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História da Educação unifcv(4)

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Prévia do material em texto

História da EducaçãoHistória da Educação
AUTORIA
Marcia Regina de Oliveira Lupion
Bem vindo(a)!
Olá, alunas e alunos!
Este material, sobre a História da Educação, está dividido em quatro unidades. A
primeira unidade intitulada História da Educação: conceitos e fatores, terá como
proposta a compreensão de qual é a gênese da educação, como ela surge e de que
maneira está arraigada às tradições dos grupos humanos, sejam primitivos ou
atuais. Prosseguiremos resgatando as primeiras formas de educação e a sua
sistematização nas primeiras civilizações ocidentais e orientais, até a
contemporaneidade.
Nesta unidade, cujo título é História da Educação: da Antiguidade à
Contemporaneidade, compreenderemos como o processo de sistematização leva à
criação da instituição escola, muitas vezes confundida com o ato de educar.
Descobriremos também qual a importância e o papel da escola e os diversos tipos
de educação nestas sociedades, bem como o que herdamos, direta ou
indiretamente, delas. É nessa fase histórica que as paidéias, no plural, surgem e se
fortalecem como pedagogias orientadoras dos modelos educacionais.
Ainda na unidade II, abordaremos a educação em diferentes períodos do Império
Romano até o declínio dessa sociedade e o fortalecimento do cristianismo e de uma
proposta de educação que se afasta do humanismo proposto pelos romanos. Com o
fenômeno histórico da queda do Império Romano e o início do período Medieval,
surgem novos personagens sociais, a ascensão da Igreja Católica e a formulação da
educação pela fé. A partir dessa nova sociedade, a re�exão terá como orientação o
modelo católico educacional, cujas propostas sofreram mudanças ao longo do
milênio em que o mundo medieval se organizou e se desarticulou.
Os tópicos relativos à educação no Renascimento e na Modernidade buscam
demonstrar como o processo de transformação na educação decorrida das novas
ideias gestadas nesses períodos in�uenciaram os séculos e movimentos posteriores,
como o Iluminismo, por exemplo. É a partir da Modernidade que veremos como se
construíram os novos modelos educacionais em uma sociedade anteriormente
agrária, confessional, para uma civilização urbana, industrializada e na busca da
laicidade do ensino do século XIX. Nesse período, surgem pedagogias mais
expressivas, como a de Augusto Comte, Maria Montessori, John Dewey dentre
outros. Foi durante o processo de laicização da sociedade que a rede de escolas
públicas se ampliou em muitos países, com o interesse em educar a sociedade,
desde a mais tenra idade, para o mundo do trabalho industrializado e tecnológico.
Por isso, à pedagogia somam-se estudos psicológicos como forma de melhor
compreender os indivíduos e melhorar a produção.
Na terceira unidade, denominada Atualismo pedagógico e Nova Escola, serão
estudados três modelos educacionais especí�cos do início do século XX, assim como
também abordaremos a história da educação no Brasil. Os modelos educacionais
estudados são o proposto pelo italiano Gentile, que pode ser compreendido como
uma proposta de educação totalitária, seguido pela educação marxista com ênfase
em três modelos especí�cos e que vigoraram sobretudo na extinta União Soviética
e, por �m, o modelo democrático proposto por John Dewey. São, portanto, três
modelos educacionais que buscam atender aos programas políticos e aos modelos
de indivíduos ou cidadãos desejados pelos governos estabelecidos.
Ainda neste tópico apresentaremos um breve histórico da educação no Brasil, que
tem sua origem na Contrarreforma ocorrida na Europa, passando pela chegada dos
europeus às Américas e a primeira fase da ocupação portuguesa. A partir desse
evento faremos uma re�exão concisa dos principais momentos da construção do
saber nacional. Por �m, encerraremos o tópico apresentando os fatos importantes, a
saber, em todo o processo da formação educacional no Brasil, com o intuito de
orientar o (a) aluno (a) para futuras pesquisas neste tema.
No quarto e último tópico – Diretrizes e políticas –, a discussão recai sobre as
políticas educacionais que norteiam a educação no Brasil nos dias atuais. Serão
analisados, para isso, três documentos, em especial: as Diretrizes Curriculares
Nacionais, o Plano Nacional de Educação e a Base Nacional Comum Curricular. Tais
documentos norteadores são apenas uma parte das políticas educacionais
brasileiras adotadas, sobretudo pós processo de redemocratização da sociedade, e
devem ser lidos em conjunto com a legislação educacional e a Constituição Federal
de 1988, assim como também com as diretrizes elaboradas por Estados e
Municípios, que, junto com a União, são os responsáveis pela educação no Brasil.
Sabemos que essas poucas páginas não esgotam o tema sobre a História da
Educação no Brasil ou no mundo e seria ousado acreditar que isso é possível. Por
isso, além de desejarmos a você bons estudos, desejamos ainda que esta obra
colabore para sua formação e que seja o ponto de partida para novas contribuições
e discussões na educação.
Abraço terno,
Marcia Regina de Oliveira Lupion
Sumário
Essa disciplina é composta por 4 unidades, antes de prosseguir é necessário que
você leia a apresentação e assista ao vídeo de boas vindas. Ao termino da quarta da
unidade, assista ao vídeo de considerações �nais.
Unidade 1
História da
educação:
conceitos e
fatores
Unidade 2
História da
Educação da
Antiguidade à
Contemporaneida
Unidade 3
Atualismo
pedagógico e a
Nova Escola
Unidade 4
Diretrizes e
Políticas
Unidade 1
História da educação:
conceitos e fatores
AUTORIA
Marcia Regina de Oliveira Lupion
Introdução
Caríssimo(a) estudante, o objetivo desta unidade é apresentar e discutir como se
desenvolveu o conhecimento por meio do processo educativo pautado pela
organização sociocultural dos agrupamentos humanos ao longo da história.
Portanto, a educação será apresentada como uma construção social que se renova e
se fortalece quando saberes são adquiridos, transformados ou superados. Intenta-se,
ainda, demonstrar as singularidades das pedagogias produzidas nas diferentes
sociedades e tempos históricos, como forma de compreender a relação entre
educação e complexidade.
Iniciaremos estudando o signi�cado do conceito de educação, geralmente
confundido com a instituição “escola”. A questão educação deve ser compreendida
por meio de sua gênese, do processo de humanização do homem, de sua
capacidade de cognição que foi, ao longo do tempo e do espaço, transformando
esses saberes em conhecimento adquirido que se con�gura na educação primitiva
de caráter difuso. Adquiridos cotidianamente, tais conhecimentos capacitaram os
seres humanos na compreensão e na interpretação do mundo, que passou a ser
concebido por meio de signi�cações e ressigni�cações dadas por eles próprios e,
também, por sua capacidade de reprodução pela comunicação junto ao grupo,
possibilitando sua disseminação e perpetuação.
Com o domínio da agricultura e dos animais, a complexidade gerada trouxe novas
formas de organizações sociais que, por sua vez, levaram certos grupos a um
processo de institucionalização e divisão interna conhecida por hierarquia. Com ela,
o processo de aprendizagem adquire novos sentidos que irão se con�gurar em
sistemas de ensino com objetivos claros e especí�cos. É o momento em que a
educação se institucionaliza, tornando-se ferramenta de manutenção da
organização social, bem como de legitimação do poder vigente, do tradicionalismo,
não como memória somente, mas como elemento de perpetuação da dominação
de alguns grupos sobre outros.
Plano de Estudo
Gênese da educação.
Origens e desenvolvimento nos
diferentes momentos históricos.
Objetivos de Aprendizagem
Estudar o conceito de educação.
Compreender a educação como uma
construção social e complexa.
Analisar as singularidades das
pedagogias em diferentes momentos
históricos.
Estudar a gênese e as transformações
da educação no período Neolítico.
A Gênese educacional
AUTORIA
Marcia Regina de Oliveira Lupion
Buscar por uma data ou evento especí�co que se con�gure como a gênese da
educaçãoé adentrar num campo perigoso cuja única certeza é a de que não é
possível estabelecer tal ou tais eventos. Entretanto, é convenção entre os
historiadores da educação que, desde o instante em que os primeiros grupos
humanos passaram a construir uma cultura, ou seja, em que saberes, fazeres e
formas de pensar passaram a ser criados, reproduzidos e modi�cados, iniciou-se
processos de aprendizagens diversos e informais con�gurando-se no “modelo”
educacional primitivo baseado na imitação e na disseminação difusa ocorrida entre
os primeiros hominídeos.
Antes, porém, de estudarmos o modelo primitivo de educação, veremos o
signi�cado do termo educação.
O Conceito de Educação
De um modo geral, sempre que ouvimos o termo “educação” costumamos reduzi-lo
a um período que, normalmente, �ca situado entre os anos de estudo vividos por
uma determinada pessoa. Portanto, é claro que sempre relacionamos educação
com estudo em um processo sistematizado.
Figura 01: Pinturas rupestres, região de Tadrart Acacus, Líbia, 12.000 a.C a 100 d.C
Fonte: @Luca Galuzzi em wikimedia
A educação tem caráter permanente. Não há seres educados e não
educados, estamos todos nos educando. Existem graus de educação,
mas estes não são absolutos. A ação educativa implica um conceito de
homem e de mundo concomitantes, é preciso não apenas estar no
mundo e sim estar aberto ao mundo. Captar e compreender as
�nalidades deste a �m de transformá-lo, responder não só aos
estímulos e sim aos desa�os que este nos propõe. Não posso querer
transmitir conhecimento, pois este já existe, posso orientar tal indivíduo
a buscar esse conhecimento existente, estimular a descobrir suas
a�nidades em determinadas áreas (FREIRE, 1986, p. 46).
Conforme descrito acima, podemos compreender que a educação não está limitada
ao espaço físico que denominamos escola, sala de aula etc. Os estudos acadêmicos
fazem parte do processo educacional do homem de forma que seria errôneo
associar educação às diferentes etapas de estudo. O processo de ensino e
aprendizagem faz parte de uma dinâmica que precisa ser buscada e vivida durante
toda a existência humana.
