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escrita de sinais

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2019
Introdução à EscrIta dE 
sInaIs
Prof.ª Ma. Mariana Correia
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof.ª Ma. Mariana Correia
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
C824i
 Correia, Mariana
 Introdução à escrita de sinais. / Mariana Correia. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2019.
 215 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0315-7
1. Escrita de sinais. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da 
Vinci.
CDD 372.4
III
aprEsEntação
Prezado acadêmico, seja bem-vindo ao Livro Didático de Introdução 
à Escrita de Sinais. Você alguma vez já se deu conta de como a escrita está 
na base das relações sociais que estabelecemos? Quando queremos comprar 
algo, seja pequeno como uma meia ou grande como uma casa, utilizamos 
a escrita como modo de validar aquilo que havíamos combinado através 
da fala, desse jeito, mesmo através de uma simples nota fiscal ou de um 
complexo contrato de financiamento imobiliário, é por meio da escrita que 
nossas relações se constituem. Também a nossa identidade é dada através de 
um documento escrito como o RG, nossa formação acadêmica é comprovada 
por certificados, diplomas e históricos, todos eles não passam de simples 
papéis nos quais as informações foram escritas e certificadas através de 
assinaturas, também escritas. 
Assim sendo, além da ideia do senso comum de que a escrita é a forma 
gráfica que os fonemas recebem, ou seja, o modo de escrever o que está sendo 
dito, também a escrita tem aprofundamentos, valores sociais e conceitos bem 
mais importantes do que o de simples registro. Com base nos usos dentro da 
sociedade em que vivemos, a nossa interação não seria possível sem o uso da 
escrita como meio e do papel (físico ou digital) como suporte. Este livro tem 
como objetivo discutir estas e outras questões vinculadas ao desenvolvimento 
da escrita, sua importância social como representação das relações sociais e 
qual a relevância da escrita na aquisição da linguagem e garantia de direitos 
das comunidades surdas. 
Portanto, neste livro didático, estudaremos questões importantes para 
a compreensão do desenvolvimento da escrita das línguas de sinais dentro 
do caminho teórico e metodológico feito a partir dos estudos linguísticos 
sobre a história da leitura e da escrita; o processo de aquisição da leitura e 
escrita de sinais; os estudos da linguagem e letramento no contexto da surdez 
e a estrutura do dicionário em escrita de sinais e em português. 
Na Unidade 1 discutiremos qual a perspectiva linguística sobre a 
escrita e a leitura, a relação entre a leitura e a fala, as questões referentes à 
história do registro escrito das línguas orais, as formas como o registro das 
línguas de sinais se desenvolveram ao longo do tempo e, por fim, veremos 
como se deu o desenvolvimento da escrita de sinais, quais os sistemas de 
escrita de sinais existentes no Brasil. Desse modo, a primeira unidade tem 
como objetivo principal a compreensão do lugar da escrita nos estudos 
linguísticos, o conhecimento da história da escrita e sua relação com a fala 
e a leitura, e o conhecimento das especificidades do desenvolvimento dos 
sistemas de escrita das línguas de sinais.
IV
Na Unidade 2 veremos as questões específicas em relação à 
linguagem e à surdez, iniciaremos com um tópico para discussões sobre 
alfabetização e letramento, abordando tanto em uma visão mais geral quanto 
em relação às características específicas dos surdos. Depois, estudaremos os 
aspectos específicos sobre a relação dos surdos com a escrita, tais como o 
histórico da educação de surdos, a relação entre a aprendizagem da escrita 
de língua portuguesa como L2 e de língua de sinais como L1. Ao final desta 
unidade trataremos dos aspectos sociais do uso de uma língua escrita para a 
comunidade surda. Para encerrarmos esta unidade, estudaremos os aspectos 
ligados à escrita, surdez e cidadania, com as discussões sobre direitos, 
representação e educação linguística. 
Para encerrar as discussões introdutórias sobre o estudo da escrita da 
língua de sinais, na Unidade 3, estudaremos tópicos referentes aos processos 
de aquisição e desenvolvimento de linguagem. Por isso, nesta unidade 
veremos os assuntos referentes aos períodos de aquisição da linguagem, a 
construção do sistema simbólico de representação, a relação entre cognição e 
linguagem e a aquisição de linguagem das crianças surdas. Ainda na última 
unidade, abordaremos quais são as áreas da linguística ou níveis de análise 
que aparecem na escrita da língua de sinais. Ao final, abordaremos aspectos 
gerais sobre a leitura e a escrita das línguas de sinais, tais como a etimologia 
das línguas de sinais, o registro do dicionário e do registro em escrita de 
sinais, a relação entre a escrita de sinais e o desenvolvimento de linguagem 
para as crianças surdas, a estruturação dos elementos linguísticos na escrita 
de sinais e as bases para a leitura dos textos em SignWriting. 
Desse jeito, o livro didático que temos em mãos tratará das bases para 
o estudo da escrita de sinais de modo a fazer discussões que relacionem o 
conhecimento linguístico sobre a escrita em um geral ao contexto de estudos 
sobre a surdez e da escrita das línguas de sinais, passando pelos processos 
de aquisição e registro de linguagem, bem como pelo estudo das questões 
referentes à alfabetização e letramento em língua de sinais. 
Ao longo de todas as unidades aparecem sugestões de diferentes 
materiais para exemplificação ou aprofundamento das discussões e estudos 
realizados. Assim como notas explicativas e diferentes observações que têm 
como objetivo explicar, ampliar e desenvolver as discussões apresentadas a 
seguir.
Desejamos que você vivencie momentos de bons estudos e tenha uma 
ótima leitura! Ah, lembrando que a escrita se realiza como instrumento de 
registro através da leitura, ou seja, são faces de uma mesma moeda de trocas 
linguísticas.
V
Para já iniciarmos o nosso contato com as palavras em escrita de sinais, ao 
longo deste livro aparecerão algumas delas ao lado da escrita em português ou do desenho 
do sinal correspondente, podemos encontrá-las/criá-las através do site: <http://www.
signbank.org/signpuddle/>. Acesso em: 9 maio 2019.
NOTA
Prof.ª Ma. Mariana Correia.
Sinal da autora
Apresentação
VI
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
VII
VIII
IX
UNIDADE 1 – HISTÓRIA DO REGISTROESCRITO DAS LÍNGUAS ...................................... 1
TÓPICO 1 – A ESCRITA COMO FORMA DE REPRESENTAÇÃO DA LÍNGUA .................... 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 LINGUAGEM, LÍNGUA E ESCRITA ............................................................................................... 3
3 LINGUAGEM E LÍNGUA ................................................................................................................... 6
4 A RELAÇÃO ENTRE LÍNGUA, ESCRITA E FALA ....................................................................... 9
5 A INTERDEPENDÊNCIA ENTRE A ESCRITA E LEITURA ....................................................... 11
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 14
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 16
TÓPICO 2 – DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA DAS LÍNGUAS ORAIS ............................. 17
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 17
2 A CATEGORIZAÇÃO DO MUNDO PELA LINGUAGEM ......................................................... 17
3 DO PICTÓRICO AO SIMBÓLICO ................................................................................................... 20
3.1 SÍMBOLOS GRÁFICOS MENEMÔNICOS .................................................................................. 22
3.2 ESCRITA FONÉTICA ...................................................................................................................... 29
4 SISTEMAS DE ESCRITA .................................................................................................................... 32
5 ESTRUTURAÇÃO DA ESCRITA DAS LÍNGUAS ORAIS ......................................................... 36
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 38
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 41
TÓPICO 3 – REGISTRO PARA AS LÍNGUAS DE SINAIS ............................................................ 43
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 43
2 DESCRIÇÃO .......................................................................................................................................... 45
3 DESENHOS/FOTOS ............................................................................................................................ 47
4 REGISTROS EM VÍDEOS .................................................................................................................. 49
5 GLOSAS/ÍNDICES ............................................................................................................................... 50
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 51
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 52
TÓPICO 4 – ESCRITA DAS LÍNGUAS DE SINAIS ........................................................................ 53
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 53
2 HISTÓRIA DOS SISTEMAS DE NOTAÇÕES DAS LÍNGUAS DE SINAIS .......................... 54
3 DESENVOLVIMENTO DA SINGWRITING ................................................................................... 59
3.1 VALERIE SUTTON E A SW ........................................................................................................... 63
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 68
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 71
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 73
UNIDADE 2 – SURDEZ E LINGUAGEM .......................................................................................... 75
TÓPICO 1 – O SURDO E A ESCRITA ................................................................................................. 77
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 77
sumárIo
X
2 HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA DOS SURDOS ................................................ 78
2.1 ORALISMO ....................................................................................................................................... 82
2.2 BIMODALISMO/COMUNICAÇÃO TOTAL .............................................................................. 86
2.3 BILINGUISMO ................................................................................................................................. 89
3 A RELAÇÃO HIERÁRQUICA ENTRE A LIBRAS (L1) E O PORTUGUÊS (L2) PARA OS 
SURDOS ................................................................................................................................................. 95
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 100
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 102
TÓPICO 2 – ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E O LUGAR DA ESCRITA DA LÍNGUA 
 DE SINAIS ......................................................................................................................... 103
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 103
