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DOENÇAS OSTEOARTICULARES RESUMO – DESENVOLVIMENTO ÓSSEO Os ossos são derivados do mesoderma, que origina o mesênquima (células pluripotenciais). Já na quinta semana de desenvolvimento embrionário, forma-se o esboço mesenquimal daquilo que será o esqueleto e, na sexta, forma- se o esqueleto cartilaginoso com o processo de condrificação hialina do modelo mesenquimal. Entre a sétima semana e a décima, tem início a ossificação endocondral, mas sabe-se que a maior parte dos ossos do crânio e a porção diafisária das clavículas sofrem a ossificação intramembranosa, que consiste no surgimento de um periósteo em volta do esboço mesenquimal e dele forma-se diretamente o tecido ósseo, sem passar pela fase cartilaginosa. OSSIFICAÇÃO INTRAMEMBRANOSA Ocorre em ossos chatos. Na ossificação intramembranosa há formação do centro de ossificação, a calcificação deste, formam-se as trabéculas e, por fim, o periósteo. OSSIFICAÇÃO ENDOCONDRAL Ocorre em ossos longos. Primeiro desenvolve-se um modelo de cartilagem e, neste, desenvolvem-se os centros de ossificação primária e secundária para, enfim, formar as cartilagens articulares e placas epifisárias. — Começa na diáfise (centro de ossificação primário): o tecido cartilaginoso primeiro se calcifica, provocando a morte dos condrócitos por apoptose. Em seguida, é invadido por um tecido mesenquimal rico em vasos sanguíneos e osteoblastos (células responsáveis pela formação do tecido ósseo mineralizado). Assim, o centro de ossificação primário vai se expandindo em direção às extremidades e, ao nascimento, as diáfises já estão totalmente ossificadas. — Centro de ossificação epifisários: tem início pouco antes do nascimento. Os primeiros centros de ossificação epifisários (ou secundários) estão nas epífises distal do fêmur e proximal da tíbia. Após o nascimento, os demais centros de ossificação epifisários vão surgindo e se expandindo, deixando uma placa cartilaginosa entre a epífise e a metáfise ossificadas, chamada placa epifisária. — Placa epifisária: é dessa placa epifisária que o osso cresce em comprimento, pois sua cartilagem possui uma camada de condrócitos em alto grau de proliferação e, à medida que cresce, sua porção distal vai se tornando ossificada. Enfim, na fase adulta, a placa epifisária desaparece, indicando a parada de crescimento. — A diáfise também cresce em espessura, dando resistência ao osso, pela ossificação do periósteo e do endósteo, que é a camada que reveste o canal medular. Obs.: o periósteo é responsável pela irrigação do tecido ósseo, sendo, portanto, muito vascularizado e inervação (responsável pela dor). ESTRUTURA – TECIDOS Osso cortical (compacto): camada mais externa – mais firme e mineralizado; Osso esponjoso: camada mais interna – contém o canal medular; Canal medular: abriga a medula óssea vermelha (ativa) ou amarela (inativa – adiposo); Periósteo: revestimento; Endósteo: envolve o osso internamente. CÉLULAS Osteoblastos: células que formam os ossos – síntese da matriz óssea; Osteócitos: osteoblastos inativos; Osteoclastos: formados pela fusão de macrófagos – realizam a reabsorção da matriz óssea. TIPOS DE OSSOS Ossos longos: clavícula, fêmur, úmero; Ossos curtos: ossos do carpo e do tarso; Ossos achatados: escápula, esterno, costelas; Ossos irregulares: ossos do crânio, vértebras; Ossos sesamoides: no interior de tendões – patela; Ossos wormianos: são as suturas, como as do crânio. HISTOLOGIA Canais de Havers são canais com vasos sanguíneos paralelos entre si que estão presentes no osso cortical, ligados pelos canais transversais de Volkmann. Cada um dos canais é circulado por camadas concêntricas de osso lamelar, que abriga osteócitos, também arranjados em anéis concêntricos. Essas células, os osteócitos, ficam isolados em lacunas e se comunicam com osteócitos vizinhos e com o canal de Havers por canalículos. Além disso, o interior de cada canal de Havers revestido por osteoblastos inativos ou células osteoprogenitoras, no chamado endósteo, que é quem vai depositar o novo osso quando acontece a remodelação óssea. DOENÇAS DA INFÂNCIA DOENÇA DE LEGG-CALVÉ-PERTHES — Necrose avascular (também chamada de asséptica, por não tem nenhum agente etiológico envolvido) idiopática da epífise femoral em crescimento, sendo a forma infantil da necrose