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1I Bioética e Ética Médica ( Medresumo )

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Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 
1 
 
www.medresumos.com.br 
 
 
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA BIOÉTICA 
 
A ética é o ramo da filosofia destinado à análise teórica e científica dos 
pressupostos, fundamentos e justificativas para as ações humanas. Esse termo pode ser 
utilizado, também, como sinônimo de moral, para designar o sistema de valores, 
princípios, normas e preceitos que orientam a conduta de uma pessoa humana ou de um 
grupo. 
A ética médica repousou sua tradição no Juramento de Hipócrates durante 
séculos, até que, a partir da metade do século passado, esse modelo se mostrou inapto 
para resolver os dilemas morais suscitados pelas novas biotecnologias e pelos 
escândalos em pesquisas biomédicas. Nesse contexto, surgiu a Bioética - espaço 
privilegiado de reflexão acerca das questões éticas relativas à vida - a qual rapidamente 
se apropriou do debate sobre a ética nas profissões biomédicas, passando a se constituir 
como um novo paradigma, ou em uma nova influência para a ética médica. 
Essa nova ética médica surge, então, revigorada, livre das marcas do paternalismo e do corporativismo, apta a 
discutir e apontar soluções para a maioria dos dilemas morais apresentados dia-a-dia aos profissionais. Atualmente, nos 
países de influência romano-germânica, vinculados à Civil Law, a exemplo do Brasil, essa ética se manifesta através dos 
chamados Códigos de Ética Médica, que são impostos à classe médica de forma coercitiva, mediante a aplicação de 
sanções, no caso brasileiro, pelos Conselhos de Medicina. Tal característica permite afirmar que esses códigos 
constituem normas jurídicas lato senso, configurando-se, na prática, como códigos deontológicos. 
Não se pode dizer que o modelo tradicional de ética médica não tem nenhuma validade nos dias atuais. Até 
hoje, alguns pacientes ainda aceitam e esperam dos médicos os padrões de comportamentos paternalistas, 
preconizados nos antigos códigos. A imagem do bom médico, sob o qual não pairava nenhuma desconfiança, sempre 
disposto a fazer o melhor pelo seu paciente, ainda tem influência no comportamento de uma parcela de pacientes 
(DRANE J, PESSINI L, 2005). 
Todavia, essa ética, vinculada à tradição hipocrática, foi incapaz de oferecer respostas aos dilemas morais 
suscitados pelos notáveis avanços científicos na biomedicina e pelos abusos praticados em pesquisas envolvendo seres 
humanos. 
Foi nesse contexto de crise da ética médica, evidenciada inicialmente na sociedade norte-americana, que surgiu 
a Bioética, destinada a oferecer um novo arsenal de argumentos para os crescentes problemas éticos impostos à 
medicina e às demais ciências biológicas (SIROUX D, 2003). A partir do surgimento da Bioética, a ética da medicina e 
das demais profissões da saúde passou por uma profunda reflexão, da qual resultou importantes mudanças, todas 
voltadas para a solução dos emergentes problemas de ordem moral, suscitados no exercício dessas profissões (DRANE 
J, PESSINI L, 2005). 
 
 
ÉTICA X MORAL 
Qualquer que seja a abordagem que se faça sobre o tema ética médica, não se pode prescindir de uma 
apreciação, mesmo que sumária, do significado e da extensão do termo ética. Esse entendimento se funda na convicção 
de que a ética médica, mesmo que configurando uma ética aplicada, não pode renunciar a seus pressupostos teóricos. 
A palavra ética deriva do grego e sua origem está relacionada a dois vocábulos: êthos e éthos. O primeiro 
significava, inicialmente, estância, toca, lugar onde se vive, morada, sofrendo, posteriormente, uma evolução semântica 
para denotar maneira de ser habitual, disposição de espírito, caráter. O segundo termo significava uso, hábito, caráter, 
costume. 
Como visto, recorreu-se à ideia de moral para conceituar a ética, razão por que surge a necessidade de uma 
análise do significado que se deva atribuir a esse termo. Nesse ponto, uma primeira contribuição é a da etimologia, 
segundo a qual o termo moral vem do latim mos (mores) e significa caráter, modo de ser, costume. 
Assim, vê-se que a análise etimológica do termo moral não evidencia nenhuma diferença semântica em relação 
ao termo ética, não obstante tenham derivado de línguas diversas - a moral, do latim, a ética, do grego. Nesse prisma, a 
ética deve ser compreendida como sinônimo da moral. 
Por tanto, temos a seguinte relação: 
 MORAL  Valorização não-refletida (religião, cultura) 
 ÉTICA  Valorização refletida (eticidade) 
MORAL = ÉTICA 
 
Assim, na falta de argumentos contundentes que sustentem qualquer um dos posicionamentos apresentados, 
prefere-se utilizar o termo ética como sinônimo de moral - ora para definir o ramo da filosofia destinado à análise teórica 
Arlindo Ugulino Netto. 
BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 2016 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 
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e científica dos pressupostos, fundamentos e justificativas das ações humanas - ora para designar o sistema mais ou 
menos coerente de valores, princípios, normas e preceitos que orientam a conduta de uma pessoa ou de um grupo. 
Essa opção resulta do fato de que, tradicionalmente, o conjunto de normas voltadas para orientar o exercício da 
profissão médica recebe a denominação de ética médica. Além disso, na maioria dos países, essas normas estão 
compiladas nos chamados Códigos de Ética Médica. 
 
TIPOS DE NORMAS DE CONDUTA 
É importante ressaltar aqui que a ética e a moral condicionam a conduta humana. Porém, não apenas esses dois 
fatores são importantes para designar condutas do ser humano. Podemos destacar outros, como: 
 Normas jurídicas (Leis); 
 Normas ético-morais; 
 Normas de trato social (Costumes: Regras de bem-viver; Convenções sociais; Moda; Normas de etiqueta). 
 
 
MOTIVAÇÃO DAS AÇÕES HUMANAS 
Essas motivações têm três fontes possíveis, que em geral se apresentam mais ou menos em conjunto: 
1. Morais: Motivações diretamente morais, que se fundamentam em um senso de justiça ou nos sentimentos de 
respeito, equanimidade, equidade, solidariedade, comunidade, reciprocidade, benevolência ou obrigação. Ex: 
Respeito, Equidade, Solidariedade, Comunidade, Benevolência, etc. 
2. Aprovação social: A preocupação dos indivíduos com as opiniões de outras pessoas sobre elas; essas outras 
pessoas podem, desse modo, induzir ou exigir, sem qualquer custo para si mesmas, um comportamento moral 
dos protagonistas julgados; esses pontos de vista dos outros expressam um juízo moral, beneficiem-se ou não 
essas pessoas da ação. Ex: Adequação e aceitação no meio social. 
3. Interesses: Interesse pessoal, quer através de uma coincidência com um ponto de vista moral, quer mediante 
um equilíbrio do jogo social recorrente. Essas modalidades de implemetação e motivação podem estar presentes 
no público como um todo, ou concentrar-se mais no processo público-político (eleitores, ativistas, estadistas e 
políticos, funcionários públicos), ou, uma vez mais, podem estar ausentes, sendo as regras da sociedade apenas 
os termos de uma trégua. Ex: Eleitorais, Ativistas, Estadistas, Políticos, Econômicos. 
 
 
ÉTICA MÉDICA: DEFINIÇÃO, ABRANGÊNCIA E IMPORTÂNCIA 
Até aqui, apresenta-se a definição de ética e sua relação com a moral. Cabe, a partir deste ponto, adentrar, com 
mais detalhes, na ética da profissão médica, o que se faz com ênfase na sua definição, abrangência e importância. 
Preliminarmente, convém observar que a ética médica não pode ser confundida com a Bioética. 
Ficou claro, do que já foi exposto, que a Bioética é um espaço de debate, plural, multi e transdisciplinar, através 
do qual se traçam condutas no plano moral, a partir da reflexão sobre os graves dilemas morais que hoje afligem a 
sociedade, em especial nas ciências da vida e da saúde. A Bioética é, pois, mais abrangente que a ética médica, 
podendo-se afirmar que a ultrapassa e a engloba, sendo então, esta, uma subdivisão da bioética. É um meio termo entre 
a ética aplicada e a filosofia moral, uma verdadeira fonte deteorias, manancial de soluções para os graves dilemas 
morais que acometem não apenas a medicina, mas também todas as ciências biológicas e da saúde. 
Ética médica, em uma primeira aproximação, é o conjunto de princípios e regras que, repousando sobre valores 
e costumes, orientam o exercício da medicina. Em uma definição mais abrangente pode-se dizer que a ética médica é o 
conjunto de normas de conteúdo moral que visam a disciplinar a prática da medicina, oferecendo soluções ou indicando 
condutas para os frequentes problemas éticos que seu exercício suscita. É, sem dúvida, ética aplicada, uma vez que se 
coloca para a resolução prática de problemas, permitindo a tomada de decisões diante do conjunto de dilemas 
apresentados diariamente ao médico. 
É conhecimento indispensável ao adequado desempenho da profissão, seja qual for o âmbito em que venha a 
ser exercida. Na prática clínica, em quaisquer das especialidades médicas, em um laboratório ou na gestão pública, 
estará o médico sempre vinculado aos postulados éticos de sua profissão. 
 
OBS
1
: Deotologia (deo = dever; logia = estudo) é o conjunto de normas que regulamentam o exercício de uma profissão. 
Portanto, deotologia médica é, literalmente, o estudo dos deveres do médico. O 1º estatuto ético médico da história foi o 
“Juramento de Hipócrates”, que com o tempo, passou a ser um modelo ultrapassado, sendo necessário surgir, então, a 
intervenção da bioética. 
OBS²: Diceologia (deceo = direitos) é, literalmente, o estudo dos direitos do médico. 
 
