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Administração financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 1 Administração financeira Créditos Centro Universitário Senac São Paulo – Educação Superior a Distância Diretor Regional Luiz Francisco de Assis Salgado Superintendente Universitário e de Desenvolvimento Luiz Carlos Dourado Reitor Sidney Zaganin Latorre Diretor de Graduação Eduardo Mazzaferro Ehlers Gerentes de Desenvolvimento Claudio Luiz de Souza Silva Roland Anton Zottele Coordenadora de Desenvolvimento Tecnologias Aplicadas à Educação Regina Helena Ribeiro Coordenador de Operação Educação a Distância Alcir Vilela Junior Professor Autor Clodoir Vieira Revisora Técnica Fátima Guarda Sardeiro Técnica de Desenvolvimento Regina de Freitas Jardim Ferraz Coordenadoras Pedagógicas Ariádiny Carolina Brasileiro Silva Izabella Saadi Cerutti Leal Reis Nivia Pereira Maseri de Moraes Equipe de Design Educacional Adriana Mitiko do Nascimento Takeuti Alexsandra Cristiane Santos da Silva Angélica Lúcia Kanô Cristina Yurie Takahashi Diogo Maxwell Santos Felizardo Elisangela Almeida de Souza Flaviana Neri Francisco Shoiti Tanaka João Francisco Correia de Souza Juliana Quitério Lopez Salvaia Kamila Harumi Sakurai Simões Karen Helena Bueno Lanfranchi Katya Martinez Almeida Lilian Brito Santos Luciana Marcheze Miguel Mariana Valeria Gulin Melcon Mayra Bezerra de Sousa Volpato Mônica Maria Penalber de Menezes Mônica Rodrigues dos Santos Nathalia Barros de Souza Santos Renata Jessica Galdino Sueli Brianezi Carvalho Thiago Martins Navarro Coordenador Multimídia e Audiovisual Adriano Tanganeli Equipe de Design Visual Adriana Matsuda Camila Lazaresko Madrid Danilo Dos Santos Netto Estenio Azevedo Hugo Naoto Inácio de Assis Bento Nehme Karina de Morais Vaz Bonna Lucas Monachesi Rodrigues Marcela Corrente Marcio Rodrigo dos Reis Renan Ferreira Alves Renata Mendes Ribeiro Thalita de Cassia Mendasoli Gavetti Thamires Lopes de Castro Vandré Luiz dos Santos Victor Giriotas Marçon William Mordoch Equipe de Design Multimídia Cláudia Antônia Guimarães Rett Cristiane Marinho de Souza Eliane Katsumi Gushiken Elina Naomi Sakurabu Emília Correa Abreu Fernando Eduardo Castro da Silva Michel Iuiti Navarro Moreno Renan Carlos Nunes De Souza Rodrigo Benites Gonçalves da Silva Wagner Ferri Administração financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 3 Objetivos Específicos • Entender as principais aplicações da disciplina, sua importância é relembrar as principais demonstrações financeiras. Temas Introdução 1 Conceitos gerais 2 As origens e aplicações de caixa Considerações finais Referências Clodoir Vieira Administração financeira Aula 01 Professor O papel e o ambiente da administração financeira Administração financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 3 Introdução As empresas são entidades vivas e em constante evolução. Portanto, não seria de estranhar que o estudo das finanças seja ainda mais dinâmico. Nos últimos anos, temos presenciado importantes mudanças que elevaram o grau de sofisticação da administração financeira, cujo papel é maximizar o valor das organizações através da geração de lucro e caixa. A visão atual da função do administrador financeiro não envolve apenas a tomada de decisão de financiamento e investimentos ou o controle das contas, mas abrange a chamada longevidade dos negócios. Isso quer dizer que o administrador financeiro, apesar de não se envolver com a produção, é uma das peças-chave para a perpetuidade da companhia. A palavra sustentabilidade entrou no jogo. Após a intensificação da globalização, na década de 1990, o fluxo internacional de capitais, de produtos e de serviços tornou-se mais intenso e as empresas ficaram mais vulneráveis às crises e eventos internacionais. Isso fica claro na crise de 2008, que iniciou nos Estados Unidos e contaminou o mundo inteiro, principalmente a Europa. Por esse motivo, a administração financeira torna-se cada vez mais sofisticada, com novos instrumentos e conceitos. Há um aumento da preocupação com a gestão de riscos, que se tornou fundamental no estudo da administração financeira. Novos instrumentos financeiros surgiram, como os derivativos. Importante lembrar que, apesar de o objetivo das empresas ser a produção, sua trajetória financeira pode ser motivo de seu sucesso ou seu fracasso. Casos recentes como o da Sadia, que sofreu grandes perdas financeiras por conta de operações com derivativos, exemplificam a importância de uma boa gestão de riscos. Neste capítulo iremos abordar o conceito de administração financeira, sua importância para a geração de valor nas corporações, retomar os conceitos básicos das demonstrações financeiras e sua relação com as atividades empresariais. 1 Conceitos gerais 1.1 Administração financeira Para compreender a administração financeira e o papel dos profissionais que atuam nessa área, é preciso entender o conceito de finanças. “Podemos definir finanças como a arte e a ciência de administrar fundos” (GITMAN, 2005, p. 4). Ao contrário do que se imagina, os administradores financeiros não atuam apenas em instituições financeiras, mas em empresas e segmentos de todos os tipos e tamanhos. “Já que a maioria das decisões empresariais são tomadas em termos financeiros, o administrador financeiro desempenha um papel crucial na operação da empresa” (GITMAN, 2005, p. 10). Administração financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 4 No contexto das empresas a administração das finanças busca otimizar o uso dos recursos disponíveis com vista a ampliar a lucratividade e a geração de caixa. Para isso, há uma grande variedade de funções na administração financeira que envolve atividades, como controle de gastos, elaboração de orçamento, gestão de caixa, captação de recursos e decisões de investimentos. Dessa forma, afirma-se que as funções do administrador financeiro concentram-se em três áreas principais: planejamento financeiro (caixa), atividades de investimento (ativo) e atividades de financiamento (passivo e patrimônio líquido). Deve-se, entretanto, frisar que tanto as decisões de investimento quanto de financiamento dependem de um fator: caixa. É a geração de caixa que garante a longevidade da empresa e não a lucratividade. Portanto o caixa é o “calcanhar de Aquiles” de um administrador financeiro. Você entenderá melhor o que estamos explicando quando falarmos de regime de caixa versus regime de competência. 1.2 Planejamento financeiro A principal função do administrador é o planejamento financeiro, que traça o caminho a ser percorrido pela empresa para que seus objetivos sejam atingidos. Podemos ver o planejamento financeiro como um mapa a ser seguido. Ele envolve também o monitoramento de todas as atividades (produção, investimento e financiamento). Ao ter em mãos um planejamento financeiro consistente, a alta direção da empresa tem maior confiança em tomar suas decisões, seja de aumentar ou reduzir a produção, contrair um empréstimo ou realizar um investimento. O processo começa com a elaboração de planos financeiros de longo prazo, ou estratégicos. A estratégia traçada servirá para orientar a formulação de planos e orçamentos de curto prazo. O planejamento financeiro deve ser composto por dois planos essenciais: o planejamento de caixa e o planejamento de resultados. Como falamos, a gestão de caixa é primordial para a perpetuidade da empresa. Dessa forma, o orçamento de caixa é um passo importante. O orçamento de caixa, também denominado de previsão de caixa, é uma demonstração que apresenta as entradas e as saídas de caixa planejadas da empresa, que a utiliza para estimar suas necessidades de caixa no curto prazo, com especial atenção para o planejamento do uso de superávits e a cobertura de déficits. De uma forma geral, o orçamentode caixa deve cobrir o prazo de um ano, dividido em intervalos. Quanto mais estável for o caixa da empresa, maiores podem ser os intervalos do fluxo de caixa. Mas a realidade é outra: a maioria das empresas exibe certas sazonalidades nas suas contas e, por esse motivo, os executivos financeiros acabam por elaborar orçamentos mensais. O planejamento de resultados envolve a projeção das demonstrações da empresa. Tais projeções (receita, custos, despesas, balanço etc.) irão nortear o futuro da empresa no longo prazo e evitar que o administrador seja surpreendido por um descasamento entre recebimentos e pagamentos. Administração financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 5 Essas funções abarcam todo o balanço patrimonial, assim como a demonstração do resultado do exercício e outros demonstrativos contábeis. Embora essas atividades repousem fortemente em demonstrativos financeiros elaborados com base no regime de competência, seu objetivo fundamental é avaliar o fluxo de caixa da empresa e desenvolver planos que assegurem que os recursos necessários estarão disponíveis para o alcance dos objetivos. (GITMAN, 2005, p. 14) 1.3 Decisões de investimento As atividades de investimento influenciam diretamente o lado esquerdo do balanço patrimonial, ou seja, a composição do ativo (curto ou longo prazo). A busca do administrador financeiro deve ser por obter o nível ótimo e evitar o desequilíbrio entre o curto e o longo prazo. As decisões, portanto, são de aplicações de recursos em ativos temporários ou permanentes. Como exemplo, podemos citar a compra de maquinário, integralização de capital de empresas controladas, aplicações financeiras de curto e longo prazos, nova sede etc. 1.4 Decisões de financiamento Se as decisões de investimento aparecem do lado esquerdo do balanço, as decisões de financiamento encontram-se do lado direito. As atividades de financiamento envolvem o curto e o longo prazo. A busca do administrador é pela composição ideal que represente o menor custo de capital e, para isso, deve avaliar todas as alternativas disponíveis no mercado. Ao contrário do que muitos pensam, nem sempre depender apenas de capital próprio é o ideal para uma empresa. Iremos voltar a esse assunto mais tarde. Dentre as atividades classificadas como financiamento podemos destacar as contas classificáveis no passivo financeiro e no patrimônio líquido, tais como empréstimos bancários, emissão de debêntures, integralização de capital da empresa etc. 1.5 Caixa versus lucro • Lucro: é o que sobra após subtrair do valor da receita todos os custos e despesas necessários para que ocorra. • Caixa: é o que sobra após todos os recebimentos de receitas e pagamentos de custos e despesas. Ao avaliarmos a história de empresas de todos os portes fica claro que a causa da mortalidade ou da perpetuidade dos negócios está relacionada a um fator: a má ou boa gestão do caixa. Lembre-se: caixa é todo dinheiro que entra e sai da empresa como resultado de suas operações. Se a empresa não tem caixa, torna-se inadimplente e precisa ampliar seu endividamento para honrar seus compromissos, decisão nada saudável. Portanto, a função Administração financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 6 crucial do administrador financeiro é planejar e avaliar financeiramente o negócio como um todo, evitando problemas de caixa. O caixa representa a solvência da empresa. Assim, quando tratamos da função do administrador financeiro, estamos falando de regime de caixa e não do regime de competência. Qual a diferença? • Regime de Caixa No regime de caixa as receitas/despesas são reconhecidas no momento em que ocorrem as entradas/saídas de caixa. O regime de caixa dá uma visão mais realista da empresa, mas lembre-se: sobra/falta de caixa não é sinônimo de lucro/prejuízo. • Regime de Competência É utilizado na contabilidade. Nessa abordagem, que serve de base para a montagem das demonstrações financeiras, as receitas/despesas são reconhecidas no momento em que são fechadas com os compradores/vendedores. Isso significa que não há a necessidade de transação financeira para que sejam reconhecidas. Agora podemos retomar a discussão lucro versus caixa. O lucro é apurado pelo regime de competência e não no regime de caixa. “A maximização do lucro é falha por várias razões: ignora (1) a data da ocorrência dos retornos, (2) o fluxo de caixa disponível aos acionistas e (3) o risco” (GITMAN, 2005, p. 17). Há uma grande diferença entre resultados esperados e a efetividade de tais resultados. Dessa forma, concluímos que o papel do administrador financeiro pode ser resumido em uma frase: maximização do retorno do acionista. 1.6 Revisão de contabilidade Demonstrações Financeiras Para entendermos melhor como o administrador financeiro toma suas decisões e suas consequências na vida das empresas, precisamos compreender as principais demonstrações financeiras. Vale a pena retomarmos alguns conceitos. Recentemente, as normas contábeis brasileiras sofreram profundas transformações, resultado da adoção do International Financial Reporting Standard (IFRS). O IFRS consiste em um conjunto de pronunciamentos de contabilidade produzidos, publicados e revisados por organismos internacionais. A sua adoção visa à padronização das normas em diversos países para facilitar o entendimento financeiro internacional. 1.7 Balanço patrimonial O balanço patrimonial pode ser definido como uma demonstração resumida da posição financeira da empresa durante determinado exercício. Na parte esquerda, é apresentado Administração financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 7 o ATIVO, ou seja, todos os bens e direitos que a empresa possui. Do lado direito, está o PASSIVO que abrande todas as origens de recursos, ou seja, as obrigações para com terceiros que exigirão ativos para a sua liquidação. Ainda do lado direito está o PATRIMÔNIO LÍQUIDO, composto pelos recursos próprios da empresa. O patrimônio líquido é a diferença entre o ativo e o passivo. Estrutura • ATIVO No ativo de um balanço patrimonial encontram-se todos os investimentos da empresa, naquela data, expressos em valores monetários. Em se tratando de investimentos, pode-se traduzir que o ativo representa as aplicações da empresa que, a qualquer momento, poderão ser realizadas. De acordo com as normas do IFRS, o ATIVO é composto por duas grandes contas: ATIVO CIRCULANTE Aplicações resgatáveis no curto prazo, no curso do exercício. ATIVO REALIZÁVEL A LONGO PRAZO Aplicações resgatáveis no longo prazo, no exercício seguinte (após um ano). Disponibilidades Direitos realizáveis após o exercício Direitos realizáveis no exercício Investimentos Aplicações Imobilizado Intangível • PASSIVO No passivo, encontram-se todos os financiamentos da empresa, naquela datas. Em se tratando de financiamentos, pode-se dizer que o passivo representa as dívidas da empresa. Os credores são terceiros, pessoas físicas ou jurídicas que financiam a empresa sem ter participação societária ou acionária, e também os proprietários, aqueles que financiam a empresa e que são seus sócios ou acionistas. O IFRS classifica as contas do passivo da seguinte forma: Administração financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 8 PASSIVO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE Obrigações e financiamentos para aquisição de direitos do Ativo quando vencerem no exercício seguinte. Obrigações com vencimento de prazo mais longo que o exercício seguinte. • PATRIMÔNIO LÍQUIDO – Financiamentos dos sócios, acionistas, proprietários ◦ Capital Social ◦ Reserva de Capital ◦ Reservas de Lucros ◦ Lucros ou prejuízos acumulados 1.8 Demonstração de resultado do exercício (DRE) A Demonstração de Resultados aborda um resumo dos resultados operacionaisda empresa durante o exercício. Destaca as alterações provocadas no Patrimônio Líquido devido às operações da empresa. Resume o movimento de algumas entradas e saídas de recursos do balanço. Destaca as receitas e despesas da empresa. A DRE mostra como é formado o lucro líquido da empresa. Começando pela receita de vendas e descontando todos os custos – vendas, operacionais, comerciais, depreciação e despesas financeiras –, chegamos no lucro antes do IR e finalmente ao lucro líquido disponível para o acionista. Receita de vendas (-) Custo dos Produtos Vendidos (=) Lucro bruto (-) Desp. operacionais Desp. comerciais Desp. gerais e administrativas (=) Lucro antes dos juros e IR (LAJIRDA = EBITDA) Desp. de depreciação (=) Lucro Operacional (LAJIR - EBIT) (-) Desp. financeiras (=) Lucro líquido antes do IR (LAIR) (-) IR (=) Lucro líquido (-) Dividendos das ações preferenciais (=) Lucro líquido disponível aos acionistas ordinários Administração financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 9 1.9 Demonstração dos Fluxos de Caixa (FC) A Demonstração dos Fluxos de Caixa mostra a movimentação financeira da empresa durante o exercício, ou seja, as fontes e aplicações dos recursos. Através dessa demonstração, é possível saber como os recursos foram gerados e aplicados e, dessa forma, a análise financeira da solidez da companhia é facilitada. O Fluxo de Caixa mostra todas as entradas e saídas, ou seja, tudo que a empresa recebeu ou pagou em um período de tempo que pode ser um mês ou um ano. O fluxo de caixa está diretamente relacionado à produção e à venda dos produtos e serviços da empresa. Atividades Operacionais Lucro líquido do exercício Depreciações e amortizações Valor residual do imobilizado Variações monetárias e cambiais Resultado de equivalência patrimonial Aumento ou redução do Ativo Circulante Operacional Contas a receber Estoques Outros Aumento ou redução do Passivo Circulante Fornecedores Impostos a pagar Salários e encargos Outros Caixa gerado ou absorvido pelas Atividades Operacionais Atividades de Investimentos – Fluxos de caixa associados à compra e à venda tanto de ativos permanentes quanto de participações societárias. Evidentemente, transações de compra resultariam em fluxos de saida de caixa, enquanto transações de venda gerariam fluxos de entrada de caixa. Títulos e valores mobiliários Venda de investimentos ou ativo imobilizado Dividendos recebidos Aquisição de bens imobilizados Caixa gerado ou absorvido pelas Atividades de Investimento Atividades de Financiamento – Fluxos de caixa que resultam de transações de financiamento por dívida e capital próprio; incluem a contratação e a quitação da dívida, a entrada de caixa por venda de ações, assim como o fluxo de saída de caixa para pagar dividendos em dinheiro ou recomprar ações. Pagamento de dividendos ou juros sobre o Capital Próprio Captação de empréstimos e financiamentos Amortização de empréstimos e financiamentos Administração financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 10 Caixa gerado ou absorvido pelas Atividades de Financiamento Geração ou absorção líquida de caixa (+) saldo inicial do caixa (=) saldo final do caixa Como usar a Demonstração dos Fluxos de Caixa A demonstração de fluxos de caixa resume as origens e aplicações de caixa durante um dado período. Ela é desenvolvida usando a demonstração de resultado do exercício, junto com os balanços patrimoniais de início e fim do período. Essa demonstração permite que o administrador financeiro analise as entradas e saídas de recursos na empresa. A demonstração também pode ser usada para avaliar o progresso em direção a metas projetadas, pois pode demonstrar as ineficiências. 2 As origens e aplicações de caixa Origem – Aumento de Caixa Diminuição do ativo Aumento do passivo Lucro líquido após o IR Depreciação e outros encargos não financeiros Vendas de ações Aplicações – Redução de Caixa Aumento do ativo Diminuição do passivo Prejuízo líquido Dividendos pagos Recompra ou resgate de ações Considerações finais Como identificamos através do material exposto, a administração financeira busca a eficiência das empresas na utilização dos recursos disponíveis. O principal objetivo é a geração de valor ao acionista, a qual não está apenas relacionada ao lucro, mas também à excelência na gestão do caixa. O fluxo de caixa deve ser visto como a alma da empresa e, portanto, uma das grandes preocupações é com a liquidez da empresa. Após a leitura deste capítulo você deve ser capaz de responder: Administração financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 11 • Qual o conceito de administração financeira? • Quais as funções do administrador financeiro? • Qual a diferença de caixa e lucro? • Qual a diferença de regime de caixa para regime de competência? • Quais são e para que servem as três principais demonstrações financeiras? Referências GITMAN, Lawrence J.; MADURA, Jeff. Administração financeira: uma abordagem gerencial. São Paulo: Pearson, 2005. Objetivos Específicos Temas • Entender como as taxas de juros e a inflação influenciam na situação enconomia e financeira da empresa Clodoir Vieira Administração Financeira Aula 02 Professor Principais conceitos financeiros: inflação versus juros e porcentagem. Taxa real versus nominal Introdução 1 Inflação 2 Juros Considerações finais Referências 2 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução Neste capítulo, vamos abordar dois conceitos que são fundamentais para que o administrador financeiro tome decisões sobre o futuro da empresa: inflação e taxa de juros. Como a inflação representa o aumento generalizado dos preços e custos, não é de se estranhar que cada reajuste no valor da mercadoria produzida de uma empresa seja baseado, em parte, nesse indicador. Sim, a inflação tem um impacto forte na atividade empresarial e não somente no bolso do consumidor. Ao mesmo tempo que influencia o orçamento empresarial, a inflação impacta na tomada de decisões de investimento tanto das empresas quanto das pessoas físicas. Lembre-se de que o conceito de inflação está relacionado ao poder de compra da moeda. Portanto, a inflação leva à desvalorização do dinheiro. Quanto maior o aumento generalizado dos preços, menos podemos comprar com a mesma quantidade de dinheiro. Assim, ao decidirmos deixar de adquirir uma mercadoria para investir o dinheiro e adiar nosso consumo de forma a ter mais recursos no futuro, precisamos comparar a rentabilidade recebida com a inflação do período. A pergunta, afinal, é: vale a pena investir? Neste capítulo, vamos aprender a comparar a rentabilidade de um investimento com a inflação acumulada do período e saber o quanto estamos realmente ganhando, ou seja, qual a taxa real de juros. A empresa precisa ser eficiente nessas contas para não recair em erros e é função do administrador financeiro garantir isso! 1 Inflação Comecemos definindo inflação. Segundo um dos maiores autores da macroeconomia moderna, Olivier Blanchard, a inflação pode ser definida como “uma alta continuada no nível de preços. A taxa de inflação é a taxa à qual o nível de preços aumenta” (BLANCHARD, 2001, p. 30). Com base no conceito exposto, vemos que existe um desafio claro: como medir a inflação? Tal cálculo é papel dos chamados índices de preços, que medem o aumento do custo dos produtos para os consumidores. Mas não é qualquer índice de preço que pode ser considerado como índice de inflação. Os índices de preço precisam ser abrangentes o suficiente para evidenciar a retração do valor do dinheiro, ou seja, do poder de compra da população ao redor do mundo. Assim, podemos concluir que os índices de preço que mais bem evidenciam a inflação são os indicadores da evolução do preço ao consumidor. Tais índices envolvem uma gama maior de produtos pesquisados.3 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Ao ler este texto você deve estar se perguntando: por que se preocupar com a inflação? Na realidade, se a inflação fosse pura, ou seja, o aumento dos preços e salários fosse igual para todos, não haveria com que se preocupar. No entanto, esse mundo de inflação pura fica apenas nos livros e teoria. Na prática, vemos no dia a dia que o aumento dos preços afeta determinados setores e outros não. Dessa forma, a inflação impacta a distribuição de renda e os negócios das empresas. Vejamos um exemplo: quando há o aumento dos preços do minério de ferro, as empresas siderúrgicas deparam-se com o incremento de seus custos, mas nem sempre conseguem repassar tais custos aos clientes finais. Tal fato leva à redução da margem de ganho e, por consequência, da lucratividade das empresas. Principais índices de inflação brasileiros Os índices de preços medem a variação de preços, com diferentes finalidades. Alguns são específicos e abrangem determinados segmentos, outros são mais amplos e, portanto, podem ser considerados balizadores da inflação. Vejamos as principais diferenças entre os índices mais usados no Brasil. ÍNDICE NACIONAL DE PREÇOS AO CONSUMIDOR AMPLO (IPCA) O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde 1979. O IPCA, divulgado mensalmente, tem por objetivo medir a inflação de um conjunto de produtos e serviços comercializados no varejo, referentes ao consumo pessoal das famílias, cujo rendimento varia entre 1 e 40 salários mínimos, qualquer que seja a fonte de rendimentos. O IPCA reflete a variação dos preços pagos pelos consumidores das principais regiões metropolitanas brasileiras. Como indicador de variação de preços, o IPCA tornou-se o índice oficial de inflação do Brasil e, desde junho de 1999, é utilizado pelo Banco Central do Brasil para o acompanhamento dos objetivos estabelecidos no sistema de metas de inflação. Os preços obtidos para o cálculo do índice são os cobrados ao consumidor, para pagamento à vista. Uma pesquisa é realizada, para que seja observada a variação dos preços em determinado mês em estabelecimentos comerciais, prestadores de serviços, domicílios e concessionárias de serviços públicos das áreas de alimentação e bebidas, habitação, vestuário, transportes, saúde, despesas pessoais, educação, entre outras; considerando o custo de vida das famílias que tem entre 1 e 40 salários mínimos. Para isso, são escolhidas 11 capitais: Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Brasília, Belém, Fortaleza, Salvador, Curitiba e Goiania. Dessa forma, fica fácil analisar a variação do IPCA em cada capital. 4 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Variações por Regiões e Grupos - fevereiro de 2013 - IPCA Grupos Rio de Janeiro Porto Alegre Belo Horizonte Recife São Paulo Brasília Índice Geral 0,25 0,35 0,84 0,98 0,66 0,77 Alimentação e Bebidas 0,88 1,01 1,65 2,61 1,25 1,84 Habitação -2,04 -3,18 -2,37 -1,88 -2,04 -1,41 Artigos de Residência 0,06 -0,34 0,20 -0,15 1,14 -0,40 Vestuário -0,82 0,00 0,53 0,90 0,84 1,19 Transportes 0,26 1,56 1,57 1,06 0,59 0,75 Saúde e Cuidados Pessoais 0,83 0,40 0,67 0,74 0,64 0,92 Despesas Pessoais 0,26 0,48 1,04 0,09 0,70 0,15 Educação 5,20 3,39 6,69 4,81 6,07 4,99 Comunicação 0,10 0,14 0,18 -0,22 0,05 0,25 Grupos Belém Fortaleza Salvador Curitiba Goiânia Nacional Índice Geral 0,58 0,72 0,67 0,47 0,41 0,60 Alimentação e Bebidas 1,83 1,80 1,97 1,16 1,52 1,45 Habitação -4,68 -1,80 -2,97 -2,48 -3,15 -2,38 Artigos de Residência 0,81 1,01 0,75 1,10 -0,02 0,53 Vestuário 0,62 -0,01 1,05 1,17 0,20 0,55 Transportes 0,78 1,54 0,49 0,55 1,05 0,81 Saúde e Cuidados Pessoais 0,48 0,64 0,54 0,66 0,56 0,65 Despesas Pessoais 0,37 -0,08 0,40 0,76 0,65 0,57 Educação 4,80 0,77 6,19 5,58 5,06 5,40 Comunicação -0,02 0,14 0,28 0,16 0,02 0,10 ÍNDICE GERAL DE PREÇOS – DISPONIBILIDADE INTERNA (IGP-DI) O IGP-DI está estruturado para captar o movimento geral de preços através de pesquisa realizada nas áreas de cobertura de cada componente, durante o mês calendário, isto é, do primeiro ao último dia do mês de referência. Nessa pesquisa, cobre-se todo o processo produtivo, desde preços de matérias-primas agrícolas e industriais, passando pelos preços de produtos intermediários até os de bens e serviços finais. O IGP-DI foi concebido no final dos anos de 1940 para ser uma medida abrangente do movimento de preços, ou seja, que englobasse não apenas diferentes atividades como também etapas distintas do processo produtivo. Assim, ele poderia ser usado como deflator do índice de evolução dos negócios, resultando em um indicador mensal do nível de atividade econômica. O IGP-DI começou a ser divulgado em 1947, embora sua série histórica retroaja a 1944. De início, resultava da média aritmética simples entre o Índice de Preços por Atacado (IPA) e o Índice de Preços ao Consumidor (IPC). A partir de 1950, passou a contar com mais um componente, o índice de custo da construção (ICC). Hoje, o indicador é obtido pela média aritmética ponderada dos três índices: 60% de IPA, 30% de IPC apurado nas cidades de Rio de Janeiro e São Paulo, e 10% do Índice Nacional de Custo da Construção (INCC). Até novembro de 1985, o IGP-DI foi o índice oficial de inflação do Brasil. O período de coleta de dados vai do primeiro ao último dia de cada mês, sendo divulgado no final da primeira quinzena do mês seguinte. 5 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados ÍNDICE GERAL DE PREÇOS DO MERCADO (IGP-M) O IGP-M tem a mesma composição e estrutura do IGP-DI. Seu diferencial é o período de coleta de dados, que vai do dia 21 de um mês até o dia 20 do mês seguinte. Foi criado em 1989, por encomenda da Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto (Andima) e outras instituições do mercado financeiro à FGV para atender à necessidade do mercado financeiro de acompanhar a evolução e a tendência do índice de preços em prazo menor. O IGP-M é elaborado para contratos do mercado financeiro e usado para reajuste de contratos como aluguel e prestação de serviços. ÍNDICE DE PREÇO AO CONSUMIDOR DA FIPE (IPC-FIPE) Esse é um dos índices de preços mais antigos do Brasil. O Índice de Preços ao Consumidor do Município de São Paulo é o mais tradicional indicador da evolução do custo de vida das famílias paulistanas e um dos mais antigos do Brasil. Começou a ser calculado em janeiro de 1939 pela Divisão de Estatística e Documentação da Prefeitura do Município de São Paulo. Em 1968, a responsabilidade do cálculo foi transferida para o Instituto de Pesquisas Econômicas da USP e, posteriormente em 1973, com a criação da FIPE, para essa instituição. Mede o custo de vida da família paulistana durante o mês (do primeiro ao último dia de cada mês). A cesta básica considerada a partir de janeiro de 1994 é de 1 a 20 salários mínimos. Originalmente, denominava-se Índice Ponderado de Custo de Vida da Classe Operária na Cidade de São Paulo. Em 1972, a denominação do índice foi alterada para Índice de Preços ao Consumidor (Custo de Vida) da Classe de Renda Familiar Modal no Município de São Paulo. Como calcular índices de inflação O número-índice pode ser definido como medida estatística utilizada para comparar grupos de variáveis relacionadas entre si e permite estabelecer comparações entre as variações ocorridas nos indicadores ao longo do tempo. O número-índice é utilizado em diversas áreas, tais como em demografia, economia e finanças. Quando o número-índice é empregado para medir a variação do nível de preços de produtos e serviços específicos, chama-se índice de preços. O cálculo do número-índice é relativamente simples e dado pela seguinte fórmula: In = (1 + Δn) X In-1 In = índice do períodode referência; Δn = variação do período de referência (em percentual); In-1 = índice do período anterior ao de referência. 