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Direito e Bioética - Ana Thereza Meireles 2022.1

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DIREITO E BIOÉTICA – ANA THEREZA MEIRELES – 2022.1 
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA 
“Bioética e Biodireito” – Maria de Fátima Freire de Sá. Bruno Torquato de Oliveira Neves. 
BIOÉTICA E BIODIREITO 
Bioética é a disciplina que estuda os aspectos éticos das práticas dos profissionais de saúde 
e da Biologia, avaliando suas implicações na sociedade e relações entre os humanos e entre esses e 
outros seres vivos. A Bioética permite uma investigação mais ampla, tendo sempre em consideração 
os valores éticos e os fins da sociedade. 
Como disciplina jurídica, o Biodireito tem método dogmático, apesar de se utilizar de 
conhecimento zetético para sua elaboração. As soluções que ele propõe devem partir da análise do 
caso concreto, porém, balizadas em normas. 
O termo “Bioética” surgiu em 1971, significando a ética da vida aplicada na relação médico-
paciente. [Van Potter – Bioética: Uma ponte para o futuro (1971)]. 
A Bioética é, então, o reflexo e a síntese dos direitos humanos, dos direitos fundamentais e 
dos direitos da personalidade. É discutir o essencialismo, o corpo, a integridade física e psíquica. 
HISTÓRIA E SURGIMENTO DA BIOÉTICA 
NAZISMO E TRIBUNAL DE NUREMBERG (1945) – Foi durante os julgamentos de situações 
ocorridas durante o período nazista que foram apresentadas e conhecidas as situações de pessoas 
que passaram por diversos procedimentos e experimentos sem qualquer resguardo às condições 
humanas, com o objetivo simplesmente de desenvolver a ciência. 
Neste momento, a medicina começou a se desenvolver de forma mais rápida. Todavia, 
no período do pós-guerra, havia a discussão acerca da reserva do possível do Estado, que não tinha 
condições de cobrir todas as situações possíveis, e da alocação de recursos. 
COMITÊ DE SEATTLE (1962) – Foi publicado em um periódico científico tratando acerca 
desse comitê, no qual escolhiam quem tinha direito à hemodiálise e quem não tinha, isto é, 
escolhia-se quem vivia e quem morria. 
HENRY BEECHER (1996) – Divulgou em um periódico científico que as pesquisas em 
seres humanos estavam sendo feitas sem observância à qualquer norma ética. 
TRANSPLANTE POR CHRISTIAN BARNARD (1967) – Primeiro transplante de órgãos 
(coração) feito. A partir deste acontecimento que a Faculdade de Medicina da Universidade de 
Havard (1968) definiu o critério para determinar o fim da pessoa, que seria a cessação das atividades 
encefálicas (é o critério adotado pelo Brasil, Lei nº 9.434 – Lei do Transplante). 
CASO TUSKEGEE (1970) – Estudo com pessoas contaminadas por sífilis. Para essa 
pesquisa, metade da população recebeu o medicamente, enquanto a outra metade recebeu placebo 
(sem consentimento). Muitas pessoas morreram, pois, por acreditarem que estavam recebendo o 
medicamento, não buscaram atendimento médico. 
PROGRESSO CIENTÍFICO/ A NOVA MEDICINA 
A nível global, o próprio progresso da ciência demandava o surgimento de uma 
disciplina ética, que fizessem com que esse progresso fosse também ético. Dessa forma, a nova 
medicina reclama o surgimento da disciplina bioética, principalmente pensando em evitar 
situações jurídicas conflitantes entre médico e paciente. 
Cada vez mais existe um movimento de ascensão e reconhecimento da autonomia 
pessoal, sendo um fator determinante para que a Bioética possa surgir. Isso porque o passado é 
marcado pelo Estado interferindo arbitrariamente na autonomia do indivíduo. 
Nesse sentido, os valores da justiça, liberdade e igualdade tornam-se primordiais na 
discussão acerca da autonomia. Mesmo assim, nota-se ainda hoje o progresso da medicina sem a 
aplicação dos parâmetros éticos (ex.: Uso de protocolo não aprovado pela ANVISA pela Prevent 
Senior). 
