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Montes Claros/MG - 2012
Marcos Nicolau Santos da Silva
Walfrido Martins Neto
Geografia Cultural
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)
Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 - Telefone: (38) 3229-8214
www.unimontes.br / editora@unimontes.br 
CATALOGADO PELA DIRETORIA DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES (DDI) - UNIMONTES
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
© - EDITORA UNIMONTES - 2012
Universidade Estadual de Montes Claros
REITOR
João dos Reis Canela
VICE-REITORA
Maria Ivete Soares de Almeida
DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES
Huagner Cardoso da Silva 
EDITORA UNIMONTES
Conselho Editorial
Prof. Silvio Guimarães – Medicina. Unimontes.
Prof. Hercílio Mertelli – Odontologia. Unimontes.
Prof. Humberto Guido – Filosofia. UFU.
Profª Maria Geralda Almeida. UFG
Prof. Luis Jobim – UERJ.
Prof. Manuel Sarmento – Minho – Portugal.
Prof. Fernando Verdú Pascoal. Valencia – Espanha.
Prof. Antônio Alvimar Souza - Unimontes
Prof. Fernando Lolas Stepke. – Univ. Chile.
Prof. José Geraldo de Freitas Drumond – Unimontes.
Profª Rita de Cássia Silva Dionísio. Letras – Unimontes.
Profª Maisa Tavares de Souza Leite. Enfermagem – Unimontes.
Profª Siomara A. Silva – Educação Física. UFOP.
REVISÃO LINGUÍSTICA
Ângela Heloiza Buxton
Arlete Ribeiro Nepomuceno
Aurinete Barbosa Tiago
Carla Roselma Athayde Moraes
Este livro ou parte dele não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização escrita do Editor.
Luci Kikuchi Veloso
Maria Cristina Ruas de Abreu Maia
Maria Lêda Clementino Marques
Ubiratan da Silva Meireles
REVISÃO TÉCNICA
Admilson Eustáquio Prates
Cláudia de Jesus Maia
Josiane Santos Brant
Karen Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida
Káthia Silva Gomes
Marcos Henrique de Oliveira
DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE 
PRODUÇÃO DE CONTEÚDO
Andréia Santos Dias
Camilla Maria Silva Rodrigues
Clésio Robert Almeida Caldeira
Fernando Guilherme Veloso Queiroz
Francielly Sousa e Silva
Hugo Daniel Duarte Silva
Marcos Aurélio de Almeida e Maia
Patrícia Fernanda Heliodoro dos Santos
Sanzio Mendonça Henriques
Tatiane Fernandes Pinheiro
Tátylla Ap. Pimenta Faria
Vinícius Antônio Alencar Batista
Wendell Brito Mineiro
Zilmar Santos Cardoso
S586g Silva, Marcos Nicolau Santos da.
Geografia cultural / Marcos Nicolau Santos da Silva, Walfrido Martins 
Neto. – Montes Claros : Unimontes, 2012.
58 p. : il. color. ; 21 x 30 cm.
Caderno didático do Curso de Geografia da Universidade Aberta do 
Brasil - UAB/Unimontes.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7739-198-1
1. Ensino superior. 2. Geografia humana. 3. Cultura. I. Martins Neto, 
Walfrido. II. Universidade Aberta do Brasil - UAB. III. Universidade Estadual 
de Montes Claros - Unimontes. IV. Título.
 CDD 378.007
Chefe do Departamento de Ciências Biológicas
Guilherme Victor Nippes Pereira
Chefe do Departamento de Ciências Sociais
Maria da Luz Alves Ferreira
Chefe do Departamento de Geociências
Guilherme Augusto Guimarães Oliveira
Chefe do Departamento de História
Donizette Lima do Nascimento
Chefe do Departamento de Comunicação e Letras
Ana Cristina Santos Peixoto
Chefe do Departamento de Educação
Andréa Lafetá de Melo Franco
Coordenadora do Curso a Distância de Artes Visuais
Maria Elvira Curty Romero Christoff
Coordenador do Curso a Distância de Ciências Biológicas
Afrânio Farias de Melo Junior
Coordenadora do Curso a Distância de Ciências Sociais
Cláudia Regina Santos de Almeida
Coordenadora do Curso a Distância de Geografia
Janete Aparecida Gomes Zuba
Coordenadora do Curso a Distância de História
Jonice dos Reis Procópio
Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Espanhol
Orlanda Miranda Santos
Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Inglês
Hejaine de Oliveira Fonseca
Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Português
Ana Cristina Santos Peixoto
Coordenadora do Curso a Distância de Pedagogia
Maria Narduce da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Presidente Geral da CAPES
Jorge Almeida Guimarães
Diretor de Educação a Distância da CAPES
João Carlos Teatini de Souza Clímaco
Governador do Estado de Minas Gerais
Antônio Augusto Junho Anastasia
Vice-Governador do Estado de Minas Gerais
Alberto Pinto Coelho Júnior
Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
Nárcio Rodrigues
Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
João dos Reis Canela
Vice-Reitora da Unimontes
Maria Ivete Soares de Almeida
Pró-Reitora de Ensino
Anete Marília Pereira
Diretor do Centro de Educação a Distância
Jânio Marques Dias
Coordenadora da UAB/Unimontes
Maria Ângela Lopes Dumont Macedo
Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Betânia Maria Araújo Passos
Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH
Antônio Wagner Veloso Rocha
Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS
Maria das Mercês Borem Correa Machado
Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA
Paulo Cesar Mendes Barbosa
Chefe do Departamento de Artes
Maristela Cardoso Freitas
Autores
Marcos Nicolau Santos Silva
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes –, especialista 
em Docência do Ensino Superior e Gestão em Meio Ambiente e Saúde Pública pelo Instituto 
Superior de Educação Ibituruna – ISEIB – e mestre em Geografia pela Universidade Federal de 
Minas Gerais – UFMG. Membro do Grupo de Pesquisa Terra e Sociedade – Núcleo de Estudos em 
Geografia Agrária, Agricultura Familiar e Cultura Camponesa, IGC/UFMG. Professor conteudista do 
curso de Licenciatura em Geografia – UAB/Unimontes – e professor orientador do Programa de 
Formação Continuada em Mídias na Educação – Unimontes.
Walfrido Martins Neto
Graduado em Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claros/MG – Unimontes –, 
especialista em Geografia e Gestão Ambiental e mestre em Turismo e Meio Ambiente pelo Centro 
Universitário UNA/BH/MG. Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Geografia e 
Turismo. Professor do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Montes Claros.
Sumário
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
Introdução à geografia cultural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.1 Introdução - Geografia e cultura: a inter-relação dos dois termos. . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.2 A trajetória cultural (histórico) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12
1.3 A Geografia Cultural no Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14
1.4 O conceito de cultura popular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
A composição dos espaços: as práticas da geografia cultural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19
2.1 A compreensão das categorias geográficas na Geografia Cultural. . . . . . . . . . . . . . . . .19
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
A geografia cultural e as etnogeografias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
3.2 A etnogeografia:o método da Geografia Cultural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
3.3 Geografia Cultural e trabalho de campo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53
Referências básicas, complementares e suplementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55
Atividades de Aprendizagem - AA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57
9
Geografia - Geografia Cultural
Apresentação
Caro(a) acadêmico(a):
Compreender as diferentes culturas que permeiam os territórios e, consequentemente, os 
costumes que os caracterizam é de suma importância para um entendimento mais apurado so-
bre a ciência geográfica e seu inter-relacionamento com aspectos culturais dos povos em geral. 
Nessa medida, esse material didático da disciplina Geografia Cultural para o 7º período do 
curso de graduação em Geografia vem favorecer o enriquecimento e contribuir no processo de 
construção de conhecimento e obtenção de uma maior criticidade no conteúdo explorado, que 
é a essência e exigência da grade curricular do curso de Geografia.
A disciplina Geografia Cultural possui uma carga horária de 75 horas/aulas e está pautada 
nos seguintes objetivos:
•	 Analisar a trajetória da Geografia Cultural e a influência das escolas alemã, francesa e norte-
-americana no desenvolvimento de seus estudos teórico e epistemológico;
•	 Identificar a relação entre Geografia e cultura e entre cultura de massa e cultura popular;
•	 Entender o estudo das categorias geográficas à luz da abordagem cultural;
•	 Conhecer e praticar o método da Geografia Cultural: a etnogeografia;
•	 Compreender as diversas práticas de campo em Geografia Cultural.
O conteúdo deste caderno didático está organizado em três unidades para que você possa 
entender a trajetória da Geografia Cultural, as categorias geográficas e a abordagem cultural, o 
método e algumas dicas de trabalho de campo dessa disciplina.
Na primeira unidade, começamos traçando uma relação entre Geografia e cultura, na qual 
procuramos mostrar a raiz etimológica do termo “cultura” e o interesse dos geógrafos pelos es-
tudos culturais. Destacamos a trajetória histórica da Geografia Cultural, seus principais precur-
sores e as características de cada escola na tradição dos estudos culturais em Geografia: escola 
alemã, escola francesa e escola norte-americana. Em seguida, fizemos um rápido retrospecto da 
trajetória da Geografia Cultural brasileira e discutimos o conceito de cultura popular, que é um 
termo muito importante para compreendermos a Geografia Cultural, visto que boa parte dos es-
tudos culturais no mundo hoje, o foco principal têm sido os estudos, pesquisas e a busca do en-
tendimento do que é a cultura popular.
Na segunda unidade, procuramos apresentar a você, acadêmico (a), de forma breve, que a 
dimensão cultural está presente em todas as principais categorias de análise da Geografia: espa-
ço, paisagem, lugar, região e território. Com isso, podemos interpretar as manifestações da cul-
tura no espaço a partir do olhar ou da abordagem teórico-metodológica de qualquer uma das 
categorias geográficas.
Na terceira unidade, fazemos uma revisão teórico-metodológica da Geografia Cultural, 
buscando mostrar a influência das correntes paradigmáticas no seu desenvolvimento como um 
ramo da Geografia. Mostramos também a relação interdisciplinar da Geografia Cultural com ou-
tras áreas do conhecimento, principalmente a Antropologia. Sobretudo, a partir da etnografia, 
temos a principal contribuição para definirmos o método mais importante da Geografia Cultu-
ral – a etnogeografia. Por fim, discutimos e sugerimos outros métodos e práticas de trabalho de 
campo que podem ser aplicadas nos estudos culturais em Geografia. 