A educação engloba os processos de ensinar e aprender, de ajuste, adaptação e de
socialização. É um fenômeno observado em qualquer sociedade e nos grupos
constitutivos destas; responsável pela sua manutenção e perpetuação às gerações
que se seguem, dos modos culturais de ser, estar e agir necessários à convivência e
ao ajustamento de um membro no seu grupo ou sociedade.
Enquanto processo de socialização, a educação é exercida nos diversos espaços de
convívio social, seja para a adequação do indivíduo à sociedade, do indivíduo ao
grupo ou dos grupos à sociedade. A prática educativa formal (observada em
instituições especí�cas) se dá de forma intencional e com objetivos determinados,
como no caso das escolas quando pode ser de�nida como Educação Escolar. Já no
caso especí�co da educação exercida para a utilização dos recursos técnicos e
tecnológicos e dos instrumentos e ferramentas de uma determinada comunidade,
dá-se o nome de Educação Tecnológica.
Para além desses modelos, atualmente con�gura-se um modelo educacional que
busca juntar saberes, ou seja, o fazer e o pensar devem estar alinhados para que a
formação seja completa. O conceito de Noosfera, como utilizado por Chevallard
(2000), trata de espaço no qual as ideias produzem e são produtoras de saberes com
interação com a cultura, colocando a educação na atualidade como uma das áreas
essenciais para a formação do indivíduo de �ns do século XX e início do XXI para
uma vida complexa.
Em última análise, educação é passar de uma mentalidade ou de um senso comum
a uma consciência. Signi�ca sair de uma concepção fragmentária, incoerente,
desarticulada, implícita, degradada, mecânica, passiva e simplista, para assumir uma
concepção unitária, coerente, articulada, explícita, original, intencional, ativa e
cultivada, como de�ne Libâneo (1990, p. 62):
o ato pedagógico pode, então, ser de�nido como uma atividade
sistemática de interação entre seres sociais, tanto no nível do
intrapessoal como no nível da in�uência do meio, interação essa que se
con�gura numa ação exercida sobre sujeitos ou grupos sujeitos
visando   provocar neles mudanças tão e�cazes que os tornem
elementos ativos desta própria ação exercida.
Sendo assim, só podemos compreender a educação por meio do contexto histórico-
social concreto e da cultura existente, quando a prática social se coloca como ponto
de partida, mas, também, como ponto de chegada da ação educacional. Portanto, a
educação tem intencionalidades geradas pelo processo de necessidades dos setores
a serem atendidos. Estes, por sua vez, determinam dentro dos meios sociais
especí�cos, de�nindo e explicitando, dentro de sua práxis, os �ns a serem atingidos
no processo.
A Gênese Educacional
Como visto na conceituação acima, muito antes da criação de instituições de ensino
já havia o processo de educação que, de certa forma, permanece em nosso meio
social, como a primeira educação. Estamos nos referindo ao papel da família no
processo de iniciação da criança como sujeito cultural, uma tarefa que se repete
desde os primeiros grupos humanos organizados, instrução inicial esta que faz parte
do que chamamos de educação primitiva e que pode ser considerada como a
gênese da educação.
[...] sob o regime da tribo, a educação tem como característico essencial
o de ser difusa; ela é dada por todos os membros do clã,
indistintamente. Não há mestres determinados, encarregados
especiais da formação da juventude; são todos os anciãos, é o conjunto
das gerações anteriores, que desempenha esse papel (DURKHEIM,
1978, p. 61).
O saber da comunidade, aquilo que todos sabem, o saber próprio dos homens,
mulheres, velhos e jovens. Os que sabem, ensinam, orientam, vigiam, demonstram,
corrigem, punem, premiam. Os que não sabem observam, imitam, são treinados,
corrigidos. Estamos diante da fase anterior ao período Neolítico quando,
[...] o Homo Sapiens, que já tem as características atuais: possui
linguagem, elabora múltiplas técnicas, educa os seus “�lhotes”, vive da
caça, é nômade, é “artista (de uma arte naturalista e animalista), está
impregnado de cultura mágica, dotado de cultos e crenças, e vive
dentro da “mentalidade primitiva” marcada pela participação mística
dos seres e pelo raciocínio concreto, ligado a conceitos-imagens e pré-
lógicos, intuitivo e não-argumentativo (CAMBI, 1999, p. 58, grifos no
original).
Entre os povos primitivos, as crianças aprendiam por meio do método da imitação.
Naquele contexto, a aprendizagem ocorria naturalmente enquanto a criança
participava progressivamente das atividades comuns de seu grupo, forma
denominada por Aranha (2012) como uma educação difusa, ou seja, o aprendizado
Figura 2 - Cotidiano de povos primitivos
Fonte: MORABAD, Mahantesh C. Esboços de guerreiros a cavalo com espadas nas
mãos desenhadas por povos primitivos nas Cavernas Bhimbetka perto de Bhopal,
Madhya Pradesh, Índia, Ásia
se dava a partir da vivência cotidiana e não de forma sistêmica ou esquematizada.
Ao crescer, o papel que desempenha na comunidade se torna mais importante e
de�nido. Nessa fase, a educação consistia em um processo iniciado no interior do
núcleo familiar e prosseguia nas atividades desempenhadas pelo grupo social,
conforme seu potencial físico e intelectual.
O homem atua sobre o meio ativamente e o transforma dentro de sua perspectiva
cultural e econômica, obtendo bens materiais necessários para sua sobrevivência ou
em outras instâncias superando esta barreira. Para isso, desenvolve instrumentos
necessários para a otimização do trabalho e, em cada nova geração que recebe
estes instrumentos das gerações anteriores, são modi�cados e melhorados.
Nesse sentido, de acordo com estudos realizados por arqueólogos, a capacidade
humana de produzir cultura teria sido o elemento essencial para o desenvolvimento
humano há mais de 100 mil anos antes do presente.
Os ossos humanos da foz do rio Klasies e de outros sítios africanosmostram que pessoas anatomicamente semelhantes a nós, o que
inclui o tamanho do cérebro, apareceram nesse continente entre 120 e
100 mil anos atrás. Seu comportamento, entretanto, não teria seguido o
mesmo ritmo de progresso percebido no aspecto físico. A arqueologia
relaciona a expansão geográ�ca dos seres humanos moderna à sua
capacidade altamente desenvolvida de inventar utensílios, formas
sociais e ideias. Isso é, sua habilidade absolutamente atual de produzir
cultura (MOREIRA; QUINTEIROS, 2011, p. 18).
Nesse sentido, a transformação de instrumentos obedece a uma ordem organizada
por uma necessidade de aprimoramento em virtude de alguma superação com um
�m maior. Ou seja, o trabalho não é uma atividade isolada, mas uma atividade social
e à medida que essa sociedade se transforma, junto com ela também, os meios de
produção e reprodução.
Para Oliveira (2001), o trabalho primitivo era diversi�cado, descontínuo e cessava
toda vez que se alcançava o objetivo da manutenção da sobrevivência. Uma vez que
estas comunidades não produziam ou não obtinham mais do que o necessário, não
havia, a produção de excedentes.
A humanidade contava com elementos de trabalho muito
rudimentares: pau, machado de pedra, faca de pederneira e lança com
ponta de pederneira; mais tarde foram inventados o arco e a �echa. A
alimentação era produto da caça e a colheita de frutos silvestres;
posteriormente começa a agricultura na base do trabalho com
picareta. A única forma conhecida era o músculo do homem. Com
somente este instrumento e armas, o homem tinha sérias di�culdades
para enfrentar as forças da natureza e fornecer seu alimento;
unicamente o trabalho em comum podia garantir a obtenção dos
recursos necessários para a sua vida (OLIVEIRA, 2001, p. 31).
Os grupos humanos eram nômades e colhiam vegetais ou faziam pequenas
caçadas. Somente com a melhoria dos instrumentos de trabalho é que foi possível
organizar um sistema de trabalho em que se pudesse melhorar as condições de
sobrevivência do grupo. Armadilhas, lanças, facas e outros instrumentos
aperfeiçoados, além do desenvolvimento da comunicação, aliada a uma primeira
divisão do trabalho, foram determinantes para que estes grupos pudessem
conseguir obter mais recursos alimentares, bem como a melhoria das condições de
vida.
Eiroa (2000) nos informa que, há aproximadamente 8.000 a.C., vários grupos
espalhados em regiões do Oriente promoveram mudanças que transformariam
profundamente a organização social, inclusive o trabalho. Estou me referindo ao que
historiadores chamam de revolução agrícola, ocorrida durante o período conhecido
como Neolítico.
Com o homem do Neolítico:
A reprodução do conhecimento, que, inicialmente, tinha um cunho de informação
mais voltada às tarefas que davam condições de sobrevivência dentro da economia
focada na obtenção de alimentos, sofre drástica alteração. À medida que os grupos
foram se aglomerando e se estabelecendo em de�nitivo nas áreas ocupadas, outros
fatores se tornaram importantes, como a defesa territorial e dos integrantes da
A comunidade primitiva entra em fase de desintegração e as
caçadas se tornam especializadas.
O aporte de carne, agora, passa a servir tanto para o consumo
quanto para a troca.
O homem aprende a fazer a fundição de metais, criando novas
ferramentas.
A invenção e o uso do arado nas plantações permitiram um
grande rendimento na produção.
Como garantia, o homem passa a domesticar os animais para o
uso no trabalho e, também, para o consumo.
A partir deste momento, os grupos deixam de ser nômades para
se tornarem sedentários.
As relações sociais se aprimoram e encontramos as primeiras
civilizações mais complexas, nas quais a divisão do trabalho passa
a ter um contexto não mais de igualdade coletiva, mas de
diferentes hierarquias.
aldeia. Saberes especiais, como questões espirituais em um momento em que o
pensamento mítico era o que predominava, portanto, as respostas dos sacerdotes
eram entendidas como leis.
É possível notar esta divisão mais claramente dentro dos grupos que deixaram de
ser nômades e aplicaram o recurso do plantio e da colheita. São grupos nos quais
amplia-se a possibilidade de obtenção de alimentos bem como o estímulo para
tornaram mais complexas as relações. Isso foi possível porque dentro destas
sociedades ocorreram as hierarquizações e a divisão dos trabalhos de maneira a
otimizar as operações de reprodução da economia de subsistência. Além da força
física, o outro parâmetro utilizado também é o dote intelectual.
