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GRADUAÇÃO 2019.2 TIPOS SOCIETÁRIOS AUTOR: JOÃO MANOEL DE LIMA JUNIOR Sumário Tipos Societários 1. ABERTURA ......................................................................................................................................................3 1.1 AULA 1 – APRESENTAÇÃO DO CURSO..................................................................................................................3 2. TIPOS SOCIETÁRIOS ...........................................................................................................................................6 2.1 AULAS 2 E 3 – CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES ....................................................................................................6 2.2 AULAS 4 E 5 – TIPOS SOCIETÁRIOS MENORES EXISTENTES NO DIREITO BRASILEIRO.......................................................14 2.3 AULA 6 – TIPOS DE SÓCIO .............................................................................................................................16 3. INTRODUÇÃO ÀS SOCIEDADES LIMITADAS EMPRESÁRIAS ...........................................................................................18 3.1 AULA 7 – SOCIEDADE LIMITADA – ORIGEM, OBJETIVO E CARACTERÍSTICAS .................................................................18 3.2 AULAS 8 E 9 – SOCIEDADE LIMITADA – CARACTERÍSTICAS E DELIBERAÇÕES SOCIAIS ......................................................21 3.3 AULAS 10 E 11 - SOCIEDADE LIMITADA – ADMINISTRAÇÃO .....................................................................................31 3.4 AULA 12 – SOCIEDADE LIMITADA – COLIGAÇÃO SOCIETÁRIA, CONSELHO FISCAL, PREPOSTOS ..........................................38 3.5 AULA 13 – SOCIEDADE LIMITADA – CONCENTRAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO SOCIETÁRIA .................................................44 4. REGIME JURÍDICO DA EIRELI ..............................................................................................................................51 4.1 AULA 14 – FORMAS DE EXERCÍCIO SINGULAR DA ATIVIDADE ECONÔMICA ORGANIZADA .................................................51 4.2 AULA 15 – REGIME JURÍDICO DA EIRELI ............................................................................................................53 5. INTRODUÇÃO ÀS SOCIEDADES EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO ........................................................................................56 5.1 AULAS 16 E 17 – INTRODUÇÃO ÀS SOCIEDADES EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO ..............................................................56 5.2 AULA 18 – APLICAÇÕES PRÁTICAS DA SCP .........................................................................................................57 6. INTRODUÇÃO ÀS SOCIEDADES ANÔNIMAS ..............................................................................................................75 6.1 AULA 19 – SOCIEDADE ANÔNIMA – CONCEITO E ASPECTOS BÁSICOS .........................................................................75 6.2 AULAS 20 A 22 – SOCIEDADE ANÔNIMA – AÇÕES E CAPITAL SOCIAL ..........................................................................77 6.3 AULA 23 – SOCIEDADE ANÔNIMA – PRINCIPAIS REGRAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA DAS COMPANHIAS ABERTAS ...........82 7. ENCERRAMENTO DA ATIVIDADE EMPRESARIAL .......................................................................................................88 7.1 AULA 24 – BAIXA DO REGISTRO DO EMPRESÁRIO INDIVIDUAL E PROCEDIMENTOS DE DISSOLUÇÃO, LIQUIDAÇÃO E EXTINÇÃO DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA ..................................................................................................................................88 TIPOS SOCIETÁRIOS 3FGV DIREITO RIO 1. ABERTURA 1.1 AULA 1 – APRESENTAÇÃO DO CURSO APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR OBJETIVO GERAL DO CURSO Capacitar os(as) estudantes para reconhecer e buscar soluções para os principais problemas jurídicos decorrentes do exercício de uma atividade econômica organizada por sociedades empresárias. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Conhecer os aspectos legais, principais mecanismos de governança e as controvérsias relacionadas ao exercício da atividade empresária segundo os modelos e regimes jurídicos societários disponíveis no direito brasileiro (tais como as sociedades limitadas, sociedades anônimas e as sociedades em conta de participação). Analisar o regime jurídico das sociedades limitadas e anônimas. Desenvolver o raciocínio jurídico com a análise de casos práticos e, sempre que possível, a realização de atividades em sala de aula. MÉTODO O método preponderante do curso será o de encontros expositivos- dialogados. Contudo, poderão ser adotados outros tipos de encontros ou dinâmicas de grupo por ventura considerados mais adequados aos objetivos específicos de cada aula. AVALIAÇÃO A avaliação do curso será realizada por meio de duas provas e da nota de participação. TIPOS SOCIETÁRIOS 4FGV DIREITO RIO Cada prova valerá até 10.00 pontos, a nota final da disciplina será (a) a média aritmética das notas obtidas pelo(a) aluno(a) nas duas provas. Caso algum(a) aluno(a) perca uma das provas, poderá realizar a segunda chamada. Os(as) alunos(as) que obtiverem média final maior ou igual à 4.00 e menor ou igual à 7.00, deverão realizar a prova final da disciplina. NOTAS INTRODUTÓRIAS O presente material didático foi elaborado (e está em constante reelaboração) com base na modestíssima premissa de funcionar como uma primeira leitura, básica e deveras introdutória, de direito empresarial. A presente apostila terá atingido seu objetivo se conseguir levar o(a) seu(sua) leitor(a) a buscar o estudo e a análise detida do ordenamento jurídico comercial brasileiro, da doutrina jurídica comercialista nacional e da jurisprudência pátria sobre as atividades econômicas organizadas. Com base na premissa acima identificada vale a pena colacionar, pela pertinência e atualidade, a seguinte lição do Prof. Theophilo de Azeredo Santos: “PALAVRAS INICIAIS Os Manuais Jurídicos, de largo uso na França (Précis, Leçons, Cours) e na Itália (Lezioni, Corso, Appunti) são textos reduzidos e sistematizados dos conceitos fundamentais em que se inspira a disciplina versada. Nos países em desenvolvimento, é patente a dificuldade de os alunos adquirirem as obras reclamadas pelos professores, em face do preço sempre crescente das obras didáticas, em função do custo do papel. Além do mais, a extensão da disciplina, o despreparo, a falta de intimidade com o termos técnico-jurídicos, a ausência de estudos sistemáticos por parte dos alunos tornam o ensino difícil, sem objetividade e, para alguns, pode-se dizer, inútil, em virtude da impossibilidade de a matéria ser assimilada. A redação deste trabalho tem por escopo levar ao corpo discente os princípios fundamentais, as noções básicas da disciplina que lecionamos, iniciar os alunos no estudo do Direito Comercial, abrindo-lhes perspectivas para estudo mais aprofundado. TIPOS SOCIETÁRIOS 5FGV DIREITO RIO Temos sustentado – e o correr dos anos aprofunda nossa convicção – que as Faculdades de Direito não têm por finalidade formar juristas, mas ajudar os alunos a estudar, a compreender os diversos ramos da ciência jurídica, facilitando-lhes a percorrer, no futuro, com maior profundidade, os mais diversos e complexos problemas que a vida profissional lhes possa apresentar. Este Manual – singelo no fundo e na forma – não tem a pretensão de fazer de cada aluno um comercialista. Trata-se de esforço pedagógico que tem por destinatário os alunos das Faculdade de Direito e por finalidade oferecer, de maneira metódica e em linguagem acessível, as noções básicas do Direito Comercial brasileiro, sem a pretensão se inovar ou levantar novas teorias. Não compreendemos ensino jurídico divorciado da realidade, razão pela qual a parte prática (formulários, problemas, sínteses da jurisprudência de nossos tribunais) há de contribuir para a melhor compreensão dos ensinamentos teóricos. A apreensão dalegislação em vigor evitará, por parte dos alunos, a procura, às vezes difícil, do texto legislativo vigente. É óbvio que o estudo deste Manual não implica no abandono, dos excelentes trabalhos de J. X. Carvalho de Mendonça, Waldemar Ferreira, João Eunápio Borges e muitos outros, pois traçamos, tão somente, um roteiro, a fim de facilitar os estudos e pesquisas posteriores. E dos Mestres e comercialistas aguardamos as sugestões para tornar nosso trabalho à altura de suas finalidades. ” (Destaques no original) SANTOS, Theophilo de Azeredo (1970) Manual de Direito Comercial. 