Neste material, você também vai encontrar dicas e sugestões para ampliar a leitura. Apro-
veite nossas dicas e nossas referências utilizadas para enriquecer mais a aprendizagem da disci-
plina. Bons estudos!
Os autores.
11
Geografia - Geografia Cultural
UNIDADE 1
Introdução à geografia cultural
Prezado (a) acadêmico (a), começamos nosso estudo com a distinção entre o termo “cul-
tura” e a ciência geográfica. Como eles se entrelaçam e se autocompletam, em uma rede de 
conhecimentos essenciais para o entendimento do espaço (geográfico) e a inserção da ação 
humana, criam, assim, o território, onde ocorrem os vários acontecimentos culturais e suas in-
terfaces, tão importantes para o desenvolvimento humano das sociedades. 
1.1 Introdução - Geografia e 
cultura: a inter-relação dos dois 
termos
Para entendermos o conceito de “Geografia Cultural”, é necessário, primeiramente, saber 
e entender a concepção de cultura, que tem uma significância muito marcante na construção 
do território pela ação antrópica, e que é, segundo Claval (2001, p. 63):
[...] a soma dos comportamentos, dos saberes, das técnicas, dos conheci-
mentos e dos valores acumulados pelos indivíduos, durante suas vidas e, em 
outra escala, pelo conjunto dos grupos que fazem parte. A cultura é herança 
transmitida de uma geração a outra. Ela tem suas raízes num passado lon-
gínquo, que mergulha no território onde seus mortos são enterrados e onde 
seus deuses se manifestam.
Ainda de acordo com Laraia (2008), podemos definir o termo cultura a partir da sua ori-
gem etimológica – a qual remonta ao final do século XVIII e início do século XIX o termo ger-
mânico Kultur –, utilizado para simbolizar os aspectos espirituais de uma comunidade. Já a pa-
lavra francesa civilization referia-se principalmente às realizações materiais de um povo – suas 
realizações / construções (arquitetônicas, na paisagem, etc.) ao longo dos tempos. 
Ambos os termos citados anteriormente foram resumidos por Tylor no vocábulo inglês 
Culture que “[...] tomado em seu sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conheci-
mentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiri-
dos pelo homem como membro de uma sociedade” (TYLOR, apud LARAIA, 2008, p. 37).
Compreendemos, então, que, na cultura e nas ações antrópicas / humanas praticadas no 
espaço, por ser certo tipo de “herança”, o território é moldado a partir do legado cultural que 
as sociedades possuem. Ou seja, para haver a interação entre Cultura e Geografia, a mutação 
delas, bem como a dinamicidade, deve ocorrer a todo momento, como afirma Claval:
A cultura que interessa aos geógrafos é, pois, primeiramente constituída pelo 
conjunto de artefatos, do know-how e dos conhecimentos, através dos quais 
os homens mediatizam suas relações com o meio natural [...]. As culturas são 
realidades mutáveis (CLAVAL, 2001, p 12).
Dessa forma, a Geografia Cultural lança mão, por exemplo, do conceito de território (que 
será discutido mais adiante), cultura e espaço antrópico/geográfico para formalizar a conceitu-
ação dos seus termos, o que é muito importante para o seu entendimento.
PARA SABER MAIS
Para um aprofunda-
mento em relação ao 
termo trabalhado por 
Laraia, sugerimos a lei-
tura do livro: “Cultura: 
um conceito antropo-
lógico”, no qual o autor 
afirma que todos os 
aspectos da vida huma-
na, moderna ou não, 
são construções cultu-
rais, de forte influência 
no seu cotidiano.
LER: LARAIA, Roque 
de Barros. Cultura: 
um conceito antropo-
lógico. 22 ed. Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar 
Editor, 2008.
Artigo relacionado ao 
tema: Disponível em: 
<www.ubiius.kit.net>. 
Acesso em: 15 out. de 
2011.
12
UAB/Unimontes - 7º Período
BOX 1
Atente-se para a conceituação que Claval defende sobre a “construção humana no terri-
tório” e a significância que isso pode ocasionar.Uma outra autora que explicita isso de forma 
magistral, com pinceladas na arquitetura, é Choay (2006) em “A Alegoria do Patrimônio”. Nes-
te livro, ela se refere às construções humanas, saberes e conhecimentos das sociedades como 
“Patrimônios”/ “Monumentos”, importantes para o desenvolvimento humano e físico das na-
ções. Segundo ela, a origem da expressão patrimônio cultural deriva dos termos monumento 
e monumento histórico. O sentido original do termo é o do latim monumentum, que deriva 
da palavra monere, que significa trazer à lembrança, estando carregada de uma função me-
morial, cuja essência residiria na natureza afetiva que envolveria determinada construção. O 
monumento está fortemente relacionado com o passado vivido e a memória, contribuindo, 
dessa forma, para a preservação da identidade de uma comunidade étnica, religiosa, tribal, 
nacional (CHOAY, 2006, p. 18).
Fonte: CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. 3. ed. São Paulo: Estação Liberdade: UNESP, 2006.
1.2 A trajetória cultural (histórico)
No sentido lato sensu, a Geografia nasceu para descrever a Terra e assinalar sua diversidade. 
Nesse sentido, a cultura vem com uma proposta de dinamizar o espaço, que é o objeto de estu-
do da Geografia, através da inserção de aspectos antrópicos.
A Geografia Cultural, com seu sentido humanitário aflorado, busca, através dos legados cul-
turais das sociedades, o entrelaçamento entre os aspectos físicos e humanos da ciência geográ-
Figura 1: Patrimônio 
Mundial da 
Humanidade (Paisagem 
Cultural) – ‘Herança 
Cultural’ (considerada 
pela UNESCO uma das 
Sete Maravilhas do 
Mundo).
Fonte: Disponível em: 
<http://www.homeaway.
pt>. Acesso em: 29 jul. de 
2011.
▼
13
Geografia - Geografia Cultural
fica. É válido, então, conhecer um pouco sobre a história desse ramo da Geografia e a evolução 
das civilizações desde a antiguidade até os tempos atuais.
No fim do século XVIII, com o surgimento de novas indagações sobre a existência e o apara-
to de maquinário até então disponível, as sociedades humanas, em especial, um nicho específi-
co, com uma detenção de aptidões intelectuais mais desenvolvidas, começaram até então ques-
tionamentos que tinham objetivos concretos, como, por exemplo: Em que medida o destino dos 
povos está ligado ao país onde estão instalados? Há influência deste (território/país) sobre os ho-
mens? Ou ainda: Há harmonia sutil entre a ordem natural e a ordem social?
Sob o efeito da Revolução Darwiniana, começa-se a conceder uma atenção particular às re-
lações entre os grupos humanos e o meio.
É válida uma análise minuciosa não só de autores, como também das escolas fundadas por 
eles, os quais são considerados como o marco inicial da cientificidade da Geografia Cultural. 
QUADRO 1
As ‘Escolas’ da Geografia Cultural*
Escolas Precursor (es) Principais Características
Escola Alemã Ratzel/ Schutler * Ratzel forja o termo antropogeografia;
* Schutler aprofunda seus estudos sobre a ‘paisa-
gem cultural’.
Escola Francesa La Blache La Blache se debruça na ‘Geografia Humana’ afir-
mando: ‘A Geografia é a ciência dos lugares, não dos 
homens’.
Escola Norte-americana Sauer Inicia seus estudos em Geografia Cultural na escola 
de Berkeley (1920-1930) afirmando que a cultura é 
uma entidade acima do homem.
Fonte: Elaboração de Walfrido Martins Neto.
A seguir, os termos das escolas da Geografia Cultural serão mais bem detalhados:
A Escola Alemã
•	 Segundo Ratzel, a ‘antropogeografia’ é definida a partir de três princípios básicos, a saber:
1º Descrição das áreas onde vivem os homens e, por conseguinte, mapeia-os;
2º Estabelecimento das causas geográficas da ‘repartição’ dos homens na superfície terrestre;
3º Definição da influência da natureza sobre os corpos e espíritos dos homens.
•	 Para Ratzel, a cultura é o fator-chave da Geografia Humana e reflete as relações que os ho-
mens tecem com o seu ambiente; e os problemas que nascem de sua mobilidade depen-
dem das técnicas que dominam.
•	 Um dos discípulos de Ratzel foi Schutler, que se aprofundou nos estudos sobre a paisagem, 
considerando-a como um resultado das ações do meio natural e também de ações realiza-
das por ações antrópicas (homens).
A Escola Francesa
Com Vidal de La Blache, há o aprofundamento dos estudos sobre as influências do meio nas 
sociedades humanas, bem como diferenciação entre os seres humanos e os outros animais, des-
tacando-o pelo seu intelecto em saber criar estruturas capazes de constituir sua adaptabilidade 
no meio em que se está inserido.
Os instrumentos disponíveis e utilizados pelos homens variam: são mais complexos e efica-
zes em alguns lugares; e mais rudimentares e menos adaptados em outros.
ATIVIDADE
Diante do explicitado 
e de acordo com os 
preceitos da Geografia 
Cultural e as diversas 
conceituações que 
levaram vários autores 
a definirem cultura, 
discorra, brevemente, 
sobre a definição de 
cultura para a Geo-
grafia. Essa atividade 
objetiva e proporcio-
nar-lhes uma maior 
assimilação do termo 
“cultura”.
GLOSSÁRIO
Revolução Darwinia-
na: tem-se, a partir do 
entendimento desse 
termo, a ideia de que 
as espécies humanas 
modificam-se ao longo 
dos tempos. Analisam-
-se, assim, as perspec-
tivas evolutivas para 
o entendimento do 
comportamento social 
humano.
Para uma análise 
profunda, sugerimos a 
leitura do artigo sobre 
a “Sociologia Evolu-
cionista”, da Revista 
Brasileira de Ciências 
Sociais. Disponível em: 
<www.scielo.br>.
14
UAB/Unimontes - 7º Período
BOX 2
A adaptabilidade do ser humano e/ou do grupo social no meio em que está inserido de-
pende, segundo La Blache (1845-1918):
das técnicas produtivas e da possibilidade de inventar novas técnicas;
das técnicas de transporte e da possibilidade de desenvolver trocas com grupos vivendo 
em outros meio ambientes;
dos hábitos do grupo.