 
BIOÉTICA: HISTÓRIA E ORIGEM 
 O histórico da bioética demonstra o porque que o médico perdeu o poder de decidir sobre o que fazer e como 
fazer. É importante ressaltar o fato de que, com o desenvolvimento da razão, muitas pessoas não acreditam mais em 
instituições religiosas, como o que principalmente ocorreu nos países ocidentais. Isso gera então, o seguinte embate: 
Religião & Salvação eterna X Medicina & Sobrevida. 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 
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Hipócrates (460-375/351 a.C.), considerado o "Pai da Medicina", foi responsável, devido 
ao seu juramento, por uma duradoura tradição moral na profissão médica. O Juramento de 
Hipócrates começa por uma invocação aos deuses, segue com as cláusulas juramentárias e é 
concluído com uma imprecação. A finalidade dessa fórmula era a de emprestar ao texto um 
caráter sagrado, não obstante o juramento se constituísse, essencialmente, em um pacto de 
ordem moral (Ribeiro Jr. W, 1999). O conteúdo desse juramento é o seguinte: 
 
Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Higeia e Panaceia, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas 
as deusas, cumprir, conforme o meu poder e a minha razão, o juramento cujo texto é este: 
1 - Estimarei como aos meus próprios pais, quem me ensinou esta arte e com ele farei vida em comum e, se 
tiver alguma necessidade, partilhará dos meus bens; cuidarei dos seus filhos como meus próprios irmãos, 
ensinando-lhes esta arte, se tiverem necessidade de aprendê-la, sem salário nem promessa escrita; farei 
participar dos preceitos, das lições e de todo o restante do ensinamento, os meus filhos, os filhos do mestre 
que me instruiu, os discípulos inscritos e arrolados de acordo com as regras da profissão, mas apenas esses. 
2 - Aplicarei os regimes para o bem dos doentes, segundo o meu saber e a minha razão, e nunca para prejudicar ou fazer mal a quem quer 
que seja. 
3 - A ninguém darei, para agradar, remédio mortal nem conselho que o induza à destruição. Também não fornecerei a uma senhora 
pessário abortivo. Conservarei puras minha vida e minha arte. 
4- Não praticarei a talha, ainda que seja sobre um calculoso (manifesto), mas deixarei essa operação para os práticos. 
5 - Na casa onde eu for, entrarei apenas para o bem do doente, abstendo-me de qualquer mal voluntário, de toda sedução e, sobretudo, 
dos prazeres do amor com mulheres ou com homens sejam livres ou escravos. 
6 - O que no exercício ou fora do exercício e no comércio da vida eu vir ou ouvir, que não seja necessário revelar, conservarei como 
segredo. Se cumprir este juramento com fidelidade, goze eu minha vida e minha arte com boa reputação entre os homens, e para sempre; 
mas, se dele me afastar ou violá-lo, suceda-me o contrário (Fávero F, 1991). 
 
 Como pode ser visto, a primeira cláusula juramentaria (1) se desdobra em um pacto familiar em relação ao 
mestre e em um pacto corporativo, ambos desprovidos atualmente de qualquer interesse. A segunda (2) materializa a 
postura paternalista do médico, hoje já censurada. A quarta (4) e a quinta (5), de tão impertinentes nos dias atuais, 
dispensam qualquer comentário. 
 Apenas a terceira cláusula (3), que fala da vedação à prática da eutanásia e do aborto, impondo o respeito 
absoluto à vida, e a sexta e última (6), que trata da questão do sigilo médico, continuam a ter pertinência na atualidade, 
ainda que com ponderações. 
 Todavia, mesmo em face da sua manifesta inadequação aos dilemas morais da medicina do tempo atual, não se 
pode deixar de reconhecer a valiosa contribuição do Juramento de Hipócrates. Basta ver que seus postulados 
influenciaram os Códigos de Ética Médica adotados no mundo inteiro até mais da metade do Século XX, precisamente 
até o fim da década de 60 (França G, 2000). 
 Uma característica importante desse longo período de influência da ética hipocrática é que nele as discussões 
éticas eram tratadas como assunto interna corporis, interessando apenas aos profissionais da medicina, e marcadas, por 
isso, por posicionamentos corporativistas e paternalistas. Os deveres gerais e as obrigações específicas dos médicos 
eram desenvolvidos por membros instruídos da corporação, os quais eram responsáveis por regular a conduta ética da 
profissão. Nesse período, os Códigos de Ética Médica eram impostos à sociedade, que não tinha a oportunidade de 
participar, direta ou indiretamente, de sua elaboração (Drane J, Pessini L, 2005). 
 Diante, pois, da incapacidade do modelo de ética hipocrática de atender às novas demandas, suscitadas 
principalmente pelos avanços das biotecnologias, eclodiu um movimento de mudanças na ética médica. Esse 
movimento, que se tomou mais evidente a partir dos anos 70 do Século XX, pode ser melhor compreendido a partir da 
análise do conjunto de fatos que o procederam e que são apontados, com frequência, como responsáveis pelo 
surgimento da Bioética, em 1971. Entre esses fatos, podem-se ressaltar (Drane J, Pessini L, 2005; Barchifontaine P, 
2004): 
 Notícias de brutais experimentos realizados por médicos nazistas em prisioneiros nos campos de concentração, 
durante a segunda guerra mundial. Esses fatos culminaram com o julgamento e a condenação de alguns deles 
pelo Tribunal Militar Internacional de Nuremberg. Na sua decisão, em 1947, o Tribunal incluiu uma declaração 
contendo 10 recomendações, que constituem o chamado Código de Nuremberg; 
 Descoberta do ácido desoxirribonucleico – DNA, por Crick e Watson em 1953. Essa descoberta criou condições 
para um vertiginoso movimento de inovações tecnológicas na área da genética, de consequências inquietantes; 
 Acontecimentos em torno da diálise em Seattle (EUA). Em 1960, diante da disponibilidade de um pequeno 
número de máquinas de diálise (recém- inventadas), foi entregue a uma comissão formada por membros leigos 
da comunidade a prerrogativa de selecionar quais os pacientes que iriam ter acesso àquele recurso. Até então, 
decisões dessa natureza eram exclusivas dos profissionais de saúde; 
 Casos de abusos em pesquisas que envolviam seres humanos, nos Estados Unidos: 
 Hospital Estatal de Willowbrook (New York – 1950 a 1970): A fim de estudar a história natural da hepatite A 
e desenvolver uma vacina, investigadores infectavam deliberadamente parte das crianças recém- 
internadas; 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 
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 Estudo da sífilis em Tukesgee (Alabama – 1932 a1972): foram deixados sem tratamento 408 negros 
portadores de sífilis, com o objetivo de estudar a história natural da doença. Os resultados foram publicados 
em 1954, em uma revista de Saúde Pública dos Estados Unidos, e mostravam que a mortalidade dos 
pacientes não tratados era maior que a dos indivíduos sem sífilis. Mesmo diante dessa conclusão, o estudo 
prosseguiu, mantendo-se os pacientes sem tratamento até 1972, quando houve a denúncia na imprensa 
leiga; 
 Hospital Israelita de doenças crônicas (New York – 1963): com o objetivo de estudar o processo de rejeição 
nos transplantes em humanos, investigadores injetaram células cancerígenas em 22 idosos. 
 Realização do primeiro transplante cardíaco (África do Sul – 1967): o cirurgião Christian Barnard fez o primeiro 
transplante cardíaco, o que suscitou a necessidade de elaborar uma definição de morte encefálica. 
 
Além disso, entre 1960 e 1970, diante da contestação da Guerra do Vietnã, por parte da opinião pública norte-
americana e mundial, cresceu um importante movimento pela defesa dos direitos humanos, que realçava os direitos 
individuais, como à liberdade, à igualdade e à justiça, entre outros, em contraposição ao abuso de poder, praticado por 
alguns Estados. Nesse contexto instala-se uma crise da ética médica tradicional, cujos pressupostos podem ser 
sintetizados em dois pontos: o ultraje moral em face do desrespeito aos direitos dos sujeitos de pesquisa e a 
perplexidade diante das descobertas técnico-científicas na medicina e nas demais ciências biológicas. 
No centro dessa crise, nasce a Bioética (1971), destinada a oferecer um novo arsenal de fundamentos para os 
crescentes dilemas éticos impostos à medicina e às demais ciências biológicas. Ao oncologista norte-americano Van 
Rensselaer Potter (1911-2001), atribui-se a obra inaugural desse ramo da ética aplicada - Bioética, uma ponte para o 
futuro. Dr. Edmund Pellegrino, médico clínico, humanista e bioeticista, foi o responsável pela estruturação da Bioética 
como disciplina acadêmica em todas as faculdades de medicina dos EUA e sua aplicabilidade na prática médica, sendo 
responsável também pela criação do Instituto de Valores Humanos da Medicina. 
Hoje, a ética da medicina, profissão cuja história se confunde com a história da própria humanidade, vive um 
novo momento. Superado o modelo de ética hipocrática, a Bioética se consolidou como um novo paradigma a orientar a 
conduta ética do médico. Essa nova ética, revigorada, desprovida de corporativismo, sem marcas do já ultrapassado 
paternalismo, não é mais autoaplicável, como outrora, mas nasce do desejo de todos. É fruto de múltiplas contribuições, 
não apenas de filósofos, teólogos, juristas, médicos e outros estudiosos, mas também dos diversos segmentos da 
coletividade, refletindo, por isso, os sentimentos e os valores morais mais relevantes para a sociedade. 
Pode-se conceituar a bioética como: “Ética aplicada à vida (solucionadora de problemas) e se apresenta como a 
procura de um comportamento responsável por parte daquelas pessoas que devem decidir tipos de tratamentos, 
pesquisas ou posturas com relação à humanidade.” (Reich, 1995) 
 
