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DA ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA

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DA ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA
Artigos 1.804 até 1.813 do CCB
1. Aceitação da herança. É ato pelo qual o herdeiro manifesta sua vontade de receber a herança que lhe é devolvida. Trata-se de uma confirmação em que o beneficiário revela sua intenção de acolher a sucessão que lhe é deferida. A herança se incorpora incontinenti e por força da lei ao patrimônio do herdeiro legítimo ou testamentário. Assim, a aceitação representa apenas um ato de vontade revelador da anuência do beneficiário em aceitar e receber a sucessão. É a previsão do artigo 1.804, caput, do CCB:
Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a abertura da sucessão. 
Se o herdeiro falecer antes de declarar se aceita a herança, o poder de aceitação passa aos seus herdeiros, a menos que ocorra uma condição suspensiva ainda não verificada. Artigo 1.809 do CCB. 
2. A herança e a aceitação no direito anterior (Antes do CCB de 1916) O sucessor tomava o lugar do de cujus em todas as suas relações jurídicas, quer em créditos, quer em débitos. Se o passivo excedesse o ativo, o herdeiro continuava responsável pelo remanescente. 
2.1. O benefício de inventário. No direito anterior, o herdeiro poderia aceitar a herança sob benefício de inventário, ou seja, a aceitação era condicional, somente tendo eficácia se o ativo superasse o passivo. A responsabilidade do sucessor ficava limitada ao montante da herança. Portanto, no Direito anterior, três alternativas eram abertas ao herdeiro:
a. Renúncia, com base nos riscos de um passivo maior que o ativo.
	
b. Aceitação, in totum.
	
c. Aceitação sob o benefício de inventário.
Ninguém pode ser herdeiro contra a sua vontade. Assim, a aceitação da herança continua um ato que depende da deliberação do beneficiário. O CCB de 1916 alterou o regime anterior para determinar que o herdeiro não responde além das forças da herança, mesma orientação do atual CCB. 
A aceitação ainda se reveste de interesse, porquanto ao aceitar a herança o herdeiro assume alguns ônus, entre eles o de pagar os legados, cumprir encargos etc. Contudo, ninguém pode ser herdeiro contra a sua vontade
2.2. Capacidade para aceitar a herança. O artigo 242, IV, do Código Civil Brasileiro de 1916 requeria a autorização do marido para a mulher casada aceitar ou repudiar a herança ou o legado. A Lei n.º 4.121, de 27 de agosto de 1962 aboliu essa exigência. A atual Constituição brasileira defere direitos e deveres na sociedade conjugal. Artigo 226, § 5º. O mesmo princípio é repetido no artigo 1.511 do CCB de 2002. 
3. Espécies de aceitação. De acordo com o artigo 1.805 do CCB, a aceitação pode ser expressa ou tácita. O artigo 1.807 contempla a aceitação presumida.
3.1. Aceitação expressa. É manifestada por escrito. Era mais comum no Direito anterior ao CCB de 1916. A aceitação implicava a responsabilidade por todo o passivo do morto.
3.2. A aceitação tácita. É a aceitação que prevalece. Resulta de atos compatíveis com o caráter dos herdeiros de quem os pratica. Artigo 1.805, Segunda parte, do CCB. (pagamento de advogado, anuência com a avaliação, promessa de vender bens do espólio etc.).
A lei declara que os atos de sentimentos ou de solidariedade humana não serão interpretados como aceitação tácita, como nos casos de funeral do morto, conservatórios, administração e guarda interina dos bens. CCB, artigo 1.805, § 1°. Não importam aceitação a cessão gratuita, pura e simples, da herança, aos demais co-herdeiros, porquanto o ato caracteriza renúncia. CCB, artigo 1.805, § 2º. 
3.3. Aceitação presumida. Está prevista no artigo 1.807 do CCB. A lei permite ao interessado (credor do herdeiro ou por se tratar de pessoa que será promovida à condição de sucessor, no caso de renúncia) notificar o sucessor silente, para que declare no prazo de trinta dias, se aceita ou recusa a herança. O silêncio é interpretado como aceitação.