Fonte: CLAVAL, Paul. A contribuição francesa ao desenvolvimento da abordagem cultural na geografia. In: CORRÊA, 
Roberto Lobato, ROSENDAHL, Zeny (org.). Introdução à Geografia Cultural. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
A Escola Norte-Americana
•	 Sauer foi a figura hegemônica na geografia cultural americana;
•	 Foi precursor de temas como a ecologia/história ambiental (onde o ambiente possui fortes 
influências sobre as ações antrópicas); – o que foi um grande auxílio nas pesquisas sobre a 
Geografia Histórica;
•	 Houve a difusão de artefatos, ideias dos homens e a sua percepção cultural da paisagem.
1.3 A Geografia Cultural no Brasil
O pluralismo cultural do território e dos 
povos que habitam terras brasileiras ocorre 
devido há um excelente campo de pesqui-
sa para os estudos da Geografia Cultural 
que teve seu ápice na década de 1990, com 
a consolidação do NEPEC (Núcleo de Estu-
dos sobre Espaço e Cultura), criado em 1993 
pelo Departamento de Geografia da UERJ 
(Universidade Estadual do Rio de Janeiro), 
e o posterior lançamento do seu periódico 
tão alardeado e cultuado cientificamente 
no país – Espaço e Cultura – confeccionado 
em 1995. 
Desde os primórdios do surgimento 
e reconhecimento do curso de Geografia 
como ciência de fato, no Brasil, em meados 
da década de 1930 (mais especificamente 
em 1934), na USP, houve a necessidade de 
aprimorar e aprofundar nos estudos sobre 
a cultura do país – pela sua heterogeneida-
de e complexidade combinação de elemen-
tos que forneciam a identidade regional (de 
acordo com a escola francesa da geografia).
O reconhecimento, a implantação e a 
concretização da Geografia Cultural como 
um ramo importantíssimo de estudos da 
ciência geográfica surgiram com o avan-
ço dos estudos na área da Geografia, bem 
como com a organização de congressos e 
encontros, que aumentava a cientificida-
de e explicitava o dinamismo de culturas 
diversas(pois esses encontros reuniam apro-
ximadamente 3.000 pessoas de todos os 
lugares). A “implantação científica” da Ge-
ografia Cultural no Brasil veio se fortalecer 
com as contribuições teóricas de geógra-
fos europeus e norte-americanos, entre os 
quais podemoscitar Sauer e seus discípu-
los Claval e Cosgrove.
PARA SABER MAIS
Para um maior aprofun-
damento das idéias e 
dos dizeres sobre a Es-
cola Norte-Americana e 
seus pensadores, prin-
cipalmente de Sauer, 
leia um item específico 
do livro Introdução à 
Geografia Cultural de 
Roberto Lobato Corrêa 
e Zeny Rosendahl – 
Introdução à Geografia 
Cultural; e também um 
artigo disponibilizado 
na internet: A Geogra-
fia Histórico-Cultural 
da Escola de Berkeley 
– um precursor ao 
surgimento da História 
Ambiental.
Fonte: DUNCAN, James 
S. O supra-orgânico 
na geografia cultural 
americana. In: CORRÊA, 
Roberto Lobato, RO-
SENDAHL, Zeny (org.). 
Introdução à Geografia 
Cultural. Rio de Janeiro: 
Bertrand Brasil, 2003. 
A Geografia Histórico-
-Cultural da Escola de 
Berkeley – um precur-
sor ao surgimento da 
História Ambiental. 
Disponível em <http://
www.scielo.br>. Acesso 
em: 30 ago. 2011.
ATIVIDADE
O ideário das três 
principais escolas que 
compõem a Geografia 
Cultural está disposto e 
explicado anteriormen-
te. Agora, com a ajuda 
do seu tutor e com 
as leituras realizadas 
no item 1.2, discorra, 
brevemente, sobre as 
principais característi-
cas dessas escolas.
Em seguida, converse 
com seu tutor sobre a 
postagem da atividade 
proposta na plataforma 
do curso.
Figura 2: Capa da 1ª 
edição do periódico 
científico ‘Espaço e 
Cultura’, produzido 
pela NEPEC em 1995.
Fonte: Disponível em: 
<http://www.nepec.com.
br>. Acesso em: 28 ago. 
2011.
►
15
Geografia - Geografia Cultural
1.4 O conceito de cultura popular
O conceito de cultura e, consequentemente, o de “cultura popular” se autocompletam e 
são manifestações do cotidiano das sociedades envolvidas. 
Para compreender a conceituação cultural que é intrínseca às sociedades ou aos grupos de 
pessoas, é primordial saber que a cultura, especificamente a popular, surgiu a partir do momen-
to em que surge também a compreensão do que é o “meio ambiente cultural”, o qual compreen-
de, além dos recursos ambientais como o solo, a água, a flora, as diversas criações humanas, que 
se traduzem em variadas obras, das mais diversas naturezas, como os imóveis históricos, as obras 
de arte, os saberes, as línguas, enfim, tudo o que possa vir a contribuir para o bem-estar humano. 
Esses bens são construídos pelo homem para seu próprio usufruto e para manter a preservação 
da sua identidade.
BOX 3
Para uma visão mais ampla e específica sobre o conceito de cultura e cultura popular, 
atentar-se para os dizeres de Sauer, para quem a cultura é o resultado da capacidade de os 
seres humanos se comunicarem entre si por meio de símbolos. Quando as pessoas parecem 
pensar e agir similarmente, elas o fazem porque vivem, trabalham e conversam juntas, apren-
dem com os mesmos companheiros e mestres, tagarelam sobre os mesmos acontecimentos, 
questões e personalidades, observam ao seu redor, atribuem o mesmo significado aos obje-
tos feitos pelo homem, participam dos mesmos rituais e recordam o mesmo passado (SAUER, 
2003, p. 28).
Fonte: SAUER, Carl O. Geografia Cultural. In: CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDAHL, Zeny (org.). Introdução à Geografia 
Cultural. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
Nessa perspectiva, cultura pode ser compreendida como um padrão de significados transmiti-
dos historicamente, traduzindo-se na forma identitária das sociedades, e como estas se organizam 
ao longo do tempo através das diversas manifestações culturais promovidas no seu espaço de vi-
vência. A sua preservação depende da valorização das pessoas envolvidas em manter e conservar 
as tradições; afinal, a preservação revela a memória, a identidade e o valor de uma sociedade.
Ainda em relação à cultura, mesmo que interaja fortemente com o termo/conceito de “cultura 
popular”, pode-se notar uma diferenciação, principalmente social entre as duas. A cultura popu-
lar, negligenciada pela Geografia brasileira durante muito tempo, mas, mesmo assim, constituindo 
uma importante temática para a inteligibilidade do território em que ela está “atingindo”, opõe-se 
visivelmente à cultura mais generalizada, massificada e, em resumo, à cultura hegemônica.
Enquanto a cultura, por assim dizer “Popular”, tem um “nicho”, um grupo social bem espe-
cífico que a envolve, que valoriza coisas correntes, do dia-a-dia, transpondo manifestações fol-
clóricas que evocam ao tradicionalismo, que, muitas vezes, não são valorizadas pela “Cultura de 
Massa”, a qual preza mais pelo imediatismo das manifestações culturais e pelo consumismo capi-
talista desenfreado, de todos os tipos, que acabam por se tornarem limítrofes, fugazes e fadados 
ao esquecimento.
PARA SABER MAIS
Leia o artigo sobre a 
Geografia Cultural no 
Brasil, de Roberto Lo-
bato de Corrêa e Zeny 
Rosendahl. Ambos são 
professores da Univer-
sidade Estadual do Rio 
de Janeiro, considera-
da um dos “templos 
sagrados” da Geografia 
Cultural. Vale assinalar 
que esse artigo fornece 
detalhes importantes 
desde a gênese dessa 
ciência, passando pela 
sua negligência no 
território nacional, até 
a culminância sobre 
a importância de se 
estudar a fundo essa 
ciência.
Fonte: CORRÊA, 
Roberto Lobato de; 
ROSENDAHL, Zeny. A 
Geografia Cultural no 
Brasil (artigo). Disponí-
vel em: <http://www.
anpege.org.br>. Acesso 
em: 2 set. 2011.
Reinaldo Dias, no seu li-
vro intitulado “Turismo 
e Patrimônio Cultural”, 
pesquisa a fundo esse 
tema, os impactos que 
este provoca nas socie-
dades, como é tratada 
a questão da preser-
vação, principalmente 
dos patrimônios cultu-
rais (que é um conceito 
bem trabalhado por 
ele), inserindo também 
a atividade turística.
VER: DIAS, Reinaldo. 
Turismo e patrimônio 
cultural – recursos que 
acompanham o cresci-
mento das cidades. São 
Paulo: Saraiva, 2006.
Acesse também um ar-
tigo relacionado a esse 
tema. Disponível em: 
<www.uepb.edu.br>.
◄ Figura 3: Círio de Nossa 
Senhora de Nazaré - 
grande festa religiosa 
iniciada em 1793, em 
Belém do Pará, que 
reúne milhares de 
romeiros e devotos de 
todas as regiões do 
Brasil.
Fonte: Disponível em: 
<http://www.4.bp.blogs-
pot.com>. Acesso em: 30 
ago. 2011.
16
UAB/Unimontes - 7º Período
A cultura de massa está voltada para aspirações mercadológicas do capitalismo e para a mídia 
em geral, em que o popular e o tradicionalismo não interessam a esse tipo cultural, como assevera 
Canclini, em uma de suas obras mais densas (Culturas Híbridas), o qual explora, de forma magistral, 
o assunto aqui abordado – Cultura. Para ele, a cultura de massa é o que não permanece, não se 
acumula como experiência nem se enriquece com o adquirido (CANCLINI, 2008, p. 261).
Um exemplo típico desses dois tipos de manifestações culturais é o Círio de Nazaré, ca-
racterizado como uma “cultura popular”, que evoca o tradicionalismo e, nesse caso, a religião 
também é bastante latente. Um outro tipo de cultura, bastante disseminado por todo o mun-
do, e que se caracteriza como um tipo de “Cultura de Massa” são os Tours realizados na Dis-
neylândia, em que o consumismo e a política neoliberal do capitalismo norte-americano são 
escancaradamente explícitos.
Referências
CANCLINI, Néstor García. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da Modernidade. São 
Paulo: Edusp, 2008.
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. 3. ed. São Paulo: Estação Liberdade: UNESP, 2006.