6 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Analisando a fórmula, parece que esse cálculo é bastante complicado, mas não é. Vejamos um exemplo prático. Utilizaremos, nesse caso, dados reais divulgados pelo IBGE (série histórica do IPCA). Os dados da tabela utilizada como exemplo abrangem o número- índice de cada mês do ano (janeiro a dezembro) e a variação do índice no mês, em três meses, seis meses e no ano. Ano Mês Número Índice (Dez 93 = 100) Variação (%) No Mês 3 Meses 6 Meses No Ano 12 Meses 1994 Jan 141,31 41,31 162,13 533,33 41,31 2693,84 Fev 198,22 40,27 171,24 568,17 98,22 3035,71 Mar 282,96 42,75 182,96 602,93 182,96 3417,39 Abr 403,73 42,68 185,71 648,92 303,73 3828,49 Mai 581,49 44,03 193,36 695,71 481,49 4331,19 Jun 857,29 47,43 202,97 757,29 757,29 4922,6 Jul 915,93 6,84 126,87 548,17 815,93 4005,08 Ago 932,97 1,86 60,44 370,67 832,97 3044,89 Set 947,24 1,53 10,49 234,76 847,24 2253,15 Out 972,06 2,62 6,13 140,77 872,06 1703,17 Nov 999,37 2,81 7,12 71,86 899,37 1267,54 Dez 1016,46 1,71 7,31 18,57 916,46 916,46 A série parte do princípio de que o número-índice do mês de dezembro de 1993 corresponde a 100. A variação em percentuais no mês de janeiro de 1994 foi de 41,31%. Com essas duas informações e através da aplicação da fórmula, podemos chegar ao índice de janeiro. Confira: IPCA de janeiro = (1 + Δn) x IPCA de dezembro IPCA de janeiro = (1+0,4131) x 100 IPCA de janeiro = 141,31 Sabendo que o índice de janeiro é 141,31 e que a variação mensal de fevereiro é 40,27%, obtemos o índice de fevereiro: IPCA de fevereiro = (1+ 0,4027) X 141,31 = 198,22 Treine os próximos meses calculando da mesma forma anterior e obterá os números da primeira coluna. Repare que essa série de dados é real, ou seja, você está calculando como o próprio IBGE! 7 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Cálculo da variação dos níveis de preços Existem diversos métodos e critérios para cálculo da variação dos níveis de preços CÁLCULO COM AS VARIAÇÕES MÉDIAS DOS PREÇOS Para calcular as variações médias dos preços do ano de 1994, podemos fazer uma média aritmética simples, com coleta de preços no final de cada mês: Assim, a inflação média de 1994 é dada da seguinte forma: 41,31+40,27 +42,75+42,68+44,03+47,43+6,84+1,86+1,53+2,62+2,81+1,71 12 Variação média do IPCA de 1994 é igual a 22,98%. CÁLCULO DA INFLAÇÃO ACUMULADA Para calcular a inflação acumulada de um período é preciso acumular as variações mês a mês da seguinte forma: [(1+0,4131)x(1+0,4027)x(1+0,4275)x(1+0,4268)x(1+0,4403)x(1+0,4743)x(1+0,0684)x (1+0,0153)x(1+0,0262)x(1+0,0281)x(1,0171)x(1+0,0186)] – 1 = 10,1643 10,1643 -1 = 9,1643 9,1643 X 100 = 916,43% Isso significa que ocorreu uma alta de 916,43% nos preços durante o ano de 1994. Imagine o cenário negativo para o empresário que se deparou com uma forte alta de seus custos e não conseguiu repassar esse aumento para os seus clientes. Uma forma mais fácil de calcular a inflação acumulada é através do número-índice, veja: Dividimos o índice de dezembro de 1994 pelo índice de dezembro de 1993. Depois subtraímos 1 e multiplicamos por 100. 1.016,46 -1 x 100 = 916,46 A pequena variação que aparece de um cálculo para o outro está relacionada às decisões de arredondamento dos números-índices mês a mês. Quanto mais casas usarmos no cálculo, maior a precisão. Vamos adotar como padrão neste livro o uso de quatro casas decimais. É importante notar que arredondamos para cima números acima de 5 (inclusive) e para baixo números abaixo de 5. 8 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 2 Juros Para entendermos a importância dos juros na vida econômica, precisamos pensar nos motivos que levam as pessoas a pouparem. Quando alguém poupa está deixando de consumir agora para consumir no futuro. Para que haja poupança, é preciso que haja um estímulo. Caso contrário, não haveria motivo que me levasse a abrir mão de algo que quero hoje para guardar dinheiro e comprar depois. Esse estímulo é dado pelos juros. De uma forma bem simples, os livros e estudiosos de matemática financeira definem juro como a remuneração do capital. Olhando por essa ótica, podemos perceber que, quanto maior for a taxa de juros para um dado investimento, mais as pessoas estarão dispostas a poupar/aplicar seus recursos ao invés de consumir. Já aqueles que precisarão tomar empréstimos para investir em determinada atividade, pensarão duas vezes antes de recorrer a uma linha de crédito. Fica claro, assim, a importância da taxa de juros no comportamento da economia. Quanto maior o risco que a atividade de uma empresa apresenta, maior a taxa de juros cobrada pelo sistema financeiro na hora de conceder um empréstimo. Assim, é muito mais fácil que o banco financie e cobre juros menores de uma empresa como a Vale, por exemplo, do que de uma empresa nova ou que apresente problemas financeiros. Baseado nessa visão, o governo, através do Banco Central (BACEN), utiliza a taxa de juro como instrumento de política econômica e monetária para controlar o nível de propensão ao consumo e incentivar a poupança. A cada 45 dias, o colegiado do BACEN reúne-se para definir se será necessário elevar ou reduzir a taxa básica de juros brasileira, denominada de SELIC – taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia para títulos federais. Uma importante variável que irá influenciar o percentual cobrado de juros é a inflação. Não adianta para a instituição financeira cobrar 5% de juros anuais, se o IPCA estiver a 7% ao ano. Quando o banco receber o dinheiro do empréstimo, ele valerá menos do que quando foi concedido, mesmo que o cliente esteja pagando os juros combinados! A partir da taxa básica determinada pelo BACEN, o sistema financeiro adiciona outras variáveis que irão compor as taxas oferecidas aos seus clientes, como o cheque especial, crédito imobiliário ou financiamento de um veículo. Esses outros componentes aumentam a taxa ao consumidor final e basicamente estão relacionados à incerteza e aos custos da operação. Quando falamos de incerteza, referimo-nos àquela palavra mágica que baliza qualquer operação financeira: risco. Quanto maior o risco, maior a taxa de juros. Ora, se você tem aquele cunhado “caloteiro” que pede dinheiro emprestado e nunca paga, nem pela maior taxa de juros do mundo você irá emprestar. Mas existe alguém disposto a correr o risco de não receber se ele assinar um contrato em que se compromete a pagar uma taxa condizente com seu perfil de risco. 9 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Além desses três componentes listados (Selic, risco e inflação), outras questões são levadas em consideração na hora de o banco definir a taxa de juros que será cobrada, tais como: custos da operação, impostos e compulsórios – reserva obrigatória recolhida dos depósitos bancários, conforme percentual fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Portanto, há uma grande diferença entre o custo de captação (Selic) do dinheiro e o valor repassado aos clientes. Essa diferença é chamada de spread bancário. A título de curiosidade, apresentamos aqui a composição do spread bancário brasileiro em 2008, segundo o Banco Central. Note que o maior percentual do spread bancário está relacionado ao risco, evidenciado pela inadimplência, com o percentual de 33/6%. Enquanto que os demais ficam com: Custo Administrativo 11,8; Margem Líquida, Erros e Omissões 29,4%; Custo de Direcionamento Compulsorio 1,9% e Impostos 23,3%. Fonte: Banco central No nosso estudo vamos simplificar a realidade e, portanto, vamos pensar na taxa de juros como um todo. A única diferenciaçãoque faremos é entre os juros nominais e reais (descontados a inflação). Quando a taxa bruta de juro é maior do que a taxa de inflação do período de capitalização, diz-se que a taxa de juro real é positiva; caso contrário, é negativa (perdemos dinheiro). Mas como calcular a inflação real? Não, não é simplesmente diminuir a taxa de inflação da taxa nominal; ao contrário, não podemos de forma alguma fazer isso. Vejamos a fórmula de cálculo da taxa real de juros ir = (1+ie) - 1 (1+ D) 10 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Onde: ir = taxa de juros real; ie = taxa efetiva do período; D = deflator (taxa de inflação do período). Para facilitar o entendimento, façamos um cálculo! Exemplo: Suponha que você tenha investido seu dinheiro no banco a uma taxa efetiva de 17% ao ano (a.a). Durante o ano em que o investimento foi feito, a inflação acumulada somou 13%. Qual a taxa real? Aplicando a fórmula... ir = (1+0,17) - 1 (1+ 0,13) ir = 0,0354 Multiplicando por 100, achamos 3,54%. Assim, ao invés de ter valorizado seu investimento em 17%, na realidade você obteve uma renda real de 3,54% Porcentagem e taxa de juros Como você deve ter observado nos exercícios anteriores, a taxa é expressa geralmente em porcentagem. A palavra porcentagem, ou percentagem (per + cento + agem), representa uma fração por cento (cem) de qualquer coisa mensurável. Um valor que represente “dez por cento” de um número qualquer pode ser escrito da seguinte forma: 10%. Na forma fracionária, seria escrito como: 10/100. A fração mostra que o número 10 está sendo dividido por 100. Então, seria o mesmo que escrever na forma unitária: 0,1. As taxas de juros são expressas em unidades de tempo: ao mês (a.m.), ao trimestre (a.t.), ao semestre (a.s.), ao ano (a.a.) etc. Porém, as mais comuns são ao mês e ao ano. Em cálculos de juros, deve ser utilizada a forma unitária. Portanto, o número deve ser dividido por 100, transformando-o na forma unitária antes de efetuar o cálculo. E, se o cálculo referir-se à obtenção da taxa de juro, o resultado deve ser multiplicado por 100, para ser expresso em “por cento”. 11 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Observação: quando utilizamos as teclas financeiras da HP 12C, a taxa de juros não será dividida por 100, pois a calculadora já fará esse cálculo por nós. Principais conceitos empregados nas operações financeiras Para continuarmos nosso estudo sobre os juros, precisamos explicar o significado de alguns termos utilizados em uma operação financeira. Capital ou principal: corresponde ao empréstimo cedido ao tomador sem os juros. Também refere-se ao valor do dinheiro aplicado em determinada operação de investimento. Prazo: é o espaço de tempo da operação. Amortização: pode ocorrer de uma única vez, ao final do prazo da operação, ou em parcelas intermediárias. No momento em que o tomador devolve o capital parcialmente, ocorre a amortização do empréstimo. Quando devolve integralmente, ocorre a liquidação. Taxa de juro: é o percentual que se aplica ao capital, para determinar o valor do juro. Forma de pagamento de juros: determina como os juros serão pagos e sua periodicidade. Período de capitalização: é o espaço de tempo em que o capital rende juro, ao fim do qual é pago ou integrado ao capital, para gerar novo juro. Nas operações de desconto, o juro é pago no início da operação. Juro comercial versus juro exato O juro comercial é calculado com taxa expressa em porcentagem, com base em ano comercial convencionado de 360 dias. Por essa forma de expressão, a taxa anual refere-se à taxa do período de 360 dias, a taxa semestral à do período de 180 dias, a taxa mensal à do período de 30 dias, e assim por diante. Geralmente, as taxas de juros praticadas no mercado financeiro referem-se ao ano comercial. O juro exato é calculado considerando o ano civil de 365 dias e de 366 dias em anos bissextos. Considerações finais Conforme pudemos perceber neste capítulo, as atividades empresariais são influenciadas pela inflação e o pagamento de juros. Portanto essas duas variáveis não 12 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados podem passar despercebidas pelos administradores financeiros. Ao contrário, suas decisões de investimento/financiamento levam bastante em conta tanto o cenário inflacionário quanto as taxas de juros correntes. A inflação influencia a formação das taxas de juros do mercado. Para sabermos se uma decisão de investimento é positiva, precisamos levar em conta a desvalorização do dinheiro no tempo, ou seja, calcular a taxa de juros real. Os percentuais cobrados pelo sistema financeiro são influenciados pelo risco da operação. Quanto pior a capacidade de pagamento de uma empresa, mais caro será obter um empréstimo. Após a leitura deste capítulo você deve ser capaz de: • calcular os índices de preço; • saber o conceito de inflação e sua influência nas atividades empresariais; • calcular a variação média dos índices; • encontrar a inflação acumulada; • calcular a taxa de juros nominal; • saber definir spread bancário. Referências BRANCO, Anísio Costa Castelo. Matemática financeira aplicada. São Paulo: Cengage Learning, 2005. E.book. GIMENES, Cristiano Marchi. Matemática financeira com HP 12C e Excel: uma abordagem descomplicada. São Paulo: Pearson, 2006. CASTANHEIRA, Nelson Pereira; MACEDO, Luis Roberto Dias de. Matemática financeira Aplicada. São Paulo: Pearson, 2008. Objetivos Específicos Temas • Saber calcular, na prática, o ganho de capital ou a despesa com financiamento em determinadas situações. Entender qual é a melhor decisão para a empresa Clodoir Vieira Administração Financeira Aula 03 Professor Juros simples e compostos Introdução 1 Capitalização 2 Juros simples 3 Juros compostos 4 Como calcular Considerações finais Referências 2 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução Após entender o conceito de inflação e juros, passaremos a aprender a utilizar as ferramentas da matemática financeira para entender o valor do dinheiro no tempo. A matemática financeira é o ramo da matemática que estuda o valor do dinheiro e é empregada em operações financeiras, tais como empréstimo, financiamento, aplicação e investimento e seu principal objetivo é permitir a análise e comparação de tais operações, auxiliando-nos na tomada de decisão quanto às mesmas. Para montarmos as fórmulas utilizadas na capitalização simples (juros simples) e na capitalização composta (juros compostos), assim como nos cálculos da prestação, sistemas de amortização e operações de descontos. Capital (C): Capital é a quantidade de dinheiro que será transacionada. Juro (J): É a remuneração pelo uso do capital por certo intervalo de tempo. É a compensação financeira para o agente econômico que emprestou os recursos privando-se, portanto, de utilizá-lo para outra finalidade. Prazo ( “n” ou “t”): É o intervalo de tempo de duração da operação. Montante (M): É a soma do CAPITAL aplicado no início da operação financeira aos juros acumulados durante o prazo da operação. Taxa de juros (i): É a porcentagem do capital que será paga a título de juros, após um determinado tempo. A taxa de juros sempre é referida a um período de tempo, denominado periodicidade. Normalmente, é abreviado conforme tabela abaixo: ao dia a.d. ao mês a.m. ao bimestre a.n. ao trimestre a.t. ao quadrimestre a.q. ao semestre a.s. ao ano a.a. 3 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Desenvolvimento 1 Capitalização É o processo de incorporação do juro ao capital. Chamamos de regime ou sistema de capitalização a forma como vamos realizar esse processo de incorporação. sistema de capitalizaçãosimples: também chamado de juros simples; sistema de capitalização composta: também chamado de juros compostos. 2 Juros simples No sistema de capitalização simples, o juro de qualquer período é constante e sempre calculado sobre o capital ( C ) inicial. Exemplo 1: Se aplicarmos um CAPITAL de R$ 100,00 a uma taxa de juros simples de 5% ao mês, durante 3 meses, quanto iremos receber de juros? Vamos calcular No primeiro mês, vamos receber 5% sobre os R$ 100,00. Assim: Juros iguais a 100 X 0,05= 5 No segundo mês, vamos receber 5% sobre os R$ 100,00. Assim: Juros iguais a 100X 0,05= 5 No terceiro mês, vamos receber 5% sobre os R$ 100,00. Assim: Juros iguais a 100X 0,05= 5 No total receberemos de juros: 5 + 5 + 5 = 15 O valor do resgate, portanto, será o valor investido, R$ 100, mais os juros totais recebidos, R$ 15,00. Assim, concluímos que receberemos R$ 115,00. 4 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Note que calculamos três vezes a incidência da taxa no capital, ou seja, repetimos a operação três vezes porque o n era igual a 3. Mas seria muito complicado fazer esse cálculo se o “n” fosse muito grande, não é verdade? Poderíamos então pensar, para calcular o valor do juro no sistema de capitalização simples, que precisamos multiplicar a taxa pelo capital quantas vezes o “n” mandar... Assim, J = C.i.n J = juro C= capital n = período Vamos aplicar a fórmula com os dados do exercício anterior... J = 100 x 0,05 x 3 = 15 Continuando no mesmo raciocínio, temos que o montante, ou seja, o valor que iremos receber após a aplicação, será igual ao capital que investimos mais os juros recebidos. Assim, M = C + J M = montante C = capital J = juros Vamos aplicar a fórmula com os dados do exercício anterior... M = 100 + 15 = 115 Pensando mais uma vez.... Se o M = C+J e J= C.i.n, posso chegar a conclusão de que: M = C + (C.i.n) ou colocando em evidência 5 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados M = C (1+in) O fator “(1 + i . n)” é chamado de fator de acumulação de capital para juros simples. Portanto, o montante de uma operação financeira que utiliza o regime de capitalização simples será igual à multiplicação do CAPITAL (C) pelo fator de acumulação de capital para juros simples (1 + i . n). Confirmando a conta... M = 100. (1+0,05.3) Cuidado com a matemática! Precisamos, primeiramente, resolver a multiplicação dentro dos parênteses, depois somar e, por último, realizar a multiplicação. Assim, M = 100. (1+0,15) = 115 IMPORTANTE: Para calcular os juros totais que a aplicação financeira rendeu, tivemos que converter 1 ano em 12 meses, que era a PERIODICIDADE da taxa. Portanto, A UNIDADE DE TEMPO DO PRAZO DA OPERAÇÃO DEVERÁ SER SEMPRE IGUAL À PERIODICIDADE DA TAXA DE JUROS, pois “n” É O NÚMERO DE PERÍODOS DA TAXA DE JUROS CONTIDOS NO PRAZO DA APLICAÇÃO! Outras fórmulas: Das duas equações que deduzimos, conseguimos calcular qualquer variável necessária: C = M (1 +i.n) I = M/C – 1 n n = M/C – 1 i 3 Juros Compostos No sistema de capitalização composta, o juro de qualquer período é calculado sobre o valor do montante (M) do período anterior. 6 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Exemplo 2 - Se aplicarmos um CAPITAL de R$ 100,00 a uma taxa de juros composta de 5% ao mês, durante 3 meses, quanto iremos receber de juros? Vamos calcular: No primeiro mês, vamos receber 5% sobre os R$ 100,00. Assim: Juros iguais a 100X 0,05= 5 No segundo mês, vamos receber 5% sobre os R$ 105,00. Assim: Juros iguais a 105X 0,05= 5,25 No terceiro mês, vamos receber 5% sobre os R$ 110,25. Assim: Juros iguais a 110,25X 0,05= 5,51 No total receberemos de juros: 5 + 5,25 + 5,51 = 15,76 O valor do resgate, portanto, será o valor investido, R$ 100, mais os juros totais recebidos, R$ 15,76. Assim, concluímos que receberemos R$ 115,76. Note que na capitalização composta, o valor dos juros recebidos no período é maior do que o valor que obtivemos nos juros simples. Logo, podemos concluir que: M1 = C . (1 + i) o “n” não é necessário, pois a capitalização é efetuada a cada “1” período. M2 = M1 . (1 + i) ou seja, M2 = C (1 + i) . (1 + i), ou seja, M2 = C . (1 + i)² M3 = M2 . (1 + i) ou seja, M3 = C (1 + i)² . (1 + i) ou seja, M3 = C . (1 + i)³ Assim, a fórmula para o cálculo do montante no enésimo período é dada por: M = C . (1 + i)n A fórmula dos juros compostos acumulados ao final do prazo é obtida a partir da fórmula geral de juros, conforme segue: J = M – C J = C . (1 + i)n - C 7 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Colocando “C” em evidência, obtemos: J = C . [ (1 + i)n - 1] O fator “(1 + i)n” é chamado de FATOR DE ACUMULAÇÃO DO CAPITAL para JUROS COMPOSTOS, ou ainda FATOR DE CAPITALIZAÇÃO COMPOSTA. Perceba que tanto no regime de juros simples como no regime de juros compostos, o montante é dado pelo produto do capital pelo respectivo fator de acumulação. Das fórmulas apresentadas, podemos derivá-las para encontrar as outras variáveis: C = M (1+i)n i = ( √( )) 𝑛 = 𝑙𝑛 (𝐹𝑉/𝑃𝑉) ln(1 + 𝑖) Na HP 12 C, utilizamos as teclas financeiras que ficam na primeira fileira do lado esquerdo da calculadora, conforme a figura abaixo: Primeiro passo: limpe a memória de sua calculadora, apertando f CLX. Segundo passo: vamos adaptar as contas para juros compostos, para isso aperte STO EEX. Após apertar essas duas teclas, você pode verificar que vai aparecer um c no canto direito do painel da calculadora. 8 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Terceiro passo: inserir os dados: C = PV M = FV i = i (colocamos a forma em percentuais e não em decimais!) n = n Utilizando os dados do exemplo, vamos calcular o montante na HP. 100 PV 5i 3n FV Note que o resultado que aparece é negativo (-115,76). Isso acontece porque a HP 12C trabalha com o conceito de fluxo de caixa, ou seja, um dos dois (FV ou PV) deverá ser negativo e o outro positivo. Este é um simples ponto de vista. Se você investiu $100, quer dizer que saiu do seu bolso, o PV é negativo e quando receber de volta terá o FV positivo. O contrário também é verdadeiro. Ao final, na hora de apresentar o resultado, ignore o sinal negativo. Mas cuidado! Atente para esse conceito, quando precisar calcular a taxa de juros ou o prazo. Um dos dois (PV ou FV) precisará ter o sinal trocado. 4 Como calcular Para que esses conceitos fiquem mais claros, vamos resolver juntos alguns exercícios que envolvem a capitalização simples e a capitalização composta. Exemplos de cálculo de juros simples Exemplo 1 Calcular o montante produzido por um capital de R$ 6.000,00, aplicado a uma taxa de juros de 8% aa., pelo prazo de 2 anos. Resolução: M = ? – É o que o problema me pede 9 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados C = R$ 6.000,00 i = 8% aa = 0,08 aa. n = 2 anos Como a periodicidade do prazo e da taxa são iguais, podemos utilizar diretamente n = 2. Assim, passamos a aplicar a fórmula: J = C.i.n J = R$ 6.000,00 x 0,08 x 2 J = R$ 960,00 M = C + J M = R$ 6.000,00 + R$ 960,00 M = R$ 6.960,00 Também podemos aplicar a fórmula do montante diretamente: M = C (1 + i . n) M = R$ 6.000,00 (1 + 0,08 x 2) M = R$ 6.000,00 x 1,16 M = R$ 6.960,00 Exemplo 2 Um capital no valor de R$ 120,00, aplicado a juros simples a uma taxa de 3,6% a.m., atinge, em 20 dias, um montante de: Note que o período (n) do empréstimo é diferente do período da taxa de juros, portanto precisamos tornar os dois iguais. Como o mês (juros comercial) é de 30 dias, temosque o n deve ser dado por 20/30, assim n passa a ser 0,6667. Estamos usando quatro casas decimais para que o cálculo se torne mais exato. Aplicando a fórmula dada, temos: M = C (1+ i.n) M = 120 (1+ 0,036.0,06667) = 122,90 ou R$ 122,88 (quando empregamos quatro casas após a vírgula) 10 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Exemplo 3 Calcular o montante produzido por um capital igual a R$ 20.000,00 durante 3 anos, considerando o regime de juros simples e uma taxa de 5% a.t. A unidade de medida de tempo do prazo é anual e a taxa é trimestral. Portanto, para calcularmos os juros é necessário que adotemos a mesma unidade de tempo para a taxa de juros e para o prazo. Assim, convertendo o prazo para trimestres, temos que n = 12, pois, se 1 ano = 4 trimestres, 3 anos = 12 trimestres (4 trimestres vezes 3 anos). C = 20.000 n = 12 i = 0,05 M = ? Aplicando a fórmula, temos: M = 20.000 (1 + 0,05x12) = 32.000 Exemplo 4 Em quanto tempo um capital, aplicado à taxa de 2,50% a.m., rende juros simples equivalentes a 2/5 do seu valor? Como não temos o capital, precisamos fixar o valor. Portanto, vamos adotar R$ 100,00, de forma a facilitar nosso cálculo. Se o capital é 100, o valor dos juros é igual a 100 X 2/5, ou seja, é igual a 40,00. Com base nesses valores, conseguimos calcular o tempo... J = C.i.n 40 = 100.0,025.n 40= 2,5 n Passamos o 2,5 que está multiplicando para o outro lado, dividindo. Assim, n = 40/2,5 n = 16 meses. 11 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Exemplo 5 Uma loja oferece um fogão por R$ 2.000,00 à vista ou 20% do valor à vista de entra e mais um pagamento de R$ 1.700,00 após 6 meses. A taxa de juros simples cobrada financiamento é igual a: Vamos avaliar a situação. Onde está o capital e onde estão o montante e os juros? Se a loja cobra 2.000 pelo fogão, presumimos que esse seja o capital, pois aquisições à vista não há incidência de taxa de juros! E o montante? Ora, se a loja cobra 20% do valor à vista mais 1.700 após 6 mes presumimos que há incidência de juros! Temos que a parcela inicial equivale a R$ 400,00, ou 20% do valor total (R$ 2.000). Ap seis meses, a pessoa paga R$ 1.700. Assim, o valor final que a pessoa irá pagar no valor do fogão é de R$ 2.100. Esse é montante! Assim, temos que: 2.100 = 2000 (1+i.6) Passamos os 2000 que estão multiplicando para o outro lado, desta vez dividindo... 2.100/2000 = (1 + i.6) 1,05 = 1 + i.6 Passamos o 1 que está somando, para o outro lado, reduzindo... 1,05 – 1 = i.6 0,05 = i.6 Passamos o 6 dividindo e temos que i = 0,00833. Ao multiplicarmos por 100, temos a taxa em percentuais – 0,833%. da no nas es, ós o 12 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Exemplos de cálculo de juros compostos Exemplo 1 Calcular o montante produzido por um capital de R$ 6.000,00, aplicado a uma taxa de juros de 8% a.a., pelo prazo de 2 anos. Resolução M = 6000 (1+0,08)2 = 6998,4 Na HP 6000 PV 2 n 8 i FV - 6.998,40 Exemplo 2 Um capital de R$ 100.000,00, aplicado a juros compostos, capitalizados mensalmente durante 8 meses, elevou-se a R$ 170.000,00. A taxa de juros que remunerou esse capital, ao mês, é de? i = i = ( √( )) i =8√ ou 1,7 1/8 -1 i = 0,06859 X 100 i = 6,86% Na HP 12 C 170.000 CHS FV 100.000 PV 8 N I 6,86% 13 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Exemplo 3 Qual é o valor que devo aplicar hoje, a uma taxa de juros compostos de 3,50% a.m. e capitalizados bimestralmente, para obter R$ 22.410,00 de juros ao final de 1 ano e 4 meses? Note que o tempo é anual e a taxa de juros é mensal, assim precisamos transformar o tempo em meses: 1 ano é igual a 12 meses. Nesse caso, ainda temos mais 4 meses. Assim, n= 16 meses. C = 22.410 (1+ 0,035)16 C = 12.923,98 Na HP 12 C 22410 FV 16 n 3,5 i PV 12.923,98 Exemplo 4 Qual a quantia que deve ser aplicada a uma taxa de juros compostos de 2,50% ao mês, capitalizadas mensalmente, para gerar o montante de R$ 13.257,10 ao final de 1,5 ano? C = ? n = 1,5 anos = 18 meses i = 2,5% a.m = 0,025 a.m. M = R$ 13.257,10 C = R$ 13.257,10 ( 1 + 0,025)18 C = R$ 8.500,00 Na HP 12 C 14 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 13.257 FV 2,5 i 18 n PV 8.4999,94 Exemplo 5 Seu cunhado pega emprestado de você o valor de R$ 20.000, para pagar juros compostos de 20% ao ano. Ele ficará com o dinheiro por um semestre. No meio do caminho, ele decide repassar o recurso a juros simples, com a mesma taxa no mesmo período. Quanto ele “perderá”? Lembre-se: 1 semestre = meio ano, ou seja, 0,5. Empréstimo a juros compostos M = 20.000 (1+0,2)0,5 = 21.908,90 Empréstimo a juros simples M = 20.000 (1+0,2.0,5) = 22.000 Note que seu cunhado ganhou dinheiro. Sempre que o prazo de uma operação ficar abaixo de 1, os juros simples renderão mais que os juros compostos. Considerações finais Neste capítulo aprendemos as diferenças entre a capitalização simples e a capitalização composta e como calcular as duas. Esse conhecimento é de extrema importância não só para o administrador financeiro mas para qualquer cidadão que toma empréstimos ou realiza operações de investimento. Após a leitura deste capítulo você deve ser capaz de: resolver operações que envolvam capitalização simples; resolver operações que envolvam capitalização composta. 15 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Referências BRANCO, Anísio Costa Castelo. Matemática financeira aplicada. São Paulo: Cengage Learning, 2005. E.book. GIMENES, Cristiano Marchi. Matemática financeira com HP 12C e Excel: uma abordagem descomplicada. São Paulo: Pearson, 2006. CASTANHEIRA, Nelson Pereira; MACEDO, Luis Roberto Dias de. Matemática financeira Aplicada. São Paulo: Pearson, 2008. Objetivos Específicos Temas • Saber como fazer conversão de taxas Clodoir Vieira Administração Financeira Aula 04 Professor Taxas equivalentes, nominais e efetivas Introdução 1 Taxas proporcionais 2 Taxas equivalentes 3 Taxas nominais e efetivas Considerações finais Referências marcella.rmaiolino Pencil 2 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução Até agora calculamos os exercícios fazendo a conversão do tempo para que fique na mesma periodicidade da taxa. Neste capítulo veremos como converter as taxas em juros simples e em juros compostos e as diferenças entre taxas nominais e efetivas. Tal conhecimento é importante para que entendamos como funcionam algumas operações no mercado financeiro e quais juros verdadeiramente incidirão sobre os empréstimos que vamos obter. 1 Taxas proporcionais As taxas proporcionais pertencem ao sistema de capitalização simples. São denominadas, assim, duas ou mais taxas expressas em unidades de tempo diferentes, que produzem uma mesma taxa, quando calculadas no mesmo período. Como obter? As taxas proporcionais são obtidas multiplicando ou dividindo de acordo com a unidade de tempo. Podemos fazer isso porque estamos trabalhando com juros lineares: J = C.i.n C . i1 . n = C . i2 . n Exemplos 1% ao dia = 30% ao mês = 60% ao bimestre = 120% ao quadrimestre = 180% ao semestre = 360% ao ano. Da mesma forma... 20% ao ano = 10% ao semestre = 5% ao trimestre. Vamos resolver um exercício juntos? As taxas de juros ao semestre, proporcionais às taxas de 30%a.t., 40%a.b., 36%a.q. e 24%a.m. no regime de capitalização simples, são respectivamente: Um semestre é igual a dois trimestres. Portanto a.s. = 2x 30% = 60% Um semestre é igual a três bimestres. Portanto a.s. = 3x40% = 120% Umsemestre é igual a 1,5 quadrimestre. Portanto a.s. = 1,5 x 36 = 54% Um semestre é igual a seis meses. Portanto a.s. é igual a 6x24 = 144% 3 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 2 Taxas equivalentes As taxas equivalentes pertencem ao sistema de capitalização composta. São denominadas assim duas ou mais taxas expressas em unidades de tempo diferentes, que produzem uma mesma taxa, quando calculadas no mesmo período. Como obter? As taxas equivalentes NÃO PODEM ser obtidas multiplicando ou dividindo de acordo com a unidade de tempo, pois NÃO estamos trabalhando com juros lineares. Dessa forma, precisamos utilizar a fórmula abaixo para obtê-las: √ ou melhor iq = (1+i)1/q - 1 Exemplos 1. A taxa mensal equivalente à taxa anual de 12% é igual a... Sabemos que um ano é igual a 12 meses. Então... im = (1 + ia)1/12 – 1 im = (1+0,12) 1/12 – 1 im = 0,009488 ou 0,949% ao mês 2. A taxa anual equivalente a uma taxa diária de 0,05% é igual a... Aqui temos uma situação diferente! id = (1+ia)1/360 – 1 Como temos o ia e queremos saber o id, precisamos mexer nessa equação, que ficará da seguinte forma: ia = (1+id)360 -1 ia = (1+ 0,0005)360 – 1 = 0,1972 ou 19,72% ao ano. 4 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Para entender melhor como obtemos o número que deve entrar como expoente, precisamos ter em mente que: 1 ano = 2 semestres = 3 quadrimestres = 4 trimestres = 6 bimestres = 12 meses = 360 dias 1 dia = 1/30 meses = 1/60 bimestres = 1/90 trimestres = 1/120 quadrimestres = 1/180 semestres = 1/360 anos 1 mês = 1/12 anos = 1/6 semestres = 1/4 quadrimestres = 1/3 trimestres = 1/2 bimestres = 30 dias. Vamos resolver exercícios juntos? As taxas de juros ao semestre, equivalentes às taxas de 30%a.t., 40%a.b., 36%a.q. e 24%a.m. no regime de capitalização composta, são respectivamente: Um semestre é igual a dois trimestres. Portanto as = (1+it)2 - 1= (1 +0,3)2 -1 = 0,69 ou 69% Um semestre é igual a três bimestres. Portanto as = (1+ib)3 - 1= (1 +0,4)3 -1 = 1,744 ou 174% Um semestre é igual a 1,5 quatrimestre. Portanto as = (1+iq)1,5 - 1= (1 +0,36)1,5 -1 = 0,58602 = 58,6% Um semestre é igual a seis meses. Portanto as = (1+im)6 - 1= (1 +0,24)6 -1 = 2,6352 = 263,52% As taxas de juros ao mês, equivalentes às taxas de 30%a.t., 40%a.b., 36%a.q. e 24%a.a. no regime de capitalização composta, são respectivamente: 5 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Um mês é igual a 1/3 trimestre Portanto am = (1+it)1/3 - 1= (1 +0,3)1/3 -1 = 0,0914 ou 9,14% Um mês é igual a 1/2 bimestre Portanto am = (1+ib)1/2 - 1= (1 +0,4)1/2 -1 = 0,1832 = 18,32 Um mês é igual a 1/4 quadrimestre Portanto am = (1+iq)1/4 - 1= (1 +0,36)1/4 -1 = 0,0799 = 7,99% Um mês é igual a 1/12 ano Portanto am = (1+ia)1/12 - 1= (1 +0,24)1/12 -1 = 0,01809 = 1,81% 3 Taxas nominais e efetivas Taxa nominal é a taxa de juros contratada em uma operação financeira. Serve apenas como uma taxa de referência, através da qual INICIAMOS A ANÁLISE DA CAPITALIZAÇÃO OU DESCAPITALIZAÇÃO, independentemente do regime utilizado. Taxa efetiva é a taxa produzida pela capitalização da taxa nominal. É a taxa verdadeiramente paga por uma aplicação ou utilizada em um desconto. Exemplo: No REGIME DE JUROS SIMPLES, uma taxa nominal de 1% ao mês, aplicada sobre um capital pelo prazo de um ano, equivale a uma taxa efetiva de 12% ao ano. Nesse regime, para um mesmo prazo, taxas nominais e efetivas são iguais. Por exemplo: 6 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Uma aplicação de R$ 1.000,00, com remuneração de 1% a.m., juros simples, por um ano, produz juros de R$ 120,00. Já no REGIME DE JUROS COMPOSTOS e considerando o exemplo anterior, uma taxa nominal de 12% ao ano, CAPITALIZADA MENSALMENTE, equivale a uma taxa efetiva de 12,6825% ao ano, produzindo juros aproximados de R$ 126,83. Nesse regime, para um mesmo prazo, taxas nominais e efetivas são diferentes. Como calculamos isso? Primeiro dividimos a taxa nominal por 12 meses. Temos o resultado de 1% ao mês. Depois vamos encontrar a taxa anual equivalente a 1% ao mês ia = (1+im)12 -1 ia = (1,01)12 – 1 = 0,12683 ou 12,683%. Assim, para C = 1.000 , temos M = 1.000 x (1+0,12683)1 = 1126,83 J = M – C 1.126,83 – 1.000 = 126,83 Vamos resolver exercícios juntos? 