É o conhecido prazo para deliberar, muito controvertido no direito anterior. No direito atual, apenas em raras hipóteses o herdeiro deixará de aceitar a herança.
4. Da aceitação parcial, condicional ou a termo. A herança é uma universalidade de direitos. Artigo 91 do CCB. O herdeiro que aceita a herança (universalidade de direitos), toma o lugar do de cujus em todas as relações jurídicas, sub-rogando-o em seus direitos e obrigações (Heres personam defuncti sustinet). 
Portanto, seria inadmissível a aceitação parcial da herança, onde o herdeiro fosse assumir apenas o ativo, repudiando o passivo. O herdeiro pode, no caso de ser sucessor simultâneo a dois títulos (título universal, como herdeiro, e a título singular, como legatário) escolher um ou outro, ou ambos. 
Não pode, contudo, aceitar parte da herança. Aparente exceção encontra-se no artigo 1.808, § 1º do CCB, que permite ao herdeiro renunciante aceitar legados e que confere ao legatário renunciante o direito de adir a herança. Nada impede que o beneficiário renuncie integralmente a uma sucessão, conservando outra. Ele renuncia a toda herança, aceitando o legado por inteiro, ou renuncia a todo legado, aceitando a herança por inteiro. Não pode aceitar parcialmente. É a regra do artigo 1.808, § 2º do CCB. 
O Herdeiro, chamado na mesma sucessão, a mais de um quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita a aos que renuncia. 
A aceitação deve ser pura e simples. Assim, o interesse das relações jurídicas não aconselha a aceitação da herança condicionada a uma condição ou termo. 
5. Da renúncia da herança. É um ato solene pelo qual uma pessoa, chamada à sucessão de outra, declara que não a aceita. Sílvio Rodrigues. É necessária ser pura e simples, sem condição ou termo.
Se o renunciante declara que deseja beneficiar um herdeiro mais do que os outros, não ocorre renúncia, mas aceitação com imediata e subseqüente transmissão. O filho que renuncia a herança do pai é considerado como se nunca tivesse sido herdeiro. Os netos serão chamados à sucessão, herdando diretamente do avô. Nesse caso, terão que recolher o Imposto de transmissão. 
Se o herdeiro filho renuncia à herança em favor dos filhos (netos do de cujus) ocorre dois atos jurídicos: uma aceitação com posterior transmissão. Nesse caso são pagos dois impostos. Um causa mortis e o outro do doador ao donatário. É a renúncia translativa ou imprópria. Na verdade não é renúncia, mas cessão de direitos. O filho do de cujus aceitou a herança e a transmitiu aos netos, por ato inter vivos. 
6. Forma da renúncia. É ato solene, dependendo de forma escrita, através de escritura pública ou de termos nos autos. Artigo 1.806 do CCB. A declaração é formulada perante o tabelião ou perante o juiz.
	
7. Liberdade para renunciar. A pessoa capaz pode renunciar a herança, podendo abrir mão de outros direitos. Contudo, a renúncia de pessoa capaz depende de consentimento do consorte. A sucessão aberta é classificada como um bem imóvel (artigo 80, II). O cônjuge não pode, sem o consentimento do outro, alienar bens imóveis (artigo 1.647, I), exceto, no regime da separação absoluta, artigo 1.647, caput, parte final, e 1.687 do CCB.
8. Restrição a liberdade de renunciar. De acordo com o artigo 1.813 do CCB, se a renúncia prejudicar seus credores, estes poderão, com autorização do juiz, aceitar a herança em nome do renunciante. A Habilitação deverá ocorrer no prazo de 30 dias seguintes ao conhecimento do fato. Artigo 1.813, § 1º do CCB. Contudo, efetuado o pagamento das dívidas do renunciante, a renúncia prevalece para os demais efeitos, sendo devolvida aos outros herdeiros. Artigo 1.813, § 2º do CCB. 