A revolução neolítica é também uma revolução educativa: �xa uma
divisão educativa paralela à divisão do trabalho (entre homem e
mulher, entre especialistas do sagrado e da defesa e grupos de
produtores); �xa o papel-chave da família na reprodução das
infraestruturas culturais: papel sexual, papéis sociais, competências
elementares, introjeção da autoridade; produz o incremento dos locais
de aprendizagem e de adestramento especí�cos (nas diversas o�cinas
artesanais ou algo semelhante; nos campos; no adestramento; nos
rituais; na arte) que, embora ocorram sempre por imitação e segundo
processos de participação ativa no exercício de uma atividade, tendem
depois a especializar-se, dando vida a momentos e locais cada vez mais
especí�cos para a aprendizagem (CAMBI, 1999, p. 59).
Posteriormente e já entre as sociedades complexas, como a mesopotâmica e a
egípcia, por exemplo, a linguagem e as técnicas (linguagem mágica e técnicas
pragmáticas) passam a regular, “de maneira cada vez mais separada – dois modelos
de educação” (CAMBI, 1999, p. 59): a formal e institucionalizada e a familiar e
cotidiana. À medida que crescem e se tornam mais capazes, as crianças deixam o
ATENÇÃO
Nas sociedades que atingiram um grau mínimo de desenvolvimento,
ocorreu a divisão de trabalho, o que denota um aprimoramento nas
relações internas. A primeira divisão se dá pelo sexo, onde homens e
mulheres executam tarefas distintas, orientados por diferentes
parâmetros, nos quais a força física é, comumente, o que norteia a
classi�cação das tarefas.
núcleo familiar para serem assistidas por um preceptor ou um o�cial, que, aos
poucos, vai passando seu conhecimento ao aprendiz. A partir deste momento, a
educação perpassa a fronteira familiar e passa a compor o interesse da comunidade.
Nesta estrutura de educação, somente no campo dos ritos e das crenças é que havia
uma especialização educativa, também para uma atividade de trabalho exclusiva e
qualitativamente distinta dos demais grupos. Aos poucos, com o processo de
especialização de tarefas dentro dos grupos sociais, desenvolveram-se sistemas de
aprendizagem diferenciados. Da cristalização deste processo surgiram as divisões
sociais mais complexas muitas vezes denominadas de castas. As castas, com
interesses próprios e antagônicos, vão utilizar mediante a educação diferenciada,
um meio de aumentar as divisões em hierarquias cada vez mais distintas e distantes
entre si. Neste contexto é onde irá surgir a escola, ou seja, surge da necessidade de
estabelecer a divisão de tarefas, separando de forma hierárquica os saberes e
sistematizando as diferentes formas de trabalho.
É a partir desse novo olhar sobre a educação que, ao ensino, soma-se a necessidade
de uma “pedagogia” capaz de traçar as teorias que determinarão as práticas de
transmissão do saber. Algumas sociedades aprimoraram de tal forma esse processo
de educação que acabaram por eleva-lo a um nível complexo de especialização.
Diante dessa complexidade, em um breve período de tempo, o saber acumulado
propiciou o desenvolvimento de tecnologia em diversos segmentos da vida em
sociedade, de�nindo as estruturas econômicas, políticas e culturais. Foram
civilizações muito poderosas e que deixaram um rico legado que chegam aos
nossos dias sob as mais diversas formas: literatura, matemática, �loso�a,
organização política etc.
Na próxima unidade discutiremos a educação desde a Antiguidade Oriental até a
Contemporaneidade, considerando os modelos educacionais propostos por
diferentes sociedades.
Origense desenvolvimento
nos diferentes momentos
históricos
AUTORIA
Marcia Regina de Oliveira Lupion
Nesta unidade, vamos abordar de forma panorâmica os modelos educacionais
adotados nos diferentes momentos históricos. Contudo, devemos levar em conta
que a análise será feita de forma genérica, tendo em vista que, na próxima unidade,
os modelos aqui apresentados serão melhor detalhados. Como a “educação por
difusão” ou educação primitiva foi abordada no subtópico acima, iniciamos esse
tópico a partir das propostas presentes no Oriente Antigo.
Os Modelos de Educação no Oriente
Antigo
Neste subtópico, vamos abordar a questão da educação nas sociedades do Oriente
Próximo, considerando as aproximações existentes entre os modelos presentes no
Egito, na Mesopotâmia, na Índia, China e Japão. Nesse sentido, partimos do princípio
de que a maior característica dessas sociedades é a manutenção da tradição.
Do ponto de vista da educação – por serem sociedades de forte teor
religioso –, o que há de comum em todas elas é o seu caráter estático
ou de muito lenta mutação. Devido à complexidade delas, a educação
exigiu a criação da escola, apesar de restrita a poucos e muito
tradicionalista (ARANHA, 2012, p. 45).
Figura 01 - escola de Atenas, 400 a.C
Fonte: Pixabay
De forma geral, essas sociedades se organizaram a partir de governos despóticos e
teocráticos, como, por exemplo, no Egito, onde o faraó era tido como de origem
divina, ou na China, onde o imperador era o próprio Filho do Céu. Nesse tipo de
organização política, a prioridade era manutenção das tradições, assim como o
apego ao passado (ARANHA, 2012, 46).
Essas sociedades desenvolveram, então, um tipo de estudo marcado pelo dualismo
escolar que diferenciava o ensino para os �lhos do povo em geral do ensino ofertado
para os �lhos dos nobres e altos funcionários. Esse dualismo levou, ainda, a uma
diferenciação entre “os destinados aos estudos do sagrado e da administração e
aqueles voltados ao adestramento para os diversos ofícios especializados” (ARANHA,
2012, p. 52).
Contudo, não havia uma re�exão propriamente pedagógica nesse período e o
aprendizado se dava a partir dos livros sagrados com ênfase nas normas de conduta
e preceitos religiosos e morais, de forma a não haver transgressão de normas ou
mudança nos costumes, o que caracteriza o elemento tradicionalista dessas
sociedades.
As Paidéias Grega e Romana
Dada a originalidade cultural e política da Grécia, autores como Cambi (1999)
consideram ser possível conceituar como o “milagre grego” as mudanças que essa
sociedade trouxe em todos os setores de uma sociedade, dentre elas no espaço
educacional. Quer seja pelo caráter democrático de sua política, quer seja pela
elaboração de uma forma de pensar racional, laica, crítica, humanizante e ideal (a
�loso�a), o fato é que, com os gregos, a educação passou a se pautar pelo
pensamento crítico, individual e a se universalizar. Além disso, estabeleceu uma
nova pedagogia, que passa da prática e tradição para uma pedagogia teorizada
cujos modelos in�uenciaram os sistemas educacionais desde então.
O modelo pedagógico desenvolvido pelos gregos desde o período arcaico resultou
numa série de Paidéias, ou seja, em modelos educacionais que se iniciaram no
período arcaico. Desse modelo inicial se desenvolvendo outras pedagogias até
alcançarem sua maturidade com os so�stas e a proposta de formação humana
baseada na universalidade do saber e na capacidade individual dos homens.
A mudança operada pelos gregos “no âmbito da organização social e política e na
visão da cultura” (CAMBI, 1999, p. 71), realizada em direção à laicização, à
racionalização e à universalização levou a uma fuga dos estudos baseados nas
práticas mágicas e esotéricas que eram exclusivas dos sacerdotes e iniciados para se
transformar em conhecimento próprio da mente de cada homem que, por meio da
crítica, demonstração e rigor irá validar ou não esse conhecimento. Ou seja, no
centro da cultura grega está o racionalismo:
A racionalidade grega, de fato, tem este duplo aspecto: é regra universal na
reconstrução da experiência, pela sua interpretação; e é um valor em si, um �m a
desejar por si mesmo, que realiza o aspecto mais alto do homem: sua vocação à
“vida contemplativa” (CAMBI, 1999, p. 71, grifo no original).
Com isso, o conhecimento laicizado e democratizado gera a universalidade do saber
e da cultura, permitindo, inclusive, a mobilidade social, algo impensável até o
surgimento do pensamento so�sta. Essa noção de “ser humano” é delineada na
antiguidade arcaica e atinge a maturidade com os so�stas quando a “Paidéia” torna-
se a base da pedagogia grega.
Com essa introdução, pretendemos demonstrar que o modelo ou os modelos de
educação na Grécia antiga estão ligados à concepção de ser humano expressa
acima, ou seja, de uma humanidade que não é grega, nem egípcia ou
mesopotâmica, mas, sim, algo inerente ao ser humano e, portanto, universal.
O milagre grego, cujas características são o racionalismo, a laicidade e a
universalidade, foi possibilitado por pelo menos duas condições postas com a
formação da ideia de uma Grécia uni�cada, diferente da organização política arcaica
baseada em reinos independentes.
CONCEITUANDO
Paidéia   é um conceito complexo que não se deixa compreender de
imediato, mas que exprime, de maneira geral, as diversas formas de
educar que visam a formação integral do homem grego e que têm em
Homero e Hesíodo os modelos iniciais, passando pelos so�stas como
Protágoras de Abdera (484-411 a. C.) e Geórgias de Lentini (484-376 a. C.)
e, posteriormente, por �lósofos como Sócrates (470-399 a. C.), Platão
(427-347 a. C.), Isócrates (436-338 a. C.) e Xenofonte (435-354 a. C.), até
chegar à Paidéia   helenística, última etapa da evolução da escola na
Grécia, quando a formação linguístico-literária e a formação do caráter
tornam-se centrais na pedagogia proposta.
São estas portanto,
[...] as condições-chave para compreender a “virada” que se opera no
mundo antigo com a civilização grega: virada que investe em particular
sobre cultura, tornando-a mais autônoma, mais enciclopédica
(articulada sobre todos os saberes e vista como sua reunião orgânica),
mais propriamente humana (basta pensar na noção de paideia , de
“formação humana” por meio de atividades mais próprias do homem,
culturais portanto), mais teorética e submetida ao regulador da teoria
(aspecto que a torna mais independente da tradição e a contrapõe a
ela) (CAMBI, 1999, p. 73).