1 - Quanto pagarei de juros em um financiamento de R$ 50 mil com taxa nominal de 10% ao ano, capitalizados diariamente? Primeiro dividimos a taxa nominal por 360 dias. Temos o resultado de 0,000278 ou 0,027778% ao dia. Depois vamos encontrar a taxa anual equivalente a 0,027778% ao dia. ia = (1+id)360 -1 ia = (1,000278)360 – 1 = 0,105156 ou 10,516% Assim, para C = 50.000, temos M = 50.000 x (1+0, 105156)1 = 55.257,78 J = M – C 7 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados J = 55.257,78 – 50.000 Pagarei 5.257,78 2 - Você pegou um empréstimo de R$ 6.000 a uma taxa nominal de 30% ao ano, capitalizada semestralmente. Quanto pagará de juros? Primeiro dividimos a taxa nominal por 2 semestres. Temos o resultado de 15% ao semestre. Depois vamos encontrar a taxa anual equivalente a 15% ao semestre . ia = (1+is)2 -1 ia = (1,15)2 – 1 = 0,3225 = 32,25% ao semestre Assim, para C = 6.000, temos M = 6.000 x (1+0,3225)1 = 7935 J = M – C 7935-6000 =1935 3 – Qual será a taxa nominal de uma operação de duração de 1 ano, em que a pessoa pegou emprestado o valor de R$ 8.000 e pagou um juros de R$ 800. (Considere capitalização mensal.) Nesse exercício, faremos o processo inverso! Primeiro, vamos encontrar a taxa efetiva desse empréstimo, através da fórmula dos juros compostos. O montante é o capital (empréstimo) somado ao juros pagos, ou seja, 8.000 + 800 = 8.800. Assim, temos: i = ( √( )) i = ( √( )) 8 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados i = 0,10 ou 10% ao ano Agora vamos encontrar a taxa mensal equivalente a 10% ao ano. im = (1+ia)1/12 -1 im = (1+0,10)1/12 -1 im = 0,007974 ou 0,7974% ao mês A taxa nominal anual será a taxa mensal nominal multiplicada por 12 = 9,57% ao mês. Considerações finais Neste capítulo aprendemos os conceitos e as diferenças das taxas proporcionais, taxas equivalentes, taxas nominais e efetivas. Realizamos uma série de cálculos para entender como chegamos aos resultados finais. Após a leitura deste capítulo você deve ser capaz de: comparar taxas; converter taxas proporcionais e equivalentes; transformar taxas nominais em efetivas. Referências BRANCO, Anísio Costa Castelo. Matemática financeira aplicada. São Paulo: Cengage Learning, 2005. E.book. GIMENES, Cristiano Marchi. Matemática financeira com HP 12C e Excel: uma abordagem descomplicada. São Paulo: Pearson, 2006. CASTANHEIRA, Nelson Pereira; MACEDO, Luis Roberto Dias de. Matemática financeira Aplicada. São Paulo: Pearson, 2008. Objetivos Específicos Temas • Aprender a calcular na prática e entender quando vale a pena antecipar os pagamentos ou obter crédito através das operações de descontos Clodoir Vieira Administração Financeira Aula 05 Professor Descontos: comercial, bancário e racional Introdução 1 Desconto Considerações finais Referências 2 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução Quando uma empresa ou nós mesmos fazemos um financiamento de longo prazo, muitas vezes conseguimos dinheiro o suficiente para pagar o valor do empréstimo restante de uma vez só. Porém, se a instituição financeira não descontasse os juros que incidiria sobre o valor, com certeza tal operação não valeria a pena. Assim, decidiríamosaplicar o dinheiro disponível e pagar as prestações do empréstimo como acordado. Na prática, as operações de antecipação de pagamentos devem vir com um desconto sobre o que seria pago a prazo. Veremos como calcular esses descontos neste capítulo. 1 Desconto A operação de desconto consiste em antecipar o recebimento que um credor teria no futuro mediante a “retirada” dos juros relativos ao prazo da antecipação. As operações mais comuns de desconto são aquelas em que as empresas se utilizam dos chamados títulos de crédito para antecipar um recebimento futuro. Os títulos de crédito são instrumentos financeiros usados para a formalização de dívidas pagas no futuro e formalizadas em prazo previamente estipulado. Esses ativos financeiros, por serem endossáveis, possibilitam que os credores possam vendê-los por um valor à vista menor que o recebimento futuro. Tal operação é denominada de desconto de títulos. 1.1 Títulos • Letra de câmbio • Fatura • Duplicata • Nota promissória • Debêntures Por exemplo, uma empresa recebeu uma duplicata de seu cliente no valor de R$ 5.000 para dois meses. Essa empresa pode ir ao banco trocar a duplicata e receber um valor hoje, menor que os R$ 5.000 a receber. A diferença é relativa aos juros cobrados pelo banco. O valor pago pelo banco na data do desconto é chamado de VALOR ATUAL (Va) ou VALOR DESCONTADO, resultado do VALOR NOMINAL (N), ou VALOR DE FACE ou VALOR FUTURO (VF) menos o DESCONTO (D), ou seja: Va = N - D 3 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados As formas mais usuais de desconto são o desconto bancário ou comercial simples (por fora) e o desconto racional simples (por dentro). Também existem os descontos compostos: desconto bancário composto (não utilizado no Brasil) e desconto racional composto (utilizado nas operações financeiras de longo prazo). Vejamos as diferenças: 1.2 Desconto comercial (bancário) simples ou por fora É amplamente adotado no Brasil. Nessa operação temos os juros que seriam produzidos pelo VALOR NOMINAL (N) se ele fosse aplicado pelo prazo de antecipação, à taxa de desconto dada. Portanto, considerando que o VALOR NOMINAL é o CAPITAL que produzirá os juros, obtemos as seguintes fórmulas: M = N (1 + i . n) O desconto será dado por: D = N . i . n O Valor Atual, ou seja, o valor recebido pelo comerciante ao descontar a duplicada será igual a: Va = N – D, Assim, concluímos que: Va = N – N . i , n Colocando “N” em evidência, obtemos que: Va = N (1 – i . n) Nomenclatura utilizada N = valor nominal (capital); n = número de termos ou número de parcelas ou número de prestações; i = taxa de juros; M = montante, valor futuro ou valor final (VF); D = desconto; Va = valor atual. 4 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Exemplo1: Um comerciante possui uma nota promissória com valor nominal de R$ 440,00 que vencerá em 2 meses. Entretanto, como ele necessita de recursos imediatamente, decide antecipá-la em um banco. O valor que o comerciante receberá será igual ao VALOR ATUAL (Va) da nota promissória. Considerando que a taxa de juros adotada pelo banco seja de 5% a.m., temos que: M = N (1 + i . n) M = R$ 440,00 (1 + 0,05 x 2) M = R$ 440,00 x 1,10 M = R$ 484,00 Ora, se consideramos que o VALOR NOMINAL aplicado a juros simples de 5% a.m. produzirá um montante de R$ 484,00, concluímos que a diferença entre eles, ou seja, R$ 44,00, é o DESCONTO COMERCIAL SIMPLES. Outra forma de calcularmos o desconto deriva da seguinte fórmula: Va = N (1 – i . n) Va = R$ 440,00 (1 – 0,05 x 2) Va = R$ 440,00 x 0,90 Va = R$ 396,00 Como D = N – Va, logo: D = R$ 440,00 – R$ 396,00 D = R$ 44,00 Exemplo 2 Um comerciante decide descontar em um banco um título de valor nominal igual a R$ 5.000,00, com vencimento para 180 dias. Para esse tipo de operação, o título sofrerá um desconto comercial simples de 9% ao trimestre. Portanto, o valor do desconto e o valor atual serão: Lembre-se 180 dias = 6 meses = 2 trimestres M = N (1 + i . n) 5 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados M = 5.000 (1 + 0,09.2) M = 5.900 Se considerarmos que o VALOR NOMINAL aplicado a juros simples de 9% a.t. produzirá um montante de R$ 5.900, concluímos que a diferença entre eles, ou seja, R$ 900,00, é o DESCONTO COMERCIAL SIMPLES O valor atual é N – D. Assim: Va = 5.000 – 900 = 4.100 1.3 Desconto racional simples ou por dentro No Desconto Racional Simples, o VALOR ATUAL (Va) corresponde a um CAPITAL (C) aplicado a juros simples, pelo prazo de antecipação, e o VALOR NOMINAL (N) corresponde ao MONTANTE (M) produzido por essa aplicação. Considerando que a fórmula do montante a juros simples é M = C (1 + i . n), e, considerando que M = N e Va = C, temos: N = Va (1 + i . n) Logo, o VALOR ATUAL (Va) será: Va = N (1 + i . n) Como vimos anteriormente, Va = N – D. Logo, concluímos que: D = N – Va Exemplo 1 Um comerciante possui uma nota promissória com valor nominal de R$ 440,00 que vencerá em 2 meses. Entretanto, como ele necessita de recursos imediatamente, decide antecipá-la em um banco. O valor que o comerciante receberá será igual ao VALOR ATUAL (Va) da nota promissória. Considerando que a taxa de juros adotada pelo banco seja de 5% a.m., temos que: 6 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados N = R$ 440,00 I = 5% AM. n = 2 meses Va = N (1 + i . n) Va = 440,00 (1 + 0,05 x 2) Va = 440,00 1,10 Va = R$ 400,00 Portanto, o DESCONTO RACIONAL SIMPLES é: D = N – Va D = R$ 440,00 – R$ 400,00 D = R$ 40,00 Exemplo 2 Um comerciante decide descontar em um banco um título de valor nominal igual a R$ 5.000,00, com vencimento para 180 dias. Para esse tipo de operação, o título sofrerá um desconto racional simples de 9% a.t. Portanto, o valor do desconto e o valor atual serão... Lembre-se 180 dias = 6 meses = 2 trimestres Va = N (1 + i . n) Va = 5000 (1 + 0,09 . 2) Va = 4,237,29 Portanto, o DESCONTO RACIONAL SIMPLES é: D = N – Va D = R$ 5.000 – R$ 4237 = 762,71 D = R$ 40,00 7 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 1.4 Diferenças Para entender a diferença entre as nomenclaturas, imaginemos os descontos simples como o sendo um ser humano, em que a parte COMERCIAL é o corpo, que se vê e está POR FORA, enquanto o cérebro, que é o raciocínio, o RACIONAL, não se vê e está POR DENTRO. Seguindo esse raciocínio, basta lembramos que, no DESCONTO RACIONAL, os juros são produzidos por um VALOR ATUAL que desconhecemos. Já no DESCONTO COMERCIAL, os juros são produzidos pelo VALOR NOMINAL, que conhecemos. Costuma-se diferenciar os tipos de descontos utilizando “Drs” para DESCONTO RACIONAL SIMPLES e “Dcs” para DESCONTO COMERCIAL SIMPLES, assim como para as demais variáveis. 1.5 Desconto racional composto ou por dentro No Desconto Racional Composto, “por dentro”, é calculada a diferença entre o valor futuro de um título e o seu valor atual, determinado com base no regime de capitalização composta; portanto de aplicação generalizada. o VALOR ATUAL (Va) corresponde a um CAPITAL (C) aplicado a juros simples, pelo prazo de antecipação, e o VALOR NOMINAL (N) corresponde ao MONTANTE (M) produzido por essa aplicação. O desconto é a diferença entre o valor futuro de um título e o seu valor atual, calculado com base no regime de capitalização composta, como segue: D = N – Va = N – N (1+i) n ou D = N (1+i) n - 1 (1+i) n Exemplo 1 Um comerciante possui uma nota promissória com valor nominal deR$ 440,00 que vencerá em 2 meses. Entretanto, como ele necessita de recursos imediatamente, decide antecipá-la em um banco. O valor que o comerciante receberá será igual ao VALOR ATUAL (Va) da nota promissória. Considerando que a taxa de juros adotada pelo banco seja de 5% a.m. e admitindo um desconto racional composto, temos que: D = 440 (1+0,05) 2 - 1 (1+0,05) 2 D = 440 0,10 1,10 8 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados D = 39,90 VA = 440 – 39,91 = 400,09 1.6 Desconto comercial composto ou por fora Como esse tipo de desconto não é utilizado no Brasil, não vamos nos concentrar no cálculo dessa operação. Considerações finais Neste capítulo aprendemos como calcular descontos e operações financeiras de antecipação de recebíveis. Após a leitura deste capítulo você será capaz de calcular: • desconto comercial simples (por fora); • desconto racional simples (por dentro); • desconto racional composto. Referências BRANCO, A. C. C. Matemática financeira aplicada. São Paulo: Cengage Learning, 2005. E.book. GIMENES, C. M. Matemática financeira com HP 12C e Excel: uma abordagem descomplicada. São Paulo: Pearson, 2006. CASTANHEIRA, N. P.; MACEDO, L. R. D. de. Matemática financeira Aplicada. São Paulo: Pearson, 2008. Objetivos Específicos Temas • Entender o que é e como calcular as séries uniformes de pagamentos Clodoir Vieira Administração Financeira Aula 06 Professor Séries de pagamentos Introdução 1 Séries uniformes de pagamento Considerações finais Referências marcella.rmaiolino Pencil 2 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução Neste capítulo você aprenderá a calcular algo presente em toda a vida. Quem nunca financiou um eletrodoméstico ou algo similar em algumas prestações? Já parou para verificar o valor dos juros pagos? Vamos estudar agora como calcular as prestações em séries uniformes de pagamento. Saber isso é muito importante para você, que passará a pensar duas vezes antes de comprar a prazo. Além do mais, poderá comparar os juros entre os estabelecimentos comerciais e tomar a melhor decisão. 1 Séries uniformes de pagamento Séries de pagamentos estão relacionadas a pagamentos feitos ao longo do tempo. Os valores pagos ou recebidos em intervalos durante o prazo acordado são denominados de parcelas. Precisamos lembrar ainda que o tempo de duração da operação financeira é definido como prazo e os intervalos de pagamentos são chamados de período. A série uniforme de pagamentos, portanto, é a sucessão de prestações, de mesmo valor, que podem ser representadas por R ou PMT e são pagas em intervalos iguais. A principal característica de uma série uniforme de pagamentos é que os desembolsos são divididos regularmente num período de tempo. Assim, o montante a ser pago durante o período pode ser obtido através da soma do valor das prestações. 1.1 Tipos de séries 1.1.1 Antecipadas Nas séries uniformes de pagamentos definidas como antecipadas, há o pagamento da primeira parcela no ato do fechamento do negócio, ou seja, no tempo zero. Esse tipo de sistema de pagamento é também chamado de sistema de pagamento com entrada. Portanto, o fluxo de caixa de pagamentos pode ser demonstrado assim: P ou C PMT ou R 3 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Diante de um diagrama de fluxo de caixa, podemos fazer algumas observações. No momento 0 pegamos o valor do financiamento e pagamos a primeira prestação, ou seja, damos uma entrada e dividimos o restante depois. Podemos perceber também que o valor da prestação (exibido pelo tamanho da seta) é igual para todos os períodos. A última prestação será paga no momento n, que dependerá do número de vezes em que o empréstimo foi acordado. A soma de todas nos dá o valor total a ser pago. 1.1.2 Postecipadas Nas séries uniformes de pagamentos definidas como postecipadas, NÃO há o pagamento da primeira parcela no ato do fechamento do negócio, ou seja, a primeira prestação é paga no período seguinte do acordado, geralmente um mês depois. Portanto, o fluxo de caixa de pagamentos pode ser demonstrado assim: O fluxo de caixa abrange o valor de recebimento inicial e o número de parcelas de pagamentos ao longo do tempo. Se o número de intervalos for n, então temos n parcelas que são encaradas de forma negativa, ou seja, há saída de caixa. O diagrama de fluxo de caixa destaca que no tempo 0 pegamos o valor do financiamento. A primeira prestação vai ser paga no momento 1, ou seja, se a prestação for mensal, ela será paga somente um mês após o financiamento ser realizado. Como não há entrada, essa série é chamada de série de termos vencidos. Podemos perceber também que o valor da prestação (exibido pelo 4 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados tamanho da seta) é igual para todos os períodos. A última prestação será paga no momento n, que dependerá do número de vezes em que o empréstimo for acordado. A soma de todas nos dá o valor total a ser pago. • Nomenclatura utilizada P ou C = valor financiado, também chamado de principal ou valor presente (PV – present value) ou valor atual; R ou PMT = valor de cada prestação ou termo; PMT vem do Inglês “Payment” n = número de termos ou número de parcelas ou número de prestações; i = taxa de juros; M = montante, valor futuro ou valor final (VF – Future Value). 1.1.3 Como calcular as séries antecipadas Principal, capital ou valor presente C = PMT (1+i)n -1 (1+i)n-1 .i Prestação (PMT ou R) PMT = PV (1+i)n-1 .i (1+i)n -1 ou PMT = M i 1 (1+i)n -1 (1+i) Valor final ou montante M = PMT (1+i)n -1 . (1+i) i 5 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 1.1.4 Na HP 12 C Para calcularmos as séries antecipadas de pagamentos na HP 12 C, precisamos usar a tecla BEGIN (BEG de begin = início). Para acionar a tecla Begin, aperte G e em seguida 7. Note que no mostrador vai aparecer escrito Begin logo abaixo dos 0,0000. Não esqueça também que o c deve aparecer no mostrador logo à direita. Caso não apareça, aperte STO EEX. Vejamos agora onde aparecem nossas variáveis. Abaixo do mostrador temos as teclas: n, i, PV, PMT, FV. Onde: n = tempo (número de prestações); i = taxa de juros; PV = valor presente ou capital; PMT = valor da prestação; FV = valor final ou montante. Observação: se estivermos procurando o valor inicial ou o valor final, não esqueça que o valor da PMT deve entrar como negativo. Use a tecla CHS. Exercícios resolvidos 1 - Um fogão é oferecido na loja por quatro pagamentos iguais, com entrada, no valor de R$ 185,00. Sabendo-se que a taxa cobrada pelo estabelecimento comercial corresponde a 5% ao mês, qual o valor à vista dessa mercadoria? Queremos saber o capital – C = ? Temos o valor da PMT = 185 a taxa de juros (i) = 5% o prazo é de 4 meses – n = 4 6 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Assim.... C = PMT (1+i)n -1 (1+i)n-1 .i C = 185 (1+0,05)4 - 1 (1+0,05)4-1 .0,05 C = 185 0,21551 0,05788 C = 688,80 Na HP 12C Limpe a memória F CLX NÃO ESQUEÇA QUE O BEGIN PRECISA ESTAR ACIONADO 185 CHS PMT 5 i 4n PV O valor será de R$ 688,80 2- Uma geladeira no valor de R$ 2.350 pode ser financiada em 12 meses com entrada. A taxa de juros do financiamento é de 1% ao mês. Qual o valor da prestação? Qual o valor final pago? O capital a ser financiado (C) é de R$ 2.350 A taxa de juros é de 1% ao mês o prazo (n) é de 12 meses. 7 Administração Financeira Senac São Paulo- Todos os Direitos Reservados Assim, temos os dados para aplicar a fórmula: PMT = PV (1+i)n-1 .i (1+i)n -1 PMT = 2.350 (1+0,01)12-1 .i (1+0,01)12 -1 PMT = 2.350 0,011157 0,0126825 PMT = 206,73 Na HP 12 C f CLX 2.350 PV 12 n 1 i PMT 206,727.... ARREDONDANDO TEMOS 206,73 Montante ou valor final M = PMT (1+i)n -1 . (1+i) i M = 206,73 (1+0,01)12 -1 . (1+0,01) 0,01 M = 206,73 0,1281 0,01 M = 2.648,07 Na HP 12 C 206,73 CHS PMT 12 n 8 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 1 i FV FV = 2.648,07 1.2 Como calcular as séries postecipadas Principal, capital ou valor presente P = PMT (1+i)n -1 (1+i)n.i Prestação (PMT ou R) PMT = P (1+i)n .i (1+i)n -1 ou PMT = M i (1+i)n -1 Valor final ou montante M = PMT (1+i)n -1 i 1.2.1 Na HP 12 C Para calcular as séries postecipadas de pagamentos na HP 12 C, precisamos desfazer a tecla BEGIN (BEG de begin = início). Para isso apertamos G END, encontrado na tecla 8. Note que no mostrador vai desaparecer o nome Begin logo abaixo dos 0,0000. Não esqueça também que o c deve aparecer no mostrador logo à direita. Caso não apareça, aperte STO EEX. 9 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Exercícios resolvidos 1 - Um fogão é oferecido na loja por quatro pagamentos iguais, sem entrada, no valor de R$ 185,00. Sabendo-se que a taxa cobrada pelo estabelecimento comercial corresponde a 5% ao mês, qual o valor à vista dessa mercadoria? P = PMT (1+i)n -1 (1+i)n.i Queremos saber o capital – C = ? Temos o valor da PMT = 185 a taxa de juros (i) = 5% o prazo é de 4 meses – n = 4 Aplicando a fórmula.... P = 185 (1+0,05)4 -1 (1+0,05)4.0,05 P = 185 0,2155506 0,06077 P = 656,00 Na HP 12C NÃO ESQUEÇA QUE O BEGIN NÃO PODE ESTAR ACIONADO 185 CHS PMT 5 i 4n PV O valor será de R$ 656,00 10 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Note que o valor inicial neste exercício é menor, pois, quando não há entrada, os juros incidentes sobre o pagamento das prestações são maiores. 2- Uma geladeira no valor de R$ 2.350 pode ser financiada em 12 meses sem entrada. A taxa de juros do financiamento é de 1% ao mês. Qual o valor da prestação? Qual o valor final pago? O capital a ser financiado (C) é de R$ 2.350 A taxa de juros é de 1% ao mês o prazo (n) é de 12 meses. Assim, temos os dados para aplicar a fórmula: PMT = P (1+i)n .i (1+i)n -1 PMT = 2.350 (1+0,01)12 .0,01 (1+0,01)12 -1 PMT = 2.350 0,01/0,1268 PMT = 208,79 Na HP 12C NÃO ESQUEÇA QUE O BEGIN NÃO PODE ESTAR ACIONADO 2350 CHS PV 1 i 12n PMT PMT= 208,79 Note que o valor das prestações será maior, pois, quando não há entrada, os juros incidentes sobre o pagamento das prestações são maiores. 11 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Montante ou valor final M = PMT (1+i)n -1 i M = 208,79 (1+0,01) )12 -1 0,01 M = 2.648,98 Na HP 12 C 208,79 CHS PMT 12 n 1 i FV FV = 2.648,98 Considerações finais Neste capítulo aprendemos como calcular séries uniformes de pagamentos antecipadas e postecipadas. Vimos as diferenças entre as duas modalidades de pagamentos e como podemos obter os valores das prestações a serem pagas a partir dos dados oferecidos, juros, prazo e valor à vista. Com esse conhecimento você pode chegar a algumas conclusões sobre como gerenciar melhor seus pagamentos. Será que é válido dar entrada ou não? Quanto isso vai impactar no seu fluxo de caixa? Quanto irá aumentar o valor do produto adquirido. Após a leitura deste capítulo você será capaz de calcular: • prestações nas séries uniformes de pagamento: antecipadas e postecipadas; • comparar as formas de pagamento oferecidas nas lojas e tomar a melhor decisão de financiamento. Referências BRANCO, A. C. C. Matemática financeira aplicada. São Paulo: Cengage Learning, 2005. E.book. 12 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados GIMENES, C. M. Matemática financeira com HP 12C e Excel: uma abordagem descomplicada. São Paulo: Pearson, 2006. CASTANHEIRA, N. P.; MACEDO, L. R. D. de. Matemática financeira Aplicada. São Paulo: Pearson, 2008. Objetivos Específicos Temas • Entender o que é e como calcular as séries não uniformes de pagamentos Clodoir Vieira Administração Financeira Aula 07 Professor Séries não uniformes de pagamento Introdução 1 Séries não uniformes de pagamento Considerações finais Referências marcella.rmaiolino Pencil 2 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução Nem sempre a série de pagamentos é uniforme. Muitas vezes, podemos pagar uma parcela maior na entrada, ou uma parcela maior durante o fluxo de pagamentos. Também podemos negociar com o credor para que os intervalos sejam maiores – intervalos irregulares. Neste capítulo iremos aprender como se calcula esse tipo de série de pagamentos. 1 Séries não uniformes de pagamento As séries de pagamentos estão relacionadas à realização de pagamentos feitos ao longo do tempo. Os valores pagos ou recebidos em intervalos durante o prazo acordado são denominados de parcelas. Precisamos lembrar ainda que o tempo de duração da operação financeira é definido como prazo e os intervalos de pagamentos são chamados de período. Nas séries não uniformes de pagamentos, a sucessão de prestações, que podem ser representadas por R ou PMT, nem sempre são do mesmo valor, nem sempre são liquidadas em intervalos iguais. Esse tipo de operação é mais raro no mercado e depende da negociação feita entre as duas partes. No entanto, às vezes nos deparamos com propostas como comprar um bem com entrada maior, depois pagamentos mensais iguais até o sexto mês, quando o valor aumenta. A principal característica de uma série não uniforme de pagamentos é que os desembolsos não são divididos regularmente num período de tempo. O fluxo de caixa de pagamentos de uma série não uniforme pode ser demonstrado assim: P ou C PMT ou R 3 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados O diagrama de fluxo de caixa destaca que no momento 0 pegamos o valor do financiamento e já pagamos a primeira prestação que é mais elevada do que as seguintes, ou seja, damos uma entrada maior e dividimos o restante depois. Note que, no terceiro mês e no último mês, o valor da prestação é maior que nos outros meses. Assim, percebemos que os pagamentos são totalmente irregulares. A última prestação será paga no momento n, que dependerá do número de vezes em que o empréstimo for acordado. Nomenclatura utilizada P ou C = valor financiado, também chamado de principal ou valor presente (PV – PRESENT VALUE) ou valor atual; R ou PMT = valor de cada prestação ou termo; n = número de termos ou número de parcelas ou número de prestações; i = taxa de juros; M = montante, valor futuro ou valor final (FV – future value). Como calculamos as séries não uniformes de pagamentos Quando fazemos um investimento Precisamos calcular o valor equivalente de cada parcela dada, de acordo com o tempo e a incidência de taxa de juros. Tal cálculo é realizado com a aplicação da fórmula dos juros compostos em cada parcela. No entanto, há uma observação, quando elevamos a parcela, o indicador equivale an-t, sendo n o número total de parcelas e t a parcela que queremos calcular. Na prática, esse cálculo é mais simples do que em palavras. Vejamos um exemplo sobre como calculamos o montante. 1 - Dada a série de investimentos, calcule o seu valor equivalente no décimo período. A taxa de juros incidente é de 1% ao mês. Tempo (meses) 1 3 5 8 10 Valor ($ mil) 5 10 3 20 60 4 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Usando a fórmula PMT = (1+i)n-t Cada parcela, portanto, será equivalente a: PMT1 = 5.000 (1+0,01)10-1 = 5.468,42 PMT 3 = 10.000 (1+0,01)10-3 = 10.721,35 PMT5 = 3.000 (1+0,01)10-5 = 3.153,03 PMT8 = 20.000 (1+0,01)10-8 = 20.402 PMT10 = 60.000 (1+0,01)10-10 = 60.000 O valor total a receber, portanto, será a soma das parcelas com a incidência de juros proporcional ao tempo de cada uma. Assim, temos que o valor equivalente no décimo período é igual a PMT1 + PMT3 + PMT5 + PMT8 + PMT10 = 99.744,80. Quando efetuamos pagamentos As séries não uniformes de pagamento devem ser vistas a partir do conceito de fluxos de caixa. Ao sabermos o valor das prestações a serem pagas em cada período, podemos trazê-las a valor presente e ver quanto pagaríamos se fôssemos adquirir o bem à vista. Dessa forma, poderemos saber quanto pagamos de juros durante o processo. 2 - Dada a série de pagamentos que corresponde ao valor de um imóvel, calcule o seu valor à vista. A taxa de juros incidente é de 1% ao mês. Tempo (meses) 1 ao 5 6 7 ao 11 12 Valor ($ mil) 10 30 15 50 Para sabermos quanto pagaríamos pelo imóvel à vista, precisamos trazer todos os pagamentos para o valor presente, ou seja, descobrir o valor na data zero de cada parcela. Isso significa descontar os juros em cada uma. Usaremos a fórmula do capital nos juros compostos. C = M (1+i)n 5 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Vamos usar uma nomenclatura diferente para essa fórmula, onde o capital passará a se chamar PV (present value) e o montante será renomeado para valor final (FV). Desta forma: PV = FV (1+i)n Agora aplicaremos essa fórmula para cada parcela. As primeiras cinco são dadas assim... 1ª Parcela PV1 = 10.000 (1+0,01)1 PV1 = 9.900,99 2ª Parcela PV2 = 10.000 (1+0,01)2 PV2 = 9.802,96 3ª Parcela PV3 = 10.000 (1+0,01)3 PV3 = 9.705,90 4ª Parcela PV4 = 10.000 (1+0,01)4 PV4 = 9.609,80 5ª Parcela PV5 = 10.000 (1+0,01)5 PV5 = 9.514,66 6 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Do primeiro ao quinto mês, os R$ 50 mil pagos correspondem ao valor de R$ 48.534,31, descontando o valor dos juros. Também poderíamos obter esse valor através da HP 12 C da seguinte forma. 10.000 PMT 5 n 1i PV 48.534,31 Lembre-se de que conseguimos calcular assim porque as parcelas do primeiro ao quinto mês são iguais. Mas, no sexto mês, a parcela aumenta para R$ 30.000. Assim... 6ª Parcela PV6 = 30.000 (1+0,01)6 PV6 = 28.261,36 Após a sexta parcela, o fluxo de pagamentos passa a ser regular, em cinco vezes de R$ 15.000. No entanto, a primeira parcela é descontada por (1+i)7 e assim por diante. Dessa forma, precisamos calcular uma a uma... 7ª Parcela PV7 = 15.000 (1+0,01)7 PV7 = 13.990.77 8ª Parcela PV8 = 15.000 (1+0,01)8 PV8 = 13.852,25 7 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 9ª Parcela PV9 = 15.000 (1+0,01)9 PV9 = 13.715,10 10ª Parcela PV10 = 15.000 (1+0,01)10 PV10 = 13.579,30 11ª Parcela PV11 = 15.000 (1+0,01)11 PV 11 = 13.444,86 Total 7 a 11 = 68.582.28 Por último, o comprador paga R$ 50.000. Vamos trazer a última parcela a valor presente. 12ª Parcela PV12 = 50.000 (1+0,01)12 PV6 = 44.372,46 Somando todos os valores que obtivemos, temos quanto custa o imóvel à vista: 48.534,31 + 28.261,36 + 68.582.28 + 44.372,46 = 189.750,41 A prazo, o imóvel custa R$ 205.000 (soma das prestações). Assim, pagamos de juros o valor de R$ 15.249,59. 8 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Na HP 12 C podemos montar esse exercício, usando as teclas correspondentes ao fluxo de caixa. As teclas dessa função são acionadas do lado esquerdo, mesma localização das teclas para calcularmos juros compostos (n, i, PV, PMT e FV). No entanto, para acioná-las, vamos utilizar a tecla G. Assim, o PV se torna CF0, o PMT se torna CFJ, o FV se torna NJ. A tecla i não deve ser usada junto com o g. Tempo (meses) 1 ao 5 6 7 ao 11 12 Valor ($ mil) 10 30 15 50 Vamos plotar os dados do exercício na HP 12 C como fluxo de caixa. 10.000 g CFJ 5 G NJ (o valor repete 5 vezes) 30.000 g CFJ 15.000 g CFJ 5 G NJ 50.000 g CFJ 1i FNPV 189.750 Note que há uma pequena diferença de centavos. Isso ocorre porque, ao longo dos nossos cálculos anteriores, fizemos uma série de arredondamentos. Vamos fazer outro exercício com prazo menor e desembolsos mais erráticos? 9 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Suponha que seu cunhado lhe ofereceu seu Fiat 147, ano 86, que deve ser pago em cinco meses, da seguinte forma. Primeiro mês: 500 Terceiro mês: 2.500 Quarto mês: 500 Quinto mês: 200 O valor total a prazo, com taxa de juros de 2% ao mês é de R$ 3.700. Sabendo que o Fiat 147 vale no mercado R$ 3.100, seu cunhado está oferecendo um bom negócio? Para sabermos responder se o cunhado quer dar “calote” ou não, precisamos trazer todas as prestações a valor presente. 