Ocorre a suspensão do ato renunciativo, para a cobrança dos créditos. Após o pagamento da dívida, a renúncia volta a prevalecer para o saldo remanescente (se houver) é repassado para os outros herdeiros. O sucesso dos credores não depende de má-fé do herdeiro renunciante. A eles basta provar a condição de credores e que o herdeiro renunciante não possua outros recursos para o implemento das obrigações.
Portanto,se o herdeiro renunciante tiver outros bens para pagar os débitos, sua liberdade para renunciar o seu quinhão hereditário não é limitada pelo artigo 1.803 do CCB.
9. Efeitos da renúncia. O principal é afastar o renunciante da herança, retroagindo ao momento da abertura da sucessão. Se o herdeiro renunciar a herança, a transmissão tem-se por não verificada. Artigo 1.804, parágrafo único do CCB. As principais conseqüências são: 
9.1. Na sucessão legítima o quinhão do renunciante acresce à dos outros herdeiros da mesma classe. Sendo o único, devolve-se aos herdeiros da classe subseqüente. Artigo 1.810 do CCB. Se o de cujus que deixou três filhos herdeiros, e se um desses renuncia, o seu quinhão é repassado aos outros dois. 
Com apenas um filho renunciante, sem descendência, o quinhão do herdeiro renunciante é devolvido aos ascendentes do falecido (pai, mãe, avô etc.), em concorrência com o cônjuge deste. Artigo 1.829, II do CCB. Na falta destes, ao seu cônjuge e assim por diante. Os efeitos da renúncia retroagem à data da abertura da sucessão, de tal forma que o renunciante é considerado como jamais tivesse sido herdeiro. 
0. Seus descendentes não podem representar o renunciante na sucessão do ascendente. O renunciante é considerado não ter sido jamais herdeiro. Assim, seus descendentes não herdam por representação, na sucessão que seu ascendente renunciou, conforme artigo 1.811, 1ª parte. do CCB. A morte do herdeiro (renunciante) antes da abertura da sucessão seria favorável para os seus herdeiros. Seus descendentes poderão vir a herdar por direito próprio e por cabeça se o renunciante for único de sua classe, ou se todos da mesma classe renunciarem. Artigo 1.811, 2ª parte do CCB. 
9.3.	Na sucessão testamentária a renúncia do herdeiro torna caduca a disposição que o beneficia. Não, se o testador indicou substituto (artigo 1.947 do CCB) ou ocorra a possibilidade de acrescer entre os herdeiros (artigo 1.943 do CCB).
10. Responsabilidade dos herdeiros. A responsabilidade do herdeiro não excede as forças da herança. No direito romano a responsabilidade era ilimitada e absoluta. Herdava o passivo e o ativo em sua totalidade.
11. Irrevogabilidade da renúncia e da aceitação. A renúncia é irretratável. É ato jurídico unilateral, operando-se retroativamente. De acordo com o CCB de 1.916, era retratável por vício de vontade, conforme artigo 1.590. (dolo, erro ou violência). Nesse caso não seria retratação, mas anulação por vício de consentimento. Artigo 147, II, do CCB.
O mesmo artigo 1.590 do CCB admitia a retratação da aceitação, desde que não prejudicasse os credores. Após a aceitação, ocorrendo o retrato, o desistente que já incorporou ao seu patrimônio o seu quinhão hereditário, transmite aos outros herdeiros os bens herdados. Se ocorrer duas transmissões, duas tributações deveriam ocorrer. A possibilidade de retratação da aceitação não permite tal entendimento e o conseqüente pagamento de dois impostos. 
O CCB de 2002, artigo 1.812, esclarece que são irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da herança, solução adotada em Portugal, artigo 2.061º e 2.066º
DA EXCLUSÃO POR INDIGNIDADE
ATOS PRATICADOS PELO HERDEIRO APARENTE
Artigos 1.814 até 1.818
1. Introdução. Dos excluídos da sucessão. Indignidade é a privação do direito, cominado por lei, a quem cometeu certos atos ofensivos à pessoa ou ao interesse do hereditando. O legislador cria uma sanção, que consiste na perda da herança, aplicável ao sucessor legítimo ou testamentário que praticou determinado ato de ingratidão. 
