estabelecimento assume o dever - implícito em qualquer relação contratual - de lealdade e segurança, como aplicação concreta do princípio da confiança”. Princípio da segurança Os produtos ou serviços, uma vez colocados no mercado, devem cumprir o objetivo da segurança, pois “quando se fala em segurança no mercado de consumo, o que se tem em mente é a ideia do risco: é da maior ou menor presença deste que decorre aquela” (BENJAMIN; MARQUES; BESSA, 2014, p. 163). De acordo com o artigo 8º do CDC: Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando- se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito. (CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR) Verifica-se, por oportuno, que o artigo 8º do Código Consumerista, não veda a comercialização de produtos perigosos ou nocivos, exigindo, aí sim, a prestação das devidas informações. Princípio da transparência Também estudado como princípio da informação ou da publicidade, por este princípio a publicidade deve ser veiculada de tal forma que possibilite o consumidor, fácil e imediatamente, a identificá-la como tal, vedadas, assim, publicidades clandestinas e subliminares. De acordo com o artigo 36, parágrafo único do Código de Defesa do Consumidor: “o fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem”. Denominou, nesse caso, a doutrina de “princípio da transparência da fundamentação da publicidade”. (BENJAMIN, MARQUES, BESSA, 2014, p. 278) 11 Destaca José Geraldo Brito Filomeno (2007, p.159): Princípio da transparência. Cuida-se de princípio eminentemente ético e tem por base o dever que é imposto tanto aos anunciantes como aos seus agentes publicitáriose veículos que, ao transmitirem alguma característica especial sobre determinado produto ou serviço, e, caso haja dúvidas a respeito, que a justifiquem tecnicamente. A publicidade pode ser entendida como “toda informação ou comunicação, difundida com o fim direito ou indireto de promover, junto aos consumidores, a aquisição de um produto ou a utilização de um serviço, qualquer que seja o local ou meio de comunicação utilizado”. (BENJAMIN, MARQUES, MIRAGEM, 2010, p. 727) O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do AgRg no REsp nº 1.528.428/MG, em 13/10/2015, tendo como Ministro Relator Herman Benjamin, decidiu que: PROCESSUAL CIVIL E CONSUMIDOR. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. DESNECESSIDADE DE RATIFICAÇÃO DOS EMBARGOS INFRINGENTES APÓS O JULGAMENTO DOS DECLARATÓRIOS, QUANDO NÃO HÁ MODIFICAÇÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO. ALCANCE DO VOTO VENCIDO. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA. NÃO OCORRÊNCIA. PUBLICIDADE ENGANOSA. PUBLICIDADE VEICULANDO ENTREGA DE BRINDES QUE JÁ SE ENCONTRAM ESGOTADOS. PRÁTICA ABUSIVA. (...) 5. Por expressa disposição legal, só respeitam o princípio da transparência e da boa-fé objetiva, em sua plenitude, as informações que sejam “corretas, claras, precisas, ostensivas” e que indiquem, nessas mesmas condições, as “características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados” do produto ou serviço, objeto da relação jurídica de consumo (art. 31 do CDC). 6. In casu, fica evidente que a empresa não agiu com transparência e boa- fé ao deixar de informar em tempo razoável ao consumidor que os brindes se esgotaram em alguns postos de troca, conforme podemos verificar de passagens do acórdão vergastado (fl. 711, e-STJ). (...). (Grifos meus). 12 Princípio da equidade Também conhecido como princípio do equilíbrio, parte do pressuposto da vulnerabilidade do consumidor. Em razão dessa desigualdade, faz-se necessário que as normas (re)equilibrem essa circunstância fática para tentar- se, assim, colocar os contratantes em uma situação de maior paridade. No direito do consumidor, o caráter descritivo desse princípio decorre da interpretação e aplicação das normas do artigo 5º, V e 51, ambos do CDC (MIRAGEM, 2014, p. 137). Esse princípio protege não apenas a relação contratual, alcançando, também, a relação à responsabilidade civil extracontratual, o equilíbrio processual, bem como na proteção do equilíbrio econômico do contrato entre consumidor e fornecedor (MIRAGEM, 2014, p. 138). É possível identificar esse princípio nas normas constantes no artigo 6º, V: “a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas” e 51, § 2º: “A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes” ambos do CDC, por exemplo. O Superior Tribunal de Justiça, no Recurso Especial nº 1.412.662/RS, julgado em 01/09/2016 já decidiu que: RECURSO ESPECIAL. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. PARQUE RESIDENCIAL UMBU. REVISÃO DE CONTRATOS FINDOS. POSSIBILIDADE. DISTRATO À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. RESOLUÇÃO EXTRAJUDICIAL DO NEGÓCIO COM ESTIPULAÇÃO DE CLÁUSULA DE DECAIMENTO. IMPOSSIBILIDADE. NULIDADE DAS CLÁUSULAS ABUSIVAS. 1. A transação é espécie de negócio jurídico que objetiva pôr fim a uma celeuma obrigacional, alcançada por meio de concessões mútuas (CC, art. 840), cujo objetivo primordial é evitar o litígio ou colocar-lhe fim. A extinção se exterioriza na forma de renúncia a direito patrimonial de caráter privado, disponível, portanto, conforme previsto na lei. 2. É firme o entendimento do STJ quanto à possibilidade de revisão dos contratos findos, ainda que em decorrência de quitação, para o afastamento de eventuais ilegalidades. Precedentes. Súm 286 do STJ. 13 3. As normas previstas no Código de Defesa do Consumidor são de ordem pública e interesse social, cogentes e inderrogáveis pela vontade das partes. 4. É cabível a revisão de distrato de contrato de compra e venda de imóvel, ainda que consensual em que, apesar de ter havido a quitação ampla, geral e irrevogável, se tenha constatado a existência de cláusula de decaimento (abusiva), prevendo a perda total ou substancial das prestações pagas pelo consumidor, em nítida afronta aos ditames do CDC e aos princípios da boa- fé objetiva e do equilíbrio contratual. 5. Na hipótese, verifica-se que a Construtora recebeu dupla vantagem advinda da referida cláusula, pois, além de retomar a propriedade do imóvel, dando-o em pagamento de dívidas ao Município, acabou por se apoderar do dinheiro pago pelo consumidor no financiamento do bem, configurando vantagem abusiva em seu favor. 6. Recurso especial não provido.(REsp 1.412.662/RS - Ministro Luis Felipe Salomão) (Grifos meus). 14 REFERÊNCIAS BENJAMIN, Antonio Herman V.; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. 6.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. _________; ________; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 3.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. FILOMENO, José Geraldo Brito. Curso fundamental de direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2007. MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. 5.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014. OLIVEIRA, James Eduardo. Código de defesa do consumidor: anotado e comentado. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2009. Conteúdo: DICA DO PROFESSOR O Código de Defesa do Consumidor teve sua origem na Constituição Federal de 1988. Conheça no vídeo os artigos constitucionais deste que foi a Legislação Especial inovadora do nosso ordenamento jurídico. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendido, dentre outros, o princípio da ação governamental, que se manifesta: A) Pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho B) Pela presença do Estado no mercado estrangeiro. C) Pelo monopólio estrangeiro no mercado nacional. D) Pelo incentivos à criação e desenvolvimento de associações lucrativas. E) Pela iniciativa indireta. 2) Assinale, abaixo, a única alternativa correta. A) A informação não é direito básico do consumidor. B) O reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor é um dos princípios do Código de Defesa do Consumidor. C) O Código de Defesa do Consumidor reconhece e dá tratamento isonômico ao consumidor e ao fornecedor. D) O Código de Defesa do Consumidor é considerado lei geral, enquanto que o Código Civil lei especial. E) É válida cláusula elaborada pelo fornecedor, onde expressamente impeça o consumidor, que venha a celebrá-lo, de reclamar seus direitos perante o Judiciário. 