1ª Parcela PV1 = 500 (1+0,02)1 PV1 = 490,20 2ª Parcela Não existe 3ª Parcela PV3 = 2.500 (1+0,02)3 PV3 = 2.355,81 4ª Parcela PV4 = 200 (1+0,02)4 PV4 = 184,77 10 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados O valor que você pagará à vista, ou seja, trazendo todas as prestações a valor presente será de R$ 3.030,78. Seu cunhado ofereceu o carro por um bom preço! Mas pense na conta do mecânico se decidir adquirir! Façamos o fluxo de caixa na HP 12 C 500 G CFJ 0 G CFJ 2500 G CFJ 200 G CFJ 2 i F NPV 3.030,77 Considerações finais Neste capítulo aprendemos como calcular séries não uniformes de pagamentos e de recebimentos. Vimos como utilizar o conceito de fluxo de caixa da HP 12 C para facilitar nossos cálculos e descobrirmos o valor à vista de um bem. Também vimos como calcular o valor futuro de uma série de investimentos não uniformes. Após a leitura deste capítulo você será capaz de calcular: • valor presente de séries não uniformes de pagamento; • valor futuro de séries não uniformes de recebimento. Referências BRANCO, A. C. C. Matemática financeira aplicada. São Paulo: Cengage Learning, 2005. E.book. GIMENES, C. M. Matemática financeira com HP 12C e Excel: uma abordagem descomplicada. São Paulo: Pearson, 2006. CASTANHEIRA, N. P.; MACEDO, L. R. D. de. Matemática financeira Aplicada. São Paulo: Pearson, 2008. Objetivos Específicos Temas • Entender o que é e como calcular os sistemas de amortização Clodoir Vieira Administração Financeira Aula 08 Professor Sistemas de amortização Introdução 1 Sistemas de amortização Considerações finais Referências marcella.rmaiolino Pencil 2 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução Depois de aprender a calcular a capitalização simples e composta e converter as taxas parao tempo especificado, vamos estudar como calcular as prestações em financiamentos e as taxas de juros incidentes nos financiamentos. Vamos aprender as diferenças entre os tipos de amortização, de forma a avaliar qual a melhor opção na hora de adquirir um bem. Tal conhecimento é importante tanto no exercício da função do administrador financeiro quanto na vida pessoal. Diante dessa realidade, passaremos a estudar agora os diferentes sistemas de amortização. 1 Sistemas de amortização Podemos definir uma “série de pagamentos” ou “rendas certas” como a realização de pagamentos ou recebimentos feitos ao longo do tempo. Se a série se refere ao pagamento de uma dívida, dividida (parcelada) por determinado tempo, denominamos o processo de sistema de amortização. Caso a série seja referente a um investimento, é chamada de sistema de capitalização. Os valores pagos ou recebidos em intervalos durante o prazo acordado são denominados parcelas. Precisamos lembrar ainda que o tempo de duração da operação financeira é definido como prazo e os intervalos de pagamentos são chamados de período. Podemos concluir, assim, que os sistemas de amortização referem-se às formas como são pagas as dívidas, ou melhor, amortizadas. Amortização é um processo que extingue dívidas através de pagamentos periódicos, é a extinção de uma dívida através de sua quitação. Na amortização, cada prestação é uma parte do valor total, incluindo os juros e o saldo devedor restante. 1.1 Classificação As séries dos sistemas de amortização são classificadas da seguinte forma: Quanto ao valor dos termos: • CONSTANTES – os valores dos termos são iguais; • VARIÁVEIS – os valores dos termos são diferentes. 3 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Quanto ao período: • PERIÓDICA – termos com períodos iguais; • NÃO PERIÓDICA – termos com períodos diferentes. Quanto ao prazo: • TEMPORÁRIA – quando o número de termos for finito; • PERPÉTUA – quando o número de termos for ilimitado (uma aposentadoria, por exemplo). Quanto ao vencimento: • IMEDIATA – quando os termos forem exigidos a partir do primeiro período, e pode ser: • ANTECIPADA – quando os termos são exigíveis no início do período; • POSTECIPADA – quando os termos são exigíveis no final do período. • DIFERIDA – quando os termos forem exigidos a partir de outro período que não seja o primeiro, ou seja, existirá um intervalo de tempo em que não ocorre o pagamento ou recebimento. Esse intervalo de tempo é chamado de CARÊNCIA. Exemplo: Se realizarmos a compra de um carro em três parcelas mensais, iguais e consecutivas, sendo a primeira no ato, a segunda em 30 dias e a terceira em 60 dias por diante, estamos realizando uma operação com uma série de pagamentos que pode ser classificada da seguinte forma: • CONSTANTE, pois os pagamentos são iguais; • PERIÓDICA, porque os pagamentos são efetuados em intervalos regulares de tempo, ou seja, a cada mês; • TEMPORÁRIA, porque o número de pagamentos é finito e igual a três; • IMEDIATA, porque os termos são pagos a partir do primeiro período, e; • ANTECIPADA, porque o primeiro pagamento ocorre logo no seu início, com a primeira parcela paga no ato da compra. 4 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Portanto, o diagrama de fluxo de caixa seria: 1.1.1 Nomenclatura utilizada P ou C = valor financiado, também chamado de principal ou valor presente ou valor atual; R ou PMT = valor de cada prestação ou termo; n = número de termos ou número de parcelas ou número de prestações; i = taxa de juros. O diagrama de fluxo de caixa diz que no momento 0 pegamos o valor do financiamento e já pagamos a primeira prestação, ou seja, damos uma entrada e dividimos o restante depois. Podemos perceber também que o valor da prestação (exibido pelo tamanho da seta) é igual para todos os períodos. A última prestação será paga no momento n, que dependerá do número de vezes em que o empréstimo foi acordado. A soma de todas nos dá o valor total a ser pago. 1.2 Tipos de sistemas de amortização Existem diferentes sistemas de amortização. Os mais utilizados no Brasil são o Sistema de Amortização Constante (SAC) e a tabela Price. Existe ainda o sistema de amortização francês e americano, pouco usados no Brasil. Veremos, agora, a diferença entre os dois sistemas de amortização mais utilizados pelo sistema financeiro brasileiro. 1.2.1 Sistema Price Nesse sistema, a taxa é nominal (geralmente anual) enquanto o período de amortização é menor do que a taxa (geralmente mensal). Assim, para encontrarmos o valor da prestação, precisamos, em primeiro lugar, transformar a taxa de juros de anual em mensal, através do regime de proporcionalidade, pois dessa forma a nominal se tornará efetiva mensal. Vejamos um exemplo: 5 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Se a taxa for de 12% ao ano, se tornará 1% ao mês. Caso seja de 36% ao ano, será de 3% ao mês e assim sucessivamente. Esta é a grande diferença do sistema Price para o chamado sistema francês. Enquanto, na tabela Price, temos a taxa nominal anual e precisamos convertê-la para efetiva mensal, no sistema francês, a taxa anual é efetiva e deve ser convertida para anual. Confira no exemplo. Se a taxa for de 24% ao ano no sistema francês, será igual a 1,808% ao mês. Fazemos a conversão pelo regime de equivalência, visto no capítulo anterior. O sistema francês e o Price têm essa única diferença. O princípio de cálculo dos dois é muito similar. Sua principal característica é de que a prestação é igual em todos os meses e é dada pela seguinte fórmula: PMT = P x (1+ i)n x i (1+i)n-1 Onde: PMT é a prestação; P é o valor do empréstimo (principal); i = é a taxa de juros; n = número de prestações. Portanto, as prestações são iguais, periódicas e sucessivas. Os juros a serem pagos reduzem ao longo das prestações e a amortização do empréstimo aumenta ao longo do empréstimo. Para que fique mais claro, façamos um exercício. Exercício: Um banco financia um principal de R$ 200.000,00 para uma empresa que irá adquirir novo maquinário. O empréstimo deverá ser pago mediante prestações mensais iguais e postecipadas (sistema Price), no prazo de 1 ano a uma taxa de juros de 12% ao ano. Pede-se o valor da parcela e a montagem da tabela Price. Primeiro vejamos a taxa de juros. O valor dado é de 12% ao ano. Para obtermos a efetiva mensal, devemos dividir 12% por 12. Assim, a taxa utilizada é de 1% ao mês. Agora calcularemos o valor da prestação 6 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados PMT = P x (1+ i)n x i (1+i)n-1 PMT = 200.000 x (1+ 0,01)12 x 0,01 (1+ 0,01)12-1 PMT = 17.769,76 Na HP 12 C 200.000 PV 1 i 12 n PMT - 17.769,76 (conforme explicamos nos capítulos anteriores o sinal é negativo. Devido ao princípio do fluxo de caixa). Agora passaremos a montar a tabela com a prestação, amortização, juros e valor da prestação mensal. Vejamos como ocorrerão os pagamentos. Mês Saldo inicial Juros (saldo inicial X i) Prestação Amortização – prestação – juros Saldo Final – saldo inicial – amortização 1 200.000 2.000,00 17.769,76 15.769,76 184.230,24 2 184.230,24 1.842,30 17.769,76 15.927,46 168.302,78 3 168.302,78 1.683,03 17.769,76 16.086,73 152.216,05 4 152.216,05 1.522,16 17.769,76 16.247,60 135.968,45 5 135.968,45 1.359,68 17.769,76 16.410,08 119.558,37 6 119.558,37 1.195,58 17.769,76 16.574,18 102.984,19 7 102.984,19 1.029,84 17.769,76 16.739,92 86.244,27 8 86.244,27 862,44 17.769,76 16.907,32 69.336,95 9 69.336,95 693,37 17.769,76 17.076,39 52.260,56 10 52.260,56 522,61 17.769,76 17.247,15 35.013,41 11 35.013,41 350,13 17.769,76 17.419,63 17.593,78 12 17.593,78 175.94 17.769,76 17.593,80 - 7 Administração FinanceiraSenac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Conforme fica evidente no exemplo calculado, as prestações da tabela Price são iguais, periódicas e sucessivas. Os juros a serem pagos reduzem diminuindo ao longo das prestações e a amortização do empréstimo aumenta. Podemos obter o total dos juros pagos somando os valores da coluna. Assim, o valor é de R$ 13.237,08. O total pago pelo empréstimo foi de R$ 200.000 + R$ 13.237,08 = R$ 213.237,08. Também podemos calcular, multiplicando o valor da prestação por 12: R$ 213.237,12. 1.2.2. Sistema de Amortização Constante (SAC) Nesse sistema, a parcela da amortização é constante e os juros são calculados sobre o saldo devedor. Com relação à taxa utilizada, nesse sistema a taxa anual é efetiva, como no francês. As prestações são decrescentes ao longo do tempo. As taxas proporcionais são obtidas multiplicando ou dividindo de acordo com a unidade de tempo. Podemos fazer isso porque estamos trabalhando com juros lineares: J = C.i.n. Exemplos 1% ao dia = 30% ao mês = 60% ao bimestre = 120% ao quadrimestre = 180% ao semestre = 360% ao ano. Da mesma forma: 20% ao ano = 10% ao semestre = 5% ao trimestre. Vamos resolver um exercício juntos? Exercício: Um banco financia um principal de R$ 200.000,00 para uma empresa que irá adquirir novo maquinário. O empréstimo deverá ser pago mediante prestações mensais iguais e postecipadas (sistema Price), no prazo de 1 ano a uma taxa de juros de 12% ao ano. Pede-se o valor da parcela e a montagem do SAC. Primeiro vejamos a taxa de juros. O valor dado é de 12% ao ano. Para obtermos a efetiva mensal, devemos dividir 12% por 12. Assim, a taxa utilizada é de 1% ao mês. Amortização = Valor Financiado/Prazo Logo, no exemplo teremos: Amortização = R$ 200.000,00/12 = R$ 16.666,67 8 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Mês Saldo inicial Juros (saldo inicial X i) Prestação amortização + juros Amortização Saldo final – saldo inicial – amortização 1 200.000 2.000 18.666,67 16.666,67 183.333,33 2 183.333,33 1.833,33 18.500 16.666,67 166.666,66 3 166.666,66 1.666,67 18.333,34 16.666,67 149.999,99 4 149.999,99 1.500 18.166.67 16.666,67 133.333,32 5 133.333,32 1.333,33 18.000 16.666,67 116.666,65 6 116.666,65 1.166,67 17.833,34 16.666,67 99.999,98 7 99.999,98 1.000 17.666,67 16.666,67 83.333,31 8 83.333,31 833,33 17.500 16.666,67 66.666,64 9 66.666,64 666,67 17.333,34 16.666,67 49.999,97 10 49.999,97 500 17.166,67 16.666,67 33.333,30 11 33.333,30 333,33 17.000 16.666,67 16.666.63 12 16.666.63 166,67 16.833,34 16.666,67 - Como vemos nesse exemplo, as prestações são periódicas e sucessivas e reduzem ao longo do tempo. Os juros a serem pagos também diminuem ao longo das prestações e a amortização do empréstimo é constante. Podemos obter o total dos juros pagos somando os valores da coluna. Assim, o valor é de R$ 13.000. O total pago pelo empréstimo foi de R$ 200.000 + R$ 13.000 = R$ 213.000. Também podemos calcular, somando as prestações: R$ 213.000. Podemos perceber por esses dois exemplos que o valor dos juros pagos em empréstimos que utilizam a tabela SAC é menor do que o valor dos juros na tabela Price. Considerações finais Neste capítulo aprendemos os conceitos e diferenças dos principais sistemas de amortização utilizados pelos bancos e financeiras brasileiros: SAC e Price. Também calculamos o valor da prestação, amortização e vimos o valor dos juros pagos em cada sistema. Percebemos que o SAC é mais favorável para o credor, pois, ao pegar esse tipo de 9 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados financiamento, acaba por pagar um valor de juros menor que no sistema Price. O SAC também é mais indicado, pois suas prestações são decrescentes. Após a leitura deste capítulo você deve ser capaz de: • calcular financiamento pela tabela Price e pelo sistema SAC; • encontrar o valor dos juros pagos em cada sistema; • comparar os sistemas e tomar a melhor decisão de financiamento. Referências BRANCO, A. C. C. Matemática financeira aplicada. São Paulo: Cengage Learning, 2005. E.book. GIMENES, C. M. Matemática financeira com HP 12C e Excel: uma abordagem descomplicada. São Paulo: Pearson, 2006. CASTANHEIRA, N. P.; MACEDO, L. R. D. de. Matemática financeira Aplicada. São Paulo: Pearson, 2008. Objetivos Específicos Temas • Aprender a melhor gerenciar o caixa e tomar decisões de curto prazo Clodoir Vieira Administração Financeira Aula 09 Professor Planejamento e orçamento de caixa Introdução 1 Fluxo de caixa e capital de giro 2 Conceitos importantes 3 Visão integrada do fluxo de caixa 4 Modelos de administração de caixa 5 Modelos de administração de estoques Considerações finais Referências marcella.rmaiolino Pencil 2 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução O planejamento do caixa de uma empresa é a principal forma de se controlar as contas da empresa (recebimentos e pagamentos), além de ser essencial para orientar as decisões do gestor quanto à tomada de financiamentos e realização de investimentos. As informações que o planejamento do caixa proporciona são úteis para que os gestores avaliem a capacidade da empresa em gerar caixa e valores equivalentes ao caixa e às necessidades da mesma para utilizar esses fluxos. Além disso, o fluxo de caixa propicia aos analistas financeiros uma fonte segura para melhor elaborar seus planejamentos financeiros, como também serve a outros usuários a forma com que a empresa gerou o caixa, ou até mesmo como utilizou os recursos e valores equivalentes ao caixa. A empresa, quando utiliza essa demonstração com as demais, supre de forma completa os usuários e, principalmente, os habilitam à avaliação nas mudanças de ativos líquidos de uma empresa e sua estrutura financeira, que podem ser exemplificadas nas questões de liquidez e solvência. Enfim, planejar o fluxo de caixa proporciona aos gestores da empresa a adaptação às circunstâncias e às oportunidades de negócios. 1 Fluxo de caixa e capital de giro O caixa é reflexo das políticas de investimentos e financiamentos, como vendas, créditos, compras, estoques. Nesse sentido, a gestão do caixa deve primar pela sincronia das entradas e saídas, para que a empresa se torne líquida sem manter excesso de liquidez, incorrendo em altos custos de oportunidade. Os modelos de gestão de caixa buscam estabelecer o equilíbrio entre os benefícios e os custos de liquidez. Em geral, os modelos buscam minimizar o investimento nesse ativo, satisfazendo as necessidades básicas da empresa de pagamento dos seus compromissos programados, e mantendo, quando possível, uma reserva de segurança de modo a cobrir imprevistos. Para entender fluxo de caixa, vamos retormar o conceito de capital de giro, destacado no capítulo anterior. Como percebemos, o capital de giro é conhecido também como capital circulante e corresponde aos recursos aplicados em ativos circulantes, que se transformam dentro do ciclo operacional. Em suma: o capital de giro fica “girando” dentro da empresa se transforma, produz reflexo na contabilidade até virar novamente em dinheiro. A cada transformação do capital deve ocorrer um acréscimo de valor (geração de valor do negócio). Dessa forma, o capital final será bem maior que o inicial. Exemplo: 3 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados De maneira simplificada podemos ilustrar o fluxo do capital de giro dentro do ciclo operacional da seguinte forma: Fase 1: o capital tem valor de $200 e está representado pela conta caixa, transforma-se em estoque de matérias-primas, que vai para a fase 2. Fase 2: o capital é ampliado em $80, em consequência do processo de fabricação. Assim, o capital passa a ser de $280. Fase 3: o capital tem um acréscimode $ 40, causado pelas despesas de vendas e distribuição. Ainda nessa fase, o capital de giro é acrescido de $60, correspondente ao lucro, pois precisa ser acrescido no preço da venda. Fase 4: o capital de giro acumulado, no valor de $380, transforma-se em dinheiro, em decorrência da venda dos produtos. Conclusão: o desembolso inicial de $ 200 resultou em retorno de $ 380. No entanto, o acréscimo de $180 não significa que a empresa obteve um superávit de caixa. Os $380 devem ser utilizados para que a empresa liquide os compromissos financeiros nos valores de $80 e $40, correspondentes a outros custos e despesas, respectivamente. Ao liquidar, a empresa terá no caixa o saldo de $ 260, o que significa um superávit de caixa ou lucro de $60 ao final do ciclo operacional. É preciso lembrar que a circulação do capital também é composta pelas contas do passivo circulante. Na prática, os recursos financeiros gerados pelas duplicatas recebidas entram primeiramente no caixa e, após essa fase, saem para liquidação das obrigações financeiras. 2 Conceitos importantes Os termos que são utilizados nesta demonstração têm o seguinte significado: Caixa: é o dinheiro disponível e o depósito bancário disponível; Equivalente à caixa: são investimentos de curto prazo, de alta liquidez, que são prontamente conversíveis em valores conhecidos de caixa e que estão sujeitos a um insignificante risco de mudança de valor; Fluxos de caixa: são entradas e saídas de caixa, e equivalentes ao caixa. 4 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 3 Visão integrada do fluxo de caixa Após analisarmos o comportamento do capital de giro, vamos nos concentrar no fluxo de caixa. Lembre-se que a administração eficiente de caixa (disponibilidades) contribui significativamente para a maximização do lucro das companhias. Quando a área de tesouraria recebe ou paga, geralmente as decisões que geram os fluxos financeiros já foram tomadas por administradores de outras áreas. 3.1 Objetivos do fluxo de caixa: a. Avaliar as alternativas de investimento e controlar ao longo do tempo as decisões importantes que são tomadas na empresa, com reflexos monetários. b. Verificar as situações presentes e futuras do fluxo de caixa na empresa, posicionando-a para que não chegue a situações de não liquidez, com a precisão de que não haja excessos monetários de caixa e, se houver que sejam devidamente aplicados. c. As informações constantes dessas demonstrações sempre apresentarão a capacidade de geração de caixa e de controle dos itens financeiros da empresa. Dessa forma, será evidenciada a capacidade financeira de autofinanciamento das operações. O uso de recursos de terceiros (financiamento bancário) deve ser usado em última instância. d. Demonstra a capacidade de gerar recursos e expandir o nível de investimento, sempre considerando que as dívidas estarão suficientemente amortizadas, tanto a curto como em longo prazo. 3.2 Principais contas patrimoniais operacionais que geram impacto no caixa: a. Contas a receber (clientes): o não pagamento ou o atraso no pagamento tem consequência desastrosa para a empresa. As receitas crescentes geradas pelo aumento das vendas por crédito significam somente que os direitos em recebimento da empresa estão crescendo ou “inchando” o contas a receber, pois esses recebimentos são, na realidade, somente um documento de dívida. E em razão da expansão dos pagamentos feitos em atraso, a conversão desses ativos em líquidos de caixa será atrasada. Assim, a empresa parecerá saudável financeiramente, mas será tão somente no papel. A realidade poderá ser diferente e levar até à insolvência. 5 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados b. Estoques: a compra à vista gera impacto imediato no caixa. Já nas compras a prazo, o impacto ocorre na data de pagamento da duplicata. No caso das compras financiadas, o impacto no caixa é mais longo. c. Contas a pagar (fornecedores): quando a empresa adquire matéria-prima de um fornecedor precisa, e deve, negociar a forma de pagamento que mais amenize seu impacto no caixa. É preciso que seja realizada uma negociação com o fornecedor para alongar o máximo possível o prazo de pagamento da compra do material. Lembre-se do ciclo operacional: antes de uma indústria vender o produto final, que muitas vezes é pago a prazo pelo cliente, precisa transformar a matéria-prima em produto final. Tal fato reduz o fôlego para o pagamento à vista para o fornecedor e leva a um descasamento das contas. 3.3 Fatores que acarretam as principais faltas de caixa excesso de investimento em estoques; aumento do prazo médio de recebimento de vendas; diminuição do prazo médio de pagamento de compras; excesso de imobilização; expansão descontrolada das vendas, acima de sua capacidade de comercialização; insuficiência de capital próprio e utilização do capital de terceiros em proporção excessiva; aumento exagerado do prazo de faturamento; necessidade de compras em grande volume; aumento da inadimplência; aumento da necessidade de capital de giro em proporção maior do que o aumento do capital circulante líquido; aumento exagerado do ciclo financeiro; baixa velocidade da rotação dos estoques; excessiva distribuição de dividendos. 6 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 3.4 Fatores que poderão levar a empresa a sérios problemas de desequilíbrio financeiro: insuficiência crônica de caixa; captação sistemática de recursos por meio de empréstimos bancários, principalmente de curto prazo; sensação de esforços desmedidos; sensação de risco de “quebra” repentina. A demonstração de fluxo de caixa mostra as alterações líquidas que ocorrem na empresa e as atividades do fluxo que criam essas mudanças. 3.4 Manutenção do saldo mínimo de caixa Uma das finalidades da gestão de caixa é manter o saldo mínimo de recursos, de forma que possam ser utilizados imediatamente em função da incerteza associada aos fluxos dos recebimentos e pagamentos. Podem ser considerados elementos de caixa, além dos recursos monetários, as aplicações financeiras de liquidez imediata e os depósitos bancários a vista. 3.4.1 Para manter adequado o saldo de caixa, as empresas precisam atender estas necessidades: pagamentos de compromissos financeiros gerados pelas atividades operacionais como compra de matérias-primas e contratação de serviços; amortização de empréstimos e financiamentos; desembolsos para investimentos permanentes; pagamentos de eventos não previstos. A manutenção do saldo de segurança de recursos disponíveis deve levar em consideração a capacidade de obtenção de caixa. 3.5 Capacidade de obtenção de caixa Ao conhecer o limite de máximo de endividamento, a empresa pode planejar com maior eficácia a expansão do nível de atividades e resolver eventuais problemas de oscilação nas disponibilidades de caixa. As atividades devem ficar dentro do limite de capacidade de 7 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados obtenção de caixa. Ao extrapolar esse limite, a empresa poderá enfrentar dificuldades financeiras. Os investidores e emprestadores fornecem recursos financeiros a tomadores somente se tiverem a possibilidade de receberem de volta os recursos emprestados. A capacidade de obtenção de caixa dependerá da capacidade de a empresa gerar caixa por meio de suas operações. 3.6 Capacidade de geração e caixa operacional O simples aumento no saldo de caixa não significa que as atividades operacionais estão gerando caixa. Para saber se há geração de caixa é preciso verificar o fluxo de caixa. Por exemplo, se uma companhia tem um aumento de caixa no valor de $700 mil, por meio de $200 mil gerados pelasoperações e $500 mil gerados pelos empréstimos, é preciso considerar que estes $500 mil não lhe pertencem, já que deverão ser devolvidos em algum momento. Assim, o caixa operacional efetivamente gerado é de $200 mil. Se no período a companhia gerar um lucro de $400 mil, este valor será refletido somente no patrimônio líquido. A diferença entre o lucro e o caixa gerados está relacionada à defasagem entre o ciclo financeiro e o ciclo econômico. As empresas devem gerar caixa operacional ao longo do tempo, para que não haja a descapitalização. Podemos concluir que: A empresa pode melhorar os resultados econômicos e financeiros administrando adequadamente o ciclo financeiro. O esforço de redução do ciclo financeiro deve ser feito por todas as áreas da empresa (políticas eficientes de crédito, descontos financeiros, compras, etc.). 4 Modelos de administração de caixa Conforme pudemos perceber, o caixa apropriado deve ser administrado sem prejudicar a eficiência e a eficácia das atividades da empresa. Os modelos de administração de caixa visam fundamentalmente definir esse nível de equilíbrio, buscando sempre minimizar os custos. Os modelos são baseados nas estratégias ótimas para um determinado padrão de fluxo de caixa: investimentos e desinvestimento. Também são baseados no trade-off a rentabilidade do caixa e os custos de transação. Vamos conhecer os princípios de dois dos modelos mais conhecidos: Baumol e de Miller e Orr (MMO). Modelo de Baumol 8 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados O modelo de Baumol é baseado no modelo de lote econômico, desenvolvido para a administração de estoques. O autor desse modelo, William Baumol, percebeu que os saldos de caixa se comportam como saldos de estoques e aplicou o modelo de lote econômico para a gestão de caixa. No entanto, é preciso notar que esse modelo só pode ser aplicado em empresas que registram entradas periódicas de dinheiro no caixa, e saídas constantes de recursos. Segundo o modelo, as saídas de dinheiro de uma empresa são permanentes e distribuídas de forma constante no tempo. Assim, é preciso investir determinada quantidade de dinheiro, que será consumido uniformemente pelas suas saídas constantes. Portanto, o saldo ótimo de caixa do modelo é dado em função do custo e manutenção do caixa e do custo de transação. O custo de manutenção dos recursos em caixa é dado pelo custo de oportunidade do estoque médio de caixa (valor dos juros que seriam recebidos se a empresa optasse por investir esse valor). O custo de transação é dado pelo custo fixo de vender títulos ou de obter empréstimos. Modelo de Miller e Orr (MMO) O modelo de Merton Miller e Daniel Orr é baseado na otimização que considera que as entradas e saídas de caixa oscilam aleatória e diariamente. É um modelo probabilístico que considera a aleatoriedade do comportamento de caixa como uma distribuição normal, bem como demonstra a versão ou propensão ao risco dos gestores, resultando em um modelo mais adequado à realidade do caixa. Características do modelo: Assume custos fixos de investimento e resgate, independentemente do montante investido. Considera que o investimento e o resgate podem ser feitos instantaneamente e que há limites de controle, do qual o saldo de caixa não pode sair, isso quer dize que a empresa investe uma parte de seu saldo de caixa em aplicações financeiras de CP. O limite inferior é determinado pela gestão, não sendo calculado pelo modelo, ou seja, o saldo de caixa deve oscilar entre um valor mínimo, definido pela empresa e um valor máximo, a ser determinado pelo modelo. Considera um fluxo de caixa padronizado em tempo e valores, logo, não existe sazonalidade no caixa. 9 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Considera o fluxo de caixa em que o saldo gira em torno de zero e o desvio- padrão dessa distribuição não varia com o tempo, além de evidenciar que não há correlação com o fluxo de caixa ao longo do tempo. Assume que os fluxos de caixa são normalmente distribuídos. Quando o saldo cair abaixo do mínimo, a empresa deve resgatar aplicações, voltando a um determinado "ponto de retorno". Quando o saldo subir acima do máximo, a empresa pode e deve aplicar recursos de modo a voltar ao "ponto de retorno“ e ter um ganho financeiro pela aplicação. 5 Modelos de administração de estoques A administração dos estoques tem peso significativo em empresas comerciais e industriais, e até em empresas de prestação de serviços. Nas empresas comerciais, os estoques são representados pelas mercadorias para revenda. Em empresas industriais, o estoque é composto pela matéria-prima, produtos em elaboração, materiais de consumo, materiais de embalagem e produtos acabados. Já nas empresas de prestação de serviços, os estoques são representados pelo material de consumo e de almoxarifado. A administração do estoque consiste em mantê-lo em nível mínimo suficiente para não interromper o processo de produção. Essa responsabilidade não é do administrador financeiro, mas influi nos resultados globais da empresa. Assim os gestores precisam ter consciência de que o capital de giro investido em estoque tem custo financeiro, que afetará o resultado econômico. 5.1 Modelo de lote econômico É utilizado para determinar a quantidade ótima de compra de um item do estoque. Pressupõe-se a existência de dois tipos de custos, além do custo efetivo da mercadoria: custos de pedidos – são compostos pelos custos fixos administrativos para emitir e receber um pedido, como o processamento de requisição interna de compras, pesquisas de tecnologia, cotação, inspeção de materiais, etc. custos de manutenção de estoques – incorrem durante a permanência do estoque no ativo da empresa, que varia em função da quantidade de valor do estoque, tais como: custo de armazenagem, seguro, custo de deterioração e obsolência e, principalmente, o custo de oportunidade. 