2. Diferenças com a deserdação. A deserdação é instituto exclusivo da sucessão testamentária. A indignidade atinge a sucessão legítima como a derivada de última vontade. Na deserdação o testador afasta de sua sucessão os seus herdeiros necessários (descendentes e ascendentes e o cônjuge). Na indignidade, são privados da herança os sucessores necessários, os legítimos e ainda os testamentários.
Contudo, são institutos paralelos, que remedeiam a mesma situação, ao afastar da sucessão o beneficiário ingrato. A quebra do dever de gratidão acarreta a perda da sucessão, nisso combinando a indignidade e a deserdação.
3. Diferença com a incapacidade para suceder. Incapacidade para suceder é a inaptidão de alguém para receber uma herança, por razões de ordem geral que independem de seu mérito ou demérito. A indignidade é a perda da herança como pena imposta ao sucessor capaz, em virtude de uma ação de ingratidão por ele praticado contra o de cujus. A indignidade supõe capacidade para suceder e se funda em motivos pessoais do indigno.
No direito anterior, a herança de que era privado o indigno se incorporava ao patrimônio da Coroa Portuguesa. Após a abolição da pena de confisco (Constituição do Império, artigo 179), a distinção perdeu sentido, pois quer ocorra indignidade, quer a incapacidade, a herança passará aos demais herdeiros legítimos do de cujus.
O novo CCB abandonou a expressão capacidade para suceder, adotando legitimação para suceder. O legislador contempla os casos de exclusão por indignidade de forma precisa e estrita, observados no artigo 1.814 do Código Civil Brasileiro.
		
4. Causas da exclusão da herança. Artigo 1.814 do CCB. Ficam excluídos da sucessão os herdeiros e legatários: 
I. Os que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente. A lei considera que o herdeiro deve ser punido quando provoca a morte do autor da herança. A morte deve ser voluntária, ou seja, doloso. A legislação exclui ao alcance da obra o homicídio culposo.
Para excluir o herdeiro da herança, não há necessidade de condenação criminal do culpado. Não caracteriza indignidade a legítima defesa, o estado de necessidade, o exercício regular de um direito, ou quando o autor do crime estava perturbado em suas faculdades psíquicas por demência ou embriagues. Nesse caso, cabe ao denunciado provar não Ter sido voluntário o homicídio.
A exclusão por indignidade alcança a sucessão legítima e a testamentária, afastando o legatário ou herdeiro testamentário, que assassinou o testador ou as mencionadas pessoas da família dele. 
É excluído da sucessão aquele que praticou o crime ou tentativa contra o próprio hereditando, contra o cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente. 
II. Que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a honra, ou de seu cônjuge ou companheiro. A norma contempla duas hipóteses de exclusão: Acusação caluniosa e crime contra a honra. O primeiro é crime contra a administração da justiça (artigo 339 do CP). Ocorre quando o herdeiro abre processo judicial contra o autor da herança, sabendo que ele é inocente. Deve ser em juízo criminal. A acusação caluniosa em juízo civil não caracteriza a hipótese de exclusão (jurisprudência). STF, 97/45 e RT, 145/693.
A segunda parte contempla os crimes contra a honra do hereditando, de seu cônjuge ou companheiro, previstos nos artigos 138, 139 e 140 do Código Penal. Nesses casos, o crime somente será apurado após a condenação do indigno no juízo criminal.
III. Que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade. A regra preserva a liberdade de testar do hereditando. Alcança também o herdeiro, que de qualquer modo, atenta contra esta liberdade. Ver RT 126/692. Casal sem filhos e testamento cerrado. Desaparecimento do testamento cerrado. Procedência da ação ao colateral.
