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2011 Contabilidade GerenCial Prof. Luciano Fernandes Copyright © UNIASSELVI 2011 Elaboração: Prof. Luciano Fernandes Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 657.48 F363c Fernandes, Luciano Contabilidade gerencial / Luciano Fernandes. Indaial : Uniasselvi, 2011. 240 p. : il. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-468-3 1. Contabilidade gerencial I. Centro Universitário Leonardo da Vinci III apresentação Caro(a) acadêmico(a)! Apresentaremos, neste Caderno de Estudos, os aspectos mais relevantes relacionados à Contabilidade Gerencial. Trata-se de uma ramificação da ciência contábil que se materializa nas corporações através de suas ferramentas gerenciais, possibilitando aos gestores obterem informações úteis para suas decisões operacionais de investimento e de financiamento, agregando, desta maneira, valor para a empresa que se utiliza da contabilidade gerencial. O desafio então é compreender o funcionamento das ferramentas gerenciais que, alinhadas às necessidades das corporações, possibilitam melhorar seu desempenho econômico-financeiro com melhoria contínua em seus processos organizacionais. O contador gerencial ou controller é um profissional valorizado no mercado de trabalho e as ferramentas que serão estudadas neste Caderno de Estudos proporcionarão o conhecimento necessário para que você ingresse neste mercado. Espero que aproveitem ao máximo o desafio desta disciplina e bons estudos! Prof. Luciano Fernandes IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1: INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE GERENCIAL ............................................. 1 TÓPICO 1: ORIGEM DA CONTABILIDADE GERENCIAL .......................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 HISTÓRIA DA CONTABILIDADE .................................................................................................. 3 3 CONTABILIDADE GERENCIAL VERSUS CONTABILIDADE FINANCEIRA ..................... 7 4 PRINCIPAIS USUÁRIOS DAS INFORMAÇÕES GERENCIAIS ............................................. 10 5 CONTABILIDADE GERENCIAL E SUA RELAÇÃO COM AS ÁREAS DO CONHECIMENTO HUMANO ............................................................................................................. 11 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 14 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 15 TÓPICO 2: A CONTABILIDADE GERENCIAL E O AMBIENTE EMPRESARIAL .................. 17 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 17 2 ASPECTOS GERAIS DO SISTEMA-EMPRESA ............................................................................ 18 2.1 ENFOQUE SISTÊMICO OU VISÃO SISTÊMICA ....................................................................... 18 2.2 EMPRESA COMO SISTEMAS E SEUS SUBSISTEMAS ............................................................ 19 3 SISTEMA DE INFORMAÇÕES GERENCIAIS .............................................................................. 23 3.1 CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO .......................................................... 24 3.2 SISTEMA DE INFORMAÇÃO CONTÁBIL ................................................................................. 26 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 28 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 29 TÓPICO 3: TERMINOLOGIA DE CUSTOS ...................................................................................... 31 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 31 2 CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES.................................................................................................. 31 3 ELEMENTOS DE CUSTOS ................................................................................................................ 34 4 SISTEMA DE ACUMULAÇÃO DE CUSTOS ................................................................................. 34 4.1 SISTEMA DE ACUMULAÇÃO DE CUSTOS POR ORDEM DE PRODUÇÃO ..................... 35 4.1 SISTEMA DE ACUMULAÇÃO DE CUSTOS POR PROCESSO ............................................... 36 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 38 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 41 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 42 UNIDADE 2: A CONTABILIDADE GERENCIAL COMO FERRAMENTA DE GESTÃO ...... 45 TÓPICO 1: PLANEJAMENTO E CONTROLE .................................................................................. 47 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 47 2 PROCESSO DE PLANEJAMENTO .................................................................................................. 47 3 TIPOS DE PLANEJAMENTO ............................................................................................................ 48 3.1 PLANEJAMENTO ESTRAGÉGICO ............................................................................................. 48 3.2 PLANEJAMENTO TÁTICO ........................................................................................................... 50 3.3 PLANEJAMENTO OPERACIONAL ............................................................................................ 51 sumário VIII 3.3.1 Orçamento de vendas.............................................................................................................53 3.3.2 Orçamento de custos dos produtos vendidos .................................................................... 54 3.3.3 Orçamento de compras de materiais diretos ...................................................................... 56 3.3.4 Orçamento de mão de obra direta ........................................................................................ 57 3.3.5 Orçamento de custos indiretos de fabricação ..................................................................... 58 3.3.6 Orçamento de custos dos produtos vendidos .................................................................... 59 3.3.7 Orçamento de vendas e despesas administrativas ............................................................ 60 3.3.8 Orçamento de capital ............................................................................................................. 63 3.3.9 Orçamento de caixa ................................................................................................................ 63 3.3.10 Demonstrativo de resultado projetado .............................................................................. 64 3.3.11 Balanço patrimonial projetado............................................................................................ 64 4 RELAÇÃO PLANEJAMENTO E CONTROLE ................................................................................ 65 5 TIPOLOGIA, NATUREZA E FUNÇÃO DE CONTROLE ............................................................ 66 5.1 O CONTROLE GERENCIAL NAS ORGANIZAÇÕES .............................................................. 69 RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 71 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 72 TÓPICO 2: CONTABILIDADE POR RESPONSABILIDADE........................................................ 75 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 75 2 DIVISÕES DA CONTABILIDADE POR RESPONSABILIDADE ............................................. 75 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 82 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 83 TÓPICO 3: CUSTOS PARA CONTROLE ........................................................................................... 85 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 85 2 CUSTOS POR PRODUTO VERSUS CUSTOS POR DEPARTAMENTO .................................. 86 3 CUSTOS CONTROLÁVEIS E CUSTOS ESTIMADOS ................................................................ 90 4 CUSTO PADRÃO ................................................................................................................................. 94 4.1 CONCEITO ....................................................................................................................................... 94 4.2 FINALIDADES DO CUSTO PADRÃO ......................................................................................... 95 4.3 ELABORAÇÕES DO CUSTO PADRÃO: FIXANDO QUANTITADE E VALOR PADRÃO 96 4.3.1 Materiais diretos ..................................................................................................................... 97 4.3.2 Mão de obra direta.................................................................................................................. 97 4.3.3 Custo indireto de fabricação (CIF) ....................................................................................... 98 5 ANÁLISE DAS VARIAÇÕES DO DESEMPENHO ORÇAMENTÁRIO ................................100 5.1 ANÁLISES DAS VARIAÇÕES DE MATERIAIS DIRETOS .....................................................101 5.2 ANÁLISES DAS VARIAÇÕES DE MÃO DE OBRA DIRETA .................................................105 5.3 ANÁLISES DOS CUSTOS INDIRETOS DE FABRICAÇÃO ...................................................107 RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................... 