GLOSSÁRIO
Círio de Nazaré: O Círio 
de Nazaré é uma grande 
festa religiosa iniciada 
em 1793, em Belém do 
Pará, que reúne milhares 
de romeiros e devotos 
de todas as regiões do 
Brasil. Essa manifestação 
religiosa/folclórica, du-
rante cinco dias, reúne 
uma grande quantidade 
de pessoas em busca de 
rearfimação da fé e da 
concretização da crença 
religiosa, através de 
vias-sacras, batizados, 
casamentos, crismas, 
bênçãos para enfermos 
e pagamentos de pro-
messas.
Disneylândia: Comple-
xo de lazer e entreteni-
mento capitaneado pela 
política capitalista neoli-
beral (norte-americana) 
capaz de reunir imensa 
massa da sociedade, 
que, dessa forma, só 
aumentao “filão” das 
propostas da cultura 
de massa e reafirma os 
valores mercadológicos 
e instantâneos dessa 
cultura.
ATIVIDADE
Para uma percepção 
mais clara do termo cul-
tura, é necessário saber 
discernir os termos “Cul-
tura Popular” e “Cultura 
de Massa”, em que esta, 
por assim dizer, torna-se, 
segundo os próprios 
dizeres já mencionados, 
limítrofe, fugaz e fadada 
ao esquecimento, ou 
seja, não há acumula-
ção de conhecimento 
cultural ao longo dos 
tempos. Discuta e 
discorra essa afirmação 
de acordo com o que 
foi explicitado e, em 
seguida, peça auxílio ao 
seu tutor sobre o envio 
das atividades.
Figura 4: Disneylândia 
– grande complexo 
de lazer propulsor de 
cultura de massa e do 
capitalismo norte-
americano.
Fonte: Disponível em: 
<http://www.3.bp.blogs-
pot.com>. Acesso em: 30 
ago. 2011.
►
17
Geografia - Geografia Cultural
CLAVAL, Paul. A geografia cultural. 2. ed. Florianópolis: Ed. UFSC, 2001.
CORRÊA, Roberto Lobato; ROSENDAHL, Zeny (org.). Introdução à Geografia Cultural. Rio de Ja-
neiro: Bertrand Brasil, 2003.
DIAS, Reinaldo. Turismo e patrimônio cultural – recursos que acompanham o crescimento das 
cidades. São Paulo: Saraiva, 2006.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 22. ed. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar Editor, 2008.
19
Geografia - Geografia Cultural
UNIDADE 2
A composição dos espaços: as 
práticas da geografia cultural
Na unidade 1, você viu desde a gênese e o surgimento desse ramo científico, que é a Ge-
ografia Cultural, importantíssimo para a ciência geográfica, até a sua composição com a in-
terdependência de estruturas como a cultura, as ideologias de geógrafos pensadores, entre 
os quais franceses e norte-americanos que fortificaram as bases dessa ciência, a importância 
cultural-científica brasileira e sua dimensão heterogênea na cultura popular em geral. Adiante, 
veremos, claramente, as categorias geográficas – lugar, paisagem, região, espaço geográfico e 
território – e a suas inter-relações com a dimensão cultural da Geografia e todas as influências 
que essas exercem nas sociedades. 
2.1 A compreensão das categorias 
geográficas na Geografia Cultural
2.1.1 O lugar e a Geografia Cultural
Entendemos que o conceito de “lugar” diante dos ensinamentos da ciência geográfica, 
não se limita apenas a um sentido locacional de um determinado sítio, indo além desse con-
ceito e refletindo também sua importância nas questões relativas à percepção das sociedades 
inseridas no local e seus métodos e teorias baseadas na fenomenologia.
Apoiado na visão fenomenológica da ciência geográfica, um grande pensador e teórico 
estudioso voltado à ciência geográfica – Dardel (1990) – defendia que o espaço vivido pelos 
homens está estritamente relacionado com a relação social desses entre si e com o mundo, 
mais especificamente com sua terra natal.
Ainda de acordo com Damiani (1999), a construção do lugar tem forte influência com a 
produção/organização do cotidiano e suas transformações no decorrer dos tempos, por exem-
plo, o processo de Globalização vigente atualmente. Segundo a autora:
[...] o cotidiano, em relação ao econômico e ao político, amplia o universo de 
análise para tantas outras análises entre os indivíduos e grupos, inclusive par-
ticulares, locais. Inclui o vivido, a subjetividade, as emoções, os hábitos e os 
comportamentos (DAMIANI, 1999, p. 163).
Ou ainda: 
A globalização/mundialização do capital produz um mundo desértico, en-
quanto as pessoas afirmam uma ligação muito maior com a proximidade: o 
lugar permanece a única coisa mensurável, em relação ao mercado mundial, 
este enorme espaço não mensurável (DAMIANI, 1999, p. 171).
2.1.2 A paisagem cultural
Por ser uma categoria que se relaciona intrinsecamente com os preceitos da ciência geográ-
fica cultural, a paisagem, na sua confecção, por sofrer fortes influências culturais e, consequente-
GLOSSÁRIO
Fenomenologia: ter-
mo muito utilizado nos 
estudos da filosofia, 
que diz respeito à des-
crição e classificação 
dos fenômenos. Têm 
por base a consciência 
experimental do ser 
humano, suas ações e 
atitudes no meio em 
que se está, entenden-
do a dinamicidade, 
instabilidade e incons-
tância do ser humano 
que é capaz de fazer 
transformações no 
meio, em alguns casos, 
irreversíveis.
PARA SABER MAIS
Para uma definição 
mais precisa e direta 
do termo tratado aqui 
– FENOMENOLOGIA , 
consulte: <http://www.
pt.shvoong.com>. A 
Fenomenologia de 
Husserl (1859-1938).
20
UAB/Unimontes - 7º Período
mente, antrópicas, foi ‘batizada’ na Geografia Cultural de Paisagem Cultural, que pode ser en-
tendida como bens culturais que representam as obras conjugadas do homem e da natureza em 
um só espaço.
As paisagens culturais tendem a ilustrar a evolução das sociedades e dos estabelecimentos 
humanos ao longo dos tempos, sob a influência dos condicionamentos materiais e/ou das vanta-
gens oferecidas pelo seu ambiente natural e das sucessivas forças sociais, econômicas e culturais, 
internas e externas. 
Em decorrência disso, Mikesell & Wagner (2003, p. 36) afirmam:
O estudo da paisagem cultural serve, simultânea e inseparavelmente, a diver-
sos fins diferentes. Independente da sua função de descrição sistemática, pro-
porciona uma base para a classificação regional, possibilita um ‘insight’ sobre o 
papel do homem nas transformações geográficas e esclarece certos aspectos 
da cultura e de comunidades culturais em si mesmas. Busca diferenças na pai-
sagem que possam ser atribuídas a diferenças de conduta humana sob dife-
rentes culturas e procura desvios de condições ‘naturais’ esperadas, causados 
pelo homem.
Nesse contexto, a paisagem é uma categoria de estudo muito ligada à cultura. Atente-se, 
então, para a subdivisão que fez a UNESCO durante a convenção que se realizou em Paris em 
2003 – Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural –, em que coloca a importância 
da preservação das paisagens culturais como bens patrimoniais. Na sequência, vejamos:
1. “Paisagem claramente definida” – que são, intencionalmente, construções/criações reali-
zadas pelo homem, que englobam as paisagens de jardins e parques criadas por razões 
estéticas que estão muitas vezes associadas a construções ou conjuntos religiosos.
2. “Paisagem essencialmente evolutiva” – resulta de uma exigência de origem social, econô-
mica, administrativa e/ou religiosa atingindo a sua forma atual por associação e em res-
posta ao seu ambiente natural. Essas paisagens refletem esse processo evolutivo na sua 
forma e na sua composição. Esse tipo de paisagem subdivide-se em mais outros dois ti-
pos: (a) “paisagem relíquia” (ou fóssil) – sofre um processo evolutivo que foi brutalmente 
interrompido por algum tempo. Porém, as suas características essenciais mantêm-se ma-
terialmente visíveis; (b) “paisagem viva” é uma paisagem que conserva um papel social 
ativo na sociedade contemporânea, intimamente associado ao modo de vida tradicional, 
e na qual o processo evolutivo continua. Ao mesmo tempo, mostra provas manifestas da 
sua evolução ao longo do tempo.
3. “Paisagem Cultural associativa” – a inscrição destas paisagens na Lista do Patrimônio 
Mundial (UNESCO) justifica-se pela força da associação a fenômenos religiosos, artísticos 
ou culturais do elemento natural, mais do que por sinais culturais materiais, que podem 
ser insignificantes ou mesmo inexistentes.
2.1.3 A região como categoria geográfica cultural e o espaço 
geográfico
Em termos científicos ligados à Geogra-
fia, uma área cultural pode constituir uma 
“região”, a qual forma uma unidade definível 
no espaço, caracterizada pela relativa homo-
geneidade interna com referência a certos 
critérios, por algum sistema de movimento 
interno coextensivo com ela ou por intera-
ções entre elementos dentro de seus limites. 
A associação típica de características geo-
gráficas concretas numa região ou em qualquer 
outra subdivisão espacial da superfície terrestre 
pode ser explicada através das influências cul-
turais noespaço em que está atuando e, mais 
recentemente, através das formas “mercadoló-
gicas” e “capitalistas” que esse espaço vem sen-
do tratado, ou seja, como mercadoria.
As mudanças acontecidas nas relações 
espaço- temporais implica um novo modo 
de pensar a realidade e como o homem vive 
as transformações num cenário sempre cam-
biante. O domínio do espaço, da mídia e a era 
do Marketing, do infinitamente pequeno, pro-
duziram uma nova realidade, outro modo de 
vida.
O processo de comercialização e especu-
lação em torno do espaço acentua-se a par-
tir da análise do cenário capitalista atual, ou 
seja, a Globalização, que cria/transforma o es-
GLOSSÁRIO
Salvaguarda: as medi-
das que visam garantir 
a viabilidade do pa-
trimônio cultural, tais 
como a identificação, a 
documentação, a inves-
tigação, a preservação 
a proteção, a promo-
ção, a valorização, a 
transmissão – essen-
cialmente por meio da 
educação formal e não 
formal – e revitalização 
deste patrimônio em 
seus diversos aspectos.
