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Teoria e Métodos em Geografia – Fundamentos teórico- metodológicos Categorias Geográficas: diversas visões na Geografia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Vivian Fiori Revisão Textual: Profa. Esp. Vera Lídia de Sá Cicarone 5 • Introdução • Geografia Humanista • Uma breve visão da Geografia Crítica Esta unidade vai tratar das principais categorias geográficas e de algumas visões propostas, principalmente, pela Geografia Humanista e Geografia Crítica. É fundamental saber que as principais categorias geográficas são espaço, território, paisagem, região e lugar. Cabe também ressaltar que há diferentes conceitos para tais categorias, ou seja, há diversificadas concepções para definir cada um desses termos. Cada concepção teórica tem uma maneira de explicar e abordar os fenômenos geográficos, com diferentes métodos para desvendar uma determinada realidade, e as categorias geográficas possibilitam uma leitura do mundo pelo viés espacial. Assim, é importante conhecer os conceitos geográficos, as matrizes teóricas das quais eles são provenientes bem como os principais autores que defendem esses conceitos. · Nesta unidade discutiremos o uso das categorias geográficas, principalmente nas concepções denominadas Geografia Humanista e Geografia Crítica. · Cada uma dessas concepções permite-nos entender a leitura da Geografia por diversos prismas que, normalmente, estão ligados à época na qual foram produzidas ou às linhas teóricas de seus autores. · Para atingirmos nossos objetivos saliento a importância da leitura atenta dos textos da disciplina bem como o empenho na realização das atividades propostas nesta unidade. Categorias Geográficas: diversas visões na Geografia 6 Unidade: Categorias Geográficas: diversas visões na Geografia Contextualização Ao longo do tempo, o homem criou expressões conceituais que foram sendo construídas socioculturalmente através de sua relação com o meio no qual vivia. Assim, por exemplo, enquanto, nas regiões mais frias, os esquimós criaram mais de dez diferentes termos para designar “neve”, aqui, no Brasil, há diversas expressões para definir diferentes tipos de chuva, tais como: tempestade, chuvisco, chuva, toró, garoa etc. Então, se falamos “neve”, essa palavra expressa um determinado fenômeno meteorológico que pode ser visto e, eventualmente, pode ser pego com as mãos. Mas, se usamos o termo “clima”, ele expressa uma ideia bem mais abstrata. Ao longo de nossa vida, seja por meio de nossas relações socioculturais, do senso comum, seja mediante o conhecimento científico, vamos adquirindo novos conhecimentos cujas expressões são conceituais e cada vez mais abstratas. O discurso científico é cheio de conceitos e muitos deles são bastante abstratos. É por meio deles que as ciências discutem e explicam uma determinada realidade ou situação, usando suas categorias principais. Quando usamos a palavra “paisagem”, por exemplo, é fundamental defini-la. O que é paisagem? Conceituá-la é dar-lhe significado. E como a Geografia lê o mundo? O que distingue um geógrafo de outros cientistas é o fato de a leitura desta área do conhecimento ser espacial. Todo fenômeno geográfico, seja qual for, necessita ser compreendido como algo que ocorre no espaço, num território ou num lugar. Não devemos, contudo, confundir espaço apenas com localização. Essa visão da Geografia como ciência dos lugares, por meio da qual se deve saber o nome de todos os lugares e suas localizações, é uma abordagem tradicional de Geografia. Desse modo, há diferentes formas de explicar os fenômenos geográficos. Cabe-nos conhecê-las! 7 Introdução Ao longo de sua história, cada ciência tem um conjunto de pressupostos, concepções de métodos e categorias que são formas de discurso que buscam entender o mundo. Então, o método é a concepção filosófica, um meio de conceber o entendimento sobre a realidade, seja geográfica ou não. Não importa qual seja o método, cada ciência tem suas categorias principais, que, no caso de Geografia, são, principalmente, as seguintes: espaço, território, paisagem, região e lugar. Essas categorias norteiam os estudos geográficos, mas as definições delas são bastante variadas, alinhando-se, principalmente, à concepção de Geografia que o autor tiver. Assim, ao tratarmos de espaço como categoria geográfica, importa saber o que é espaço. Poderemos ter mais de uma definição e conceito para o mesmo “termo”, ou seja, para conceituarmos uma categoria é necessário defini-la. Na Geografia Tradicional, um dos poucos autores a tratar de espaço foi Ratzel, no final do século XIX, por meio da teoria do “espaço vital”, a partir da qual se definia que um povo, ao se apropriar do espaço e manter relação com o solo, estabelecia laços com o território e, à medida que esse povo ia evoluindo e se