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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro Décima Quinta Câmara Cível Apelação Cível nº. 0013705-96.2019.8.19.0001 Secretaria da Décima Quinta Câmara Cível Rua Dom Manuel, 37, 3º andar – Sala 336 - Lâmina III Centro – Rio de Janeiro/RJ – CEP 20010-090 Tel.: + 55 21 3133-6015 – E-mail: 15cciv@tjrj.jus.br (A) Página 1 de 6 Juízo de origem: 23ª VARA CÍVEL DA COMARCA DA CAPITAL Magistrado: ANDREA DE ALMEIDA QUINTELA DA SILVA Apelante: FUNDAÇÃO DOS ECONOMIÁRIOS FEDERAIS FUNCEF Apelado: GUILHERME DUARTE REIS Relator: DES. GILBERTO MATOS APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. CONTRATO ELETRÔNICO DE MÚTUO NÃO ASSINADO DIGITALMENTE POR QUALQUER DAS PARTES. AUSÊNCIA DE EXECUTIVIDADE. PRECEDENTES DO STJ. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DOS EMBARGOS. EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO. MANUTENÇÃO. 1. Embargos à execução nos quais o embargante alega a ausência de título executivo extrajudicial hábil a embasar a pretensão da embargada, já que teria vindo aos autos apenas uma cópia de um contrato genérico, sem qualquer assinatura, nem das partes, nem de testemunhas. 2. O Eg. STJ, em julgados recentes, tem entendido pela validade de contrato de mútuo firmado eletronicamente, desde que atendidos certos requisitos, mas é certo que, para que ele possa ser título executivo, é necessário, no mínimo, que esteja assinado eletronicamente, e, claro, que haja a certificação digital. 3. O documento juntado aos autos pela apelante como título executivo é apenas uma cópia xerox de um contrato padrão, preenchido com os dados do embargante e informações do empréstimo, mas não há qualquer assinatura digital aposta nele, nem das partes, nem de testemunhas. 4. Contrato que não ostenta os requisitos da liquidez, certeza e exigibilidade. 5. Sentença de procedência dos embargos com extinção da execução, que deve ser mantida. 6. Desprovimento do apelo. A C Ó R D à O Vistos, relatados e discutidos estes autos da Apelação Cível nº 0013705- 96.2019.8.19.0001, em que figura como apelante FUNDAÇÃO DOS ECONOMIÁRIOS FEDERAIS FUNCEF e apelado GUILHERME DUARTE REIS. A C O R D A M os Desembargadores da Décima Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em NEGAR PROVIMENTO ao recurso, na forma do voto do Relator. Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro Décima Quinta Câmara Cível Apelação Cível nº. 0013705-96.2019.8.19.0001 Secretaria da Décima Quinta Câmara Cível Rua Dom Manuel, 37, 3º andar – Sala 336 - Lâmina III Centro – Rio de Janeiro/RJ – CEP 20010-090 Tel.: + 55 21 3133-6015 – E-mail: 15cciv@tjrj.jus.br (A) Página 2 de 6 R E L A T Ó R I O A hipótese é de embargos à execução ajuizados por GUILHERME DUARTE REIS em face de FUNDAÇÃO DOS ECONOMIÁRIOS FEDERAIS – FUNCEF, em que alega, em suma, que: a) a embargada não trouxe aos autos da execução o titulo executivo extrajudicial; b) a execução não preenche os requisitos legais; c) o débito executado já foi quitado; d) a ré inseriu seu nome por 15 vezes, indevidamente, no sistema do SERASA. Pede seja deferida tutela de urgência para a retirada do seu nome, pela embargada, dos cadastros do SERASA no prazo de 72 horas a partir da intimação, sob pena de multa diária de R$ 500,00 (quinhentos reais), bem como seja suspensa a execução. No mérito, pretende seja extinta a execução ante a ausência de título, bem como a condenação da embargada ao pagamento de multa por litigância de má-fé. Foi proferida sentença, às fls. 182/183, nos seguintes termos: “(...) Isto posto, JULGO PROCEDENTE o pedido nos embargos para extinguir (...) a execução em apenso, bem como extinto o presente processo, na forma do art. 487, inciso I, do CPC. Condeno a parte Embargada ao pagamento de custas e honorários advocatícios, que fixo em 10% sobre o valor da execução. Junte-se cópia da presente na ação de execução em apenso. (...)” Inconformada, apela a Fundação ré, às fls. 195/206, e sustenta, sucintamente, que: a) o contrato de empréstimo é eletrônico e assinado digitalmente, e, pois, é