Com relação à pedagogia, a contribuição grega e inovadora e irá estabelecer as
bases da educação ocidental até a modernidade. A primeira contribuição é dada
pela “passagem da educação (como práxis e como tradição) à pedagogia (como
teoria e como construção de modelos autônomos e inovadores em relação à
tradição)” (CAMBI, 1999, p. 74).
Depois, tem-se a Paidéia, que pode ser compreendida como um ideal de formação
humana no qual o ser humano é visto como tal por “meio do comércio íntimo com a
cultura, que deve estruturá-lo como sujeito e torná-lo indivíduo-pessoa” (CAMBI,
1999, p. 74). Somam-se às duas condições anteriores os estudos históricos e literários
próprios dos “studio humanitates” que privilegiam os saberes do homem e pelo
homem, eixo cultural da escola e dos programas de estudo.
Um último elemento da Paidéia grega é a divisão da formação e da escola em dois
âmbitos, sendo um teórico, contemplativo e cultural e outro técnico, pragmático e
de caráter aplicativo realizado nas o�cinas e destinado ao aprendizado.
Roma e a Humanitas
Para Manacorda (1992), em Roma, a educação tinha um cunho humanista que
caracteriza o homem em todos os tempos e lugares. Essa educação era conhecida
como “humanitas”.
A Humanitas – palavra era usada por Cícero para descrever a formação
de um falante ideal (orador), que ele julgava que deveria ser educado
para possuir um conjunto de virtudes do caráter apropriado para uma
vida ativa de serviço público; estas incluem um fundo de aprendizagem
adquirida com o estudo das litterae bonae (“boas letras”, ou seja,a
literatura clássica, especialmente a poesia), que também seria uma
fonte de cultivo contínuo e prazer no lazer e aposentadoria, a
juventude e a velhice, bem e mal, boa sorte (MANACORDA, 1992, p. 63,
grifo no original).
Uma educação moral, cívica e religiosa com características próprias, mas, também,
com in�uência grega, inclusive o estudo das letras. Ao que tudo indica, a sociedade
romana valorizava o papel primordial da família no processo educativo da criança, o
primeiro educador é o pater famílias, ou seja, o pai. Esta educação no seio da família
é frequentemente exaltada por diversos escritores romanos.
Diferente da mulher grega, a mulher romana, ou melhor, a mãe (nutriz), tem um
papel importante na educação da criança, a qual, em seus primeiros anos, passará
mais tempo ao lado da nutriz do que do pater, ou pai. Por um longo tempo, a Roma
antiga não oferecerá educação às crianças, �cando, portanto, a primeira fase da
educação sob a tutela e responsabilidade da família, fenômeno que também
acontece em outras civilizações que estudamos anteriormente.
Nesta primeira fase, os pais ensinam aos �lhos as letras, o direito e as leis. Inclusive, a
mãe ensina os primeiros traçados das letras por meio de jogos e brincadeiras, uma
vez que a brincadeira é largamente utilizada nesta primeira fase do aprendizado,
como descreve Manacorda (1992, p. 75):
entre os jogos, por exemplo, Horácio enumera a brincadeira de
construir casinhas, de amarrar ratos a um carrinho, de tirar par ou
ímpar, de andar a cavalo em uma cana; Pérsio lembra o jogo das nozes
e, até, o parar de brincar como sinal do � m da infância; e sabemos que
se brincava de mora, de pião e de aro empurrado por um bastãozinho.
Existiam também jogos de re�exão como a dama, o xadrez, os
astrágalos e os dados; outros jogos, como a altilena, cabra cega, a raia,
talvez tenham sido importados da Grécia.
A partir do �m da primeira infância, aos sete anos, as crianças �cavam mais sob os
cuidados do pai, que transmitia as tradições familiares e da pátria, exercícios físicos e
militares, como também as primeiras formas do saber. Com o tempo, parte da
ATENÇÃO
Fato relevante é que este processo, ao mesmo tempo em que dá à
família a responsabilidade de transmitir as tradições ancestrais,
também é o pequeno núcleo social regido pela �gura paterna.
Portanto, a obediência encontra aí não somente o espaço para ser
reproduzido no mundo externo como também favorece os laços
familiares e o que representa a família dentro dessa sociedade.
educação será transferida aos pro�ssionais do ensino. No entanto, continua sendo
de responsabilidade do pai os ensinamentos ou a garantia ao acesso destes.
De acordo com Aranha (2012), podemos dividir a educação romana em três
momentos distintos:
A Educação e o Cristianismo Nascente
Um fato histórico preponderante ocorrido durante o Império romano é o surgimento
do cristianismo.
O cristianismo começou a expandir-se para além dos "pobres" que
compunham a comunidade de Jerusalém e Paulo iniciou a pregação
do Evangelho para todos os homens, não apenas para os judeus, como
tinha sido nos primeiros anos após a morte de Jesus. Paulo distinguia
os ensinamentos de Cristo da religião tradicional dos judeus,
defendendo uma doutrina distinta da dos israelitas. Por mais de vinte
anos, Paulo viajou e pregou, pelo Mediterrâneo Oriental, até ser preso
em 58 d.C. Como Paulo tinha a cidadania romana, em 60 d.C. pediu
para ser julgado em Roma. Em 64 d.C. ocorreram as primeiras
perseguições aos cristãos, tendo Pedro e Paulo sido martirizados em
Roma, por essa época (FUNARI, 2002, p. 82).
Somente com o imperador Constantino é que os cristãos terão liberdade de culto,
algo em torno do ano 313. Até esse período, eram travados muitos embates entre
pagãos e cristãos, tornando-se religião o�cial do Império no século IV e já bastante
modi�cada nos seus fundamentos ancestrais, adquirindo uma estrutura muito
parecida com a organização política de Roma.
Quando o cristianismo se tornou a religião do Estado, o culto aos antigos deuses
Quadro 1 - Períodos da educação romana
1. Educação latina original, de natureza patriarcal.
2. A in�uência do helenismo, criticada pelos defensores da tradição.
3. A fusão entre a cultura romana e helenística, com elementos orientaise de fortes valores gregos.
Fonte: Aranha (2012).
[...] começou a ser combatido, ainda que persistisse, por muitos séculos.
Não foi combatido à toa, mas porque o cristianismo tornou-se uma
religião de Estado e os que não o aceitassem estariam, de certo modo,
des�ando o poder. Nos lugares mais distantes, no campo, o
cristianismo demorou a �rmar-se, daí que os que cultuavam deuses
tenham sido chamados de "pagãos", os habitantes das aldeias. O
cristianismo foi, assim, fundamental para a mudança da sociedade e o
�m do mundo antigo liga-se, diretamente, à sua transformação em
religião o�cial (FUNARI, 2002, p. 84).
A sociedade forjada pelo cristianismo organizou uma forma particular de educar
seus integrantes. Para isso, atacou a cultura dos pagãos e suas escolas por
transmitirem valores diferentes dos presentes nos Evangelhos. No entanto,
reconheceram que a Paidéia grega e romana eram ideais para propagação da
cultura cristã precisando apenas ser atualizada no sentido cristão (CAMBI, 1999).
Assim, se a Paidéia cristã segue as normas das Paidéias grega e romana, seus
“materiais de estudo” são de outra categoria. A mensagem educativa formativa
cristã tinha como documentos essenciais os Evangelhos, as Epístolas de Paulo, o
Apocalipse de João e os Atos dos Apóstolos (CAMBI, 1999).
A igreja desenvolveu, ainda, ações educativas sobre a família, que, além de se
dedicar ao amor recíproco e à criação dos �lhos, deve ser uma instituição baseada
na autoridade do pai. Assim como a comunidade, que recebe a ação educativa a
partir dos pressupostos cristãos que, cada vez mais, sobretudo a partir de
Constantino, assume o poder civil até tomar o lugar do Estado, ou transformar-se
em uma igreja-estado (CAMBI, 1999, p. 126).
A igreja adota, então, uma cultura de governo religiosa e civil baseada no direito
romano. Estamos num momento posterior aos primeiros séculos do cristianismo,
quando acontece a fusão entre a máquina cristã e o imperialismo. Desse modelo de
governo teológico-secular surgem dois modelos educativos: um centralizado na
imitação da pessoa de Jesus Cristo e o outro com foco na formação por meio da
cultura clássica, literário-retórica e �losó�ca gregos (CAMBI, 1999).
O diálogo entre pensamento grego e cristianismo fundou a primeira
tradição �losó�ca da nova religião e tocou em particular o âmbito da
teorização pedagógica que incorporou e transcreveu a noção de
Paidéia, embora a experiência cristã deixasse conviver ao lado uma
visão educativa rigorista e anti-intelectual, de inspiração rigidamente
religiosa. A ruptura cristã também em pedagogia foi sensível, mas as
categorias que vinham organizando aquela experiência mantiveram
uma profunda continuidade com a re�exão clássica que operou
durante toda a Idade Média e, depois, na própria Idade Média (CAMBI,
1999, p. 130).
Por essas condições, segundo Cambi (1999), o cristianismo foi responsável por uma
profunda revolução cultural no mundo antigo, pois propunha não somente uma
nova sociedade mas, também, um novo tipo de homem, no qual a igualdade, a
solidariedade, a humildade, o amor universal, a dedicação pessoal, a castidade e a
pobreza são virtudes essenciais a serem desenvolvidas.
A Idade Média e os Modelos Educacionais
Segundo Aranha (2012), a educação na Idade Média é marcada pela fé, notadamente
a fé católica. O período histórico que compreende a Idade Média Ocidental se
estende desde o século IV até o século XV e apresenta diferentes modelos de
educação e de escolas.
Durante a Idade Média ainda, são criadas as primeiras Universidades, que visam,
num primeiro momento, atender à formação especí�ca de pro�ssionais que
colaborem com as necessidades da nascente sociedade burguesa e, também, dos
nobres investidores. Nesse sentido,grande parte do investimento no sistema
educacional do período se destinava à formação de trabalhadores para os diversos
ofícios artesanais, assim como também para construtores de mapas, visando as
navegações e o comércio marítimo, por exemplo.