organizando, criava o Estado. Portanto, para o autor, o Estado era um território delimitado e organizado, um estágio a ser alcançado. Ratzel usava duas nomenclaturas ou categorias de análise: a de “povos naturais” e a de “povos civilizados”. Segundo o autor, os povos naturais, embora criassem vínculos com a terra, geralmente não eram capazes de criar um território delimitado e um Estado nos moldes dos povos civilizados europeus. Dizia o autor: “A África dos negros, que também contém tantos povos, não possui nenhum grande Estado no verdadeiro sentido da palavra” (MORAES, 1990, p. 148). Importante relembrar que o discurso de Ratzel remetia a um período do final do século XIX, no qual a Geografia era bastante influenciada pelo método positivista. Sua concepção era tradicional, pois a disputa pelo território era vista com um processo natural de luta pela vida, naturalizando assim o homem. As formas de existência que não eram formalizadas como Estado-Nação, caso do modo de vida tribal, por exemplo, eram vistas por alguns europeus como formas atrasadas de vida. Mais recentemente, após os anos setenta do século XX, outras duas abordagens geográficas - a Geografia Humanista e a Crítica - também voltaram a tratar dessas categorias de espaço e território, que ficaram um pouco relegadas na Geografia Tradicional, já que “paisagem” era a categoria mais usada anteriormente. A categoria território, que foi usada por Ratzel no século XIX, retornou na Geografia Crítica e passou a ser utilizada, considerando outras dimensões de estudos, além do cunho político e da escala nacional do Estado-Nação. Passamos a ter estudos de território também evidenciando os usos econômicos e sociais em diversas escalas geográficas. A questão teórica, epistemológica, ganhou força nesse período em artigos e livros publicados, principalmente, sobre o objeto de estudo da Geografia e a história do pensamento geográfico, em obras tais como as de Milton Santos (2004), Por uma Geografia Nova: da crítica da Geografia a uma Geografia Crítica, originalmente publicada em 1978; de Antonio Carlos Robert Moraes (1995), Geografia: pequena história crítica, com a primeira edição em 1983; e de Ruy Moreira (1995) O que é Geografia, de 1985. 8 Unidade: Categorias Geográficas: diversas visões na Geografia No Brasil, nesse período, coexistiram mais claramente três grandes grupos ou redes em relação às concepções de Geografia: a da Geografia Pragmática (Sistêmica e Teórico-Quantitativa), geralmente comum nas áreas de planejamento e trabalhos técnicos; a chamada Geografia Crítica, com grande diversidade de autores e discursos sobre a concepção de Geografia, método e conceitos; por fim, a chamada Geografia Humanista, cuja matriz de pensamento é mais comumente associada à fenomenologia. Desse modo, há vários grupos na Geografia brasileira, ao longo de sua história, que formam redes com flexibilidade de aderência dos participantes, com diversas mediações possíveis, de que decorre a proposta do uso do conceito de grupos e “redes de afinidades”. Um geógrafo pode aderir a certo tipo de escola, doutrina, metodologia, filosofia ouinstituição num período e mudar depois, bem como, por uma questão organizacional, pertencer ou não a um determinado grupo ou a uma rede. Há redes de afinidade, algumas horizontalidades (SANTOS, 2006), que, por afinidade “científica”, doutrinária, ideológica ou teórico-metodológica formam grupos e redes de afinidades. Ao longo da história do pensamento geográfico existiram ou existem diversas dimensões, possibilidades e preferências teórico-metodológicas dos diversos geógrafos. Ora preferem Geografia Física à Humana ora definem-se apenas como geógrafos, em outros casos são geógrafos críticos, humanistas ou pragmáticos. Ora são professores de Geografia, ora são bacharéis. Então, vamos explicitar um pouco mais, a seguir, as abordagens Humanista e Crítica, suas concepções sobre Geografia e o uso de seus conceitos. Geografia Humanista Na década de 1970, emergiram algumas novas concepções geográficas, caso da Geografia Humanista. Nesta abordagem a leitura do mundo se faz de forma mais simbólica, cultural, calcada principalmente no método denominado fenomenologia e no existencialismo. Na fenomenologia, diferentemente do positivismo, método mais comum da Geografia Tradicional, a realidade não é apenas a palpável, passível de ser vista, descrita e classificada. Na fenomenologia, importa a percepção que os grupos sociais e culturais têm da realidade, ou seja, como o mundo é visto e concebido pelos indivíduos ou grupos. Em geral, para autores da Geografia Humanista, o território é visto como algo mais simbólico, como um espaço de pertencimento social e cultural. Autores, como Joel Bonnemaison (2002), tratam do conceito de territorialidade dos povos evidenciando a dimensão simbólica da apropriação do