10 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 5.2 Sistema ABC Uma empresa que usa o sistema ABC de estoques divide-os em três grupos: A, B e C. Grupo A: inclui os itens com o maior investimento em valor monetário; em geral, esse grupo compreende 20% dos itens estocados, mas representa 80% do investimento em estoques. Grupo B: consiste em itens responsáveis pelo maior investimento seguinte em estoques. Grupo C: formado por um grande número de itens que exigem investimento relativamente pequeno. O grupo ao qual pertence certo item determina o grau de monitoramento que será aplicado. Os itens do grupo A recebem um monitoramento mais intenso, por causa do elevado valor neles aplicado; costumam ser acompanhado com um sistema perpétuo que permite a verificação diária do nível de cada item em estoque. Os itens do grupo B são frequentemente controlados com uma verificação periódica, às vezes semanal, de seus níveis em estoque. Os itens do grupo C são monitorados com técnicas pouco sofisticadas, como a de duas gavetas. No método das duas gavetas, cada item é colocado em duas gavetas e quando uma unidade é exigida, ela é retirada da primeira gaveta; quando essa gaveta fica vazia, ela é reabastecida e as unidades continuam a ser retirada da segunda gaveta; a segunda gaveta é então usada até ficar vazia, e assim por diante. Considerações finais Nesse capítulo aprendemos sobre a importância do fluxo de caixa para a solvência das empresas. Entendemos quais as principais variáveis que influenciam o caixa da empresa e como o gestor financeiro pode monitorá-las. Também destacamos os mais importantes modelos de administração do fluxo de caixa, que buscam minimizar os custos para as empresas, e de gestão de estoques, os quais têm grande influência nas contas das empresas. Após a leitura desse capítulo você deve ser capaz de: Entender a importância do fluxo de caixa e os principais fatores que influenciam a solvência das empresas. Saber quais os principais modelos de gestão de caixa. Saber quais os principais modelos de gestão de estoques. Entender a relação entre o capital de giro e o caixa. 11 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Referências GITMAN, L.J.; MADURA, J. Administração financeira: uma abordagem gerencial. São Paulo: Pearson, 2005. PADOVEZE, C.L. Introdução à administração financeira. São Paulo: Cengage Learning, 2010. Objetivos Específicos Temas • Entender quais os princípios envolvidos para decidir qual o melhor investimento Clodoir Vieira Administração Financeira Aula 10 Professor Decisões de investimento Introdução 1 Decisão de investimento 2 Métodos de avaliação de decisão de investimento Considerações finais Referências 2 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução Para crescer e gerar valor aos seus acionistas, as empresas precisam avaliar bem suas decisões de investimento. Existem importantes indicadores que servem de parâmetros para que o gestor tome suas decisões: se realmente vale investir em determinado negócio ou não. As decisões de investimento envolvem coleta de dados relevantes, avaliação e escolha de propostas de desembolso de capital, efetuadas com o objetivo de gerar resultados positivos aos proprietários dos recursos a longo prazo. Esse processo de tomada de decisão de investimento está relacionado com todos os desembolsos não ligados à operação da empresa. Pode-se citar, como exemplo, a aquisição de novas máquinas ou instalações para a ampliação da produção, lançamento de novos produtos, substituição de ativos, pesquisa de novos produtos, etc. Vamos avaliar nesse capítulo alguns desses e entender como o gestor deverá decidir aplicar ou não os recursos da empresa. 1 Decisão de investimento Decisão de investimento de capital – é o processo decisório no qual os administradores se envolvem para identificar os projetos que agregam valor à empresa. Pode ser assim definida como o processo global de analisar projetos e decidir qual(is) deverá(ão) ser aprovado(s). Uma decisão de investimento é composta de quatro etapas distintas: Levantamento dos dados relevantes do investimento e montagem do fluxo de caixa incremental. Definição da taxa de remuneração exigida pelos investidores em função do custo de oportunidade do capital e do risco envolvido. Avaliação dos fluxos de caixa do investimento proposto com a utilização de diversos métodos quantitativos. Avaliação do risco do sucesso e do insucesso desse investimento. Processo de investimento de capital A decisão de investimento de capital é um processo que pode ser desdobrado em várias etapas. Identificação das oportunidades; 3 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Avaliação financeira; Seleção das propostas; Implementação dessas propostas. Identificação das oportunidades O processo de decisão de investimento de capital se inicia com a identificação das oportunidades de negócio que possam ser convertidas em propostas de investimento potenciais e que gerem valor para a empresa. Avaliação financeira Após serem identificadas, as propostas de investimento devem ser avaliadas financeiramente. As variáveis necessárias para a avaliação financeira incluem: Estimar a vida útil do projeto; Dimensionar os fluxos de caixa esperados para esse período; Selecionar a taxa de desconto apropriada para calcular o valor presente do fluxo de caixa. Seleção das propostas Depois de estimarmos os parâmetros financeiros das propostas, é preciso empregar um método, um critério ou uma regra de decisão para a seleção de uma das oportunidades. Implementação das propostas Por último, as propostas aprovadas são postas em prática. Após todo o processo, os projetos são auditados regularmente. O monitoramento dos projetos deve indicar os desvios em relação às projeções efetuadas. 2 Métodos de avaliação de Decisão de Investimento Existem vários métodos de avaliação econômica de investimento. Neste capítulo vamos estudar quatro importantes métodos: VPL - Valor Presente Líquido. 4 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados IL - Índice de Lucratividade. TIR - Taxa Interna de Retorno. Payback - o período de retorno do investimento. Estes métodos devem ser avaliados em função das seguintes propriedades: A época de ocorrência dos fluxos de caixa esperados; O risco dos fluxos de caixa esperados; A criação de valor. 2.1 Valor presente líquido (VPL) O VPL é a diferença entre o valor presente dos benefícios líquidos de caixa – FCs –, previstos para cada período do horizonte de duração do projeto, e o valor presente do investimento ou desembolso inicial. Esse é o método mais conhecido de avaliação e um dos mais utilizados devido às suas propriedades. Leva em conta a época de ocorrência dos fluxos de caixa esperados; Leva em consideração o risco dos fluxos de caixa esperados; Diferencia os projetos com base na criação de valor. Época dos fluxos de caixa Como os fluxos de caixa de uma proposta de investimento são projetados para ocorrer ao longo de vários períodos, é necessário considerar a época de ocorrência dos fluxos de caixa esperados. Logo, os fluxos de caixa não podem, simplesmente, ser somados. Para levar em consideração o valor dos recebimentos ao longo do tempo precisamos descontar os fluxos de caixa futuro pela taxa de desconto, dada pelo custo de oportunidade de investir no projeto, em vez de fazer um investimento livre de risco. Essa taxa, em geral, é dada pela taxa básica de juros da economia. Tal operação consiste em trazer os fluxos de caixa futuro a valor presente. VP – o valor presente dos fluxos de caixa esperados de um projeto, descontado sua taxa de custo de capital, é uma estimativa do valor pelo qual o projeto pode ser vendido no mercado. VPL – o valor presente líquido de um projeto de investimento representa, caso o projeto seja implementado, a variação imediata na riqueza dos proprietários da empresa. 5 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Exemplo: Só é possível escolher uma das propostas de investimento – A e B –, pois elas são mutuamente excludentes. Essas propostas de investimento requerem o mesmo investimento inicial de R$ 1.000,00, têm a mesma duração: 3 anos e têm o mesmo custo de oportunidade de 10% ao ano. Os fluxos de caixa das propostas de investimento A e B são: Período Opção A Opção B 1 R$ 800,00 R$ 300,00 2 R$ 500,00 R$ 500,00 3 R$ 300,00 R$ 800,00 Um investidor desavisado pode achar que as opções são equivalentes, pois requerem iguais investimentos, prazos, taxas de desconto e fluxos de caixa, exceto pela inversão na ordem das entradas. Vamos calcular o VPL. Primeiro trazemos os fluxos de caixa a valor presente. Lembre-se da fórmula do valor presente: VP = VF (1+ i )n Onde VP = Valor Presente VF = Valor Futuro (valor que será recebido) i = taxa de desconto n = período que ocorrerá o recebimento Assim... Opção A 1º período VP = 800 (1+ 0,10 )1 VP = 727,27 2º período 6 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados VP = 500 (1+ 0,10 )2 VP = 413,22 3º período VP = 300 (1+ 0,10 )3 VP = 225,39 VP do projeto A = 727,27 + 413,22 + 225,39 = 1.365,88 VPL = 1.365,88 – 1.000 = 365,88. O VPL do projeto R$365,88, com investimento inicial de R$ 1.000.00. Isso quer dizer que o projeto é viável e tem o retorno do investimento em mais um ganho realde R$ 365,88. Opção B 1º período VP = 300 (1+ 0,10 )1 VP = 272,73 2º período VP = 500 (1+ 0,10 )2 VP = 413,22 3º período VP = 800 (1+ 0,10 )3 VP = 601,05 VP do projeto B = 272,73 + 413,22 + 601,05 = 1.287 VPL = 1.287 – 1.000 = 287 7 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados O VPL do projeto 287,00, com investimento inicial de R$ 1.000.00. Então os dois projetos são viáveis. Um investidor mais atento não tem dúvidas em selecionar a opção A, pois esta promete retornar o investimento muito mais rapidamente do que a opção B. Ao aplicar o método do VPL, encontramos um valor para A de R$ 366,00 e outro para B, de R$ 287,00, o que indica, claramente, que a opção A é superior e deve ser a preferida. Na HP 12 C Limpe a memória – fCLX Coloque o investimento inicial – deve ser negativo 1.000 CHS G CFo Depois vamos colocar os fluxos de caixa, no caso de A 800 G CFJ 500 G CFJ 300 G CFJ Insira a taxa de juros 10 i Agora peça o VPL f NPV O resultado será $ 365,89 Agora tente fazer o mesmo com o fluxo de caixa da opção B. Risco dos fluxos de caixa O VPL distingue os projetos menos arriscados dos mais arriscados. Quanto maior é a probabilidade de os fluxos de caixa efetivo de um projeto desviar-se de seus valores esperados, maior é o risco do fluxo de caixa. Quanto maior é o risco atribuído aos fluxos de caixa esperados, mais alto é o custo de oportunidade suportado – e requerido – pelos investidores. 8 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Diante de duas opções de investimento com idênticos desembolsos iniciais e mesmos FCs projetados, o gestor deve selecionar aquela que apresenta menor risco. Criação de valor Diferenciar projetos, com base na criação de valor, pode definir o investimento que aumenta o valor de mercado da empresa para os acionistas. A escolha do investimento é que possibilita a criação de valor. Limitações do método do VPL O VPL não pode ser aplicado, de forma padrão, em todas as situações. Por ser um critério baseado apenas nas informações disponíveis no momento em que as estimativas são feitas, o VPL ignora as oportunidades de mudanças no projeto, a serem feitas à medida que o tempo passa e que mais dados ficam disponíveis. O VPL é estimado a partir dos fluxos de caixa esperados do projeto, descontada a taxa de custo de capital, que corresponde ao risco do projeto. As estimativas tanto dos fluxos de caixa quanto do custo de capital dependem das informações disponíveis no momento do cálculo do VPL. Dois projetos podem apresentar o mesmo VPL, mas terem flexibilidades diferentes em relação ao ajuste a novas circunstâncias. 2.2 Payback Há dois tipos de período de payback: Payback simples; Payback descontado. Payback Simples O período de payback simples de um projeto é o número de períodos, geralmente medido em anos, requerido para que a soma dos FCs esperados do projeto sejam iguais ao investimento inicial. Assim, determina-se o tempo necessário para que a empresa recupere os recursos investidos em um projeto. Para calculá-lo, basta acumular as entradas anuais de caixa até atingir o valor do investimento. Usaremos como exemplo a avaliação de seis projetos de investimento – A, B, C, D, E e F. Exemplo: Investimento inicial de R$ 500.000,00 tem os seguintes fluxos de caixa: 9 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Período Invest. A Invest. B Invest. C Invest. D Invest. E Invest. F 1 300.000,00 50.000,00 125.000,00 125.000,00 163.000,00 163.000,00 2 150.000,00 150.000,00 125.000,00 125.000,00 163.000,00 163.000,00 3 50.000,00 300.000,00 125.000,00 125.000,00 163.000,00 163.000,00 4 100.000,00 100.000,00 125.000,00 125.000,00 163.000,00 163.000,00 5 150.000,00 150.000,00 125.000,00 125.000,00 163.000,00 448.000,00 Custo de Cap. 10% 10% 5% 10% 10% 10% VPL 95.700,00 56.255,00 41.185,00 -26.152,00 117.898,00 319.698,00 Aplicando esse conceito ao projeto A, verificamos que são necessários três anos completos para que os fluxos de caixa empatem com o valor do investimento inicial. Investimento inicial $ 500.000,00 – $ 300.000.00 – $ 200.000.00 – $ 50.000,00 = $0,00 Ano 1 $ 300.000,00 saldo $ 200.000,00 Ano 2 $ 150.000,00 saldo $ 50.000,00 Ano 3 $ 50.000,00 saldo zero. Exatamente no terceiro ano tem o retorno do investimento. Portanto, o período de payback simples do projeto A é de 3 anos. Os demais períodos são os seguintes: Investimento A B C D E F Payback 3,0 3,0 4,0 4,0 3,07 3,07 Nos casos dos projetos E e F, é necessário calcular uma fração de ano para completar o período de payback, ou seja: parte inteira 3 anos x 163 = 489 parte fracionária: (500 – 489)/163 = 0,07 Total 3,07 De acordo com o método do payback simples, um projeto torna-se atraente se seu período de payback é inferior, ou pelo menos igual, ao número de períodos estabelecido como limite pela empresa. Esse período mínimo é chamado de período de corte – cutoffperiod. Se o período de corte for de 3,5 anos, os projetos C e D devem ser rejeitados. Se a decisão for escolher apenas um projeto, aquele que apresentar o menor período de payback deverá ser selecionado. 10 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Desvantagens do Payback Simples Em relação à época de ocorrência dos fluxos de caixa esperados, os projetos A e B requerem o mesmo investimento inicial, pois têm a mesma duração e apresentam o mesmo risco – indicado pela taxa de desconto. Embora os períodos de payback dos projetos A e B também sejam iguais, há diferenças na época de ocorrência dos fluxos de caixa são diferentes – as entradas de caixa apresentam-se muito mais favoráveis ao projeto A do que ao projeto B. O escolhido seria o projeto A em função do que o no segundo ano praticamente ja teria o retorno do investimento so faltando $ 50.000,00 para o terceiro ano, quanto que no projeto B no segundo ano ainda falta $ 300.000,00. Em relação ao risco dos fluxos de caixa esperados, o investimento inicial, a duração e as entradas de caixa dos projetos C e D são iguais a R$ 125,00. Contudo, os fluxos de caixa esperados de D são mais arriscados – taxa de custo de capital maior. Dessa forma, o período de payback simples dos projetos C e D é igual 4 anos. Em relação à criação de valor, pelo fato de não considerar nem a época nem o risco dos fluxos de caixa, este critério não pode ser contemplado pelo período de payback simples. Além disso, a escolha de um período de corte é arbitrária, nada garante que essa escolha leve à maximização da riqueza dos acionistas. Vantagens do PPS A maior vantagem do período de payback simples é a simplicidade e a facilidade de aplicação o que é conveniente para as decisões sobre investimentos repetitivos e de pequena monta. Payback descontado O payback descontado de um projeto é o número de períodos, geralmente, em anos, para que os valores presentes dos fluxos de caixa esperados do projeto igualam-se ao investimento inicial. Exemplo investimento A com taxa de custo de capital de 10%. Final de ano Investimento A VP dos FCs 1 300,00 272,72 2 150,00 123,95 3 50,00 37,65 4 100,00 68,30 5 150,00 93,13 11 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Exemplo usando a calculadora HP12C Ano 1 - 1 n taxa 10% i capital $ 300,00 CHS PV = 272,72 Ano 2 - 2 n taxa 10% i capital $ 150,00 CHS PV = 123,95 Ano 3 - 3 n taxa 10% i capital $ 50,00 CHS PV = 37,65 Ano 4 - 4 n taxa 10% i capital $ 100,00 CHS PV = 68,30 Ano 5 - 5 n taxa 10% i capital $ 150,00 CHS PV = 93,13 FCD = 272,72 + 123,95 + 37,65 + 68,30 + 93,13 = 595,75 O valor descontado em três anos será de R$ 434,32 mil. Portanto,a empresa paga o investimento em quatro anos, quando o valor descontado recebido soma R$ 503 mil. Desvantagens do payback descontado Por trazer os valores dos fluxos de caixa a valor presente, o período payback descontado leva em conta a época de ocorrência desses eventos. No entanto, o payback descontado não capta os fluxos de caixa que ocorrem após o período de cálculo ou após o período de corte. Logo, mesmo que o projeto A apresentasse um fluxo de caixa duas vezes maior no quinto ano, seu PPD continuaria sendo o mesmo. PPD só considera o risco do projeto até o ponto em que o retorno foi obtido. Os fluxos de caixa posteriores permanecem ignorados. Nem sempre o método do período de payback descontado seleciona os projetos que maximizam a riqueza dos proprietários. O período de corte continua sendo uma escolha arbitrária. 2.3 Taxa interna de retorno (TIR) A taxa interna de retorno – TIR – de um projeto é a taxa de desconto que torna seu VPL igual a zero. Por ser a taxa que iguala as entradas de caixa com o investimento inicial, a TIR expressa a rentabilidade do projeto. Não há fórmula de calculo: sua fórmula de cálculo só é possível por tentativa e erro, por isso a importância de recorrermos ao auxílio de uma calculadora financeira ou de uma planilha eletrônica como o Excel, por exemplo. Exemplo: TIR na calculadora HP-12C 12 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Para calcular a TIR do projeto A na calculadora HP-12C, devem ser observados os seguintes passos: fCLx 500 CHS g CF0 300 gCFj 150 gCFj 50 gCFj 100 gCFj Tente encontrar a TIR dos outros projetos Investimento A B C D E F TIR 19,1% 13,9% 7,9% 7,9% 18,9% 28,6% Critério de decisão De acordo com o método da TIR: Um projeto deve ser aprovado se sua TIR for maior que o custo de capital; Quanto maior a TIR, melhor se podem comparar projetos de investimento concorrentes. A proposta A tem uma TIR de 19%, bem superior ao custo de oportunidade do capital de 10%. Portanto, o projeto é atraente e deve ser aprovado. O payback do A é de 3 anos com um TIR de 19%, apesar do F ter um TIR de 28,6% não seria o escolhido em função do payback ser 3,07 anos um tempo maior para o retorno do fluxo de caixa. Vantagens da TIR A TIR capta o valor do dinheiro no tempo. Em relação à criação de valor, a TIR de um projeto é calculada fixando-se seu VPL em zero. Quando construímos um gráfico de VPLs com diferentes taxas de desconto, os resultados desses métodos são equivalentes quando o VPL é positivo, a TIR é superior ao custo de capital, e quando o VPL é negativo, a TIR é inferior ao custo de capital. 13 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Limitações da TIR A TIR, em algumas situações, pode levar a decisões de investimento incorretas. Quando se trata de projetos mutuamente excludentes, só um deverá ser escolhido, a TIR pode conflitar com a decisão apontada pelo VPL. Isso ocorre, em geral, quando os padrões de fluxo de caixa dos projetos analisados diferem muito. A TIR também pode causar problemas, quando a sequência dos fluxos de caixa se afasta do modelo convencional de uma saída e várias entradas. 2.4 Índice de lucratividade (IL) O índice de lucratividade – IL – de um projeto é o resultado da divisão do valor presente dos fluxos de caixa esperados do projeto pelo valor do investimento inicial. O IL é uma variante do VPL, ou ainda, um índice de custo-benefício. Para as propostas do exemplo anterior, podemos consultar os respectivos dados e refazer os cálculos a título de exercício. Investimento A B C D E F IL 1,19 1,11 1,08 0,95 1,24 1,64 Critério de decisão do IL Um projeto deve ser aprovado se IL > 1,0 e rejeitado se IL < 1,0; Quanto maior o IL, melhor é o projeto ao se compararem investimentos alternativos. De acordo com esse critério, apenas o projeto D deve ser rejeitado, pois resulta em IL < 1. Devemos notar também que a proposta C tem um IL bem próximo da unidade. 14 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados a. Vantagens do IL O IL leva em conta o fator tempo no valor do dinheiro. O IL considera o risco do projeto, pois usa o custo de capital como taxa de desconto. O IL leva às mesmas decisões que o VPL. Portanto, é consistente com a meta da maximização da riqueza. Considerações finais Nesse capítulo aprendemos os principais métodos para avaliar as propostas de investimento, suas vantagens e desvantagens como critério de decisão dos acionistas. Após a leitura desse capítulo você deve ser capaz de: Entender e calcular o VPL; Entender e calcular a TIR; Entender e calcular o IL; Entender e calcular o Payback Simples e Descontado. Referências GITMAN, L.J.; MADURA, J. Administração financeira: uma abordagem gerencial. São Paulo: Pearson, 2005. PADOVEZE, C.L. Introdução à administração financeira. São Paulo: Cengage Learning, 2010. Objetivos Específicos Temas • Entender a importância do controle e gestão do capital de giro para a longevidade da empresa Clodoir Vieira Administração Financeira Aula 11 Professor Administração do capital de giro e disponibilidades Introdução 1 Caixa e necessidade de capital de giro 2 Capital circulante líquido (capital de giro) 3 Estrutura analítica do capital de giro (CDG) Considerações finais Referências 2 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução As empresas precisam estar atentas a pelo menos um fato: como administrar seu capital de giro. Desde o início deste curso tenho destacado a importância do capital de giro e as implicações da má gestão de capital que levam à falência da empresa. Se não conseguir honrar com seus compromissos e necessitar de aportes de capital de curto prazo, a empresa acaba sendo forçada a fechar as portas. Assim, não basta apenas ser bom naquilo que faz, é essencial ter controle tanto dos gastos quanto dos recebimentos. O lucro é importante, claro, mas ter dinheiro para pagar seus prestadores de serviços, fornecedores e qualquer outra despesa em dia é mais ainda. Neste capítulo veremos que isso não é tão simples assim, e requer uma boa dose de disciplina. Durante a leitura das próximas páginas você verá os detalhes das contas que compõe o ciclo de caixa que representa as atividades operacionais da empresa – veremos as principais necessidades das empresas, os conceitos de necessidade de capital de giro e saldo de tesouraria, além de modelos de gestão de caixa. 1 Caixa e necessidade de capital de giro Para entender o capital de giro, precisamos primeiramente retomar o conceito de fluxo de caixa, o qual consiste em um controle financeiro que ajuda o gestor ou empresário a tomar decisões sobre a situação da empresa. Nesse controle, encontram-se tanto a origem de todo o dinheiro que entrou no caixa da empresa quanto à aplicação de todo o dinheiro que saiu do caixa. O fluxo de caixa pode ser projetado (forecast), isso quer dizer que abrange todas as entradas e saídas futuras dos recursos. Também é adotado o fluxo de caixa passado (budget), que engloba as entradas e saídas de dinheiro já ocorridas. As principais finalidades do fluxo de caixa são: • Planejar e controlar as entradas e saídas de caixa num período determinado de tempo, normalmente um mês ou vários meses. • Auxiliar o empresário ou gestor de pequenos negócios a tomar decisões antecipadas sobre o fluxo financeiro da empresa. • Demonstrar a situação do caixa da empresa de forma antecipada, permitindo eventuais ajustes quando necessário. • Verificar se a empresa está trabalhando com aperto ou folga financeira. 3 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Para elaborar o Fluxo de Caixa é necessário: • Conhecer com detalhes o ciclo financeiroda empresa – prazos de pagamentos e recebimento. • Manter os controles auxiliares em dia, tais como: controle bancário, controle de recebimento de clientes, controle de pagamento de fornecedores, controle de pagamento de despesas e o controle de movimento de caixa. • Todos os valores lançados no fluxo de caixa deverão ser realistas, ou seja, manter os valores das estimavas das entradas e saídas caixa sempre atualizados. Necessidades de capital de giro - NCG Quando elaboramos o fluxo de caixa de uma empresa não é incomum vermos que os pagamentos no final são maiores que os recebimentos. Isso não significa que a empresa está completamente quebrada, mas muitos dos problemas estão relacionados à própria atividade do setor no qual a empresa atua. Diversos segmentos, como o setor de construção civil, são capital intensivo e requerem que a empresa disponha de bastante dinheiro para investir no negócio que terá retorno de médio ou longo prazo. O empresário desembolsa hoje para receber amanhã – o descasamento é problema de caixa, é óbvio. Para entender essa realidade, precisamos introduzir outros conceitos que envolvem a vida da empresa. Vejamos. As empresas costumeiramente tomam recursos para fazerem frente às suas necessidades de giro. Como mencionamos anteriormente, essa necessidade está relacionada à própria atividade da empresa. A seguir, analisaremos os ciclos de uma empresa industrial e de uma varejista para facilitar o entendimento. Ciclo Operacional No caso de uma empresa industrial, em um modo geral, sua atividade consiste na com- pra de matéria-prima e sua transformação. Supondo uma hipotética fábrica de jeans que tenha as seguintes características operacionais; compra de tecidos e aviamentos que ficam estocados, em média, por 15 dias; no processo de produção de roupas, a empresa leva em média cinco dias; o produto acabado gira (venda), em média, em 20 dias; a empresa paga ao fornecedor de matéria-prima, em média, em 30 dias; e as calças jeans são vendidas ao distribuidor com prazo de 40 dias para pagar. 4 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Compra Paga Vende Recebe MP = 15 FB = 5 PA = 20 Prazo médio de recebimento das vendas = 40 dias Prazo médio de rotação dos estoques = 40 dias Prazo médio de pagamento das compras = 30 dias Ciclo financeiro = 50 dias CICLO OPERACIONAL Sendo: MP = estoque de matéria-prima FB = estoque de produtos em fabricação PA = estoque de produtos acabados Note que há uma defasagem de 50 dias entre T1 e T3, ou seja, a saída e a entrada de caixa, respectivamente. Essa conjugação de prazo e o volume de vendas determinam o volume de recursos que a empresa aplica em suas atividades operacionais. No caso do comércio, a atividade resume-se à compra, estocagem e venda. Vamos supor uma loja de roupas que compre do fabricante, estoque durante 20 dias e venda com prazo de 25 dias. Compra Paga Vende Recebe Prazo médio de rotação dos estoques = 20 dias Prazo médio de recebimento das vendas = 25 dias Prazo médio de pagamento das compras = 40 dias Ciclo financ. = 5 dias CICLO OPERACIONAL T0 T3 T2 T1 T0 T3 T2 T1 5 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Note que o lojista paga ao fornecedor em T2 e recebe em T3, com um ciclo de apenas cinco dias. Supondo que o volume de vendas do lojista fosse igual ao do fabricante, sua necessidade de capital de giro seria menor. Assim, em cada uma das atividades, o ciclo operacional inicia-se com a compra da matéria-prima ou do produto e conclui-se com o recebimento das vendas. Todavia, o ciclo financeiro inicia-se com o pagamento ao fornecedor e finda com o recebimento das vendas. Já o ciclo econômico inicia-se com a compra da matéria-prima e termina com a venda final, em que nenhuma das duas pontas há a necessidade de recebimento nem desembolso. Podemos perceber por meio dessa avaliação que a necessidade de capital de giro faz parte da vida das empresas. Comumente, as empresas se deparam com diferentes tipos de necessidades, definidas a seguir: Necessidades normais de Capital de Giro: são uma consequênciado ciclo financeiro e do nível de atividade na empresa. Quando o capital permanente líquido (CPL) não é suficiente para financiar as necessidades líquidas de capital de giro (NLCG), a empresa recorre a empréstimos de curto prazo, desconta duplicatas ou notas promissórias. Os chamados “limites rotativos” também são adequados para satisfazer tais necessidades, as quais devem ter um caráter ocasional. Normalmente, esses empréstimos de curto prazo devem ser pagos com caixa obtido a partir da realização de ativos circulantes – vendas e recebimentos, redução de estoques da empresa. Necessidades Sazonais de Capital de Giro: as atividades de muitas empresas apresentam características sazonais que afetam suas necessidades de capital de giro, quanto às épocas, aos volumes e às finalidades desses recursos. As atividades rurais como café, fruticultura (maçã, pêra e figo, por exemplo) estão sujeitas às épocas de suas colheitas. Os empréstimos para atender às necessidades sazonais devem ser pagos com caixa obtido pela realização natural dos ativos circulantes, as vendas do dia a dia. É importante destacar que a parcela sazonal das necessidades de capital de giro de uma empresa, cuja atividade não seja sazonal, não se enquadra na categoria de necessidades sazonais, para o propósito de estruturação. Necessidades especiais de Capital de Giro: ocorrem quando as empresas recebem certas encomendas para produção de bens, cujos volumes excedem aos seus níveis habituais de producão, demandando uma necessidade especial de recursos para financiar o incremen- to no investimento operacional em giro (IOG). Nesse caso, a estruturação do empréstimo requer a compreensão da forma de operação da empresa e do impacto da demanda especial na necessidade de capital de giro da empresa. Também nessa situação, o empréstimo deve ser pago com caixa decorrente da realização natural dos ativos circulantes. Deficiência Permanente de Capital de Giro: Esse é o grande problema. É identificada pela existência de um hiato permanente entre o capital permanente líquido da empresa 6 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados (GPL) e seu IOG. Como nos demais casos, após minuciosa análise financeira da empresa, um empréstimo para financiar esse tipo de necessidade deve ser por prazo longo, o suficiente para compatibilizá-lo com a capacidade de pagamento da empresa. Portanto, o empréstimo deverá ser parcelado e será pago com caixa gerado pelo lucro da atividade operacional da empresa ao longo do período de financiamento. 