Será um longo período, onde a Igreja Católica se tornará senhora tanto das questões
do espírito quanto do Estado. Seu modelo mais expressivo de educação �cou
conhecido como escolástica, um tipo de “�loso�a das escolas cristãs ou das
doutrinas da igreja” (ARANHA, 2012, p. 176).
A atividade docente na universidade era desenvolvida conforme o
método da Escolástica, baseado na lectio (leitura) e na disputatio
(discurso), pelas quais os estudantes exercitavam as artes da dialética,
discutindo proposições controvertidas (ARANHA, 2012, p. 172).
O método escolástico entra em declínio em �ns do século XIV, quando, inclusive as
universidades, limitadas pelo dogmatismo do método, entram em decadência.
O Modelo de Educação Praticado no
Renascimento
Neste momento histórico, o próprio pensamento antropocêntrico, que leva o
homem a ser o grande responsável pelas suas ações, irá in�uenciar,
irremediavelmente, um ensino laico, longe dos dogmas da Igreja. O interesse da
burguesia era, justamente, a libertação para que se desenvolvesse o processo
cientí�co.
A grande novidade da nova ciência foi a valorização da técnica, ao
privilegiar o método experimental, mérito que coube a Galileu Galilei
(1564-1642). Em oposição ao discurso formal da física aristotélico-
tomista, Galileu valorizou a experiência e o testemunho dos sentidos.
Seu método resultou do feliz encontro da experimentação com a
matemática, da ciência com a técnica. Tais procedimentos não
provocaram simples evolução na ciência, mas uma verdadeira ruptura
com a tradição, decorrente da nova linguagem cientí�ca, de um novo
paradigma (ARANHA, 2012, p. 245).
Este novo paradigma, exposto acima, foi um marco que separou séculos de uma
educação clássica, religiosa e determinista, como resultado da interdependência
entre ciência e técnica, no qual a ideia de ação humana como elemento capaz de
incidir sobre a natureza foi ampliada para além das limitações impostas pelo
pensamento medieval. Em certo sentido, essas mudanças inauguram o que se
convencionou denominar de Período Moderno.
A Educação na Modernidade
Apesar destas conquistas, o século XVII será o momento em que os colégios
religiosos alcançarão números de instituições fundadas jamais vistos antes. A
disseminação da escola jesuítica, com o ensino tradicional, apesar de bem
organizado, não conseguirá se manter por muito mais tempo neste formato já
ultrapassado para uma época em que os valores burgueses, bem como o seu poder,
se fortalecerão muito, principalmente depois da Revolução Francesa. Algumas
outras escolas religiosas, como dos oratorianos, relata Aranha (2012), da
Congregação do Oratório, fundada em 1614, serão opositores do sistema jesuítico,
acolhendo as novas ciências e a �loso�a de Descartes. Esta congregação será
herdeira dos colégios da Companhia de Jesus, quando esta for dissolvida no século
XVIII.
O discurso de educação popular toma força também neste período, na Alemanha,
por meio dos protestantes que pregavam uma formação universalista e se
concentravam principalmente na importância ao estudo secundário, portanto, de
cunho elitista. Na França, o abade Charles Démia (1636-1689), conforme Aranha
(2012), publicou um livro defendendo a educação popular. Sob sua direção e
in�uência foram fundadas diversas escolas gratuitas para crianças pobres e um
seminário para a formação de mestres. Outros lugares na Europa também baixaram
decretos ou apresentavam projetos de obrigatoriedade escolar, pelo menos do
ensino elementar.
A Educação na Contemporaneidade
Não há datas especí�cas para determinar o início e o �m do período denominado
modernidade. Costuma-se utilizar alguns fatos como referência, como, por exemplo,
a transição teórica entre o pensamento medieval ou renascentista e o pensamento
moderno racional. Mas, sobretudo, tem-se como referência a elaboração do método
experimental proposto por Descartes (1596-1650) que irá perdurar até a Revolução
Francesa em 1789.
Já o século XVIII é palco de grandes transformações, que vão abalar toda a Europa,
culminando na mais simbólica e profunda: a Revolução Francesa, em 1789. Entre
outros fatores, esta revolução marcou o �m do domínio da Igreja e do absolutismo
real. Na América, os EUA declararam sua independência, momento em que a
democracia deixa de ser uma teoria e passa a existir por meio do presidencialismo
norte-americano. A nova ordem do mundo é resumida em “igualdade, liberdade e
fraternidade” e insere-se nessa discussão a proposta de uma educação democrática.
SAIBA MAIS
Charles Démia (Carlos Démia) foi um eclesiástico francês, fundador do
Seminário Saint-Charles, primeiro lugar de formação de professores na
França.
Charles Démia é reconhecido como um dos precursores da educação
mútua 4 . Em seu Regulamento para as escolas da cidade e diocese de
Lyon, ele apresenta seus conceitos pedagógicos.
Para conhecer mais sobre sua história acesse
ACESSAR
http://www.recantopascal.com.br/pt_not.php?id=96
A Educação em Fins do Século XX
Atualmente, pensadores como Edgar Morin elevaram ainda mais a relevância da
educação e suas atribuições ao considerarem a necessidade de uma educação que
privilegie a complexidade da sociedade contemporânea. Enquanto o século XIX se
caracterizou pela fragmentação dos saberes, ao �nal do século XX a exigência é de
um novo paradigma de complexidade “que, ao mesmo tempo disjunte e associe,
que conceba os níveis de emergência da realidade sem reduzi-los às unidades
elementares e às leis gerais” (MORIN, 2002, p. 53).
REFLITA
Re�ita acerca de como o corpo passou a ser objeto de disciplinarização,
sobretudo a partir do século XVIII, por meio das instituições sob o
domínio dos governos nacionais, como hospitais, escolas, manicômios
etc.
A minúcia dos regulamentos, o olhar esmiuçante das
inspeções, o controle das mínimas parcelas da vida e do
corpo darão em breve, no quadro da escola, do quartel, do
hospital ou da o�cina, um conteúdo laicizado, uma
racionalidade econômica ou técnica a esse cálculo místico
do ín�mo e do in�nito. E uma História do Detalhe no
século XVIII, colocada sob o signo de Jean-Baptiste de La
Salle, esbarrando em Leibniz e Buffon, passando por
Frederico II, atravessando a pedagogia, a medicina, a
tática militar e a economia, deveria chegar ao homem que
sonhara no �m do século ser um novo Newton, não mais
aquele das imensidões do céu ou das massas planetárias,
mas dos “pequenos corpos”, dos pequenos movimentos,
das pequenas ações; ao homem que respondeu a Monge
(“Só havia um mundo a ser descoberto”) (FOUCAUT, 1987,
p. 02).
A esse mundo das ideias, produtor e renovador das culturas e formas de pensar e
agir Morin denominou Noosfera. O termo Noosfera, entretanto, está diretamente
ligado ao didata francês Yves Chevallard (1946), algo que pode ser compreendido
como um espaço ou uma esfera “donde se piensa” (CHEVALLARD, 2000, p. 28).   É
assim que, ao �nal do século XXI, a educação toma novos rumos e parte da
pedagogia para tornar-se ciência da educação (CAMBI, 1999, p. 595) e responder às
demandas da complexidade da sociedade onde novos sujeitos, saberes, interesses e
necessidades se apresentam notadamente no campo da tecnologia e das mídias
digitais.
@freepik
Esse novo paradigma se faz
necessário, uma vez que, no mundo
atual, é consenso que “as ideias e,
mais amplamente, as coisas do
espírito, nascem dos próprios
espíritos, em condições
socioculturais que determinam as
suas características e as suas
formas, como produtos e
instrumentos de conhecimento”
(MORIN, 1991, p. 95). 
SAIBA MAIS
O sistema educacional como conhecemos hoje teve muitas
contribuições. Uma delas foi o estudo realizado pelo sociólogo Norbert
Elias (1897 - 1990), plasmado na obra O Processo Civilizador. Nessa obra
o autor analisa a história dos costumes a partir da formação do EstadoModerno e suas in�uências sobre a civilização e nos leva a pensar no
que aconteceria se um homem da sociedade contemporânea fosse, de
repente, transportado para uma época remota de sua própria
sociedade. É possível que encontrasse um modo de vida muito
diferente do seu. Alguns hábitos e costumes lhe seriam atraentes,
convenientes e aceitáveis do seu ponto de vista, enquanto outros
seriam inadequados. Estaria diante de uma sociedade que, para ele,
não seria civilizada. No Processo Civilizador, Elias procura analisar
questões fundamentais como quais os motivos e de que forma ocorreu
essa mudança. Leitura agradável que nos convida a pensar acerca da
importância da cultura como elemento essencial para pensar as
sociedades e, com isso, valorizar as diferenças bem como combater a
discriminação e outras formas de preconceito.  
Fontes: Elias (1993) e Elias (1994).
Nesta unidade, procuramos compreender a gênese da educação, desde sua prática
no interior das comunidades paleolíticas e neolíticas, até a transformação e
sistematização do ensino formal e não formal.
Nosso principal foco foi a análise da estruturação da educação dentro do contexto do
desenvolvimento cultural das sociedades humanas como diretriz para a formação dos
diferentes modelos de educação que se estabeleceram nas diversas sociedades em
tempos históricos distintos.
Num segundo momento, abordamos, de forma introdutória, como a educação foi se
desenvolvendo junto aos primeiros povos organizados em forma de Estado e
marcados pelas teocracias, como os povos egípcios e mesopotâmicos. Junto a esses,
somam-se os povos orientais da China e do Japão com características escolares
marcadas pela manutenção da tradição e, portanto, modelos educacionais estáticos.
Com as Paidéias gregas, ocorreu o que Cambi (1999) denominou como revolução
educacional quando, mais do que formar pessoas para o trabalho, passou-se a
valorizar a formação intelectual dos indivíduos. Esse modelo educacional gerou, por
sua vez, a dualidade entre trabalho manual e trabalho intelectual.
In�uenciados pelo mundo grego, os romanos adotam a última fase da revolução
grega e instituem o modelo educacional baseado na humanitas, que será, por sua
vez, transformado a partir do momento em que o cristianismo propõe um novo
homem marcado pela caridade e pela humildade.