território. Bonnemaison autodenomina-se geógrafo humanista e discute sua pesquisa num artigo publicado no Brasil, “Viagem em torno do território” (2002), no qual traz conceitos de território e territorialidade como formas de apreensão dos grupos culturais no espaço, que é, assim, simbólico ou geossimbólico. Diz o autor: 9 [...] a territorialidade é compreendida muito mais pela relação social e cultural que um grupo mantém com a trama de lugares e itinerários que constituem seu território do que pela referência aos conceitos habituais de apropriação biológica e de fronteira. Assim, existem povos para quem a noção de fronteira é praticamente inexistente, sem que isso signifique que eles não tenham território [...] (BONNEMAISON, 2002, p. 99-100). Para ele, os povos tradicionais têm uma referência cultural, de pertencimento em relação ao seu território, mesmo que este não seja demarcado oficialmente. Dessa forma, a territorialidade deles é essa apropriação simbólica e não de uma delimitação rígida e formal do Estado-Nação. Usando essa ideia, podemos usar expressões, como, por exemplo, “a territorialidade indígena” ou a “territorialidade dos caiçaras”, como formas de apreensão desses povos ou grupos de seu território, que não é necessariamente delimitada formalmente. Ou seja, um determinado povo ou grupo ocupa, vive, interage e se expressa nesse território, então isso é a territorialidade dele. Ele se sente pertencendo a esse território, tem laços históricos e culturais. Tem raiz, hábitos e costumes que servem de referência para ele, logo isso é a territorialidade, sua expressão sociocultural no território. Observe que, nesta concepção, o fundamental não é a delimitação legal e formal no território. Não importa se o território é um Estado-Nação, um país, com um território delimitado legalmente, mas importa, sim, a vivência no território. Como diz Roberto Lobato Corrêa: [...] a geografia humanista está assentada na subjetividade, na intuição, nos sentimentos, na experiência, no simbolismo e na contingência, privilegiando o singular e não o particular e o universal [...] (CORRÊA, 2006, p. 30). Assim, esses geógrafos interessam-se, principalmente, em destacar os povos e grupos mais tradicionais, como indígenas, povos cujas comunidades são reminiscências de formas de vida mais tradicionais, tais como quilombolas, caiçaras etc. Ou, ainda, em destacar estudos sobre etnias e grupos culturais e seus vínculos com seus territórios. Caso, por exemplo, da territorialidade dos italianos em Nova Iorque, ou dos quebequianos, canadenses de origem francesa que vivem no Canadá. Desse modo, nessa perspectiva, o território não necessita ser o formal, o constituído legalmente, por lei ou por normas, e sim compreendido como apropriação espacial que um determinado grupo cultural, por exemplo, tem. Outro autor reconhecido como humanista é Yu-Fu Tuan, geógrafo chinês radicado nos EUA que escreveu obras como Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente, na qual destaca vários exemplos de como os povos identificam de diferentes formas o espaço. Trata do espaço sagrado assim como de paisagem não só como aquilo que se vê, mas também como a paisagem percebida usando-se os outros sentidos além da visão. Para Tuan, a relação das pessoas, povos, grupos culturais com o meio ambiente dá-se pela percepção de cada um como individuo ou como grupo cultural. De um lado, essa forma de ver e perceber o mundo, a paisagem, o espaço e o meio ambiente ocorre diferentemente pelas diversas culturas, mas, por outro, as paisagens alteram a forma de percepção dos povos. 10 Unidade: Categorias Geográficas: diversas visões na Geografia Assim, um grupo que mora em um ambiente de floresta aprende, em sua vivência diária, com o ritmo da natureza, da vegetação, dos rios, da fauna etc. desse ambiente. Já um morador de uma cidade grande está exposto a diferentes paisagens e à sensação que essas paisagens lhe remetem, mediante os sons, os cheiros. Logo, sua visão é mediada pelo ambiente em que vive e suas percepções são diferentes das do morador de uma região de floresta. Conforme afirma o autor: O meio ambiente natural e a visão do mundo estão estreitamente ligados: a visão do mundo, se não é derivada de uma cultura estranha, necessariamente é construída dos elementos do ambiente social e físico de um povo. Nas sociedades não tecnológicas, o ambiente físico é o teto protetor da natureza e sua miríade de conteúdos. Como meio de vida, a visão do mundo reflete os ritmos e as limitações do meio natural (TUAN, 1980, p. 91). Para Yu-Fu-Tuan, o lugar, categoria geográfica, é visto como um espaço que tem significado, um espaço vivido pelos grupos sociais e culturais. Segundo o autor, existe um traço humano comum - a visão de perceber o mundo como centro, a visão etnocêntrica do espaço, ou seja, cada povo