3ª Edição. São Paulo: Forense. TIPOS SOCIETÁRIOS 6FGV DIREITO RIO 2. TIPOS SOCIETÁRIOS 2.1 AULAS 2 E 3 – CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES As sociedades reconhecidas pelo direito brasileiro podem ser classificadas com base em diversos critérios diferentes. Os principais critérios de classificação são: 1. Quanto à espécie; 2. Quanto à personalidade jurídica; 3. Quanto ao tipo de ato constitutivo; 4. Quanto à pessoa dos sócios; 5. Quanto ao regime de responsabilidade dos sócios; 6. Quanto à nacionalidade; e 7. Quanto ao prazo de duração. CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES QUANTO À ESPÉCIE: Segundo este critério de classificação, as sociedades podem ser “simples” ou “empresárias”. As sociedades simples são aquelas que não detém o elemento de empresa, ou seja, a consecução de seu objeto social não exige o exercício de atividade econômica organizada. OBS.: A distinção entre sociedades simples e empresárias adotada pelo CCB substituiu a antiga distinção que existia entre as sociedades civis (regidas pelo direito civil) e as sociedades comerciais (regidas pelo direito comercial) até a promulgação do CCB. Nos termos do artigo 982 do CCB, são sociedades: Sempre são empresárias: as sociedades anônimas (artigos 1.088 e 1.089 do CCB e Lei das S.A.) e as sociedades em comandita por ações (artigos 1.090 e 1.092 do CCB e Lei das S.A.); e Sempre são simples: as sociedades cooperativas (art. 982, parágrafo único, e arts. 1.093 a 1.096 do CCB e art. 3º da Lei 5.764/71) e quaisquer sociedades que não tenham o elemento de empresa (sociedade simples pura) ou que sejam consideradas como sociedades simples por força de lei (sociedade de advogados, por exemplo). TIPOS SOCIETÁRIOS 7FGV DIREITO RIO Podem ser sociedades simples ou empresárias: as sociedades em nome coletivo (arts. 1.039 a 1.044 do CCB), as sociedades em comandita simples (arts. 1.045 a 1.051 do CCB) e as sociedades limitadas (arts.1.082 a 1.087 do CCB). Nas sociedades que devem obrigatoriamente adotar a espécie simples ou empresária, há uma presunção legal absoluta (juris et de jure) quanto à eventual (in)existência de elemento de empresa. Os atos constitutivos e demais atos societários das sociedades simples são registrados perante o Registro Civil das Pessoas Jurídicas – RCPJ e os atos constitutivos e demais atos societários das sociedades empresárias são registrados perante a Junta Comercial competente. As Juntas Comerciais são órgãos da administração pública estadual que estão materialmente vinculadas à administração pública federal, pois seus procedimentos devem seguir as diretrizes estabelecidas nas instruções normativas do Departamento de Registro Empresarial e Integração – DREI, que é uma repartição vinculada ao Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços – MDIC. Obs.: As sociedades de advogados são simples por força do artigo 15 da Lei 8.906/94 e devem ser registradas perante a Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil da localidade da sede da sociedade de advogados. Desde 2016, os advogados podem constituir sociedades unipessoais de advocacia, conforme as alterações introduzidas pela Lei nº 13.247 na Lei 8.906/94. Esta inovação é importante porque marca o primeiro tipo de sociedade unipessoal reconhecida no direito societário brasileiro. CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES QUANTO À PERSONALIDADE JURÍDICA: Podem ser personificadas ou despersonificadas. Inicialmente, vale ressaltar que as sociedades, devidamente registradas perante o RCPJ ou Junta Comercial, constituem um dos tipos de pessoas jurídicas reconhecidas pelo direito brasileiro, nos termos do inciso II do artigo 44 do CCB. As sociedades têm fins econômicos e são formadas por sócios, ao passo que as associações (artigo 44, inciso I, do CCB) não têm fins econômicos e são formadas por associados e as fundações (artigo 44, inciso III do CCB) não têm fins econômicos e são formadas por um instituidor. TIPOS SOCIETÁRIOS 8FGV DIREITO RIO As sociedades personificadas têm o seu ato constitutivo registrado e as sociedades despersonificadas não. O registro empresarial tem natureza jurídica constitutiva e é essencial para conferir à nova pessoa jurídica a autonomia necessária para segregar a sociedade das esferas patrimonial, obrigacional e processual de seus sócios (arts. 45, 985 e 1.150 do CCB). Após o registro, a sociedade adquire a sua própria autonomia patrimonial, obrigacional e processual. São sociedades NÃO personificadas, ou seja, que não têm contrato registrado perante o registro competente: De modo temporário, as sociedades em comum (arts. 986 a 990 do CCB). De modo permanente, as sociedades de fato e as sociedades em conta de participação (arts. 991 a 996 do CCB). As sociedades de fato são aquelas onde os sócios começam a agir como se tivessem formalizado uma relação societária, porém não firmam contrato e o levam ao registro competente. Assim, os sócios aparentam ter uma sociedade (uma relação “fática”, portanto), mas não a tem formalizada juridicamente (sem uma relação “jurídica”, portanto). Vale ressaltar que as sociedades de fato não constituem um tipo societário, pois se trata de uma classificação doutrinária para uma situação observada na prática empresarial. Obs.: A sociedade em conta de participação não adquire é personalidade jurídica nem mesmo se seus atos constitutivos forem levados à registro (art. 993 do CCB) ou se for registrada perante o Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas – CNPJ para fins tributários (Inciso XVII do artigo 4º da Instrução Normativa nº 1.634, expedida pela Secretaria da Receita Federal do Brasil – RFB em 06 de maio de 2016. CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES QUANTO À PESSOA DOS SÓCIOS: Segundo este critério as sociedades podem ser classificadas de acordo com os interesses predominantes dos sócios no momento do ingresso e permanência na sociedade. Nas sociedades de pessoas, prepondera o elemento pessoal, ou seja, o ânimo subjetivo dos sócios de compartilhar os riscos da atividade econômica entre si (affectio societatis). Nas sociedades de capitais, prepondera o elemento financeiro, ou seja, apesar dos sócios também ter affectio societatis, a mera relação patrimonial que se estabelece entre os sócios e a sociedade é mais importante que qualquer relação pessoal que eventualmente (in)exista entre os sócios. TIPOS SOCIETÁRIOS 9FGV DIREITO RIO A sociedade anônima, cujo capital é constituído por ações e não por quotas é a sociedade de capitais por excelência. Contudo, a distinção entre as sociedades de capital e de pessoas vem perdendo força na medida em que passou a ser admitida a livre circulação das quotas (art. 1.003 do CCB) e, alguns institutos típicos das sociedades de pessoas vêm sendo admitidos nas sociedades de capitais. Por exemplo, cita-se a dissolução parcial das sociedades anônimas fechadas (Vide, o Recurso Especial nº 1.400.264 – RS, julgado pelo STJ em 24.10.17). CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES QUANTO AO TIPO DE ATO CONSTITUTIVO: As sociedades podem ser contratuais ou institucionais/estatutárias. As sociedades contratuais são constituídas por meio de contratos privados mantido entre os sócios, ao passo que as sociedades institucionais a sociedade é constituída e formalizada por meio de um estatuto. A distinção básica entre as sociedades contratuais e as institucionais está na proximidade e vínculo que existe entre os sócios e a sociedade, que são altos nas sociedadescontratuais e podem ser baixos nas sociedades institucionais/estatutárias. Por exemplo, em uma sociedade contratual com dois sócios administradores, o falecimento ou a retirada de um terá um impacto muito grande nos negócios sociais, ao passo que em uma sociedade institucional constituída por centenas de sócios, o falecimento ou a retirada de um poderá ter impacto nulo nos negócios sociais. São contratuais as sociedades simples (art. 997 do CCB), em nome coletivo (artigos 997 e 1.041 do CCB), comandita simples (artigos 997, 1.040, 1.045, parágrafo único, e 1.046 do CCB) e limitada (artigos 997, 1.053, parágrafo único, e 1.054 do CCB). São institucionais as sociedades por ações: sociedade anônima e sociedade em comandita por ações (artigos 87, 94 e 251 da Lei das S.A.). Estas sociedades são constituídas por meio de decisão em assembleia geral de constituição e aprovação de um estatuto social. Obs.: É importante distinguir o instituto (contrato), acordo de vontades, do instrumento (meio físico) por meio do qual o contrato é formalizado. Deste modo, os contratos ou estatutos sociais podem ser firmados por instrumento particular ou por escritura pública. TIPOS SOCIETÁRIOS 10FGV DIREITO RIO CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES QUANTO AO REGIME DE RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS Para classificação das sociedades em relação ao regime de responsabilidade dos sócios, deve-se, primeiro, verificar se as sociedades em questão são personificadas ou não personificadas. Para as sociedades personificadas, existem os regimes de responsabilidade ilimitada, limitada ou mista. Nas sociedades cuja responsabilidade dos sócios seja ilimitada, todos os sócios respondem pela integralidade das obrigações sociais. Deste modo, a esfera patrimonial de qualquer dos sócios poderá ser objeto de constrição judicial para cobrir qualquer passivo à descoberto da sociedade. Nas sociedades cuja responsabilidade dos sócios seja limitada, os sócios somente responderão até o limite de sua participação no capital social da sociedade. Nas sociedades que adotem regime misto de responsabilidade financeira dos sócios, alguns sócios respondem ilimitadamente e outros respondem de forma limitada. Entre as sociedades personificadas, tem responsabilidade ilimitada, os sócios da sociedade em nome coletivo (art. 1.039 do CCB) e os sócios das sociedades simples cujo contrato social seja omisso em relação à limitação da responsabilidade dos sócios (artigos 997, inc. VIII, 1.023 e 1.024). Obs.: A regra geral de responsabilidade dos sócios nas sociedades simples, é de responsabilidade ilimitada e subsidiária (artigos 1.023 e 1.024 do CCB), porém o contrato social pode prever que a responsabilidade dos sócios é (a) ilimitada e solidária; ou (b) limitada. É importante diferenciar a previsão da limitação da responsabilidade dos sócios no contrato social da adoção do tipo societário da sociedade limitada. No primeiro caso, a responsabilidade é limitada, mas as regras aplicáveis à sociedade são os artigos 997 a 1.038 do CCB. No segundo caso, a responsabilidade é limitada, mas as regras aplicáveis à sociedade são os artigos 1.052 a 1.141 do CCB e, supletivamente, as regras aplicáveis às sociedades simples (regra geral do direito societário brasileiro). Entre as sociedades personificadas, tem responsabilidade limitada os sócios da sociedade das sociedades limitadas (art. 1.052 do CCB) e os sócios das sociedades anônimas (art. 1.088 do CCB). TIPOS SOCIETÁRIOS 11FGV