108 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................109 TÓPICO 4: GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS ......................................................................111 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................111 2 CONCEITO DE GESTÃO ESTRATÉGICA DE CUSTOS ..........................................................111 3 CADEIA DE VALOR ..........................................................................................................................112 3.1 ESTRUTURA DA CADEIA DE VALORES ................................................................................116 3.2 EXPLORANDO OS ELOS COM FORNECEDORES E CLIENTES ........................................117 4 POSICIONAMENTO ESTRATÉGICO ..........................................................................................118 5 DIRECIONADORES DE CUSTOS .................................................................................................120 RESUMO DO TÓPICO 4...................................................................................................................... 122 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................123 IX TÓPICO 5: CUSTEIO DO CICLO DE VIDA TOTAL DO PRODUTO .......................................125 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................125 2 CICLO DE VIDA DO PRODUTO ...................................................................................................125 2.1 CICLO DE PESQUISA, DESENVOLVIMENTO E ENGENHARIA (PD&E) ........................128 2.2 CICLO DE FABRICAÇÃO ............................................................................................................130 2.3 CICLO DE SERVIÇOS DE PÓS-VENDA E DISTRIBUIÇÃO ..................................................130 3 CUSTO META .....................................................................................................................................131 4 CUSTO KAIZEN .................................................................................................................................134 RESUMO DO TÓPICO 5...................................................................................................................... 139 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................140 TÓPICO 6: CUSTOS DE QUALIDADE ............................................................................................141 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................141 2 CONTROLE DOS CUSTOS DA QUALIDADE ...........................................................................143 3 CUSTOS DE FALHAS OCORRIDAS NO CONTROLE DE QUALIDADE ...........................144 4 RELAÇÃO ENTRE OS CUSTOS DA QUALIDADE ...................................................................145 5 DETERMINANDO OS CUSTOS DA QUALIDADE ..................................................................146 RESUMO DO TÓPICO 6...................................................................................................................... 149 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................150TÓPICO 7: CUSTOS AMBIENTAIS ..................................................................................................153 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................153 2 CARACTERIZAÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL .....................................................................154 2.1 PROCESSO DE GESTÃO AMBIENTAL .....................................................................................155 3 SISTEMA DE INFORMAÇÃO CONTÁBIL AMBIENTAL ........................................................157 4 O SURGIMENTO DA CONTABILIDADE AMBIENTAL .........................................................158 5 DEFINIÇÃO DE DESPESAS E PERDAS AMBIENTAIS............................................................158 6 DEFINIÇÃO E EVIDENCIAÇÃO DOS CUSTOS AMBIENTAIS ............................................159 7 MENSURAÇÃO DE GASTOS DE NATUREZA AMBIENTAL ................................................160 RESUMO DO TÓPICO 7...................................................................................................................... 161 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................162 TÓPICO 8: INFORMAÇÕES ÚTEIS PARA DECISÃO .................................................................165 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................165 2 ARRENDAR OU VENDER ...............................................................................................................166 3 DESCONTINUAR SEGMENTO OU PRODUTO ........................................................................167 4 FABRICAR OU COMPRAR ..............................................................................................................168 5 SUBSTITUIR EQUIPAMENTO .......................................................................................................169 6 APLICAÇÕES DO CUSTO DE OPORTUNIDADE ....................................................................170 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................172 RESUMO DO TÓPICO 8...................................................................................................................... 174 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................175 UNIDADE 3: CUSTEIO BASEADO EM ATIVIDADES ................................................................177 TÓPICO 1: CONCEITO E FUNDAMENTAÇÃO DO MÉTODO ................................................179 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................179 2 FUNDAMENTOS E CONCEITOS ..................................................................................................180 3 DIRECIONADORES DE CUSTOS OU COST DRIVERS ...........................................................186 4 OBJETOS DE CUSTOS......................................................................................................................188 5 PASSOS PARA IMPLANTAR O MÉTODO ABC NAS EMPRESAS .......................................189 X 5.1 ETAPA 1 – IDENTIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES ...................................................................190 5.2 ETAPA 2 – ATRIBUIR CUSTOS A CADA ATIVIDADE ..........................................................191 5.3 ETAPA 3 – IDENTIFICAR OS OBJETOS DE CUSTOS .............................................................194 5.4 ETAPA 4 – ALOCAR CUSTOS DAS ATIVIDADES AOS OBJETOS ......................................195 6 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO MÉTODO ....................................................................197 RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................... 199 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................200 TÓPICO 2: APLICAÇÃO DO MÉTODO DE CUSTEIO ABC ......................................................203 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................203 2 EXEMPLO PRÁTICO .........................................................................................................................203 RESUMO DO TÓPICO 2...................................................................................................................... 216 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................217 TÓPICO 3: GESTÃO BASEADA EM ATIVIDADES (ABM) ........................................................219 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................219 2 PRINCÍPIOS BÁSICOS .....................................................................................................................220 3 VISÕES PROPORCIONADAS PELA GESTÃO BASEADA EM ATIVIDADES (ABM) .....221 4 PASSOS PARA IMPLANTAR ABM NAS EMPRESAS ..............................................................222 5 ATUANDO SOBRE OS OBJETOS DE CUSTOS .........................................................................228 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................230 RESUMO DO TÓPICO 3...................................................................................................................... 234 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................235 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 237 1 UNIDADE 1 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE GERENCIAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você será capaz de: • compreender como surgiu a contabilidade gerencial e compreender as principais diferenças da contabilidade financeira; • conhecer os objetivos, as finalidades e a interação da contabilidade geren- cial com os usuários da informação gerencial; • compreender os aspectos do ambiente empresarial que alimentam o siste- ma de informação gerencial; • compreender e identificar as terminologias de custos. Esta unidade está dividida em três tópicos. No primeiro você encontrará os aspectos que delinearam o surgimento da contabilidade gerencial e suas principais características. No segundo tópico relatamos o funcionamento das empresas sob um enfoque sistêmico, considerando suas inter-relações e interações sistêmicas no ambiente empresarial e como este alimenta o sistema de informação gerencial. No terceiro tópico faremos uma revisão conceitual de algumas terminologias de custos já estudadas em módulos anteriores. Em cada tópico você encontrará atividades que o(a) ajudarão a compreender os conteúdos apresentados. TÓPICO 1 – ORIGEM DA CONTABILIDADE GERENCIAL TÓPICO 2 – A CONTABILIDADE GERENCIAL E O AMBIENTE EMPRESARIAL TÓPICO 3 – TERMINOLOGIA DE CUSTOS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ORIGEM DA CONTABILIDADE GERENCIAL 1 INTRODUÇÃO Neste tópico iniciaremos nosso aprendizado abordando os fatores que motivaram o surgimento da contabilidade gerencial, ramo da ciência contábil que identifica quais são as principais diferenças, objetivos e finalidades, dos quais os usuários dependem. Trata-se de um instrumento que possibilita aos gestores tomarem decisões mais acertadas na condução dos seus negócios e, para isto, é necessário estudar todo o processohistórico e conceitual para entender a importância que as empresas estão dando à contabilidade gerencial. 