asséptica da cabeça do fêmur do adulto; — Ocorre devido à irrigação pobre da epífise por vasos da cápsula articular; — Mais comum em homens (4H:1M), com faixa etária típica entre 2 e 12 anos; — Geralmente é unilateral, mas em cerca de 20% dos casos ocorre bilateralmente; — Os sintomas costumam se apresentar de forma subaguda (queixas por mais de seis semanas), com claudicação (termo médico para se referir ao comprometimento da marcha – “mancar”) associada ou não a dor na região inguinal ou na face anterior da coxa; — Tem importante limitação da abdução e da rotação interna do quadril; — O tratamento consiste em prevenir a deformidade residual da epífise femoral por meio da contenção da cabeça do fêmur, que deve permanecer contida dentro do acetábulo para que este funcione como um molde. EPIFISIÓLISE DO QUADRIL — Acomete a epífise proximal do fêmur; — Ocorre um deslizamento da epífise (cabeça femoral) em relação ao colo do fêmur, pelo enfraquecimento da placa epifisária (cartilagem de crescimento): pelo efeito do peso corporal, a cabeça do fêmur se desloca para baixa, para trás e faz uma rotação interna, enquanto o colo do fêmur desliza para cima, para frente e faz uma rotação externa – sinal do cajado; — Tem como sintomas a dor no quadril, a claudicação, a limitação da rotação interna (paciente se apresenta com rotação externa do quadril), da flexão e da abdução do quadril; — O tratamento é cirúrgico com o objetivo de promover o fechamento da placa epifisária (epifisiodese), prendendo-se o colo femoral à epífise, impedindo a progressão do deslizamento. DISPLASIA DO DESENVOLVIMENTO DO QUADRIL (DISPLASIA CONGÊNITA DO QUADRIL/LUXAÇÃO CONGÊNITA DO QUADRIL) — É mais comum em meninas; — Envolve uma deformação progressiva dos ossos do quadril, provocando defeitos no fêmur proximal (anteversão exagerada), na cápsula articular (alongamento e hipertrofia) e principalmente no acetábulo, que se torna mal direcionado → luxação exagerada; — É mais comum no lado esquerdo, sendo bilateral em 20% das crianças afetadas; — O diagnóstico deve ser o mais precoce possível (de 0 a 3 meses) para se obter uma alta porcentagem de sucesso. Para tal, são realizadas manobras de acordo com a faixa etária da criança, sendo: 0 a 3 meses realizadas as Manobras de Ortolani (de redução da luxação – flexão do joelho/quadril com uma abdução, tentando jogar, com a ponta dos dedos, a cabeça do fêmur para dentro da articulação) e Barlow (deslocamento da articulação – adução e leve pressão sobre o membro para tentar deslocar a cabeça femoral da articulação) 3 a 18 meses, o sinal de Galeazzi (altura inferior do joelho afetado fica mais baixa, com a criança em decúbito, com as coxas e joelhos fletidos) Após 12 meses, o Sinal de Trendelenburg (ao ficar de pé no MI afetado o quadril cai para o lado oposto e o tronco desvia-se para o lado afetado) → são obrigatórios! FRATURAS TIPOS DE FRATURAS Fraturas transversas e fraturas oblíquas: causadas por forças de angulação; Fraturas espirais: causadas por forças de torção; Fraturas por avulsão: causadas por forças de tração, por intermédio de um tendão inserido no osso; Fraturas de compressão (impactadas): causadas por forças compressivas; Fraturas patológicas: não são apenas traumáticas, pois existem alguns tumores que têm predileção pelo tecido ósseo – podem ser osteolíticas (“comer” osso) ou osteoblásticas(produzir osso); Fraturas expostas: ocorre exposição do tecido ósseo. CONSOLIDAÇÃO DE FRATURAS Fase precoce (hematoma fraturário): Ocorre a ruptura de pequenos vasos no osso e periósteo (muito vascularizado) com sangramento formando hematoma. A coagulação do hematoma serve de estímulo para iniciar o processo de consolidação, sendo invadido por pequenos vasos (angiogênese), trazendo consigo células mesenquimais pluripotentes do tecido conjuntivo, originárias do periósteo ou dos tecidos moles circunjacentes. Fase do calo fraturário mole: Nas duas primeiras semanas começa a se formar um tecido frouxo fibrocartilaginoso circundando a lesão, dando a forma de um abaulamento no ponto de fratura do osso (calo), mas não há ossificação e, portanto, não aparece no RX. Fase do calo fraturário duro (calo ósseo): Aparecem os osteoblastos que, então, começam a produzir tecido ósseo em um local um pouco distante do traço de fratura, aparecendo na radiografia