O conflituoso avanço da área biomédica traduz a preocupação não só com situações 
emergentes, isto é, aquelas proporcionadas por avanços como os alcançados no campo da 
engenharia genética [ex.: clonagem humana], mas também às situações persistentes, diretamente 
relacionadas com a falta de acesso de inúmeras pessoas à utilização igualitária de consumo 
sanitário. Assim, se de um lado a biotecnologia promove avanços e benefícios inquestionáveis, de 
outro, pode proporcionar o elastecimento de problemas atinentes à exclusão social. 
BIOÉTICA COMO PREMISSA DO DIREITO MÉDICO 
CENÁRIO INTERNACIONAL - Código de Nuremberg (1947) // Declaração Universal dos Direitos 
Humanos (1948) // Declaração de Helsinki (1964) // Relatório Belmont (1979) // Declaração 
Universal sobre o Genoma e os Direitos Humanos (1997) // Declaração de Barcelona (1998) // 
Declaração Internacional sobre os Dados Genéticos Humanos (2003) // Declaração Internacional 
sobre Bioética e Direitos Humanos (2005) 
CENÁRIO BRASILEIRO - Constituição Federal de 1988 // Código Penal Brasileiro // Código Civil 
Brasileiro // Legislações ordinárias // Legislações profissionais. 
OBS.: O Conselho Federal de Medicina, através de uma Resolução, determinou que para um casal 
descartar um embrião precisa de autorização judicial. 
DISCUSSÕES PRÁTICAS 
A. O Estado, durante a pandemia, não divulgou os dados epidemiológicos para prevenção 
populacional e controle sanitário; 
Caberia, inclusive, ao Judiciário levantar a responsabilidade do Estado pela 
determinação dessa política de não esclarecimento acerca dos dados epistemológicos da população, 
vez que é dever do Estado garantir a saúde coletiva. 
B. A imprensa não tinha acesso aos dados oficiais e passou a levantá-los diretamente; 
C. Para fins informativos e pedagógicos, a imprensa passou a divulgar dados pessoais sensíveis 
(dados médicos); 
D. A divulgação desses dados ocorreu com e sem consentimento dos titulares. 
Os dados pessoais médicos (dados sensíveis) são protegidos pelo Direito Brasileiro e 
pelas Declarações Internacionais de Bioética. 
OBS.: Discussão acerca da vulnerabilidade dos indivíduos, sobre autonomia e 
capacidade e sobre a legitimidade do consentimento. 
BIOÉTICA PRINCIPIALISTA 
O estudo bioético tem como objetivo desenvolver argumentos racionais, que 
fundamentem valores e princípios envolvidos, bem como, a partir dessa argumentação, traçar 
recomendações para solução de problemas. Dessa forma, a principiologia bioética não tem a mesma 
imperatividade que a do Biodireito, mas seus princípios são comando abertos que visam a 
maximização do bem, ainda que considerando que o “bom” não seja unitário. 
Os princípios não são regras específicas de ação, mas diretrizes gerais que objetivam 
contribuir para guiar a conduta dos profissionais de saúde e auxiliar o Estado na delimitação de 
políticas públicas para distribuição de recursos de saúde. 
A Bioética Principialista, de Beauchamp e Childress, foi fruto de uma discussão no 
Congresso Norte-Americano, que sugeriu que a Comissão de Bioética criasse um documento com 
as regras necessárias para conduzir as relações entre médico-paciente e pesquisadores. Geraram o 
RELATÓRIO BELMONT, no final de 1978. 
Tomando por base o Relatório Belmont, Beauchamp e Childress elencaram quatro 
princípios éticos gerais para guiar o agir moral nas decisões de problemas e dilemas morais no 
campo da bioética médica, quais sejam: o princípio da autonomia, o princípio da não-maleficência, 
o princípio da beneficência e o princípio da justiça. 