2 HISTÓRIA DA CONTABILIDADE Para entender o surgimento da contabilidade gerencial e seu papel nas organizações precisamos, antes, compreender como a Contabilidade evoluiu como ciência. A contabilidade que hoje conhecemos, não se sabe exatamente quem a inventou e nem quando surgiu. Contudo, sabe-se que desde os tempos mais primitivos o homem sentia a necessidade controlar sua riqueza e de forma rudimentar controlava seu patrimônio. Com o passar dos séculos e com a evolução natural da civilização, surge a necessidade de um método que evidencie as transações comerciais atendendo a outros interessados, dessa forma, surge a figura do investidor. Considerado por muitos como “Pai” da Contabilidade, Luca Bartolomeo de Pacioli, que era matemático, em 1494 desenvolveu um capítulo em sua mais famosa obra destinada à Contabilidade na qual descreve o método de partidas dobradas. Johnson e Kaplan (1993) relatam que antes do início do século XIX, praticamente todas as transações de trocas eram realizadas entre o dono do empreendimento e os consumidores e, deste modo, não existiam níveis de gerência que administravam as organizações. Observamos então que as necessidades das informações contábeis das empresas daquela época eram direcionadas para o ambiente interno, pois não executavam atividades muito complexas. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE GERENCIAL 4 Atkinson et al. (2000, p. 38) afirmam que, “durante o século XIX, os sistemas contábeis das empresas foram desenhados para atender às tomadas de decisões e às necessidades de controle dos administradores”. Atkinson et al. (2000, p. 39), também pontuam que: a demanda pela informação gerencial contábil pode ser relacionada aos estágios iniciais da revolução industrial nas tecelagens, em fábricas de armas e em outras operações industriais. Os proprietários usavam tal informação gerencial contábil para dois propósitos diferentes: para controlar e melhorar a eficiência, para decisões de preço e de mix de produtos. A demanda desta informação decorre da revolução industrial que resultou no aumento da complexidade das atividades empresarias. A produção em larga escala exigiu a necessidade de contratar mais empregados para atender a demanda e, sozinho, com crescimento e descentralização das operações, o proprietário não tinha mais condições de administrar seus negócios. Surge, de maneira natural, a necessidade de verticalizar a empresa, ou seja, transferir funções antes sob o controle do proprietário para melhorar a eficiência das operações. Esse foi o principal motivo do surgimento da figura do gerente ou administrador. No século XX, mudanças no ambiente empresarial continuaram a ocorrer e a contabilidade gerencial cada vez mais se tornava uma importante ferramenta decisória. Atkinson et al. (2000, p. 51) afirmam “muitas inovações nos sistemas de contabilidade gerencial ocorreram nas décadas iniciais do século XX para apoiarem o crescimento de empresas multidivisionais diversificadas”. Conforme Grande (2008, p. 32): O desenvolvimento dos negócios foi marcado por diversas transformações que envolveram alterações no porte e na estrutura das organizações, na forma de condução dos negócios, no aumento do nível de produção e na necessidade de informações e controle, assim como mudanças nos sistemas operacionais. Consequentemente, essas transformações deram origem a novas práticas e técnicas gerenciais. Com o advento da globalização e a mudança da competitividade, as quebras de barreiras comerciais geraram concorrência mundial entre as empresas e fizeram com que a contabilidade financeira assumisse um papel regulatório voltado aos usuários externos (bancos, sindicatos, investidores, governo), enquanto a contabilidade gerencial assumiu papel de gestão voltado para os usuários internos (funcionários e administradores). Em 1998 a International Federation of Accountants (IFAC) divulgou um pronunciamento que foi denominado de International Management Accounting Practice 1 (IMAP 1) cujo documento descrevia sua estrutura conceitual em que definia seus objetivos e o campo de aplicação de sua atividade, organização que passou a ser conhecida como contabilidade gerencial. TÓPICO 1 | ORIGEM DA CONTABILIDADE GERENCIAL 5 O documento do IFAC (1998) abordava a evolução e as mudanças na contabilidade gerencial, com a definição de seu foco em relação aos seus estágios evolutivos, os artefatos utilizados e seu posicionamento na organização. Em relação ao foco, o IFAC identificou em seu documento que a contabilidade gerencial teve quatro estágios evolutivos conforme demonstrado na figura a seguir. FIGURA 1 – ESTÁGIOS EVOLUTIVOS DA CONTABILIDADE GERENCIAL FONTE: Adaptado de IMAP 1 (IFAC, 1998) Estágio 1 – Antes de 1950: foco na determinação de custos e controle financeiro, através do uso de orçamentos e tecnologias de contabilidade de custos. Estágio 2 – 1950-1965: foco no fornecimento de informações para o planejamento e controle gerencial, através do uso de tecnologias, tais como análise de decisão e contabilidade por responsabilidade. Estágio 3 – 1965-1985: atenção na redução de desperdício dos recursos utilizados nos processos da empresa, através do uso da análise de processos e tecnologias de gerenciamento de custos. Estágio 4 – 1985 até hoje: atenção na geração de valor através do uso efetivo de recursos, de tecnologias que examinam os direcionadores de valor para o cliente e para o acionista, e de inovação organizacional. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE GERENCIAL 6 IMPORTANT E Observe atentamente os estágios da contabilidade gerencial e perceba as mudanças de foco em cada estágio. Em relação aos estágios, fica evidente que a partir da década de 1950, a contabilidade gerencial assumiu um foco mais direcionado a custo, planejamento e controle. Contudo, nos tempos atuais o foco da contabilidade gerencial está voltado para criação de valor da empresa, através de ações no processo de gestão que possibilitem aumentar o valor da empresa para os acionistas. Os artefatos utilizados se materializavam na contabilidade gerencial com a finalidade de promover a eficiência das operações que foram dividas em quatros estágios, conforme o IMAP 1. • No primeiro estágio os artefatos mais utilizados tiveram como fator básico promover o controle nas organizações, dentre os quais, foram classificados: a) Custeio por Absorção. b) Custeio Variável. c) Controle financeiro e operacional. d) Orçamento Anual. • No chamado de segundo estágio, os artefatos mais utilizados foram motivados com a finalidade do planejamento gerencial, dentre os quais, foram classificados: e) Custo Padrão. f) Custo Baseado em Atividades (ABC). g) Método de Custeamento RKW. h) Orçamento de capital. i) Descentralização. • No terceiro estágio, os artefatos mais utilizados buscavam a redução de perdas no processo produtivo, dentre os quais foram classificados: j) Gestão Baseada em Atividades (ABM). k) Centros de responsabilidade. l) Preço de transferência. m) Custo Meta. n) Método de Custo Kaizen. o) Custeio do ciclo de vida. • No quarto estágio, os artefatos mais utilizados buscavam a geração e criação de valor para a empresa, dentre os quais foram classificados: p) Planejamento estratégico. q) Balanced Scorecard. r) Método de avaliação de desempenho: EVA, MVA. TÓPICO 1 | ORIGEM DA CONTABILIDADE GERENCIAL 7 Notoriamente, a partir da década de 1950, a evolução histórica da contabilidade gerencial e a utilização de artefatos possibilitaram aos gestores, no curso de suas ações, promover a sua relevância assumindo um posicionamento estratégico dentro da organização. Este posicionamento foi descrito pelo IFAC (1998) através do IMAP 1 nas quatro fases evolutivas da contabilidade gerencial da seguinte forma: Estágio 1 – até 1950: atividade técnica necessária para perseguir os objetivos organizacionais.Estágio 2 – de 1950 até 1965: atividade de gerenciamento, mas em um papel de apoio. Estágio 3 – de 1965 até 1985: parte integrante do processo de gestão. Estágio 4 – até 1985 aos dias atuais: parte integrante do processo de gestão. Podemos inferir que a contabilidade gerencial, como ramo da contabilidade, ultrapassa sua área de conhecimento, abrangendo e utilizando de técnicas e outras áreas do conhecimento, principalmente a partir do estágio 3, no qual passou a integrar o processo de gestão das empresas. UNI Caro(a) acadêmico(a)! Se você compreendeu toda a evolução histórica da contabilidade, agora é possível entender as diferenças entre a contabilidade financeira e a contabilidade gerencial. 