DIREITO RIO Também podem ter responsabilidade limitada os sócios das sociedades simples cujo contrato social preveja expressamente a responsabilidade limitada dos sócios (art. 997, inc. VIII, do CCB). Entre as sociedades personificadas, as sociedades em comandita simples (art. 1.045 do CCB) e as sociedades em comandita por ações (art. 1.091 do CCB e art. 282 da Lei das S.A.) tem um regime misto de responsabilidade dos sócios. O regime é misto porque existem duas categorias diferentes de sócios, os comanditados (com responsabilidade ilimitada) e os comanditários com responsabilidade limitada ao valor de suas quotas. O artigo 1.045 do CCB ilustra bem a distinção entre as categorias: Art. 1.045. Na sociedade em comandita simples tomam parte sócios de duas categorias: os comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais; e os comanditários, obrigados somente pelo valor de sua quota. Obs.: a responsabilidade ilimitada dos sócios comanditados nas sociedades em comandita simples é solidária e em comandita por ações é subsidiária. Esta diferença resulta na impossibilidade de recurso aos bens dos sócios comanditado nas sociedades em comandita por ações sem que antes tenham sido esgotadas as possibilidades de cobrança judicial dos bens da sociedade. Entre as sociedades não personificadas, todos os sócios da sociedade em comum têm responsabilidade ilimitada e solidária (art. 990 do CCB) e as sociedades em conta de participação têm um regime misto de responsabilidade (art. 991 do CCB). Obs.: Com base na regra geral de direito societário brasileiro (a regra aplicável às sociedades simples), o sócio da sociedade em comum que contrata pela sociedade fica excluído do benefício de ordem (art. 1.024 do CCB), podendo ser demandando judicialmente ou extrajudicialmente pelo credor da sociedade independentemente de qualquer cobrança à própria sociedade. O regime de responsabilidade dos sócios das sociedades em conta de participação é misto porque essa sociedade também tem duas categorias diferentes de sócios: os sócios ostensivos e os sócios ocultos (ou sócios participantes). TIPOS SOCIETÁRIOS 12FGV DIREITO RIO O sócio ostensivo contrata em nome próprio e, por isso, responde perante terceiros não sócios de forma solidária e ilimitada (art. 991 do CCB). Por outro lado, os sócios ocultos respondem de forma limitada ao valor de suas quotas e exclusivamente perante o sócio ostensivo. Ou seja, os sócios participantes não podem ser demandados por terceiros credores da sociedade em conta de participação. CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES QUANTO À NACIONALIDADE Com base no critério da nacionalidade da sociedade, as sociedades se dividem em sociedades nacionais (arts. 1.126 a 1.133 do CCB) e em sociedades estrangeiras (arts. 1.134 a 1.141 do CCB). Segundo este critério, são consideradas nacionais as sociedades que tenham sido organizadas em conformidade com a lei brasileira e que tenham as sedes de sua administração no Brasil. CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES QUANTO AO PRAZO DE DURAÇÃO Quanto ao prazo de duração, as sociedades se classificam em sociedades com prazo determinado ou indeterminado, conforme definido nos seus atos constitutivos. A distinção das sociedades quanto ao prazo de duração ganha especial relevância nas deliberações dos sócios sobre a dissolução, prorrogação ou retirada do quadro de sócios da sociedade (arts. 1.029 e 1.033, inciso III, do CCB). TIPOS SOCIETÁRIOS 13FGV DIREITO RIO TIPO SOCIETÁRIO PODE ADMINISTRAR NÃO PODE ATO DE NOMEAÇÃO Simples Sócio ou não (art. 997, inc. VI + art. 1.013) Impedidos por lei (art. 1.011, § 1) Contrato/ato separado (art. 1.012) Nome coletivo Somente sócios(art. 1.042) Impedidos por lei (art. 1.011, § 1° + art. 1.040) Contrato/ato separado (art. 1.040+ art. 1.012) Comandita simples Sócios comanditados(art. 1.046 +1.047) Sócios comanditários (art. 1.047) Impedidos por lei (art. 1.011, § 1°) Contrato/ato separado (art. 1.040 + art. 1.012 + art. 1.046) Sociedade Anônima Acionista ou não (art. 146, LSA) Impedidos por lei (art. 147, § 1°, LSA) Conselho de Administração – AGE (art. 140, LSA) Diretoria – AGE ou CA (art. 143, LSA) Comandita por ações Acionistas comanditados (art. 1.091 do CCB + art. 282, LSA) Não acionistas (art. 280, LSA) / impedidos por lei (art. 147, § 1°, LSA) Estatuto social (art. 282, § 1°, LSA) Limitada Sócio ou não (conforme definido no contrato) (art.1.060 + art. 1.061) impedidos por lei (art. 1.053 + art. 1.011, § 1°) Contrato/ato separado (art. 1.053 + art. 1.060 + art. 1.061) LEITURA SUGERIDA BORBA, José Edwaldo Tavares (2011) Sociedade simples e sociedade empresária. A nova classificação das sociedades. A teoria da empresa. Sociedades simples e sociedades empresárias. O sistema de registro. (Parecer) Disponível em: http://www.tavaresborba.com.br/wp-content/ uploads/2011/11/artigo02.pdf. Data de acesso: 28 de fevereiro de 2018. MARCONDES, Sylvio (1970) Problemas de direito mercantil. 2ª Tiragem. São Paulo: Max Limonad. TIPOS SOCIETÁRIOS 14FGV DIREITO RIO 2.2 AULAS 4 E 5 – TIPOS SOCIETÁRIOS MENORES EXISTENTES NO DIREITO BRASILEIRO O objetivo das destas aulas é discutir as principais características gerais, diferenças e semelhanças entre os tipos societários que estão previstos no Código Civil de 2002, mas são menos comuns na prática das sociedades empresárias. A proposta desta análise comparativa é identificar quais seriam, nos dias atuais, as vantagens e desvantagens da utilização de cada um destes tipos societários como veículo jurídico para o desempenho de atividades econômicas. Resumo das principais características dos tipos societários menores: TIPOS SOCIETÁRIOS 15FGV DIREITO RIO T ip o so ci et ár io / ca ra ct er ís ti ca s So ci ed ad e em n om e co le ti vo So ci ed ad e em c om an di ta s im pl es So ci ed ad e em c om an di ta p or a çõ es R eg ul am en ta çã o pr in ci pa l Ar tig os 1 .0 39 a 1 .0 44 d o C C B Ar tig os 1 .0 45 a 1 .0 51 d o C C B Le i 6 .4 04 /7 6 e ar tig os 1 .0 90 e 10 92 d o C C B R eg ra s s up le tiv as R eg ra s d as so ci ed ad es si m pl es (a rt ig os 9 97 a 1 .0 38 d o C C B) R eg ra s d as so ci ed ad es si m pl es (a rt ig os 9 97 a 1 .0 38 d o C C B) C ód ig o ci vi l N at ur ez a Si m pl es /E m pr es ár ia Si m pl es /E m pr es ár ia Em pr es ár ia R eg im e de re sp on sa bi lid ad e Ú ni co M ist o M ist o Só ci os Pe ss oa s n at ur ai s Pe ss oa s n at ur ai s o u ju ríd ic as Pe ss oa s n at ur ai s o u ju ríd ic as R es po ns ab ili da de d os só ci os Ili m ita da C om an di ta do – Il im ita da C om an di tá rio s – li m ita da C om an di ta do – Il im ita da C om an di tá rio s – li m ita da Ad m in ist ra çã o So m en te só ci os So m en te c om an di ta do s So m en te a ci on ist as Id en tif ic aç ão Fi rm a Fi rm a Fi rm a/ D en om in aç ão C on sti tu iç ão Pr iv ad a Pr iv ad a Pú bl ic a/ Pr iv ad a TIPOS SOCIETÁRIOS 16FGV DIREITO RIO 2.3 AULA 6 – TIPOS DE SÓCIO Em primeiro lugar é importe diferenciar a figura do sócio e da figura empresário. O empresário analisado anteriormente é o titular da empresa (atividade), ao passo que o sócio é membro de uma sociedade empresária, essa sim é a titular da empresa. Essa distinção é importante porque delimita o regime de responsabilidade do empresário e o regime de responsabilidade da sociedade empresária. Um bom exemplo da diferença entre um sócio e um empresário é que pessoas impedidas de exercer a atividade empresária podem vir a ser sócias de sociedade empresárias. Vide, por exemplo, o disposto no artigo 974 do CCB que obriga as juntas comerciais a registrarem os atos societários das sociedades que tenham pessoas incapazes integrantes de seu quadro de sócios, desde que o incapaz: (1) não exerça a administração da sociedade; (2) o capital esteja totalmente integralizado; e (3) o sócio incapaz (relativamente ou absolutamente) seja assistido ou representado por seus representantes legais. Uma vez feita a breve introdução acima, é importante destacar que do ponto de vista jurídico doutrinário não existe propriamente uma classificação rígida entre os sócios de sociedades empresárias. O que existe são características típicas de cada sócio definidas pelo tipo societário da sociedade em questão (como, por exemplo, as sociedades em conta de participação e em comandita simples ou por ações – que têm dois tipos de sócios diferentes. Respectivamente, os sócios ostensivos e ocultos e os sócios comanditados e comanditários) ou agrupamentos de sócios com base em comunidades de interesses próximos, por exemplo: • sócios controladores – que tem a prerrogativa de eleger a maioria dos administradores da sociedade e a sua vontade prevalece nas deliberações. • sócios integrantes de acordos de sócios ou de bloco de controle – sócios que se reúnem em contrato parassocial com a finalidade de exercer conjuntamente o poder de controle social. Estes sócios, mesmos reunidos contratualmente, podem ter interesses bastante divergentes entre si. Por exemplo, um investidor de private equity pode adquirir uma participação minoritária no capital social de uma sociedade investida e exigir participar do bloco de controle para conseguir exercer influência na administração da sociedade. • sócios-administradores – os sócios que participam do capital TIPOS SOCIETÁRIOS 17FGV DIREITO RIO social e que exercem atividades na administração das sociedades. Nas sociedades limitadas, costumam ser os sócios controladores, inexistindo separação efetiva entre a titularidade do capital social e o exercício do poder de controle. • sócios que sejam membros de um grupo familiar – sócios que sejam integrantes de uma mesma família e, portanto, tem, no mínimo, três feixes de interesses que se intercruzam e devem ser balanceados, os interesses pessoais do próprio sócio, os interesses familiares de preservação do patrimônio e continuidade da família e os interesses de geração de