Por meio dessa abordagem, o princípio do respeito à pessoa, anteriormente 
estabelecido por eles como um dos princípios fundamentais da Bioética, passou a ser denominado 
de respeito à autonomia, e o princípio da beneficência foi desmembrado em princípio da não-
maleficência e da beneficência. 
A Bioética Principialista dá um protagonismo à autonomia (PRINCÍPIO DA 
AUTONOMIA), à autodeterminação e à promoção de escolhas livres. Autonomia está vinculada ao 
conceito de ação autônoma, que só é autônoma se houver intenção, liberdade/ ausência de 
influência e compreensão. Esses três elementos são muito subjetivos, de difícil identificação prática. 
Importa observar que Beauchamp e Childressjá afirmavam que o princípio de respeito 
à autonomia pode ser injustificadamente utilizado mediante ficções de consentimento enganosas e 
perigosas; tema que volta a ser discutido com a Lei Geral de Proteção de Dados. 
Por isso, os autores expõem condições de realização do consentimento informado para 
garantir sua legitimidade, tendo em vista que ele não é um mero procedimento técnico a ser 
realizado de um modo qualquer. Mas o consentimento informado não deixa de ser um 
procedimento fundamental na bioética médica, uma vez que estimula a própria ação responsável 
por parte do profissional de saúde. 
O PRINCÍPIO DA BENEFICÊNCIA impõe ao profissional de saúde ou ao biólogo o dever 
de dirigir esforços no sentido de beneficiar o ser pesquisado. Estaria voltado, assim, para o fazer o 
bem, através da ação. Enquanto o PRINCÍPIO DA NÃO MALEFICÊNCIA se traduz na omissão, em não 
fazer o mal. Assim, a relação deve ser sempre no sentido de não causar prejuízo, mas sim benefícios 
ao paciente. 
O PRINCÍPIO DA JUSTIÇA trata da justa distribuição de recursos e benefícios. Refere-se 
ao meio e fim pelo qual se deve dar toda intervenção biomédica. 
Através desses princípios, a Bioética Principialista contempla as vulnerabilidades. O 
Direito confunde autonomia com capacidade civil e, portanto, a aferição da autonomia não 
contempla as vulnerabilidades. Vulnerabilidade seria algo que antecederia a autonomia. 
CATEGORIAS DE VULNERABILIDADE: ONTOLÓGICA (essencial, todos os indivíduos são 
vulneráveis simplesmente por serem humanos). SOCIAIS (perspectiva socioeconômica). PESSOAIS 
(idoso, mulher, consumidor, trabalhador). CIRCUNSTANCIAIS OU SITUACIONAIS (em uma situação 
concreta). 
PRINCÍPIOS DO BIODIREITO 
O Biodireito não possui, assim como a Bioética – Relatório de Belmont -, um 
documento que relate seus princípios ou que permita, ao menos, a indicação e nomenclatura 
coincidentes em doutrina e jurisprudência. 
O PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO proporciona uma maior proteção, visto que impede 
comportamentos que, devido ao estado atual de conhecimento, não representam uma certeza, mas 
uma mera probabilidade de dano, que por ser sério e irreversível deve ser obstado, enquanto o 
PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO importa na tomada de medidas para evitar um dano conhecido e 
esperado. 
O PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA consiste na concessão de poderes de atuação à 
pessoa, conferindo uma amplitude de comportamento ao ser humano. O PRINCÍPIO DA 
RESPONSABILIDADE revela o dever jurídico em que se coloca a pessoa, a fim de satisfazer as 
obrigações convencionadas ou suportar as sanções legais impostas por seu descumprimento. 
Por fim, o PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, expresso na Constituição 
Federal, compreende a garantia de pleno desenvolvimento dos vários aspectos da pessoa, em sua 
vertente física, psíquica e espiritual. 
BIOÉTICA DA PERMISSÃO 
Buscou estabelecer os limites à autonomia individual. É uma matriz que entende que 
não temos como fugir do fato de que nós somos os estranhos morais. 