3 CONTABILIDADE GERENCIAL VERSUS CONTABILIDADE FINANCEIRA Segundo Iudícibus (1998, p. 21), a contabilidade gerencial pode ser: [...] caracterizada superficialmente como um enfoque especial, conferido a várias técnicas e procedimentos contábeis já conhecidos e tratados na contabilidade financeira, na contabilidade de custos, na análise financeira de balanços etc., colocados numa perspectiva diferente, um grau de detalhe mais analítico ou numa forma de apresentação e classificação diferenciada, de maneira a auxiliar os gerentes das entidades em seu processo decisório. A contabilidade gerencial, num sentido mais profundo, está voltada única e exclusivamente para a administração da empresa, procurando suprir suas informações que se encaixam de maneira válida e efetiva no modelo decisório do administrador. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE GERENCIAL 8 Com esse conceito podemos inferir que suas características principais estão relacionadas ao seu tipo de usuário da informação, em que para atendê-los pode ter múltiplos objetivos, pois não há regras básicas ou princípios fundamentais da contabilidade a serem seguidos, é divisional, ou seja, busca informações segmentadas do negócio, leva em conta a questão temporal da informação que para ser útil e relevante tem de ser rápida e objetiva. Desta forma, a precisão da informação não é o ponto de maior relevância, contudo conforme Pizzolato (2000, p. 195), o objetivo para a contabilidade gerencial abrange “o auxílio no planejamento, na medição e avaliação da performance, na fixação de preços de venda e na análise de ações alternativas.” “Uma das principais diferenças da contabilidade gerencial em relação à contabilidade financeira é a liberdade na escolha de critérios contábeis, visto que aquela não é regulamentada como esta.” (GRANDE, 2008, p. 30-31). A contabilidade financeira deve fornecer informações baseadas em regras e normas governamentais e em conformidade com os princípios fundamentais da Contabilidade. Assim sendo, as informações devem ser objetivas e precisas, enquanto a contabilidade gerencial deve fornecer informação útil e relevante, sendo que os princípios fundamentais da Contabilidade podem ser ignorados sob o ponto de vista de gestão, entretanto a subjetividade e precisão são pontos fortes na contabilidade gerencial. Outra forte característica em que se diferenciam diz respeito à mensuração: a contabilidade financeira gera informações apenas financeiras e a contabilidade gerencial gera informações para uma mensuração física e econômica. (ATKINSON et al., 2000). A contabilidade financeira para Atkinson et al. (2000, p. 37) é definida como “Processo de elaboração de demonstrativos financeiros para propósitos externos: pessoal externo à organização, como acionistas, credores e autoridades governamentais”. Atkinson et al. (2000, p. 36), definem ainda contabilidade gerencial como “o processo de produzir informação operacional e financeira para funcionários e administradores. O processo deve ser direcionado pelas necessidades informacionais dos indivíduos internos da empresa e deve orientar suas decisões operacionais e de investimentos”. Observamos que o conceito proposto deixa evidente algumas diferenças entre a Contabilidade financeira e a gerencial como: (i) a definição do usuário da informação para a contabilidade financeira é externa e para a contabilidade gerencial é interna; (ii) a finalidade da contabilidade financeira é gerar informação através dos relatórios financeiros, enquanto a contabilidade gerencial busca suprir necessidades informacionais que apoiem decisões gerenciais. TÓPICO 1 | ORIGEM DA CONTABILIDADE GERENCIAL 9 Para melhor entendimento das diferenças entre a contabilidade gerencial e a contabilidade financeira são ilustradas no quadro a seguir. QUADRO 1 – CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DAS CONTABILIDADES FINANCEIRA E GERENCIAL CONTABILIDADE FINANCEIRA CONTABILIDADE GERENCIAL CLIENTELA Externa – acionistas, credores, autoridades tributárias. Interna – funcionários, administradores, executivos. PROPÓSITO Reportar o desempenho passado às partes externas; contratos com proprietários e credores. Informar decisões internas tomadas pelos funcionários e gerentes; feedback e controle sobre desempenho com proprietários e credores operacional; contratos. DATA Histórica, atrasada. Atual, orientada para o futuro. RESTRIÇÕES Regulamentada – dirigidas por regras e princípios fundamentais da contabilidade e por autoridades governamentais. Desregulamentada – sistemas e informações determinadas pela administração para satisfazer necessidades estratégicas e operacionais. TIPO DE INFORMAÇÃO Somente para mensuração financeira. Mensuração física e operacional dos processos, tecnologia, fornecedores e competidores. NATUREZA DA INFORMAÇÃO Objetiva, auditável, confiável, consistente, precisa. Mais subjetiva e sujeita a juízo de valor, válida, relevante, acurada. ESCOPO Muito agregada – reporta toda a empresa. Desagregada – informa as decisões e ações locais. FONTE: Adaptado de Atkinson et al. (2000, p. 38) Como podemos perceber a contabilidade financeira relata aos usuários externos interessados na informação, desempenhos passados ou históricos, segundo regras definidas, normas reguladoras do governo e as políticas contábeis, cuja informação de natureza financeira deve ser fidedigna e de visão global em relação aos eventos ocorridos que movimentaram o patrimônio da empresa. Contudo, na contabilidade gerencial, o enfoque da informação é destinado aos usuários internos que necessitam de informação útil para tomada de decisão dos gestores internamente, cuja informação deve ser física e operacional de todas as atividades da empresa. Mesmo que seja subjetiva é inegável que seja uma informação relevante e detalhada o suficiente, para apoiar ações e decisões sobre cada área que movimenta o patrimônio da empresa. Iudícibus (1998, p. 21) explica que a contabilidade gerencial se utiliza de técnicas e procedimentos contábeis que são conhecidos e tratados na contabilidade financeira e em outras áreas de conhecimento. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE GERENCIAL 10 Como os processos que envolvem esses dois ramos da contabilidade normalmente se fundem, ou seja, muitas vezes, a mesma informação serve para os dois usuários (internos e externos) precisamos entender onde termina a contabilidade financeira e onde começa a contabilidade gerencial. Conforme Iudícibus (1998, p. 22) relata, o ponto de ruptura é complexo de se identificar, contudo, alguns relatórios financeiros como o balanço patrimonial, demonstração de resultado do exercício podem ser considerados como o divisor de águas entre a contabilidade financeira e gerencial. Percebemos então que os relatórios financeiros servem tanto aos interesses sob o ponto de vista do atendimento aos usuários externos, para atender exigências legais, como também serve de ponto de partida para atender aos usuários internos quanto aos interesses voltados ao desempenho das operações da empresa. UNI Caro(a) acadêmico(a)! Se você compreendeu essas diferenças na contabilidade, parabéns! Prossiga com seus estudos, mas vá com calma, pois você ainda terá muito para estudar. 4 PRINCIPAIS USUÁRIOSDAS INFORMAÇÕES GERENCIAIS Já aprendemos que o objetivo básico da informação gerada pela contabilidade é auxiliar os seus interessados (clientes internos ou externos) na condução da melhor decisão a ser tomada. Horngren, Sundem, Stratton (2004, p. 4) definem que, em regra geral, os usuários da informação contábil se enquadram em três categorias: 1. Gestores internos que usam a informação contábil para o planejamento e controle, a curto prazo, de operações rotineiras; 2. Gestores internos que usam a informação para tomar decisões não rotineiras (por exemplo, investir em equipamentos, determinar o preço de produtos e serviços [...] e formular as políticas gerais e planos de longo prazo; 3. Usuários externos, tais como investidores e autoridades governamentais, que usam a informação para tomar decisões a respeito da empresa. TÓPICO 1 | ORIGEM DA CONTABILIDADE GERENCIAL 11 Na contabilidade gerencial os gestores internos que tomam decisões rotineiras ou não rotineiras podem demandar informações diferenciadas. Como exemplo, um gestor pode receber um relatório orçamentário, no qual comparando as informações com o planejamento, pode reportar ao seu superior os motivos das divergências encontradas. Entretanto, essas mesmas informações podem sinalizar a necessidade de novos investimentos, decisões de comprar ou fabricar, ou ainda, até mesmo, descontinuar um determinado produto. IMPORTANT E Lembre-se de que o objetivo básico da informação gerada pela contabilidade é auxiliar os seus interessados (clientes internos ou externos) na condução da melhor decisão a ser tomada. Uma vez entendido o foco de interesse da contabilidade gerencial enquanto produção da informação contábil, necessitamos compreender como esta se materializa como ramo da contabilidade a partir do relacionamento com as demais áreas do conhecimento. 