caixa e administração da sociedade. • sócios minoritários – sócios titulares de parcelas do capital social que são insuficientes para lhes assegurar a participação efetiva na tomada das decisões sociais e na administração da sociedade. • sócios de serviço – sócios cuja a contribuição para a sociedade se dá apenas com o fator de produção trabalho e, por isso, não aportam recursos para a formação do capital social da sociedade. No direito societário vigente, somente sociedades simples podem ter sócios de serviço. • sócios de capital ou rentistas – sócios que aportam recursos financeiros na sociedade, mas não participam da administração, podem ter interesses financeiros de curto prazo que se contrapõem aos interesses de longo prazo da sociedade. • A classificação didática indicada acima foi feita com base no pertencimento familiar e na participação no capital social ou na administração da sociedade. Porém, existem outros critérios para identificar os tipos de sócios de uma determinada sociedade que são relevantes para a identificação da dinâmica interna de funcionamento da sociedade. A dinâmica interna de funcionamento da sociedade depende fundamentalmente (1) dos interesses pessoais e profissionais de cada sócio e (2) dos alinhamentos e desalinhamentos de interesses entre os sócios e a sociedade. LEITURA SUGERIDA SZTUTMAN, Henry (2013) Quem tem sócio tem patrão. In. Revista Capital Aberto. Disponível em: https://capitalaberto.com.br/temas/ captacao-de-recursos/quem-tem-socio-tem-patrao/#.W1up29VKi00. Data de acesso: 25 de julho de 2018. TIPOS SOCIETÁRIOS 18FGV DIREITO RIO 3. INTRODUÇÃO ÀS SOCIEDADES LIMITADAS EMPRESÁRIAS 3.1 AULA 7 – SOCIEDADE LIMITADA – ORIGEM, OBJETIVO E CARACTERÍSTICAS As sociedades contratuais por quotas de responsabilidade limitada tiveram origem na Alemanha no final do século XIX, mais especificamente em 1892, por meio da criação das Gesellschaft mit beschränkter Haftung (GmbH). Na Inglaterra, as sociedades de responsabilidade limitada tiveram origem em 1907 com a criação das Limited Partnerships por meio do Limited Partnerships Act de 1907. No direito brasileiro, as sociedades por quotas de responsabilidadelimitada foram criadas em 1919, por meio do Decreto 3.708, de 10 de Janeiro (o “Decreto das Limitadas”). Esse decreto fez com que o Brasil fosse o primeiro país das América Latina a ter uma legislação própria para as sociedades por quotas de responsabilidade limitada (Salama, 2014, O Fim da Responsabilidade Limitada no Brasil, p. 59). Vale ressaltar, porém, que apesar da recorrente menção à GmbH alemã como inspiração para a sociedade por quotas de responsabilidade limitada brasileira, o debate sobre a introdução no direito brasileiro de um tipo societário de responsabilidade limitada teve início, pelo menos, a partir de 1865, com o projeto de lei apresentado pelo Ministro da Justiça Nabuco de Araújo. Esse novo tipo societário teria as seguintes vantagens (a) sobre as sociedades anônimas, não precisaria de autorização administrativa; (b) sobre a sociedade em nome coletivo, nenhum sócio teria responsabilidade ilimitada; e (c) sobre a sociedade em comandita, não teria nenhum sócio impedido de participar da administração da sociedade ou administrador solidariamente responsável. O Decreto 3.708/19 foi revogado apenas com a entrada em vigor do atual Código Civil Brasileiro, em 2003. Obs.: Tanto a Inglaterra, quanto a França já haviam adotado um regime próprio de limitação da responsabilidade dos sócios das sociedades anônimas (institucionais e que dependiam de autorização administrativa para a sua constituição e funcionamento). Na França, este regime de limitação foi previsto no Code de Commerce de 1807 e, na Inglaterra, a limitação da responsabilidade teve origem no Limited Liability Act de 1855. TIPOS SOCIETÁRIOS 19FGV DIREITO RIO A criação das sociedades limitadas visou oferecer aos comerciantes uma opção de tipo societário onde os sócios tivessem limitadas as suas responsabilidades e riscos patrimoniais, mas sem as desvantagens burocráticas das sociedades anônimas que prevaleciam à época. As atuais sociedades limitadas, que substituíram as “sociedades por quotas de responsabilidade limitada” apresentam as seguintes características: • A sociedade limitada pode ser constituída por uma ou mais pessoas. Caso seja constituída por uma pessoa, as disposições sobre o contrato social (artigo 997 do CCB) se aplicam ao documento de constituição firmado pelo sócio único. • Seus procedimentos de formação e organização são mais simples do que os exigidos para as sociedades anônimas, nos termos do artigo 997 do CCB em contraposição aos artigos 80 a 99 da Lei das S.A.; • A responsabilidade dos sócios é restrita ao valor das suas quotas (art. 1052 do CCB); • Apesar da limitação da responsabilidade citada acima, os sócios respondem solidariamente pela integralização do capital social (art. 1.052 do CCB); • Os sócios têm flexibilidade para escolher o regime jurídico supletivo ao contrato social, podendo escolher entre as regras aplicáveis às sociedades simples (artigos 997 a 1.038 do CCB) ou as regras aplicáveis às sociedades limitadas (artigos 1.052 a 1.141 do CCB), conforme previsto no artigo 1.055, caput e parágrafo único, do CCB. • A sociedade limitada tem feições híbridas entre sociedades de pessoas e sociedades de capitais (art. 1.057 do CCB); • Os sócios não podem contribuir para a formação do capital social com serviços (art. 1.055, parágrafo 2º, do CCB); • A sociedade limitada pode conduzir seus negócios (“girar”) sob firma ou denominação (art. 1.158 do CCB), desde que conste ao final a palavra “limitada” ou sua abreviatura “Ltda.”; • As demonstrações contábeis das sociedades limitadas não precisam ser publicadas em jornal de grande circulação ou na imprensa oficial da localidade da sede da sociedade (artigos 1.179, 1.188 e 1.189 do CCB); TIPOS SOCIETÁRIOS 20FGV DIREITO RIO Obs.: Atualmente existe controvérsia quanto à necessidade de publicação das demonstrações contábeis elaboradas pelas sociedades limitadas de grande porte, nos termos do artigo 3º da Lei 11.638/07. Pois a Lei 11.638/07 menciona a obrigatoriedade das sociedades de grande porte seguirem as regras sobre a escrituração e a elaboração das demonstrações contábeis e a auditoria por auditor registrado perante a CVM, mas não menciona expressamente sobre a necessidade de publicação das demonstrações contábeis. A discussão gira em torno de uma leitura literal do artigo 3º da Lei 11.638/07 (que não contém a palavra “publicação”) e as normas administrativas elaboradas pelas Juntas Comerciais que obrigam a publicação das demonstrações contábeis (Especialmente a Deliberação nº 2/2015 expedida pela Junta Comercial do Estado de São Paulo – JUCESP e Enunciado nº 39 expedido pela Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro – JUCERJA). • Os sócios das sociedades limitadas têm flexibilidade na escolha do regime de circulação das quotas sociais. Assim, as quotas poderão ou não ser cedidas para os demais sócios ou para terceiros conforme previsto no contrato social. Caso o contrato social seja omisso, incidirão as seguintes regras: (a) cessão para sócio - pode ceder para outro sócio independentemente da autorização dos demais sócios (art. 1.057, caput, primeira parte); ou (b) cessão para terceiros – pode ceder para terceiros desde que mediante autorização de sócios representando 25% (1/4) do capital social (art. 1.057, caput, in fine). LEITURA SUGERIDA CAMPINHO, Sérgio (2014) O direito de empresa à luz do novo código civil. 13ª Edição. Rio de Janeiro: Renovar. BORBA, José Edwaldo Tavares (2017). Direito Societário. 15ª Edição. São Paulo: Atlas. TIPOS SOCIETÁRIOS 21FGV DIREITO RIO 3.2 AULAS 8 E 9 – SOCIEDADE LIMITADA – CARACTERÍSTICAS DELIBERAÇÕES SOCIAIS A principal característica das sociedades limitadas é o fato de se tratarem de sociedades contratuais, em contraposição às sociedades institucionais. Como uma sociedade contratual a sociedade limitada se constitui por meio da assinatura de um contrato social firmado entre os sócios fundadores da sociedade e o seu posterior registro perante o órgão competente (Junta Comercial, quando o objeto social tem elemento de empresa, e RCPJ, quando não o tem). Assim, como todos os contratos firmados no Brasil, o instrumento particular de constituição de uma sociedade limitada deve, em primeiro lugar, obedecer aos requisitos de validade, existência e eficácia jurídica (a “escada ponteana”) previstos na legislação brasileira (art. 104 do CCB): objeto lícito, partes capazes e legítimas e forma prevista ou não proibida em lei. No caso da constituição das sociedades limitadas, o CCB determina que sejam ainda observados alguns requisitos básicos previstos especialmente no artigo 997 do código, na Lei 8.934/94 e no Decreto 1.800/96 e, secundariamente, as disposições previstas na regulação administrativa prevista expedidas pelo Departamento de Registro Empresarial e Integração – DREI. No caso das sociedades limitadas, especialmente o Regulamento constante como Anexo II à Instrução Normativa nº 38, expedida pelo DREI em 02 de março de 2017 (“Regulamento das Sociedades Limitadas”). Os principais requisitos do contrato social da sociedade limitada são: 1 – Partes obrigatórias: (a) Título (Contrato Social); (b) preâmbulo; (c) corpo do contrato contendo, no mínimo, as cláusulas obrigatórias e o fecho (item 1.2.1 do Regulamento das Sociedades Limitadas). 