Tristan Engelhardt – Neoliberal. Tudo que for possível acordar, está liberado. É uma 
das Bioéticas mais criticadas no mundo. Entendia que a sociedade é feita de estranhos morais, 
assim, só é possível chegar a algum lugar é através de um acordo (PRINCÍPIO DA PERMISSÃO). 
Mesmo admitindo as enormes dificuldades de resolver conflitos de interesse e de 
opinião, não se pode esquecer que a conflituosidade faz parte do próprio ethos. Ou seja, os conflitos 
analisados pela bioética se referem a interrelações complexas entre atores envolvidos em 
controvérsias. Atores que podem ser distinguidos em “agentes” e “pacientes” morais, mas que 
podem ser vistos também como “emitentes” e “destinatários” das ações comunicativas que se dão 
entre os envolvidos, e que podem ser vistos, em particular, como “estranhos morais”. 
Entretanto, Engelhardt admite também a existência de “amigos morais”, que 
compartilhariam uma moral comum – contrariamente aos “estranhos morais” – capaz de resolver 
controvérsias morais graças a argumentos consistentes e compartilháveis por uma “comunidade 
moral”, ou fazendo referência a alguma autoridade moral reconhecida pelos contendentes. 
Como escreve o próprio autor, é dentro de comunidades morais particulares, e não de 
sociedades de larga escala, que vivemos e encontramos o verdadeiro significado da vida e a 
orientação moral concreta, comunidades nas quais somos mergulhados em uma matriz plena de 
conteúdo moral. 
Por outro lado, referindo-se às sociedades de larga escala, bem mais amplas que as 
comunidades morais e tidas como sendo essencialmente seculares, Engelhardt propõe introduzir o 
princípio de permissão. Isso porque o considera o princípio moral crucial para a bioética secular, 
pois obter permissão das pessoas é central para a bioética secular porque não há outra fonte 
da qual derivar a autoridade moral secular. 
Em suma, para o autor, diante de um pluralismo moral irredutível – como aquele 
existente no mundo contemporâneo –, a autoridade é derivada das pessoas. De fato, uma bioética 
secular universal capaz de conectar pessoas que não partilham uma concepção moral particular só 
pode extrair sua autoridade do consentimento dos indivíduos. É entre os indivíduos que ocorrem 
as controvérsias morais. Como estranhos morais, são eles que podem, por meio de acordos, 
criar um domínio de autoridade moral comum. 
Deste modo, o PRINCÍPIO DE PERMISSÃO terá centralidade não em virtude de ser 
valorizado, mas porque a permissão das pessoas é a única fonte possível de autoridade secular, 
sendo que a bioética de tal sociedade dará prioridade a práticas tais como o consentimento 
informado, o direito de recusar tratamentos, o desenvolvimento de contratos para os serviços de 
assistência à saúde e o direito de decidir o que fazer consigo mesmo e de consentir que outros o 
façam conforme acordado mutuamente. 
A contribuição dessa bioética, pensada na pós-modernidade, é de que se deve respeitar 
o multiculturalismo. Assim, deve-se considerar as vulnerabilidades das pessoas, não somente 
permitir que tudo seja resolvido com base no consenso entre as partes. 
DISCUSSÕES PRÁTICAS 
SANGUE/ÓRGÃOS DUPLOS – Em alguns países, os sujeitos podem vender sangue, sêmen 
e óvulo, porém, no Brasil não é permitido. 
DOAÇÃO DE ÓVULOS/SÊMEN – Apesar de não ser possível a venda, no momento de se 
fazer a inseminação artificial, todo o processo é comercializado. A prática de escolher o doador de 
sêmen através de suas características físicas é uma prática eugenista. 
IMPEDIMENTOS LEGAIS - LEI Nº 9.434/1997 
Art. 1º A disposição gratuita de tecidos, órgãos e partes do corpo 
humano, em vida ou post mortem, para fins de transplante e 
tratamento, é permitida na forma desta Lei. Parágrafo único. Para os 
efeitos desta Lei, não estão compreendidos entre os tecidos a que se 
refere este artigo o sangue, o esperma e o óvulo. 
