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3/8/2019 1 DANÇA Aula 2: DIVISÃO DA HISTÓRIA DA DANÇA EM PERÍODOS I De todas as artes, a dança é a única que dispensa materiais e ferramentas, depende só do corpo. Por isso dizem-na a mais antiga, aquela que se carrega dentro de si desde os tempos imemoriais (PORTINARI, 1989). O homem, ser social e religioso, sempre sentiu a necessidade de se comunicar com seus pares e com os poderes sobrenaturais. Assim, antes de dominar a linguagem, o meio para comunicar notícias, ideias e sentimentos foi o próprio corpo. A dança é fruto da expressão do homem, o qual, por intermédio da pantomima e da mímica mais primitiva, iniciou o processo de comunicação com seus semelhantes, com a natureza e com as divindades. Portanto, os primeiros movimentos corporais passaram a ter significados importantes, que se transformaram em ritos ancestrais atrelados às crenças e à religiosidade dos povos e tribos mais antigas. Segundo Mendes (1985), os primeiros registros que se tem sobre dança datam do período paleolítico superior, quando o homem tinha como preocupação principal a caça, o cultivo de alimentos e a luta pela sobrevivência. Assim, a dança passava a imitar o trovão, evocar os ventos, imitar as fases da lua, os animais, a fim de atraí-los ao perímetro de tiro, com base na ideia de que semelhante atrai semelhante (OSSONA, 1998). Como uma das mais antigas formas de expressão artística, a dança cumpriu papel respeitável no desenvolvimento das civilizações, algumas vezes como instrumento de crenças míticas e mágicas, outras como expressão dos costumes, saberes e preocupações de determinadas sociedades e, por fim, como forma de diversão para os mais variados tipos de indivíduos e classes sociais. 3/8/2019 2 Com o passar dos tempos, aos poucos a dança foi se desligando da significação ritualística e religiosa primitiva para desempenhar um papel lúdico e estético, aprimorada nas diversas sociedades como manifestação coletiva, de caráter festivo, expressivo, popular e folclórico. Ainda, como um vértice para ações estéticas, artísticas e teatrais, como o balé, que conseguiu diferenciar claramente as ações entre bailarinos e expectadores (MENDES, 1985). No século IV, a dança passou a ser rejeitada na sociedade e foi condenada pela igreja católica, ocasionando severos castigos anunciados àqueles que ousassem dançar. Mesmo assim, muitos povos permaneceram a dançar em suas manifestações cotidianas, a exemplo dos camponeses, que dançavam em rituais festivos e, por isso, eram considerados pagãos (PORTINARI, 1989). A dança não é apenas um resultado artístico e religioso das progressivas mudanças históricas das mais diversas civilizações, mas deve ser entendida como identidade cultural e expressiva de cada povo, que permite ao homem afirmar-se como membro de uma sociedade. As danças, em todas as épocas da história e/ou espaço geográfico, para todos os povos é representação de suas manifestações, de seus 'estados de espírito', permeios de emoções, de expressão e comunicação do ser e de suas características culturais (NANNI, 2001, p. 7). A dança acompanhou o processo constante das mudanças históricas da civilização, configurando-se um patrimônio cultural herdado que não se limitou em repetir formas tradicionais e acadêmicas, mas ousou, explorou formas, contatos, padrões e movimentos, que permitiu a esta forma de expressão não verbal, corporal, artística e cultural a não estagnação. 3/8/2019 3 A dança, portanto, transformou-se de acordo com as ideias e necessidades de cada tempo e lugar, incorporando novas técnicas, novas possibilidades, novos ritmos, novos visuais, novas expressões e diversas linguagens (MENDES, 1985). Nas culturas antigas14, em que as nações iam se diferenciando em culturas e a sociedade separada em classes15, a dança permitia princípios e efeitos distintos. A dança era realizada por especialistas e dedicada aos iniciados, e os espetáculos exclusivos às classes dirigentes. O povo, por sua vez, só tinha acesso quando as classes dominantes achavam conveniente (OSSONA, 1988). Na Índia, as mulheres dançarinas eram consideradas sagradas, pertencentes a uma