PARA SABER MAIS
Para uma elucidação 
sobre os informes e 
propostas oriundas da 
UNESCO (Organização 
das Nações Unidas para 
a Educação, a Ciência 
e a Cultura), consulte 
o site desse órgão res-
ponsável. Entre outras 
coisas, ele divulga a 
importância da preser-
vação e manutenção 
das paisagens culturais 
e patrimoniais espalha-
das por todo o mundo.
VER: <http://www.
unesco.org.br>.
21
Geografia - Geografia Cultural
paço em mercadoria.
O consumo do espaço se analisa no mo-
vimento de generalizações da transformação 
do espaço em mercadoria, apontando uma 
tendência da predominância da troca sobre os 
modos de uso, o que revela o movimento do 
espaço de consumo para o consumo do espaço.
2.1.4 O território numa perspectiva cultural
O território é um conceito e/ou uma cate-
goria de análise muito estudada atualmente. 
Seu destaque não é somente dentro da ge-
ografia, mas também nas disciplinas das ci-
ências sociais, humanas, da natureza e até na 
área da saúde. Seu uso difundiu-se largamen-
te, tornando-se hoje o conceito geográfico 
mais discutido no Brasil, nos países da América 
Latina e em diversas nações europeias. O uso 
intensificado desse enfoque leva-nos a acredi-
tar que o conceito “virou moda” (fashion con-
cept), como disse Fernandes (2009).
Assim como na perspectiva do território, 
a abordagem cultural pode ser compreendi-
da a partir da assimilação de qualquer uma 
das outras categorias de análise da geografia: 
espaço, paisagem, lugar e região. Sem dúvi-
da, as bases da geografia cultural assentam-
-se sobre a paisagem e o lugar, num primeiro 
momento. O largo uso do território tem feito 
dele um conceito que pode ser analisado so-
bre diferentes perspectivas ou abordagens na 
geografia. No entanto, o território não substi-
tui o primeiro e mais importante conceito da 
geografia – o espaço.
O território é um produto do espaço; ele 
é produzido a partir do espaço. Uma socie-
dade até pode viver sem território, mas não 
pode viver sem espaço. Temos muitas socie-
dades ou grupos humanos vivendo sem terri-
tório, em outros termos, desterritorializados. 
“O espaço é o quadro geral de referência da 
sociedade. Podemos dizer também que o ter-
ritório é o quadro específico de organização 
societária” (SILVA, 2011).
Raffestin (1993) afirma que o território é 
a apropriação de um espaço, seja ela concre-
ta, seja abstrata. Raffestin (2008) considera o 
espaço como algo dado, axiomático, pré-exis-
tente a qualquer ação; e o território é aquilo 
que é produzido a partir do espaço pela ação 
humana, ou seja, o trabalho e mais a cultura 
própria de cada sociedade. Desse modo, o ter-
ritório é uma produção do espaço resultante 
pela ação humana e pela cultura que o anima 
e lhe dá vida.
Já Souza (1995, p. 78) remonta a perspec-
tiva clássica da Geografia Política para dizer 
que o território “é fundamentalmente um 
espaço definido e delimitado por e a partir de 
relações de poder”. Ora, quando assistimos à 
intervenção do Estado, por meio das forças 
armadas e da polícia, invadir o conjunto de 
favelas do Alemão no Rio de Janeiro, no iní-
cio de 2011, estávamos vendo uma disputa 
territorial. Inclusive, o discurso dos próprios 
meios de comunicação, dos governantes e da 
polícia era sustentado pela pronúncia e afir-
mação de que ali existia um território e dele 
iriam tomar posse (domínio).
A constituição dos territórios ocorre atra-
vés de dois processos de territorialização: 
apropriação e dominação. A apropriação é a 
forma mais comum, pois, após apropriar-se de 
um território, um grupo dá um nome e o pro-
duz conforme as suas necessidades e condi-
ções. Já o processo de dominação diz respeito 
ao uso da força, é impositivo, excludente e, ge-
ralmente, constitui a forma como o Estado e as 
grandes empresas dominam certos espaços.
Para Santos (1996, 2006), é o uso que defi-
ne o território e o distingue do espaço, ou me-
lhor, podemos nos referir aos “usos”no plural. 
Segundo o autor, o território em si não é ob-
jeto de análise, e sim o “território usado”. Se-
gundo ele, “o território são formas, mas o ter-
ritório usado são objetos e ações, sinônimo de 
espaço humano, espaço habitado” (SANTOS, 
1996, p. 16). “O território usado é o chão mais 
a identidade”. E a identidade diz respeito ao 
“sentimento de pertencer àquilo que nos per-
tence” (SANTOS, 2006, p. 14). De maneira mais 
poética, o autor nos apresenta outra noção de 
território: 
O território é o lugar em que desembocam todas as ações, todas as paixões, 
todos os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é, onde a história 
do homem plenamente se realiza a partir das manifestações da sua existência 
(SANTOS, 2006, p. 13).
Ao falar isso, Santos (2006) abre diversas 
possibilidades para interpretar o território. As-
sim, nada escapa ao território, pois todas as 
pessoas estão nele, todas as empresas, os go-
vernos, todos os objetos, todas as ações, todos 
os movimentos. O território é a universaliza-
22
UAB/Unimontes - 7º Período
ção da vida, porque é nele e a partir dele que 
todas as realizações humanas acontecem, ou 
seja, é onde a vida dos homens plenamente se 
realiza (SILVA, 2011).
Soares (2009) afirma que o território é um 
espaço de interações entre os subsistemas na-
tural, construído e social. Além disso, o autor 
acrescenta o importante papel das identida-
des que redefinem o significado do território. 
Porto-Gonçalves (2006), por sua vez, entende 
o território como espaço apropriado e institu-
ído por sujeitos e grupos sociais que se afir-
mam por meio dele.
Refletindo sobre essas últimas coloca-
ções, podemos exemplificar com o caso das 
comunidades quilombolas hoje que estão em 
processo de reafirmação étnico-racial e terri-
torial, afirmando-se culturalmente através de 
sua identidade e reivindicando a demarcação 
e titulação de seus territórios historicamente 
apropriados. O território, nesse sentido, serve 
de pano de fundo para a autoafirmação cul-
tural dos quilombolas. Quando os quilombo-
las reivindicam a demarcação e titulação de 
seus territórios, eles entendem que a “terra” é 
o seu “território”. A terra é condição básica e 
primordial para a existência e sustentação do 
território de qualquer grupo. Ao ter a terra as-
segurada, os quilombolas estão garantindo a 
manutenção de sua cultura, de suas tradições 
e a existência de sua identidade que lhes ca-
racterizam como tal. O caso recente dos qui-
lombolas de Brejo dos Crioulos, do Norte de 
Minas Gerais, os quais estiveram em Brasília 
exigindo que o governo agilizasse o processo 
de titulação de suas terras é um exemplo de 
como esses grupos minoritários, até então ex-
cluídos das políticas públicas e de seus direitos 
previstos em lei, estão obtendo conquistas em 
função de suas identidades.
Depois da pressão que os quilombolas 
de Brejo dos Crioulos fez em Brasília, a atual 
presidenta Dilma Rousseff assinou um de-
creto em que reconhece a reivindicação dos 
quilombolas e autoriza a desapropriação das 
terras ocupadaspor fazendeiros. Com isso, os 
quilombolas de Brejo dos Crioulos passarão a 
ter a posse e a titulação de seus territórios an-
cestralmente ocupados. 
Queremos esclarecer que, em função de 
políticas especiais, os quilombolas têm obtido 
benefícios sociais mais rapidamente que, por 
exemplo, os camponeses. As comunidades ru-
rais quilombolas, hoje no Brasil, vêm receben-
do atenção diferenciada. Em algumas delas, 
rapidamente são feitos os estudos antropo-
lógicos que atestam ser sua etnia oriunda de 
grupos de negros que historicamente viveram 
em determinadas localidades. A partir daí, os 
governos estadual ou federal reconhecem os 
grupos, demarcam e dão a titulação coletiva 
de suas terras, configurando seus territórios. 
Em outros casos, esse processo é moroso. A 
territorialidade desses grupos emerge a par-
tir de sua etnia. Assim, eles são beneficiários 
das políticas públicas e têm obtido resultados 
mais significativos em suas lutas que outros 
grupos camponeses não afro-descendentes. 
Devemos lembrar que, embora a maioria dos 
grupos quilombolas e índios vivam no meio 
rural brasileiro, existem também os mesmos 
movimentos organizados desses grupos no 
espaço urbano, uma vez que provavelmente já 
foram separados da terra, a qual lhes dava um 
maior significado de territorialidade. 
A questão indígena no Brasil também se-
gue caminhos semelhantes. O território para 
os índios é espaço de apropriação material e 
cultural, base física (chão), material (fonte de 
recursos) e imaterial (cultos, representações 
simbólicas, espaços sagrados). Por meio de 
sua identidade, os grupos indígenas assegu-
ram a existência de seus territórios e a con-
quista de seus direitos. É bastante comum 
vermos nas mídias as manifestações indíge-
nas no Palácio do Planalto e nas sedes da FU-
NAI (Fundação Nacional de Amparo ao Índio), 
bloqueando estradas e rodovias que cortam 
seus territórios, protestando contra fazendei-
ros, entre outras.
Sobre esse assunto, Deus (2008) afirma 
que está em curso a consolidação de pro-
cessos de organização e manifestação coleti-
vas de grupos étnicos, culturais e religiosos, 
muitas vezes minoritários, mas que emergem 
como contraprojetos contrários à globaliza-
ção e coesos em torno de suas convicções, 
visões de mundo imaginário e paradigmas. 
Esses grupos possuem expressiva visibilida-
de e influência no cenário cultural e social 
contemporâneos. Muitos acreditavam que a 
globalização seria socioculturalmente homo-
geneizadora, no entanto, ao contrário, ela se 
mostrou estimuladora da coesão étnica, com 
a emergência de lutas pelas identidades e 
exigindo demandas de respeito às particu-
laridades dos grupos (PORTO-GONÇALVES, 
2006). 
Deus (2008) ainda ressalta que a emer-
gência de identidades coletivas diversas, 
entre elas, índios e quilombolas, vem supe-
rando, pelo menos em termos de visibilidade 
e influência, outros segmentos e formas de 
luta sociais mais clássicas, a saber: operários, 
estudantes, moradores de bairros etc. Além 
disso, esses movimentos sociais demonstram 
“o quanto é relevante a busca política de um 
espaço próprio, que reivindica a diferença e 
recusa a fatalidade de uma sujeição dissolvida 
em um tipo (ou padrão) único de comporta-
DICA
Para conhecer a histó-
ria e outras informa-
ções sobre Brejo dos 
Crioulos, acesse o site:
<http://quilombobrejo-
doscrioulos.blogspot.
com>.