Art. 2º A realização de transplante ou enxertos de tecidos, órgãos ou 
partes do corpo humano só poderá ser realizada por estabelecimento 
de saúde, público ou privado, e por equipes médico-cirúrgicas de 
remoção e transplante previamente autorizados pelo órgão de gestão 
nacional do Sistema Único de Saúde. 
Art. 4º A retirada de tecidos, órgãos e partes do corpo de pessoas 
falecidas para transplantes ou outra finalidade terapêutica, dependerá 
da autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, obedecida a 
linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau inclusive, 
firmada em documento subscrito por duas testemunhas presentes à 
verificação da morte. 
Art. 5º A remoção post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo 
de pessoa juridicamente incapaz poderá ser feita desde que permitida 
expressamente por ambos os pais, ou por seus responsáveis legais. 
Art. 6º É vedada a remoção post mortem de tecidos, órgãos ou partes 
do corpo de pessoas não identificadas. 
Art. 9º É permitidaà pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente 
de tecidos, órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos 
ou para transplantes em cônjuge ou parentes consanguíneos até o 
quarto grau, inclusive, na forma do § 4o deste artigo, ou em qualquer 
outra pessoa, mediante autorização judicial, dispensada esta em 
relação à medula óssea. 
LEI Nº 1.105/2005 
Art. 5º É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de 
células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos 
por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, 
atendidas as seguintes condições: 
I – sejam embriões inviáveis; ou 
II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da 
publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta 
Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de 
congelamento. 
§ 1º Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores. 
§ 2º Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa 
ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão 
submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos 
comitês de ética em pesquisa. 
§ 3º É vedada a comercialização do material biológico a que se refere 
este artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei nº 
9.434, de 4 de fevereiro de 1997. 
BIOÉTICA DA INTERVENÇÃO 
Teoria latino-americana. Traz uma crítica universal à Bioética Principialista. Está 
focada no pressuposto da vulnerabilidade. Nesse sentido, analisa a realidade de países periféricos, 
assim como as situações persistentes e as situações emergentes. 
Traduz uma conexão entre bioética e direitos humanos. Na visão de Schramm, 
vulnerável é a característica que evidencia potencialidade ou fragilidade e não um estado de dano 
concretizado. Já para Kottow, vulnerado é a característica que revela o dano já concretizado de 
fato. 
A normatização da vulnerabilidade encontra-se na Declaração Universal sobre Bioética 
e Direitos Humanos (2005), principalmente no artigo 8, ipsis litteris: 
Artigo 8 – Respeito pela Vulnerabilidade Humana e pela Integridade 
Individual A vulnerabilidade humana deve ser levada em consideração 
na aplicação e no avanço do conhecimento científico, das práticas 
médicas e de tecnologias associadas. Indivíduos e grupos de 
vulnerabilidade específica devem ser protegidos e a integridade 
individual de cada um deve ser respeitada. 
RELAÇÃO MÉDICO – PACIENTE 
A MEDICINA PREVENTIVA é uma modalidade médica que tem o objetivo de prevenir 
doenças, antes mesmo de que apareçam, evitando que tais doenças se instalem no indivíduo. A 
MEDICINA CURATIVA é aquela direcionada à cura de enfermidades e/ou tratamento de sintomas, 
evitando o agravamento e aparecimento de complicações. As estratégias são muitas e variadas, de 
acordo com a doença a ser combatida, podendo englobar tratamentos medicamentosos, terapias, 
intervenções cirúrgicas, etc. 
A MEDICINA PREDITIVA se resume a um conjunto de estratégias capaz de estabelecer 
um prognóstico de doenças. Isso quer dizer que, com o uso de recursos tecnológicos, é possível 
identificar a predisposição para um problema de saúde antes mesmo dos sintomas. E a MEDICINA 
PALIATIVA opera com uma equipe multidisciplinar visando o cuidado integral de pacientes. A 
proposta é controlar sintomas físicos, emocionais e espirituais, melhorando a qualidade de vida 
tanto do paciente quanto de sua família. 