5. Procedimento para obter a exclusão. A exclusão deverá ser feita por meio de ação. É processo ordinário promovido pelo interessado, somente caracterizando a indignidade se a sentença final (transitada em julgado) o proclamar. Evidentemente é assegurado o direito de defesa. Artigo 1.815 do CCB. O prazo é de quatro anos para demandar a exclusão do herdeiro ou legatário a contar da data da abertura da sucessão. Artigo 1.815, parágrafoúnico.
5.1. Legitimação para propor a ação. Conforme artigo 1.596 do CCB de 1.916, apenas os interessados na sucessão. Um parente colateral podia promover ação para afastar o cônjuge sobrevivente. Um filho podia afastar o irmão da herança, se comprovada a indignidade. O Poder Público podia afastar o herdeiro indigno, cuja exclusão torne vagos os bens do espólio.
 A matéria é de interesse privado e não de interesse público. Assim, cabe aos interessados promover a ação competente. No silêncio, no caso indignidade, o Promotor Público não poderá ajuizar ação no sentido de excluir o indigno. O atual Código não menciona expressamente, que a ação de exclusão por indignidade deve ser movida por quem tenha interesse na sucessão. É aplicada a regra processual, ou seja, quem tem interesse e legitimidade. Artigos 3° e 295, II e III do CPCB.
6. O autor da herança e o perdão. A legislação brasileira permite que a vítima perdoe o autor da ingratidão. É o caso do pai que perdoa o filho, autor de calúnia. O perdão é ato solene, ocorrendo através de ato autêntico ou por testamento. A reabilitação deve ser expressa. Artigo 1.818 do CCB. Sem a reabilitação expressa, ao saber da indignidade, antes de redigir o testamento, o indigno sucederá no limite da disposição testamentária. CCB, artigo 1.818, parágrafo único. 
7. As conseqüências da exclusão. 
7.1. Pessoalidade da sanção. De acordo com o artigo 1.816, os efeitos da exclusão são pessoais, não podendo passar da pessoa do delinqüente. Os descendentes do excluído não ficam prejudicados pela sentença de indignidade, sucedendo por representação, como se o indigno não mais existisse. Autor de herança com dois filhos. Um foi excluído por indignidade. Este possui três filhos (netos do hereditando). Metade do quinhão será deferido para o outro filho e a outra metade, por estirpe, aos netos do de cujus. 
	
7.2. Retroatividade dos efeitos da sentença. O herdeiro indigno é afastado a partir da data da abertura da sucessão. Assim, o indigno é considerado um pré-morto ao hereditando. Os efeitos da sentença de exclusão retroagem à data da abertura da sucessão. O indigno adquire a herança, para perdê-la com o trânsito em julgado da sentença que o excluiu da sucessão. 
	
7.3. Em relação aos frutos. Artigo 1.817 do CCB, parágrafo único. A legislação impõe ao excluído o dever de devolver os frutos e rendimentos produzidos pelos bens da herança. Este, jamais foi dono dos bens herdados. 
O indigno é possuidor de má-fé. A sentença apenas declara a indignidade. Ela não cria a indignidade que existe desde a abertura da sucessão. 
0. A validade dos atos de disposição. Ninguém pode dispor daquilo que não é seu. Nemo ad allium transferre potest quam ipse habet. Contudo, a legislação preferiu dar validade aos atos de alienação efetuados pelo herdeiro excluído, antes da sentença de exclusão, quando se tratar de adquirente de boa-fé. 
É a melhor solução, em vista de que ao considerar nulas as alienações, representaria uma séria ameaça à estabilidade das relações sociais. 
Os adquirentes acreditam na condição de herdeiro do excluído. O legislador valida o ato de alienação efetuado pelo herdeiro excluído antes da sentença de exclusão, quando se tratar de adquirente de boa-fé. 
Aos herdeiros prejudicados somente cabe a prerrogativa de demandar perdas e danos contra o herdeiro excluído, nenhum direito restando contra o adquirente de boa-fé. Artigo 1.817, caput, do CCB.