PARA SABER MAIS
DECRETO DE 29 DE 
SETEMBRO DE 2011.
A PRESIDENTA DA 
REPÚBLICA, no uso 
das atribuições que lhe 
conferem os art. 84, 
inciso IV, e 216, § 1o, da 
Constituição, e tendo 
em vista o disposto 
no art. 68 do Ato das 
Disposições Constitu-
cionais Transitórias e 
na Lei no 4.132, de 10 
de setembro de 1962, 
combinado com o art. 
6o do Decreto-Lei no 
3.365, de 21 de junho 
de 1941, 
DECRETA:
Art. 1o  Ficam decla-
rados de interesse 
social, para fins de 
desapropriação, nos 
termos dos arts. 5º, 
inciso XXIV, e 216, § 
1o, da Constituição, e 
68 do Ato das Dispo-
sições Constitucionais 
Transitórias, os imóveis 
rurais sob domínio 
válido abrangidos pelo 
Território de Quilom-
bos Brejo dos Crioulos, 
com área de dezessete 
mil, trezentos e dois 
hectares, sessenta ares 
e cinquenta e sete 
centiares, situado nos 
Municípios de São João 
da Ponte, Varzelândia e 
Verdelândia, Estado de 
Minas Gerais.
Fonte: <http://www.
planalto.gov.br>.
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/Constituicao/Constituicao.htm#art216�1
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/Constituicao/Constituicao.htm#art216�1
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/Constituicao/Constituicao.htm#adctart68
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/Constituicao/Constituicao.htm#adctart68
http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/Constituicao/Constituicao.htm#adctart68
23
Geografia - Geografia Cultural
mento” (DEUS, 2008, p. 60-61).
A relação entre território e identidade é 
um ponto central que tem reforçado o deba-
te atual, pois concordamos com Bonnemai-
son e Cambrèzy (1996, p. 14), citado por Ha-
esbaert (2006, p. 51), quando ele afirma que 
o território é “um construtor de identidade, 
talvez o mais eficaz de todos”.
Numa concepção identitária, o território 
é um espaço em que os indivíduos partilham 
de ideias, princípios e atitudes em relação 
aos outros e a si mesmos. Claval (2002) afirma 
que mudar a identidade é muitas vezes uma 
estratégia com repercussões no plano social. 
Ele aborda também o fato de a autenticidade 
das escolhas de um indivíduo está no sen-
timento que ele possui de acordo com uma 
tradição que ele interiorizou ou com uma fé 
que ele partilha. Encontramos uma coesão 
identitária maior em grupos mais tradicio-
nais, diferente das sociedades modernas cuja 
identidade é mais sutil.
A identidade está ligada a uma etnia. 
Esta pode ser entendida como o campo de 
existência e de cultura, vivido coletivamente 
por um determinado número de indivíduos. 
Diferente do que se possa pensar, a etnia não 
é uma realidade congelada e biológica, ela é 
dinâmica. A territorialidade emana da etnia. 
Nesse sentido, ela é concebida como a rela-
ção culturalmente vivida entre o grupo hu-
mano e a trama de lugares hierarquizados e 
interdependentes, cujo traçado no solo cons-
titui um território (BONNEMAISON, 2002).
 Bonnemaison (2002, p. 101-102) afirma 
que “é pela existência de uma cultura que se 
cria um território e é por ele que se fortalece 
e exprime a relação simbólica existente entre 
a cultura e o espaço”. Este autor também nos 
ensina que o território é simultaneamente “es-
paço social” e “espaço cultural”. Assim, o terri-
tório é híbrido, tanto está relacionado à fun-
ção social quanto à função simbólica. Cultura e 
sociedade são as duas faces da mesma moeda. 
Assim sendo, não adianta ao geógrafo 
estudar somente a função social do território, 
pois a função simbólica está contida no mes-
mo espaço/território. Existe uma diferença 
de olhar ao buscar entender ambos os espa-
ços – social e cultural –, segundo Bonnemai-
son. O espaço social é produzido, concebido 
em termos de organização e de produção, 
abordagem tão enfatizada pelos geógrafos 
marxistas. Já o espaço cultural é vivenciado, 
em termos de significação e relação simbó-
lica. Segundo o autor, toda análise geocultu-
ral deve procurar o espaço em que se aloja a 
cultura. Isso não é uma tarefa simples, visto 
que a cultura não organiza o espaço, mas o 
penetra. “Ela desenha no solo uma semiogra-
fia feita de um entrelaçado de signos, figuras 
e sistemas espaciais que são a representação 
[...] da concepção que os homens fazem do 
mundo e de seus destinos” (p. 105).
Bonnemaison é um importante autor que 
contribui para a interpretação do território 
numa perspectiva cultural. Haesbaert, por sua 
vez, divide em três as abordagens conceituais 
de território: jurídico-política, cultural e econô-
mica. Como nosso enfoque é sobre a vertente 
cultural, o autor afirma que essa abordagem 
prioriza a dimensão simbólica e mais subjetiva 
do território; ele é um produto da apropriação 
feita pelo imaginárioe/ou da identidade social 
sobre o espaço (HAESBAERT, 1997).
Para Haesbaert, a vertente cultural do 
território é minoritária, apesar de que obser-
vamos uma crescente expansão desses estu-
dos na Geografia, especialmente a brasileira. 
Tradicionalmente, o território é abordado na 
geografia sobre uma perspectiva funcional. 
Mas, o território é ao mesmo tempo e em 
diferentes combinações “funcional” e “sim-
bólico”. Entre funcionalidade e simbolismo, 
o território pode ser caracterizado por dois 
extremos:
QUADRO 2
Esquema dos extremos entre território funcional e território simbólico
Território funcional Território simbólico
Processos de dominação Processos de apropriação (Lefebvre)
“Territórios da desigualdade” “Territórios da diferença”
Território sem territorialidade (empiricamente 
impossível)
Territorialidade sem território
(ex.: “Terra Prometida” dos judeus)
Princípio da exclusividade
(no seu extremo: unifuncionalidade)
Princípio da multiplicidade
(no seu extremo: múltiplas identidades)
Territórios como recurso, valor de troca
(controle físico, produção, lucro)
Território como símbolo, valor simbólico
(“abrigo”, “lar”, segurança afetiva)
24
UAB/Unimontes - 7º Período
Fonte: HAESBAERT, R., 2008.
É interessante destacar que, embora o esquema genérico apresente uma caracterização 
aparentemente dicotômica, podemos notar lógicas distintas entre as posições, nas quais os ter-
ritórios funcionais corresponderiam a uma racionalidade de controle mais concreta, ligada aos 
valores de troca, de produção e do território como fonte de recursos, isto é, o território do capital 
e da desigualdade. Os territórios simbólicos de lógicas mais abstratas privilegiam os valores de 
uso, o significado da moradia, os valores dos recursos, associados aos componentes simbólicos 
fundamentais à manutenção da cultura, e compartilham as diferenças. Tais características têm 
mais a ver com as sociedades mais tradicionais hoje – isso não retira a perspectiva relacional en-
tre os diferentes territórios.
Da mesma forma que Bonnemaison (2002) afirmou que espaço social e espaço cultural são 
indissociáveis, o território funcional e o território simbólico também o são.
Ainda que o geógrafo cultural aborde o território numa perspectiva cultural, não podemos 
negligenciar as outras dimensões sociais que integram o espaço geográfico: natural, política e eco-
nômica. A abordagem cultural passa necessariamente pelas outras dimensões sociais e vice-versa.
Referências
BONNEMAISON, Joël. Viagem em torno do território. In: CORRÊA, R. L.; ROSENDAHL, Z. (org.). 
Geografia Cultural: um século (3). Rio de Janeiro: Editora UERJ, 2002. p. 83-131.
CLAVAL, Paul. Campo e perspectivas da Geografia Cultural. In: CORRÊA, R. L.; ROZENDAHL, Z. 
(org.). Geografia Cultural: um século (3). Rio de Janeiro: Editora UERJ, 2002. p. 133-196. (Série 
Geografia Cultural).
DAMIANI, Amélia Luísa. O lugar e a produção do cotidiano. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri 
(org.). Novos Caminhos da Geografia. São Paulo: Contexto, 1999.
DEUS, José Antônio Souza de. O etnoambientalismo e as novas territorialidades indígenas em 
curso no contexto regional da Amazônia Meridional e Oriental. Caderno de Geografia, Belo 
Horizonte, v. 1, n. 1, p. 59-82, jul./dez. 2008.
FERNANDES, Bernardo Mançano. Sobre a tipologia de territórios. In: SAQUET, M. A.; SPOSITO, 
E. S. (org.). Territórios e territorialidades: teorias, processos e conflitos. São Paulo: Expressão 
Popular, 2009. p. 197-215. (Geografia em Movimento).
HAESBAERT. Rogério. Des-territorialização e identidade: a rede “gaúcha” no Nordeste. Nite-
rói: EDUFF, 1997. 293 p.
______. Concepções de território para entender a desterritorialização. In: SANTOS, Milton 
[et al.]. Território, territórios: ensaios sobre o ordenamento territorial. 2. ed. Rio de Janeiro: 
DP&A, 2006. p. 43-70.
______. Dos múltiplos territórios à multiterritorialidade. In: HEIDRICH, A. L. [et al.]. A emergên-
cia da multiterritorialidade: a ressignificação da relação do humano com o espaço. Canoas-
-Porto Alegre: Ed. ULBRA-Ed. da UFRGS, 2008. p. 19-36.
HOLZER, Werther. O conceito de Lugar na Geografia Cultural-Humanista: uma contribuição 
para a Geografia contemporânea. (Artigo). Disponível em: <http://www.uff.br>. Acesso em:10 
set. 2011.
MISKESELL, Marvin W. & WAGNER, Philip L. Os temas da Geografia Cultural. In: CORRÊA, Ro-
berto Lobato, ROSENDAHL, Zeny (org.). Introdução à Geografia Cultural. Rio de Janeiro: Ber-
trand Brasil, 2003.