2 ALFABETIZAÇÃO: CONCEITUAÇÃO ........................................................................................... 106
2.1 MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO ............................................................................................... 110
2.2 ALFABETIZAÇÃO, BILINGUISMO E ESCRITA DE SINAIS ................................................... 112
2.3 NÍVEIS DE ALFABETIZAÇÃO, ANALFABETISMO E ANALFABETISMO FUNCIONAL ..... 116
3 LETRAMENTO: CONCEITUAÇÃO ................................................................................................. 119
3.1 EVENTOS E PRÁTICAS DE LETRAMENTO ............................................................................. 122
3.2 LETRAMENTOS .............................................................................................................................. 123
4 ATIVIDADES DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO PARA ESTUDANTES SURDOS...... 123
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 129
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 131
TÓPICO 3 – ESCRITA, LEITURA E CIDADANIA ........................................................................... 133
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 133
2 DIREITOS LINGUÍSTICOS ............................................................................................................... 134
3 REPRESENTATIVIDADE LINGUÍSTICA ......................................................................................136
4 EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA ............................................................................................................. 139
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 140
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 144
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 145
UNIDADE 3 – AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM E ESCRITA DE SINAIS ................................... 147
TÓPICO 1 – AQUISIÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM .................................... 149
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 149
2 AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM ........................................................................................................ 149
3 PERÍODOS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM .......................................................................... 153
4 CARACTERÍSTICAS DE AQUISIÇÃO DAS CRIANÇAS SURDAS ........................................ 156
5 A IDADE CRÍTICA DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM ........................................................... 163
6 AQUISIÇÃO DE L2 .............................................................................................................................. 165
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 168
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 170
TÓPICO 2 – AS ÁREAS DA LINGUÍSTICA E O REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS DE 
SINAIS ................................................................................................................................ 171
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 171
2 FONÉTICA/FONOLOGIA .................................................................................................................. 172
3 MORFOLOGIA ..................................................................................................................................... 179
4 SINTAXE ................................................................................................................................................. 186
5 SEMÂNTICA ......................................................................................................................................... 187
6 PRAGMÁTICA ..................................................................................................................................... 188
XI
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 190
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 191
TÓPICO 3 – LEITURA E ESCRITA DE SINAIS ................................................................................ 193
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 193
2 A CRIANÇA SURDA E A ESCRITA DE SINAIS ........................................................................... 193
3 OS DICIONÁRIOS E O REGISTRO DA LÍNGUA DE SINAIS ................................................. 195
4 BASES PARA A LEITURA EM ESCRITA DE SINAIS .................................................................. 199
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 203
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 206
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 208
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 209
XII
1
UNIDADE 1
HISTÓRIA DO REGISTRO 
ESCRITO DAS LÍNGUAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender qual a definição e o papel da escrita na perspectiva dos es-
tudos da linguagem;
• estabelecer parâmetros acerca da relação existente entre fala e escrita, e 
escrita e leitura;
• conceituar a escrita completa;
• relatar o desenvolvimento da escrita das línguas orais ao longo da história;
• delimitar as características do sistema silábico de escrita;
• perceber a estruturação da escrita das línguas orais;
• enumerar as diferentes formas de registro da cultura surda em relação às 
línguas de sinais;
• conhecer a história do desenvolvimento de sistemas de escrita para as 
línguas de sinais;
• observar os diferentes sistemas de escrita de sinais;
• delimitar a história e algumas das características estruturais do SignWriting;
• entender porque o SignWriting tornou-se o sistema “adotado” por comu-
nidades surdas de diferentes países;
• entender a evolução da escrita das línguas orais e como estes estudos são 
importantes para a compreensão do desenvolvimento da escrita das lín-
guas de sinais.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 – A ESCRITA COMO FORMA DE REPRESENTAÇÃO DA 
LÍNGUA
TÓPICO 2 – DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA DAS LÍNGUAS ORAIS
TÓPICO 3 – FORMAS DE REGISTRO DA CULTURA SURDA
TÓPICO 4 – ESCRITA DAS LÍNGUAS DE SINAIS
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
A ESCRITA COMO FORMA DE 
REPRESENTAÇÃO DA LÍNGUA
1 INTRODUÇÃO
Você sabia que existem várias línguas com apenas o registro da memória 
oral? Claro que menos do que já existiu, mas ainda persistem comunidades nas 
quais a escrita não tem o mesmo valor, o mesmo peso e a mesma importância 
que a nossa sociedade dá para ela. Ou seja, o desenvolvimento da escrita não é 
obrigatoriamente atrelado à fala ou à sinalização das diferentes comunidades. 
Inclusive, até pouco tempo, as línguas de sinais se desenvolveram plenamente, 
mesmo sem um sistema de escrita que conseguisse abarcar suas peculiaridades 
e tivesse o mesmo desempenho social dos sistemas fonéticos e ideográficos das 
línguas orais. 
Entretanto, o papel social da escrita é importante não apenas para a 
comunicação das ideias, mas como modo de afirmação dos direitos sociais aos 
quais as comunidades inseridas nas sociedades letradas têm direito. 
Para compreender o papel social da escrita dentro de uma perspectiva 
linguística, iniciaremos nosso estudo introdutório sobre a escrita das línguas com 
o tópico que tratará do estudo da escrita como forma de representação da língua, 
para isso, veremos como as discussões linguísticas delimitam e diferenciam a 
linguagem da língua e a escrita em relação à fala. 
2 LINGUAGEM, LÍNGUA E ESCRITA
A Linguística é a ciência que estuda os fenômenos referentes à linguagem, 
embora desde a antiguidade houvessem estudos sobre a história das línguas, 
estudos sobre a origem das línguas e obras que procuravam descrever e fixar a 
gramática das diferentes línguas. Apenas com o estabelecimento da Linguística, 
uma ciência que tem como objeto de estudos os fenômenos referentes ao ponto 
de vista estrutural da língua, é que se pode estabelecer o estudo da linguagem 
humana de modo organizado e cientificamente constituído. Assim sendo, é partir 
dos estudos de Saussure e da publicação do Curso de Linguística Geral, em 1916, 
livro produzido a partir das anotações que dois alunos fizeram a partir das aulas 
dadas porSaussure na Universidade de Genebra, que o estudo da linguagem 
ganha contornos de ciência. 
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
4
Saussure coloca que a matéria e a tarefa da ciência linguística é de:
A matéria de Linguística é constituída inicialmente por todas as 
manifestações da linguagem humana, quer ser [sic] trate de povos 
selvagens ou de nações civilizadas, de épocas arcaicas, clássicas ou 
de decadência considerando-se em cada período não só a linguagem 
correta e a ‘bela linguagem’, mas todas as formas de expressão. Isso 
não é tudo: como a linguagem escapa as mais vezes à observação, o 
linguista deverá ter em conta os textos escritos, pois somente eles lhe 
farão conhecer os idiomas passados e distantes (SAUSSURE, 2012, p. 
37, grifo nosso). 
Assim sendo, Saussure aborda que a matéria, ou seja, aquilo que a 
Linguística estuda, é a linguagem, sendo que ela é formada pelas manifestações 
da linguagem humana em todos os povos, civilizações, destacando que não 
apenas aquilo que é relacionado às manifestações da linguagem humana. Ou 
seja, Saussure deixa claro que a Linguística se dedica ao estudo de todas as 
formas de uso da linguagem humana, não apenas aquelas reconhecidas como 
certas, corretas ou de prestígio social. Assim sendo, a matéria da linguística é a 
linguagem humana tal qual ela acontece, na observação do fenômeno linguístico 
sem priorizar o julgamento de valor quanto à correção gramatical.
Ainda sobre o assunto que a Linguística aborda, Saussure menciona que 
o texto escrito pode ser o lugar de observação da linguagem humana, porque 
a escrita guarda em si as características da linguagem dos idiomas antigos ou 
distantes do local em que o linguista está realizando a análise. Desse modo, 
temos uma das características da escrita/texto escrito no contexto dos estudos 
linguísticos, permitir a observação dos fenômenos referentes à linguagem humana 
num tempo e espaço diferentes daquele em que o linguista está localizado.
Dito de outro modo, a escrita tem como propriedade ser um meio de 
acesso à linguagem distante no tempo, por exemplo, a Pedra de Roseta é um 
pedaço de rocha encontrado em 1799 e datado de 192 a.C., nela está escrito o 
mesmo texto em três línguas diferentes e, por isso, permitiu a decifração 
do código escrito dos hieróglifos egípcios por Champollion em 1822 e, por 
consequência, a compreensão de todo um mundo escrito até então escondido na 
língua escrita (SUPERINTERESSANTE, 2018). Assim, a língua escrita permitiu 
que os historiadores tivessem acesso às informações de quase 2000 anos antes, 
exemplificando a característica da escrita como forma de permitir acesso à 
linguagem humana em um período distante do tempo do estudioso.
TÓPICO 1 | A ESCRITA COMO FORMA DE REPRESENTAÇÃO DA LÍNGUA
5
FIGURA 1 – DESENHO DE COMO SERIA A PEDRA DE ROSETA COMPLETA COM A DIVISÃO DOS 
IDIOMAS ESCRITOS NELA
FONTE: <http://4.bp.blogspot.com/-iNB8KJVZius/VaXHopMH5oI/AAAAAAAACjo/E_
vNU9875QQ/s640/rosetta.jpg>. Acesso em: 17 jan. 2019. 