2 Capital circulante líquido (Capital de Giro) O estudo da liquidez de uma empresa concentra-se nas contas de curto prazo, isto é, ativo e passivo circulante. A liquidez é definida como a capacidade de a empresa pagar as contas de curto prazo. O primeiro indicador para medir a liquidez é o capital circulante líquido (CCL), que é a expressão primeira da mensuração da capacidade de pagamento da empresa. Como vimos no capítulo 3, o CCL engloba tudo o que a empresa tem aplicado no curto prazo (AC) confrontado com todos os compromissos a pagar (PC) nesse período (o CCL expressa o capital de giro de uma empresa). Assim, temos: CCL = AC – PC Conforme destacamos na aula 3, podemos analisar o CCL como uma expressão do fluxo de caixa da empresa. CCL = AC – PC Saldo de Caixa = Entrada – Saída FLUXO DE CAIXA Agora aprofundaremos mais nossa avaliação baseada no conceito de CCL. Modelo Fleuriet Se olharmos de forma crítica a forma como é montado o balanço de uma empresa, veremos que o ativo circulante engloba, dentro de um mesmo conjunto, ativos que possuem características muito diferentes entre si. Enquanto as contas caixa,bancos e aplicações financeiras possuem liquidez imediata, as duplicatas a receber e estoques não são tão líquidas assim. O tempo para transformar duplicatas a receber e estoques em caixa (dinheiro), depende dos prazos de recebimento concedidos aos clientes e do prazo médio de estocagem. Assim, do ponto de vista gerencial, além de se considerarem os diferentes 7 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados estágios de liquidez entre esses ativos, a classificação das contas utiliza outro critério com o objetivo de dar uma dinâmica maior à análise. Esse é o modelo Fleuriet. O primeiro passo é separar as contas em duas categorias. Contas Cíclicas – Estão relacionadas à atividade básica da empresa, ou seja, à venda de seus produtos/serviços. Tais contas fazem parte do ciclo operacional que vimos logo no início dessa aula. Contas Erráticas – São as demais contas circulantes que não possuem relação com o ciclo operacional da empresa. Vejamos agora como são classificadas as principais contas de um balanço: Ativo Circulante = A. Cíclico + A. Erráticos Contas a receber Estoque Outras contas a receber Desp. antecipadas Outros Disponibilidades Impostos a compensar – – – Passivo Circulante = P. Cíclico + P. Erráticos Fornecedor Importação, Taxa e Contribuições Encargos regulatórios Obrigações sociais Financiamentos a curto prazo Debenture Outros valores a pagar = = = CCL /CDG = NCG + S. Tesouraria Lembra da BOCA S.A.? Vejamos novamente o ativo e o passivo circulante da empresa. R$ mil Ativos 2012 2011 Passivo 2012 2011 ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE - Caixa 500 600 - Duplicatas a pagar 800 500 - Aplicação 600 200 - Títulos a pagar 600 700 - Duplicatas a receber 400 500 - Outras contas a pagar 100 200 - Estoques 600 900 Total Passivo Circulante 1.500 1.400 Total Ativo Circulante 2.100 2.200 8 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados A. Cíclico A. Erráticos Duplicatas a receber 400 Ativo Circulante 2012 = Estoques - 600 Outras contas a receber 0 + Caixa + aplicações 1100 Impostos a Compensar Despesas Antecipadas 0 Outros 0 – – – P. Cíclico P. Erráticos Fornecedor (duplicatas a pagar) - 800 Passivo Circulante 2012 = Importação, Taxa e Contribuições 0 + Financiamento a curto prazo Debenture Encargos regulatórios Outros valores a pagar 100 Obr. sociais 0 Títulos a pagar 600 = = = CCL /CDG = NCG + S.Tesouraria 600 – 400 1.000 Note pelo quadro acima a diferença entre capital de giro (CDG) e a necessidade de capital de giro (NCG). O capital de giro é um conceito composto de investimentos líquidos tanto na operação quanto fora da atividade básica da empresa e seu cálculo é baseado no CCL. Já a NCG é unicamente operacional porque é consequência das políticas de negociação com clientes, estoques e fornecedores. As contas consideradas erráticas compõem o saldo de tesouraria. Podemos concluir, portanto, que o gerenciamento da liquidez consiste exatamente na identificação do volume adequado e da real necessidade de capital de giro de uma empresa, visando torná-la mais eficiente, com melhor desempenho e menor risco. Necessidade de Capital de Giro (NCG): representa o volume de recursos aplicados na operação. Saldo de Tesouraria (T): é a diferença entre as contas que estão fora da atividade básica da empresa, que não tem relação com o ciclo operacional da empresa. 9 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 3 Estrutura Analítica do Capital de Giro (CDG) O CCL iguala-se ao CDG na medida em que indica o valor de aplicações no curto prazo não financiadas por recursos de curto prazo, enquanto o CDG evidencia a fonte de tais recursos. Os fundos de longo prazo (FLP) que não estão aplicados nos ativos fixos (AF) de longo prazo estão aplicados no CDG. Dessa forma, apesar dele ser igual ao CDG em valor, se o primeiro for uma aplicação, o segundo será fonte, e vice-versa. No exemplo, o CCL é uma aplicação (AC > PC) e o CDG é a fonte. Vejamos como isso é expresso no balanço: Ativo Circulante P. Circulante A. Circulante P. Circulante A. Circulante P. Circulante CDG CDG Ativos de longo prazo Fundos de longo prazo Ativos de longo prazo Fundos de longo prazo Ativos de longo prazo Fundo de longo prazo Capital de giro positivo Capital de giro nulo Capital de giro negativo Quando o CDG é positivo, ou seja, o ativo circulante é maior que o passivo circulante, dizemos que ele é uma fonte de recurso. Quando o ativo circulante e o passivo circulante são iguais, o CDG é nulo. Quando o ativo circulante é menor que o passivo circulante, dizemos que o CDG é uma aplicação de recurso. No primeiro caso (AC > PC), o CCL é uma aplicação de recursos e o CDG é fonte de recurso. Assim, há uma parcela de fontes de longo prazo financiando ativos de curto prazo. No último caso (AC < PC), quer dizer, o CCL é negativo, podemos perceber que o capital de giro está aplicado em ativos de longo prazo. Desse modo, o capital de giro é negativo, indicando uma descaracterização de seu princípio como fonte de recursos para a situação inversa: aplicação de recursos. Assim, fontes de PC estão financiando ativos de longo prazo. Um valor de CDG inferior à NCG levaria a empresa a ter de buscar capitais financeiros de curto prazo para complementar a sua necessidade de capital de giro. O gerenciamento do capital de giro, importante instrumento da liquidez das empresas (lembre-se, liquidez é a capacidade da empresa de assegurar o cumprimento de seus compromissos financeiros), deve ter como diretriz a igualdade com a necessidade de capital de giro. Consequentemente, o saldo de tesouraria deve ser positivo, mas tendendo a zero. A busca desse objetivo deverá ser o principal foco da administração financeira no aspecto de liquidez. 10 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Considerações finais No capítulo aprendemos como avaliar e calcular o capital de giro da empresa e sua diferença com relação à necessidade de capital de giro. Analisamos as contas que compõem o ciclo de caixa que representa as atividades operacionais da empresa, as principais necessidades das empresas e os conceitos de necessidade de capital de giro e saldo de tesouraria. Após a leitura do capítulo você será capaz de realizar essa análise quando se deparar como balanço de uma empresa e tomar decisões como um administrador financeiro. Referências BRUNI, A.L. A administração de custos, preços e lucros: com aplicações na HP12C e Excel. São Paulo: Atlas, 2010. GITMAN, L.J.; Madura, J. Administração financeira: uma abordagem gerencial. São Paulo: Pearson. Objetivos Específicos Temas • Entender o cálculo dos custos e seu impacto na formação do preço do produto Clodoir Vieira Administração Financeira Aula 12 Professor Os custos e seus impactos Introdução 1 Principais conceitos usados 2 Custos versus despesas 3 Classificação dos custos 4 Como apuramos os custos 5 Margem de contribuição, mark-up e ponto de equilíbrio Considerações finais Referências 2 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução As empresas precisam entender como é a composição de seus custos para definir qual o preço final a ser cobrado pelo produto. Mas quais são os componentes dos custos? Como calcular esses custos? Quais são seus impactos no aumento da produção? Quanto os custos representam no valor final do produto? Temos margens aceitáveis, ou seja, estamos fazendo um bom negócio? Essas e outras perguntas serão respondidas neste capítulo. A importância do estudo da contabilidade de custos adquiriu elevada importância com o aumentoda complexidade do mundo dos negócios. Os especialistas perceberam que as informações fornecidas por essa área eram úteis ao auxílio gerencial e, portanto, não deveriam ficar apenas restritas ao campo de registro. Assim, a contabilidade de custos passou a ser utilizada no auxílio ao controle (os custos podem, através de comparações com padrões e orçamentos, indicar onde está ocorrendo problemas ou situações não previstas) e na tomada de decisões: as informações de custos subsidiam informações úteis nos processos decisórios de curto e longo prazos, como: corte de produtos, fixação de preços de vendas, opção de compra ou fabricação de produtos etc. 1 Principais conceitos usados Antes de começarmos a estudar o impacto dos custos na formação dos preços, precisamos definir as principais terminologias usadas e o diferencial entre custos e despesas. Gasto: é o sacrifício financeiro que a empresa faz para obter um produto ou serviço. Custo: gasto relativo a bem ou serviço utilizado na produção de outro bem ou serviço. Consiste no valor dos insumos utilizados na produção de um bem. O gasto refere-se aos insumos adquiridos, já o custo está relacionado com os insumos efetivamente utilizados na produção. Despesa: é o valor dos insumos não identificados com a produção e que são consumidos para o funcionamento da empresa. Está relacionada às atividades não produtivas da empresa. São classificadas como administrativas, comerciais e financeiras. A principal diferença entre os custos e as despesas é que as últimas não estão relacionadas diretamente com a produção. Investimento: gasto classificado como um ativo em função da sua vida útil ou benefício atribuível a períodos futuros. Os investimentos podem ter naturezas e períodos de ativação variados. O gasto com a aquisição de produtos para o estoque é um investimento assim como o gasto com a aquisição de equipamentos produtivos também. 3 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Perda: bens ou serviços consumidos de forma anormal ou involuntária. Desembolso: é o pagamento resultante da obtenção de insumos e que pode ocorrer em momento diferente do gasto. Por exemplo: se for efetuada uma compra de material com 60 dias de prazo para o pagamento, o gasto ocorre imediatamente, mas o desembolso só ocorre no dia do pagamento. 2 Custos versus despesas Os custos e despesas que ocorrem durante o exercício do período analisado são encontrados nas demonstrações de resultados das empresas, independente do segmento em que atuam: industrial, comercial e serviços. Os custos referem-se a produtos, mercadorias ou serviços que foram entregues ou prestados aos clientes gerando as respectivas receitas. Na Demonstração de Resultados os custos estão sempre relacionados com as receitas. As despesas são consideradas esforços realizados para gerar a receita e administrar a empresa. Em uma Empresa Industrial, os custos estão relacionados aos gastos relativos à fabricação dos produtos. Já as despesas referem-se aos gastos relacionados à administração. Na Demonstração de Resultados: Receita obtida na venda dos produtos - Custo dos produtos que foram vendidos = Lucro na comercialização dos produtos - Despesas administrativas, comerciais e financeiras = Lucro líquido Em uma Empresa Comercial, os custos correspondem aos gastos relativos à aquisição das mercadorias. Já as despesas referem-se aos gastos relacionados à administração da empresa e à geração de receitas. 4 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Na Demonstração de Resultados: Receita obtida na venda das mercadorias - Custo das mercadorias vendidas = Lucro Bruto - Despesas administrativas, comerciais e financeiras = Lucro líquido Em uma Empresa Prestadora de Serviços, os custos correspondem aos gastos relativos à execução dos serviços. Já as despesas referem-se aos gastos relacionados à administração da empresa e a geração de receitas. Na Demonstração de Resultados: Receita obtida na prestação dos serviços - Custo dos serviços que foram prestados = Lucro na prestação de serviços - Despesas administrativas, comerciais e financeiras = Lucro líquido 3 Classificação dos custos 3.1 Custos diretos e indiretos Conforme vimos, todos os gastos que ocorrem na fabricação do produto são classificados como custos. Dessa forma, podemos concluir que a matéria-prima, a mão de obra, a energia elétrica, e até mesmo o material de limpeza da fábrica são exemplos de custo. Mas, nesse universo, ainda precisamos classificar que tipos de custos são. Primeiramente vamos diferenciar os custos entre diretos e indiretos em relação ao objeto de custeio. Depois, passaremos a ver se são fixos ou variáveis. • Custos Diretos: são aqueles que podemos apropriar diretamente a cada produto, através de medidas de consumo, ou seja, sabemos quanto cada produto respondeu por aquele gasto. Podem ser definidos como custos 5 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados específicos de cada produto fabricado. Exemplos: mão de obra da produção, matéria-prima e embalagem do produto. • Custos Indiretos: são aqueles que não oferecem a possibilidade de alocação direta aos produtos, pois representam custos relacionados com toda a atividade industrial, e não especificamente com os produtos fabricados. A apropriação desses custos aos produtos é processada mediante rateio. A classificação entre Custos Fixos ou Variáveis é obtida pela análise da relação existente entre o valor total de um custo e o volume da atividade. Se o custo se eleva quando a produção é ampliada, podemos afirmar que é variável. Se ele se mantém estático, classificamos como fixo. • Custos Variáveis: são aqueles que estão relacionados com o volume de produção. Quanto maior a quantidade produzida, maior o valor de seu consumo total. Quanto mais a indústria produz, maiores são esses custos. Exemplos: matéria-prima, mão de obra da produção (direta), embalagem etc. • Custos Fixos: são aqueles que independem do volume de produção. A produção pode aumentar e diminuir, mas esses custos permanecem os mesmos. Exemplo: aluguel da fábrica, mão de obra não ligada à produção, como a limpeza da fábrica. A classificação em Fixos ou Variáveis também pode ser aplicada às Despesas Operacionais, como as despesas fixas de vendas (propaganda, salários da administração de vendas) e as despesas variáveis de vendas (comissões de vendedores, despesas com transporte). Já as Despesas Administrativas são quase todas fixas, com raríssimas exceções. 4 Como apuramos os custos 4.1 Custo de Produção Em uma empresa industrial, o Custo de Produção (CP) é formado por três fatores de produção: materiais (matérias-primas, embalagens e materiais auxiliares), mão de obra (direta e indireta) e despesas gerais de fabricação. Para a apuração do montante correspondente aos materiais consumidos na produção, utilizamos a fórmula que representa a movimentação desses estoques: Movimentação de Estoques de Materiais EI + C - MCP = EF 6 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Nomenclatura EI – Estoque Inicial: representa o valor de estoques formados em períodos anteriores; C – Compras: o montante correspondente às compras de materiais é apurado a partir do valor da compra, excluindo os impostos recuperáveis e os valores relativos às devoluções ocorridas no período; MCP – Materiais Consumidos na Produção: corresponde ao custo total de todos os materiais requisitados no processo de produção. EF – Estoque Final: é o custo total dos materiais adquiridos e ainda não requisitados pela produção. 4.2 Custo da Produção Acabada O Custo da Produção Acabada (CPA) é o total dos custos contidos nas unidades acabadas no período e transferidas para o estoque de ProdutosAcabados, ficando, portanto, disponíveis para serem vendidas. A movimentação da produção é registrada na contabilidade em uma conta denominada Produtos em Elaboração, podendo ser representada de acordo com a fórmula: Produtos em Elaboração EIPE + CP - CPA = EFPE Nomenclatura EIPE – Estoque Inicial de Produtos em Elaboração: representa o custo dos produtos cuja produção foi iniciada em períodos anteriores, e ainda não concluída; CP – Custo da Produção: valor correspondente aos custos de materiais, mão de obra e despesas gerais de fabricação relativos à produção executada no período; CPA – Custo da Produção Acabada: conforme a definição dada neste tópico, é o total dos custos contidos nas unidades acabadas no período e transferidas para o estoque de Produtos Acabados; EFPE – Estoque Final de Produtos em Elaboração: representa o valor dos produtos cuja produção foi iniciada no período e ainda não concluída. 4.3 Custo dos Produtos Vendidos O Custo dos Produtos Vendidos (CPV) é o total dos custos incorridos na produção e contidos nas unidades efetivamente vendidas no período. Na Contabilidade o CPV é obtido 7 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados pelo registro do custo das saídas de produtos vendidos, baixados do estoque de Produtos Acabados, conforme podemos observar: Produtos Acabados EIPA + CPA - CPV = EFPA Nomenclatura EIPA – Estoque Inicial de Produtos Acabados: representa o custo dos produtos cuja produção foi concluída em períodos anteriores, e ainda não vendidos; CPA – Custo da Produção Acabada: valor correspondente ao custo da produção concluída no período, transferida do estoque de produtos em elaboração; CPV – Custo dos Produtos Vendidos: conforme a definição dada neste tópico, é o total dos custos contidos nas unidades acabadas e vendidas no período; EFPA – Estoque Final de Produtos Acabados: representa o valor dos produtos cuja produção foi concluída no período e ainda não vendidos. Assim, o CPV é dado por: O saldo inicial de matérias-primas Mais As compras Menos As devoluções de compras Menos O saldo final de matérias-primas É igual Ao MATERIAL CONSUMIDO NO PERÍODO Mais A mão de obra direta (MOD) É igual Ao CUSTO PRIMÁRIO Mais Os Custos Indiretos de Fabricação (CIF) É igual Ao CUSTO INDUSTRIAL Mais O Saldo Inicial de Estoques de Produtos em Processo Menos O Saldo Final de Estoques de Produtos em Processo É igual Ao CUSTO DOS PRODUTOS FABRICADOS NO PERÍODO Mais O Saldo Inicial de Estoques de Produtos Acabados Menos O Saldo Final de Estoques de Produtos Acabados É igual Ao CUSTO DOS PRODUTOS VENDIDOS 8 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 4.4 Custos no Comércio O Custo da Mercadoria Vendida (CMV) é o total dos custos das mercadorias incorridos na comercialização e contidos nas unidades efetivamente vendidas no período. Na contabilidade o CMV é obtido pelo registro do custo das saídas de produtos vendidos, baixados do estoque de Produtos para Revenda. Assim... Produtos para Revenda EIPR + CMP - CMV = EFPR Nomenclatura EIPR – Estoque Inicial de Produtos para Revenda: representa o custo dos produtos que ainda não foram revendidos no início do período da apuração; CMP – Compras de Produtos para Revenda: valor correspondente ao custo de aquisição das mercadorias para revenda; CMV – Custo das Mercadorias Vendidas: é o total dos custos contidos nas unidades revendidas no período; EFPR – Estoque Final de Produtos para Revenda: representa o valor dos produtos que ainda não foram revendidos no final do período de apuração do custo. 5 Margem de contribuição, mark-up e ponto de equilíbrio 5.1 Margem de Contribuição É a margem bruta obtida pela venda de um produto que excede seus custos variáveis unitários. Representa o lucro variável. É a diferença entre o preço de venda do produto e os custos e despesas variáveis por unidade de produto. Significa que em cada unidade vendida a empresa lucrará determinado valor. Multiplicado pelo total vendido, teremos a contribuição marginal total do produto empresa. Para calcular a Margem de Contribuição Unitária: MC unitária = RLV – CDV 9 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Para calcular a Margem de Contribuição Percentual: 𝑴𝑪% = � 𝑴𝑪 𝑹𝑳𝑽 � × 𝟏𝟎𝟎 Nomenclatura RLV – receita líquida da venda por unidade; CDV – custo direto variável unitário. 5.2 Ponto de Equilíbrio O ponto de equilíbrio mostra o volume que a empresa precisa produzir ou vender, para que consiga pagar todos os custos e despesas fixas, além dos custos e despesas variáveis que tem necessariamente que incorrer para fabricar/vender o produto. No ponto de equilíbrio, não há lucro ou prejuízo. A partir de volumes adicionais de produção ou venda, a empresa passa a ter lucros. Assim, o PE identifica o nível mínimo de atividade em que a empresa ou cada divisão deve operar. Também é denominado ponto de ruptura ou Break-Even Point (BEP). 5.3 Cálculo do Ponto de Equilíbrio Como o ponto de equilíbrio mostra quando as receitas se igualam com os custos, temos: 𝐑𝐞𝐜𝐞𝐢𝐭𝐚 𝐝𝐞 𝐕𝐞𝐧𝐝𝐚𝐬 = 𝐂𝐮𝐬𝐭𝐨𝐬 𝐕𝐚𝐫𝐢á𝐯𝐞𝐢𝐬 𝐓𝐨𝐭𝐚𝐢𝐬 + 𝐂𝐮𝐬𝐭𝐨𝐬 𝐅𝐢𝐱𝐨𝐬 𝐓𝐨𝐭𝐚𝐢𝐬 Graficamente: 10 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 5.4 Ponto de Equilíbrio em Quantidade Objetiva determinar a quantidade mínima que a empresa deve produzir e vender. Abaixo dessa quantidade de produção e vendas, a empresa opera com prejuízo. 𝑷𝒐𝒏𝒕𝒐 𝒅𝒆 𝑬𝒒𝒖𝒊𝒍í𝒃𝒓𝒊𝒐𝒒𝒕 = 𝑪𝒖𝒔𝒕𝒐𝒔 𝑭𝒊𝒙𝒐𝒔 𝑻𝒐𝒕𝒂𝒊𝒔 𝑴𝒂𝒓𝒈𝒆𝒎 𝒅𝒆 𝑪𝒐𝒏𝒕𝒓𝒊𝒃𝒖𝒊çã𝒐 𝒖𝒏𝒊𝒕á𝒓𝒊𝒂 Onde a Margem de Contribuição unitária é o resultado da diferença entre o PVun – Preço de Venda unitário e o CVun – Custo Variável unitário. Exemplo Determine a quantidade mínima (PE) de um produto que uma empresa com CFT de R$ 120.000,00 deve vender para não incorrer em prejuízo, sendo seu custo variável unitário de R$ 12,00 e seu preço de venda unitário de R$ 20,00 . 𝑷𝒐𝒏𝒕𝒐 𝒅𝒆 𝑬𝒒𝒖𝒊𝒍í𝒃𝒓𝒊𝒐𝒒𝒕 = 𝟏𝟐𝟎.𝟎𝟎𝟎 (𝟐𝟎,𝟎𝟎 − 𝟏𝟐,𝟎𝟎) = 𝟏𝟓.𝟎𝟎𝟎 𝒖𝒏𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆𝒔 5.5 Mark-Up O preço de um produto deve ser o mínimo suficiente para pagar todos os seus custos, diretos e indiretos, despesas, impostos e o lucro desejado na venda. O mark-up é o fator que irá agregar aos custos, todas as despesas, impostos e o lucro, formando o preço de venda mínimo a ser praticado. Para formar o mark-up é importante lembrar que, no Brasil, temos impostos incidentes na comercialização do produto e impostos que incidem sobre o lucro. O mark-up deve considerar os impostos que incidem sobre o preço de venda. Exemplo Para o cálculo do mark-up utilizaremos os seguintes fatores: Fatores Incidentes sobre o Preço de Venda do Produto ICMS na venda 18,00% PIS/COFINS 9,25% Comissões sobre vendas 2,00% LAIR Desejado 15,00% TOTAL 44,25% 11 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Podemos calcular o mark-up por duas metodologias: 𝑴𝒂𝒓𝒌 − 𝑼𝑷𝒅𝒊𝒗𝒊𝒔𝒐𝒓 = 𝟏𝟎𝟎 − 𝟒𝟒,𝟐𝟓 𝟏𝟎𝟎 = 𝟎,𝟓𝟓𝟕𝟓 𝑴𝒂𝒓𝒌 − 𝑼𝑷𝒎𝒖𝒍𝒕𝒊𝒑𝒍𝒊𝒄𝒂𝒅𝒐𝒓 = 𝟏 𝟏 − 𝟎,𝟒𝟒𝟐𝟓 = 𝟏 𝟎,𝟓𝟓𝟕𝟓 = 𝟏,𝟕𝟗𝟑𝟕 Para um produto que tenha o preço de custo de R$ 100,00, podemos aplicar o mark-up da seguinte forma: 𝑷𝒓𝒆ç𝒐 𝒅𝒆 𝑽𝒆𝒏𝒅𝒂 𝒑𝒆𝒍𝒐 𝑴𝒂𝒓𝒌 − 𝑼𝑷𝒅𝒊𝒗𝒊𝒔𝒐𝒓 = 𝟏𝟎𝟎,𝟎𝟎 𝟎,𝟓𝟓𝟕𝟓 = 𝟏𝟕𝟗,𝟑𝟕 𝑷𝒓𝒆ç𝒐 𝒅𝒆 𝑽𝒆𝒏𝒅𝒂 𝒑𝒆𝒍𝒐 𝑴𝒂𝒓𝒌 − 𝑼𝑷𝒎𝒖𝒍𝒕𝒊𝒑𝒍𝒊𝒄𝒂𝒅𝒐𝒓 = 𝟏𝟎𝟎,𝟎𝟎 × 𝟏,𝟕𝟗𝟑𝟕 = 𝟏𝟕𝟗,𝟑𝟕 Considerações finais Neste capítulo aprendemos como se dão as implicações dos custos na formação do preço das empresas e como podemos analisar os custos e despesas de forma a tomar decisões. Falamos sobre as diferenças de custos e despesas, como apuramos o custo naíndústria (CPV) e no comércio (CMV) e como estes impactarão na lucratividade da companhia. Também falamos do Ponto de Equilíbrio e da Margem de Contribuição como fatores de análise da empresa. Também abordamos o mark-up como o indicador de formação de preço. Após a leitura deste capítulo você será capaz de: • separar custos e despesas; • classificar os custos; • calcular o CPV e o CMV; • calcular a Margem de Contribuição; • calcular o Ponto de Equilíbrio; • encontrar o Mark-up. 12 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Referências BRUNI, A. L. A administração de custos, preços e lucros: com aplicações na HP12C e Excel. São Paulo: Atlas, 2010. GITMAN, L. J.; M., J. Administração financeira: uma abordagem gerencial. São Paulo: Pearson, 2005. Objetivos Específicos Temas • Entender quais os princípios envolvidos na tomada de um financiamento Clodoir Vieira Administração Financeira Aula 13 Professor Custo e estrutura de capital - Financiamento Introdução 1 Estrutura de capital 2 Financiamento das atividades empresariais 3 Capital próprio 4 Capital de terceiros 5 Estrutura de capital 6 Custo médio ponderado de capital (WACC) Considerações finais Referências 2 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução Para a maioria das empresas, a principal fonte de fundos é o caixa líquido gerado pelas operações, ou seja, o que sobra após se quitarem às obrigações com os credores (juros e amortização do principal), com o governo (impostos) e com os acionistas (dividendos). Quando o caixa gerado internamente não é suficiente para manter os ativos atuais e financiar as novas oportunidades de investimento que criam valor, a empresa precisa recorrer a fundos adicionais, de fontes externas, na forma de capital próprio ou de capital terceiros. Há diferentes maneiras de classificar as fontes de recursos às quais o administrador financeiro pode recorrer: Recursos próprios versus recursos de terceiros, isto é, os recursos próprios são representados por capital integralizado, reservas e lucros retidos – contas do patrimônio líquido; os recursos de terceiros correspondem aos compromissos e às dívidas contraídas – contas do passivo circulante e do exigível em longo prazo; Recursos permanentes versus recursos temporários, isto é, os recursos permanentes são os recursos próprios adicionados às dívidas de longo prazo; os recursos temporários são os compromissos e as dívidas de curto prazo; Recursos onerosos versus recursos não onerosos, isto é, os recursos onerosos provocam encargos financeiros; os outros não. Nesse capítulo veremos como as empresas tomam suas decisões de financiamento das atividades e como elas influenciam na estrutura de capital da empresa e nos custos. 1 Estrutura de capital No lado direito do balanço patrimonial encontra-se representada a estrutura financeira da empresa, constituída por obrigações vencíveis a curto e em longo prazo (passivo circulante mais exigível em longo prazo), e por recursos próprios (patrimônio líquido). A estrutura de capital de uma empresa mostra a estrutura financeira formada por recursos de terceiros com vencimento no longo prazo e recursos próprios. Já os recursos de curto prazo – passivo circulante – suprem as necessidades de investimento sazonais. 3 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 2 Financiamento das atividades empresariais 2.1 Tipos de fundos Os fundos utilizados pelas empresas podem ser divididos em duas categorias: Capital próprio: contas que compõem o patrimônio líquido; Capital de terceiros: saldos das contas de passivo circulante e exigível em longo prazo. 2.2 Recursos próprios internos e externos Os recursos próprios podem ter origem em fontes internas e externas. Os fundos próprios gerados internamente originam-se da retenção do lucro líquido. A retenção do lucro líquido é registrada no patrimônio líquido, nas contas de reservas de lucros e de lucros acumulados. A principal fonte externa de recursos próprios são as subscrições e integralizações de aumentos de capital. 2.3 Recursos de terceiros internos e externos As fontes internas de recursos de terceiros correspondem às diversas obrigações decorrentes das atividades operacionais da empresa e às despesas a pagar. Obrigações Despesas a pagar Salários Aluguéis Encargos sociais Seguros Obrigações fiscais a recolher Água, energia, telefone... As fontes externas de recursos de terceiros podem ser geradas espontaneamente, como os créditos concedidos pelos fornecedores e os adiantamentos de clientes relativos à encomenda de bens ou serviços. As principais fontes externas de passivos onerosos incluem: Os empréstimos e financiamentos de curto e longo prazo contratados com instituições financeiras do país e do exterior; 4 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados A colocação, no mercado, de capitais de títulos de dívida – subscrição de debêntures; As operações de arrendamento mercantil – leasing. 2.4 Seleção de fontes de financiamentos A definição da melhor composição de fundos a serem empregados no financiamento das atividades empresariais é influenciada pelas condições da economia, pelas perspectivas do ramo de negócios, pela situação específica da empresa e pelo grau de aversão ao risco de seus administradores. Ao optar por uma maior participação de recursos em curto prazo, o administrador financeiro deve estar ciente do risco que essa estrutura traz e do grau de sua flexibilidade em obter fundos adicionais no mercado assim que necessitar. O mix de financiamento é limitado pela disponibilidade dos vários tipos de fundos procurados. Os planos e desejos da empresa devem ser contrapostos às condições requeridas pelos financiadores, sejam bancos, fornecedores ou acionistas. Assim, a empresa nem sempre consegue todos os recursos que necessita nas condições que lhe sejam favoráveis. 3 Capital próprio O capital próprio representa a fonte de fundo mais apropriada para financiar aplicações de maior risco ou de longa maturação. O capital próprio é levantado por meio de: Aumentos de capital: aporte de recursos por parte dos acionistas e/ou oferta pública de ações na Bolsa de Valores (OPA). Retenção de lucros: parte dos lucros obtidos durante o exercício deve ser alocada no patrimônio líquido. A retenção de lucros está intimamente relacionada à política de dividendos. 3.1 Risco dos acionistas residuais A decisão de levantar financiamento mediante subscrição e integralização de novas ações pressupõe que a empresa ofereça condições de atratividade, em geral, avaliadas: Por seus resultados econômico-financeiros; Pelas características básicas da emissão; 5 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Pelo estudo setorial; Pela situação conjuntural. O aumento de capital por oferta pública de ações só pode ser realizado por companhias de capital aberto, com a intermediação de banco de investimento, sociedade corretora ou sociedade distribuidora. 3.2 Retenção de lucros Os lucros retidos constituem uma importante fonte interna de capital próprio, amplamente utilizada no financiamento das necessidades operacionais e de investimentos. Os lucros retidos encontram-se registrados nas contas de reservas de lucros e de lucros acumulados, constantes do grupo do patrimônio líquido no balanço patrimonial. Logicamente, esses fundos encontram-se aplicados nos diversos ativos da empresa. A empresa reduz a necessidade de captar recursos adicionais em fontes externas quando tem condições de reinvestir, a cada exercício, a maior parcela possível do lucro no próprio negócio. Contudo, a decisão de reter lucros esbarra em outra questão crucial que diz respeitoà remuneração periódica dos acionistas, por meio da distribuição de dividendos. 3.3 Política de dividendos Uma das principais decisões financeiras a serem tomadas pelas empresas consiste na definição de sua política de dividendos. Ao passo que a retenção de lucros constitui a forma mais rápida de se obterem fundos de longo prazo, se não a principal fonte, os acionistas precisam ser remunerados por terem investido na empresa. Assim, parte do lucro obtido no exercício deve ser distribuída aos investidores em forma de dividendo. Para complicar o dilema, o administrador de uma empresa de capital aberto, com ações negociadas por muitos investidores em bolsas de valores, não tem como saber qual é o desejo dos acionistas com relação ao destino a ser dado ao lucro líquido. A essência de uma política de dividendos se resume em decidir se a empresa deve distribuir lucros aos acionistas sob a forma de dividendos em dinheiro, e em qual porcentagem, ou se deve retê-los, visando ao reinvestimento em sua própria atividade, de modo a atender ao interesse deles. As decisões de dividendos constituem um aspecto particular das decisões de financiamento empresarial. 6 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Política de dividendos ótima Uma política de dividendos é considerada ótima quando concilia da melhor forma possível o volume a ser retido pela empresa e aquele a ser distribuído em dinheiro a seus acionistas. Razões para reterem lucros Aproveitamento de oportunidades de investimentos lucrativos. Limitações financeiras – baixa liquidez devido a um alto grau de imobilização. Baixa capacidade e flexibilidade para captar recursos no mercado. Razões para distribuir dividendos Redução de incertezas do mercado e, por consequência, a voltatilidade da ação. Tornar as ações mais atrativas de forma a facilitar captações futuras. Sinalizar boas perspectivas para a empresa. Lembre-se que a meta fundamental é a maximização da riqueza dos acionistas. A decisão de reter lucros deve ser tomada somente quando as oportunidades de investimento nos negócios da empresa forem economicamente mais atraentes do que aquelas disponíveis aos acionistas no mercado. Caso contrário, os resultados são considerados ociosos e devem ser pagos aos acionistas para que estes cuidem de direcionar sua utilização. Na prática, as companhias mais jovens e as indústrias nascentes são as que tendem a reter mais lucros, seja por necessitarem financiar investimentos ou pela baixa capacidade de captar financiamentos. Já as empresas mais maduras, tendem a distribuir mais dividendos, já que, se por um lado, apresentam geração de caixa mais elevada, por outro, a quantidade de projetos atrativos costuma ser menor. 