2 – Requisitos e conteúdos legais mínimos (artigo 104 do CCB, Incisos I a VIII do artigo 997 do CCB e mais regras específicas do tipo societário): PLURALIDADE DE PARTES (INC. I); No Brasil, as sociedades são consideradas como de natureza contratual ou institucional, por isso a sua constituição depende necessariamente do concurso de duas ou mais partes. TIPOS SOCIETÁRIOS 22FGV DIREITO RIO Obs: Em relação às sociedades simples, a única exceção a esta regra é a sociedade unipessoal de advocacia, introduzida no direito brasileiro pelos artigos 15, 16 e 17 da Lei no 8.906, de 4 de julho de 1994 (Estatuto da Advocacia), conforme alterado pelo artigo2º da Lei nº 13.247, de 12 de janeiro de 2016. Em relação às sociedades empresárias, a única exceção à regra da pluralidade de sócios é a “subsidiária integral” (prevista no artigo 251 da Lei das S.A.). Uma sociedade constituída por duas pessoas pode, ao longo de sua existência jurídica, vir a ter apenas um único sócio (por exemplo, em caso de falecimento de um dos sócios). Configurando uma hipótese de “unipessoalidade superveniente”, neste caso a pluralidade de sócios deve ser reconstituída dentro dos seguintes prazos: (a) Para as sociedades em geral, regidas pelo CCB, em até cento e oitenta dias após a data em que a unipessoalidade superveniente se manifestou (inciso IV do artigo 1.033 do CCB); e (b) Para as sociedades anônimas e sociedades em comandita por ações, regidas pela Lei das S.A., até a data da realização da próxima assembleia geral ordinária (AGO) da sociedade (alínea “d)” do inciso I do artigo 206). Obs.: A data da reconstituição da pluralidade de sócios não necessariamente é até o ano seguinte em que se verificou a unipessoalidade superveniente, pois podem existir casos onde o exercício social da sociedade não coincida com o calendário civil. Obs.: Nos termos do parágrafo único do artigo 1.033 do CCB, o sócio que tenha se tornado o único titular da integralidade do capital social de uma determinada sociedade poderá requerer a ‘transformação’ do registro da sociedade perante a Junta Comercial em um registro do próprio ex-sócio como empresário individual ou como Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI). TIPOS SOCIETÁRIOS 23FGV DIREITO RIO QUALIFICAÇÃO DOS SÓCIOS; Sócio pessoa natural – Nome, nacionalidade, naturalidade, estado civil, profissão, residência e domiciliado. Sócio pessoa jurídica – denominação, tipo societário, nacionalidade, sede da sociedade. DENOMINAÇÃO, OBJETO, SEDE, PRAZO (INC. II); CAPITAL SOCIAL (INC. III); O capital social deve ser expresso em moeda corrente nacional e pode ser formado por contribuições em dinheiro ou bens (artigos 1.005 e 1.006 do CCB) QUOTA DE CADA SÓCIO (INC. IV); Obs.: O CCB admite que sejam constituídas sociedades limitadas com quotas de valores diferentes (artigo 1.055 do CCB). PRESTAÇÕES DO SÓCIO DE SERVIÇO (INC. V); Nas sociedades simples é possível que a contribuição de um sócio para a formação da sociedade seja realizada por meio da prestação de serviços para a sociedade (artigo 1.006 do CCB). Nas sociedades empresárias é vedada a contribuição do sócio por meio da prestação de serviços (artigo 7º da Lei das S.A. e parágrafo 2º do artigo 1.055 do CCB). Obs.: até a entrada em vigor do CCB, havia no Brasil um tipo societário onde um dos sócios contribuía com recursos para a formação do capital social e tinha responsabilidade solidária com a sociedade (sócio de capital) e um dos sócios contribuía exclusivamente com a prestação de serviços para a sociedade (sócio de serviços). Este tipo societário – Sociedade de Capital e Indústria – estava previsto no artigo 317 do Código Comercial, na parte que foi revogada pelo CCB. TIPOS SOCIETÁRIOS 24FGV DIREITO RIO PESSOAS NATURAIS ADMINISTRADORAS (INC. VI); Obs.: No direito brasileiro somente pessoas naturais podem figurar como administradores de sociedades, porém esta possibilidade existe em outras jurisdições (como os EUA, por exemplo). PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E PERDAS (INC. VII); E Independentemente de seu objeto social as sociedades empresárias são unidades que visam a produção de lucro. Por isso, nas sociedades com fins lucrativos, o direito ao recebimento de lucros é um direito essencial do sócio e não pode excluído por deliberação social ou pelos atos constitutivos. Como regra geral, os sócios que contribuem para a formação do capital social participam dos lucros e perdas na proporção de suas quotas e o sócio de serviço participa dos lucros na proporção média do valor das quotas (art. 1.007 do CCB). Porém, nas sociedades simples e limitadas, é admitida a distribuição desproporcional de lucros, conforme previsão em contrato social. A previsão de distribuição desproporcional dos lucros também pode estar expressa em acordo de sócios, caso a sociedade limitada tenha regência supletiva pela Lei das S.A. (artigo 1.053, parágrafo único, do CCB). O artigo 1.008 do CCB veda a constituição de “sociedades leoninas”, ou seja, de sociedades onde um ou alguns dos sócios são excluídos da participação nos lucros ou nas perdas. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA OU NÃO DOS SÓCIOS (INC. VIII). Além das regras indicadas acima, é importante verificar no momento da constituição de cada sociedade a lei de registro de comércio (Lei 8.934/94), a Instrução Normativa nº 38/17 do DREI e os posicionamentos jurídicos adotados nos pareceres ou orientações divulgadas pela Junta Comercial competente no local da sede da sociedade. Para a constituição de sociedades simples, fundações e associações é importante analisar o disposto na lei 6.015/73 (Lei de registros públicos), uma vez que a constituição destas sociedades depende de registro perante o Ofício de Registro Civil de Pessoas Jurídicas – RCPJ. TIPOS SOCIETÁRIOS 25FGV DIREITO RIO DELIBERAÇÕES SOCIAIS O ato de deliberar significa chegar coletivamente a uma decisão após uma discussão informada e circunstanciada sobre um determinado tema. As deliberações dos sócios devem sempre ocorrer no interesse da sociedade. O direito de participar da deliberação advém da condição de sócio da sociedade (status socii). Tendo em vista que a deliberação é o ato necessário para a formação da vontade da sociedade, podem-se destacar duas linhas de pensamento sobre a sua natureza jurídica: (a) a primeira, que considera o ato de deliberar como um ato institucional (deliberação majoritária); e (b) a segunda, que considera o ato de deliberar como uma espécie de negócio jurídico entre os sócios (deliberação contrato). A diferença entre as duas teorias é que na primeira – deliberação majoritária – inspirada na teoria institucionalista das sociedades – todos os sócios (inclusive os ausentes e os dissidentes) se vinculam à decisão tomada pela maioria na deliberação. Na segunda teoria – deliberação contrato – cada sócio se vincula nos termos de sua própria manifestação na deliberação. O direito brasileiro adotou a teoria da deliberação majoritária, nos termos do parágrafo 5º do artigo 1.072 do CCB. Dois pontos sempre controverso são (1) como se chegar a decisão da sociedade em casos de empate na deliberação; e (2) a legalidade do voto em branco e da abstenção de voto. No caso de empate, o CCB determina que será escolhida a decisão aprovada pela maioria dos sócios (voto por cabeça) e, se o embate persistir, a questão deverá ser levada à conhecimento do Poder Judiciário. Nos termos do artigo 1.072, o CCB prevê três formas de deliberação nas sociedades limitadas: (1) por reunião, (2) por assembleia, e (3) por instrumento deliberatório. Para que as deliberações tomadas em reunião sejam eficazes perante terceiros, a forma de convocação, instalação e condução dos trabalhos da reunião deverá ser regida expressamente pelo contrato social. Caso o contrato social seja omisso, a reunião será realizada com base nas regras aplicáveis às assembleias (artigo 1.072, parágrafo 6º, do CCB). TIPOS SOCIETÁRIOS 26FGV DIREITO RIO A assembleia é obrigatória nas sociedades limitadas que tenham número de sócios superior à 10 (dez), nos termos do parágrafo 1º do artigo 1.072 do CCB. A deliberação por meio de instrumento deliberatório formalizado pode ser realizada quando todos os sócios da sociedade limitada se manifestarem por escrito sobre a matéria objeto da deliberação. As matérias previstas nos incisos I a VIII do artigo 1.071 do CCB são matérias de deliberação obrigatória pelos sócios. Além disso, o contrato social pode prever outras matérias para deliberação obrigatória dos sócios. A convocação para que os sócios participem da reunião ou assembleiaé regida pelos artigos 1.010, 1.072, 1.073 e 1.152 do CCB. O ato jurídico de convocação deve ser feito: (1) Pelos administradores, nos casos previstos na lei ou no contrato social (art. 1.072 do CCB); (2) Por sócio, caso os administradores atrasem por mais de sessenta dias para convocar a reunião ou assembleia ordinária (art. 1.073, inciso I, do CCB); (3) Por sócio(s), que represente(m) mais de um quinto (20%) do capital social da sociedade caso os administradores atrasem mais de oito dias para realizar a convocação à pedido de sócio(s) (art. 1.073, inciso I, do CCB); (4) Pelo Conselho Fiscal, caso os administradores atrasem mais de trinta dias para convocar uma reunião ou assembleia ordinária ou caso ocorra motivo grave e urgente para a sociedade (art. 1.069, inciso V, do CCB). A convocação da reunião ou assembleia deve obrigatoriamente conter a descrição da pauta constante da ordem do dia para ser deliberada (artigos 1.072, parágrafo 2º, e 1.078, inciso III). Segundo Rubens Requião, a descrição da ordem do dia é importante porque ela delimita a responsabilidade e vinculação dos sócios sobre as matérias nela constantes. Assim, os eventuais dissidentes ou ausentes da deliberação não podem ser responsabilizados por deliberações tomadas sobre matérias que não estiveram expressamente indicadas na ordem do dia para a deliberação. TIPOS SOCIETÁRIOS 27FGV DIREITO RIO O instrumento de convocação para a assembleia deve ser publicado três vezes no diário oficial do estado e em jornal de grande circulação no local da sede da sociedade. A primeira publicação do anúncio de convocação para a realização da assembleia deve ser realizada com oito dias de antecedência da data prevista para a realização da assembleia em primeira convocação. Para a realização da assembleia em segunda convocação, a