Em relação à escrita proporcionar o acesso à linguagem em diferentes 
espaços físicos, podemos utilizar como exemplo o estudo que estamos fazendo 
através do livro didático, que pode ser utilizado em diferentes lugares daquele 
em que foi escrito. Neste caso, você, como um futuro professor de línguas (um 
linguista por natureza da profissão) poderia analisar o modo como a linguagem 
é utilizada neste tipo de material de estudos mesmo que esteja em um espaço 
físico diferente da pessoa que escreveu o texto. Assim sendo, através da escrita, o 
estudo da linguagem humana se torna possível a partir dos registros escrito que 
ultrapassam as fronteiras do tempo e do espaço que a língua falada tem.
ESTUDOS FU
TUROS
Ainda neste tópico veremos as questões referentes às diferenças entre a fala e 
a escrita.
Depois de definir a matéria sobre a qual a Linguística trata, Saussure 
delimita que a tarefa da ciência linguística deverá ser de:
a) fazer a descrição e a história de todas as línguas que puder abranger, 
o que quer dizer: fazer a história das famílias de línguas e reconstruir, 
na medida do possível, as línguas-mães de cada família;
b) procurar as forças que estão em jogo, de modo permanente e 
universal, em todas as línguas e deduzir as leis gerais às quais se 
possam referir todos os fenômenos peculiares da história;
c) delimitar-se e definir-se a si própria (SAUSSURE, 2012, p. 37, grifo 
nosso).
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
6
Assim sendo, na visão de Saussure, a Linguística tem três tarefas. A 
primeira delas é a descrição da história das línguas, com o objetivo de perceber 
qual a história das línguas que são derivadas de uma mesma língua, ou seja, da 
mesma família linguística, por exemplo, é o caso da Língua Portuguesa, que está 
incluída na família das línguas neolatinas, tendo em vista que se originou a partir 
do latim, sendo tarefa da Linguística descobrir quais outras línguas fazem parte 
desta família e como as línguas se relacionam. 
Em segundo lugar, o autor coloca que uma das tarefas da Linguística 
como ciência é localizar as forças, ou seja, os agentes que se relacionam em todas 
as línguas de forma constante e que englobam a todas elas com o objetivo de 
deduzir, pela observação, aquilo que aparece durante o uso das línguas para 
entender o que aconteceu ao longo da história que justifique as características 
específicas das línguas. Um exemplo disso é a observação do modo como as 
línguas marcam o sujeito das sentenças, por exemplo, no inglês não são utilizadas 
estruturas sem sujeito, por exemplo, a sentença (1) não é gramatical em inglês 
(por isso está marcada com um asterisco indicativo de agramaticalidade), sendo 
necessário colocar o pronome It para tornar a sentença gramatical, como escrito 
em (2). Já em português a sentença (3) é gramatical mesmo sem o sujeito expresso 
na frase:
(1) *Rains.
(2) It rains.
(3) Chove.
Por fim, Saussure coloca que a última tarefa da Linguística é delimitar 
e definir o seu próprio campo de estudos, dessa maneira, a própria ciência 
linguística tem como incumbência estudar a si mesma de modo a delimitar o que 
faz parte da sua área de estudos.
3 LINGUAGEM E LÍNGUA
Antes de continuarmos com as discussões específicas sobre a escrita, é 
importante termos em mente que ao relacionarmos aquilo que Saussure coloca 
como matéria da Linguística e suas tarefas, podemos perceber que o autor utiliza as 
expressões linguagem e língua. Desse modo, as duas palavras estão relacionadas à 
Linguística e têm conceitos diferentes, sendo importante vermos brevemente quais 
as características destas expressões e a que cada uma delas está relacionada.
 
Sobre a linguagem, Saussure coloca que:
Tomada em seu todo, a linguagem [humana] é multiforme e heteróclita 
[eclética]; o cavaleiro de diferentes domínios, ao mesmo tempo física, 
fisiológica e psíquica; ela pertence além disso ao domínio individual 
e ao domínio social; não se deixa classificar em nenhuma categoria 
de fatos humanos, pois não se sabe inferir sua unidade (SAUSSURE, 
2012, p. 41, grifo nosso).
TÓPICO 1 | A ESCRITA COMO FORMA DE REPRESENTAÇÃO DA LÍNGUA
7
Ao definir a linguagem desse modo, o autor destaca a característica não 
previsível, muito variada e que está relacionada a diferentes instâncias, por isso, 
a linguagem seria impossível de ser o objeto de estudo da linguística, porque 
tem uma infinidade de manifestações e implicações que podem ser vistas de 
diferentes modos, não podendo ser relacionada apenas a um tipo de fenômeno. 
Dito de outro modo, a linguagem humana é abrangente e múltipla.
De acordo com Petter (2010, p. 17): “uma pintura, uma dança, um gesto 
podem expressar, mesmo que sob formas diversas, um mesmo conteúdo básico, 
mas só a linguagem verbal é capaz de traduzir com maior eficiência qualquer 
um destes sistemas semióticos [de sentido, de significado]”. Em outras palavras, 
a compreensão e o sentido que atribuímos às diferentes linguagens necessitada 
língua para ser traduzida de forma a explicar como compreendemos aquilo que 
a linguagem, que temos contato, expressa, ou seja, é através da linguagem verbal 
que damos sentido às demais linguagens. 
Desse modo, o entendimento que temos das diferentes linguagens 
expressivas, como a dança, o teatro, a música, a tatuagem, a pintura, a escultura, 
a mímica, entre outras, passa pela linguagem verbal para que seja atribuído um 
sentido da experiência que estamos vivenciando ao sermos expostos a estas 
linguagens. Por isso, não existem interpretações estanques sobre as diferentes 
linguagens, pois toda a compreensão semiótica passa pelo filtro da linguagem 
verbal para ser entendida, ou seja, a interpretação das diferentes linguagens é 
mediada pela linguagem verbal, assim, a língua é uma parte fundamental da 
linguagem. 
Ao vincular as tarefas da ciência da linguagem à língua, Saussure (2012) 
coloca a língua como o objeto concreto de estudo da Linguística e a define do 
seguinte modo:
Mas o que é a língua? Para nós, ela não se confunde com a linguagem; é 
somente uma parte determinada, essencial dela, indubitavelmente. É, 
ao mesmo tempo, um produto social da faculdade da linguagem e um 
conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para 
permitir o exercício dessa faculdade [da linguagem] nos indivíduos 
(SAUSSURE, 2012, p. 41, grifo nosso).
Assim, a língua faz parte do conjunto que a linguagem engloba, sendo 
que a língua é essencial para a faculdade da linguagem porque nos permite 
compreender as diferentes linguagens a que temos acesso. Pois, “a língua, ao 
contrário [da linguagem] é um todo por si e um princípio de classificação. Desde 
que lhe demos o primeiro lugar entre os fatos da linguagem, introduzimos uma 
ordem natural num conjunto que não se presta a nenhuma outra classificação” 
(SAUSSURE, 2012, p. 41).
Ao mesmo tempo que faz parte do conjunto das linguagens, “a língua 
existe na e para a coletividade” (DUBOIS et al., 1973, p. 261), sendo, por isso, 
um conjunto de convenções, ou seja, de combinações. Segundo Saussure 
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
8
(2012, p. 51): “a língua existe na coletividade sob forma de uma soma de sinais 
[regras] depositados em cada cérebro, mais ou menos como um dicionário cujos 
exemplares, todos idênticos, fossem repartidos entre os indivíduos”. 
Dito de outro modo, a língua é aquilo que aprendemos na convivência 
social com as pessoas que a utilizam, por exemplo, as crianças surdas expostas à 
Libras como língua materna aprendem através do contato linguístico com outros 
surdos que também utilizam Libras. Dubois et al. (1973) bordam que, de acordo 
com Saussure, a língua não pode ser mudada pela vontade dos indivíduos, pois 
por ser socialmente construídas, as mudanças no interior da língua acontecem 
também socialmente. 
Talvez você já tenha escutado alguém falar que sabe usar, mas não sabe 
qual a regra da gramática que se encaixa, por exemplo, a pontuação na língua 
portuguesa funciona assim, algumas pessoas sabem utilizar, mas raras vezes 
pensam na regra específica para tal situação. Esse é um exemplo de como a 
língua é socialmente aprendida, porque as normas de uso não são a mesma coisa 
que as regras da gramática. Quando falamos em língua, estamos nos referindo 
àquilo que aprendemos através do contato com a língua de uma determinada 
comunidade. Por isso, é socialmente constituída.
No caso da Libras, provável que você tenha escutado alguém referir-
se incorretamente a ela como “linguagem de sinais”. Mas, porque está errado? 
Pois a Libras é uma parte da linguagem que tem regras próprias construídas 
socialmente e permite que estruturemos a nossa compreensão sobre as demais 
linguagens, logo, é uma língua. 