 
BIOÉTICA SOB UMA ÓPTICA PRINCIPIALISTA 
 Não existe apenas uma forma de se entender a bioética. A forma que mais se especializou e se adequou ao 
estudo da bioética foi o paradigma principialista, que estuda a bioética a partir de princípios e, a partir da aplicação 
desses princípios em um contexto social específico, é possível se obter decisões terapêuticas, clínicas, etc. 
 Em 1979, os filósofos americanos Beauchamp e Childress publicaram a obra “Princípios da Ética Biomédica”, 
que muito contribuiu para o crescimento do movimento bioético e estabeleceu quatro princípios fundamentais dessa 
nova ciência, o princípio da Beneficência, da Autonomia, da Não maleficência e da Justiça. A partir daí, houve uma 
tendência da Bioética para enquadrar todos os problemas dentro desses quatro princípios, que se tornaram também o 
centro de todas as discussões sobre Bioética. Não existe uma visão hierárquica entre os princípios. 
 Princípio da Autonomia 
 Princípio da Beneficência (ação) 
 Princípio da Não Maleficência (omissão) 
 Princípio da Justiça 
 
A boa prática médica atual continua baseada na observação dos conceitos hipocráticos beneficência, não-
maleficência, respeito à vida, a confidencialidade e à privacidade, acrescidos do respeito à autonomia do paciente, o seu 
direito em receber todas as informações e participar mais ativamente do seu tratamento. 
 
PRINCÍPIO DA AUTONOMIA 
 Autonomia significa autogoverno, autodeterminação da pessoa em tomar decisões relacionadas a sua vida, sua 
saúde, sua integridade físico-psiquíca e suas relações sociais. Pressupõe existência de opções, liberdade de escolha e 
requer que o indivíduo seja capaz de agir de acordo com as deliberações feitas. O respeito à autodeterminação 
fundamenta-se no princípio da dignidade da natureza humana, acatando-se o imperativo categórico kantiano que afirma 
que o ser humano é um fim em si mesmo. Algumas variáveis contribuem para que um indivíduo torne-se autônomo, tais 
como condições biológicas, psíquicas e sociais. Podem existir situações transitórias ou permanentes que uma pessoa 
pode ter uma autonomia diminuída, cabendo a terceiros o papel de decidir. A autonomia não deve ser confundida com 
individualismo, seus limites são estabelecidos com o respeito ao outro e ao coletivo. 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 
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 Manifestação da essência do princípio da autonomia é o consentimento esclarecido. Todo indivíduo tem direito 
de consentir ou recusar propostas de caráter preventivo, diagnóstico ou terapêutico que tenham potencial de afetar sua 
integridade físico-psíquica ou social. O consentimento deve ser dado livremente, após completo esclarecimento sobre o 
procedimento, dentro de um nível intelectual do paciente; renovável e revogável. Para Hewlett, o consentimento apenas 
é aceito quando possui informação, competência, entendimento e voluntariedade. 
 Por tanto, o Princípio da Autonomia é regra, que consiste no fato de que é direito do paciente escolher a cerca 
do tratamento aos quais ele vai ser submetido ou não. Cabe ao profissional médico fornecer ao paciente, em palavras 
simples, os meios de tratamento que o mesmo será submetido. 
 
PRINCÍPIO DA BENEFICÊNCIA 
 A exceção à regra que é a autonomia é o Princípio da Beneficência, nos casos em que o médico vai agir para 
fazer o bem do paciente mesmo contra a sua vontade. Por exemplo, se um paciente chega ao centro de emergência 
correndo perigo de vida (ou risco eminente de vida: situação real e concreta na qual, a juízo do médico, a intervenção 
do médico é necessária para evitar a morte do paciente. Não é só um juízo de prognóstico, mas sim, um diagnóstico), o 
médico deve agir prontamente, mesmo contra a autonomia do paciente (se caso for), ou seja, mesmo se o paciente não 
permitir a intervenção para salvar a sua vida. Caso contrário, o médico responde a um tipo de homicídio culposo. 
 Deve-se levar sempre, é claro, o bom senso: por exemplo, se um paciente chega no hospital com quadro de 
desidratação. O médico, no caso, afirma que o melhor no momento seria a aplicação de soro. Se o paciente negar, o 
médico deve observar se o paciente corre mesmo perigo de vida ou apenas risco de vida (situação na qual todas as 
pessoas convivem diariamente: risco remoto de sofrer qualquer tipo de acidente), na qual não é necessária uma 
intervenção urgente do médico. Nesse caso, o Princípio da Autonomia predomina como regra. 
 
PRINCÍPIO DA NÃO MALEFICÊNCIA 
 O Princípio da Não-Maleficência é o mais controverso de todos. Isto ocorre quando uma ação, aparentemente de 
menor ou nenhuma repercussão, agravar-se progressivamente, com tendência a ocorrer cada vez mais, gerando 
malefícios não previstos inicialmente. 
 Muitas vezes o médico tem que se omitir de alguma açãoou deixar de realizar algum procedimento para evitar 
algum mal ao paciente. Por exemplo, é comum e correto um anestesista, no caso, se negar a aplicar anestésico em um 
paciente idoso que viria a realizar alguma cirurgia não necessária. Essa decisão seria importante para preservar a 
integridade da vida do paciente ao invés de correr o risco por uma cirurgia desnecessária. 
 
OBS
3
: É importante ter em conta que o médico não é obrigado a atender a quem ele não deseja, salvo em três 
situações: (1) situações de urgência ou emergência; (2) quando não há outro médico que possa realizar o procedimento; 
(3) quando a recusa do médico trará danos ao paciente. 
 
PRINCÍPIO DA JUSTIÇA 
 A justiça define que o correto é “dar a cada qual o que é seu”. Isto é, critérios justos devem ser estabelecidos 
para conduzir a atuação do médico ante os determinados quadros de seu cotidiano. O tratamento estabelecido para um 
médico não visa sempre ser o melhor para um só paciente, mas sim, o mais efetivo para um maior número de pacientes. 
 
OBS
4
: Pode-se resumir os quatro princípios éticos da seguinte maneira: 
 Beneficência: o ato de fazer o bem. 
 Não maleficência: primeiramente, não fazer mal (não matar, não causar dor, não incapacitar e não privar daquilo 
que é bom). 
 Autonomia: dever de o médico respeitar o direito do paciente. 
 Justiça: igualdade básica de todos os seres humanos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BARROS, Ronivaldo de Oliveira. Introdução ao estudo da ética médica. Universidade do Porto, Faculdade de Medicina – Serviço de Bioética e Ética 
Médica. Brasília, 2008. 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 
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ÉTICA NA RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE 
 
A relação médico-paciente é uma preocupação constante da medicina ao longo dos tempos. Nessa relação, 
deve haver uma associação entre profissão, paciência, compaixão e consentimento, envolvendo ambos os lados: 
 Profissão: “obrigação de ser competente e habilidoso na prática médica; a necessidade de colocar o bem-estar 
do paciente acima do interesse próprio.” 
 Paciência: “a pessoa que procura tratamento médico está sofrendo e se encontra em posição vulnerável” 
 Compaixão: “o médico é convidado a sofrer com o paciente, dividindo sua situação existencial (a qual também 
sugere um papel espiritual)” 
 Consentimento: “a relação médico-paciente é baseada em informações dadas livremente, pelas duas partes 
envolvidas e esse consentimento deve ser dado sem pressão ou força de qualquer um dos lados.” 
 
Nessa relação há, acima de tudo, uma exigência de cura e não de cuidados, de modo que o tratamento seja feito 
de um modo humanizado. Há sempre uma exigência de serviços de primeiro mundo usando recursos semelhantes aos 
dos países mais atrasados do planeta, no intuito de ajudar o paciente. 
O avanço da tecnologia no campo da saúde ampliou, de maneira exponencial, a assimetria do poder e do 
conhecimento, tornando as relações totalmente desiguais. Cada vez mais, é visível a distância que surge entre os 
médicos e seus pacientes. 
A relação médico paciente exige as seguintes experiências: 
 Falar a verdade 
 Prestar atendimento humanizado, com tempo e atenção necessários. 
 Saber ouvir o paciente, esclarecendo dúvidas e expectativas, com registro no prontuário. 
 Explicar detalhadamente, de forma simples e objetiva, o diagnóstico e o tratamento, seus benefícios, 
complicações e prognósticos. 
 Tratamento - respeitar autonomia do paciente. 
 Atualização científica 
 
 
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA 
 O Código de Ética Médica contém as normas éticas que devem ser seguidas pelos médicos no exercício da 
profissão, independentemente da função ou cargo que ocupem. As organizações de prestação de serviços médicos 
estão sujeitas as normas deste código. Para o exercício da medicina impõe-se a inscrição no Conselho Regional do 
respectivo Estado. 
O primeiro capítulo dos princípios éticos baseia-se no respeito absoluto pela vida humana, obrigação de 
aprimorar continuamente os conhecimentos e manutenção do sigilo profissional e nos relacionamentos. 
 
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA - CAPÍTULO I - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 
 Art. 7º- O médico deve exercer a profissão com ampla autonomia não sendo obrigado a prestar serviços 
profissionais a quem ele não deseje, salvo na ausência de outro médico em casos de urgência ou quando sua 
negativa possa trazer danos irreversíveis ao paciente. [O médico praticará sua profissão com autonomia, sem 
ser obrigado a exercê-la, não sendo obrigado a prestar serviços que contrariem os ditames de sua consciência 
ou a quem não deseje, excetuadas as situações de ausência de outro médico, em caso de urgência ou 
emergência, ou quando sua recusa possa trazer prejuízos à saúde do paciente, como em casos de perigo ou 
risco eminente de morte]. 
 