tende a pensar o seu “espaço” como o principal e a própria cartografia que é uma representação do espaço contribuiu para essa ideia ao longo da história. Espaço vivido é o espaço vivido por cada um dos grupos. Conforme explica o geógrafo Paulo César da Costa Gomes: Os geógrafos fenomenologistas, como os da escola de espaço vivido, procuram revalorizar o conceito clássico de lugar. Este conceito toma no discurso humanista a forma de um ponto no espaço onde todas as significações culturais e individuais se concentram [...] Tuan se ocupa fundamentalmente dos conceitos como o espaço, o homem e a experiência (COSTA, 2007, p. 329). Já Ruy Moreira (2009) coloca que, embora a proposta de Tuan possa ser considerada humanista, expressão cunhada pelo próprio Tuan, ela não vem da matriz fenomenológica, mas de uma forma própria de tratar o lugar, como espaço vivido, percebido e vivido individualmente ou pelos grupos sociais e culturais. Em seu livro Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente, publicado originalmente em 1974, ele trata dos sentidos visão, audição, olfato e tato como fundamentais para a percepção humana. Portanto, nesta visão, a paisagem é impregnada da percepção, de subjetividade. Tuan define topofilia como sendo: “[...] o elo afetivo entre as pessoas e o lugar ou ambiente físico. Difuso como conceito,vivido e concreto como experiência pessoal...” (TUAN, 1980, p. 5). Partindo desse princípio, é fundamental questionar qual é a visão que um grupo tem ao ver uma paisagem. Paisagem, nessa concepção de Tuan, produz sentimentos, sensações. Cabe indagar: qual a identidade que estabelecemos com as paisagens que vivemos quando éramos crianças? O que elas nos lembram? Como eram nossos bairros? Como nos sentíamos vivendo lá? Lembre-se de que paisagem não é só a natureza para Tuan. 11 Nessa perspectiva geográfica, a apreciação sobre a mesma cidade pode variar. Desse modo, o espaço vivido não é o mesmo para as diferentes pessoas ou grupos sociais. Conforme nos lembra Tuan (1980, p. 259): “A imagem urbana é uma para o executivo pendular e outra bem diferente para a criança sentada na escada de entrada de um bairro pobre [...]”, bem como existe diferença na percepção sobre uma cidade feita pelos moradores locais e de transeuntes ou turistas vindos de fora. Então, o espaço vivido depende, nessa concepção, da vivência de cada grupo ou indivíduo. No Brasil, uma das precursoras de estudos humanistas na Geografia é Lívia de Oliveira1 , que não aceita o discurso de que sua produção seja a mesma coisa do que denominam de “Geografia da Percepção” ou “Geografia do Comportamento”, expressões que ela considera equivocadas. Formada em Geografia pela USP, tornou-se professora da Unesp de Rio Claro. Suas pesquisas giram em torno de Piaget, Ensino e Metodologia de Geografia e Cartografia Escolar, na qual adota uma abordagem perceptiva na Geografia. Lívia foi tradutora para o Brasil de duas obras de Yu-Fu Tuan. A Cartografia escolar proposta nesta concepção geográfica não se fundamenta apenas em questões como escala (gráfica e numérica), comuns na Cartografia Sistemática, e sim em como o aluno, conforme sua faixa etária compreende o espaço. Ele compreende o mapa de que maneira? Ele tem noção espacial? Como é que ele representa o espaço? Assim, a visão e a compreensão que cada aluno, conforme sua condição cognitiva, tem sobre o espaço é fundamental. Por isso sua proposta é humanista e a percepção é fundamental em seu método. Conforme afirma Rosangela Doin sobre a pesquisa de Lívia de Oliveira: Um de seus pontos principais consiste em salientar a necessidade do preparo do aluno para entender mapas; a autora propõe que o mapeamento deva ser solidário com todo o desenvolvimento do indivíduo. Ao tratar dos mapas infantis, a autora comenta a necessidade de se pesquisar a capacidade de mapear, isto é, os mecanismos perceptivos e cognitivos aos quais a criança recorre ao mapear (DOIN, 2014, p. 9). A Geografia Humanista tem, nas questões simbólicas e imateriais, um diferencial em relação à Geografia Tradicional e Pragmática. No ensino de Geografia, alguns apontam os documentos dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Geografia como ecléticos do ponto de vista de matriz teórica, e Genylton Odilon Rego da Rocha (2001), em sua tese, diz que a vertente dos PCNs é mais humanista, psicologizante e da percepção. Assim, a dimensão subjetiva é bastante valorizada na abordagem geográfica humanista. Nela cabem questionamentos tais como: como os povos vivem, como sentem e se identificam com seus territórios? Ou, ainda, na Cartografia Escolar, quais as referências e percepção que cada aluno tem do espaço? Vamos verificar, a partir de agora, outro grupo ou abordagem geográfica. 