Esse modelo de homem seria modi�cado ainda mais durante a Idade Média, fase em
que a medida de todos os homens passa a ser a fé. Transformada em poder político e
econômico, a religião Católica impõe modelos educacionais baseados em dogmas
religiosos que terão na Escolástica seu maior exemplo. Entretanto, mudanças na
ordem social e econômica, oriundas tanto da Reforma Protestante quanto do
Conclusão - Unidade 1
fortalecimento da burguesia, ao negarem a hegemonia do poder católico, passaram a
elaborar outras formas de educar que, ao longo do tempo, gestaram o que viria a ser
conhecido como escolas laicas.
As escolas laicas, embora tenham existido durante a Idade Média, são características,
sobretudo, do mundo moderno e contemporâneo. Isso não exclui a existência, ainda
nos dias atuais, de escolas proselitistas. Entretanto, o mundo pós-industrialização e
com foco nas democracias e na constituição do indivíduo-cidadão apostou nas
ciências como a psicologia e a psicanálise como elementos essenciais dessa
formação.
Por �m, vimos brevemente como o século XX, sobretudo a partir dos anos 1950,
gestou modelos educacionais diversos. Algo que já acontecia desde o �nal do XIX
mas, que se intensi�cou depois da Segunda Grande Guerra. Na próxima unidade,
vamos analisar as singularidades das pedagogias em diferentes momentos históricos.
Leitura complementar
No artigo abaixo, Jean-Claude Filloux apresenta a re�exão feita por
Durkheim acerca da educação:
FILLOUX, Jean-Claude. Émile Durkheim. Recife: Fundação Joaquim
Nabuco, Editora Massangana, 2010.
ACESSAR
Em O processo civilizador, o sociólogo Norbert Elias estuda como a
evolução nos costumes e hábitos colaborou para a constituição da
civilização moderna.
ELIAS, N. O processo civilizador: uma história dos costumes. V. I. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994.
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4657.pdf
Em Vigiar e punir, Michel Foucault analisa como as instituições
colaboram para coibir e educar os indivíduos.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 1987.
Livro
Filme
Acesse o link
https://www.youtube.com/watch?v=Vm0JSeMwo2I
Unidade 2
História da Educação da
Antiguidade à
Contemporaneidade
AUTORIA
Marcia Regina de Oliveira Lupion
Introdução
Querido (a) aluno (a),
Nesta unidade analisaremos como a educação se desenvolveu em diversos
momentos históricos. Por exemplo estudaremos a educação praticada pelos
mesopotâmicos e egípcios que permitirá compreendermos como o ensino tornou-
se relevante para a organização econômica daquelas sociedades e passou a contar
com espaços destinados ao aprendizado sistêmico, como templos por exemplo,
ainda que ocupados por outros eventos. Ao se institucionalizar, no entanto, a
“escola” ou “casas de vidas” passou a ser algo esquemático e excludente.
Já na Grécia a abordagem irá recair sobre o exemplo clássico de educação baseada
na paidéia que organiza os planos de estudo ocidentais ainda em nossos dias. Com a
paidéia, a formação educacional ultrapassa o modelo presente na sociedade egípcia
no qual a educação visava a obediência e a submissão além da aquisição de
conhecimentos técnicos.
No modelo grego o racionalismo, a re�exão e o questionamento dos saberes passam
a fazer parte da formação do homem grego, depois cidadão e, posteriormente,
como ser universal. Filosofar acerca do homem, da sociedade, dos saberes, dos
mitos, das religiões, etc., leva a elaboração da ideia de um indivíduo ideal, modelo a
ser buscado não só para o desenvolvimento e manutenção da pólis, mas, para o
próprio crescimento humano. Educa-se para a humanização. E, na Roma antiga
veremos como a educação baseada na humanitas permeia a formação do cidadão
romano, mas, acima de tudo, do homem romano.
No tópico destinado à educação durante a Idade Média, observaremos que esse
período, por ser dividido em suas partes (Alta Idade Média e Baixa Idade Média),
apresentam modelos educacionais diversi�cados. As escolas monásticas por
exemplo, são mais expressivas durante a Alta Idade Média mas, com o surgimento
da burguesia e os novos interesses desse grupo teremos as escolas seculares e
palacianas que se preocupam com um conhecimento voltado para a vida prática, o
que as afasta o modelo monástico cujo privilégio eram os estudos voltados para a
espiritualidade. Durante a Alta Idade Média surge também a escolástica, que pode
ser compreendida como uma �loso�a voltada para explicar o mundo a partir dos
dogmas cristãos.
Entretanto, em meio a burgueses e catolicismos, surgem as universidades e os
saberes dogmáticos então, passam a ser, cada vez mais questionados. A Reforma
protestante e o fortalecimento do pensamento burguês irão inaugurar outras
formas de educar, cada uma de acordo com seus interesses e que culminará com
mudanças que terão sua expressão durante os anos do Renascimento, algo em
torno dos séculos XIV a XVI.
Com o advento da Modernidade (XVII – XIX), o pensamento racional toma forma
também nos modelos educacionais que buscam estender os ensinamentos para o
maior grupo de pessoas possíveis, ainda que não priorizem o mesmo saber para as
diferentes camadas sociais. Com a industrialização a escola técnica assume a
incumbência de formar mão de obra capaz de atender a demanda do mundo do
trabalho. Pedagogicamente, no entanto, tem-se nesse período uma inovação que irá
mudar de forma radical as propostas educacionais. É no século XIX que o homem
passa a ser visto como fruto da interação social e não somente educacional e assim,
a criança torna-se o foco do sistema educacional. Esse movimento foi conhecido
como Escola Nova e in�uenciou a educação em �ns do dezenove e grande parte do
século XX como veremos na Unidade 3.
Bons estudos!Plano de Estudo
A educação no Oriente
Antigo.
A educação no Ocidente
Antigo.
A educação na Idade Média.
A educação no
Renascimento.
O mundo moderno e a
educação.
A educação na
contemporaneidade.
Objetivos de Aprendizagem
Visualizar como a educação acontecida no Oriente Antigo
criou bases para a institucionalização do ensino formal.
Compreender os modelos educativos existentes na Grécia
Antiga e na Roma Antiga.
Conhecer as fases da educação romana.
Analisar os modelos educacionais desenvolvidos durante a
Alta e a Baixa Idade Média.
Estudar a educação perante as mudanças ocorridas no
Renascimento e na Modernidade.
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A Educação no Oriente
Antigo
AUTORIA
Marcia Regina de Oliveira Lupion
Os povos aos quais denominamos antiguidade oriental surgiram no norte da África e
na Ásia (Oriente Próximo, Oriente Médio e Extremo Oriente) e são civilizações que
transformaram a estrutura da antiga aldeia ou grupos de aldeias em cidades, com
templos, palácios, setores de administração e, pelo processo de transformação das
relações sociais, o desenvolvimento da escrita, da matemática e da política. Todas
estas civilizações são fundadas em fortes bases religiosas, outras características que
podemos ressaltar é o caráter estático onde a mudança nos processos sociais é muito
lenta. Como re�exo de sua complexidade de estruturação surge a escola restrita à
classe dominante ou aos nobres e de cunho tradicionalista.
A maior parte dessas sociedades se formou ao longo de planícies sulcadas por
grandes rios os quais foram por elas controlados sobretudo quanto ao uso das águas
para desenvolvimento da agricultura. Em geral apresentavam forte divisão do
trabalho e nítida distinção entre as classes sociais
com forte controle social, tendendo portanto a desenvolver a gestão do
poder na dimensão do Estado (= governo gerido pelo soberano e pela
burocracia administrativa, guerreira, religiosa)/ que dão corpo a uma
tradição de rituais, de mitos, de técnicas, de saberes que, por sua vez,
levanta o problema da sua transmissão/transformação/incremento e que
é gerada pela estabilidade e pela colaboração que marca tais sociedade
(CAMBI, 1999, p. 60).
Os modelos mais estudados para a antiguidade oriental são a China e a Índia na
região dos oceanos Pací�co e Índico e as sociedades mesopotâmicas e egípcia. De
forma sintética, Cambi (1999), enumera três características para a educação
desenvolvida e praticada nessas sociedades:
ela é, ainda, transmissão da tradição e aprendizagem por imitação,
mas tende a tornar-se cada vez mais independente deste modelo e a
de�nir-se como processo de aprendizagem e de transformação ao
mesmo tempo;
liga-se cada vez mais à linguagem – primeiro oral, depois escrita -,
tornando-se cada vez mais transmissão de saberes discursivos (ou
discursos-saberes) e não somente de práticas, de processos que são
apenas, ou sobretudo, operativos;
Aponta ele também, que a escola se torna cada vez mais central como organismo
instrutor de saberes, sobretudo com o fortalecimento dos trabalhos especializados.
Com as sociedades estamentais surgidas então, a escola torna-se uma escola dúplice
uma vez que atende ao conhecimento da cultura e do trabalho; forma pro�ssionais e
acentua o enrijecimento dos papéis sociais em classes separadas e hierarquias
diversas além de transmitir a tradição dos povos.
De forma esquemática, abordaremos nos próximos tópicos e subtópicos, dados
básicos história da educação na China, na Índia, no Japão, no Egito e na
Mesopotâmia. Sociedades altamente hierarquizadas, sectárias e autoritárias.
Mesopotâmia
Os mesopotâmicos provavelmente tenham se organizado como civilização a partir do
quinto ou quarto milênio a.C., às margens dos rios Eufrates e Tigre, como atestam
diversos achados arqueológicos. Standage a descreve assim:
a maioria de seus habitantes era formada por fazendeiros que viviam
entre os muros da cidade e saíam a cada manhã para tomar conta de
seus campos. Administradores, artesãos que não trabalhavam nos
campos foram os primeiros a levar vidas inteiramente urbanas. Veículos
com rodas circulavam pelas ruas, e as pessoas compravam e vendiam
mercadorias em mercados movimentados. Cerimônias religiosas e
feriados públicos ocorriam num ciclo regular que traziam conforto
(STANDAGE, 2005, p. 27).
Cidades com estruturas bem construídas, inclusive para compensar questões
geográ�cas, como enchentes dos rios, sistemas de irrigação, levam a crer que havia
ali naquela região uma intensa atividade de produção e escoamento de produtos
através dos rios também.
reclama uma institucionalização desta aprendizagem num local
destinado a transmitir a tradição na sua articulação de saberes
diversos; a escola (CAMBI, 1999, p. 61).