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA - CAPÍTULO II - DIREITOS DO MÉDICO 
É direito do médico: 
 Art. 21 - Indicar o procedimento adequado ao paciente, observadas as práticas reconhecidamente aceitas e 
respeitando as normas legais vigentes no País. 
 Art. 23 - Recusar-se a exercer sua profissão em instituição pública ou privada onde as condições de trabalho 
não sejam dignas ou possam prejudicar o paciente. 
 Art. 28 - Recusar a realização de atos médicos que embora permitidos por lei, sejam contrários aos ditames de 
sua consciência. 
 
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA - CAPÍTULO V - RELAÇÃO COM PACIENTES E FAMILIARES 
 É vedado ao médico: 
 Art.56 - Desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou 
terapêuticas, salvo em caso de iminente perigo de vida. 
Arlindo Ugulino Netto. 
BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 2016 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 
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 Art.58 - Deixar de atender paciente que procure seus cuidados profissionais em casos de urgência, quando não 
haja outro médico ou serviço médico em condições de fazê-lo. 
 Art.61- Abandonar paciente sob seus cuidados 
1º- Ocorrendo fatos que, a seu critério, prejudiquem o bom relacionamento com o paciente ou o pleno 
desempenho profissional, o médico tem o direito de renunciar ao atendimento, desde que comunique 
previamente ao paciente ou seu responsável legal, assegurando-se da continuidade dos cuidados e 
fornecendo todas as informações necessárias ao médico que lhe suceder. 
 Art.63 - Desrespeitar o pudor de qualquer pessoa sob seus cuidados profissionais. 
 Art.65 - Aproveitar-se de situações decorrentes da relação médico-paciente para obter vantagem física, 
emocional, financeira ou política. 
 
 Tomando como base o primeiro Capítulo do Código de Ética Médica, podemos destacar as seguintes 
recomendações: 
 O médico não pode abandonar o paciente, exceto em casos de deterioração da relação médico-paciente, desde 
que assegurada à continuidade do tratamento. 
 O paciente tem o direito de acompanhante nas consultas, internações, exames pré-natais e no momento do 
parto. Bem como recusar tratamentos dolorosos ou extraordinários para tentar prolongar a vida. 
 O paciente tem direito a um atendimento digno, atencioso e respeitoso, sendo identificado e tratado pelo nome 
ou sobrenome. 
 A criança, ao ser internada, terá em seu prontuário a relação das pessoas que poderão acompanhá-la 
integralmente durante o período de internação. 
 Consentir ou recusar, de forma livre, voluntária e esclarecida, com adequada informação, procedimentos 
diagnósticos ou terapêuticos a serem realizados. 
 É vedada a realização de exames compulsórios, sem autorização do paciente, como condição para internação 
hospitalar, exames pré-admissionais ou periódicos e ainda em estabelecimentos prisionais e de ensino. 
 O paciente tem o direito de gravar a consulta, em caso de dificuldades de entendimento. 
 O paciente pode desejar não ser informado do seu estado de saúde, devendo indicar quem deve receber a 
informação em seu lugar. Tendo o direito de uma segunda opiniãosobre o seu estado de saúde. 
 O paciente tem o direito de ter resguardado o segredo sobre dados pessoais, (sigilo profissional), desde que não 
acarrete riscos a terceiros ou à saúde pública. 
 Ter acesso ao seu prontuário médico (não podendo, entretanto, portá-lo para si, pois o prontuário pertence à 
instituição de saúde). 
 
OBS: A relação médico–paciente é de grande valor para o sucesso do tratamento e para promoção um cuidar 
humanizado. “O relacionamento médico – paciente [...]. É de extrema importância, visto que é a partir de um bom 
relacionamento médico – paciente que está o sucesso do tratamento. [...] é fundamental que haja uma boa integração do 
profissional com seu paciente, pois isto faz parte da terapêutica utilizada nesta fase. É muito importante, pois um bom 
relacionamento vai nos ajudar para o sucesso do tratamento. [...]. Procuro utilizar uma abordagem humanizada [...]. 
Necessitamos abordá-lo com atenção, paciência e carinho, ou seja, uma abordagem humanizada, isto é, numa 
perspectiva holística [...].” 
OBS²: Diante de um compromisso ético ao assistir um paciente, deve-se respeitar à sua autonomia, singularidade, 
privacidade e sigilo. “Procuro agir com respeito durante as consultas, informando sobre cada procedimento a ser 
realizado e dando a opção de aceitar ou não as ações propostas. [...]. Deve ser respeitada a autonomia do paciente 
quanto à terapêutica a ser empregada. Procuro respeitar a sua intimidade, sigilo nos assuntos abordados na consulta, 
antes de tudo, respeitando-o como ser humano e espiritual, único, com suas crenças, seus medos e preconceitos; [...]. 
Durante a assistência [...], procuro proporcionar um relacionamento de respeito à privacidade do paciente [...].” 
 
 O consentimento informado (livre) e esclarecido é composto por: competência ou capacidade, informação e 
consentimento; sendo ele validado por fornecimento de informações, compreensão, voluntariedade e consentimento. A 
relação médico-paciente está prejudicada quando há assimetria, autoritarismo, prepotência, arrogância, falta de 
segurança e determinação, desinteresse e sem perspectiva. 
 O profissional de saúde deve ter em mente que quem procura o médico busca: segurança para expor-se, 
validação de suas necessidades, aceitação pelo médico, impacto sobre o médico, iniciativa de alguém competente e 
disponível. 
 Na realidade, o médico coloca seu conhecimento a serviço do paciente, além de sua atenção, sua disposição em 
ouvir, em compreender e ajudar. Ao mesmo tempo considera seu paciente como alguém que mais conhece sua doença, 
pois é ele quem a vivência. Dessa consulta ideal, resultará uma troca e ambos sairão enriquecidos. 
 “A relação médico paciente pode aliviar ou exacerbar as ansiedades, conforme seja boa ou não” e “as palavras, 
a postura e as expressões fisionômicas do médico constituem-se, implicitamente, em psicoterapia para o paciente”. 
(Abdo, 1996) 
 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 
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SIGILO MÉDICO 
 
 Desde os tempos em que o Juramento de Hipócrates revigorava e servia como norma absoluta para o exercício 
da medicina, já se tinha uma preocupação com o sigilo que deveria haver entre o médico e o paciente: 
“O que eu no exercício ou fora do exercício e no comércio da vida, eu ver ou ouvir, que não seja necessário 
revelar, conservarei como segredo” 
“Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem 
revelados, o que terei como preceito de honra.” 
“Guardarei segredo acerca de tudo o que ouça ou veja... e não seja preciso que se divulgue, seja ou não do 
domínio da minha profissão, considerando um dever o ser discreto...” 
 
 Conclui-se, pois, que é dever do médico respeitar um “direito” do outro – o “segredo do doente”. A Declaração 
Universal dos Direitos Humanos assegura “o direito de cada pessoa ao respeito de sua vida privada”. 
 Sigilo Médico é, portanto, o silêncio que o profissional da medicina está obrigado a manter sobre fatos de que 
tomou conhecimento em face de sua profissão, com as ressalvas feitas aos casos especiais, respeitando sempre o 
princípio da Autonomia (dever de o médico respeitar o direito do paciente). 
 
 
LEGISLAÇÃO 
 
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA - CAPÍTULO I - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 
 Art. 11 - O médico deve manter sigilo quanto às informações confidenciais de que tiver conhecimento no 
desempenho de suas funções. O mesmo se aplica ao trabalho em empresas, exceto nos casos em que seu 
silêncio prejudique ou ponha em risco a saúde do trabalhador ou da comunidade. 
 Considerando a força de lei dos artigos 11, 102 e 105 do Código de Ética Médica, que vedam ao médico a 
revelação de fato de que venha a ter conhecimento em virtude da profissão, salvo justa causa, dever legal ou 
autorização expressa do paciente; 
 
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA - CAPÍTULO IX - SEGREDO MÉDICO 
 É vedado ao médico. 
 Art. 105 - Revelar informações confidenciais obtidas quando do exame médico de trabalhadores inclusive por 
exigência dos dirigentes de empresas ou instituições, salvo se o silêncio puser em risco a saúde dos 
empregados ou da comunidade. 
 Art.104 - Fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou seus retratos em anúncios 
profissionais ou na divulgação de assuntos médicos em programas de rádio, televisão ou cinema, e em artigos, 
entrevistas ou reportagens em jornais, revistas ou outras publicações leigas. 
 Art. 103 - É vedado ao médico: “Revelar segredo profissional referente a paciente menor de idade,inclusive a 
seus pais ou responsáveis legais, desde que o menor tenha capacidade de avaliar seu problema e de conduzir-
se por seus próprios meios para solucioná-lo, salvo quando a não revelação possa acarretar danos ao 
pacientes” 
 Art.107. Deixar de orientar seus auxiliares e de zelar para que respeitem o segredo profissional a que estão 
obrigados por lei. 
 
CÓDIGO PENAL 
 ART.154 CÓDIGO PENAL: Revelar alguém, sem justa causa, segredo de que tem ciência em razão de função 
de ministério, ofício ou profissão e cuja revelação possa produzir dano a outrem. PENA: detenção de 3 meses a 
1 ano. 
 