1 Para saber mais sobre a autora, assista a uma apresentação na qual ela contextualiza sua história acadêmica: http://www.youtube. com/watch?v=Zd1_-DHM7cc http://www.youtube.com/watch%3Fv%3DZd1_-DHM7cc http://www.youtube.com/watch%3Fv%3DZd1_-DHM7cc 12 Unidade: Categorias Geográficas: diversas visões na Geografia Uma breve visão da Geografia Crítica Entre as abordagens e rede de afinidades geográficas, há uma denominada “Geografia Crítica”. Sua emergência ocorreu após os anos setenta do século XX no Brasil. Sua definição não é simples; começa pela própria crítica feita por alguns autores à chamada “Geografia Tradicional” bem como à Geografia Pragmática. Para Pensar A chamada “Geografia Tradicional”, no Brasil, abarca principalmente a chamada “Geografia Clássica”, difundida, entre outros, por Ritter, Ratzel e Vidal de La Blache, segundo a qual a abordagem é fundamentalmente positivista, empirista e descritiva. Há também, nessa proposta, uma naturalização do homem, visto como grupos humanos e não socialmente divididos em classes sociais. No Ensino de Geografia, a “Geografia Tradicional”, geralmente, é associada à memorização de nomenclaturas e nomes, é a Geografia vista como “ciência dos lugares”, da fragmentação do conhecimento (quadro natural, humano e econômico), das classificações, entre outras condições que, geralmente, são associadas à ideia de “Geografia Tradicional”. Há autores bastante diversificados nesta rede de afinidades denominada de Geografia Crítica, mas há, predominantemente, um discurso voltado ao entendimento do espaço e do território, compreendido pelas dimensões sociais, políticas e econômicas, com apropriação do espaço por agentes sociais, cujos papéis sociais e suas formas de apropriação tornam o espaço desigual. Há, nessa rede de autores denominados críticos, aqueles que assumem claramente sua abordagem ou leitura do mundo ou do espaço pelo viés marxista, assim como há os que buscam entender a relação sociedade-espaço ou sociedade-natureza com outras matrizes teóricas e ideológicas. Alguns autores, como Neil Smith, David Harvey, Massimo Quaini e Yves Lacoste, influenciaram o pensamento crítico brasileiro. Já alguns autores brasileiros, como Milton Santos (2004), Antonio Carlos Robert Moraes (1995) e Ruy Moreira (2009), reforçam que tal mudança da Geografia Tradicional para a Crítica ocorre pelo próprio movimento da história do mundo, que o torna mais complexo, mais global, o que faz com que forma de apreender o mundo própria da Geografia Tradicional e suas categorias não seja mais suficientes para compreendê-lo. Segundo Moraes (1995, p. 96): “O desenvolvimento das ciências e do pensamento filosófico ultrapassara em muito os postulados positivistas, que apareciam agora como por demais simplistas e pueris”. Por outro lado, as maiores críticas feitas aos autores da Geografia Crítica são decorrentes da visão de que esta abordagem, quase sempre, desconsidera o quadro natural ou a “Geografia Física”, portanto, para a maioria desse grupo ou rede, a Geografia é uma ciência humana. Mas, mesmo nesta questão há divergências, pois há os que, embora se denominem críticos, buscam entender o espaço geográfico na inter-relação da sociedade com a natureza ou os que consideram a dimensão natural no espaço. 13 Há, portanto, que se considerar o momento histórico em que se dão tais mudanças nos diversos lugares do mundo assim como perceber as mudanças empreendidas na história do pensamento geográfico, na epistemologia, e como concretamente isso foi sendo vivenciado nos cursos de Geografia no Brasil e na vida escolar. Assim, parte dos geógrafos que aderiram à rede da Geografia Crítica, só na segunda metade do século XX, vai buscar em Marx a base das teorias do valor e outras teorias marxianas criadas no século XIX. Não é, portanto, uma abordagem inteiramente nova, mas algo trazido à Geografia, à luz da compreensão do espaço ou do território, numa visão social que considera como fundamental a explicação da existência de uma sociedade desigual, a qual precisa ser analisada espacialmente. Contudo, não podemos afirmar que as influências na Geografia Crítica sejam exclusivamente marxistas. Alguns autores, como Antonio Carlos Robert Moraes e Wanderley Messias da Costa (1988) optam mais claramente pelo viés marxista e pelo materialismo histórico dialético como método para analisar a Geografia. Conforme afirmam os autores: [...] o método fornece o próprio balizamento da discussão, pois introduz categorias universais que instrumentalizam nossa compreensãoda realidade. As categorias trabalho e valor, por exemplo, são apreendidas como fundamento da apreensão de qualquer processo social. O caráter histórico de toda ciência (e aqui, como fundamento metodológico) leva a que o objeto de análise deva necessariamente ser entendido como um processo. Esta colocação aparentemente banal é de extrema importância [...] Posto o objeto como processo e sendo ele