5 CONTABILIDADE GERENCIAL E SUA RELAÇÃO COM AS ÁREAS DO CONHECIMENTO HUMANO Com o surgimento da escola italiana de contabilidade e a expansão do método de partidas dobradas do frei Luca Paccioli, a contabilidade começou a ter sua importância como ciência. Em fins do século XIX e o início do século XX aconteceram fatos que deram origem a um crescimento da Contabilidade, ou seja, o aprimoramento e aumento da complexidade das atividades operacionais, tanto na indústria quanto no comércio, favoreceu para o desenvolvimento da Contabilidade e, principalmente, de seus usuários que cada vez mais necessitavam de informações para tomada de decisão, com garantias de segurança aos seus investimentos. (FAVERO et al., 1997). À medida que foram aparecendo, como consequência da evolução dos tempos e das organizações, os outros “players”, da Contabilidade foram se transformando, aos poucos, de um engenhoso sistema de escrituração e demonstrações contábeis simplificadas, num complexo sistema de informação e avaliação, com características científicas, institucionais e sociais de grande relevo, tendo como objetivo central suprir a necessidade informacional de seus usuários internos e externos à entidade a que se refere. (IUDÍCIBUS; MARTINS e CARVALHO, 2005, p. 11). UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE GERENCIAL 12 Em essência, Iudícibus, Martins e Carvalho (2005, p. 13) pontuam que: [...] a Contabilidade, que nasceu para finalidade gerencial, mas sob a forma de Contabilidade Financeira, apresenta uma mutação e se transforma, mais tarde, em Contabilidade Gerencial, entre outras espécies derivadas. Na verdade, a essência da Contabilidade Financeira faz parte da genética inicial da Contabilidade Gerencial. Nas empresas, a complexidade das operações transformou a Contabilidade em um sofisticado sistema de informações e foi fundamental na dissociação entre a figura do proprietário e do gestor (gerente). As organizações passaram a ter administradores gerindo os negócios e as entradas de capitais. As empresas abriram oportunidades para investidores aplicarem seus recursos visando o retorno esperado. Com a necessidade desses gestores em promover a eficiência das operações nas empresas, o efeito natural foi evolução da Contabilidade, dividindo-a em ramos de conhecimento, como, por exemplo, além da contabilidade financeira e gerencial, a contabilidade de custos que, de acordo com Iudícibus (1998, p. 22), “todos os procedimentos contábeis e financeiros ligados a orçamento empresarial, a planejamento empresarial, a fornecimento de informes contábeis e financeiros para decisão entre cursos de ação alternativos recaem, sem sombra de dúvida, no campo da contabilidade gerencial”. Desta maneira, imaginamos que a contabilidade gerencial jamais poderia ter evoluído e agregado tantos artefatos (ferramentas gerenciais) se não tivesse estreitamente relacionada com outras áreas do conhecimento. A esse respeito Fragoso, Ribeiro Filho e Libonati (2006, p. 106) relatam que “a Contabilidade iniciou um processo de transformação, no qual necessitaria recorrer a outras áreas de conhecimento (afins ou não) para melhor atender seus objetivos”. IMPORTANT E Perceba que a contabilidade gerencial se relaciona com as diversas áreas do conhecimento humano e isto requer profundos conhecimentos técnicos e comportamentais do contador gerencial. TÓPICO 1 | ORIGEM DA CONTABILIDADE GERENCIAL 13 Portanto, a contabilidade gerencial em relação a sua afinidade com outras áreas do conhecimento humano deve ser compreendida como um conjunto de conhecimentos específicos de outros ramos da Contabilidade, ou mesmo de outras ciências que são utilizadas pela contabilidade gerencial que, sob o ponto de vista gerencial, auxiliará no processo de tomada de decisão. Como exemplo, temos: • Contabilidade Financeira: apesar de a contabilidade financeira ser direcionada para atender as exigências fiscais e a contabilidade gerencial ser direcionada para a gestão interna da empresa, ambas se utilizam de informações contábeis semelhantes para produzir informações úteis com o objetivo de atender seu público específico. • Contabilidade de Custos: inicialmente criada para atender os critérios de avaliação de estoques das empresas industriais, passou a exercer funções essenciais na contabilidade gerencial como auxiliar no controle e tomada de decisão, bem como gerar informações para formação de preços nas empresas. • Análise de Balanços: utiliza-se de técnicas matemáticas da análise de balanço para gerar informações de análise e tomada de decisão. • Economia: os conceitos econômicos geraram informações úteis quanto a eficiências das operações e maximização do lucro e afetam a contabilidade gerencial como conceito de utilidade, risco e determinação de valor em que podemos citar como exemplo as formas que definem o critério de depreciação dos ativos. • Administração: utiliza-se das informações da contabilidade para saber se os custos de capitais remuneram (lucro gerado) os investimentos realizados. • Estatística: os métodos estatísticos são essencialmente vitais para a contabilidade gerencial. Utiliza-se das técnicas estatísticas para gerar informações confiáveis, das simples, como, por exemplo: percentual, média, desvio padrão, às mais complexas, como: coeficiente de correlação, análise de regressão etc. • Ciências comportamentais: utilizam-se desta ciência para influenciar o comportamento das pessoas orientadas ao cumprimento dos objetivos organizacionais. • Ciências jurídicas: estão estreitamente ligadas aos diversos ramos do direito, pois as empresas têm suas atividades reguladas pelo Direito, como, por exemplo: o direito tributário no qual o Estado impõe uma contabilidade normativa. 14 Caro(a) acadêmico(a)! Neste tópico você pôde entender que: • A contabilidade gerencial surgiu de um processo evolutivo natural da contabilidade, influenciado pela evolução tecnológica e por mudanças comportamentais nas relações, no mercado internacional. • Desde o surgimento até a revolução industrial a contabilidade praticamente era puramente financeira, mas com a complexidadedas atividades empresariais, a separação da figura do proprietário e do administrador e com a crescente demanda de aporte de capital de investidores, surge a contabilidade de custos com a finalidade de suprir as necessidades de informações internas da empresa. • Na década de 1950, foram registradas mudanças mais específicas com foco no controle, planejamento, otimização de recursos até o momento de voltar- se para a criação de valor. Todo esse processo comportamental fez surgir a contabilidade gerencial. • A contabilidade gerencial tem como objetivo principal prover os usuários internos, ou seja, os gestores em seus níveis, operacional, tático ou gerencial e estratégico de informações úteis e relevantes para uma boa tomada de decisão. RESUMO DO TÓPICO 1 15 1 Assinale em cada alternativa “CG” quando corresponder à característica da contabilidade gerencial e “CF” quando corresponder a características da contabilidade financeira. AUTOATIVIDADE DESCRIÇÃO DA CARACTERÍSTICA RESPOSTA Clientela externa: acionistas, credores, autoridades tributárias. Tipo de informação mensuração física e operacional dos processos, tecnologia, fornecedores e competidores. Tem como propósito reportar o desempenho passado às partes externas; contratos com proprietários e credores. Quanto à sua natureza: mais subjetiva e sujeita a juízo de valor, válida, relevante, acurada. A data é histórica, atrasada. Tem como propósito informar decisões internas tomadas pelos funcionários e gerentes; feedback e controle sobre desempenho com proprietários e credores operacionais; contratos. Quanto ao escopo: muito agregada – reporta toda a empresa. Clientela interna – funcionários, administradores, executivos. A data é atual, orientada para o futuro. Quanto à sua natureza: objetiva, auditável, confiável, consistente, precisa. Quanto a restrições é desregulamentada – sistemas e informações determinadas pela administração para satisfazer necessidades estratégicas e operacionais. Quanto a restrições é regulamentada – dirigidas por regras e princípios fundamentais da contabilidade e por autoridades governamentais. Quanto ao escopo: desagregada – informa as decisões e ações locais. Tipo de informação somente para mensuração financeira. 2 Quem são os principais usuários da contabilidade gerencial? 3 Quais foram os estágios evolutivos da contabilidade gerencial segundo o International Federation of Accountants (IFAC)? 4 Cite três áreas do conhecimento humano em que a contabilidade está intimamente relacionada. 16 17 TÓPICO 2 A CONTABILIDADE GERENCIAL E O AMBIENTE EMPRESARIAL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Neste tópico serão abordados os conceitos do sistema-empresa e sua integração com o sistema de informações contábeis-gerenciais. Segundo Atkinson et al. (2000), os principais impactos que favoreceram a mudança do ambiente empresarial foram: a globalização e a desregulamentação da economia e a competitividade. De fato, o ambiente empresarial vem sofrendo muito rapidamente mudanças o que torna o conhecimento e as técnicas de gestão ultrapassados. O crescimento da concorrência gerou diversidade de produtos similares, aumento de qualidade e preços menores praticados. Com isso os gestores tiveram que aprender a melhorar a eficiência de suas operações. A própria desregulamentação da economia abriu as portas para as empresas que agora podem praticar preços mundialmente. Garrison e Noreen (2001, p. 6) explicam que “essa revolução está tendo profunda consequência na prática da contabilidade gerencial, [...]”