 Portanto, o que já era uma imposição moral, passou a se constituir realmente um direito, a partir da Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, cujo Art. XII trata do direito a não interferência na vida pessoal ou familiar, o que se 
estende à questão do sigilo profissional. No Brasil, o sigilo e a privacidade da informação são garantidos pelo Código 
Penal, que relata, em seu Art. nº 154, o crime de violação do segredo profissional, e pelo Código Civil, em cujo Art. nº 
229, determina que ninguém pode ser obrigado a depor acerca de um fato que se constitua um segredo de Estado ou 
profissão. Já o Código de Ética Médica, através da Resolução CFM nº 1931/2009, nos Art. nº 73 e nº 79, aborda as 
situações em que é vedada ao médico a revelação de informações, considerando que a quebra do sigilo deva ocorrer 
somente por justa causa, dever legal ou autorização expressa do paciente. Sendo assim, o sigilo é considerado um 
dever inerente ao desempenho da atividade médica, e sua violação se caracteriza como uma infração ética, penal e civil. 
 
Arlindo Ugulino Netto. 
BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 2016 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 
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 A quebra de sigilo é, portanto, caracterizada como uma grave ofensa à liberdade do individuo, uma agressão a 
sua privacidade. A quebra caracteriza-se por: 
 Existência de um segredo 
 Conhecê-lo em razão de função, ofício, ministério ou profissão 
 Ausência de motivos relevantes 
 Possibilidade de dano a outrem 
 Existência de dolo 
 
 Há situações especiais na quebra do segredo. Quando envolver os seguintes fatores: em causa própria; 
estudantes de medicina; revelação ao paciente; segredo post mortem; segredo e perícia médica; requisição de 
prontuários; informação à autoridade sanitária;segredo compartido; revelação de crime. 
 A confidencialidade é dever do médico. O médico deve garantir o resguardo das informações dadas em 
confiança, deixando clara a proteção ao segredo contra a sua revelação não autorizada. A quebra de 
confidencialidade consiste em revelar ou deixar revelar informações fornecidas em confiança. 
 
OBS
1
: Quando a consulta se tratar de um operário a ser avaliado para um determinado serviço, o médico que presta 
serviços à empresa está proibido de revelar o diagnóstico de funcionário ou candidato a emprego, cabendo-lhe informar, 
exclusivamente, quanto à capacidade ou não de exercer determinada função, ou seja, informar ao contratante se o 
operário é apto ou não apto para o emprego. 
 
 
A IMPORTÂNCIA DO SIGILO NA RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE 
A relação médico-paciente pode ser vista como um processo interativo, que se fundamenta nos princípios de 
privacidade, confidencialidade e comunicação privilegiada, que estão vinculados à garantia da discrição profissional e 
aos direitos individuais e de autodeterminação do paciente, onde se insere a sua liberdade de escolha do que deve ser 
privado. 
O direito do paciente à privacidade se justifica, portanto, com base em três argumentos: 1) A privacidade se 
constitui um direito pessoal e de propriedade, que é violado quando ocorre o acesso desautorizado a essa pessoa ou a 
informações referentes a ela; 2) A privacidade tem valor instrumental, uma vez que serve para a criação e a manutenção 
de relações sociais íntimas e para a expressão da liberdade pessoal, sendo necessária para o estabelecimento da 
confiança entre o médico e o paciente; 3) A privacidade se justifica pelo respeito à autonomia do paciente e consiste em 
um exercício de autodeterminação. 
É possível considerar, então, que o sigilo é um fator de suma importância na relação médico-paciente, pois a 
informação, em saúde, é vista como um dos dados mais íntimos que se pode ter acerca de uma pessoa. 
Destarte, é possível afirmar que o relacionamento entre o médico e seu paciente se constrói com base na 
compreensão mútua e na verdade, por meio da relação de confidencialidade em que o médico conta com o 
compromisso do paciente para revelar as informações necessárias, e o paciente espera do médico o seu compromisso 
com o sigilo, o que faz da confiança um elemento essencial nessa relação. 
 
 
LIMITES DO SEGREDO MÉDICO 
 Em determinados casos, a quebra do sigilo profissional também é uma obrigação legal atribuída aos médicos, 
como estabelece o Art. nº 269 do Código Penal, para a notificação compulsória de alguns casos de doenças 
transmissíveis: 
CÓDIGO PENAL 
 Art. 269 Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória. Pena: 
detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
 
 Um exemplo de situação em que o médico tem o dever de denunciar são os casos de suspeita ou confirmação 
de maus-tratos contra uma criança ou um adolescente, como se verifica no Art. nº 245 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente: 
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
 Art. 11. O médico guardará sigilo a respeito das informações de que tenha conhecimento no desempenho de 
suas funções, com exceção dos casos previstos na lei. 
 
 Além dessas, determinadas obrigações de ofício também impõem limitações à confidencialidade, como a 
atuação em instituições que têm responsabilidade com os pacientes e seus empregadores. Nesses casos, o Código de 
Ética Médica (2009), diz em seu Artigo 11: 
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA - CAPÍTULO I – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS 
 XI - O médico guardará sigilo a respeito das informações de que detenha conhecimento no desempenho de 
suas funções, com exceção dos casos previstos em lei. 
 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 
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 Tomando por base os princípios orientadores da conduta profissional da bioética principialista, proposta por 
Beauchamp e Childress, para fundamentar eticamente a quebra de confidencialidade, essa ruptura somente pode ser 
admitida considerando-se quatro condições gerais: 
 Quando houver alta probabilidade de acontecer sério dano físico a uma pessoa identificável e específica, 
estando, portanto, justificada pelo princípio da não-maleficência; 
 Quando um benefício real resultar da quebra de sigilo, baseando-se essa decisão no princípio da beneficência; 
 Quando for o último recurso, depois de esgotadas todas as abordagens para o respeito ao princípio da 
autonomia; 
 Quando a mesma decisão de revelação puder ser utilizada em outras situações com características idênticas, 
independentemente da posição social do paciente, contemplando o princípio da justiça e fundamentado no 
respeito pelo ser humano, tornando-se um procedimento generalizável. 
 
 A partir desses princípios, é possível concluir que o segredo médico deve ser rompido apenas quando houver 
risco de dano físico ao paciente, quando resultar em um benefício maior para ele, em caso de não haver outra 
possibilidade que permita o respeito ao princípio da autonomia, e quando o caso sigiloso puder ser generalizado e 
implicar no benefício a outras pessoas. Desse modo, a quebra do sigilo se justifica apenas em situações bastante 
específicas e necessárias, o que faz com que a publicidade de informações dos pacientes, em outras circunstâncias, 
implique nas repercussões penais que serão apresentadas a seguir. 
 
 
IMPLICAÇÕES PENAIS 
 O paciente tem o direito à inviolabilidade dos seus segredos, resguardado jurídica e penalmente, para que possa 
ter as suas condições pessoais protegidas do conhecimento prejudicial de terceiros. Sendo assim, a quebra do sigilo 
médico constitui-se um crime contra a liberdade individual, haja vista que a obrigatoriedade do sigilo busca justamente 
proteger a privacidade daquelas pessoas que, por necessidade, tiveram que confidenciar certos fatos de sua intimidade, 
que precisam ser mantidos sob sigilo. 
 Convém ressaltar que, pela legislação penal, a quebra do sigilo médico, quando repercute em danos ao seu 
paciente, é passível de punição, de acordo com o mencionado Art. nº 154 do Código Penal Brasileiro, que trata do crime 
de violação de segredo profissional, e já foi apresentado neste capítulo. 
Ainda é preciso salientar que o ato criminoso pode se caracterizar tanto pelo caráter doloso, em que existe a 
intenção de praticar o crime, quanto pelo caráter culposo, quando o agente não tem o intuito de praticar crime algum, 
mas acaba por cometê-lo por imprudência, negligência ou imperícia, sendo possível, então, considerar que a violação de 
segredo profissional é uma infração penal tipicamente dolosa, haja vista que se configura apenas mediante a vontade 
livre e consciente do médico de revelar o segredo de que tem conhecimento devido à atividade que exerce. 
É importante ressaltar que a existência de uma justa causa deixa de configurar a quebra do sigilo como um 
crime, como é o caso da notificação de doença infectocontagiosa à saúde pública ou da comunicação à autoridade 
policial competente de crimes sujeitos à ação pública, desde que não exponha o seu paciente a um procedimento 
criminal. Ainda no caso de o paciente ser uma possível vítima de crime de ação pública, a comunicação se torna 
obrigatória, uma vez que a proteção da integridade do paciente passa a ser uma obrigação do médico. 
Outra situação em que a manutenção do segredo profissional deixa de ser obrigatória é quando o paciente 
consente a sua quebra, pelo fato de esse consentimento ser necessário para autorizar o médico a depor em juízo como 
testemunha, ficando essa revelação sujeita também à intenção do profissional em manter o sigilo ou não. Por outro lado, 
a revelação de informações sigilosas, por meio de conversas entre o médico e seus colegas, não se configura em crime, 
apesar de ser uma conduta reprovável eticamente. 
 
OBS
2
: Imperativo legal: O médico que nessa qualidade seja devidamente intimado como testemunha ou perito deverá 
comparecerem tribunal, mas não poderá prestar declarações ou produzir depoimentos sobre matéria de segredo 
profissional. 
 
 Portanto, a revelação do segredo profissional só é permitida quando: 
 Imposta por Lei; 
 Autorizada pelo interessado; 
 Esclarecido pedido pelos representantes legais por “justa causa”. 
 
 Há casos de escusa de segredo: “Excluem o dever de segredo profissional quando há consentimento do doente 
ou seu representante, desde que a revelação não prejudique terceiras pessoas com interesse na manutenção do 
segredo.” O segredo pertence ao paciente, o médico é apenas o depositário de uma confidência. 
 