Sabemos que vários povos se sucederam no decorrer de sua história, dentre os quais:
sumérios, acádios, assírios e os persas. Sendo os sumérios, um povo de origem incerta,
os responsáveis por organizar a vida social mesopotâmica fundando cidades,
“canalizando as águas, cultivando grãos, cevada, palmáceas e vendo em paz, sem
“políticas de poder” e adorando deuses nos templos” (CAMBI, 1999, p. 64).
Utilizavam diversos instrumentos feitos por meio de fundição de metais, o que denota
conhecimentos tecnológicos importantes para tal fabricação. Compreende-se,
portanto, uma constante atividade econômica que deveria ser controlada por pessoas
de alta con�ança, no caso os sacerdotes, mas mediante um registro concreto:
Figura 1 - Mesopotâmia
1792 a.C.
1750 a.C.
100 2000
Mari
Esnuna
Lagaxe
Assur
Nínive
Ur
Eridu
Larsa
Nipur
Isim
Quis
Sipar
Babilônia Susa
E u f r a t e s
T i g r e
Hamurábi
1792 - 1750 a.C.
Babilônia
Malgium?
E l ã o
Fonte: wikimedia
para tudo isso funcionar, os sacerdotes e seus súditos tinham de ser
capazes de registrar o que tinha trazido e recebido. Recibos de impostos
foram inicialmente mantidos em formas de �chas dentro de envelopes
de barro [...]. Os documentos escritos mais antigos, que datam de 3.400
a.C., da cidade de Uruk, são tabuletas pequenas e lisas de barro que
cabem confortavelmente na palma da mão [...]. Cada compartimento
contém um grupo de símbolos, alguns obtidos pela pressão das �chas
no barro e outros rabiscados utilizando estiletes (STANDAGE, 2005, p. 32).
Com o desenvolvimento e expansão econômica a necessidade de registros diversos,
inclusive leis, levou ao desenvolvimento de um sistema de escrita chamada de
cuneiforme (pela maneira como era modelada) em placas de argila e que tinham
diversas funções.
Por volta de 3.000 a.C., alguns símbolos surgiram para representar sons
especí�cos. Ao mesmo tempo, pictogramas feitos de impressões
profundas com o formato de cunha tomaram o lugar daqueles
compostos por rabiscos super�ciais. Isto tornou a escrita mais rápida,
porém reduziu a qualidade pictográ�ca dos símbolos, de tal modo que a
escrita começou a parecer de forma mais abstrata (STANDAGE, 2005, p.
34).
Parece-nos, portanto, que o ato da escrita compunha não somente uma prática
diária, mas também uma necessidade organizacional, sendo assim compunha parte
do aprendizado de algumas castas, diferente do que veremos nos primeiros tempos
no Egito.
Apesar de as informações sobre a educação serem poucas, sabemos que
desenvolveram estudos sobre a astronomia, medicina, engenharia. A educação
predominante na era dos sumérios (3.800 – 3.500 a.C.) era doméstica, os saberes eram
transmitidos dentro do núcleo familiar, geralmente por meio do chefe desta. Os
ensinamentos eram, como pressupõem-se, carregados de misticismo, no entanto
com o passar dos séculos ocorrem mudanças signi�cativas:
Após 1240 a.C., quando os assírios conquistaram a Babilônia, foram
criadas escolas públicas, com a intenção de impor valores
conquistadores. Com o tempo surgiram instâncias de educação superior
– os centros de estudos de história natural, astronomia, matemática
criados nos palácios reais – a que os historiadores chamaram de
“Universidade Palatina da Babilônica”. Também proliferaram ricas
bibliotecasno interior dos templos, em que os “livros” eram tabuletas ou
cilindros gravados com caracteres cuneiformes e versavam sobre os
mais diversos assuntos (ARANHA, 2012, p. 56).
Vale dizer que as bibliotecas já existiam com os sumérios, mas se multiplicaram em
várias regiões com os assírios, o que também nos leva a crer que parte da
simpli�cação da escrita, conforme relatamos acima, facilitou a disseminação do
conhecimento e do ofício de ler e escrever.
Mesmo este processo de estruturação do ensino, não nos fornece dados de que
houve uma inovação nos processos de ensino, sendo mais claro a�rmar que mesmo
sendo criados novos espaços para a educação, esta permanecia tradicionalista,
atendendo basicamente as classes mais abastadas ou dirigentes, em detrimento das
camadas de servos e trabalhadores.
Ainda no segundo milênio a.C., o rei Hamurabi institui uma lei que será conhecida na
história pelo seu nome, lei esta que resultava da autoridade divina, portanto imutáveis
e não passíveis de transgressão, que con�rmam a emanação divina do rei e dos
sacerdotes e levadas à cabo pela população.
A classe sacerdotal era depositária da palavra, conhecedora das técnicas da leitura e
da escrita nas línguas suméria e acadiana, ambas presentes na sociedade
mesopotâmica. Esse acúmulo de conhecimentos e responsabilidades tornava os
sacerdotes depositários também das formações escolares, tecnocráticas e médicas
“ligadas a um “processo de iniciação” e conferida com “extrema seriedade”, segundo
um sistema gradual: primeiro aprendia-se a língua oralmente, depois “de forma
criptográ�ca”, por �m na dimensão escrita comum” (CAMBI, 1999, p. 64).
Por suas capacidades, os sacerdotes eram os responsáveis por formar os escribas que
tinham a função de ler e reproduzir os textos religiosos, registrar transações
comerciais, entre outras produções muitas vezes encomendadas pelos reis.
Egito
Thoth, deus egípcio representado pela �gura com corpo humano e cabeça de íbis é
considerado deus da sabedoria e “criador de toda atividade intelectual de todos os
povos” (MANACORDA, 1992, p. 10). Ele representa a maturidade cultural e instrucional
da sociedade egípcia, ou seja, Thoth representa um momento em que o mundo
egípcio já se encontrava em pleno desenvolvimento educacional instituído por meio
ATENÇÃO
A classe sacerdotal gozava de grande poder e prestígio e eram �éis
depositários do conhecimento e encarregada pela educação.
da valorização do pro�ssional responsável pela produção, manutenção e transmissão
dos saberes assim como, pela constituição de espaços especí�cos para a transmissão
desses conhecimentos.
Com essa assertiva, Manacorda nos leva a considerar que houveram, na sociedade
egípcia, diferentes momentos na dimensão educacional e que culminaram com a
representação em sua plenitude na �gura do deus da sabedoria Thoth.
Cada período histórico egípcio determinou alterações nas formas de ensinar. Com
base nesse fato, dividiremos nossa apresentação considerando os quatro períodos
clássicos daquela sociedade: o Antigo Império, o Segundo Império, o Novo Império e,
por �m, o período Demótico.
A educação no Antigo Império egípcio
A civilização egípcia que se formou ao longo do rio Nilo é fruto da fusão de diversos
grupos étnicos, politeístas e organizados politicamente sob a instituição dos faraós.
Sua economia era agrária e representava a grande riqueza daquele país (CAMBI, 1999,
p. 66).
Figura 2 - Thoth, a esquerda, deus da sabedoria
Fonte: @DEZALB em pixabay
Durante o antigo império, ainda sob o governo de Menés (3.100 a.C.), o faraó tonou-se
símbolo da unidade do país. Investido de conotações divinas e governava exercendo
controle sobre os demais membros da sociedade como os altos funcionários da corte,
os sacerdotes, os burocratas, os guerreiros e os técnicos. A educação nesse período
não fazia uso de livros sagrados nem havia magistérios instituídos.
De acordo com Aranha (2012, p. 54), embora a sociedade egípcia tivesse vastos
conhecimentos em botânica, zoologia, mineralogia, geogra�a, geometria e
matemática, o volume de informações sob seu domínio não vinha acompanhado de
questões teóricas, demonstrações, princípios ou leis cientí�cas. Caberia aos gregos a
grande contribuição nesse sentido.
As escolas, já institucionalizadas, eram frequentadas por mais de vinte alunos e “não
funcionavam em prédios especialmente construídos para essa função, mas sim, em
templos e algumas casas” (ARANHA, 2012, p. 54). Para as aulas,
Os mestres sentavam-se em uma esteira e os alunos ao redor dele,
muitas vezes ao ar livre, “sob uma �gueira”, como atesta a rica
iconogra�a egípcia. Os textos eram aprendidos mediante a repetição
mnemônica, isto é, pela leitura em voz alta, em conjunto, para facilitar a
memorização. O ensino autoritário tinha por �nalidade curvar o aluno à
obediência (ARANHA, 2012, p. 54).
Além da obediência, a educação formal egípcia valorizava o “falar bem”. Considerado
elemento essencial para o desempenho político, o falar bem contribuia na arte de
convencimento tanto dos conselheiros reais quanto das multidões (ARANHA, 2012, p.
54). Durante o antigo império predominava a educação por meio da literatura
sapiencial, que são os livros voltados para o ensinamento via moral e
comportamentos.
NA PRÁTICA
Em um Estado centralizado e teocrático como o egípcio, a transmissão
do conhecimento religioso e técnico se restringia aos sacerdotes que por
sua vez, instruíam os demais por meio de ritos de iniciação (ARANHA,
2012, p. 54).
Os autores desses primeiros ensinamentos, fossem eles príncipes ou
escribas-funcionários, constituíram uma tradição tornando-se os
clássicos por excelência da literatura egípcia, dado que seus escritos
chegaram até nós em muitas coletâneas escolásticas mais recentes.
Mencionamos Kares, Heigedef (Gedefor), Khety, Neferty, Ptahemgiehuti,
Khakheper-ra-seneb, Pthhotep e Imhotep, do qual não nos restou nada:
são “os sábios que prediziam o futuro”, pois, isto é, são os autores de uma
literatura que poderíamos chamar de profética ou sapiencial, como
aquilo que costumamos encontrar na Bíblia (MANACORDA, 1992, p. 11,
grifo no original).