Os atos somente serão válidos, se praticados a título oneroso. Nemo plus juris. Objetivo de evitar prejuízo injusto ao adquirente de boa-fé. Quando o ato for gratuito, o adquirente será obrigado a devolver a coisa. 
A legislação procura proteger aquele que sofreria um prejuízo (herdeiros), negando os interesses daquele que aumentaria o seu patrimônio, através de atos benéficos (qui certat de damno vitando e qui certat de lucro captando).
Interesses de quem procura evitar um prejuízo. Qui certat de damno vitando.
Interesse de quem busca alcançar um lucro. Qui certat de lucro captando
8. Efeitos complementares ou subsidiários.
8.1. Reembolso dos gastos. De acordo com o CCB de 1.916, o herdeiro excluído tinha o direito de ser reembolsado das despesas feitas em conservação do patrimônio. Era o cuidado da lei em não permitir o enriquecimento injusto do herdeiro efetivo, em prejuízo do excluído. A expressão utilizada pelo legislador era abrangente, incluindo quaisquer despesas feitas com a conservação da coisa. O atual Código confere os direitos a serem indenizados com as despesas e conservação do patrimônio. Ver artigo 884 do CCB.
É o parecer contrário de Ricardo Fiúza, fundamentando que não assiste razão para a existência de uma proteção específica ao herdeiro excluído, que tenha praticado indignidade, eis que o mesmo poderá invocar a regra geral (artigo 884 do CCB) e pleitear eventual indenização a que faça jus. 	
8.2. O indigno não terá direito ao usufruto dos bens que seus filhos menores herdarem em sucessão de que ele foi excluído. Quando se tratar de filhos menores sujeito ao pátrio poder da pessoa excluída, este não poderá usufruir do patrimônio que a lei afastou de sua posse e propriedade. Artigo 1.689, I, do CCB. É o artigo 1.816 do CCB que afasta o indigno do direito de usufruto dos bens. 
8.3. O indigno não poderá suceder nos bens que foi excluído. É hipótese que ocorre quando os filhos do indigno são pré-mortos a ele. Assim, o indigno é afastado da ordem de vocação hereditária. Artigo 1.816, parágrafo único, parte final. 
9. Os atos praticados pelo herdeiro aparente. 
9.1. Conceito de herdeiro aparente. É aquele que, embora não tenha tal condição, se apresenta aos olhos de todos como herdeiro, criando a impressão generalizada de ser o sucessor do de cujus. SR. 
É o caso do herdeiro legítimo que vê surgir, anos depois de aberta a sucessão, testamento beneficiando terceira pessoa. Outro exemplo é o do herdeiro testamentário que, depois de adir a herança, é dela afastado bem mais tarde, por se descobrir novo testamento instituindo outro herdeiro. É o caso, ainda, de herdeiro testamentário que assiste o rompimento do testamento que o instituiu, em razão do aparecimento de um herdeiro necessário do finado. 
O herdeiro, excluído por indignidade deve ser considerado herdeiro aparente? Caso a resposta seja afirmativa, a solução é focalizada no capítulo da indignidade. A distinção teórica entre as duas figuras torna-se ineficaz, porquanto, seja herdeiro aparente ou herdeiro excluído, a solução que se impõe é a mesma. Ubi eadem ratio, idem jus. 
Modernamente, a maioria dos doutrinadores sustentam a validade dos atos praticados pelo herdeiro aparente. Contudo, a validade dos atos praticados pelo herdeiro aparente somente é reconhecida quando se tratar de negócio a título oneroso e em hipóteses de os adquirentes estarem de boa-fé.
O anteprojeto de Código Civil de Orlando Gomes consignava a seguinte regra sobre o herdeiro aparente: 
São válidas as alienações feitas de boa-fé, a título oneroso, pelo herdeiro aparente. Art. 769. 
O CCB de 2002 generalizou o preceito no artigo 1.827, parágrafo único. São eficazes as alienações feitas a título oneroso, pelo herdeiro aparente a terceiro de boa-fé.

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