totalmente válido, conforme a legislação que trata da matéria e a jurisprudência; b) os valores solicitados pelo embargante foram devidamente depositados em sua conta, o que restou demonstrado nos autos; c) embora o título executivo pressuponha a assinatura de duas testemunhas, nos termos do artigo 784, III, do CPC, é possível, excepcionalmente, a mitigação dessa regra, desde que a certeza quanto à existência e validade do ajuste seja obtida através de outro meio idôneo, ou no próprio contexto dos autos, conforme precedente do STJ colacionado; d) o selo COMPROVA foi devidamente apresentado aos autos, às fls. 44 da execução, a demonstrar que a autoridade certificadora atuou no momento da contratação, certificando a veracidade da assinatura digital das partes envolvidas. Requer seja o apelo provido para a improcedência dos embargos à execução. Certidão de tempestividade, às fls. 235. Contrarrazões, às fls. 247/252, em prestígio ao julgado. Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro Décima Quinta Câmara Cível Apelação Cível nº. 0013705-96.2019.8.19.0001 Secretaria da Décima Quinta Câmara Cível Rua Dom Manuel, 37, 3º andar – Sala 336 - Lâmina III Centro – Rio de Janeiro/RJ – CEP 20010-090 Tel.: + 55 21 3133-6015 – E-mail: 15cciv@tjrj.jus.br (A) Página 3 de 6 É o relatório. V O T O O recurso deve ser conhecido, eis que presentes os seus requisitos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade. A hipótese é de embargos à execução, nos quais o embargante alega a ausência de título executivo extrajudicial hábil a embasar a pretensão da embargada, já que teria vindo aos autos apenas uma cópia de um contrato genérico, sem qualquer assinatura, nem das partes, nem de testemunhas. A apelante insiste, neste recurso, que o contrato de mútuo firmado entre as partes é eletrônico e foi assinado digitalmente, e que a autoridade certificadora atuou no momento da contratação, certificando a veracidade da assinatura digital das partes envolvidas. É sabido que o Eg. STJ, em julgados recentes, tem entendido pela validade de contrato de mútuo firmado eletronicamente, desde que atendidos certos requisitos. Confira-se. RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. EXECUTIVIDADE DE CONTRATO ELETRÔNICO DE MÚTUO ASSINADO DIGITALMENTE (CRIPTOGRAFIA ASSIMÉTRICA) EM CONFORMIDADE COM A INFRAESTRUTURA DE CHAVES PÚBLICAS BRASILEIRA. TAXATIVIDADE DOS TÍTULOS EXECUTIVOS. POSSIBILIDADE, EM FACE DAS PECULIARIDADES DA CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO, DE SER EXCEPCIONADO O DISPOSTO NO ART. 585, INCISO II, DO CPC/73 (ART. 784, INCISO III, DO CPC/2015). QUANDO A EXISTÊNCIA E A HIGIDEZ DO NEGÓCIO PUDEREM SER VERIFICADAS DE OUTRAS FORMAS, QUE NÃO MEDIANTE TESTEMUNHAS, RECONHECENDO-SE EXECUTIVIDADE AO CONTRATO ELETRÔNICO. PRECEDENTES. 1. Controvérsia acerca da condição de título executivo extrajudicial de contrato eletrônico de mútuo celebrado sem a assinatura de duas testemunhas. 2. O rol de títulos executivos extrajudiciais, previsto na legislação federal em "numerus clausus", deve ser interpretado restritivamente, em conformidade com a orientação tranquila da jurisprudência desta Corte Superior. 3. Possibilidade, no entanto, de excepcional reconhecimento da executividade de determinados títulos (contratos eletrônicos) Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro Décima Quinta Câmara Cível Apelação Cível nº. 0013705-96.2019.8.19.0001 Secretaria da Décima Quinta Câmara Cível Rua Dom Manuel, 37, 3º andar – Sala 336 - Lâmina III Centro – Rio de Janeiro/RJ – CEP 20010-090 Tel.: + 55 21 3133-6015 – E-mail: 15cciv@tjrj.jus.br (A) Página 4 de 6 quando atendidos especiais requisitos, em face da nova realidade comercial com o intenso intercâmbio de bens e serviços em sedevirtual. 4. Nem o Código Civil, nem o Código de Processo Civil, inclusive o de 2015, mostraram-se permeáveis à realidade negocial vigente e, especialmente, à revolução tecnológica que tem sido vivida no que toca aos modernos meios de celebração de negócios, que deixaram de se servir unicamente do papel, passando a se consubstanciar em meio eletrônico. 