3) No rol dos princípios que podem ser aplicados às relações de consumo reguladas pelo Código de Defesa do Consumidor se inclui: A) Força obrigatória dos contratos. B) Confiança. C) Autonomia da vontade. D) Efeito relativo do contrato. E) In dubio pro fornecedor. 4) (Juiz do Trabalho - RJ - 2015). Sob a visão clássica, cinco são os princípios que regem o direito contratual. A relação de consumo é ajustada por contrato e aqueles princípios também a ela se aplicam. Contudo, em face da natureza da relação de consumo, alguns desses princípios têm seu valor reduzido, enquanto outros assumem relevância. Tem relevância para a relação de consumo, o seguinte princípio do direito contratual: A) Da ordem pública. B) Da relatividade dos contratos. C)Da boa-fé. D) De obediência às regras mercantis. E) Da autonomia da vontade. 5) (Exame de ordem 2013). Maria e Manoel, casados, pais dos gêmeos Gabriel e Thiago, que têm apenas três meses de vida, residem há seis meses no Condomínio Vila Feliz. O fornecimento do serviço de energia elétrica na cidade onde moram é prestado por uma única concessionária, a Companhia de Eletricidade Luz S.A. Há uma semana, o casal vem sofrendo com as contínuas e injustificadas interrupções na prestação do serviço pela concessionária, o que já acarretou a queima do aparelho de televisão e da geladeira, com a perda de todos os alimentos nela contidos. O casal pretende ser indenizado. Nesse caso, à luz do princípio da vulnerabilidade previsto no Código de Proteção e Defesa do Consumidor, assinale a afirmativa que esteja de acordo. A) Prevalece o entendimento jurisprudencial no sentido de que a vulnerabilidade no Código do Consumidor é sempre presumida, tanto para o consumidor pessoa física, Maria e Manoel, quanto para a pessoa jurídica, no caso, o Condomínio Vila Feliz, tendo ambos direitos básicos à indenização e à inversão judicial automática do ônus da prova. B) A doutrina consumerista dominante considera a vulnerabilidade um conceito jurídico indeterminado, plurissignificativo, sendo correto afirmar que, no caso em questão, está configurada a vulnerabilidade fática do casal diante da concessionária, havendo direito básico à indenização pela interrupção imotivada do serviço público essencial. É dominante o entendimento no sentido de que a vulnerabilidade nas relações de consumo é sinônimo exato de hipossuficiência econômica do consumidor. Logo, basta ao casal C) Maria e Manoel demonstrá-la para receber a integral proteção das normas consumeristas e o consequente direito básico à inversão automática do ônus da prova e à ampla indenização pelos danos sofridos. D) A vulnerabilidade nas relações de consumo se divide em apenas duas espécies: a jurídica ou a científica e a técnica. Aquela representa a falta de conhecimentos jurídicos ou outros pertinentes à contabilidade e à economia, e esta, à ausência de conhecimentos específicos sobre o serviço oferecido, sendo que sua verificação é requisito legal para inversão do ônus da prova a favor do casal e do consequente direito à indenização. E) No sistema das relações de consumo reguladas pelo Código de Defesa do Consumidor, a identificação de que existe um elo mais fraco na relação traduz o reconhecimento da transparência. NA PRÁTICA Tendo em mente os Princípios Específicos do Direito do Consumidor, veja o caso em questão. Percebemos neste caso, além do princípio da boa-fé, o da confiança sendo violados. Todas as expectativas da consumidora foram frustradas, ensejando direito de reparação, pois ela estava plenamente vulnerável, visto que estava num país estrangeiro, sem domínio da língua e abandonada por aqueles que prometeram, através de contrato, ampará-la. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Princípios do Código de Defesa do Consumidor Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! O direito à informação no Código de Defesa do Consumidor e à inclusão do deficiente visual Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! A inversão do ônus da prova no Código de Defesa do Consumidor Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! A inversão do ônus da prova no novo Código de Processo Civil (Lei 13.105 de 16/03/2015) Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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