como uma reação periosteal. Em seguida, começa a preencher todo o foco de fratura, neste momento aparecendo no RX como um verdadeiro calo ósseo, bem visualizado ao se completarem seis semanas (consolidação e estabilidade clínica). Após 4 a 8 meses há formação de osso maduro e a fratura desaparece do RX (consolidação radiológica). Ao longo dos próximos meses, o calo ósseo vai se remodelando, com reabsorção do excesso, até que o osso volte ao seu formato original. COMPLICAÇÕES Lesão arterial; Osteomielite; Síndrome compartimental: dor intensa que não melhora com analgésicos e piora à palpação, parestesia de extremidade, palidez, paralisia (tardia) e ausência de pulso – o tratamento consiste na fasciotomia; Necrose avascular; Embolia gordurosa; TEP. DISTÚRBIOS ARTICULARES CLASSIFICAÇÃO Grupo I: Doença articular não inflamatória (OA, articulação neuropática). Grupo II: Doença articular inflamatória (artrite reumatoide, gota). Grupo III: Doença séptica da articulação (doença de Lyme, gonococcemia disseminada). Grupo IV: Doença hemorrágica da articulação (trauma, hemofilia A e B). SINAIS E SINTOMAS Artralgia: termo geral para dor nas articulações; Artrite: se refere à inflamação da articulação associada com dor, inchaço, sensibilidade e calor; Rigidez matinal: dor ou rigidez nas articulações que duram mais que 30 minutos, como na AR, lúpus eritematoso sistêmico (LES); Mobilidade articular diminuída: causada por danos nos ligamentos e na cápsula articular; Inchaço da articulação (derrame articular): causado pelo aumento do fluido articular, como exsudato inflamatório (líquido rico em proteínas e neutrófilos), sangue; Vermelhidão (rubor) e calor da articulação: sinais de inflamação aguda, como na artrite séptica, AR; Crepitação articular ao movimento: refere-se a uma sensação de crepitação ao mover uma articulação. OSTEOARTRITE (AO) A AO é uma degeneração progressiva da cartilagem articular que acomete principalmente as articulações que são usadas com muita frequência. É uma doença sem predileção por sexo que aparece quase universalmente nas pessoas com mais de 65 anos de idade. Tem como fatores de risco a idade avançada, a doença de Legg-Calvé-Perthes previamente citada, condições endócrinas ou metabólicas, a osteocondrite dissecante, além da obesidade, traumas, doença articular neuropática e lesões do menisco. Comumente se manifesta na cabeça femoral, no joelho, em vértebras cervicais e lombares e nas mãos e é incomum nos ombros, cotovelos e pés (com exceção da primeira articulação metatatarsofalangiana). Na cartilagem articular normal temos proteoglicanos (fornecem elasticidade) e colágeno tipo II (fornece resistência à tração). Na AO, no entanto, citocinas ativam metaloproteinases que degradam esses componentes, levando a erosões e fissuram na cartilagem articular, formação de osteófitos, cistos subcondrais, fragmentos de cartilagem articular no espaço articular e é importante lembrar que não há fusão (anquilose) da articulação. Na clínica, a dor é a principal queixa, pois os osteófitos irritam o revestimento sinovial e ossos podem entrar em contato direto, e pode ser agravada com o movimento da articulação (causada por uma sinovite secundária aos osteófitos). Além disso, a rigidez articular ocorre após inatividade, acordando de manhã e depois de se sentar, há crepitação da articulação com movimento e diminuição da amplitude de movimento articular. Nas mãos pode acontecer um aumento nas articulações interfalangeanas distais (Nódulos de Heberden) e proximais (nódulos de Bouchard) causadas, também, por osteófitos. Em relação à coluna vertebral, causa a doença degenerativa do disco vertebral e faz compressão nervosa causando dor, parestesias (sensação de queimação) e atrofia muscular. O diagnóstico é por radiografia simples, e a RM é boa para identificar anormalidades e efusões do tecido sinovial (o líquido sinovial é não inflamatório). ARTRITE REUMATOIDE (AR) A AR é uma condição sistêmica associada à inflamação articular crônica que afeta comumente as articulações periféricas (punhos, mãos e pés). É mais comum em mulheres entre 30 e 50 anos. É uma doença que engloba várias associações de antígenos leucocitários (HLA, HLA-DR4) que envolvem sinalização intracelular e produção de certos tipos de proteínas citrulinadas sinoviais (alteração de arginina). Além