antecedência mínima para a realização da assembleia após a primeira publicação do anúncio de convocação é de cinco dias. A instalação da assembleia, a ser realizada em primeira convocação, depende da presença de sócios representando, no mínimo, três quartos do capital social (75%), conforme o artigo 1.074 do CCB. A assembleia realizada em segunda convocação pode ser instalada com qualquer número de sócios. A mesa da assembleia é composta pelo presidente e pelo secretário. O presidente deve ser escolhido entre os sócios presentes na assembleia e o secretário poderá ser um sócio ou terceiro não sócio presente na assembleia. A principal responsabilidade do presidente da mesa é conduzir os trabalhos no conclave e ser o fiscal da legalidade das deliberações tomadas e aprovadas na assembleia. O secretário tem como principal responsabilidade auxiliar o presidente e lavrar a ata da assembleia. A administração da sociedade deve proceder o registro da ata da assembleia perante a Junta Comercial competente e, para tal finalidade, devem ser lavradas duas versões da ata com conteúdo idêntico: a versão que será registrada no livro de registro de atas da sociedade (assinada pelos integrantes da mesa e pelos sócios presentes) e a versão que será levada a registro perante a Junta Comercial (assinada pelos integrantes da mesa da assembleia). Obs.: a ata da assembleia é um documento de descrição e não de invenção. Deste modo, o conteúdo da ata deve refletir fielmente o que foi discutido e deliberado pelos sócios. Caso algum sócio considere que a ata da assembleia não corresponde ao que foi deliberado pelos sócios (ata infiel), poderá lavrar um instrumento de protesto por escrito e leva-lo a registro perante a Junta Comercial. Nas sociedades limitadas cujo contrato social preveja a regência supletiva pelas regras das sociedades simples, estarão impedidos de participar das deliberações sociais os sócios que apresentem interesse pessoal contrário ao interesse da sociedade (artigo 1.010, parágrafo 3º, do CCB). TIPOS SOCIETÁRIOS 28FGV DIREITO RIO Por outro lado, nas sociedades limitadas cujo contrato social preveja a regência supletiva pelas regras das sociedades anônimas, estarão impedidos de participar das deliberações sociais os sócios que apresentem interesse contrário ao da sociedade (artigo 115 da Lei das S.A.). Os sócios que participam da administração ou do conselho fiscal da sociedade estão impedidos de participar (“tomar parte”) nas assembleias que deliberem sobre a aprovação das contas da administração (artigo 1.078, parágrafo 2º, do CCB). Obs.: Nas sociedades regidas pela Lei das S.A., merecem destaque duas correntes sobre a possibilidade de voto de sócios em reuniões/ assembleias de sócios: a teoria do conflito material e a teoria do conflito formal. Para os defensores da teoria do conflito formal, o sócio que tenha interesse pessoal potencialmente contrário ao interesse da sociedade não pode votar nas deliberações das matérias que apresentem hipóteses de conflitos de interesse pessoal e da sociedade. Para os defensores da teoria do conflito material, o sócio que apresenta interesse pessoal potencialmente contrário ao interesse da sociedade pode votar nas deliberações das matérias que apresentem hipóteses de conflitos de interesse pessoal e da sociedade, porém a eficácia do seu voto está condicionada à confirmação posterior da inexistência de verificação de conflito de interesses. Ou seja, para esta segunda teoria, o acionista vota, mas o eventual interesse pessoal do sócio em detrimento do interesse da sociedade deve ser verificado em momento posterior à realização da assembleia. Para que as decisões tomadas pelos sócios nas reuniões e assembleias das sociedades limitadas sejam válidas, devem ser atendidos os seguintes quóruns para deliberação: TIPOS SOCIETÁRIOS 29FGV DIREITO RIO Matéria Fundamento Legal (art. do CCB) Quórum Fundamento Legal (art. do CCB) Modificação do contrato social 1.071, inc. V 3/4, no mínimo 1.076, inc. I Incorporação, fusão, dissolução e cessação do estado de liquidação 1.071, inc. VI 3/4, no mínimo 1.076, inc. I Remuneração do Administrador 1.071, inc. IV 50% + 1 quota 1.076, inc. II Falência, recuperação judicial ou recuperação extrajudicial 1.071, inc. VIII 50% + 1 quota 1.076, inc. II Aprovação das contas 1.071, inc. I Maioria dos presentes* 1.076, inc. III Nomeação/ destituição de liquidante 1.071, inc. VII Maioria dos presentes* 1.076, inc. III Nomeação de administrador (ato separado) 1.071, inc. II VER FLUXOGRAMA DA AULA 12 1.076, inc. I e II + 1.061 Destituição de administrador 1.071, inc. III VER FLUXOGRAMA DA AULA 12 1.076, inc. I e II + 1.063, parágrafo 1º * Salvo disposição diferente no contrato social. TIPOS SOCIETÁRIOS 30FGV DIREITO RIO Algumas das principais causas de impugnação de deliberações sociais são: a) Ausência de convocação; b) Convocação irregular; c) Irregularidade da instalação ou funcionamento da reunião ou assembleia; d) Deliberação sobre matérias fora da ordem do dia; e) Deliberação sobre matérias que dependiam de designação específica na ordem do dia sob o item “assuntos gerais”; f) Violação de direitos essenciais dos sócios ou de terceiros (por exemplo, o direito do sócio de ser acompanhado por um advogado e a prerrogativa do advogado de acompanhar o seu assistir ao seu cliente); g) Deliberações aprovadas com simulação, erro, dolo ou coação; h) Abuso do direito de voto (por exemplo, nas situações de voto proferidos por pessoas impedidas de votar); i) Destituição de administradores; j) Assembleia realizada fora da sede da sociedade; k) Exclusão de sócio (Nas sociedades com mais de dois sócios, dissolução parcial da sociedade em relação à um sócio por justa causa, artigo 1.085 do CCB); l) Falecimento posterior de um sócio; m) Deliberação social tomada sem a disponibilização dos documentos necessários para a análise das matérias constantes da ordem do dia pelos sócios; e n) Irregularidades no balanço aprovado. LEITURA SUGERIDA COSTA, Ari Boemer Antunes da (2013) Deliberações dos sócios nas sociedades limitadas. In:Revista JurisFIB, volume IV, ano IV. Bauru: FIB. REQUIÃO, Rubens (2015) Curso de direito comercial. Volume 1. 34ª Edição. São Paulo: Saraiva. TIPOS SOCIETÁRIOS 31FGV DIREITO RIO 3.3 AULAS 10 E 11 - SOCIEDADE LIMITADA – ADMINISTRAÇÃO O administrador é a pessoa natural que recebe a prerrogativa de representar legalmente a sociedade para o exercício dos atos da vida civil a que as sociedades têm legalmente a capacidade e a legitimidade para praticar. Por meio dos atos regulares praticados pelos seus administradores, as sociedades (dotadas de personalidade jurídica, nos termos do artigo 44, inciso II, do CCB) manifestam e expressam a sua tripla autonomia (obrigacional, patrimonial e processual) realizando atos e negócios jurídicos e econômicos. Os atos regulares de gestão ordinária e extraordinária tomados pelos administradores das sociedades obrigam a sociedade, nos termos do artigo 47 do CCB. Serão considerados regulares os atos úteis, necessários e suficientes para a consecução do objeto social da sociedade (art. 1.015 do CCB). Os administradores são os responsáveis pelo exercício no dia-a-dia da sociedade do poder de controle da sociedade, ou seja, pela tomada das decisões necessárias para o exercício dos direitos e uso, gozo, fruição, reivindicação, e disposição dos bens e patrimônio social. Vale ressaltar que o administrador funciona como um órgão necessário e vital para que a sociedade funcione e exerça as suas atividades, assim Pontes de Miranda defende que a relação existente entre o administrador e a sociedade é de presentação e não de representação (algo posto diante de). Ou seja, o administrador faz presente a sociedade, sendo dela um órgão interna corporis, e não um representante externo ao corpo social. Em decorrência da relação de presentação e não de representação, é incorreto analisar a relação entre o administrador e a sociedade com base nos institutos do mandato, onde há um principal (mandante) e um mandatário (agente). Nas sociedades limitadas, podem ser administradores as pessoas naturais, sócias ou não da sociedade, conforme for expressamente definido no contrato social (artigos 1.060 e 1.061 do CCB). Por outro lado, não podem ser administradores as pessoas impedidas por lei de administrar sociedades limitadas, nos termos dos artigos 1.011, parágrafo 1º, e 1.053 do CCB: TIPOS SOCIETÁRIOS 32FGV DIREITO RIO a) as pessoas impedidas por lei especial; e b) enquanto perdurarem os efeitos da condenação, as pessoas condenadas: a. a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; b. por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; c. por crimes contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade. Obs.: as pessoas naturais nomeadas para exercer cargos de administração nas sociedades limitadas devem firmar declaração de desimpedimento atestando que não incorrem em nenhuma das situações listadas acima previamente à assinatura do ato de posse na administração da sociedade. Tendo em vista que os atos regulares dos administradores vinculam a sociedade é importante destacar que os administradores respondem pelos atos irregulares praticados na administração das sociedades. Duas importantes teorias sobre a vinculação ou não da sociedade pelos atos irregulares praticados pelos administradores são (1) a teoria dos atos ultra vires; e (2) a teoria da aparência. A teoria dos atos ultra vires foi originada na Inglaterra no Séc. XIX e resulta na impossibilidade de responsabilização da sociedade por um ato praticado pelo administrador com excesso dos poderes que lhe foram expressamente atribuídos pelo contrato social, ato de nomeação ou pela lei. Um ato irregular, portanto. Segundo a teoria ultra vires, adotada no direito brasileiro, um ato praticado pelo administrador com excesso de poderes é um ato nulo em relação a terceiros, nos termos dos