Sobre a Faculdade da Linguagem, Coelho, Monguihott e Martins (2009, p. 5, 
grifo nosso) colocam que: 
Embora outros animais de uma forma ou de outra se comuniquem, o 
homem é a única espécie que combina um certo número de elementos 
de acordo com determinados princípios para formar sentenças. Essa 
capacidade que nasce conosco [seres humanos] e tem a ver com o tipo 
específico de estrutura e organização da mente humana é denominada 
Faculdade da Linguagem.
NOTA
TÓPICO 1 | A ESCRITA COMO FORMA DE REPRESENTAÇÃO DA LÍNGUA
9
DICAS
Como forma de memorizar a diferença entre esses dois conceitos, é 
interessante utilizar as características dos sinais em Libras para LINGUAGEM e LÍNGUA, 
porque, a nosso ver, eles agregam algumas das características que vimos anteriormente. 
Primeiro, observemos o sinal para “linguagem” na fi gura a seguir.
FONTE: Capovilla et al. (2017, p. 1685) 
Neste sinal o movimento parece trazer algo que parte da boca em direção à mente 
do sinalizador, ou seja, algo que foi enunciado e compreendido pela pessoa através da 
interpretação feita na sua mente. 
Na fi gura a seguir, temos a sinalização da palavra “língua”, que, de acordo com Capovilla 
et al. (2017, p. 1683, grifo do original): “trata-se de um sinal formado pelo morfema Fala – 
Comunicação Oral codifi cado pelo local de sinalização na região da boca [...]”. É um 
movimento realizado para fora, lembra a característica de comunicação social que a língua 
tem.
FONTE: Capovilla et al. (2017, p. 1683) 
 4 A RELAÇÃO ENTRE LÍNGUA, ESCRITA E FALA
Ao apresentar a oposição feita por Saussure entre língua e fala, Dubois et 
al. (1973), mencionam os seguintes pontos:
1 – A língua é coletiva, a fala, individual.
2 – A língua é aprendida de forma passiva, a fala é uma ação livre e de criação.
3 – A língua não é criada nem modifi ca na individualidade, a fala é um lugar da 
liberdade do indivíduo.
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
10
A partir disso, Dubois et al. (1973, p. 262, grifo do autor) concluem que, 
para Saussure:
A língua mostra-se, pois como um conjunto de meios de expressão, 
como um código comum ao conjunto de indivíduos pertencentes a 
uma mesma comunidade linguística; a fala, ao contrário, é a maneira 
pessoal de utilizar o código; ela é, diz F. DE SAUSSURE, “a parte 
individual da linguagem”, o domínio da liberdade, da fantasia, da 
diversidade.
Desse modo, para Saussure (2012, p. 51) a língua e a fala estão “[...] 
estreitamente ligados[as] e se implicam mutuamente; a língua é necessária para 
que a fala seja inteligível e produza todos os seus efeitos; mas esta [fala] é necessária 
para que a língua se estabeleça [...]”. Isso porque a língua está depositada no 
cérebro do usuário da língua, e será através da realização da fala/sinalização que 
estas regras da língua são utilizadas de modo a produzir sentido e estabelecer a 
comunicação.
Por exemplo, o sinal referente a “casa” faz parte da Libras, ou seja, da 
Língua Brasileira de Sinais, e está depositado no cérebro das pessoas que utilizam 
essa língua. Para que possamos observar de que modo esse sinal funciona dentro 
dessa língua, precisamos observar como acontece a fala/sinalização dele em 
diferentes contextos. Isso porque a materialização da língua acontece no momento 
da fala. Desse modo, é através das regras da língua que o sinal da palavra “casa” 
ganha significado, mas só temos acesso à Libras através da sua materialidade que 
é a fala/sinalização. 
Você pode se perguntar: “onde a escrita entra nessa relação?”. Para Saussure 
(2012), o objeto do estudo da Linguística é a língua e o objeto linguístico de estudo 
é a fala. Ainda, segundo ele, a escrita tem como única razão a representação que 
ela faz da língua, também coloca que a escrita é a imagem da fala. Ao tentarmos 
observar a escrita é como se fizéssemos a observação de uma fotografia do rosto 
de alguém e não o próprio rosto da pessoa. 
Contudo, como já vimos anteriormente, Saussure também reconhece que 
o suporte da escrita permite o estudo ao longo do tempo e do espaço, bem como o 
registro das línguas antes da invenção das tecnologias que permitissem o registro 
direto da fala. É interessante compreendermos que, no momento histórico em que 
ocorramos pensamentos de Saussure, a escrita tinha grande relevância para os 
estudos feitos sobre a língua até então, principalmente, em um contexto normativo 
de manutenção das regras gramaticais. Por isso, ao colocar a fala no centro das 
discussões da Linguística, o linguista apresenta uma perspectiva completamente 
diferente daquela que os estudos sobre a língua vinham apresentando. 
Assim sendo, a escrita e a fala estão intimamente relacionadas entre si e 
ambas apresentam um papel em relação à língua, a fala é o lugar de realização da 
língua, já a escrita é o modo de representação da língua. Como não é possível ter 
TÓPICO 1 | A ESCRITA COMO FORMA DE REPRESENTAÇÃO DA LÍNGUA
11
acesso direto à língua depositada no cérebro do indivíduo, não é possível para 
a escrita representar diretamente a língua, logo, a escrita se organiza a partir da 
fala para poder exercer o seu papel como representação da língua.
 
5 A INTERDEPENDÊNCIA ENTRE A ESCRITA E LEITURA
A leitura e a escrita estão relacionadas de modo interdependente porque 
não é possível a realização de uma sem a existência da outra. Lembrando do 
exemplo da Pedra de Roseta, mencionado anteriormente, a tradução da escrita 
dos hieróglifos egípcios só foi possível porque o texto estava escrito em grego e 
ainda existiam pessoas capazes de ler o grego escrito. Logo, caso não existissem 
mais pessoas que soubessem ler em grego, a escrita da Pedra de Roseta não seria 
traduzida e não teríamos acesso ao conhecimento dos hieróglifos egípcios. 
Deste modo, a escrita só faz sentido se existirem pessoas capazes de fazer 
a leitura daquele texto escrito. Porém, fazer a leitura é muito mais do que apenas 
juntar as letras (no caso das línguas orais) ou sinais (no caso das línguas de sinais), 
porque a língua que a escrita representa também é mais do que uma simples 
junção de vocabulário. 
De acordo com Leffa (1999 apud COSSON, 2016, p. 40-41, grifo nosso), a 
leitura é realizada em três etapas:
A primeira etapa, que vamos chamar de antecipação, consiste em várias 
operações que o leitor realiza antes de penetrar no texto propriamente 
dito. Nesse caso são relevantes tanto os objetivos da leitura [...] quanto 
os elementos que compõem a materialidade do texto. [...] A segunda 
etapa é a decifração. Entramos no texto através das letras e das palavras. 
Quanto maior é a nossa familiaridade e o domínio delas, mais fácil 
a decifração [...]. Denominamos a terceira etapa como interpretação. 
Embora a interpretação seja com frequência tomada como sinônimo de 
leitura, aqui queremos restringir seu sentido às relações estabelecidas 
pelo leitor quando processa o texto. [...] A interpretação depende, 
assim, do que escreveu o autor, do que leu o leitor e das convenções 
que regulam a leitura em uma determinada sociedade. Interpretar é 
dialogar com o texto tendo como limite o contexto. Esse contexto é de 
mão dupla: tanto é aquele dado pelo texto quanto dado pelo leitor; um 
e outro precisam convergir para que a leitura adquira sentido.
Assim sendo, a leitura envolve três etapas, uma que avalia onde aquele 
texto está inserido, se num jornal, num livro de receitas, num texto acadêmico 
ou se é um bilhete familiar, porque cada uma dessas materialidades do texto 
influencia no modo como a interpretação é feita. Depois, é a etapa da decifração, 
ou seja, a parte em que analisamos os itens gráficos que compõem o texto, vemos 
quais as palavras que formam o texto escrito e como elas se relacionam. Por fim, 
a interpretação é o momento em que aquela pessoa que lê o texto estabelece as 
relações entre o texto e o contexto, uma mesma palavra ou expressão pode ter 
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
12
sentidos diferentes de acordo com o tipo de texto (materialidade), quem foi o 
autor dele, onde foi encontrado. Um exemplo bem simples: um bilhete colado 
numa folha do seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) tem a expressão fonte 
diferente de um bilhete deixado pelo cara que consertou o seu computador. 
Em uma leitura mais vinculada aos processos internos do texto, ler é 
compreender todos os seis níveis linguísticos que, segundo Barreto e Barreto 
(2015, p. 47), estão envolvidos nos processos de: “[...] aprender utilizar ou ensinar 
a Escrita de Sinais [...]” ou qualquer outra língua escrita, são eles: (1) fonético, (2) 
fonológico, (3) morfológico, (4) sintático, (5) semântico e (6) pragmático. Mais 
adiante, neste Livro Didático, estudaremos com mais detalhes estes aspectos. 
Neste momento, é importante ficar claro que a escrita apresenta mais aspectos 
do que o morfológico (vocabular), desse modo, a leitura também necessita da 
compreensão dos demais aspectos envolvidos além do fonético/fonológico (sons/
partes que constituem os morfemas).