classe com privilégios e liberdades; devadasi16 era o nome que recebiam. Dançavam em templos, com cargos hereditários que existem até os dias atuais. Na China, a dança pregava filosofia e moral, era um instrumento do governo e da religião que, paulatinamente, demonstrava ao povo que deveriam manter sua submissão aos soberanos; ensinava ao espectador a amar o bom e o belo. No Japão, a dança era reconhecida como vínculo entre o homem e os deuses, sendo criada pelos sacerdotes para expressar os mandamentos dos deuses e fortalecer as preces dos crentes. No Egito, dançarinos eram integrantes de uma classe especial que divertiam as classes poderosas, que sentia grande atração pelos espetáculos mímicos; para eles, a dança e os balés significavam uma necessidade pelo fato de não haver outros tipos de representações de artes dramáticas, tal como possuíam os gregos (OSSONA, 1988). Na Grécia, durante o período helenístico e greco-romano, já existia o profissionalismo em dança, porém não era uma ocupação estimada. A dança possuía caráter educativo, pois os gregos sempre buscavam a harmonia entre corpo e espírito, conexo a estruturas físicas fortes e belas, fator primordial da educação grega, que se conseguia através dos esportes, das artes e das danças. 3/8/2019 4 A dança que deveria atingir os objetivos gregos, cultivando-se a disciplina e a harmonia das formas, era oferecida desde a infância até a idade adulta. Segundo Hanna (1999), ontologicamente, as pessoas descobrem e dominam seus corpos no tempo, no espaço e em padrões de esforços que, por meio da visão de movimentos, travam as relações. O poder da dança em comover e persuadir é reconhecido na teoria da história ocidental. “Aristóteles reconhecia o potencial das artes (o teatro grego incluía a dança) de despertar, e temia que ela pudesse subverter o Estado e a Religião” (HANNA, 1999, p. 46). Com a decadência grega e o domínio romano houve o declínio da dança, que começou a fazer parte apenas de rituais religiosos. Os romanos passaram a contratar dançarinos gregos para ensinar, e a dança romana não passava de repetições de movimentos alheios, pantomimas criadas por outros povos. Deste modo, o povo romano pouco contribuiu para sua identidade cultural com a dança, uma vez que ele tinha uma visão totalmente fragmentada que dividia o homem em corpo- mente-alma (SBORQUIA, 2002). Nos primeiros anos da dominação romana, as danças representadas em Bizâncio eram muito numerosas e variadas; cada aldeia possuía uma dança com índole patriótica e privada, executadas em festas e cerimônias religiosas. Nascia o espírito competitivo e, com o passar do tempo, a dança na Bizantina ia degradando-se: “as danças devotas das mulheres nuas transforma-se em grosseiro exibicionismo; levantam-se protestos contra as dançarinas dissolutas que entretêm o povo com seus indecentes movimentos” (OSSONA, 1988, p. 61). O povo se via apaixonado com os espetáculos sangrentos do circo. 3/8/2019 5 REFERÊNCIAS BOURCIER, P. História da dança no Ocidente. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. FARO, A. J. Pequena História da Dança. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. GARAUDY, R. Dançar a vida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. HANNA; J. L. Dança, Sexo e Gênero – Signos de identidade, dominação, desafio e desejo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. NANNI, D. Dança Educação: Pré-escola à Universidade. Rio de Janeiro: Sprint, 2001. PORTINARI, M. História da dança. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989. MENDES, M. G. A dança. 2. ed. São Paulo: Ática, 1987. OSSONA, P. A educação pela dança. 3. ed. São Paulo: Summus, 1988. SBORQUIA, S. P. A Dança no Contexto da Educação Física: os (des) encontros entre a formação e a atuação profissional. 2002.Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Campinas − UNICAMP, Campinas , 2002. TADRA, D. S. A. et al. Metodología do ensino de artes: Linguagem da Dança. Curitiba: Ibpex, 2009. SAMPAIO, F. Balé Essencial. 2. ed. Rio de Janeiro: Sprint, 1999. MEDOVA, M. L. A Dança Clássica. Lisboa: Estampa, 1998.
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