5. A assinatura digital de contrato eletrônico tem a vocação de certificar, através de terceiro desinteressado (autoridade certificadora), que determinado usuário de certa assinatura a utilizara e, assim, está efetivamente a firmar o documento eletrônico e a garantir serem os mesmos os dados do documento assinado que estão a ser sigilosamente enviados. 6. Em face destes novos instrumentos de verificação de autenticidade e presencialidade do contratante, possível o reconhecimento da executividade dos contratos eletrônicos. 7. Caso concreto em que o executado sequer fora citado para responder a execução, oportunidade em que poderá suscitar a defesa que entenda pertinente, inclusive acerca da regularidade formal do documento eletrônico, seja em exceção de pré- executividade, seja em sede de embargos à execução. 8. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. (REsp 1495920/DF, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/05/2018, DJe 07/06/2018) – grifou-se Para que haja executividade dos contratos eletrônicos, contudo, é necessário, no mínimo, que o respectivo instrumento esteja assinado eletronicamente, e, claro, que haja a certificação digital. Ocorre que o documento juntado aos autos pela apelante como título executivo é apenas uma cópia xerox de um contrato padrão, preenchido com os dados do embargante e informações do empréstimo, mas não há qualquer assinatura digital aposta nele, nem das partes, nem de testemunhas. O único documento que acompanha o contrato e que teria sido enviado pela COMPROVA.COM ao embargante por e-mail não dá garantia de que foi feito o empréstimo, como ali foi expressamente consignado. Veja-se: Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro Décima Quinta Câmara Cível Apelação Cível nº. 0013705-96.2019.8.19.0001 Secretaria da Décima Quinta Câmara Cível Rua Dom Manuel, 37, 3º andar – Sala 336 - Lâmina III Centro – Rio de Janeiro/RJ – CEP 20010-090 Tel.: + 55 21 3133-6015 – E-mail: 15cciv@tjrj.jus.br (A) Página 5 de 6 Como destacado na R. Sentença apelada: “(...) Na ação de execução em apenso não houve a juntada de qualquer título executivo extrajudicial, nos termos exigidos pelo art. 784 do CPC, capaz de amparar a procedimento expropriatório. Através de uma simples verificação nos documentos que acompanham a inicial é possível ver que o embargado juntou cópias de documentos por ele produzidos sem qualquer assinatura seja de seus representantes, seja do ora embargante, seja ainda de qualquer testemunha. Existe uma menção no contrato (fls.35) no sentido de que o mesmo teria sido celebrado pela internet. Se assim o foi deverá o credor buscar as vias próprias para provar a efetiva contratação, que não será feito através da execução, ação que exige a dívida líquida, certa e exigível.” – grifou-se Nessa esteira, uma vez inexistente título executivo, correta se mostra a R. Sentença apelada, que, pois, não merece qualquer reparo. Diante do exposto, o voto é no sentido de NEGAR PROVIMENTO ao recurso. Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro Décima Quinta Câmara Cível Apelação Cível nº. 0013705-96.2019.8.19.0001 Secretaria da Décima Quinta Câmara Cível Rua Dom Manuel, 37, 3º andar – Sala 336 - Lâmina III Centro – Rio de Janeiro/RJ – CEP 20010-090 Tel.: + 55 21 3133-6015 – E-mail: 15cciv@tjrj.jus.br (A) Página 6 de 6 Em cumprimento ao que determina o artigo 85, §11, do CPC1, majora-se a verba honorária antes fixada para 12% (doze por cento) sobre o valor da execução, o que se afigura razoável diante do trabalho despendido pelo advogado do apelado na fase recursal. Rio de Janeiro, 16 de junho de 2020. Desembargador GILBERTO MATOS Relator 1 Art. 85. (...) § 11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em grau recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos §§ 2º a 6º, sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao advogado do vencedor, ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos §§ 2º e 3º para a fase de conhecimento. 2020-06-17T16:40:58-0300 GAB. DES GILBERTO CLOVIS FARIAS MATOS