referido a fenômenos sociais deverá ser apreendido com o concurso obrigatório das categorias dizem respeito à própria definição da materialidade social (MORAES; COSTA, 1988, p. 116). Esta postura dos autores evidencia a importância, no método do materialismo histórico- dialético, de estudar a Geografia a partir da “materialidade social” e do “processo”. Assim, não basta uma leitura do espaço observando somente o tempo presente, tampouco basta achar que o que estamos vendo hoje seja produto de uma geração espontânea. Há sempre um processo social, econômico e político por trás da aparência dos fenômenos que observamos no espaço e que vai sendo construído ao longo do tempo. Se observarmos uma favela, por exemplo, a explicação de sua existência não está só na aparência de suas formas. Não basta apenas descrevê-la como faria a Geografia Tradicional, mas é essencial entender os processos que a levaram a existir e também como se dão as relações espaciais nessa favela. Assim, a visão crítica dá ênfase maior às dimensões social, econômica e política do espaço. Logo, entender os atores ou agentes sociais no espaço, as desigualdades espaciais é, geralmente, comum nessa concepção geográfica. Mas o que seriam os agentes sociais? Os agentes sociais podem ser definidos pelos papéis sociais e políticos que o ser humano tem não apenas como individuo, mas também nas organizações e instituições as quais representam. Logo, podem ser, por exemplo, o Estado (nos diferentes níveis de governo), os promotores imobiliários, os proprietários de terra, os movimentos sociais, os donos dos meios de produção (caso da indústria), os grupos sociais organizados etc. 14 Unidade: Categorias Geográficas: diversas visões na Geografia Todos eles têm um papel e alguns têm mais poder social e político, daí que o acesso ao território com melhor infraestrutura e com mais amenidades é mediado por relações de poder. As formas de ocupação se dão também pelo poder socioeconômico de cada um, por isso a apropriação espacial é desigual, e desvendar as situações de diferentes apropriações e formas de existência no território é comum nas pesquisas de geógrafos críticos. Como diz Milton Santos: [...] o espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante de nossos olhos [...] O espaço é, então, um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual (SANTOS, 2004, p.153). Nessa perspectiva, o espaço é social e um campo de disputas de diferentes classes sociais, de formas distintas de apropriações, de relações de poder. Contudo, como propõe Milton Santos (2000), o espaço deveria ser o espaço de todos, o espaço banal, e não apenas o uso para alguns grupos das formas e ações provenientes dos direitos existentes. O território é uma totalidade em movimento, que se efetiva concretamente mediante a ação dos diversos agentes sociais, constituindo-se, assim, como território usado por esses agentes. Dessa forma, partimos da concepção de que o território é uma construção sócio-histórica, não um mero palco ou substrato para que as ações e normas ocorram. O território tem uma forte dimensão política, socioeconômica e de poder, bem como sua multidimensionalidade produz formas de uso e apropriações distintas, gerando uma desigualdade de acesso que não cria capilaridade nem a todos os lugares nem a todos que usam o território. Desigualdades que podem ser observadas nas paisagens das grandes cidades por meio dos condomínios de luxo em oposição às favelas. Ou mesmo no campo, com as condições espaciais do agronegócio, se comparadas às da pequena agricultura de subsistência. Assim, o uso de categorias geográficas como “espaço geográfico”, “território” e “região” é fundamental, pois pode auxiliar no entendimento do espaço e da inserção do Brasil num mundo cada vez mais global. Entender o mundo é compreendê-lo como processo histórico. Logo, tempo e espaço são categorias indissociáveis. Entende-se a categoria tempo como processo histórico-social, mediado pelas possibilidades de cada época, pelas necessidades, desequilíbrios e escassez existentes no território brasileiro e no mundo. As situações do passado interessam para desvendar o movimento que vem do passado para o presente, como dizia Milton Santos (2006), já que, no presente, está contido o passado nas formas e nas ações (normas, leis, políticas etc.). Então, para entender de Geografia, é importante considerar as formas espaciais, tudo o que está materializado no espaço, nas construções (igrejas, propriedades agrícolas, cidades, usinas hidrelétricas, meios de transportes etc.), mas também é fundamental considerar as relações sociais, políticas, culturais e econômicas. Tudo isso se relaciona e é espaço geográfico. 