Além desses níveis, ou partes da escrita, é importante termos em mente 
que a leitura possui uma dimensão que: 
[...] podemos compreender a leitura como um ato, ou seja, a noção de 
que ela é uma forma de agir sobre e a partir daquilo que está escrito. 
Através deste sentido, podemos relacionar uma visão dialógica da 
leitura, em que autor, obra e leitor se encontram através do texto, 
sendo a escrita o meio de encontro histórico e social. Sendo que a 
leitura ao mesmo tempo em que modifica o leitor é modificada por 
ele no momento do contato entre leitor e obra num dado momento 
histórico (CORREIA, 2018, p. 28).
Pode-se afirmar que, a leitura é a forma como dois sujeitos históricos 
entram em contato a partir da escrita, logo, ampliando a dimensão colocada no 
início deste tópico, que destacava o texto escrito como forma de observação dos 
fenômenos linguísticos em diferentes tempos e espaços. 
Vamos encerrar esta seção com um exemplo concreto envolvendo uma receita 
de família para clarear um pouco mais essas distinções entre: língua, fala, escrita e leitura. 
A famosa receita de pudim de ovos e leite faz parte de muitas famílias, vem passando de 
gerações para gerações. E, justamente por este fato, muitas vezes os nossos avós não têm a 
receita escrita e nem a quantidade certinha de cada ingrediente, apenas meio aproximada e 
sem muitas medidas, tudo meio “no olho”. Alguns acham isso estranho, mas, mesmo assim 
eles conseguem passar as medidas aproximadas e, desde então, os netos passam a fazer 
pudim também, com isso, passam a perceber que as quantidades são no “olho” mesmo, pois 
dependem da qualidade dos ingredientes, da força da chama do fogão, da nossa “mão” na 
hora e etc. Neste momento, você, caro acadêmico, deve estar querendo saber como essa 
história do pudim se relaciona com o nosso conteúdo, pois bem, o pudim (ou qualquer outra 
IMPORTANT
E
TÓPICO 1 | A ESCRITA COMO FORMA DE REPRESENTAÇÃO DA LÍNGUA
13
receita passada de geração em geração) é um ótimo exemplo concreto para entendermos 
os conceitos e a relação entre língua, fala e escrita. Olhem só: 
• Receita de pudim na cabeça dos nossos avós é como se fosse a língua na nossa cabeça, 
pois, sabemos usar, sabemos como funciona, mas não sabemos direito como explicar 
as regras, normas e construções que estruturam ela. Além disso, o único jeito de tirar a 
receita da nossa cabeça é explicar ela para alguém ou fazê-la, fora isso, a receita segue 
guardadinha na cabeça da gente, sem se materializar no mundo concreto. Neste exemplo, 
a língua é um pudim guardado apenas na cabeça de nossos avós. 
• Ao ser feito o pudim é semelhante à fala: é a realização ou materialização da língua 
(receita na cabeça) e apresenta variáveis dentro das regras estabelecidas por ela, ou seja, 
nós até inventamos umas coisas, mas não colocamos primeiro para assar os ingredientes 
separados, porque a fala (o pudim sendo feito) precisa seguir as regras básicas da língua 
(receita na cabeça dos nossos avós), neste caso, misturar as coisas antes de colocar para 
assar. 
• Uma foto do pudim (como a imagem a seguir, postada no Instagram): pode ser comparada 
à escrita, porque apresenta a língua (receita na cabeça dos nossos avós), mas precisa da 
fala(realização concreta do pudim) para ter a materialidade, ou seja, não teria como tirar 
uma foto de um pudim que estivesse apenas na cabeça de alguém. Assim sendo, o pudim 
só pode ser registrado (escrita) porque existiu fala e só existiu porque a receita estava na 
cabeça de alguém (língua). 
FONTE: <https://www.instagram.com/p/Br0WWlOBo0JahYGbVpx-f0ZBE9lNUKMkTSls4Y0/>. 
Acesso em: 28 jan. 2019.
No momento em que você olhou a foto do pudim (escrita) você foi capaz de fazer a leitura
dela, ou seja, ao olhar percebeu, pelas suas experiências anteriores, que isso é um pudim 
e, através da foto (escrita) pode ter acesso à materialidade (fala) daquela receita de pudim 
da cabeça dos nossos avós (língua), ou seja, houve interação, mesmo que estivermos em 
tempo-espaço diferentes. 
14
Neste tópico, você aprendeu que: 
• A matéria da Linguística é a linguagem humana.
• As tarefas da ciência da linguagem são descrever as famílias linguísticas, 
localizar as forças em ação que explicam as características particulares das 
línguas ao longo da história.
• O texto escrito permite a observação dos fenômenos referentes à linguagem 
humana em um tempo e espaço diferentes daquele em que o linguista está 
localizado.
• Linguagem e língua são expressões que possuem conceitos diferentes.
• A linguagem humana é tudo aquilo a que podemos atribuir sentido, por isso, 
ela tem inúmeras facetas e manifestações, é uma faculdade, uma habilidade 
humana, que só pode ser vista nas realizações concretas que a compõe, a língua 
faz parte dela.
• A língua é a parte essencial da linguagem humana, também é um produto 
social observável, por isso, a Linguística tem suas tarefas relacionadas à língua 
e não à linguagem humana.
• A língua tem um caráter coletivo social, a fala tem um caráter individual, pois 
é o modo como o indivíduo usa a língua de modo particular.
• A língua faz com que a fala possa ser entendida e a fala faz com que a língua 
se estabeleça no mundo concreto.
• Para Saussure, a escrita é uma representação da língua, uma fotografia estática 
de um rosto, enquanto a fala é o olhar para o rosto ao vivo.
• Não é possível ter acesso direto à língua depositada no cérebro do indivíduo, 
então não é possível para a escrita representar diretamente a língua, logo, 
a escrita se organiza a partir da fala para poder exercer o seu papel como 
representação da língua.
• A fala é o lugar de realização da língua, já a escrita é o modo de representação 
da língua.
RESUMO DO TÓPICO 1
15
• A escrita e a leitura são intimamente ligadas, pois a realização da escrita 
só se concretiza no momento da leitura, que, mais do que decodificação é a 
compreensão da língua escrita utilizada em todas as suas características e um 
diálogo entre os sujeitos históricos envolvidos por meio dela.
• A leitura envolve três etapas: antecipação, decifração e interpretação.
16
1 Leia as seguintes afirmações:
I- A língua faz parte do conjunto de linguagens humanas.
II- A língua é representada pela fala.
III- A língua é socialmente constituída.
IV- A língua se realiza através da fala.
V- A língua está relacionada, de modos diferentes, com a fala e a escrita.
Marque a alternativa que apresenta apenas as afirmações corretas:
a) ( ) I, II, III, IV.
b) ( ) II, III, IV, V.
c) ( ) I, III, IV, V.
d) ( ) II, IV, V.
e) ( ) I, IV, V.
2 A partir do que você estudou neste tópico, em sua opinião, por que a 
sinalização das línguas de sinais pode ser equiparada ao conceito de fala 
utilizado por Saussure para as línguas orais?
3 Após refletir sobre a famosa receita de pudim, qual outro exemplo você 
poderia pensar que funcionasse também como uma forma concreta de 
exemplificar os conceitos de língua, fala, escrita e leitura e as relações entre 
eles?
AUTOATIVIDADE
17
TÓPICO 2
DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA DAS LÍNGUAS ORAIS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
No último tópico, vimos as características da escrita na visão da linguística 
de Saussure, a partir disso, estudamos a base teórica da ciência da linguagem e 
vimos a relação entre os conceitos de linguagem, língua e escrita. Neste segundo 
tópico, estudaremos alguns aspectos referentes à história e ao desenvolvimento 
da escrita das línguas orais.
É interessante conhecermos como desenvolveu-se a escrita para as línguas 
orais antes de estudarmos a escrita de sinais, porque a sistematização da escrita das 
línguas de sinais se deu a partir de um contexto histórico e social, em que a escrita 
das línguas orais está organizada naquilo que Fischer (2009) chama de escrita 
completa. Ou seja, embora a escrita das línguas de sinais tenha se estruturado a 
partir de um contexto específico, ela se inscreve dentro da história da escrita das 
línguas humanas, por isso, é necessário que conheçamos como ocorreu o avanço 
da estruturação da escrita ao longo da história antes de tratarmos especificamente 
da escrita da língua de sinais.
Iniciaremos o Tópico 2 abordando a importância da escrita para o 
desenvolvimento da humanidade, retomando algumas reflexões sobre a 
conceituação da escrita e discutindo a escrita completa (FISCHER, 2009). Após, 
estudaremos como desenvolveu-se a escrita do pictograma ao símbolo, veremos 
quais os sistemas de escrita e suas características. Por fim, discutiremos alguns 
aspectos sobre a estrutura da escrita das línguas orais. 
2 A CATEGORIZAÇÃO DO MUNDO PELA LINGUAGEM
Muitos estudiosos tentaram definir a escrita, porém, Fischer (2009) aponta 
que uma definição específica que abranja o passado, o presente e as possibilidades 
futuras da escrita seria complicada de se fazer. Como vimos acima, mesmo 
Saussure (2012) define a escrita a partir de sua relação com os demais aspectos da 
linguagem humana não delimitando ela de modo individual e a colocando em 
uma relação de representação da língua apenas a partir da fala. Ou seja, não faz 
uma definição da escrita por si mesma.