artigos 47 e 1.015 do CCB, ensejando ação de ressarcimento de danos contra os administradores que agiram irregularmente. Ressalta-se que os administradores das sociedades regidas pelo CCB respondem por culpa pelos atos praticados no desempenho de suas funções (art. 1.016). TIPOS SOCIETÁRIOS 33FGV DIREITO RIO Neste sentido, vale citar o Enunciado nº 219 aprovado na III Jornada de Direito Civil: 219 – Art. 1.015: Está positivada a teoria ultra vires no Direito brasileiro, com as seguintes ressalvas: (a) o ato ultra vires não produz efeito apenas em relação à sociedade; (b) sem embargo, a sociedade poderá, por meio de seu órgão deliberativo, ratificá-lo; (c) o Código Civil amenizou o rigor da teoria ultra vires, admitindo os poderes implícitos dos administradores para realizar negócios acessórios ou conexos ao objeto social, os quais não constituem operações evidentemente estranhas aos negócios da sociedade; (d) não se aplica o art. 1.015 às sociedades por ações, em virtude da existência de regra especial de responsabilidade dos administradores (art. 158, II, Lei n. 6.404/76). Pela teoria da aparência, são reconhecidos os poderes implícitos do administrador para praticar atos e negócios jurídicos em nome da sociedade. Assim, se a atuação do administrador demonstrar uma aparência de licitude, por exemplo, se é ele quem regularmente pratica atos em nome da sociedade perante terceiros – os atos irregulares praticados pelo administrador vincularão a sociedade. A questão da responsabilidade do administrador pelos atos potencialmente irregulares praticados expressa uma tensão existente entre a proteção de direitos e interesses igualmente válidos e juridicamente relevantes (de terceiros contratantes, da sociedade, dos sócios minoritários, dos consumidores, etc. A responsabilidade subjetiva do administrador pode decorrer de: a) Infrações contra a ordem econômica (artigo 37, inciso II, da Lei 12.529/11); b) Descumprimento de seus deveres de cuidado, diligência, vigilância, lealdade e evitar situações de conflitos de interesse com a sociedade (artigos 1.011, 1.016 e 1.017 do CCB); c) Confusão patrimonial entre o patrimônio pessoal do administrador e da sociedade (artigo 50 do CCB); d) Na esfera penal, de crimes praticados contra as relações de consumo (artigo 75 da Lei 8.079/90, o Código de Defesa do Consumidor – CDC); TIPOS SOCIETÁRIOS 34FGV DIREITO RIO e) Não pagamento de tributos em decorrência de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei ou contrato social (artigo 135, inciso II, da Lei nº 5.172/66, o Código Tributário Nacional – CTN); e f) Qualquer uma das infrações indicadas acima que tenha sido apurada no processo falimentar (artigo 82 da lei 11.101/05) Além dos casos citados acima, também pode ocorrer hipóteses de responsabilização pessoal do administrador de sociedades empresárias previstas na legislação trabalhista, ambiental ou previdenciária. A administração da sociedade limitada, quando atribuída a todos os sócios no contrato, compete separadamente a cada sócio (art. 1.013 do CCB) e não é atribuída automaticamente aos sucessores (art. 1.060, parágrafo único). A administração da sociedade é uma função individual e personalíssima. Deste modo, mesmo quando existem vários administradores nomeados no contrato social, estes diretores não compõem um órgão colegiado, mas cada diretor é responsável por uma área ou escopo de atuação. Por exemplo, uma sociedade limitada pode funcionar com três diretores nomeados no contrato: um diretor presidente (representante legal da sociedade) e responsável pela condução dos negócios, um diretor financeiro (responsável pela tesouraria e planejamento financeiro da sociedade) e um diretor operacional (responsável pela governança e funcionamento interno da sociedade). Cada um responde por uma área específica e tem uma alçada decisória delimitada e independente dos demais. Obs.: em órgãos colegiados de administração(como o Conselho de Administração nas sociedades anônimas, previsto no art. 140 da Lei das S.A.) membros se reúnem para chegar a uma decisão única que vincula a todos igualmente (princípio majoritário). Vale ressaltar que a responsabilidade dos diretores entre áreas específicas não se confunde com o seu regime de responsabilidade civil por culpa no desempenho de suas funções, o qual prevê a responsabilidade solidária entre os administradores (art. 1.016 do CCB). Para que um determinado diretor não venha a ser responsabilizado por uma decisão da sociedade, é necessário que o diretor em questão deixe consignado por escrito a sua discordância em relação à decisão tomada. TIPOS SOCIETÁRIOS 35FGV DIREITO RIO O uso da firma ou denominação da sociedade é privativo dos diretores com os poderes expressamente atribuídos no contrato social (art. 1.064 do CCB). Os diretores podem ser nomeados no contrato social ou em ato separado. A nomeação do administrador nomeado no contrato social depende de uma alteração do contrato social (quórum de 75% do capital social para deliberação), para a nomeação e destituição do administrador nomeado em ato separado, devem ser observados os seguintes procedimentos: Nomeação do administrador em ato separado (artigo 1.062 do CCB) a) Assinatura do termo de posse no livro de atas da administração; b) Termo de posse deve ser assinado em até trinta dias após a nomeação, sob pena de perda de ineficácia da nomeação; c) O ato de nomeação deve ser registrado perante a Junta Comercial competente em até dez dias; d) O ato de nomeação levado à registro deve conter a nacionalidade, o estado civil, a residência e ter como o anexo a cópia do documento de identidade do diretor nomeado (parágrafo 2º do art. 1.062). Obs.: Segundo o Enunciado 66 da I Jornada de Direito Civil da Justiça Federal, o pré-requisito indicado na letra “d)”, acima, é o que obriga que somente pessoas naturais sejam nomeadas como administradoras de sociedades no Brasil. Veja-se: 66 – Art. 1.062: a teor do § 2º do art. 1.062 do Código Civil, o administrador só pode ser pessoa natural. A nomeação e o tempestivo registro do termo de posse do administrador é importante porque marca o início do tempo de responsabilidade do administrador nomeado perante a sociedade e perante terceiros e serve para identificar claramente a presentação da sociedade. O encerramento do período da administração se dá por (1) fim do prazo; destituição a qualquer tempo; ou renúncia do administrador (art. 1.063 do CCB). A destituição do administrador nomeado no contrato social depende de deliberação aprovada por sócios representado a maioria absoluta do capital social da sociedade (art. 1.063, parágrafo 1º, do CCB). A renúncia do administrador gera efeitos perante a sociedade a partir do momento em que a sociedade toma conhecimento e, perante terceiros, a partir do registro perante a Junta Comercial competente e da publicação do ato de renúncia. TIPOS SOCIETÁRIOS 36FGV DIREITO RIO Fluxograma 1 – Quórum para nomeação de administrador * Nomeado no contrato ou em ato separado Fluxograma 2 – Quórum para destituição de administrador * Obs.: O quórum para destituição do administrador nomeado no contrato é menor do que o quórum para alteração do contrato social. *1 O quórum vigente entre a data da entrada em vigor do CCB e 03/01/19 era de 2/3 do capital social. *2 Conforme e redação introduzida pela Lei nº 13.792, de 2019 TIPOS SOCIETÁRIOS 37FGV DIREITO RIO LEITURA SUGERIDA CRUZ, Gisela Sampaio; LGOW, Carla Wainer Chalréo (2014) Notas da administração das sociedades limitadas. In: PERES, Tatiana Bonatti (Org.) Temas Relevantes de Direito Empresarial. Rio de Janeiro: Lumen Juris. MENDES, Rodrigo Octávio Broglia (2014) Administração da sociedade limitada. In: COELHO, Fábio Ulhoa (Org.) Tratado de Direito Comercial. Volume 2. São Paulo: Saraiva. TIPOS SOCIETÁRIOS 38FGV DIREITO RIO 3.4 AULA 12 – SOCIEDADE LIMITADA – COLIGAÇÃO SOCIETÁRIA, CONSELHO FISCAL, PREPOSTOS A condução das atividades empresárias no mundo moderno (especialmente, após o surgimento dos grupos empresariais transnacionais e conglomerados financeiros) adotar uma forma de organização jurídica que pode vir a reunir mais de uma sociedade integrante de um mesmo grupo societário. Ou seja, várias sociedades, com personalidades jurídicas distintas, mas sob o controle comum de um mesmo grupo de pessoas (sócio controlador ou beneficiário final. Existe uma diferença relevante na organização da atividade econômica executada por uma ou várias sociedades: a relação entre o sujeito da atividade (a sociedade, sujeito de direitos e obrigações) e o seu objeto (a empresa, atividade econômica organizada). Isso por que o direito positivo brasileiro privilegia a atuação individual das sociedades para uma mesma finalidade. Apesar do fenômeno dos grupos societários ser mais aplicáveis à realidade das grandes empresas composta por uma ou várias sociedades institucionais, o código civil (que trata das sociedades contratuais) apresenta alguns dispositivos sobre a coligação societária por meio de participação de uma ou várias sociedades no capital social de outra(s) sociedade(s), conforme previsto nos artigos 1.097 a 1.101 do CCB. Deste modo, o CCB, apesar de não trazer o conceito de grupo de sociedades (o que é feito no artigo 265 da Lei das S.A.), elenca quatro espécies de participação de uma sociedade no capital social de outra para fins de estudo do gênero coligação. As formas de participação reconhecidas pelo CCB, são as relações de (1) controle, (2) filiação, (3) simples participação e (4) participação recíproca. Na relação de controle, tem-se a presença de uma sociedade controladora e uma sociedade controlada (art. 1.098, inc. I e II, do CCB). Haverá uma relação de controle toda vez que uma sociedade (a controladora) possuir a maioria dos votos nas deliberações dos quotistas ou da assembleia geral e o poder de eleger a maioria dos administradores de outra sociedade (a controlada). Obs.: o