15 A dimensão natural, nessa perspectiva, também precisa ser considerada, mas, principalmente, pela forma como o homem, vivendo em sociedade, se apropria da natureza, seja da água, do solo, dos minerais etc. Importante ressaltar que, para a Geografia Crítica, não se trata de pensar apenas no “homem” como uma categoria genérica, mas sim o homem como ser social e político. Assim, cada um tem um papel social que o diferencia dos outros homens. Embora todos os homens sejam agentes sociais do espaço, eles não têm as mesmas vivências nem as mesmas condições de poder. Logo, não é o homem que cria e que transforma o espaço apenas, mas os agentes sociais ora como Estado, ora como dono de terra, ou, ainda, como um movimento social, como o Movimento dos Sem-Terras (MST). Estudar Geografia, então, depende de entendê-la como processo histórico. Também as formas espaciais vêm do passado. Como explicar um prédio do século XIX no centro de uma cidade brasileira? Sua forma fez parte de outro momento histórico, sua arquitetura remete a outro período. No entanto ele está lá hoje, como forma espacial num centro antigo da cidade, sendo usada pelos habitantes da cidade. Portanto, vou estudá-la no presente, mas como uma rugosidade espacial, algo que veio do passado, mas que hoje tem outro conteúdo e uso, porque os homens que vivem hoje o fazem em condições diferentes das do passado. Neste processo histórico, os fenômenos estudados pela Geografia não devem ser isolados, muito menos tratados como processos que têm um começo e um fim. Não são produções acabadas; há sempre um devir, que está sempre em movimento e em contradição. A abordagem dialética, método mais comum usado pelos geógrafos críticos, não considera que o mundo só evolui positivamente, de forma linear, mas há sempre idas e vindas e inúmeras contradições. Há contradições nos discursos dos agentes sociais, diversas racionalidades (SARTRE, 2002) e contrarracionalidades; isso é fundamental de ser compreendido num curso de Geografia. Exemplificando: se, de um lado, o sistema capitalista, baseado no lucro, no mercado e na propriedade privada, cria apropriações distintas no território, de outro, alguns grupos sociais organizam-se e lutam por terras. Assim, há a racionalidade capitalista, com sua lógica e forma de existência desigual, e, de outro lado, os movimentos sociais com seu discurso contra a racionalidade capitalista. Nesse embate, situa-se a Geografia Crítica, evidenciado os diferentes discursos, as diferentes formas de existência e apropriações espaciais. Para compreender Geografia nessa perspectiva crítica, é fundamental evidenciar as contradições existentes no espaço, não apenas em sua condição interna ou em suas conexões,mas principalmente no movimento que é resultante dela no espaço (LEFEBVRE, 1995). O que resultou no espaço dessas disputas? Considera-se que, no movimento dialético, não há uma entidade superior que defina a história, mas os agentes sociais que criam as contradições2 . Contradições entre discursos, entre norma e existência real, entre intencionalidades. Assim, como diz Sartre (2002), não há apenas uma racionalidade; há várias intencionalidades que perpassam o mundo social e político, suas instituições e seus arranjos a cada momento da história. 2 No dizer de Sartre, cujo texto foi publicado em 1960: “[...] o movimento dialético não é uma pujante força unitária que se revela como vontade divina por detrás da História, mas sim, antes de tudo, uma resultante; não é a dialética que impõe aos homens históricos vivam sua história através de terríveis contradições, mas são os homens, tais como são, sob influência da escassez e de necessidade, que se enfrentam em circunstâncias que a História ou a economia podem enumerar. Antes de ser um motor, a contradição é um resultado [...] (SARTRE, 2002, p. 157). 16 Unidade: Categorias Geográficas: diversas visões na Geografia Assim, como exemplo, existem normas e leis espaciais. Mas elas são cumpridas por todos? Todos têm direitos à moradia digna pela Constituição e pelos Direitos Humanos. Mas todos, de fato, têm moradia? Então há contradições entre o que diz a norma, a lei, e a realidade existente nas diversas classes sociais. É importante, ao analisar o espaço geográfico, considerar as dimensões naturais, sociais, políticas, econômicas e culturais. Elas se relacionam e conferem características singulares aos lugares, dada a diversidade existente nessas dimensões. Assim, nem sempre é possível definir o quanto um evento geográfico é mais político do que econômico, já que, ao utilizarmo-nos de um recurso analítico, podemos fragmentar a realidade, que, em princípio, é uma totalidade (SANTOS, 2008). O espaço é uma totalidade. Exemplificando, quando há uma disputa territorial entre palestinos e israelenses, os motivos são religiosos, políticos ou econômicos? São multifatores que estão imbricados no território nesse caso. Para uma análise geográfica das disputas territoriais entre palestinos e