. Primeiramente, porém, é necessário fazer uma apreciação das formas pelas quais as organizações estão se transformando, para se tornarem mais competitivas. “Desde o início da década de 1980, muitas companhias passaram por diversas ondas de programas de melhorias, começando com o just in time (JIT) e passando pela qualidade total (TQM – total quality management), pela reengenharia de processo e por diversos outros programas de gerenciamento.” (GARRISON; NOREEN, 2001, p. 6). A forma de organização empresarial é estruturada sob a forma de um grande sistema e subsistemas devidamente integrados e moldados para ajustarem- se às mudanças dentro da organização nos sistemas e subsistemas existentes na velocidade necessária o que, na economia atual, é um diferencial competitivo. UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE GERENCIAL 18 2 ASPECTOS GERAIS DO SISTEMA-EMPRESA A sobrevivência organizacional depende do relacionamento com o ambiente no qual a empresa está inserida e essa troca de informações, atividades e recursos constantes ocorrem através dos sistemas e subsistemas organizacionais. Criador da teoria de sistemas, o botânico alemão Bertalanffy (1975, p. 84) explica que “sistema pode ser definido como um complexo de elementos em interação”. Todo sistema capaz de interagir ou não com seu ambiente, denomina-se sistema aberto ou sistema fechado, respectivamente. Por exemplo: um relógio, que possui vários sistemas (componentes), cujo objetivo é marcar o tempo independente do que ocorra a sua volta, trata-se de um sistema fechado, pois não interage com seu ambiente. Do mesmo modo, Bio (1985, p. 18), em sua definição, esclarece que um: Sistema aberto pode ser compreendido como um conjunto de partes em constante interação (o que ressalta um dos aspectos fundamentais da ideia de sistemas: a independência das partes), construindo um todo orientado para determinados fins e em permanente relação de interdependência com o ambiente externo (ou seja, influenciando e sendo influenciado pelo ambiente externo). Pode-se entender que o sistema aberto está relacionado com as entradas em um sistema que após processadas devem gerar um produto de saída conforme figura a seguir: FIGURA 2 – CARACTERIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO BÁSICO DE UM SISTEMA FONTE: Padoveze (2003) 2.1 ENFOQUE SISTÊMICO OU VISÃO SISTÊMICA O enfoque sistêmico ou visão sistêmica pode ser compreendido, segundo Padoveze (2003), como “uma postura mental de ver as coisas partindo-se de uma visão holística, de um conjunto ou totalidade”. Assim, nestes termos trata-se de uma visão global sem obviamente perder o foco das interações ocorridas entre as partes e seus objetivos, contudo espera-se partir do todo para entender os objetivos gerais de um sistema. TÓPICO 2 | A CONTABILIDADE GERENCIAL E O AMBIENTE EMPRESARIAL 19 No contexto empresarial Bio (1985, p. 27) relata que “os conceitos de sistema proporcionam uma série de raciocínios que leva à compreensão da complexidade da empresa moderna como um todo”. 2.2 EMPRESA COMO SISTEMAS E SEUS SUBSISTEMAS FIGURA 3 – EMPRESA COMO UM SISTEMA ABERTO FONTE: Padoveze (2003) A Figura 3 representa o ambiente da empresa visto como um sistema aberto interagindo com diversas entidades que Catelli (1999) denominou de ambiente próximo e ambiente remoto. O ambiente próximo refere-se às entidades que, cuja proximidade, afetam diretamente o seu ambiente, como fornecedores e clientes. O ambiente remoto refere-se às entidades que direta ou indiretamente influenciam seu ambiente. Essa interação sistêmica decorre da utilização de recursos (físicos, humanos, materiais e financeiros) que são utilizados como entrada no sistema e seus processamentos resultam na saída de produtos ou serviços. Ambiente Remoto Ambiente Próximo Sociedade Política Recursos Naturais Clima Demografia Concorrentes Tecnologia Economia Legislação e tributos Educação Cultura Clientes Comunicação Sindicatos Acionistas Governo Comunidade Fornecedores Entradas SaídasProcessamento Materiais Equipamentos Energia Pessoas Informações Empresas Produtos Bens Serviços UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE GERENCIAL 20 FIGURA 4 – VISÃO SISTÊMICA DA EMPRESA FONTE: Catelli (1999, p. 39) A esse respeito um sistema aberto em uma empresa é caracterizado pela constante interação com seu ambiente, reagindo a todo momento de forma dinâmica, executandoatividades ou um conjunto de atividades que devem ser orientadas para atingir o objetivo fim proposto pelo sistema. Como exemplo podemos dizer que a empresa, ao executar a compra de matéria-prima, interage com seu ambiente buscando junto ao fornecedor satisfazer sua necessidade. A matéria-prima, por sua vez, ao chegar à empresa é estocada. Em um determinado momento, é requisitada pelo departamento de produção e depois de processada é estocada como produto acabado. A empresa interage num ambiente próximo com seu cliente e as atividades relacionadas à venda do produto são requisitadas. Neste momento o produto é vendido e os serviços de apoio (faturamento, tesouraria etc.) são acionados para que a mercadoria seja liberada para transporte. Observem como, nesse simples exemplo, podem-se utilizar diversas atividades interagindo dentro da empresa e fora dela, cada qual com sua finalidade específica para atingir um objetivo maior e comum que é o resultado econômico. Eficiência Continuidade Eficácia Comprometimento da missão Mercado Consumidor Valores econômicosValores econômicos Mercado Fornecedor Acionistas, concorrentes, governos, sindicatos, etc. Compra de recursos Serviços de Apoio Manutenção Estocagem de produto Estocagem de materiais Produção Finanças Transportes Venda de produtos Produtos e serviços Recursos materiais Recursos humanos Recursos financeiros Recursos de informação Recursos tecnológicos Resultado econômico TÓPICO 2 | A CONTABILIDADE GERENCIAL E O AMBIENTE EMPRESARIAL 21 Também é possível observar que em alguns sistemas as atividades são realizadas com a finalidade de produzir um produto ou serviço. Contudo, existem sistemas com atividades internas com a finalidade de dar o suporte necessário para que as atividades primárias atinjam seu propósito e, desse modo, atinjam o objetivo maior. Assim, é importante que exista sincronia entre os sistemas interagentes que se utilizam de recursos, que são escassos e devem ser usados com eficiência na elaboração dos produtos para que atinjam o resultado econômico proposto com eficácia, garantindo a sobrevivência da organização e de sua cadeia de valor. IMPORTANT E Caro(a) acadêmico(a)! É importante saber diferenciar eficácia de eficiência. Segundo Padoveze (2003) “a eficácia ocorre quando os objetivos preestabelecidos são atingidos como resultado da atividade ou do esforço; eficiência é a relação existente entre o resultado obtido e os recursos consumidos para conseguir esse resultado”. O funcionamento de um modelo, segundo Catelli (1999), para o sistema- empresa pode ser visualizado na figura a seguir: FIGURA 5 – VISÃO SISTÊMICA DA EMPRESA, SUBSISTEMAS E EFICIÊNCIA FONTE: Padoveze (2003) Subsistema institucional Modelo de gestão Processo de gestão Subsistema formal Subsistema Físico-operacional Recursos Subsistema social Produtos e serviços Subsistema de informação Produção Processamento UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE GERENCIAL 22 Observe que o sistema-empresa se divide em seis subsistemas, sendo: • Subsistema Institucional: compreende o conjunto de crenças e valores que orientam os demais subsistemas. Formaliza os aspectos de como a empresa deve ser administrada tais como nível de participação das pessoas, grau de independência dos gestores, filosofia gerencial, como se reage à avaliação e desempenho etc. • Subsistema de Gestão: é neste subsistema em que as decisões são tomadas com base sustentada pelo subsistema de informação, ou seja, orienta o processo de gestão quanto ao planejamento, execução e controle das atividades da empresa com foco na eficácia e eficiência dos resultados econômicos. • Subsistema Formal: nesse subsistema formalizam-se a estrutura organizacional da empresa, políticas, grau de descentralização das decisões, níveis de autoridade e responsabilidade. • Subsistema de Informação: esse subsistema é o responsável por suprir os demais subsistemas com informações e alimentar o processo de gestão. Catelli (1999, p. 56-57) explica que “é constituído de atividades de obtenção, processamento e geração de informações necessárias à execução e controle das atividades empresariais, para que a empresa alcance seus propósitos. Requer um conhecimento adequado da realidade, obtido por meio das informações geradas pelo subsistema de informação”. • Subsistema Social: caracteriza os comportamentos necessários para que se atinjam os propósitos da empresa. Esse subsistema é responsável pelas competências humanas e técnicas dos indivíduos. As competências humanas, como liderança e motivação, são responsáveis pelo desempenho da empresa enquanto as competências técnicas determinam a qualidade das decisões e por necessitam de capacitação. • Subsistema Físico-operacional: representa os elementos físicos utilizados pelas pessoas da organização nas operações realizadas em suas atividades para gerar o produto ou serviço. É importante compreender que esse sistema é composto apenas elementos físicos como veículos, máquinas e equipamentos, instalações, estoques etc. O modelo de gestão reflete e integra o subsistema institucional e representa o conjunto de normas, princípios e regras que regem o comportamento dos demais subsistemas orientando todo o processo administrativo da organização para o cumprimento da missão. De certo modo, toda empresa tem um modelo de gestão que pode ser formal ou não, o fato é que a empresa é orientada por este padrão comportamento. TÓPICO 2 | A CONTABILIDADE GERENCIAL E O AMBIENTE EMPRESARIAL 23 O processo de gestão é o alicerce principal que sustenta o sistema- empresa, pois se baseia no modelo de gestão para tomar decisões, assegurando o cumprimento da missão. Conforme Catelli (1999, p. 58-59), o processo de gestão deve (i) possibilitar identificar, avaliar e selecionar a melhor alternativa; (ii) permear as atividades empresariais através das fases de planejamento, execução e controle; (iii) ser adequadamente suportado pelo sistema de informações que possibilitam a tomada de decisão nessas fases. Neste contexto, a contabilidade gerencial como ferramenta decisória para o gestor, depende muito da qualidade da informação gerada. Abordaremos a seguir com mais ênfase o sistema de informação e a sua importância para a contabilidade gerencial. 