4 Capital de terceiros O capital de terceiros pode ser gerado, espontaneamente, no curso normal das atividades operacionais e pode ser obtido mediante contratação de empréstimos e financiamentos, subscrição de debêntures e outras modalidades. 7 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 4.1 Exigibilidades As exigibilidades da empresa para com seus empregados e diretores, órgãos governamentais, credores diversos e acionistas são fontes internas de capital de terceiros: Salários e encargos incidentes sobre a folha de pagamento, inclusive as contribuições previdenciárias e sindicais dos empregados retidas para posterior recolhimento; Impostos e contribuições sobre o faturamento; Imposto de renda a pagar sobre o lucro do exercício e imposto de renda retido na fonte sobre salários; Contas a pagar e provisões para despesas incorridas e ainda não pagas relativas a férias, salário, indenizações contratuais, contingências fiscais e trabalhistas, etc; Dividendos a pagar. Muitos desses passivos não onerosos são de curtíssimo prazo, mas sua constante renovação permite que a empresa disponha de uma soma de recursos que faz parte de seu capital de giro. 4.2 Empréstimos e financiamentos Os empréstimos e financiamentos referem-se a operações de captação de recursos realizadas diretamente pela empresa em instituições financeiras. Exemplos: Notas promissórias e duplicatas a receber; Linha de crédito de curto prazo ou crédito rotativo; Fomento comercial – factoring. Nesse segmento, destaca-se o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como principal executor da política oficial de fomento a atividades consideradas de interesse econômico, os bancos Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil. Já os repasses de recursos externos são poupanças captadas no exterior por instituições financeiras nacionais. 4.3 Debêntures As debêntures são títulos privados de crédito emitidos por companhias de capital aberto e colocados no mercado à disposição dos investidores. São títulos que, geralmente, 8 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados concedem juros – fixos ou variáveis, pagos periodicamente – e atualizações monetárias – a ser amortizada juntamente com o valor do título, por ocasião do vencimento. A captação pela subscrição de debêntures segue, geralmente, a mesma sistemática de lançamento discutida para as ações. Sua finalidade é levantar recursos de médio e longo prazo para financiar as necessidades de capital de giro e de capital fixo da empresa emissora. As debêntures podem ser: Simples – resgatadas em dinheiro; Conversíveis em ações – o possuidor, por ocasião do resgate, pode converter o montante acumulado em ações da empresa. 5 Estrutura de capital O custo de capital total – também chamado de custo médio ponderado de capital – é determinado pela média ponderada dos custos do capital de terceiros e do capital próprio. O capital de terceiros é formado por diversas dívidas onerosas contraídas pela empresa em um custo explícito determinado, principalmente pela cobrança de encargos financeiros, acrescido da exigibilidade de recebimento do principal. Ao realizar um financiamento, a empresa se depara com um benefício fiscal, já que ela pode abater os juros quanto a apuração de seu IR a pagar. O capital próprio é o recurso dos acionistas e introduz um custo de oportunidade para a empresa. A expectativa de remuneração dos acionistas é a taxa de retorno mínima que a empresa deve exigir em suas decisões de investimentos. O capital próprio é considerado uma aplicação de elevado risco, pois os acionistas têm direito somente ao resultado residual. Um eventual insucesso nos negócios repercute diretamente sobre sua remuneração. Como o custo do capital de terceiros é inferior ao custo do capital próprio, podemos entender que empresa deve favorecer a participação de dívidas em sua estrutura de capital, isto é, buscar maior alavancagem. Entretanto, existe o efeito contrário, já que mais endividamento introduz maior risco financeiro, levando os acionistas – e os novos credores – a elevarem suas expectativas de retorno como forma de compensar a incerteza. 9 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados 5.1 Dilema Qual das estruturas de capital mais favorece os acionistas? Existe um nível ótimo de endividamento em que o custo de capital total da empresa seria mínimo. Alguns autores defendem que, em face da existência do IR seria de se esperar que as empresas procurassem o máximo endividamento, em vista do menor custo do capital de terceiros. 6 Custo médio ponderado de capital (WACC) No financiamento de suas atividades, a maioria das empresas emprega uma combinação de capital próprio e capital de terceiros. Esses dois tipos de capitais têm em comum uma característica – os investidores que provêm os fundos esperam receber um retorno sobre seus investimentos. O custo do capital de terceiros para a empresa é o retorno esperado pelos investidores que concedemempréstimos a ela e que aplicam em títulos emitidos pela empresa. O custo do capital próprio para empresa é o retorno esperado pelos investidores que aplicam em ações da empresa. A taxa de custo de capital total é utilizada como a taxa mínima de atratividade nas decisões de investimentos para calcular o valor presente líquido – VPL – ou comparar com a taxa interna de retorno – TIR – do projeto. Taxa de desconto = taxa de custo de capital = custo de oportunidade do capital O modelo denominado de WACC consiste no custo médio ponderado de capital ou custo de capital total, que queremos determinar: WACC = Kd (1 - IR) D + Ke E D + E O raciocínio desenvolvido pode ser repetido usando símbolos. Devido ao amplo uso, na área de finanças de siglas em inglês, aqui são mantidas as seguintes notações: D – originário de debt – para significar capital de terceiros; E – de equity – para capital próprio; WACC – weighted average cost of capital – para custo médio ponderado de capital. 10 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Dessa forma: Kd = taxa de retorno esperada sobre as dívidas, ou seja, 10%; D = montante das dívidas onerosas, ou seja, R$ 1.000,00; Ke = taxa de retorno esperada sobre o capital próprio, ou seja, 20%; E = montante de capital próprio, ou seja, R$ 2.000,00; IR = alíquota de imposto de renda, ou seja, 34%; WACC = custo médio ponderado de capital ou custo de capital total, que queremos determinar. Exemplo: Fonte Custo Participação Empréstimos de longo prazo 34% 40% Ações preferenciais 25% 10% Ações ordinárias 15% 50% O administrador financeiro da empresa determinou os vários custos de capital de acordo com suas fontes e custos relativos abaixo. Em vista do custo de capital, e supondo-se inalterado o nível de risco, a empresa deve aceitar todos os projetos que obtenham um retorno maior ou igual a qual valor? Considere o imposto de renda igual a 20%. Fonte Custo Participação Empréstimos de longo prazo 34% 40% Ações preferenciais 25% 10% Ações ordinárias 15% 50% Como estamos trabalhando com percentuais, não precisamos dividir pelo capital total: WACC = 0,34 (1-0,2) x 0,40 + 0,25 X 0,10 + 0,15 X 0,5 = WACC = 0,1088 + 0,10 = WACC = 0,2088 Vamos multiplicar por 100 e encontrar o valor em percentuais: 0,2088 X 100 = 20,88% 11 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Considerações finais Nesse capítulo aprendemos como é a estrutura de capital de uma empresa, quais as principais fontes de financiamento e seus custos. Também abordamos as decisões sobre a distribuição de dividendos aos acionistas em relação à retenção de lucro. Após a leitura desse capítulo você deve ser capaz de: Entender a estrutura de capital de uma empresa; Quais as fontes mais onerosas; Calcular o custo médio ponderado de capital. Referências GITMAN, L.J.; MADURA, J.. Administração financeira: uma abordagem gerencial. São Paulo: Pearson, 2005. PADOVEZE, C.L. Introdução à administração financeira. São Paulo: Cengage Learning, 2010. Objetivos Específicos Temas • Compreender e interpretar as demonstrações financeiras e entender o que elas representam para a tomada de decisões Clodoir Vieira Administração Financeira Aula 14 Professor Leitura e interpretação das demonstrações financeras. Análises das demonstrações contábeis Introdução 1. Fluxo de caixa: a essência da vida da empresa Considerações finais Referências Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Administração Financeira 2 Introdução No capítulo anterior discutimos as principais responsabilidades do administrador financeiro e falamos sobre as demonstrações financeiras. Agora, abordaremos como devemos entender e interpretar os demonstrativos financeiros. Vamos falar sobre os principais indicadores utilizados pelos administradores financeiros para a tomada de decisão de investimento ou de financiamento, assim como para planejar e traçar quais são os objetivos da empresa no médio e longo prazos. Tais indicadores também são utilizados pelos analistas de investimento para recomendações de investimentos, pois buscam responder uma simples pergunta: Esta empresa está em uma boa situação econômico-financeira? Para entender a situação da empresa, precisamos saber analisar as informações que constam de seu balanço e DRE. Lembramos que tais informações dizem respeito ao passado da empresa e, portanto, não são garantia de desempenho futuro. Assim, traçar uma recomendação não é uma tarefa nada trivial. Precisamos também pesquisar o setor em que a empresa está inserida e as perspectivas macroeconômicas que influenciarão tal segmento. Assim, a análise das demonstrações de uma empresa é o primeiro passo, mas não diz tudo sobre sua realidade. Simplesmente olhar um lucro, receita ou endividamento separadamente não diz muito. É preciso desmembrar os números e tornar as demonstrações financeiras uma espécie de mapa para o usuário. Cabe ao gestor financeiro ter sensibilidade para avaliar os indicadores financeiros e contextualizá-los de forma a tomar ou recomendar a melhor decisão a ser tomada. 1. Fluxo de caixa: a essência da vida da empresa A importância dessa demonstração No capítulo anterior falamos exaustivamente sobre a importância do caixa no dia a dia da empresa. Comentamos como um caixa pode levar os negócios à bancarrota ou alavancá- los para o crescimento. As empresas gastam e recebem caixa diariamente. Cada vez que há a necessidade de comprar matéria-prima para a produção ou fazer um investimento em aumento de maquinário, por exemplo, uma parte do caixa é desembolsada. Por esse simples exemplo, podemos compreender que um aumento do ativo significa redução de caixa. Para fazer frente a esses gastos, a empresa precisa lucrar com sua atividade e, assim, obter recursos. Mas, muitas vezes, os lucros não são suficientes para que os investimentos necessários sejam feitos. Nesse caso, a empresa lança mão de recursos de terceiros, ou seja, empréstimos. Os recursos obtidos no mercado financeiro ficam evidenciados do lado direito do balanço patrimonial, chamado de passivo. Portanto, podemos perceber que um aumento do passivo significa um aumento de caixa. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Administração Financeira 3 Muitos estudantes discordam dessa frase e perguntam: a empresa não está se endividando, como há um aumento de caixa? Para que essa perspectiva torne-se mais clara para você, lembre-se do seguinte exemplo: você está sem um real no bolso e vai ao banco sacar dinheiro. Chegando lá, vê que não há recursos disponíveis, somente o cheque especial. Assim, para não ficar sem dinheiro, resolve sacar do cheque especial, ou seja, tomar emprestado do banco. Sim, sua dívida para com a instituição aumentou, mas agora você tem dinheiro no bolso, ou melhor, tem caixa. Como montar a demonstração do fluxo de caixa Tendo em mente as informações expressas no Capítulo 1, em que demonstramos que a variação do caixa de uma empresa depende de três fluxos de caixa: investimento, financiamento e operacional, vamos montar a demonstração do fluxo de caixa a partir do balanço patrimonial e da demonstração de resultados de uma empresa. Utilizaremos como exemplo o balanço patrimonial da fabricante de batom Boca S.A. O balanço da Boca S.A. a seguir mostra o comportamento das principais contas da empresa. No ativo circulante temos os valores de 2011 e 2012 das contas caixa, aplicação, duplicatas a receber (também conhecida como conta clientes) e estoques. O ativo realizável a longo prazo envolve as propriedades da empresa, máquinas, prédios e terrenos, além dos móveis e utensílios da empresa. No passivo circulante estão descritas as contas duplicatas a pagar, títulos a pagar e outras contas a pagar. O passivo não circulante destaca as dívidas de longoprazo da empresa. Por último temos o patrimônio líquido, ou seja, o capital da empresa. Ativos 2012 2011 ATIVO CIRCULANTE R$ mil - Caixa 500 600 - Aplicação 600 200 - Duplicatas a receber 400 500 - Estoques 600 900 Total Ativo Circulante 2.100 2.200 ATIVO REALIZÁVEL A LONGO PRAZO - Terrenos e edifícios 1.300 1.200 - Máquinas e Equipamentos 800 820 - Móveis e utensílios 400 200 - Outros 100 80 - Depreciação acumulada -1.300 -1.200 Total realizável a longo prazo 1.300 1.100 TOTAL ATIVO 3.400 3.300 Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Administração Financeira 4 Passivo 2012 2011 PASSIVO CIRCULANTE R$ mil - Duplicatas a pagar 800 500 - Títulos a pagar 600 700 - Outras contas a pagar 100 200 Total Passivo Circulante 1.500 1.400 PASSIVO NÃO-CIRCULANTE 700 800 Total Passivo 2.200 2.200 PATRIMÔNIO LIQUIDO - Ações ordinárias 100 100 - Ações ordinárias 120 120 - Ágio nas vendas das ações ordinárias 380 380 - Lucros acumulados 600 500 Total Patrimônio Líquido 1.200 1.100 TOTAL PASSIVO 3.400 3.300 Fonte: autoria própria Diante da comparação entre os Ativos e os Passivos, percebemos que houve um aumento da conta caixa + aplicações: em 2011, a soma representava R$ 800 mil e, em 2012, passou para R$ 1,1 milhão. O que gerou esse crescimento? - Apesar do aumento de caixa, o ativo circulante recuou em R$ 100 mil entre 2011 e 2012. O motivo? Podemos perceber a retração nas duplicatas a receber e nos estoques. - No período analisado, também é possível enxergar que a empresa aumentou os investimentos no seu negócio: houve um incremento no ativo realizável em longo prazo! - Parte desse aumento de investimentos foi financiada pelo capital próprio da empresa Vemos que o passivo não mudou. - Já o aumento do patrimônio líquido foi provocado por uma maior lucratividade: a conta lucros acumulados cresceu R$ 100 mil. Logo, a demonstração de resultados da Boca SA referente ao ano de 2012 pode ser organizada da seguinte forma: Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Administração Financeira 5 Demonstração de Resultado - DRE R$ mil Receita de vendas 1.800 ( - ) Custo dos Produtos Vendidos -1.100 ( = ) Lucro bruto 700 ( - ) Desp. Operacionais -60 Desp. Comerciais -120 Desp. Gerais e administrativas -70 ( = ) Lucro antes dos Juros e IR (LAJIRDA = ABITDA) 450 Desp. De depreciação -100 ( = ) Lucro Operacional (LAJIR - EBIT) 350 ( - ) Desp. Financeiras -50 ( = ) Lucro Líquido Antes do IR (LAIR) 300 ( - ) IR -120 ( = ) Lucro Líquido 180 ( - ) Dividendos as ações preferenciais -10 ( = ) Lucro Líquido disponível aos Ac. Ordinários 170 Fonte: autoria própria Conforme falamos anteriormente, a empresa registrou lucro líquido no exercício, que foi, em parte, destinado à conta denominada lucros acumulados. Para entender melhor esse processo, precisaremos considerar outra demonstração: lucros e prejuízos acumulados. Demonstração de Lucros e Prejuízos Acumulados Data base: 31 de Dezembro de 2012 R$ mil Saldo do lucro Acumulado (31/12/2011) 500 (+ ) Lucro após IR - 2012 180 ( - ) Dividendos pagos - Ações preferenciais -10 Ações ordinarias -70 Total -80 Saldo do lucro Acumulado (31/12/2012) 600 Fonte: autoria própria Perceba que a empresa lucrou durante o ano R$ 180 mil, mas não armazenou completamente esse ganho. Ao contrário, parte foi distribuída como dividendos aos seus acionistas, ou seja, foi dada como remuneração para aqueles que investiram no negócio. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Administração Financeira 6 Podemos interpretar essa distribuição como o custo do capital próprio da empresa. Assim como o banco exige uma taxa de juros para emprestar os recursos aos empresários, os próprios sócios da empresa (acionistas) requerem uma remuneração para investir seu capital no negócio. Entretanto, a empresa não pode e não deve distribuir todo o lucro para seus donos, pois precisa reinvestir parte dele na própria atividade. Com base nessas três demonstrações, iremos montar a demonstração do fluxo de caixa e, dessa forma, perceber como a empresa conseguiu aumentar seu caixa de 2011 e 2012. O primeiro passo para montar essa demonstração é calcular a variação de caixa. Para isso, lembre-se: caixa é todo recurso que a empresa tem disponível no banco e suas aplicações de curto prazo! Voltemos ao Ativo Circulante... Ativo 2012 2011 ATIVO CIRCULANTE R$ mil - Caixa 500 600 - Aplicação 600 200 - Total 1100 800 Houve um aumento de R$ 300 mil no caixa de 2012 em relação ao caixa de 2011. Essa elevação foi provocada pela movimentação de três tipos de atividades: operacionais, investimentos e financiamentos. Portanto, para saber qual delas consumiu ou gerou caixa, precisamos avaliar de perto o balanço. O próximo passo será a avaliação das atividades operacionais, ou seja, iremos montar o fluxo de caixa operacional. Para isso, precisamos olhar de perto uma conta: o lucro. Quando o contador calcula o lucro de uma empresa, ele precisa descontar um tipo de despesa chamada de depreciação. Essa conta refere-se às despesas relacionadas ao desgaste do ativo realizável a longo prazo (máquinas, veículos, móveis, imóveis e instalações) da empresa. Apesar de as máquinas e os equipamentos perderem valor ao longo dos anos, isso não significa que o administrador precisa pagar por esse desgaste. Ora, seu carro vale menos a cada ano, mas você só irá sentir isso no momento da venda. Com esse pensamento em mente, fica fácil perceber que a despesa com depreciação reduz o lucro da empresa, mas não representa saída de caixa. Assim, precisamos somar a despesa com depreciação ao lucro para acharmos quanto entrou efetivamente no caixa da empresa! Vejamos: Lucro Líquido R$ 180 ( + ) Encargos não esembolsáveis R$ 100 ( = ) Fluxo de caixa Operacional R$ 280 Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Administração Financeira 7 A empresa pode ter um prejuízo líquido, ou seja, um lucro líquido após o imposto negativo mas ainda assim ter um fluxo de caixa de operações positivo, quando não há desembolso dos encargos (exemplo, a depreciação) durante o período em que são maiores do que o prejuízo líquido. Essa é a primeira conta do fluxo de caixa operacional. Existem outras atividades operacionais que vão provocar entradas e saídas de caixa, como o salário a ser pago para os funcionários, as compras de matérias-primas, os estoques e o pagamento dos fornecedores. Dessa forma, precisamos olhar as contas do ativo circulante e do passivo circulante e verificar o que a empresa pagou, deixou de pagar ou pegou emprestado no curto prazo para honrar seus compromissos. Ativos 2012 2011 Passivo 2012 2011 ATIVO CIRCULANTE R$ mil PASSIVO CIRCULANTE R$ mil - Caixa 500 600 - Duplicatas a pagar 800 500 - Aplicação 600 200 - Títulos a pagar 600 700 - Duplicatas a receber 400 500 - Outras contas a pagar 100 200 - Estoques 600 900 Total Ativo Circulante 2.100 2.200 Total Passivo Circulante 1.500 1.400 Destacamos apenas as contas de curto prazo do balanço da Boca S.A. que mostram o comportamento do ativo circulante de 2011 e 2012: contas caixa, aplicação, duplicatas a receber –também conhecida como conta clientes – e estoques. No passivo circulante estão descritas as contas duplicatas a pagar, títulos a pagar e outras contas a pagar. Já sabemos que caixa e aplicação não são contas do fluxo de caixa operacional. Assim, vamos ignorá-las. Portanto, iremos começar a avaliar as contas restantes do ativo circulante. Lá encontramos as duplicatas a receber e os estoques. As duplicatas a receber representam as dívidas dos clientes para com a empresa. Se há um aumento nas duplicatas, significa que os clientes estão devendo mais para a empresa. Se há uma redução, os clientes pagaram suas dívidas. No caso da Boca S.A., os clientes deviam R$ 500 mil em 2011 e R$ 400 mil em 2012, ou seja, houve o pagamento de R$ 100 mil a mais entre os dois períodos. A empresa registrou,assim, um incremento de R$ 100 mil no seu caixa. Vamos passar para a segunda conta, estoques. Em 2011, a Boca S.A. tinha um estoque avaliado em R$ 900 mil e, em 2012, o valor era de R$ 600 mil. Ora, tomando por base o mesmo raciocínio anterior, percebemos que a empresa vendeu mais no ano de 2012. Assim, ocorreu uma entrada de caixa no valor de R$ 300 mil a mais no ano de 2012, quando comparado a 2011. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Administração Financeira 8 Agora, iremos avaliar o passivo circulante. A conta duplicatas a pagar refere-se às dívidas da empresa com relação a seus fornecedores. Em 2011, esse endividamento era de R$ 500 mil. No ano seguinte, a conta subiu para R$ 800 mil. Isso significa que a empresa deixou de pagar R$ 300 mil, ou seja, ela está se financiando através de seus fornecedores e, dessa forma, obtendo mais recursos para o caixa. A conta títulos a pagar refere-se à dívida bancária e faz parte do fluxo de caixa de financiamento. A última verificação refere-se às outras contas a pagar, as quais recuaram no valor de R$ 100 mil. Isso representa R$ 100 mil a menos no caixa, pois a empresa pagou o valor no período avaliado. Após avaliarmos todas essas contas, podemos montar o fluxo de caixa operacional, conforme segue: Fluxo de caixa de atividades operacionais R$ mil - Lucro Líquido 180 - Depreciação 100 - Diminuição nas duplicatas a receber 100 - Diminuição nos estoques 300 - Aumento nas duplicatas a pagar 300 - Diminuição em outras contas a pagar -100 Total Fluxo do Caixa Operacional 880 Após avaliarmos o fluxo de caixa operacional (FCO), vamos passar a verificar o fluxo de caixa das atividades de investimentos, ou seja, quanto a empresa alocou de recursos na própria atividade. Essa avaliação é bem simples e está relacionada à variação do ativo realizável em longo prazo bruto. Não iremos considerar a depreciação! ATIVO REALIZÁVEL EM LONGO PRAZO 2012 2011 - Terrenos e edifícios 1.300 1.200 - Máquinas e Equipamentos 800 820 - Móveis e utensílios 400 200 - Outros 100 80 - Depreciação acumulada -1.300 -1.200 Total realizável a longo prazo 1.300 1.100 Some todas as contas do ativo de 2012 e de 2011: • em 2011 o ativo realizável em longo prazo era de R$ 2,3 milhões; • em 2012 o ativo realizável em longo prazo era de R$ 2,6 milhões. Podemos perceber que, entre 2011 e 2012, a empresa investiu R$ 300 mil em máquinas, Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Administração Financeira 9 equipamentos e outros ativos. A Boca S.A. retirou R$ 300 mil do seu caixa para adquirir esses ativos. Assim, o fluxo de caixa de investimento é negativo, dado da seguinte forma: Fluxo de caixa de atividades de investimento R$ mil - Aumento em ativos realizáveis a longo prazo brutos - 300 Total Fluxo do Caixa de Investimento - FCI - 300 Por último, analisaremos as contas das atividades de financiamento. As contas referentes a essas atividades encontram-se no passivo da empresa e no custo do capital próprio. Veremos o quanto ela pagou de financiamentos, remuneração dos seus acionistas ou dos empréstimos de terceiros e também o valor dos empréstimos obtidos. Lembre-se de que a empresa pagou dividendos. Esse pagamento representa saída de caixa! Passivo 2012 2011 PASSIVO CIRCULANTE R$ mil - Duplicatas a pagar 800 500 - Títulos a pagar 600 700 - Outras contas a pagar 100 200 Total passivo Circulante 1.500 1.400 PASSIVO NÃO CIRCULANTE 700 800 Total passivo 2.200 2.200 No passivo circulante estão descritas as contas duplicatas a pagar, títulos a pagar e outras contas a pagar. O passivo não circulante destaca as dívidas de longo prazo da empresa. A primeira conta é a conta títulos a pagar, que se refere aos financiamentos bancários de curto prazo. A Boca S.A. devia R$ 700 mil em 2011 e R$ 600 mil em 2012. A redução permite concluir que a empresa pagou R$ 100 mil de um ano para o outro, ou seja, retirou R$ 100 mil do caixa. Vemos que o mesmo ocorreu com o financiamento de longo prazo (passivo não circulante): a empresa reduziu o valor emprestado em exatamente R$ 100 mil. Esse valor saiu do caixa. Agora vamos ver quanto a empresa pagou de dividendos através da Demonstração de Lucros e Prejuízos Acumulados. Saldo do lucro Acumulado (31/12/2011) R$ mil 500 ( + ) Lucro após IR - 2012 180 ( - ) Dividendos pagos Ações preferenciais -10 Ações ordinarias -70 Total -80 Saldo do lucro Acumulado (31/12/2012) 600 Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Administração Financeira 10 Conforme demonstrado na tabela, o valor pago somou R$ 80 mil. Para remunerar seus acionistas, a empresa retirou do caixa esse valor, que entrará negativo no fluxo de caixa das atividades de financiamento. Fluxo de caixa de atividades financeiras R$ mil - Diminuição em títulos a pagar -100 - Redução em exigível em longo prazo -100 - Dividendos pagos -80 Total do Fluxo de Caixa Financeiro - FCF -280 Agora podemos ver quais foram os principais usos e obtenções de recursos da empresa, ou seja, as origens e aplicações de caixa, e montar a demonstração do fluxo de caixa da Boca S.A. Essa demonstração nos ajudará a verificar quais atividades contribuíram para o aumento de R$ 200 mil no caixa e quais as que consumiram recursos, de forma que o incremento do caixa não fosse ainda maior. Fluxo de caixa de atividades operacionais R$ mil - Lucro Líquido 180 - Depreciação 100 - Diminuição nas duplicatas a receber 100 - Diminuição nos estoques 300 - Aumento nas duplicatas a pagar 300 - Diminuição em outras contas a pagar -100 Total FCO - Fluxo de Caixa Operacional 880 Fluxo de caixa de atividades de investimento - Aumento em ativos realizáveis a longo prazo brutos -300 Total FCI - Fluxo de Caixa de Investimento -300 Fluxo de caixa de atividades financeiras - Diminuição em títulos a pagar -100 - Redução em exigível a longo prazo -100 - Dividendos pagos -80 Total do FCF - Fluxo de Caixa Financeiro -280 Assim FCO + FCI + FCF = 880 + (-300) + (-280) = 300 Vemos, dessa forma, que a soma dos fluxos de caixa montados será igual à variação do caixa da empresa. Isso ocorrerá em todas as empresas, de todos os tamanhos. Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Administração Financeira 11 Considerações finais A empresa gerou uma grande quantidade de caixa operacional, R$ 880 mil, e investiu parte desses recursos em ampliar o seu ativo realizável a longo prazo. A empresa também conseguiu reduzir os financiamentos utilizando recursos gerados pelas sua atividade operacional. Olhando por essa ótica fica claro que a empresa está em excelente situação em termos de geração de caixa e que as decisões tomadas anteriormente mostraram-se acertadas. Para obtermos uma análise mais apurada da situação da empresa, passaremos no próximo capítulo a outro tipo de avaliação, através de índices. • Após a leitura deste capítulo você deve ser capaz de: • elaborar a demonstração do fluxo de caixa operacional; • elaborar a demonstração do fluxo de caixa de investimento; • elaborar a demonstração do fluxo de caixa de financiamento; • avaliar quais as atividades que foram origem de caixa e quais foram as atividades que aplicaram/consumiram caixa; • analisar a situação econômico-financeira da empresa. Referências GITMAN, Lawrence J.; MADURA, Jeff. Administração financeira: uma abordagem gerencial. São Paulo: Pearson, 2005. ROSS, Stephen A. Administração Financeira. São Paulo: McGraw-Hill, 2008. Objetivos Específicos Temas • Saber como avaliar qual a situação econômico-financeira de uma empresa Clodoir Vieira Administração Financeira Aula 15 Professor Análise de balanço e índices de avaliação: estrutura de capital, liquidez, rentabilidade e conclusões Introdução 1 Índices de liquidez 2 Índices de rentabilidade 3 Índices de endividamento Considerações finais Referências 2 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução Índices são indicadoresretirados do balanço que servem de guia sobre a situação econômico-financeira da empresa que compõem a análise. Após avaliarmos a geração de caixa e a situação da companhia, podemos aprofundar ainda mais a análise através do uso dos índices que nos permitirão comparar a situação da empresa com as demais do seu setor. “A análise através de índices é usada para comparar o desempenho e a situação de uma empresa com outras empresas ou consigo mesma ao longo do tempo” (GITMAN, 2005, p. 102). Neste capítulo vamos estudar três classes de índices: rentabilidade, liquidez e endividamento. Utilizaremos os dados do balanço da Boca S.A., demonstrados no capítulo anterior para exemplificar o cálculo e fazer as análises. A avaliação através de índices não é complexa e agrega uma série de informações importantes para o administrador financeiro, tais como: grau de liquidez da empresa, endividamento, evolução de suas contas etc. Essas informações são de extrema importância para aqueles que interagem com a empresa: Fornecedores: precisam saber a capacidade de pagamento da empresa; Bancos e sociedades financeiras: necessitam saber a solvência da empresa na hora de conceder um empréstimo; Investidores e acionistas: devem entender o negócio e sua rentabilidade para tomar a decisão de investimento; Concorrentes: saber a situação das empresas concorrentes é fundamental para a tomada de decisão. Conforme vimos, entender a situação da empresa, o que é possível somente ao analisar o seu balanço, é essencial para diversos públicos, além do próprio gestor da companhia. 1 Índices de liquidez Os índices de liquidez não mostram a capacidade de solvência, ou seja, de pagamento da empresa, mas sim a solidez da empresa. São extraídos das contas do balanço patrimonial e destacam o quanto a empresa tem de recursos, seja no curto ou no longo prazo, para fazer frente a suas obrigações. Isso não significa, entretanto, que a empresa terá dinheiro disponível para honrar o seu compromisso na data acertada. Mas bons índices aumentam a probabilidade de que não ocorram atrasos. 