 
Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 
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ABORTAMENTO 
 
Abortamento é a interrupção da gravidez antes que o feto se torne viável, ou seja, antes que tenha condições de 
vida extrauterina. Em lugar de abortamento, é comum o uso do termo aborto, que, a rigor, designa o próprio feto morto 
em consequência de sua expulsão do útero. Aborto (do latim, abortus; ab = privação + ortus = nascimento) é o tema 
mais discutido dentro da bioética, ainda que não tenham ocorridos avanços substanciais sobre a questão ultimamente. 
No sentido etimológico, aborto quer dizer privação de nascimento. Advém de ab, que significa privação, e ortus, 
nascimento. A palavra abortamento tem maior significado técnico que aborto. Aquela indica a conduta de abortar; esta, o 
produto da concepção cuja gravidez foi interrompida. 
O tema “aborto” envolve uma gama de assuntos a serem conceituados e discutidos. Vejamos agora alguns 
conceitos quanto ao tema: 
 Conceito obstétrico de aborto: Interrupção da gravidez, espontânea ou provocada, até a 20ª ou 22ª semana, 
ou até o feto atingir 500 g, ou até atingir 25 cm. O aborto obstétrico, também considerado espontâneo, não tem 
interesse legal, uma vez que é um fato natural. Depois desse período, o concepto morto é considerado 
natimorto. Busca-se, por tanto, traçar um binômio materno-fetal, estando relacionado com a viabilidade fetal. 
 Conceito médico-legal de aborto: Interrupção dolosa da gravidez, antes do seu termo, independente da idade 
gestacional. Busca-se, portanto, preservar a vida do concepto independente de qual fase o mesmo passa na 
gestação. 
 Aborto criminoso: aborto provocado dolosamente (vontade deliberada de obter um resultado) pela mãe, por 
terceiro com o consentimento da mãe, ou por um terceiro sem o consentimento da mãe. 
 Nascimento: É a completa expulsão ou extração, do organismo materno, de um feto, independentemente do 
fato de o cordão ter sido cortado ou de a placenta estar inserida. Fetos pesando menos de 500g não são viáveis 
e, portanto, não são considerados como nascimento para fins de estatísticas perinatais. Na ausência de peso de 
nascimento, a idade gestacional de 20 - 22 semanas completas é considerada equivalente a 500g. Quando não 
se sabe nem o peso nem a idade gestacional, o comprimento de 25cm (crânio - calcanhar) é considerado 
equivalente a 500g. 
 Natimorto: É o produto do nascimento de um feto morto. Considera-se feto morto aquele que nasce pesando 
mais de 500g e que não tem evidência de vida depois de nascer. Para fins de cálculos estatísticos de taxa de 
mortalidade perinatal para comparação internacional, somente se incluirão fetos mortos que pesam 1000g ou 
mais ao nascer. 
 Morte Fetal: é a morte do produto da concepção, ocorrida antes da sua completa expulsão ou extração do 
organismo materno, independentemente do tempo de gestação. A morte é indicada pelo fato de que, depois da 
separação, o feto não respira nem mostra qualquer outro sinal de vida, como batimentos cardíacos, pulsações 
do cordão umbilical ou movimentos de músculos voluntários. 
 Nascido vivo: A vida é considerada presente ao nascimento quando o RN respira ou mostra qualquer outra 
evidência vital, tal como: batimento cardíaco, pulsação do cordão umbilical ou movimentos efetivos da 
musculatura voluntária. 
 
A vida, no Brasil, por tanto, é protegida desde a nidação (implantação). No âmbito jurídico, a definição do aborto 
encontra-se na remansosa doutrina, associação entre a interrupção da gravidez com a morte do produto da concepção, 
em qualquer fase do ciclo gravídico. Com muita propriedade podemos destacar o conceito de aborto na doutrina de 
Mirabete: ”O aborto é a interrupção da gravidez com a morte do produto da concepção, que pode ser ovo, embrião ou o 
feto, conforme a fase de sua evolução. Pode ser espontânea, natural ou provocado, sendo nesse último caso criminoso, 
exceto se praticado em uma das formas do art. 128.” 
 
 
MODALIDADES DE ABORTO 
 Eugênico: consiste em interromper a gestação quando o feto for portador de graves anomalias fetais tanto físicas 
como psíquicas, que torne a vida extra-uterina do produto da concepção inviável, este tipo de aborto não é 
previsto na legislação. Ainda é tido como aborto criminoso. 
 Social: Ainda é tido como aborto criminoso. 
 Sentimental ou humanitário: permitido pela legislação penal brasileira, e consiste em interromper a gestação pois 
esta foi fruto de uma violência sofrida pela gestante, tal gravidez não era planejada e tão pouco querida porem 
com o ato sexual forçado adveio a gestação, tal aborto é previsto e legalizado afim de zelar pela saúde mental 
da gestante. É tido como aborto legal. 
 Terapêutico ou necessário: consiste em interromper a gestação quando esta traz riscos fundados a gestante, 
pois tutela-se um bem jurídico já existente ao invés de tutelar uma expectativa. É tido como aborto legal. Os 
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BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 2016 
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requisitos para este aborto são: a mãe deve ser acometida de uma doença que seja agravada ainda mais com o 
decorrer da gravidez, pondo a mãe em um estado de perigo de vida. Para que o aborto seja necessário e 
autorizável, este deve responder, de fato, á melhoria na saúde da mãe. Mesmo diante disso, o parecer deve ser 
assinado por mais de um médico (junta médica, de número ímpar). 
Ex: Paciente com estenose mitral, apresentando edema agudo de pulmão, entubada na UTI, quadro este 
agravado ainda mais com a situação hemodinâmica que apresenta na gravidez. Todos os procedimentos 
possíveis foram realizados, mas sem sucesso. Por estar em perigo de vida (se não houver intervenção médica, o 
quadro evolui para óbito) deve-se praticar o aborto, independente da vontade da mãe ou da família. 
Ex²: Paciente grávida sofreu uma facada no tórax com atelectasia pulmonar. A paciente estava em risco de vida. 
Deveria ser feito uma cirurgia com expansão pulmonar, mas com grande risco ao feto. A paciente pode optar em 
não fazer a cirurgia para tentar manter a gravidez. 
 Espontâneo ou natural: fator patológico onde o próprio corpo da mulher expulsa o feto, sem a ajuda ou a 
querência da gestante ou de terceiro tal aborto não é cabível de punição pois é algo que ocorre naturalmente 
sem a influencia do homem. 
 
OBS1: De maneira geral, existem duas grandes correntes com relação ao aborto. Uma parte entende que a vida é 
heterônima, ou seja, que não cabe a nós decidir a cerca da vida de um ser, sendo baseada em aspectos religiosos, e 
tomando como fundamento a santidade da vida, o aborto é crime. Por outro lado, há quem pense que a mulher tem 
autonomia reprodutiva, de modo que a vida seja tangível, e o aborto é uma pratica inteiramente neutra. Esta hipótese 
que é importante para a ética médica. 
 
 
LEGISLAÇÃO 
 
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA - CAPÍTULO III - RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL 
 Art. 15. Descumprir legislação específica nos casos de transplantes de órgãos ou de tecidos, esterilização, 
fecundação artificial, abortamento, manipulação ou terapia genética. [O CEM só faz essa menção sobre aborto: 
remete o aborto a uma legislação que está fora do CEM, estando então no Código Penal] 
 
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA - CAPÍTULO I - PRINCÍPIOSFUNDAMENTAIS 
 VI - O médico guardará absoluto respeito pelo ser humano e atuará sempre em seu benefício. Jamais utilizará 
seus conhecimentos para causar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para 
permitir e acobertar tentativa contra sua dignidade e integridade. 
 
Em face do Código de Ética Médica, o médico não pode tomar nenhuma posição com relação ao aborto, uma 
vez que este remete o aborto a uma legislação específica - o Código Penal Brasileiro, que admite o aborto em duas 
hipóteses: na modalidade sentimental e terapêutica (necessário). 
Em nenhum momento, o Código Penal protege a hipótese de aborto com embriões anencefálicos. Qualquer 
decisão judicial ou posicionamento que esteja a favor em casos de anencefalia, está indo de encontro à lei penal. 
 
CÓDIGO PENAL 
 Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento: 
Art. 124. Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque. PENA: detenção, de um a três 
anos. 
 Aborto provocado por terceiro 
Art. 125. Provocar aborto, sem consentimento da gestante. PENA: reclusão, de três a dez anos. [o médico que 
pratica aborto fora das hipóteses legais está descumprindo o artigo 125 do Código Penal Brasileiro] 
Art. 126. Provocar aborto com o consentimento da gestante. PENA: reclusão, de um a quatro anos. 
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada 
ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude (sem o consentimento), grave ameaça ou 
violência. 
Art. 127. As penas combinadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência 
do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são 
duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevem a morte. 
Art. 128. Não se pune o aborto praticado por médico: 
 Aborto necessário 
 I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; 
 Aborto no caso de gravidez resultante de estupro 
 II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando 
incapaz, de seu representante legal. [tem-se dois valores: a integridade moral da mulher a vida do concepto, 
sendo o primeiro valor predominante para a lei] 
 
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OBS2: Para a mulher provar que foi estuprada, não necessita de absolutamente nada, nenhuma prova ou documento. O 
CFM orienta apenas o médico que solicite um boletim de ocorrência para transparecer a situação. 
OBS3: Mesmo o médico tendo valores contra o aborto, ele deverá interromper a gestação ou realizar uma curetagem em 
uma gestante caso a mesma corra perigo de morte e ele seja o único profissional disponível naquela localidade, naquele 
momento. 
 