Fischer (2009), para fugir disso que chama de “[...] ‘armadilha’ de uma 
definição inteiramente formal, porque a escrita tem sido, e é inúmeras coisas 
distintas para inúmeros povos distintos em incontáveis épocas diferentes” 
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
18
(FISCHER, 2009, p. 14), e, tendo em vista o objetivo que se propõe ao escrever 
sobre a história escrita, prefere delimitar as três características que, segundo ele, 
definem a escrita completa: 
• A escrita completa deve ter como objetivo a comunicação.
• A escrita completa deve consistir de marcações gráficas artificiais 
feitas numa superfície durável ou eletrônica.
• A escrita completa deve usar marcas que se relacionem 
convencionalmente para articular a fala (o arranjo sistemático de sons 
vocais significativos) (FISCHER, 2009, p. 14, grifo nosso).
Para que a escrita seja completa, na visão de Fischer (2009) é necessário que 
tenha como meta a comunicação, ou seja, um indivíduo que use a comunicação 
para passar informação, comunicar algo para outra pessoa ou grupo de pessoas. 
Também é necessário que o suporte dessas marcas artificiais, quer dizer, feitas 
pelo homem, seja durável como argila, pedra, papel ou por meio eletrônico. Por 
fim, o autor coloca que essas marcas precisam relacionar-se convencionalmente 
com a finalidade de articular a fala, neste caso, a palavra convencionalmente faz 
referência às regras ou convenções sociais a que a escrita obedece enquanto forma 
de registro da fala, por isso, do arranjo sistemático, ou seja, dentro de sons vocais 
significativos. 
Esses três critérios de escrita completa combinam com aquilo que 
havíamos discutido até então sobre a escrita e abordam a comunicação, o suporte 
e a característica de ser uma convenção socialmente estabelecida que havíamos 
discutido anteriormente. Exatamente por sua característica social é que “a escrita 
muda à medida que a humanidade se transforma. É uma dimensão da condição 
humana” (FISCHER, 2009, p. 10). 
À vista disso, a escrita acompanha e se modifica na mesma proporção 
da sociedade em que está inserida, vistoque ela representa uma das facetas 
da linguagem humana. Servido como forma pela qual a linguagem humana 
(por consequência a língua, a fala e a escrita) classifica, categoriza e organiza o 
mundo. 
Para exemplificar como a linguagem categoriza o mundo, Fiorin (2010) 
apresenta a seguinte situação: inicialmente, podemos imaginar uma região onde 
existem os seguintes animais representados a seguir: “[...] oito animais, quatro 
grandes e quatro pequenos, quatro com cabeça quadrada e quatro com a cabeça 
redonda, quatro com a cauda reta e quatro com a cauda enrolada” (FIORIN, 2010, 
p. 57).
TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA DAS LÍNGUAS ORAIS
19
FIGURA 2 – REPRESENTAÇÃO DE OITO ANIMAIS DE UMA REGIÃO
FONTE: Fiorin (2010, p. 57)
Vamos imaginar que na região em que estes animais vivem existem três 
povos diferentes que até um dado momento não haviam percebido a existência 
destes oito animais, ou seja, era como se estes animais não existissem para as 
pessoas que fazem parte das três comunidades. Porém, um dia, durante um 
momento de colheita povos percebem a existência destes bichos, assim sendo, os 
animais passam a existir para as pessoas dos três povos.
O Povo 1 nota que os animais que têm o corpo menor comem cereais 
e os grandes não comem. Após perceber isso o povo 1, ignorando as demais 
características que diferenciam os bichos, dão o nome de gogos para os animais 
A, B, C e D, já os animais E, F, G e H ganham o nome de gigis. Desse modo, “Faz-
se, então, abstração das demais diferenças entre eles [os animais] e produz-se 
uma categorização [classificação] dessa realidade” (FIORIN, 2010, p.57).
O Povo 2 nota outra característica dos bichos e nota que os de cabeça 
redonda não mordem e os de cabeça quadrada fazem isso, logo, classificam de 
modo diferente a realidade dos mesmos animais observados pelo Povo 1. Na 
categorização do Povo 2, os animais que mordem (B, D, F e H) recebem o nome 
de dabas e os que não mordem (A, C, E e G) são chamados de dobos.
Por fim, o Povo 3 tem uma experiência diferente com os animais, pois 
percebe que os animais de cauda enrolada caçam serpentes e os de cauda reta 
não fazem isso. Desse modo, organizam a realidade encontrada de um modo 
completamente diferente daquele feito pelos Povos 1 e 2, logo, dão o nome de 
busas para os animais A, B, E e F e busadas para os animais C, O, G e H.
Refletindo sobre este exemplo percebemos que os animais, ou seja, a 
realidade encontrada pelos Povos 1, 2 e 3 foi categorizada a partir das experiências 
que cada um dos povos teve através da observação dos animais. Logo, a linguagem 
humana serviu como forma de organizar a realidade a partir do contato que os 
povos tiveram com aquilo que se apresentou a eles. De acordo com Fiorin (2010, 
p. 57):
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
20
A mesma realidade, a partir de experiências culturais diversas, é 
categorizada diferentemente. Nenhum ser no mundo pertence a uma 
determinada categoria, os homens é que criam categorias e põem nelas 
os seres. Isso não acontece apenas com os seres concretos. Imaginemos 
que uma pessoa mata outra. Essa ação pode ser categorizada como 
assassinato, como acidente, como cumprimento do dever, como ato 
de heroísmo, como perda temporária da razão. Essa categorização 
determina nossas atitudes: prendemos o assassino, perdoamos 
quem foi vítima das circunstâncias; elogiamos o policial que matou o 
sequestrador que mantinha pessoas como reféns, porque cumpriu seu 
dever; damos uma medalha ao herói que, na guerra, matou o inimigo. 
Como dissemos, a língua não é uma nomenclatura aplicada a uma 
realidade cuja categorização preexiste à significação.
Dessa maneira a realidade se classifica através da linguagem humana e, 
por continuidade, da língua. Língua essa que ganha existência material pela fala 
e é representada pela escrita. Ou seja, a nossa percepção da existência não apenas 
é perpassada pela língua, mas ela se estrutura a partir da língua.
Nesta perspectiva, a importância da escrita ganha força por sua 
característica de permanência, de acordo com Pereira e Fronza (2006, p. 1 apud 
BARRETO; BARRETO, 2015, p. 54):
Colocar o que pensamos e entendemos em um material perene e 
estático proporciona a chance de refletirmos sobre a própria linguagem 
e sobre os nossos pensamentos, permite que revisitemos formas 
antigas de expressão e possibilita reflexão sobre a forma como nos 
expressamos e sobre a adequação da nossa linguagem em expressar 
nossos sentimentos.
Logo, a escrita não apenas tem sua importância em nossa sociedade como 
modo de organização da realidade, mas como registro dos diferentes modos de 
percepção da realidade ao longo do tempo. Por isso, Fischer (2009, p. 13) coloca 
que “As raízes desse sistema se encontram na necessidade fundamental dos seres 
humanos de armazenar informação para comunicar, a si mesmos ou a outros, 
distantes no tempo e no espaço”.
3 DO PICTÓRICO AO SIMBÓLICO
A história da escrita confunde-se com o desenvolvimento dos modos 
através dos quais a humanidade se utilizou para registrar aquilo que era 
importante para a vida cotidiana. Na compreensão apresentada por Barreto e 
Barreto (2015, p. 54) a história da humanidade foi drasticamente afetada a partir 
do desenvolvimento da escrita:
A história [da humanidade] pode ser dividida em antes e depois da 
escrita. Segundo Higounet (2003), até hoje, sua origem é um mistério. 
Diferentes civilizações utilizaram diversas formas e artifícios para 
escrever suas mensagens. Seu desenvolvimento se deu ao longo 
de muitos séculos até chegar à imprensa. E desde então tem se 
desenvolvido cada vez mais. 
TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA DAS LÍNGUAS ORAIS
21
Continuando nesta perspectiva, os autores explicam que a importância 
da escrita para a história da humanidade se deve à capacidade dela de dar 
continuidade às descobertas, invenções e ao conhecimento acumulado pela 
humanidade ao longo de sua história. Além disso, os autores também colocam 
que:
Se a humanidade caminhou a passos tão largos nos últimos séculos 
e agora parece correr, é porque, tal como reconheceu Isaac Newton, 
estamos ‘de pé sobre ombros de gigantes’ e, em grande medida, isto 
se deve à escrita. É imensurável o desenvolvimento social, neurológico 
e linguístico, dentre tantos outros aspectos, que a escrita traz ao ser 
humano (BARRETO; BARRETO, 2015, p. 54).
Ou seja, a escrita, na visão destes autores, através do registro do 
conhecimento acumulado ao longo do tempo, permite a continuidade dos 
estudos, pesquisas, obras literárias e conhecimento histórico, científico e literário. 
Isso porque, ao ter um ponto de referência, os indivíduos podem desenvolver 
seu pensamento em relação a esses conhecimentos, concordando, refutando, 
contrapondo ou extrapolando aquilo que foi desenvolvido anteriormente.