artigo 1.098 define os elementos necessários para identificação da relação de controle e, especificamente, da existência de uma sociedade controlada. Contudo, o conceito de poder de controle está definido no artigo 116 e tratado nos artigos 117 e 246 da Lei das S.A. TIPOS SOCIETÁRIOS 39FGV DIREITO RIO Haverá uma relação de filiação (ou coligação em sentido estrito) sempre que uma sociedade for titular de mais de dez por cento do capital social de outra sociedade, mas sem controlá-la (art. 1.099 do CCB). Sociedade controlada (artigo 1.098, inc. I e II) é a sociedade cuja maioria de votos nas deliberações de seus sócios e o poder de eleger a maioria dos seus administradores é de titularidade de outra sociedade (poder de controle). A relação de controle pode se estabelecer de modo direto ou indireto. Na relação de controle direto, a sociedade controladora (holding) exerce o seu poder de controle por que a titularidade das ações ou quotas da sociedade controlada integra o seu patrimônio. Na relação de controle indireto, a sociedade controladora exerce o poder de controle na sociedade controlada por meio de outras sociedades que funcionam como veículos de investimento da sociedade controladora na sociedade controlada. Como exemplo, pode-se citar (1) controle direto – o caso de uma sociedade (sociedade controladora) cujo objeto social seja exclusivamente adquirir participações no capital social de outras sociedades que exercem atividades econômicas organizadas ou não (sociedades operacionais) e (2) controle indireto – o caso de uma sociedade que sociedade constituída para gestão de um patrimônio familiar (sociedade controladora) que é titular da maioria das quotas representativas do capital social de uma sociedade veículo de investimentos (holding pura) que, por sua vez, é titular da maioria do capital social de outras sociedades que exercem atividades econômicas organizadas ou não (sociedades operacionais).Na outra ponta da relação de controle, considera-se sociedade controladora a sociedade que direta ou indiretamente tem o direito de exercer a maioria dos votos nas deliberações sociais e de eleger a maioria dos administradores da sociedade controlada. Duas ou mais sociedades são afiliadas (ou coligadas em sentido estrito) quando uma sociedade é titular de dez por cento ou mais do capital social de outra(s) sociedades sem que isso resulte na constituição de uma relação de controle societário entre ambas (art. 1.099 do CCB). Tem-se uma relação de simples participação quando uma sociedade participa do capital social de outra sociedade em percentual inferior a dez por cento da parcela do capital social com direito de votar nas deliberações sociais (art. 1.100 do CCB). TIPOS SOCIETÁRIOS 40FGV DIREITO RIO Participação recíproca é quando duas sociedades que são sócias entre si participam do capital social uma da outra. Para as sociedades contratuais regidas pelo código civil esta participação mútua no capital social entre sociedades que mantém uma relação de sociedade somente pode ocorrer até o limite de suas próprias reservas de lucros (excluindo-se as reservas legais), conforme o artigo. 1.101 do CCB. Obs.: O direito positivo brasileiro adota a participação no capital social para identificação dos potenciais inter-relacionamentos e formação de grupos societários e para a identificação do poder de controle. Contudo, é possível observar na prática empresarial da organização da atividade econômica outras formas de atuação conjunta entre sociedades empresárias. Porém, existe, ainda, uma série de conceitos jurídicos, econômicos ou contábeis relevantes para a identificação de formas de atuação concertada entre sociedades para a formação de grupos societários, econômicos ou empresariais. Tais como os conceitos de grupo econômico, conglomerado financeiro, sociedades sob controle comum, bloco de controle e controle externo. Alguns exemplos de conceitos relevantes para a definição de uma relação de controle empresarial/societário: GRUPO DE CONTROLE: “pessoa, ou grupo de pessoas vinculadas por acordo de votos ou sob controle comum, que detenha direitos de sócio correspondentes à maioria do capital social de sociedade anônima ou a 75% (setenta e cinco por cento) do capital social de sociedade limitada.” (Art 6°, inciso II, da Resolução Nº 4.122/12 expedida pelo Conselho Monetário Nacional, que regula a constituição de instituições financeiras) PARTICIPAÇÃO QUALIFICADA – “a participação, direta ou indireta, detida por pessoas naturais ou jurídicas, equivalente a 15% (quinze por cento) ou mais de ações ou quotas representativas do capital total das instituições do grupo de controle. (Res. CMN 4122/12, art. 6°, Inc. I). INFLUÊNCIA SIGNIFICATIVA – Presume-se a partir de 20%, parágrafo 5º do artigo 243 da Lei das S.A., participação no capital que não caracteriza controle nem é especulativo, porém a sociedade detentora da participação participa das decisões de política financeira ou operacional da investida. PODER DE CONTROLE – “poder de eleger a maioria dos administradores e de determinar a orientação dos negócios da companhia”. TIPOS SOCIETÁRIOS 41FGV DIREITO RIO VINCULO DE INTERESSE – “Verifica-se integração de atividade ou vinculo de interesse, quando as pessoas jurídicas referidas neste artigo [sociedades relacionadas com a instituição sob o regime de RAET, intervenção ou liquidação], forem devedoras da sociedade sob intervenção ou submetida liquidação extrajudicial, ou quando seus sócios ou acionistas participarem do capital desta importância superior a 10% (dez por cento) ou seja cônjuges, ou parentes até o segundo grau, consanguíneos ou afins, de seus diretores ou membros dos conselhos, consultivo, administrativo, fiscal ou semelhantes” (Art. 51, parágrafo único, Lei 6.024/74 – intervenção e liquidação de instituições financeiras. PARTICIPAÇÃO ACIONÁRIA RELEVANTE – “controladores, diretos ou indiretos, e os acionistas que elegerem membros do Conselho de Administração, bem como qualquer pessoa natural ou jurídica, ou grupo de pessoas, agindo em conjunto ou representando um mesmo interesse, que atingir participação, direta ou indireta, que corresponda a 5% (cinco por cento) ou mais de espécie ou classe de ações representativas do capital de companhia” (Art. 12, Instrução CVM 358/02 – divulgação de informações ao mercado por companhias abertas) CONSELHO FISCAL O Conselho Fiscal é o órgão da sociedade responsável por fiscalizar as contas apresentadas pelos administradores da sociedade. O Conselho Fiscal é um órgão de instituição facultativa e deve ser composto por, no mínimo, três membros e seus respectivos suplentes. Os membros do Conselho Fiscal não precisam obrigatoriamente ser sócios da sociedade. Por ser tratar de um órgão de controle da administração, a instalação e funcionamento do Conselho Fiscal pode ser um importante aliado dos sócios minoritários da sociedade no acesso e controle das informações financeiras da sociedade elaboradas e disponibilizadas pela administração da sociedade. Deste modo, sócios minoritários titulares de 1/5 (20%) do capital social da sociedade têm o direito de eleger separadamente um membro do Conselho Fiscal e seu respectivo suplente (art. 1.066, § 2º, do CCB). O Conselho Fiscal é um importante órgão colegiado de controle e governança interna da sociedade. Por ser um órgão colegiado, os membros do Conselho Fiscal respondem solidariamente perante a sociedade e perante terceiros (nos termos dos artigos 1.016 e 1.070 do CCB). TIPOS SOCIETÁRIOS 42FGV DIREITO RIO Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - IBGC1 (2007, p. 9), as principais vantagens para os sócios da existência de um Conselho Fiscal são: É órgão independente da administração; É uma instância de conforto para os administradores (por que os administradores dissidentes podem encaminhar suas queixas para o Conselho Fiscal); Contribui para o valor da sociedade por meio do monitoramento dos processos de gestão dos riscos e da criação de condições mais propícias à redução do custo de capital da sociedade; e Pode dedicar-se, com maior profundidade, ao exame de detalhes de matérias de interesse da sociedade Os prepostos da sociedade são aqueles profissionais que, não sendo sócios da sociedade, exercem atividades auxiliares para o seu funcionamento e necessárias para que a sociedade exerça a sua atividade econômica organizada. Como regra geral, os prepostos das sociedades regidas pelo código civil exercem as suas atividades em caráter personalíssimo (art. 1.169 do CCB) e têm dever de lealdade para com a sociedade para a qual exercem as suas atividades. Assim, os prepostos não podem exercer atividades concorrentes às da sociedade que representam (art. 1.170 do CCB). O CCB trata especificamente de dois tipos de prepostos da sociedade: o gerente e o contabilista. O gerente é aquele empregado da sociedade que está encarregado do exercício da empresa (art. 1.172 do CCB). Ou seja, é responsável pelas atividades de planejamento, organização, direcionamento e controle da execução do trabalho pelos demais empregados da sociedade. O contabilista por sua vez é o profissional, devidamente capacitado e habilitado tecnicamente para o exercício profissional da atividade de contador (nos termos do Dec.-Lei nº 9.295/46) que é responsável pela escrituração contábil e financeira da sociedade. Os registros realizados por esse preposto, mesmo que seja um prestador de serviços contratado pela sociedade e não um empregado da sociedade (o que é de praxe) produzem efeitos jurídicos como se tivessem sido feitos pela própria sociedade (preponente), conforme o artigo 1.177 do CCB. 1 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2007, p. 9) Cadernos Governança Corporativa: Guia de Orientação para o Conselho Fiscal. São Paulo: IBGC. 2ª Edição. 1 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2007, p. 9) Cadernos
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