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BIOÉTICA E CLONAGEM 
 
Clonagem é a produção de indivíduos geneticamente iguais. É um processo de reprodução assexuada que 
resulta na obtenção de cópias geneticamente idênticas de um mesmo ser vivo – micro-organismo, vegetal ou animal. 
Têm-se vários tipos de clonagem: 
 Clonagem reprodutiva: Uma das técnicas básicas usadas por cientistas é a transferência nuclear da celula 
somática (SCNT). Como o nome da técnica implica, a transferência de uma célula somática está envolvida 
neste processo. Esta célula somática é introduzida, então, numa célula retirada de um animal (ou humano), logo 
depois da ovulação. Antes de introduzir a célula somática, o cientista deve remover os cromossomos, que 
contêm genes e funcionam para continuar a informação hereditária, da célula recipiente. Após ter introduzido a 
célula somática, as duas células fundem. Ocasionalmente, a célula fundida começará a tornar-se como um 
embrião normal, produzindo a prole se colocada no útero de uma mãe-de-aluguel para um desenvolvimento 
mais adicional. 
 Clonagem terapêutica: via desenvolver técnicas, a partir de células embrionárias, para criar tecidos. Essa 
técnica tem como objetivo produzir uma cópia saudável do tecido ou do órgão de uma pessoa doente para 
transplante. As células-tronco embrionárias são particularmente importantes porque são multifuncionais, isto é, 
podem ser diferenciadas em diversos tipos de células. Podem ser utilizadas no intuito de restaurar a função de 
um órgão ou tecido, transplantando novas células para substituir as células perdidas pela doença, ou substituir 
células que não funcionam adequadamente devido ao defeito genético. 
 
 
Células totipotentes embrionárias são tratadas em culturas, induzidas à diferenciação em certos tecidos e 
aplicadas nos mesmos, sendo capazes de reconstituí-los. Isso mostra a importância terapêutica das pesquisas com 
células tronco. 
As pesquisas são feitas com embriões frutos de fertilizações in vitro, de modo que sejam fecundados inúmeros 
embriões, mas apenas cerca de 4 deles serão implantados no útero materno. O restante dos embriões não-implantados 
serão congelados para uma futura utilização, caso a primeira implantação não obtenha sucesso. Os embriões 
congelados, portanto, pertencem a quem doôu o material: o pai e a mãe. O fato é que, embriões congelados por mais de 
três anos apresentam uma alta incidência de insucesso ou de má formação. Com isso, do ponto de vista técnico, após 
três anos de congelamento, os embriões são desprezados. 
Viável seria, ao invés de desprezar esses embriões (atentado contra a vida), utilizá-los para pesquisas quanto às 
células tronco. O artigo 5 da Lei 11.105 garantiu a possibilidade de realizar estudos utilizando os embriões que 
possivelmente seriam desprezados. 
 
OBS: Em termos práticos (e não em termos legislativos), o início da vida tem sido baseado a partir do momento da 
nidação. 
 
LEGISLAÇÃO 
LEI Nº 11.105 DE 24 DE MARÇO DE 2005 - LEI DE BIOSSEGURANÇA 
 Art. 5o É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de 
embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as 
seguintes condições: 
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I – sejam embriões inviáveis; ou 
II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já 
congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de 
congelamento. 
§ 1o Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores. 
§ 2o Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia com células-tronco 
embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês 
de ética em pesquisa. 
 
 Logo, a clonagem terapêutica, no Brasil é permitida a partir do Artigo 5 da Lei 11.105. Já a pesquisa sobre 
clonagem reprodutiva ainda não tem fundamento, sendo vedada, uma vez que não se sabe as consequências para o 
eventual clone. 
 
 
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REPRODUÇÃO ASSISTIDA 
 
Ao conjunto de técnicas que auxiliam o processo de reprodução humana foi dado o nome de técnicas de 
reprodução assistida (TRA). Para essas técnicas, há métodos de baixa complexidade, como o coito programado e a 
inseminação intrauterina (IIU, que consiste na aplicação do sêmen no aparelho genial feminino). Já um método de alta 
complexidade é a injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI), em que há uma seleção do espermatozoide e 
sua aplicação direta, por meio de uma pipeta, no óvulo, para só depois ser implantado no útero materno. 
 
 
CONCEITOS 
 Definição de infertilidade: ausência de gravidez após 1 ano de tentativas sem a utilização de métodos 
anticoncepcionais. 
 Principais causas: 
 Fator masculino(35%) 
 Fator tuboperitoneal (35%) 
 Anovulação (15%) 
 
 
LEGISLAÇÃO 
RESOLUÇÃO DO CFM Nº 1.358 DE 1992 
Resolve: 
 Art. 1º - Adotar as NORMAS ÉTICAS PARA A UTILIZAÇÃO DAS TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO 
ASSISTIDA, anexas à presente Resolução, como dispositivo deontológico a ser seguido pelos médicos. 
 Art. 2º - Esta Resolução entra em vigor na data da sua publicação. 
 
I - PRINCÍPIOS GERAIS 
 1 - As técnicas de Reprodução Assistida (RA) têm o papel de auxiliar na resolução dos problemas de 
infertilidade humana, facilitando o processo de procriação quando outras terapêuticas tenham sido ineficazes ou 
ineficientes para a solução da situação atual de infertilidade. [Logo, as técnicas devem ser utilizadas apenas em 
pessoas com problemas de infertilidade] 
 2 - As técnicas de RA podem ser utilizadas desde que exista probabilidade efetiva de sucesso e não se incorra 
em risco grave de saúde para a paciente ou o possível descendente. 
 3 - O consentimento informado será obrigatório e extensivo aos pacientes inférteis e doadores. Os aspectos 
médicos envolvendo todas as circunstâncias da aplicação de uma técnica de RA serão detalhadamente 
expostos, assim como os resultados já obtidos naquela unidade de tratamento com a técnica proposta. As 
informações devem também atingir dados de caráter biológico, jurídico, ético e econômico. O documento de 
consentimento informado será em formulário especial, e estará completo com a concordância, por escrito, da 
paciente ou do casal infértil. [Tanto os doadores quanto o casal infértil têm que consentir quanto a utilização da 
Técnica RA, isso por um consentimento livre e esclarecido pautado na autonomia do paciente, de modo claro e 
suficiente, ou seja: deve conhecer a técnica, seus riscos e complicações, bem como as chances de insucesso 
da técnica]. 
 4 - As técnicas de RA não devem ser aplicadas com a intenção de selecionar o sexo ou qualquer outra 
característica biológica do futuro filho, exceto quando se trate de evitar doenças ligadas ao sexo do filho que 
venha a nascer. 
 5 - É proibido a fecundação de o ócitos humanos, com qualquer outra finalidade que não seja a procriação 
humana. [Visa evitar a multiparidade que é um risco potencial para a mãe. Caso haja uma multiparidade de 
risco, há a chamada cirurgia de redução, que no Brasil, é considerado aborto criminoso, por tanto, trata-se de 
uma prática vedada. Essa prática não é considerada aborto legal pois a mãe não está em um quadro de perigo 
de vida, mas sim, risco] 
 6 - O número ideal de oócitos e pré-embriões a serem transferidos para a receptora não deve ser superior a 
quatro, com o intuito de não aumentar os riscos já existentes de multiparidade. 
 7 - Em caso de gravidez múltipla, decorrente do uso de técnicas de RA, é proibida a utilização de 
procedimentos que visem a redução embrionária. 
 
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BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 2016 
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ESTERILIZAÇÃO 
 
A esterilização é a retirada total de condições de reprodução da vida, seja a que nível for. Assim, o processo de 
esterilização compreende aquela realizada em materiais cirúrgicos que serão utilizados em seres humanos pelo médico, 
como compreende também os métodos cirúrgicos realizados para evitar a gravidez. 
 
 
LEGISLAÇÃO 
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA - CASA CIVIL - CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 
§ 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento 
familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o 
exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. 
 
LEI Nº 9.263, DE 12 DE JANEIRO DE 1996 
Regula o § 7º do art. 226 da Constituição Federal, que trata do planejamento familiar, estabelece penalidades e dá 
outras providências. 
 Art. 1º O planejamento familiar é direito de todo cidadão, observado o disposto nesta Lei. 
 Art. 2º Para fins desta Lei, entende-se planejamento familiar como o conjunto de ações de regulação da 
fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo 
homem ou pelo casal. 
 Art. 10. Somente é permitida a esterilização voluntária nas seguintes situações: (Artigo vetado e mantido pelo 
Congresso Nacional - Mensagem nº 928, de 19.8.1997) 
I - em homens e mulheres com capacidade civil plena e maiores de vinte e cinco anos de idade ou, pelo 
menos, com dois filhos vivos, desde que observado o prazo mínimo de sessenta dias entre a manifestação 
da vontade e o ato cirúrgico, período no qual será propiciado à pessoa interessada acesso a serviço de 
regulação da fecundidade, incluindo aconselhamento por equipe multidisciplinar, visando desencorajar a 
esterilização precoce; [Capacidade civil determina alguém que está no gozo de saúde mental, tendo capacidade 
de manifestar validamente a sua vontade] [A decisão de esterilização, pela mãe, só pode acontecer depois do 
ato cirúrgico, uma vez que o momento da gravidez envolve uma série de alterações psicológicas para a mulher 
onde esse consentimento não é tido como válido] 
II - risco à vida ou à saúde da mulher ou do futuro concepto, testemunhado em relatório escrito e assinado por 
dois médicos [Caso a equipe médica chegue ao consentimento que o útero da gestante, após um parto, não 
seja capaz de suportar uma nova gestação, a esterilização pode ser uma opção, atendendo é claro a autonomia 
da paciente, pois a situação é de risco e não perigo] 
§ 1º É condição para que se realize a esterilização o registro de expressa manifestação da vontade em 
documento escrito e firmado, após a informação a respeito dos riscos da cirurgia, possíveis efeitos 
colaterais, dificuldades de sua reversão e opções de contracepção reversíveis existentes. 
§ 2º É vedada a esterilização cirúrgica em mulher durante os períodos de parto ou aborto, exceto nos casos 
de comprovada necessidade, por cesarianas sucessivas anteriores. 
§ 3º Não será considerada a manifestação de vontade, na forma do § 1º, expressa durante ocorrência de 
alterações na capacidade de discernimento por influência de álcool, drogas, estados emocionais alterados 
ou incapacidade mental temporária ou permanente. 
§ 4º A esterilização cirúrgica como método contraceptivo somente será executada através da laqueadura 
tubária, vasectomia ou de outro método cientificamente aceito, sendo vedada através da histerectomia e 
ooforectomia. 
§ 5º Na vigência de sociedade conjugal, a esterilização depende do consentimento expresso de ambos os 
cônjuges [Sendo o consentimento do casal por escrito] 
§ 6º A esterilização cirúrgica em pessoas absolutamente incapazes somente poderá ocorrer mediante 
autorização judicial, regulamentada na forma da Lei. 
 