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. De saberes e de territórios: diversidade e emancipação a 
partir da experiência Latino-americana. GEOgrafia, Niterói, v. 8, n. 16, p. 41-55, 2010.
RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993.
ATIVIDADE
Diante desse pano-
rama, mostrando a 
importância e a inter-
dependência que as 
categorias geográficas 
têm com a Geogra-
fia Cultural, disserte, 
brevemente, sobre essa 
importância. SUGES-
TÃO: pontue os objeti-
vos de cada categoria 
e sua importância em 
cinco ou seis tópicos.
25
Geografia - Geografia Cultural
SANTOS, Milton. O retorno do território. In: SANTOS, M.; SOUZA, M. A. A. de.; SILVEIRA, M. L. 
(org.). Território: globalização e fragmentação. 2. ed. São Paulo: Hucitec/ANPUR, 1996. p. 15-
20.
______. O dinheiro e o território. In: SANTOS, Milton et al. Território, territórios: ensaios sobre 
o ordenamento territorial. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. p. 13-21.
SILVA, Marcos Nicolau Santos da. Entre brejos, grotas e chapadas: o campesinato sertanejo 
e o extrativismo do Pequi nos Cerrados de Minas Gerais. 2011. 253f. Dissertação (Mestrado em 
Geografia) – Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 
2011.
SOARES, Luiz Antônio Alves. O enfoque sociológico e da teoria econômica no ordenamento 
territorial. In: ALMEIDA, F. G. de.; SOARES, L. A. A. (org.). Ordenamento territorial: coletânea 
de textos com diferentes abordagens no contexto brasileiro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 
2009. p. 61-83.
SOUZA, M. J. L. de. O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. In: CAS-
TRO, I. E. de; GOMES, P. C. da C.; CORRÊA, R. L. (org.). Geografia: conceitos e temas. Rio de Ja-
neiro: Bertrand Brasil, 1995. p. 77-116.
27
Geografia - Geografia Cultural
UNIDADE 3
A geografia cultural e as 
etnogeografias
3.1 Introdução
Nas unidades anteriores, você estudou as relações entre a Geografia e a Cultura, as contri-
buições dos geógrafos estrangeiros e brasileiros na trajetória da Geografia Cultural e a compre-
ensão das categorias geográficas. Agora, vamos enveredar pelos estudos etnogeográficos, bus-
cando, inicialmente, o entendimento da etnogeografia como um método da Geografia Cultural. 
Propomos também atentar-se para a diversidade de temáticas e das práticas de campo tão fun-
damentais nas pesquisas atuais desse campo do conhecimento geográfico. 
3.2 A etnogeografia: o método da 
Geografia Cultural
Vemos um crescente interesse pelos es-
tudos culturais na Geografia contemporânea. 
É cada vez mais frequente, e às vezes exage-
rado, o uso de termos relacionando à temática 
cultural nos trabalhos dos geógrafos: etnoge-
ografia, etnosustentabilidade, etnoterritoriali-
dade, etnoambientalismo, etnopedologia, en-
tre tantos outros. Muitas vezes, o uso dessas e 
de outras terminologias não implica, necessa-
riamente, a inclusão do trabalho no campo da 
Geografia Cultural. Temos, assim, uma emer-
gente tendência e simpatia dos geógrafos em 
inserir a abordagem cultural nos seus estudos.
A Geografia Cultural tem reafirmado seu 
“espaço” desde as últimas décadas do sécu-
lo passado e também no momento presen-
te, deixando de ser tratada apenas como um 
subdomínio da Geografia Humana (CLAVAL, 
2002). Além da importante contribuição te-
órico-metodológica que vem consolidando 
as bases da Geografia Cultural, sua influência 
é notoriamente presente em outros campos 
mais consolidados do conhecimento geográfi-
co, a exemplo da Geografia Política, Geografia 
Agrária,Geografia Urbana. Devemos destacar, 
ainda, a inserção da Geografia Cultural nos es-
tudos de outros cientistas sociais, tais como os 
sociólogos e antropólogos, o que autentica o 
reconhecimento da disciplina.
Apesar de estarmos tratando do momen-
to recente da Geografia Cultural, Claval (2002) 
afirma que a ideia de uma “volta do cultural” 
foi apontada pelos geógrafos ingleses. Isso, 
segundo o autor, leva a concluir que o papel 
dessa disciplina, hoje, é mais importante do 
que no passado. Entretanto, o autor adverte 
que o interesse dos geógrafos pelas questões 
culturais nasceu com a Geografia Humana, isto 
é, no final do século XIX.
O desenvolvimento dos estudos cultu-
rais se caracteriza por três momentos dentro 
da Geografia Humana: (1) compreende o final 
do século XIX até os anos 1950, em que os ge-
ógrafos estavam envolvidos por um forte viés 
positivista ou naturalista, desconsiderando, 
portanto, as representações e as experiências 
subjetivas dos lugares. Nesse contexto, o in-
teresse dos estudos contemplava os aspectos 
materiais da cultura, as técnicas, as paisagens 
e os gêneros de vida; (2) Anos 1960 e 1970, a 
Geografia Cultural esteve sob a influência da 
“Nova Geografia”, cujo objetivo era tentar uma 
sistematização metodológica; (3) Ocorreu a 
partir da década de 1970, conforme já nos re-
ferimos, em que a Geografia Cultural assumiu 
o mesmo patamar das outras disciplinas da 
geografia humana (CLAVAL, 2002). Esse último 
momento sintetiza o movimento de renova-
28
UAB/Unimontes - 7º Período
ção da Geografia Cultural mundial (CORRÊA; 
ROSENDAHL, 2003).
Especificamente no caso da Geografia 
Cultural brasileira, Corrêa e Rosendahl (2003) 
afirmam que sua incorporação entre os ge-
ógrafos foi tardia, iniciando-se a partir da dé-
cada de 1990. Esses autores suscitam algumas 
das principais razões para isso, entre elas, a 
forte tradição empiricista que submeteu e 
centrou a Geografia em torno de uma leitu-
ra objetiva da realidade socioespacial. Hissa 
(2002, p. 74) aponta que a Geografia, assim 
como outras ciências, influenciada pelos pa-
radigmas científicos da modernidade, procu-
rou “desvencilhar-se da filosofia, da arte, da 
literatura, da emoção e do que possa sugerir 
subjetividade” para aderir ao “método de pen-
sar científico”. Outro motivo que retardou a 
aceitação dos estudos culturais na Geografia 
brasileira foi a imersão numa perspectiva crí-
tica após os anos 1970, baseada em um mate-
rialismo histórico mal assimilado. Apesar disso, 
a emergência da perspectiva crítica produziu 
um significativo ganho epistemológico e teó-
rico-metodológico na disciplina, sobretudo a 
Geografia Humana, inspirando-lhe uma tradi-
ção libertária oriunda do marxismo, mas não a 
libertou do “método de pensar científico”.
Hissa (2002) afirma que, com bastante ra-
ridade, o advento da Geografia Crítica sugere 
leves associações entre a chamada Geografia 
Marxista e as discussões sobre a interdiscipli-
naridade. Aqui, você pode observar que já se 
abre um panorama para o rompimento das 
fronteiras disciplinares entre a Geografia e as 
outras disciplinas científicas. “A geografia não 
seria a literatura, a poesia, a filosofia ou a so-
ciologia, mas seria produzida no contato com 
todo o universo de saberes interpenetrantes” 
(HISSA, 2002, p. 79). Com tal premissa, tam-
bém podemos entender que a abertura das 
fronteiras disciplinares na Geografia como um 
todo, após o período em questão, viria a in-
cluir novas perspectivas de análise para nossa 
disciplina e a reafirmação de campos do saber 
geográfico até então negligenciados. É o caso 
da Geografia Cultural, por exemplo, que, não 
raras vezes, foi tida como subjetiva, cujos mé-
todos escapavam à realidade objetiva dos mé-
todos científicos modernos. A aproximação da 
Geografia Cultural com a Antropologia, mais 
especificamente com o método etnográfico, 
viria a produzir férteis contribuições que con-
tribuiriam para a consolidação da disciplina. 
Sobre esse aspecto, você entenderá de manei-
ra mais aprofundada nos próximos tópicos.
Vários autores recentes concordam que 
a Geografia Cultural só pôde se desenvolver 
recentemente. Claval (2006, p. 90) nos lembra 
que apesar disso não significa dizer que seu 
domínio tenha permanecido ignorado pelos 
pesquisadores: “eles o abordavam, mas não 
dispunham dos meios necessários para anali-
sá-lo em todas as suas dimensões”. As aborda-
gens que os geógrafos praticavam eram sem-
pre parciais.
Segundo o autor supracitado, a Geogra-
fia Cultural demorou muito para se constituir 
como uma disciplina, pois, para se desenvol-
ver, ela necessitaria não ser somente uma ci-
ência natural de paisagens e de regiões, como 
o era no começo do século XX. Além disso, a 
disciplina não poderia se reduzir à análise dos 
mecanismos que permitem às sociedades fun-
cionar, triunfando sobre o obstáculo da disper-
são e da distância, conforme os esquemas que 
prevaleciam nos anos 1960. Para a Geografia 
Cultural sair desse reducionismo:
é preciso que ela se torne uma reflexão sobre a geograficidade, ou seja, sobre 
o papel que o espaço e o meio têm na vida dos homens, sobre o sentido que 
eles lhe dão e sobre a maneira pela qual eles os utilizam para melhor se com-
preenderem e construírem seu ser profundo (CLAVAL, 2006, p. 89-90).
Durante muito tempo o desenvolvimen-
to da Geografia Cultural esteve bloqueado pela 
dificuldade de se afastar da paisagem ou dos 
artefatos criados pelos homens. A Geografia 
Humana pós-1970 deixa de partir do espaço e 
da paisagem em que se estudam suas especifi-
cidades e a maneira pela qual são diferenciados 
regionalmente. Sua preocupação, de agora em 
diante, é compreender como a vida dos ho-
mens e dos grupos se organiza no espaço, nele 
se imprime e nele se reflete. Há uma mudança 
no enfoque geográfico em que se entende que 
a organização social do mundo, dos grupos hu-
manos e suas atividades no espaço nunca foram 
simplesmente materiais. Tudo isso é carregado 
de processos cognitivos, de atividades mentais, 
de troca de informações, experiências e ideias. 