israelenses, é essencial considerar os diversos fatores e como isso se deu ao longo da história, ou seja, novamente devemos lembrar que estudar Geografia depende de entendê-la como processo e não só nos dias atuais. Logo, o fundamental, ao realizar um estudo geográfico ou mesmo para lecionar Geografia, é encontrar o contexto em que ocorrem os eventos e suas mediações (SARTRE, 2002), considerando as dimensões e os elementos analisados no espaço geográfico. É necessário entender o contexto histórico, social e político dos lugares, assim como observar as mediações sociais, econômicas, naturais e políticas do território. Trocando Ideias Um território pode ter petróleo, mas será que a população moradora desse lugar onde existe petróleo vive, necessariamente, com alta renda? Eles se beneficiam da riqueza existente? Ou a apropriação do território é desigual? Os atores sociais que exploram o petróleo são do local ou são empresas que chegaram de fora? Então, a natureza produziu o petróleo numa escala de tempo geológico, natural, em milhares de anos, e os agentes sociais estão explorando-o numa escala humana, histórica, social e política. Esse exemplo mostra-nos como o espaço geográfico é dinâmico, complexo e possui diferentes usos sociais. Assim, não é a natureza que define a riqueza e a pobreza dos lugares, mas as existências humanas, sociais, políticas e econômicas em suas formas de existência e de apropriação do território. Finalizando, é importante perceber que existem diferentes categorias geográficas e seus conceitos variam conforme os autores e suas matrizes teórico-metodológicas e redes de afinidades. Sejam quais forem os conceitos usados, é fundamental operacionalizá-los, torná-los mais concretos, seja em estudos geográficos no nível superior, seja em estudos no nível escolar. 17 Material Complementar Como material complementar, leia os textos: ROCHA, Samir Alexandre. Geografia Humanista: história, conceitos e o uso da paisagem percebida como perspectiva de estudo. R. RA´E GA, Curitiba, Ed. UFPR, n. 13, 2007, p. 19 SANTOS, Milton. O papel ativo da Geografia: um manifesto. Revista Território, Rio de Janeiro, ano V, n.9, jul-dez, 2000, p. 103-109. Disponível em: http://www.revistaterritorio.com.br/pdf/09_7_santos.pdf. Acesso em 10/04/2014. 18 Unidade: Categorias Geográficas: diversas visões na Geografia Referências BONNEMAISON, Joel. Viagem em torno do território. In: CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDAHL, Zeny (orgs.). Geografia Cultural: um século. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2002, p. 83-131. CORRÊA, Roberto Lobato. Espaço: um conceito-chave da Geografia. In: CASTRO, Iná Elias de et alli (orgs.). Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2006, p. 15-47. DOIN, Rosangela (org.) Cartografia escolar. São Paulo: Contexto, 2014. GOMES, Paulo Cesar da Costa. Geografia e modernidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. LEFEBVRE, H. Lógica formal/lógica dialética. 5 ed. Rio de Janeiro; Ed. Civilização brasileira, 1994. MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Hucitec, 1995. ______ (org.). Ratzel. São Paulo: Ática, 1990. ______; COSTA, Wanderley Messias da. A Geografia e o processo de valorização do espaço. In: SANTOS, Milton (org.). Novos rumos da Geografia brasileira. São Paulo: Hucitec, 1988. MOREIRA, Ruy. O pensamento geográfico brasileiro: as matrizes clássicas originárias. v. 1. São Paulo: Contexto, 2008. ______. O pensamento geográfico brasileiro: as matrizes da renovação. v. 2. São Paulo: Contexto, 2009. ______. O que é Geografia? São Paulo: Brasiliense, 1995. ROCHA, Genylton Odilon Rêgo da Rocha. A política do conhecimento oficial e a nova Geografia dos (as) professores (as) para escolas brasileiras: o ensino de Geografia segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais. Tese (Doutorado em Geografia Física) - FFLCH, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. SANTOS, Milton. A natureza do espaço: Técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2006. ______. Espaço e método. São Paulo: Edusp, 2008. ______. O espaço do cidadão. São Paulo: Edusp, 2002. ______. O retorno do território. In: SANTOS, Milton; SOUZA, Maria Adélia; SILVEIRA, Maria Laura. Território: globalização e fragmentação. São Paulo: Hucitec, p.15-20, 1996. ______. Por uma Geografia nova: da crítica da Geografia à Geografia Crítica. São Paulo: Edusp, 2004. SARTRE, Jean-Paul. Crítica da razão dialética. (Precedido por Questão do método). Trad. Guilherme João de Freitas Teixeira. Rio de Janeiro: DP&A editora, 2002. TUAN, Yu-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes, e valores do meio ambiente. São Paulo: Difel, 1980. 19 Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000 http://www.cruzeirodosulvirtual.com.br
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