 
A esterilização cirúrgica constitui-se no único método de contracepção definitiva, sendo definido como método 
irreversível. As técnicas laparoscópicas para as mulheres e a vasectomia para os homens vêm sendo empregadas com 
frequência cada vez maior. 
Nas provas de residência médica, o que mais é cobrado é a identificação da paciente que pode ser submetida a 
contracepção cirúrgica. Para essa questão, devemos tomar nota da legislação brasileira. Na teoria, no Brasil, devemos 
Arlindo Ugulino Netto. 
BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 2016 
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%209.263-1996?OpenDocument
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considerar que a lei não é restritiva para a realização da esterilização, mas sim, é abrangente, pois o Brasil, diante de 
suas condições socioeconômicas, não pode ser dar ao luxo que os casais tenham muitos filhos. Note que a legislação é 
bastante clara nessa abrangência. 
 
LEI 9263 DE 12/01/1996 
Somente é permitida a esterilizaçãovoluntária nas seguintes situações: 
I. Em homens e mulheres com capacidade civil plena e maiores de 25 anos ou (e não “e”) pelo menos, com 2 
filhos vivos, desde que observado o prazo mínimo de 60 dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico, 
período no qual será propiciado à pessoa interessada acesso a serviço de regulação da fecundidade, incluindo 
aconselhamento por equipe multidisciplinar, visando desencorajar a esterilização precoce. 
II. Risco de vida ou à saúde da mulher ou do futuro concepto, testemunhado em relatório escrito e assinado por 
dois médicos. 
 
Outra pergunta frequente é sobre o momento ideal para ligar as trompas da paciente. O que se vê muito na 
prática é a realização da ligação no mesmo ato da cesárea. Isso, entretanto, é uma conduta que deve ser desestimulada 
(inclusive, é considerada crime). É, portanto, proibido ligar as trompas da paciente durante o ciclo gravídico-puerperal: é 
necessário esperar cerca de 42 dias após o parto ou o aborto para ligar a trompa. Esse intervalo é dado porque a 
paciente pode mudar de ideia e se arrepender da decisão tomada durante o período de gestação. 
 
Artigo 4: Parágrafo único. 
É vedada a esterilização cirúrgica em mulher durante os períodos de parto, aborto ou até o 42º dia de pós-parto ou 
aborto, exceto nos casos de comprovada necessidade, por cesarianas sucessivas anteriores, ou quando a mulher for 
portadora de doença de base e a exposição a segundo ato anestésico ou cirúrgico representar maior risco para sua 
saúde. É necessário relatório escrito e assinado por dois médicos. 
 
Portanto, em resumo, a paciente que pode ser submetida à esterilização definitiva é aquela que tenha: 
 ≥25 anos OU ≥ 2 filhos vivos; contanto que: 
 Seja longe do dia do parto e do puerpério; 
 Haja um consentimento do casal; 
 > 60 dias entre a vontade e a cirurgia. 
 
OBS1: Exceções à regra para que a laqueadura possa ser realizada no mesmo ato da cesárea são: risco de morte da 
gestante e cesáreas de repetição. 
 
 
ESTERILIZAÇÃO FEMININA 
Pode ser realizada no momento de uma laparotomia para uma cesariana ou para uma outra cirurgia no abdome. 
O local ideal para o procedimento é a região ístmica. 
 Minilaparotomia após parto vaginal: no período pós-parto imediato, a posição em que se encontram as trompas 
facilita o procedimento, que é realizado através de uma incisão infra ou transumbilical (ou técnica de Sauter). É 
importante frisar que a legislação brasileira vigente não prevê a laqueadura neste período, salvo em raras 
exceções. 
 Minilaparotomia no intervalo: é geralmente realizada como um procedimento ambulatorial com incisão 
suprapúbica transversal. 
 Laparoscopia: procedimento que requer anestesia geral. 
 
 
ESTERILIZAÇÃO MASCULINA 
A vasectomia é realizada sob anestesia local e consiste na ressecção do ducto deferente. Apresenta índice de 
Pearl entre 0,1 a 0,15% homens/ano. 
As principais complicações incluem epididimite congestiva, hematoma do escroto e infecção da ferida operatória. 
Não se associa a aumento de incidência de câncer de próstata (como se acreditava antigamente), câncer de testículo, 
urolitíase ou aterosclerose. 
Importante lembrar que o procedimento não causa impotência, e aconselha-se o uso de preservativo ou outro 
método contraceptivo nos três primeiros meses do pós-cirúrgico, pois pode haver espermatozoides presentes no 
ejaculado durante este período. 
 
OBS2: A princípio, a laqueadura e a vasectomia são métodos considerados como irreversíveis. 
 
 
 
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TERMINALIDADE DA VIDA 
 
 Desde que a medicina se tornou um ato profissional, o tema “terminalidade da vida” tem sido foco de muitos 
debates e estudos, uma vez que, diante de um paciente com quadro patológico, em grande parte das vezes, a morte é 
um desfecho natural. 
 A morte vem sendo relacionada, ao longo dos séculos, a um contexto religioso como consequência do pecado. 
Esse ponto de vista não será abordado no nosso estudo. Do ponto de vista médico, a morte é um processo natural do 
desenvolvimento de patologias. É dever do medico – ou pelo menos o objetivo dele – tentar evitar ao máximo, de todas 
as maneiras possíveis (quando existem), esse quadro final. 
 Com os avanços das técnicas de saúde nos tempos atuais e aumento da expectativa de vida, principalmente 
quando se compara às pestes e epidemias da Idade Média, acredita-se que a medicina tornou-se superior à morte. Com 
isso, criou-se o seguinte dilema: a morte é um fracasso da medicina ou do médico? Já houveram muitos casos em que 
familiares de pacientes que evoluíram a óbito denunciaram médicos ao CRM por não conseguirem salvar a vida do seu 
ente, mesmo quando este já estava em estado terminal. 
 A morte, em face desta impressão que se tem de que a medicina alcançou poderes capazes de lutar contra ela, 
põe o médico como um verdadeiro guerreiro e protetor, cujo objetivo é fundamentado no ato de lutar contra a morte e 
evitá-la ao máximo. 
 Porém, nosso estudo aplicará a medicina em um “meio-termo”: nem admitir que a medicina não é infalível, ou 
seja, há determinadas situações em que ela não terá mais nenhum recurso a oferecer ao paciente (salvo conforto e 
alívio); nem admitir que a morte sempre será um adversário a ser combatido. Observe algumas visões literárias acerca 
da morte, em que o primeiro relata o quão mórbido o assunto “morte” é tido hoje em dia e, o segundo, relatando a sua 
visão sobre a morte que, no seu caso, viria a ser um alívio. 
 
“Aquilo que verdadeiramente é mórbido não é falar da morte, 
mas nada dizer acerca dela, como hoje sucede.” 
(Philippe Ariès) 
 
"Tome Dr. esta tesoura e corte, 
A minha singularíssima pessoa, 
O que me importa que a bicharada roa, 
Todo meu coração depois da morte..." 
(Augusto dos Anjos, A MORTE) 
 
 
TERMINALIDADE DA VIDA 
 Esta questão de terminalidade da vida se coloca, principalmente, diante das seguintes situações: 
 Pacientes terminais 
 Pacientes em estado vegetativo continuado 
 Pacientes em estado vegetativo permanente 
 Pacientes em morte encefálica (essa temática não será abordada neste contexto uma vez que, segundo a 
maioria dos autores, a morte encefálica é considerada como um quadro irreversível; não será necessário, 
portanto, tratar os aspectos éticos relativos a terminalidade da vida que, neste caso, já se encerrou). 
 
PACIENTE TERMINAL 
 Como paciente terminal entende-se aquele que não responde mais a nenhuma medida terapêutica conhecida e 
aplicada, sem condições, portanto, de cura ou de prolongada sobrevivência. É terminal, portanto, aquele paciente que 
apresenta duas características fundamentais: a incurabilidade e o fracasso terapêutico dos recursos médicos (Professor 
Genival Veloso de França) de modo que a morte seja um desfecho iminente (deve-se fazer ressalva à morte como um 
quadro quase que inevitável, nestes casos, pois há pacientes que se enquadram nessas características de insucesso 
terapêutico e incurabilidade, mas que não apresentam risco de morte eminente, como, por exemplo, pacientes com 
artrose). 
 Por um conceito mais didático, paciente terminal é aquele que não pode mais ser curado ou salvo ou acometido 
por doença grave e incurável para os conhecimentos médicos atuais, cuja morte se mostra, em face da evolução 
natural do mal, iminente. 
 No caso de pacientes terminais, ocorre uma inversão no quadro de expectativa terapêutica em que, ao invés de 
fazer uso de meios para tratar do alívio dos sintomas do paciente terminal no intuito de levá-lo a cura, deve-se realizar 
apenas um procedimento de alívio do sofrimento do paciente, preparando para um final que, na sua visão, pode não ser 
o agradável ou esperado. 
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PACIENTES EM ESTADO VEGETATIVO CONTINUADO 
 Paciente em quadro de estado vegetativo

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