3 SISTEMA DE INFORMAÇÕES GERENCIAIS Primeiramente precisamos compreender os conceitos básicos, que diferenciam dado e informação, dentro do sistema de informação. Conforme Schmidt e Santos (2002, p. 80), dado pode ser compreendido como “um elemento em estado bruto, primário e isolado, que não tem um significado para gerar uma ação”. Por exemplo, o saldo da conta estoque é um dado isolado e, sem nenhum tratamento, não indica nada que possa ser usado como decisão. Informação é um dado trabalhado e processado dentro das especificações exigidas pelos usuários, com significado próprio e relevante, utilizada para gerar uma ação derivada do processo de tomada de decisão. Por exemplo, o custo das mercadorias vendidas, juntamente com o valor dos estoques, pode fornecer informações valiosas acerca das movimentações dos estoques da empresa, possibilitando assim uma tomada de decisão com base nessas informações. Em termos gerais o dado é o elemento básico, que analisado isoladamente, não traz utilidade no processo decisório, contudo a informação é o resultado do processamento dos dados, que após compilados, agregam valor para tomada de decisão. A seguir demonstramos graficamente o funcionamento do sistema de informação. FIGURA 6 – MODELO DE SISTEMA DE INFORMAÇÃO FONTE: Scmidt (2002, p. 81) Dados Sistema deinformações Informação Banco de Dados UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE GERENCIAL 24 O gestor de uma empresa somente poderá tomar uma decisão se tiver munido de sua principal matéria-prima, a informação. Contudo, a qualidade dessa informação poderá influenciar no tipo de decisão em que tomará. Por exemplo, de posse de um relatório dos níveis deestoques o gestor poderá decidir se há necessidade ou não de comprar mais matéria-prima, contudo a qualidade de sua decisão dependerá do momento em que o relatório foi gerado. A questão temporal é importante, pois quanto mais lenta a informação menor a sua qualidade para tomada de decisão. Para que uma informação tenha qualidade deve seguir alguns critérios seletivos. Aqui, como estamos tratando de informação de caráter gerencial, deve- se levar em consideração que sua qualidade deve compreender uma informação confiável, entregue em tempo hábil, que tenha relevância no contexto decisório e que possibilite a comparabilidade. Conforme CRC-SP (1993, p. 23), a informação quanto a sua utilidade pode se classificar em: a) Informação operacional, destinada as operações normais e rotineiras da empresa, como, por exemplo, quantidade de horas faltas para registro na folha de pagamento. b) Informação legal, com vistas para atender as exigências do governo, que também pode ser útil para a gestão, mas é obrigatória para fins legais, como, por exemplo, salários pagos durante um determinado período que são informados na RAIS (relatório anual de informações de sociais). c) Informação gerencial, destinada para tomada de decisão. Trata-se de informação e necessita de refinamento para se adequar aos objetivos a que se propõe. Deve ser sintética, mas de grande valor agregado, como, por exemplo, crescimento do volume de vendas por linha de produção ou unidade de negócio ou comparativos dos gastos orçados com os gastos incorrido. De maneira geral, as informações se destinam a três níveis básicos de usuários, sendo: (i) nível da alta administração, composto pela cúpula decisória, (ii) nível intermediário, normalmente ligado às funções de gerência que necessitam de informações mais detalhadas que o nível de alta administração; (iii) nível operacional, que lida com as informações básicas e rotineiras da empresa, como, por exemplo, registrar operações ou comprar materiais etc. 3.1 CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO Nas organizações, classificam-se três níveis de informação: estratégico, tático ou gerencial e operacional, conforme se observa na figura a seguir. TÓPICO 2 | A CONTABILIDADE GERENCIAL E O AMBIENTE EMPRESARIAL 25 FIGURA 7 – LOCALIZAÇÃO DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÕES EM RELAÇÃO À HIERARQUIA DAS INFORMAÇÕES FONTE: Schmidt e Santos (2002, p. 83) Cada um desses níveis de informação é suportado por um sistema de informação que está relacionado com o processo decisório. As decisões ocorrem em função da sua natureza, por conseguinte, de acordo com o que pontuam Schmitd e Santos (2002), podem ser classificadas como: a) Sistemas de informações operacionais: nesse sistema são processadas as transações que ocorrem paralelas aos fluxos físicos. As maiorias das informações estão direcionadas para o sistema de informação operacional devido ao grande número de informações como sistema de folha de pagamento, custos, faturamento, estoques, compras etc. A finalidade principal deste sistema é automatizar as atividades burocráticas e repetitivas fornecendo informações para o nível gerencial. b) Sistemas de informações gerenciais: nesse sistema são processadas as informações gerenciais direcionadas para as atividades gerenciais auxiliando no processo de tomada de decisão, identificando e corrigindo problemas. Também auxilia no planejamento e controle em nível gerencial. Os usuários desse sistema estão no nível intermediário, são os gerentes que podem receber e alimentar informações, nos sistemas de informações operacional e estratégico. c) Sistemas de informações estratégicas: nesses sistemas são processadas informações em nível macro que possibilitam tomar decisões acerca de fatos do ambiente interno e externo à empresa e informações estratégicas no sentido de melhorar a eficiência e eficácia da empresa no mercado em que atua. Estratégico Tático ou Gerencial Sistema de informações gerenciais Sistema de informação executiva Sistema de apoio à decisão Sistema de apoio as transaçõesOperacional UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE GERENCIAL 26 3.2 SISTEMA DE INFORMAÇÃO CONTÁBIL O sistema de informação contábil pode ser entendido como o resultado das extrações de dados do sistema contábil para alimentar o processo de gestão da empresa. Padoveze (2003) explica que um sistema de informação contábil tem como objetivos: a) Prover informações monetárias e não monetárias, destinadas as atividades e decisões dos níveis operacional, tático e estratégico da empresa e também para os usuários externos a ela; b) Constituir-se na peça fundamental do sistema de informação gerencial da empresa. Em outras palavras, o objetivo principal do sistema de informação contábil é gerar informações úteis aos seus usuários para tomada de decisão. Da mesma maneira que os demais sistemas dentro do sistema empresa, o sistema de informação contábil necessita de entrada de recursos que serão processados e transformados em informação útil para a tomada de decisão. Podem ser recursos humanos (contadores) com conhecimento gerencial, software contábil para gerar as informações adequadas aos usuários e ainda recursos como equipamentos de informática, energia, materiais, instalações etc. Como resultado de saída do sistema de informações contábeis, que atenda ao seu objetivo-fim que é atender a todos os seus usuários, podem ser geradas, segundo Padoveze (2003), saídas deste sistema: a) sob forma de relatórios contábeis; b) sob forma de análises contábeis; c) sob forma de informação eletrônica integrada para os usuários específicos; d) sob forma de informação para qualquer usuário da empresa; e) sob forma de interfaces contábeis com outros sistemas de informação dentro da empresa; f) sob a forma oral, como consultoria, assessoria, ou apresentação formal para os diversos níveis gerenciais da empresa; g) sob a forma oral ou de apresentação organizada para usuários externos à empresa (bolsas de valores, analistas de investimentos etc.); h) sob a forma de palestras e treinamentos para usuários internos e externos etc. TÓPICO 2 | A CONTABILIDADE GERENCIAL E O AMBIENTE EMPRESARIAL 27 São subsistemas que compõem o sistema de informação contábil, segundo Crepaldi (2004, p. 28): ● subsistema contabilidade financeira; ● subsistema contabilidade gerencial; ● subsistema contabilidade em outras moedas; ● subsistema custos e orçamento; ● subsistema contabilidade por unidades de negócios; ● subsistema gestão de impostos; ● subsistema análise financeira e de balanço; ● subsistema gestão de tesouraria; ● subsistema de controladoria. Desta maneira, podemos inferir que o grande sistema de informação dentro da organização é sem dúvida o sistema de informações contábeis, responsável pelo processamento das informações de mensuração financeira e não financeira, com objetivo de prover seus usuários com informação de qualidade para uma boa tomada de decisão. 