É possível dizer que a “relação pedagógica” existente no período era marcada por
uma educação mnemônica na qual se valorizava a repetição e era passada de pai
para �lho (MANACORDA, 1992, p. 12).
Somado aos ensinamentos ético-comportamentais os exercícios físicos. Ainda
durante a antiguidade egípcia, atividades físicas como natação passam a ser
ensinadas aos jovens juntamente com o uso do arco, a corrida, a caça e a pesca. Nesse
período, a técnica do “escrever bem” não fazia parte da educação voltada para o “falar
bem”. O ensino da escrita era voltado para um grupo especí�co de técnicos como os
escribas encarregados dos registros de atos o�ciais ou registros de comércio
(ARANHA, 2012, p. 54).
No �nal do terceiro milênio a.C. e do advento do segundo, os escribas passaram a ter
mais prestígio assim como as técnicas de escritas. Dada a relevância desse técnico da
escrita, responsável pela leitura das escrituras antigas; redator dos escritos do rei,
mestre das crianças e �lhos do rei (nascidos ou ascensos), esse pro�ssional será
introduzido na dinâmica de sua majestade o que o levará a tornar-se “além de
funcionário da administração, também – se não sobretudo – mestre dos grandes (por
nascimento ou ascensão socialmente) e, particularmente, dos “�lhos do rei” e dos
�lhos de outros grandes” (MANACORDA, 1992, p. 20, grifo no original).
A educação no Médio Império
Durante o Médio Império (2100 – 1780 a. C), o livro uso do livro texto se generaliza. Já
não são mais usados somente sapienciais e sim, escritos realizados pelos próprios
escribas. Escriba que pode ser o próprio pai, “con�rmando que, originalmente, a
intuição era um fato interno à família, com para qualquer outra atividade pro�ssional,
ou um escriba que está formando seu aprendiz” (MANACORDA, 1992, p. 20), como se
ensina a um �lho.
A escola não pública, mas, coletiva e privada. Nessa época, a pro�ssão de escriba seapresenta como uma possibilidade, inclusive de prestígio e ascensão social
(MANACORDA, 1992, p. 21). O saber técnico, expresso por um pro�ssional ou um
mestre, se especializa em si mesma e um escriba pode ser um conhecedor dos
hieróglifos; um escriba da casa dos escritos (biblioteca) ou da casa da vida (escola).
Mas, acima de tudo, um escriba é a pessoa que domina o saber da escrita e irá atuar
tanto no palácio quanto no comércio.
São fortalecidas nesse momento, a obediência submissão aprendidas quer seja na
escola da vida ou em casa, e, os estudos apreendidos com um escriba para tornar-se
também um escriba se transformam em ações favoráveis para uma vida proveitosa e
ideal para a promoção social, resume Manacorda (1992, p. 23).
CONCEITUANDO
A sabedoria torna-se cultura, isto é, “em conhecimento erudito e em
assimilação da tradição com seus rituais e a correlativa constituição da
escola com seus materiais didáticos, os rolos de papiro (os atuais livros)”
(MANACORDA, 1992, p. 21, grifo no original).
ACESSAR
Figura 3 – Hieróglifos egípcios
Fonte: photosforyou em Pixabay
A educação no Novo Império
No novo império ocorrerá a generalização das escolas, a educação passa a ser não
somente física (militar), mas também uma formação intelectual. Nas escolas, os
materiais didáticos passam a ser empregados de maneira sistêmica, o uso de
coletâneas escolares que são compostos por textos e cadernos de exercícios,
continham hinos, orações, sentenças morais, sátira dos ofícios e a exaltação dos
antigos escribas, aliás, é preciso salientar que o per�l deste ofício muda também
neste período:
o escriba Hori, após ter exibido sua capacidade estilística, provoca o
adversário a responder questões de matemática, geometria, geogra�a,
engenharia e outras. Temos aqui um exemplo vivo da cultura técnica e
não sapiencial como outrora, que um escriba deveria possuir. Todas as
questões são muito concretas: cálculo das rações para os soldados, dos
tijolos para a construção de uma rampa, da mão-de-obra para o
levantamento do obelisco ou para o esvaziamento de um armazém
(MANACORDA, 1992, p. 34).
O saber universal passa a ser uma referência de ensino em um mundo real e
concreto, dominado pelas exigências práticas e, portanto, o escriba tem um papel
fundamental na preparação desta nova realidade.
Os métodos educativos, preservados sobretudo nos textos sapienciais e também nos
escritos dos próprios escribas mostram que a punição ainda é um elemento
disciplinador no Novo Império. Ensina-se por meio da punição e pela aceitação do
aspecto técnico do ofício de escriba que é exatamente o domínio da arte da escrita e
da leitura. A primeira adquire-se com o adestramento das mãos e dos dedos e a
segunda, por meio da leitura em voz alta ainda que haja presentes na sala
(MANACORDA, 1992, p. 33).
Os métodos de ensino da matemática são inexistentes nesse período segundo
Manacorda (1992, p. 34). Explica ele que não havia então pressupostos teóricos para o
ensino da matemática sendo que os algoritmos eram fornecidos pelos mestres e
deviam ser repetidos até estarem decorados. Nesse período, “qualquer raciocínio,
teoria ou justi�cativa lógica eram reservados aos graus superiores dos estudos”
(MANACORDA, 1992, p. 35).
Outro elemento da cultura educacional criada pelos egípcios são as Onomásticas. A
Onomástica, juntamente com o ensino mnemônico, ajudava a controlar uma
complexa administração estatal e são consideradas as ancestrais das nossas
enciclopédias.
A educação no período Demótico
O período Demótico, que compreende os anos de 1069 a 333 a.C., inaugura uma
forma de educação cujo objetivo não é mais formar para o bem falar. Não mais a
oratória política capaz de convencer conselheiros do reino ou a população em geral é
o foco da educação realizada quer seja institucionalmente quer seja nos lares. Ainda
que a educação continue pautada em questões morais, nas tradições ancestrais e no
falar bem, um novo elemento se soma a esses saberes. Agora foco da instrução não é
mais exclusivamente a formação para o universo da política, mas sim para a vida
cortesã, cabendo aos escribas prepararem os mais jovens por meio da escrita, leitura
obediência e submissão (MANACORDA, 1992, p. 36).
Via de regra, a formação contínua no todo tradicionalista dividindo a escola com
objetivos intelectuais ou pro�ssionais (práticos), sendo a primeira destinada aos
nobres para a política e a guerra, a segunda o ensino dos ofícios que além dos
prestigiados escribas formavam médicos, engenheiros, arquitetos.
A instrução intelectual continua a ser exclusivamente dos grupos dominantes, nobres
e funcionários. “Trata-se, portanto, ou da enculturação ético-comportamental do
homem de qualidade ou da instrução pro�ssional do administrador do Estado”
(MANACORDA, 1992, p. 38). A grande massa, pressupõe-se, que continuava a aprender
com a família ou com os adultos depois de uma certa idade um ofício menor.
China
SAIBA MAIS
Consideradas como obras de saber universal, as Onomásticas
apresentavam um interesse não tão �lológico, mas de conteúdo, isto é,
são listas de coisas reais e não de palavras, como em nossos vocabulários.
Nelas estão contidos em setores as listas do que se deve saber sobre: o
céu, a água e a terra. Sobre pessoas, ofícios, pro�ssões e, sobre classes:
tribos, tipos de seres humanos; as cidades; edifícios e suas partes;
terrenos agrícolas (MANACORDA, 1992, p. 35).
Com estas classi�cações eram feitas catalogações que eram utilizadas na
pro�ssão do escriba enquanto funcionário do Estado, bem como nos
recursos a serem ensinados aos seus discípulos.
Os chineses com várias dinastias já estabelecidas em meados do segundo milênio
a.C., mantiveram no decorrer de sua história uma tradição educacional que irá
romper os séculos e serão mantidas sem mudança até um período bem recente de
sua história. Esta sociedade, assim como a mesopotâmica, tem em seus escritos
religiosos a base do conservadorismo pedagógico, pois orientavam-se no I Ching (livro
das mutações), como alerta Aranha (2012, p. 59), Lao Tsé e Confúcio (séc. VI a.C.) se
inspiraram neste livro para fundar o Taoísmo e o Confucionismo.
Figura 4 - Caligra�a Chinesa
Fonte: freepik
CONECTE-SE
Para conhecer mais sobre a nobre arte da caligra�a chinesa acesse o link:
ACESSAR
https://ibrachina.com.br/cultura/a-incrivel-e-nobre-arte-da-caligrafia-chinesa/
Como sociedade, a estrutura chinesa se organiza por meio da tradição
profundamente marcada pela família, pelo patriarcalismo e pelo autoritarismo. Esses
elementos tidos como de coesão social terão nos mandarins (altos funcionários de
extrema con�ança do imperador) a �gura que irá dominar o ofício da educação, ao
invés dos sacerdotes como foi entre os mesopotâmicos.
A educação também é tradicional: dividida em classes, opondo cultura e
trabalho, organizada em escolas fechadas e separadas para a classe
dirigente (para as quais se compilam livros e estudam técnicas de
aprendizagem com exame), nas o�cinas para os artesãos ou nos campos
para os camponeses (CAMBI, 1999, p. 63).
Essa forma autoritária e sectária de educar não diferente de outras sociedades que
veremos no decorrer desta obra.
Índia
A Índia Antiga formou-se a partir de grupos organizados em sociedades sedentárias
ao longo do segundo milênio a.C., nas regiões próximas aos rios Ganges e Indo. A
tradição religiosa é marcada pelo hinduísmo e o budismo, sendo que esta última foi a
que se difundiu até o extremo oriente.
Sob a dominância do hinduísmo em sua maioria in�uenciados pelo bramanismo, a
sociedade indiana vai se organizar mediante as divisões de castas muito fechadas,
bastante radicais e de extrema discriminação. Nesta sociedade são os sacerdotes os
líderes que mantêm ensinamentos dogmáticos imutáveis e excludentes.
Devido à crença de que todos saíram do corpo do deus Brahman, os
brâmanes eram considerados os mais importantes por terem sido
gerados da cabeça do deus. No outro extremo, os párias, por nem sequer
terem origem divina, não pertenciam a nenhuma casta e por isso eram
intocáveis

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