disso, os agentes desencadeadores microbianos que iniciam a inflamação sinovial incluem o vírus Epstein- Barr (EBV), o parvovírus B19, o herpesvírus humano 6 e o Mycoplasma spp. Como fatores de risco temos a idade, o sexo feminino, o tabagismo, a obesidade e a silicose (Síndrome de Caplan). A AR pode envolver tanto reações tipo III quanto tipo IV. Um mecanismo proposto é que as células T CD4 + auxiliares (tipo IV) sejam ativadas, conduzindo à liberação de agentes pró-inflamatórios (TNF). Sabe-se que células sinoviais inflamadas expressam antígenos fazendo com que as células B produzam fator reumatóide (FR). Esse FR é um autoanticorpo IgM que possui especificidade para a IgG. Assim, FR e IgG se unem para formar imunocomplexos (tipo III), mas também podem formam com IgA. Os IC ativam C5a, um agente quimiotático para neutrófilos e outros leucócitos entrarem no espaço articular e, dessa forma, sinovite crônica e formação de Pannus eventualmente ocorrem. Obs.: Pannus é um tecido de granulação que é formado dentro do tecido sinovial por fibroblastos e células inflamatórias que liberam citocinas (ILs, TNF) destruindo a cartilagem articular e levando à fusão da articulação por tecido cicatricial (anquilose). ACHADOS CLÍNICOS: – Envolvimento simétrico das articulações metacarpofalangeanas e interfalangeanas proximais com notável conservação das interfalangeanas distais. – Rigidez matinal por mais de 1 hora. – Alterações Articulares, como desvio ulnar bilateral nas articulações metacarpofalangeanas, deformidade em “pescoço de cisne” (flexão da articulação interfalangeana distal e extensão da articulação interfalangeana proximal) e deformidade de Boutonnière ou casa de botão (extensão da articulação interfalangeana distal e flexão da articulação interfalangeana proximal). As radiografias das mãos mostram erosões ósseas ao redor das articulações envolvidas e osteopenia periarticular. Outras articulações comumente envolvidas na AR incluem a coluna cervical, ombros, cotovelos, quadris, joelhos e pés. – Alterações Pulmonares, como pleurite crônica com efusões, fibrose intersticial e bronquiolite obliterante. – Doença hematológica, como a anemia de doença crônica, a Síndrome de Felty (AR, esplenomegalia, neutropenia autoimune, úlceras em MMII) e a anemia hemolítica auto-imune. – Síndrome do túnel do carpo: aprisionamento do nervo mediano sob o ligamento transverso do carpo.– Espinha cervical: a coluna cervical inteira está freqüentemente envolvida e a subluxação da articulação atlantoaxial é particularmente perigosa, pois traz risco de compressão da medula espinhal e risco de compressão da artéria vertebral, causando um acidente vascular cerebral. – Nódulos reumatóides: nódulos ocorrem na superfície extensora dos dedos, antebraços e pontos de pressão (tendão de Aquiles, processo do olécrano) e nos pulmões. Além disso, a necrose fibrinóide está presente no centro dos nódulos com paliçada dos fibroblastos. A presença de nódulos reumatóides correlaciona-se com títulos muito altos de FR. Síndrome de Caplan: nódulos reumatóides no pulmão associado a pneumoconiose causada por sílica, amianto ou pó de carvão. – Doença cardiovascular, como pericardite fibrinosa e constritiva, aortite e vasculite de pequenos vasos por imunocomplexos (a vasculite é geralmente localizada ao redor dos tornozelos e está correlacionada com altos títulos de FR). – Cisto poplíteo (Baker): extensão da bursa no espaço articular posterior devido ao aumento da pressão intra- articular. Às vezes, rompe e disseca a região poplítea resultando em um aspecto semelhante a trombose venosa profunda (TVP) ou aneurisma de artéria poplítea (pulsátil). – Alterações oculares, como a episclerite e a esclerite. ACHADOS LABORATORIAIS: – Anticorpo antinuclear (ANA) positivo em 30% dos casos. – FR positivo em 70% a 90% dos casos. – O peptideo citrulinado anticíclico (anti-CCP) tem uma especificidade de 95% a 98% e uma sensibilidade de 68% a 80% (mais comum na AR inicial). – Complemento C3 sérico aumentado ou normal. – Diminuição do complemento C3 do líquido sinovial. – PCR e VHS são aumentados. – Proteína sérica total está aumentada, causada por um aumento de γ-globulinas IgG (IgG) na inflamação crônica. Gamopatia policlonal na eletroforese de proteínas séricas.
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