3 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Apesar disso, quanto melhor o índice de liquidez, maior a confiança dos fornecedores e financiadores, portanto, mais facilmente a empresa conseguirá captar recursos de terceiros ou atrair sócios. Para entender o papel dos índices de liquidez na tomada de decisão de uma empresa, precisamos ter em mente algumas premissas: os índices mostram a situação financeira da empresa; não são índices de capacidade de pagamento; os índices são retirados do balanço patrimonial e confrontam ativo com passivo e passivo; a empresa com bons índices de liquidez tem boa capacidade de pagar suas dívidas, mas pode não conseguir em função de outras variáveis (caixa). Liquidez Geral: LG Esse índice demonstra quanto a empresa tem de ativo diante do endividamento com terceiros (passivo). Quanto maior o número obtido melhor, e é dado pela seguinte fórmula: Ativo circulante + realizável a longo prazo Passivo circulante + exigível a longo prazo Como podemos deduzir pela fórmula, o índice de liquidez geral destaca quanto a empresa possui de ativo para cada $ 1,00 de dívida com terceiros. Assim, se o indicador for maior que 1, há uma folga financeira, ou seja, a empresa tem ativos suficientes para honrar seus compromissos e ainda “fica com troco”. Por outro lado, se o índice ficar abaixo de 1, a empresa não tem recursos para pagar todas as suas dívidas e está com patrimônio líquido negativo. Este é o pior dos mundos para uma empresa. Vejamos o caso da Boca S.A.: 2011 em R$ mil Ativo circulante: 2.200 Ativo realizável a longo prazo: 1.100 Passivo circulante: 1.400 Passivo não circulante: 800 4 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Assim: LG = 2.200 + 1.100 3.300 1.400 + 800 2.200 LG = 1,5 Em 2011, para cada R$ 1,00 de dívida, a BOCA S.A. detinha R$ 1,50 de ativos. Isso mostra que há uma folga financeira de 50%. Essa situação é extremamente positiva para a empresa. Note que o ativo circulante é que garante a folga, pois é muito maior do que o endividamento de curto prazo (passivo circulante). Vamos agora comparar com o ano seguinte: 2012 em R$ mil Ativo circulante: 2.100 Ativo realizável a longo prazo: 1.300 Passivo circulante: 1.500 Passivo não circulante: 700 LG = 2.100 + 1.300 3.400 1.500 + 700 2.200 LG = 1,55 Em 2012, para cada R$ 1,00 de dívida, a Boca S.A. detinha R$ 1,55 de ativos. A folga financeira aumentou de 50% para 55%. A situação da empresa que já era extremamente positiva ficou ainda melhor. Note que o ativo circulante reduziu e a empresa aumentou a imobilização. Liquidez Corrente: LC Esse índice demonstra quanto a empresa tem de ativo circulante, ou seja, recebimentos de curto prazo, em relação ao passivo circulante, quer dizer dívidas de curto prazo. Quanto maior o número obtido melhor e é dado pela seguinte fórmula: Ativo circulante Passivo circulante 5 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Como podemos deduzir pela fórmula, o índice de liquidez corrente destaca quanto a empresa possui de ativo circulante para cada $ 1,00 de financiamento de curto prazo. Assim, se o indicador for maior que 1, há uma folga financeira, ou seja, a empresa tem ativos disponíveis o suficiente para honrar seus compromissos e ainda “fica com troco”. Por outro lado, se o índice ficar abaixo de 1, a empresa não tem recursos para pagar as suas dívidas de curto prazo. Parte do ativo realizável a longo prazo é financiada pelo passivo circulante. Vejamos o caso da Boca S.A.: 2011 em R$ mil Ativo circulante: 2.200 Passivo circulante: 1.400 Assim: LC = 2.200 1.400 LC = 1,57 Mais uma vez, a nossa empresa mostra que fabricar batons é um bom negócio. Em 2011, para cada R$ 1,00 de dívida de curto prazo, a Boca S.A. detinha R$ 1,50 de ativos de curto prazo. Há uma folga financeira de 57% na comparação entre os recursos disponíveis no exercício de 2011 e o endividamento. Vamos agora comparar com o ano seguinte: 2012 em R$ mil Ativo circulante: 2.100 Passivo circulante: 1.500 LC = 2.100 1.500 LC = 1,4 Em 2012, para cada R$ 1,00 de dívida de curto prazo, a Boca S.A. detinha R$ 1,4 de ativos. A folga financeira recuou de 57% para 40%, mas ainda é favorável. Houve um aumento dos investimentos, verificados pelo incremento do ativo realizável a longo prazo e um “encurtamento da dívida”. De qualquer forma a empresa trabalha com folga financeira. 6 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Liquidez Seca Esse índice demonstra quanto a empresa tem de ativo circulante que realmente pode ser convertido em dinheiro, ou seja, recebimentos de curto prazo, em relação às dívidas de curto prazo. A diferença da liquidez seca para a liquidez corrente é que para o calculo nós retiramos o ativo de maior risco: os estoques. Por quê? Queremos saber se a empresa consegue pagar seus compromissos sem vender o total estocado. Lembre-se de que, se a companhia for tentar vender o estoque total, não obterá o preço evidenciado no balanço, pois para conseguir vender precisará fazer promoções. Além disso, o estoque pode facilmente ficar obsoleto ou perder a validade. Quanto maior o número obtido melhor, e é dado pela seguinte fórmula: Ativo circulante – estoques Passivo circulante Como podemos deduzir pela fórmula, o índice de liquidez corrente destaca quanto a empresa possui de ativo circulante de fácil conversão em dinheiro para cada $ 1,00 de financiamento de curto prazo. Assim, se o indicador for maior que 1, há uma folga financeira, ou seja,a empresa tem ativos disponíveis o suficiente para honrar seus compromissos e ainda há uma sobra. Por outro lado, se o índice ficar abaixo de 1, a empresa não tem recursos disponíveis o suficiente para pagar as suas dívidas de curto prazo. Vejamos o caso da Boca S.A.: 2011 em R$ mil Ativo circulante: 2.200 Estoque: 900 Passivo circulante: 1.400 Assim: LS = 2.200 – 900 1.400 LS = 0,93 Vemos que a Boca S.A. tem um índice de liquidez seca abaixo de R$ 1,00. A empresa mostra certa dependência de vender os estoques para honrar todos os compromissos de 7 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados curto prazo. Esta, entretanto, não é uma situação muito preocupante, pois a liquidez seca não está tão abaixo de R$ 1,00 e os outros indicadores de liquidez são ótimos. Pelo valor dos estoques também vemos que não estão “encalhados”. Vamos agora comparar com o ano seguinte: 2012 em R$ mil Ativo circulante: 2.100 Estoques: 600 Passivo circulante: 1.500 Assim: LS = 2.100 – 600 1.500 LS = 1,00 Conforme fica claro, após este cálculo, a Boca S.A. conseguiu vender R$ 300 mil em estoques e equilibrar a liquidez seca em exatamente R$ 1,00. Assim, independente de vender todo o estoque, a empresa consegue pagar toda a dívida de curto prazo. Capital Circulante Líquido O capital circulante líquido (CCL) engloba tudo o que a empresa tem aplicado no curto prazo (AC) confrontado com todos os compromissos a pagar (PC) nesse período. O CCL é a expressão da capacidade de pagamento da empresa. Todo desenvolvimento da mensuração do risco de liquidez de uma atividade empresarial tem a sua base de fundamentação no dimensionamento e análise do CCL. CCL = AC-PC Vejamos o caso da Boca S.A.: 2011 em R$ mil Ativo circulante: 2.200 Passivo circulante: 1.400 8 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Assim: CCL = 2.200 – 1.400 CCL = 800 Sempre que o CCL for positivo, o índice de liquidez corrente é maior que 1. O contrário também é verdadeiro. No caso da Boca S.A., vemos que a sobra de recursos é elevada e o CCL é positivo em 2011. Assim, a empresa, aparentemente, não está encontrando nenhuma dificuldade em liquidar suas contas em dia. O CCL de R$ 800 mil é uma aplicação dos recursos da empresa. Vamos agora comparar com o ano seguinte: 2012 em R$ mil Ativo circulante: 2.100 Passivo circulante: 1.500 Assim: CCL = 2.100 - 1.500 CCL = 600 Apesar da piora do indicador, a situação da Boca S.A. ainda é bastante positiva e os R$ 600 mil demonstram que há sobra de recursos, ou seja, são considerados uma aplicação. Para entender melhor a questão, é necessário transformar a linguagem contábil do CCL em uma forma de expressão mais gerencial e de fácil entendimento, que é a linguagem de caixa. CCL AC PC Saldo de Caixa Entrada Saída = - = - FLUXO DE CAIXA 2 Índices de rentabilidade Os índices de rentabilidade mostram quanto os investimentos feitos no negócio renderam. A ideia é ver como a empresa gera valor a partir do desempenho operacional, ou 9 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados seja, seu êxito para os acionistas. Esses índices podem ser comparáveis aos índices de mercado, de forma que os sócios concluam se fizeram um bom negócio ao investir na empresa ao invés de aplicar seus recursos no mercado financeiro. 2.1 Giro do Ativo: GA Para entendermos o giro do ativo, precisamos ter em mente que a empresa vive para um motivo: vender. Todos os investimentos realizados têm como finalidade fazer com que haja o incremento das vendas e a melhora das margens da empresa. Assim, quanto maior o giro do ativo, melhor para a empresa. O índice é dado pela seguinte fórmula: GA = Vendas Ativo Analisando essa fórmula, podemos perceber que o giro do ativo destaca quanto a empresa vendeu para cada R$ 1,00 de investimento total. Vamos avaliar a situação da Boca S.A. nesse quesito. Lembre-se de que temos a receita somente de 2012: 2012 em R$ mil Vendas (receita líquida): 1.800 Ativo circulante: 2.100 Ativo realizável a longo prazo: 1.300 Assim: GA = 1.800 2.100 + 1.300 GA = 0,53 Para cada R$ 1,00 investido, a Boca S.A. vendeu R$ 0,53. 2.2 Margem Líquida: ML Vamos avaliar através desse indicador o quanto a empresa obtém de lucro em relação ao total de vendas. Lembre-se de que a empresa existe para vender, mas não a qualquer preço: é preciso obter ganhos da sua atividade. 10 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados ML = Lucro líquido Vendas líquidas Esse indicador mostra quanto a empresa lucrou para cada R$ 1,00 vendido. Podemos multiplicar o valor da divisão acima por 100 e obter a margem em percentuais. É possível concluir também que, quanto maior a margem líquida, melhor é o negócio da empresa. 2012 em R$ mil Vendas (receita líquida): 1.800 Lucro líquido: 180 ML = 180 1.800 ML = 0,10 Para cada R$ 1,00 vendido, a Boca S.A. obteve um lucro de R$ 0,10, ou seja, sua margem é de 10%. 2.3 Rentabilidade do patrimônio líquido: RPL Para os sócios, o que realmente importa é quanto a empresa obteve de lucro frente aos investimentos feitos por eles. Por esse motivo, a rentabilidade do PL é de extrema importância. RPL = Lucro líquido PL médio Esse indicador mostra quanto a empresa lucrou para cada R$ 1,00 de capital próprio. Podemos multiplicar o valor da divisão acima por 100 e obter o índice em percentuais. R$ mil Lucro líquido em 2012: 180 PL em 2011: 1.100 PL em 2012: 1.200 PL médio = 1.100 + 1.200 2 11 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados PL médio = 1.150 RPL = 180 1.150 RPL = 0,16 Para cada R$ 1,00 investido na empresa, os sócios obtiveram um ganho de R$ 0,16. A rentabilidade é de 16% ao ano. É possível concluir que, mantendo essa rentabilidade nos próximos anos, os sócios irão recuperar todo o capital investido em 6,25 anos ou seis anos e três meses (1,00/0,16). 3 Índices de endividamento Os índices de endividamento, colocados por alguns autores como índices de estrutura de capitais, mostram as decisões financeiras tomadas pelos gestores em termos de captação de recursos. Eles buscam responder a algumas perguntas como: a empresa prefere financiar seus investimentos com capital próprio ou com recursos de terceiros; os financiamentos obtidos são em sua maioria de curto ou de longo prazo? Veremos dois dos principais índices dessa classe. 3.1 Participação de capitais de terceiros (PCT) Esse índice mostra que tipo de capital financia a empresa. A empresa é dependente de recursos de terceiros (empréstimos e financiamentos) ou conta mais com o capital próprio dos sócios para alavancar os negócios? O PCT mostra o risco do negócio. PCT = Passivo PL Esse indicador mostra quanto a empresa pegou emprestado para cada R$ 1,00 de capital próprio. Podemos multiplicar o valor da divisão acima por 100 e obter o índice em percentuais. Podemos concluir que quanto menor, melhor. 2011 R$ mil passivo: 2.200 PL: 1.100 12 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados PCT = 2.200 1100 PCT = 2,20 2012 R$ mil Por esse número, concluímos que para cada R$ 1,00 de capital próprio a Boca S.A. tomou emprestados R$ 2,20. Isso mostra que a empresa tem uma dependência de empréstimos para manter seus negócios. No entanto, se combinarmos essa conclusão com os índices de liquidez, veremos que a empresa tem plena capacidade de pagamento dos seus financiadores.passivo: 2.200 PL: 1.200 PCT = 2.200 1200 PCT = 1,83 O PCT mostrou uma melhora entre 2011 e 2012. Essa mudança está relacionada ao crescimento do PL da empresa, resultado da lucratividade obtida, que incrementou a conta lucros acumulados. 3.2 Composição do endividamento Esse índice relaciona o endividamento de curto prazo com o endividamento total da empresa. Assim como o índice anterior, quanto menor o resultado, melhor. O problema de ter dívidas de curto prazo é que a empresa terá menos tempo para gerar capital para pagá- las, por isso é importante alongar o perfil do endividamento. CE = Passivo circulante Passivo total - PL 2011 R$ mil passivo: 2.200 passivo circulante: 1.400 13 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados CE = 1400 2.200 CE= 0,64 Mais da metade do endividamento da Boca S.A. é de curto prazo nesse exercício. Essa é uma situação que merece uma observação mais de perto. Vejamos 2012: 2012 R$ mil passivo: 2.200 passivo circulante: 1.500 CE = 1500 2200 CE = 0,68 A composição do endividamento piorou na comparação entre os dois anos. Em vez de optar pelo alongamento da dívida, o gestor liquidou parte dos empréstimos de longo prazo e aumentou o endividamento de curto prazo, tornando pior o perfil da dívida. Há um sinal de alerta aí, mas que é amenizado pela situação de liquidez da companhia. Considerações finais Podemos concluir que a Boca S.A. está em excelente situação e provê rentabilidade a seus acionistas. Diante dos indicadores de liquidez, que mostra a empresa extremamente capaz de honrar seus compromissos de longo e curto prazos. Apesar de os índices de endividamento não se mostrarem favoráveis, é possível concluir que a companhia pode aumentar seu nível de endividamento de longo prazo de forma a alavancar os negócios e ampliar as vendas. O mais sábio a fazer, nesse caso, é aumentar o aporte de capital na empresa, ou seja, elevar o patrimônio líquido. O objetivo de uma operação dessas é elevar os investimentos de forma a ampliar as vendas, atingir outros mercados e, por fim, obter uma maior lucratividade. De qualquer forma, um aporte de capital não é essencial para que a empresa continue produzindo resultados favoráveis. Quanto aos outros públicos interessados em se relacionarem com a empresa, não há fatores de preocupação. Um banco, por exemplo, não negaria linhas de crédito a essa empresa em virtude da elevada liquidez. Fornecedores também não veriam problema em alongar os prazos de pagamento de fornecimento da matéria-prima. 14 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Após a leitura deste capítulo você deve ser capaz de: calcular os índices de liquidez; calcular os índices de rentabilidade; calcular índices de endividamento; analisar a situação financeira da empresa e sugerir decisões aos gestores. Referências GITMAN, Lawrence J.; MADURA, Jeff. Administração financeira: uma abordagem gerencial. São Paulo: Pearson, 2005. ROSS, Stephen A. Administração Financeira. São Paulo: McGraw-Hill, 2008. Objetivos Específicos • Entender a importância da gestão de riscos e saber quais os instrumentos de gestão Temas Introdução 1 Gestão de riscos 2 Ponto de equilíbrio 3 Alavancagem Considerações finais Referências Clodoir Vieira Administração Financeira Aula 16 Professor Princípios da administração de riscos 2 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Introdução Neste capítulo veremos como as decisões das empresas são, muitas vezes, incertas e arriscadas. Portanto, cada passo dado pelos gestores deve se levar em conta uma variável: o risco. Quando fazemos planos, projetamos fluxos de caixa para determinado investimento não temos certeza absoluta de que os valores que tanto estudamos irão se concretizar. Assim, a vida das empresas é tomada por riscos, ou seja, por probabilidades de que as projeções ora traçadas não se concretizem e, desta forma, o projeto estudado não dê o retorno necessário para equilibrar as contas. Para entendermos a gestão de riscos, vamos passar por alguns conceitos de avaliação da vida do projeto ou da empresa, como ponto de equilíbrio e alavancagem. 1 Gestão de riscos Risco O conceito de risco, em diversos autores da área de finanças, está relacionado com a incerteza, ou com a possibilidade de algo “dar errado”. Essa noção fica clara nas obras de alguns autores. Gitman (1994, p. 31): “No sentido mais básico, risco pode ser definido como a possibilidade de perda.” Solomon e Pringle (1981, p.290): “Risco é o grau de incerteza a respeito de um evento”. Jorion (1999, p. 13): “Risco pode ser definido como a volatilidade de resultados inesperados, normalmente relacionados ao valor de ativos ou passivos de interesse”. Quando a empresa toma decisões arriscadas, ou seja, com alta probabilidade de que sua projeção não se concretize, em vez de criar valor aos acionistas, pode-se estar destruindo valor. E é nesse sentido que entra a importância da gestão de riscos. Gestão de riscos Conforme pudemos perceber, este gerenciamento trata de riscos e oportunidades que afetam a criação ou a preservação de valor. Lembre-se que todas as organizações enfrentam incertezas, e o desafio é determinar o nível de incerteza que a organização está preparada para aceitar, na medida em que se empenha em agregar valor para as partes interessadas. 3 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados A gestão de riscos, portanto, é um processo conduzido pelo conselho de administração e diretoria que devem estar alinhados. Tal processo deve ser aplicado por intermédio de estratégias que identificam os riscos potenciais dentro de toda a organização. Os riscos devem ser compatíveis com o perfil da organização e controlados. Assim, a administração estabelece os planos principais, seleciona as estratégias e determina o alinhamento dos objetivos nos níveis da organização. Essa estrutura de gerenciamento de riscos corporativos é orientada a fim de alcançar o objetivo principal de uma empresa: geração de valor aos acionistas. A importância do gerenciamento de riscos ganhou força na metade da década de 1990, nos Estados Unidos, quando os acionistas despertaram para a necessidade de novas regras que os protegessem dos abusos da diretoria executiva das empresas, da inércia de conselhos de administração inoperantes e das omissões das auditorias externas. Desse movimento surge outro importante conceito: a governança corporativa. Conceitualmente, a governança corporativa surgiu para superar o "conflito de agência", decorrente da separação entre a propriedade e a gestão empresarial. Nesta situação, o proprietário (acionista) delega a um agente especializado (executivo) o poder de decisão sobre sua propriedade. No entanto, os interesses do gestor nem sempre estarão alinhados com os do proprietário, resultando em um conflito de agência ou conflito agente-principal. A preocupação da governança corporativa é criar um conjunto eficiente de mecanismos, tanto de incentivos quanto de monitoramento, a fim de assegurar que o comportamento dos executivos esteja sempre alinhado com o interesse dos acionistas. Ao colocar em prática o gerenciamento de riscos corporativos, os gestores da empresa deverão examinar as atividades em todos os níveis da organização, desde as atividades realizadas no âmbito empresarial, como planejamento estratégico e alocação de recursos, às atividades das unidades de negócios, como marketing e recursos humanos e, ainda, analisar os processos do negócio, como produção e análise de crédito de clientes novos. Para entendermos os riscos que as empresas correm, principalmente com relação a novos projetos, precisamos analisar algunsconceitos, como os de alavancagem e ponto de equilíbrio. 2 Ponto de equilíbrio Vamos retomar o conceito do ponto de equilíbrio, abordado no capítulo 11. Veremos como o conceito pode ser aplicado do ponto de vista empresarial para a gestão de risco e aprofundaremos o cálculo dos diferentes pontos de equilibrio nas próximas páginas. 4 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Ponto de equilíbrio em quantidade Determina a quantidade mínima que a empresa deve produzir e vender. Abaixo dessa quantidade de produção e vendas, a empresa estará operando com prejuízo. A fórmula do ponto de equilíbrio em quantidade é apresentada abaixo: Lembre-se que a margem de contribuição unitária é o resultado da diferença entre o preço de venda unitário e o custo variável unitário. Exemplo: A Companhia Boop, que produz canecas, tem um custo fixo de R$ 600.000. Cada caneca é vendida a R$ 10,00. O custo variável por caneca é de R$ 2,00. Quantas canecas a Boop deve produzir e vender para não incorrer em prejuízo? Como pudemos perceber no exemplo acima, para não incorrer em prejuízo, a Boop precisa produzir e vender, no mínimo, 75 mil canecas, uma quantidade muito grande. Apesar de a margem de contribuição dessa empresa ser elevada, R$ 8,00, seu custo fixo é grande demais R$ 600.000. Dessa forma, a empresa está correndo um risco grande. Se não conseguir vender essa grande quantidade de canecas, cairá em prejuízo. Uma das recomendações que o gestor deve dar a essa companhia é reduzir os custos fixos. De repente, seria melhor que a Boop mudasse sua fábrica para um local mais barato ou reduzisse os valores a serem pagos aos funcionários que não estão ligados à produção (mão de obra indireta). Tais considerações aqui podem até parecer óbvias, mas tenha certeza que a maioria dos pequenos empresários não fazem tais avaliações na hora de criar seu negócio. Pela fórmula do ponto de equilíbrio, é possível perceber que, quanto maior o custo fixo de uma empresa, mais riscos ela estará incorrendo ao decidir emplacar seu negócio. Portanto, se você tem alma empreendedora, pense no custo fixo antes de iniciar seu negócio. Para completar nossa análise, vamos supor que a Boop fez um trabalho sério de redução de custos e transferiu sua fábrica para o interior, o que reduziu o custo do aluguel de R$ 300.000/mês para R$ 100.000/mês. Dentro dessa nova realidade, seu custo fixo caiu para R$ 400.000. O novo ponto de equilíbrio em quantidades será: 5 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Tal decisão reduziu os riscos para a empresa. Ela poderá vender menos sem incorrer em prejuízo, ou continuar vendendo a mesma quantidade e obter uma lucratividade maior. Lembre-se, quanto menor o custo fixo menor o risco de a empresa quebrar. Por esse motivo, empresas que necessitam de mais capital são mais arriscadas. Pense em uma empresa de aviação. O custo de manter os aviões e toda a estrutura de operação são muito elevados. Assim, a gestão deve ser altamente eficiente, o que em muitos exemplos reais, não ocorreu. Somente para citar alguns, podemos lembrar os casos Varig, Vasp e Transbrasil. Tipos de ponto de equilíbrio Ponto de equilíbrio contábil Quando as empresas vendem uma ampla gama de produtos diferentes torna-se difícil calcular o ponto de equilíbrio em quantidades. Como poderíamos definir qual o mix ideal de produtos e suas quantidades no ponto de equilíbrio? Como identificar os custos e despesas fixas para cada produto? Para facilitar o cálculo devemos, portanto, avaliar o ponto de equilíbrio em valor de vendas. Assim, o que o ponto de equilíbrio contábil visa é calcular o valor mínimo que deve ser vendido para que a empresa não tenha prejuízo. Para esse cálculo é necessário sabermos a margem de contribuição em percentual sobre o preço de venda. Vamos pegar três variáveis das nossas vendas que estão contidas no demonstrativo de resultado do produto. Vejamos os valores referentes à Boop. O preço de venda da caneca é de R$ 10,00. O custo variável unitário é de R$ 2,00. A diferença entre o preço e o custo variável – a margem de contribuição unitária – é de R$ 8,00. Em percentuais, podemos perceber que a margem de contribuição unitária corresponde a 80% do valor do preço de venda e o custo variável unitário responde por 20%. Demonstrativo de resultados do produto Preço de venda unitário 10,00 100,00% Custo variável unitário 2,00 20% Margem de contribuição unitária 8,00 80% 6 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Para calcularmos o ponto de equilíbrio contábil, dividimos o custo fixo da empresa pela margem de contribuição unitária. Se o custo fixo da Boop for de R$ 400.000, seu ponto de equilíbrio contábil será dado por... Concluímos que R$ 500.000,00 por mês é o mínimo que esta empresa precisa vender para conseguir bancar a sua estrutura, ou seja, para não amargar com prejuízo. Ponto de equilíbrio econômico O ponto de equilíbrio econômico leva em consideração o lucro desejado pelo empresário ou gestor. Suponhamos que no planejamento financeiro da Boop, a diretoria tenha determinado que o lucro desejado seja de R$ 100.000 por mês. Esse valor deve ser somado com o custo fixo e dividido pela margem de contribuição unitária em percentuais: Assim, para conseguir o lucro de R$ 100.000 previstos pela diretoria, nossa empresa precisa vender R$ 625.000 em canecas. Como cada caneca custa R$ 10,00, a quantidade necessária é de 62.500 canecas. E se fosse na situação anterior, em que o custo fixo era de R$ 600.000? A nossa empresa precisaria vender R$ 875 mil em canecas por mês ou 87.500 canecas. Haja gente para tomar café! Como podemos perceber, quanto maior o custo fixo maior o risco. Ponto de equilíbrio financeiro Dentro dos custos fixos de uma empresa, existem variações patrimoniais que não significam desembolsos para a empresa, mas que são deduzidos das receitas, de acordo com 7 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados os princípios contábeis. Um exemplo é a depreciação. O ponto de equilíbrio financeiro, leva em consideração o valor da depreciação, e que esta conta não representa desembolso para a empresa. Usando o exemplo do ponto de equilíbrio contábil, vamos imaginar que dentro dos custos fixos exista um valor de R$ 20.000,00 referentes à depreciação. Eliminando-se a depreciação, o ponto de equilíbrio cai. Conclusão: o ponto de equilíbrio é uma ferramenta fundamental na Administração Financeira como controle de risco, principalmente quando os gestores estão analisando novos projetos. Entretanto, esse cálculo não é tão preciso quanto parece. O que tratamos como custo fixo, na realidade, não é fixo. Ele é assim chamado somente porque não varia de acordo com as vendas. Entretanto, alguns componentes do custo fixo variam de acordo com o tempo. A energia elétrica, comunicações, combustíveis e outros gastos considerados fixos, sempre estarão variando e, com eles, o ponto de equilíbrio também. Portanto, esse coeficiente tem um valor aproximado. 3 Alavancagem O conceito de alavanca diz que é algo que potencializa a sua força, e permite que uma tarefa seja realizada igual, com menos força. Em finanças, esse conceito está relacionado ao uso de ativos ou recursos de custo fixo com o objetivo de aumentar os retornos dos proprietários da empresa(GITMAN, 2005, p. 418). Mudanças na alavancagem de uma empresa levam a um aumento ou queda do risco/retorno da mesma. Podemos perceber que, quanto maior a alavancagem de uma empresa maior é seu retorno, mas ao mesmo tempo, maior é o risco de perda. Lembre-se: quanto maior o salto maior a queda. Portanto, na gestão de riscos da empresa, o administrador deve estar atento ao grau de alavancagem dos negócios. A alavancagem afeta o valor da empresa. Para entender melhor o conceito de alavancagem, devemos pensar no que potencializa o negócio de uma empresa. Ora, a palavra nesse caso é uma só: dinheiro. Portanto, ao contrair dívidas, a empresa está alavancando seus negócios, com recursos para investir no aumento das vendas. Mas, ao mesmo tempo, a empresa estará aumentando o risco associado aos seus negócios. Dizer que uma empresa está alavancada é o mesmo que dizer que ela está muito endividada. 8 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Na prática... Para entendermos melhor como contrair dívidas e potencializar ganho da empresa, vamos pensar em abrir nosso próprio negócio. Você foi visitar o campus do Senac e percebeu que uma grande quantidade de alunos gosta de cachorro quente, mas que as lanchonetes do campus não oferecem esta “iguaria”. Assim, entende-se que é a oportunidade perfeita de ganhar dinheiro com um bom negócio. Você estima que após investir R$ 20 mil para comprar uma perua, além de pagar o salário do funcionário que cuidará do negócio, comprar a matéria-prima, e conseguirá obter um lucro de R$ 2 mil. Você gastou toda a sua poupança na perua, mas sabe que o investimento é bom. Ao começarem as vendas, percebe que são até maiores do que você estimava inicialmente. Assim, decide procurar outro campus do Senac e montar outra unidade de venda aos arredores da faculdade. Mas você não tem mais dinheiro. Então decide financiar outra perua com o banco. A perspectiva de lucro dessa segunda unidade é igual à da primeira e, se tudo der certo, você terá um lucro mínimo de R$ 4 mil com as duas unidades de venda. No banco, o gerente empresta os R$ 20 mil e cobra juros de R$ 600 por mês. Você toma o empréstimo. Com duas unidades, seu negócio deverá lhe promover um ganho de R$ 4 mil por mês. Descontando os juros que você deverá pagar sobram ainda R$ 3.400. Se você não tivesse pegado o empréstimo e criado a segunda unidade de vendas, seu lucro seria cerca de R$ 2 mil. Assim, ao se endividar, você quase dobrou o ganho, está feliz com o resultado e pensa em uma terceira unidade de venda. Conclusão: aumentar o endividamento potencializa a possibilidade de ganho, mas também aumenta os riscos. Considerações finais Nesse capítulo aprendemos a importância da gestão de riscos na vida das empresas como forma de perpetuar a organização e evitar que haja a perda de valor ao acionista. Avaliamos de perto dois importantes conceitos que permeiam a gestão de riscos: ponto de equilíbrio e alavancagem. Além disso, percebemos os motivos que tornam as práticas de governança corporativa tão importantes para as empresas. Após a leitura desse capítulo você deve ser capaz de: Entender a importância da gestão de riscos; Calcular os diferentes pontos de equilíbrio; 9 Administração Financeira Senac São Paulo - Todos os Direitos Reservados Entender o conceito de alavancagem. Referências GITMAN, L.J.; MADURA, J. Administração financeira: uma abordagem gerencial. São Paulo: Pearson, 2005. PADOVEZE, C.L. Introdução à administração financeira. São Paulo: Cengage Learning, 2010. ADM_FIN_01_PDF_2013 Capa Créditos Folha de rosto Introdução 1 Conceitos gerais 2 As origens e aplicações de caixa Considerações finais Referências ADM_FIN_02_PDF_2013 Introdução 1 Inflação 2 Juros Considerações finais Referências ADM_FIN_03_PDF_2013 ADM_FIN_04_PDF_2013 ADM_FIN_05_PDF_2013 ADM_FIN_10_DOC_2013.pdf Introdução 1 Desconto Considerações finais Referências ADM_FIN_06_PDF_2013 ADM_FIN_07_DOC_2013.pdf Introdução 1 Séries uniformes de pagamento Considerações finais Referências ADM_FIN_07_PDF_2013 ADM_FIN_08_DOC_2013.pdf Introdução 1 Séries não uniformes de pagamento Considerações finais Referências ADM_FIN_08_PDF_2013 ADM_FIN_09_DOC_2013.pdf Introdução 1 Sistemas de amortização Considerações finais Referências ADM_FIN_09_PDF_2013 ADM_FIN_10_PDF_2013 ADM_FIN_11_PDF_2013 ADM_FIN_12_DOC_2013.pdf Introdução 1 Caixa e necessidade de capital de giro 2 Capital circulante líquido (Capital de Giro) 3 Estrutura Analítica do Capital de Giro (CDG) Considerações finais Referências ADM_FIN_12_PDF_2013 ADM_FIN_11_DOC_2013.pdf Introdução 1 Principais conceitos usados 2 Custos versus despesas 3 Classificação dos custos 4 Como apuramos os custos 5 Margem de contribuição, mark-up e ponto de equilíbrio Considerações finais Referências ADM_FIN_13_PDF_2013 ADM_FIN_14_PDF_2013 Introdução 1. Fluxo de caixa: a essência da vida da empresa Considerações finais Referências ADM_FIN_15_PDF_2013 ADM_FIN_16_PDF_2013