O PSDA – PATIENT SELF-DETERMINATION ACT, reconheceu a autonomia privada do 
paciente, inclusive para recusar o tratamento. Os centros de saúde, quando da admissão do 
paciente, registram suas opções e objeções a tratamentos em caso de incapacidade superveniente 
de exercício da própria autonomia [advance directives]. 
As advance directives permitem que o paciente antecipe suas decisões, caso 
posteriormente não possa manifestar a sua vontade. Consubstanciam-se em living will; durable 
power of attorney for health care e advanced core medical directive. O LIVING WILL consiste em 
um testamento em vida e pretende estabelecer os tratamentos médicos indesejados em caso de não 
poder, posteriormente, manifestar a sua vontade. Pelo DURABLE POWER OF ATTORNEY FOR 
HEALTH CARE, estabelece-se um representante para decidir e tomar as providências cabíveis para 
o paciente. E a ADVANCED CORE MEDICAL DIRECTIVE diz respeito ao estado terminal, de modo que 
o paciente nomeia um representante e indica quais os procedimentos que não quer ser submetido. 
No momento em que emite a sua decisão, o paciente deve estar esclarecido do 
diagnóstico, do tratamento mais adequado a se implementar e de seus efeitos, positivos e negativos. 
A decisão deve sempre ser revestida do maior número de informações, que devem ser passadas de 
forma clara e abrangente, avaliando as opções de tratamento, riscos e benefícios. 
Ademais, o paciente precisa ter discernimento para a tomada de decisão e não deve 
haver nenhum condicionadores externos direitos à manifestação externa da vontade. Pautado em 
Miracy Barbosa de Sousa Gustin, a autonomia privada constitui-se da interação da AUTONOMIA 
CRÍTICA, isto é, o poder do ser humano de se compreender e compreender o mundo à sua volta, e 
a AUTONOMIA DE AÇÃO, sendo o poder de estabelecer dado comportamento. 
O direito à informação é constitucionalmente assegurado, e os pacientes têm o direito 
de saber o que se passa com eles. Ligado ao direito de informação, encontra-se o direito ao 
consentimento. O CONSENTIMENTO INFORMADO, ou consentimento livre e esclarecido, é 
elemento central da relação médico-paciente, sendo resultado de um processo de diálogo e 
colaboração, visando satisfazer a vontade e os valores do paciente. 
“O esclarecimento pressupõe o diálogo mais do que a transmissão de palavras; 
pressupõe a capacidade que deve ter o médico de perceber o eco produzido no paciente pelas 
informações por ele prestadas, necessita da presença de todos os sentidos em alerta para a 
interpretação dos sinais corporais que são transmitidos pelo paciente quanto ao assentimento, 
entendimento, incompreensão, desconforto etc. [...]” (PANIAS, 2006, p. 167). 
O ato de consentir não ocasiona a destituição das responsabilidades 
profissionais quanto ao dever de informação, pois a informação pode ter sido incompleta, a 
informação pode ter sido equivocada, ou a informação pode ter sido não compreendida (não há 
escolha esclarecida). 
RESPONSABILIDADE CIVIL MÉDICA 
Responsabilidade é o dever de assumir as consequências de uma ação ou omissão, 
realizada pessoalmente ou por pessoa que esteja sob seu poder ou, ainda, em razão de um fato da 
coisa de que lhe caiba a guarda. Logo, a pessoa será juridicamente responsável quando o 
ordenamento jurídico sanciona o evento danoso, independentemente de ter sido ou não causador 
direto. A responsabilidade civil visa, primeiramente, a reparação do dano, com retorno ao status 
quo ante. 
PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE = DANO + CULPA + NEXO DE CAUSALIDADE 
O DANO compreenderá os danos físicos e psicológicos, os danos morais e patrimoniais 
e o dano estético, que é aquele provocado por uma alteração morfológica. A CULPA pressupõe uma 
ação ou omissão, desde que haja violação dos deveres de humanismo, falha quanto às regras 
técnicas da Medicina (imperícia) ou conduta inadequada (imprudência ou negligência). E o NEXO 
DE CAUSALIDADE traduz a ligação entre a causa e o efeito produzido. 