Os homens também se relacionam com o meio 
ambiente e com o espaço por meio de uma di-
mensão psicológica e sociopsicológica (CLAVAL, 
2001b; 2006). A Geografia Cultural se renova “por 
se interessar primeiramente pelos homens, os 
estudos podem hoje ir muito mais longe do que 
no passado” (CLAVAL, 2006, p. 92).
A nova abordagem cultural faz desaparecer 
várias limitações da Geografia do passado. Além 
disso, a Geografia Cultural vai mais longe ainda 
quando contribui para modificar a perspectiva 
geral da Geografia Humana que não tem mais 
como objetivo simplesmente descrever a diversi-
29
Geografia - Geografia Cultural
dade da Terra, inventariar os tipos de paisagens 
nela existentes e explicar as formas de organiza-
ção que se desenvolvem no espaço.
Nesse viés, observe que a influência da 
nova perspectiva cultural na geografia traz no-
vos enfoques, outros desejos e aspirações: 
trata-se de interrogar os homens sobre a experiência que têm daquilo que os 
envolve, sobre o sentido que dão à sua vida e sobre a maneira pela qual mode-
lam os ambientes e desenham as paisagens para neles afirmar sua personalida-
de, suas convicções e suas esperanças (CLAVAL, 2001b, p. 42).
Essa é, pois, uma das primeiras orienta-
ções que devemos levar para o nosso campo 
de pesquisa em Geografia Cultural. Precisa-
mos ainda pensar numa Geografia Cultural 
que seja dos homens, pelos homens e para 
os homens; uma geografia da experiência, 
da existência, dos sentidos, dos saberes e 
dos fazeres.
Diversas temáticas são colocadas hoje 
para a Geografia e para os geógrafos culturais: 
a emergência de identidades coletivas, das 
questões étnico-raciais, de gênero e sexualida-
de, os modos de vida, a dimensão espacial das 
religiões, as festas e os espaços dos espetácu-
los, as representações, as paisagens e os terri-
tórios culturais, as múltiplas territorialidades, 
o sentido cultural das migrações, a percepção, 
as artese os artesanatos, os estudos sobre na-
tureza, política e cultura, a geografia da litera-
tura, do cinema, do patrimônio, etc.
Diante de vasto repertório temático pre-
sente para a Geografia Cultural brasileira, é 
importante pensarmos na fundamentação da 
disciplina, sobretudo no que diz respeito aos 
métodos e às metodologias que se encontram 
nas pautas de pesquisas dos geógrafos.
3.2.1 Os métodos em Geografia Cultural: o desafio do “pensar 
científico”
Você pode notar que os diversos méto-
dos de pesquisa usados na Geografia também 
se aplicam ao estudo da Geografia Cultural. A 
emergência dos estudos culturais nas últimas 
décadas, em particular na Geografia, rompe 
com a visão estigmatizadora que negava o ca-
ráter científico das ciências e disciplinas que se 
debruçavam sobre o universo subjetivo. Mas, 
você deve entender que isso nem sempre foi 
assim no meio científico. Fugir da objetividade 
era o mesmo que deixar de pensar cientifica-
mente. A Geografia, a Antropologia, a História 
e outras ciências da sociedade tiveram diversos 
embates com o paradigma científico moderno. 
Tal paradigma parece ter colocado as ciên-
cias humanas e sociais numa encruzilhada, pois, 
como seria possível pensar seu objeto de estu-
do, os homens e a sociedade, sem considerar 
seu universo subjetivo? Além disso, o princípio 
da neutralidade científica se torna incoerente, 
já que o pesquisador também faz parte do seu 
próprio objeto de estudo – a sociedade. 
Nesse sentido, os métodos (e as metodo-
logias) devem ser compreendidos como ins-
trumentos e procedimentos que nos permitem 
analisar uma determinada realidade. São mate-
riais, técnicas e fundamentos que nos auxiliam 
na organização e no desenvolvimento das pes-
quisas. Os métodos nunca devem ser utilizados 
para aprisionar o pesquisador, e sim estimular 
nele a liberdade de criar, improvisar e imaginar. 
O pesquisador deve exercer sua observação, 
percepção, imaginação; pode e deve registrar 
seus sentimentos e pressentimentos, assim 
como a intuição e a dedução.
Os métodos, as metodologias e a ativi-
dade científica como um todo, especialmente 
nas ciências humanas, jamais podem ser con-
siderados obstáculos à criatividade. Segundo 
Hissa (2002, p. 149), a imaginação e a criativi-
dade não estão confinadas apenas ao universo 
das artes, muito menos a ciência seja funda-
mentada exclusivamente na lógica. A ciência 
moderna foi assentada a partir do pressuposto 
equivocado que ela seja: “a) fruto exclusivo da 
racionalidade; b) isenta de paixão, de subjetivi-
dade e de intuição”.
Diante dessa perspectiva equivocada de 
ciência, certamente não teríamos como vis-
lumbrar um futuro para disciplinas como a Ge-
ografia Cultural. Como um geógrafo cultural 
poderia estudar seus objetos e sujeitos sem a 
paixão, sem a emoção, sem sentimento, sem 
envolvimento? Seria possível observar e des-
crever a manifestação da cultura no espaço 
apenas do ponto de vista da lógica e da razão? 
Como poderíamos entender a organização es-
pacial da sociedade somente do ponto de vis-
ta da sua materialidade? A dimensão imaterial, 
subjetiva e simbólica do espaço, não teria im-
portante significação? Fato é que a própria cri-
se da Geografia na segunda metade do século 
XX, em específico, também é a crise da ciência 
moderna em geral.
30
UAB/Unimontes - 7º Período
BOX 4
Vale ressaltar que temos nos referido à ciência moderna com insistência. Para adotar-
mos um referencial básico, sugerimos a definição de HISSA (2002) para explicação do termo 
modernidade de forma geral e especificamente quando se refere à ciência: “Para uma rápida 
definição, toma-se modernidade como o tempo das luzes: origens ou marcos pós-medievais; 
tempo das explorações intercontinentais, da ampliação do conhecimento dos territórios, dos 
povos e das descobertas; tempo da gênese da ciência moderna e dos Estados modernos; 
tempo da divisão de tarefas, da ampliação da produtividade e da produção; tempo histórico 
da expectativa de progresso estendido a todos. Para referir-se à ciência, trata-se do tempo da 
razão, da ordem, da disciplina, do método, da objetividade, da imparcialidade, do rigor, do 
trabalho científico especializado”.
Fonte: HISSA, C. E. V. A mobilidade das fronteiras: inserções da geografia na crise da modernidade. Belo Horizonte: 
Editora UFMG, 2002. p. 62.
A inserção da Geografia no paradigma 
moderno do “método de pensar científico” 
transformou-a numa disciplina para o “mer-
cado”, abandonando os métodos do passado 
e todos os outros que fossem identificados 
como “não científicos”. Esse movimento não 
ocorreu exclusivamente dentro da Geografia, 
mas também invadiu todas as demais ciências. 
Por exemplo, Hissa (2002) afirma que os outros 
campos do saber, como a Antropologia, foram 
invadidos por essa racionalidade científica, 
atingindo todas as disciplinas que não tinham 
“valor de mercado”.
Vimos a Geografia entrar cada vez mais 
na modernidade, apesar de que não raras ve-
zes esse movimento foi considerado tardio por 
muitos estudiosos. Os enfoques neopositivis-
tas na Geografia contribuíram para ampliar os 
mercados para os geógrafos. No Brasil temos 
a participação de geógrafos no IBGE (Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística). Os campos 
temáticos da Geografia Física são os mais valo-
rizados nesse movimento. Assim, a Geografia 
galgaria seu status de ciência na passagem dos 
anos 1950 para 1960. Este período ficou conhe-
cido como “revolução quantitativa”, no qual se 
criou uma atmosfera rigorosamente científica 
dentro da análise geográfica (HISSA, 2002).
Teríamos, assim, uma disciplina emba-
sada em modelos matemáticos, cuja estatís-
tica seria o centro do movimento de renova-
ção. Se, por um lado, a inclusão da Geografia 
na modernidade trouxe importantes críticas 
aos paradigmas tradicionais, principalmen-
te ao positivismo clássico, provocando um 
intenso debate no interior da disciplina; por 
outro lado, geraram-se consideráveis críticas 
à quantificação. Mas, esse movimento não 
poderia se reduzir apenas à estatística e aos 
modelos computacionais como se fossem os 
únicos métodos da Nova Geografia. O debate 
foi positivo do ponto de vista da epistemolo-
gia, o que até então era inexistente dentro da 
Geografia. Não haveria uma necessária opo-
sição entre o quantitativo e o qualitativo. O 
que ocorreu foi uma assimilação equivocada 
ao entender o movimento de renovação ex-
clusivo ou predominantemente pelo método 
quantitativo (HISSA, 2002).
Santos (1986) coloca em questão se a Ge-
ografia quantitativa ou teorética seria um mé-
todo ou um paradigma. O autor afirma que, 
mesmo antes dessa “revolução”, os geógrafos 
já se apoiavam suas afirmações em estatísti-
cas. Neste período, porém, ocorreu a intensi-
ficação das matemáticas no tratamento dos 
dados, em sua coleta e na apresentação dos 
resultados das investigações geográficas.
Esse mesmo autor confirma que o “privi-
légio dado aos métodos e às técnicas é uma 
das fraquezas mais graves da geografia cha-
mada teorética” (SANTOS, 1986, p. 51). Com 
isso, Santos conclui que a “Geografia Quan-
titativa” provocou um grande equívoco ao se 
considerar e ser considerada como um domí-
nio teórico, quando, de fato, ela era apenas um 
método. O autor ressalta ser o mais importan-
te naquele contexto chamar atenção para os 
aspectos mais teóricos ou conceituais da Geo-
grafia, ou seja, rediscutir os próprios paradig-
mas da disciplina.
De fato, se do ponto de vista paradigmá-
tico a “Nova Geografia” não acrescentou nada 
verdadeiramente novo à disciplina, pelo me-
nos um intenso debate emergiu-se a partir daí.
Santos (1986) é mais enfático ao afirmar 
ser o maior pecado da Geografia Quantitati-
va o desconhecimento da existência do tem-
po e suas qualidades essenciais. O que isso 
quer dizer? Significa que os modelos mate-
máticos aplicados à Geografia permitem tra-
balhar com estágios sucessivos da evolução 
espacial, mas são incapazes de mostrar o que 
ocorre entre um estágio e outro. Tais mode-

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