28 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico vimos que: • Existem pressões internas e externas influenciadas por essas relações comportamentais e que por isso os processos organizacionais estão em constante movimentação interagindo com o ambiente da empresa, remetendo a ideia de sistemas interagentes, funcionando cada qual com seu objetivo, porém para atingir um objetivo maior para organização. • Nesta linha de raciocínio, segundo a teoria de sistemas, a organização pode ser considerada como um organismo vivo, composto de partes de sistemas interagentes e interdependentes que reagem a todo instante às mudanças do ambiente interno e do ambiente externo, que pode ser ambiente próximo ou remoto. • Uma empresa é considerada um sistema aberto, pois interage com seu ambiente, ou seja, está em constante interação no mercado em que está inserida (clientes, fornecedores, governo etc.). Pode ser denominada de sistema-empresa, pois faz parte de um sistema maior cujas partes, por sua vez, por sistemas e subsistemas. Sãoeles os subsistemas institucionais, gestão, informação, social, formal e físico-operacional. • Toda empresa possui um modelo de gestão em que são definidas as crenças, a missão, normalmente definida pelo seu fundador, que orienta o padrão de comportamento. No processo de gestão são aplicadas as regras de comportamento definidas no modelo de gestão, ou seja, define-se o estilo gerencial da organização, estabelecendo seus limites de autoridade e responsabilidade. • O sistema de informação contábil é talvez o mais importante de todos, pois alimenta o processo de gestão da empresa, cuja saída do processamento de informações resulta em relatórios, analises e integrações com os demais sistemas do sistema-empresa. 29 1 Sabe-se que todo sistema capaz de interagir com seu ambiente denomina-se sistema aberto, enquanto um que não consegue interagir com seu ambiente denomina-se sistema fechado. Sobre o sistema aberto, classifique as seguintes sentenças em V verdadeiras ou F falsas: a) ( ) O corpo humano. b) ( ) Um relógio de parede. c) ( ) Um livro sobre a mesa. d) ( ) Uma empresa de serviços. e) ( ) O departamento de marketing. 2 Segundo a teoria de sistema e conforme Bio (1985), o que é um sistema aberto? 3 Cite pelo menos cinco entidades inseridas no ambiente próximo e cinco entidades inseridas no ambiente remoto. 4 Quais são os subsistemas que compõe o sistema-empresa? 5 Quais os critérios seletivos que uma empresa precisa ter para que tenha qualidade de informação? 6 As informações nas organizações estão classificadas em três níveis: a) ( ) Estratégico, fluxo de caixa e operacional. b) ( ) Orçamentário, tático ou gerencial e administrativo. c) ( ) Estratégico, tático ou gerencial e operacional. d) ( ) Econômico, financeiro e estratégico. 7 A Contabilidade que hoje conhecemos, segundo Iudicibus, Martins e Carvalho (2005), teve sua origem como Contabilidade Gerencial, mas sob a forma de Contabilidade Financeira. Sob essa ótica, a Contabilidade Financeira, em essência, faz parte da genética da Contabilidade Gerencial. Sendo assim, classifique as seguintes sentenças em V verdadeiras ou F falsas: ( ) A sofisticação das informações contábeis foi fundamental para dissociação da figura do proprietário da figura do administrador (gestor) nas organizações. ( ) Uma diferença reside no fato de que a Contabilidade Financeira, em relação à Gerencial, possui uma natureza de informações pouco abrangente e sujeita a juízo de valor, por se constituir em informações física e operacional. AUTOATIVIDADE 30 ( ) A Contabilidade Gerencial está voltada para a clientela externa, portanto, é dirigida por regras e princípios contábeis e por uma regulamentação normativa das autoridades governamentais. ( ) A profissionalização da gestão das organizações e a necessidade de expansão possibilitaram a oportunidade de investidores aplicarem seu recursos com o objetivo de retorno do investimento. Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V - F - F - V. b) ( ) V - V - F - F. c) ( ) F - V - V - F. d) ( ) F - F - V - V. 8 Para que uma informação tenha utilidade, alguns critérios devem ser considerados para efeito de qualificação. Uma informação de caráter gerencial deve ser confiável, comparável, entregue em tempo hábil e relevante para decisão. O Conselho Federal do Estado de São Paulo – CRC- SP (1993) descreve a utilidade da informação sob três dimensões. Sobre isso, associe os itens, utilizando o código a seguir: I– Informação Operacional. II– Informação Legal. III– Informação Gerencial. ( ) Informações sobre apontamento da quantidade de horas faltantes para registro na folha de pagamento. ( ) Informações referentes ao crescimento das vendas comparativas ao ano anterior por unidade de negócios/filiais e linhas de produtos. ( ) Informações da declaração da RAIS – Relatório Anual de Informações Sociais – relativas às informações do trabalho de empregados da empresa. Agora, assinale a alternativa que representa a sequência CORRETA: a) ( ) I – III – II. b) ( ) III – I – II. c) ( ) II – I – III. d) ( ) I – II – III. 31 TÓPICO 3 TERMINOLOGIA DE CUSTOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A contabilidade de custos por muito tempo se confundiu com a contabilidade financeira e também com a contabilidade gerencial, mas, nos tópicos anteriores, aprendemos que a evolução natural trouxe maturidade a cada um desses ramos da contabilidade. Todavia, a contabilidade de custos, nos dias atuais, através de informações para prover o custo dos produtos com base legal para fins de tributação dos impostos sobre o lucro, serve para a contabilidade financeira como também à contabilidade gerencial com informações úteis para tomada de decisão dos gestores internos. Neste tópico abordaremos algumas questões teóricas sobre a terminologia de custos, baseada apenas em revisões conceituais, sem nos alongarmos muito, visto que tal assunto já foi abordado no Caderno de Estudos Contabilidade de Custos (2009). 2 CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES A palavra custo possui significado muito abrangente e nos remete a ideia de alguma coisa sacrificada ou de difícil realização. Com a descentralização das funções do gestor-proprietário para o gestor-administrador, a necessidade de controles mais refinados fez com que a apuração de custos ganhasse importância, principalmente durante a revolução industrial. Conforme Martins (2006, p. 25), custo é o “gasto relativo a bem ou serviço utilizado na produção de outros bens ou serviços”, ou seja, o custo deve ser reconhecido no momento em que o gasto é requisitado para consumo no processo produtivo. Conceitualmente, precisamos entender o que é gasto, custo, despesa, investimento, perda ou desperdício. 32 UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE GERENCIAL FIGURA 8 – RESUMO DOS PRINCIPAIS CONCEITOS EM CUSTO FONTE: O autor Deste modo, uma aquisição feita pela empresa torna-se um gasto que poderá ser ativado e posteriormente, ao seu consumo, tornar-se um custo, para que depois de vendido transforme-se em despesa. A compra da matéria-prima é o exemplo mais clássico para entender o conceito. Através de sua compra a empresa detém um gasto, cuja finalidade será guardar no estoque e, portanto, registra-se no seu ativo (aplicação de recursos em estoque) até o momento de seu consumo efetivado para ser transformado em produto (custo) e fica em estoque de produtos acabados até o momento de sua venda, passa então a ser transferido para resultado do período. Fundamentalmente, a contabilidade de custos serve a contabilidade gerencial como provedor de coleta e fornecimento de informações para o processo decisório, no qual os gestores têm acesso a um sistema de informações relacionadas com as operações rotineiras e gerenciais (estabelecimento de padrões, orçamentos e previsões, eliminação de desperdícios nas atividades produtivas, determinação de custo dos insumos aplicados na produção) e até de natureza estratégica (maximização da capacidade de produção, análise da rentabilidade de um produto ou linha de produto, descontinuidade de um produto, fixação do preço de venda, comprar matéria-prima de terceiros ou fabricá-la na própria empresa, controle das atividades e processos), entre outras. TÓPICO 3 | TERMINOLOGIA DE CUSTOS 33 Contudo, não há de se negar que o objetivo primordial é a apuração do custo do produto ou serviço com a finalidade de determinar o lucro e controle das operações e possibilitar a tomada de decisão. Segundo Megliorini (2001, p. 4), “para que esses objetivos sejam atingidos, as empresas se valem dos métodos de custeio estruturados a fim de serem alimentados de informações coletadas internamente”. Os métodos de custeio mais conhecidos são: (i) Custeio por Absorção considera todos os custos (fixos ou variáveis) de produção em um determinado período e o confronto com as despesas – ocorre para se apurar o resultado; (ii) Custeio Direto ou Variável
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