Dessa maneira, Barreto e Barreto (2015) colocam a escrita na dimensão 
de sua importância não apenas como registro, mas como intertexto em que 
os diferentes textos se entrecruzam em referências de leitura, de registro e de 
escrita. Por exemplo, quando um detetive literário como Sherlock Holmes chega 
até os dias atuais através dos livros de Sir Arthur Conan Doyle e influencia Jô 
Soares na escrita de seu livro O Xangô da Backer Street, no qual o detetive vive 
uma aventura no Brasil e acaba passando por situações muito diferentes. Assim, 
Jô pode redimensionar a personagem Sherlock Holmes porque o registro escrito 
permitiu que ele tivesse acesso às histórias do famoso detetive e, por isso, pode 
imaginar uma nova aventura para ele.
Atualmente, através do desenvolvimento das tecnologias que nos 
permitem acesso remoto a um mundo de possibilidades com o uso de diferentes 
suportes virtuais, estamos em um contexto no qual as conexões são estabelecidas 
em hipertextos, de acordo com Correia (2018, p. 133): 
O conceito de hipertexto deriva da intertextualidade, mas a amplia a 
uma rede infinita de possibilidades, o que combina com as vivências 
da atualidadeatravés do uso das TICs [tecnologias de informação e 
comunicação] e serve de base para a elaboração de uma proposta de 
leitura em que os elementos responsivos dos enunciados se misturam 
e interligam de diferentes maneiras, suportes e mídias permitindo 
diferentes caminhos para a exploração da obra literária [ou qualquer 
outro conhecimento].
Se pensarmos nos modos como nos relacionamos em nossa sociedade 
atualmente, veremos que, cada vez mais, a escrita permeia as nossas relações 
sociais, de estudo e de trabalho. Para uso das redes sociais não basta termos um 
telefone inteligente com acesso à internet, também precisamos compreender as 
orientações escritas de uso para que nossa experiência seja efetiva; para estudar, 
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
22
você precisa ter acesso ao conhecimento acumulado até então dentro da sua área 
e isso pode ser feito de vários modos, mas todos eles serão mediados, de algum 
modo pela escrita, seja via Livro Didático, objetos de aprendizagem, questões para 
estudos ou, até mesmo, dos vídeos dos professores que também são permeados 
pelo conhecimento acumulado através da escrita.
DICAS
Você conhece a história do livro O diário de Anne Frank? É o registro que a 
menina Anne fez enquanto esteve em um esconderijo durante a Segunda Guerra Mundial. 
Nele, a menina documenta não apenas os seus conflitos, mas também a tensão e perigo da 
época. A partir da sua publicação tivemos acesso a um relato em primeira pessoa sobre um 
dos piores períodos da humanidade, marcado pelo holocausto dos judeus. Existem várias 
adaptações em quadrinhos e filmes deste registro feito em formado de diário, assim, a escrita 
da adolescente judia, morta em um campo de concentração aos 15 anos, chega até nós mais 
de 70 anos depois, devido ao registro permitido pela escrita.
Entretanto, a escrita não foi um sistema que nasceu pronto, ela se 
desenvolveu até chegar à escrita completa (FISCHER, 2009), aquela que, como 
vimos anteriormente, tem como objetivo a comunicação, um conjunto de 
marcações gráficas artificiais em um suporte durável e se relaciona por convenção 
para articular a fala. De acordo com o autor: 
Antes da escrita completa, a humanidade usou uma riqueza de 
símbolos gráficos e mnemônicos (ferramentas de memória) de vários 
tipos para acumular informações. A arte na pedra sempre possuiu 
um repertório de símbolos universais: antropomorfos (imagens 
humanizadas), flora, fauna, o sol, estrelas, cometas e muito mais, 
incluindo incontáveis desenhos geométricos. Na maior parte, eram 
reproduções gráficas do mundo físico. Ao mesmo tempo, elementos 
eram usados em contextos linguísticos também, como registros em 
nós, pictográficos, ossos ou paus entalhados, bastões ou tabuas com 
mensagens, jogos de cordas para cantos, seixos coloridos etc. ligando 
objetos físicos com a fala. Por milhares de anos, a arte gráfica e esses 
elementos mnemônicos se desenvolveram em certos contextos sociais 
(FISCHER, 2009, p. 15).
3.1 SÍMBOLOS GRÁFICOS MENEMÔNICOS
Fischer (2009) afirma que os elementos gráficos desenvolvidos nos mais 
diferentes contextos sociais se fundiram em símbolos gráficos mnemônicos, e 
destaca alguns conjuntos de símbolos. A seguir, veremos algumas das formas de 
registros desses símbolos gráficos citados pelo autor: 
TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA DAS LÍNGUAS ORAIS
23
• Registros com nós: muitos povos utilizam como modo de registro um sistema 
de nós mais ou menos complexos que podiam ser simples e em uma corda 
única ou complexos e coloridos com o uso de cordas que se ligavam. Dentre 
os diferentes povos que utilizaram este modo de registro foi o Quipu inca que 
chegou até nós com um grupo significativo de exemplos. O Quipu ou Guipu 
era um complexo modo de contabilidade que representava não apenas as 
quantidades numéricas, mas também, supõe-se, diversas mercadorias através 
de cores diferentes. 
Ainda de acordo com Fischer (2009, p. 16): “os incas do Peru antigo 
usavam elementos mnemônicos quase exclusivamente para alcançar o que a 
escrita alcançou em contextos iguais ou semelhantes em outras sociedades”. 
Contudo, mesmo que os nós tenham como objetivo a comunicação, os fios não 
preenchem os demais requisitos para serem classificados como escrita completa, 
pois não são marcas gráficas artificiais feitas em suporte durável, nem têm uma 
relação convencional com a articulação da fala. 
FIGURA 3 – EXEMPLO DE REGISTRO DE NÓS QUIPU
A – NÓS SEM SOMATÓRIO B – NÓS COM SOMATÓRIO
FONTE: A <https://bit.ly/2VyIBnH>. Acesso em: 23 jan. 2019. B <https://bit.ly/2YmPwNC>. 
Acesso em: 10 maio 2019.
Observe que, na figura A, aparece o registro de números individualmente, 
e, na figura B, foi inserido um fio amarrado ao último número simples da direita 
para registrar o somatório dos números anteriores. 
Segundo Fischer (2009, p. 17): “registros com nós são um elemento 
mnemônico muito mais versátil do que simples varetas com talhos e bastões 
entalhados. Ao permitir maior variedade e complexidade de categorias, podem 
facilmente ser ‘apagados’ ou ‘reescritos’ com novos laços”. Essa característica que 
permite certa reorganização das informações é uma qualidade muito interessante 
para pensarmos o desenvolvimento da escrita como forma de lembrete ou registro 
de informações referentes à contabilidade e informação e referente à quantidade 
de objetivos, assim, a escrita se desenvolve através de sua principal característica: 
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
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a comunicação de informações. Logo, o início de seu desenvolvimento está 
vinculado ao registro das quantidades de animais, objetos, mercadorias e 
demais coisas contáveis que apresentassem uma necessidade de registro desta 
informação.
• Entalhes: existem registros de marcações, entalhes ou símbolos gráficos 
feitos de modo intencional há milhares de anos. Fischer (2009) destaca que, 
mesmo que os entalhes sejam claramente marcas feitas com algum propósito 
específico, este propósito se perdeu ao longo dos anos e não é claramente 
possível de se compreender para saber, com certeza, qual seria. Além disso, 
o autor também afirma que alguns dos artefatos descobertos datam de 100 
mil anos atrás. Como exemplo, ele destaca os ossos de Ishango do Zaire, que, 
ao serem contados, chegam a uma quantidade que possivelmente indica os 
ciclos lunares. No que se refere a nossa discussão sobre escrita, os entalhes são 
importantes porque evidenciam uma forma de guardar informações, porém 
ainda não são considerados escrita completa porque não são passíveis de serem 
lidos de modo articulado. 
 Conforme Fisher (2009, p. 18) aborda: “O que é importante é que 
dezenas de milhares de anos atrás, as marcas gráficas, ainda que primitivas, 
provavelmente registravam algum tipo de percepção humana, por alguma razão. 
Isso era armazenagem de informação”. 
FIGURA 4 – OSSO DE ISHANGO DO ZAIRE (FORMA DE NOTAÇÃO NUMÉRICA OU 
CALENDÁRIO)
FONTE: <https://1.bp.blogspot.com/-HuAUHI9UfU8/V3BE4Jt46AI/AAAAAAAAJZQ/
KNYp2l7GWjA-6IMKzdfQGfOulCGm_f9cACKgB/s1600/Osso%2Bde%2BIshango.PNG>. Acesso 
em: 25 jan. 2019.
•	 Pictografia: embora entalhes e nós possam fazer referência a lembretes, números 
ou categorias, as imagens podem transmitir um maior grau de detalhamento 
das características de um objeto (FISCHER, 2009). “A necessidade de transmitir 
uma variedade maior de informação pontual, além das citadas [categorias, 
números e lembretes], registrando com um ou mais símbolos pictóricos – isso 
é pictografia. A pictografia é um casamento fortuito entre marcas e elementos 
mnemônicos” (FISCHER, 2009, p. 19). 
TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA DAS LÍNGUAS ORAIS
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Isto posto, a pictografia é, de acordo com o autor citado, uma junção entre 
o uso de marcas artificiais feitas para a comunicação e de elementos que servem 
para registro ou memória dos acontecimentos. Ainda segundo Fischer (2009), 
algumas pinturas rupestres aparentam ter como objetivo a comunicação através 
de pictogramas,ou seja, desenhos que não evidenciam apenas uma forma de 
registro de imagem, mas que aparentam ter como meta relatar algo através de 
registro. 
Na figura a seguir temos a reprodução de um desenho que Fischer (2009) 
coloca em seu livro. Nesta imagem aparece o desenho de um cavalo rodeado 
daquilo que, para nós, seriam letras “P”. Este desenho está localizado na caverna 
Les Trois Frères, no sul da França, e seu significado não é conhecido por nós. 
Mesmo assim, a possibilidade de que estes símbolos entalhados em torno do 
animal tenham como objetivo comunicar algo, talvez o som do bicho ou parte de 
uma história envolvendo o cavalo, parece ser bastante concreta. 
FIGURA 5 – ARTE RUPRESTRE: CAVALO ENTRALHADO NA CAVERNA LES TROIS FRÈRES
FONTE: Fischer (2009, p. 19)
Ainda mais completa é esta “carta” da tribo Cheyenne, em que a Tartaruga-
seguindo-sua-fêmea manda a seguinte mensagem para o Pequeno-homem, que 
é seu filho: “eu lhe envio $53 e peço que venha para casa” (FISCHER, 2009, p. 
19). Assim, a mensagem é transmitida através dos desenhos, que permitem sua 
compreensão. Apresenta quase todas as características de uma escrita completa, 
contudo, suas marcas são icônicas e não convencionalmente atribuídas, ou seja, 
apenas as pessoas que conhecem exatamente os referentes poderiam compreender 
a mensagem colocada. 
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
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FIGURA 6 – MENSAGEM PICTOGRÁFICA CHEYENNE
FIGURA 7 – SÍMBOLOS ENTALHADOS EM CERÂMICA (5300-4300 a.C.)
FONTE: Fischer (2009, p. 19)
FONTE: Fischer (2009, p. 23)
•	 Símbolos	 gráficos: conforme Fischer (2009), os símbolos gráficos se 
desenvolveram a partir da necessidade social de ampliar o repertório de 
registro, a partir da expansão da sociedade suméria e da contabilidade 
da mercadoria. Imaginemos o seguinte: até certo tempo eram pequenas 
comunidades que precisavam apenas registrar e controlar um número 
pequeno de coisas. Um exemplo prático, quando éramos crianças, nossa 
“comunidade” era pequena e nossos “recursos” eram poucos, apenas 
precisávamos registrar pequenos fatos ou histórias, ou seja, até uma certa 
idade os desenhos ou entralhes que fazíamos nas paredes de casa bastavam. 
Porém, quando entramos na escola, nossa “comunidade” se expande e são 
necessários outros modos de registro das coisas. 
Com a expansão comercial foi necessário que formas mais rápidas e 
eficientes de registro fossem criadas, por isso, criou-se um sistema de códigos 
em símbolos. É necessário distinguir símbolo de signo, pois, neste momento da 
história ainda estávamos desenvolvendo símbolos e não signos linguísticos: “um 
‘símbolo’ é uma marca gráfica que significa outra coisa, enquanto um ‘signo’ é 
um componente convencional de um sistema de escrita” (FISCHER, 2009, p. 23). 
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Dito de outro modo, um símbolo retoma outra coisa a qual ele faz 
referência, por exemplo, uma pomba branca é o símbolo da paz, ou seja, a pomba 
significa “paz” para as pessoas que sabem a relação entre o animal e o sentimento. 
Já um signo é algo que por convenção, ou seja, combinação social faz parte de um 
sistema de escrita, e tem várias características específicas, por exemplo, o sinal 
equivalente à “laranja” em Libras, quando feito na testa, tem o significado de 
“aprender”, ou seja, por convenção da língua, quando realizado na testa, esse 
sinal significa “aprender”, por isso, esse sinal é um signo da língua de sinais 
brasileiros. 
FIGURA 8 – SINAL DA FRUTA/COR LARANJA
FIGURA 9 – SINAL DO VERBO APRENDER
FONTE: Capovilla et al. (2017, p. 1543 e 244)
FONTE: Capovilla et al. (2017, p. 1543 e 244)
Dentro dos estudos linguísticos propostos por Saussure podemos observar 
a diferença de “símbolo” e “signo”, assim como as características dos signos 
linguísticos. Dubois et al. (1973), sobre o pensamento linguístico de Saussure 
coloca que “o símbolo, ao contrário do signo, tem por característica jamais ser 
arbitrário, isto é, existe um laço natural rudimentar entre significante (o símbolo) 
e significado (o sentido dele)”.
Dubois et al. (1973) apresentam as características dos signos linguísticos 
segundo Saussure:
1) Unem um conceito a uma imagem acústica som.
2) São arbitrários, ou seja, não têm relação direta com o referente externo.
3) São linearmente organizados, quer dizer, precisam estar numa certa ordem 
para fazer sentido, como ogat não faz sentido, mas gato sim.
4) Não podem ser mudados livremente porque são uma convenção socialmente 
instituída.
UNIDADE 1 | HISTÓRIA DO REGISTRO ESCRITO DAS LÍNGUAS
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5) Mudam ao longo do tempo através do uso que é feito e dos novos acordos 
sociais, por exemplo, a mudança ocorrida ao longo do tempo com a expressão 
Vossa Mercê>Vosmecê>você.
Não confunda a noção de sinal icônico com símbolo, pois os sinais fazem parte 
de uma língua, logo, não são símbolos. E, os signos apresentam certa semelhança com seu 
referente concreto, sendo característicos nas línguas de sinais.
IMPORTANT
E
• Fichas de argila: o sistema de fichas de argila era utilizado para contabilidade, 
de modo que uma ficha era igual a um produto e cada produto tinha um 
formato específico de ficha. A partir de 4000 a.C. as fichas começaram a ser 
utilizadas de maneira diferente, pois a quantidade de itens começou a ficar 
muito grande para contar todas as fichas sempre. Por isso, elas começaram a 
ser colocadas em “pequenos ‘envelopes’ de argila chamados de bullae [que] 
continham essas fichas e eram marcados e impressos por fora, evitando ter de 
abri-los e quebrá-los para saber quantas fichas e qual mercadoria encerravam” 
(FISCHER, 2009, p. 25). 
FONTE: Fischer (2009, p. 25)
FIGURA 10 – ALGUNS MODELOS DE FICHAS DE ARGILA JÁ ENCONTRADOS
Dessa maneira, os pequenos envelopes de argila (bullae) armazenavam as 
fichas e não precisavam ser abertos para saber a quantidade de fichas que tinham 
dentro, porque possuíam marcas que indicavam o tipo e a quantidade das fichas 
existentes em seu interior. Com o tempo, os símbolos usados nos envelopes fizeram 
com que as fichas fossem dispensadas, dando início ao processo de uso de símbolos 
indiretos. De acordo com Fischer (2009), para a teoria das	fichas, a escrita completa 
começa a desenvolver-se a partir do momento em que foi possível ler através do 
uso de símbolos indiretos, o tipo e a quantidade de cada bullae. 
TÓPICO 2 | DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA DAS LÍNGUAS ORAIS
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Nessa perspectiva, o sistema de fi chas contribuiu para a emergência da 
escrita completa. O autor coloca a seguinte comparação para demonstrar que as 
fi chas deram origem ao pictograma e ao signo cuneiforme referente à ovelha. 
FONTE: Fischer (2009, p. 27)
FONTE: Fischer (2009, p. 28)
FIGURA 11 – PROCESSO DE FICHA PARA SIGNO
FIGURA 12 – MARCAS PADRONIZADAS NA ARGILA UTILIZADAS PARA CONTAGEM
• Tabuletas: existiram no mesmo momento que as bullae e tinham uma função 
semelhante, a de contabilizar as mercadorias. Para Fischer (2009), elas 
representam certa complexidade superior às bullae, tinham marcas referentes 
às quantidades e às mercadorias, utilizando de marcas feitas com a ponta de 
um bambu para representar as quantidades.
3.2 ESCRITA FONÉTICA
Segundo Fischer (2009), a fonetização acontece quando um símbolo gráfi co 
se transforma, a partir da leitura em um som articulado, ou seja, é a transição de 
um símbolo gráfi co para um símbolo referente ao som da palavra (fonético).
No entanto, a fonetização não garante a existência da escrita completa, 
pois mesmo as fi chas e os pictogramas estão vinculados à leitura da palavra que 
fazemos, ao vermos uma fi cha que tem o signifi cado de ovelha (como na Figura 
16) transformamos esta imagem em sua representação acústica em nossa cabeça. 
Quando analisamos a carta pictográfi ca enviada por Tartaruga-seguindo-
sua-fêmea (Mensagem Pictográfi ca Cheyenne), também conseguimos identifi car 
alguns elementos e fazer a leitura. As três etapas de antecipação, decifração e 
interpretação estão presentes

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