A IMPRUDÊNCIA MÉDICA consiste naquela conduta arriscada, precipitada, insensata ou 
imoderada. A NEGLIGÊNCIA MÉDICA se traduz na displicência, indiferença, quando podendo agir 
não o faz. E a IMPERÍCIA MÉDICA trata da prática de ato sem o conhecimento prévio ou 
inobservância de normas técnicas. 
Quanto ao objetivo das obrigações assumidas pelo médico, tem-se as obrigações de 
meio e as obrigações de resultado. Nas OBRIGAÇÕES DE MEIO, há obrigação do devedor de esforçar-
se paraobter o fim desejado. Cumpre, então, a obrigação desde que preste diligentemente os 
serviços prometidos. Não se obriga ao fim pretendido pelo credor, mas ao processo para alcançá-
lo. Já nas OBRIGAÇÕES DE RESULTADO, o devedor só adimple se atingir o resultado pretendido. 
OBS.: Independente de ser obrigação de meio ou de resultado, a responsabilidade do 
médico, como profissional liberal, será sempre subjetiva [art. 14, §4º, do CDC]. 
Quanto às cirurgias plásticas, se a obrigação for de meio, o descumprimento contratual 
deverá ser provado pelo paciente, com a demonstração de que o médico agiu com imprudência, 
negligência ou imperícia. Se se entender que a cirurgia meramente embelezadora é obrigação de 
resultado, cabe ao paciente alegar que o resultado não foi alcançado em razão da conduta do 
médico, que poderá se defender alegando que o resultado não se deu por sua culpa, mas pelo 
comportamento do paciente no pós-operatório ou pela própria reação do organismo do paciente. 
O DANO ALEATÓRIO, resultante da chamada "ÁLEA TERAPÊUTICA" (alea therapeutike), 
sobre a qual o médico não tem controle, decorre de resultado imprevisível ou conjuntural, em que 
não há falta ou falha na prestação do serviço. O dano aleatório não gera dever de indenizar se o 
procedimento for realizado com o consentimento expresso de paciente capaz ou de seu 
representante legal (responsabilidade civil contratual); ou tácito, nos casos de estado de 
necessidade (responsabilidade civil extracontratual). Tribunal de Justiça do Distrito Federal e 
Territórios TJ-DF: 0031276-55.2015.8.07.0001 
O DANO IATROGÊNICO é a lesão ou sequela causada pelo profissional da saúde quando 
da realização de tratamento e/ou procedimentos que visam o restabelecimento da saúde ou a 
preservação da vida do paciente, que acaba por atingir as esferas física, psíquica e/ou psicológica 
do paciente de modo previsível. Pode ser descrito como tentativas terapêuticas necessárias 
arriscadas de modo previsto. 
Acerca da OBJEÇÃO DE CONSCIÊNCIA DE PESSOAS CAPAZES, principalmente no que se 
refere à situação da transfusão de sangue em pacientes Testemunhas de Jeová, entende-se que é 
possível a objeção à transfusão por pessoas maiores e capazes, em razão do princípio da autonomia 
privada. Contudo, é imprescindível que a manifestação seja expressa e nunca presumida. 
Entretanto, quanto às crianças cujos pais professam religiões que proíbem transfusão 
de sangue, deve-se entender por proteger o melhor interesse do menor incapaz, preservando-lhe a 
vida, ainda mais porque não se sabe se, no futuro, aquela criança seguirá a religião dos seus pais. 
O INÍCIO DA VIDA HUMANA – PERSONALIDADE DO NASCITURO 
Não compete ao Direito decidir quando inicia a vida humana. Compete ao Direito 
decidir qual vida deve ser definida como juridicamente protegida. Ainda que um zigoto seja 
geneticamente definido como vida humana, não necessariamente seria uma vida humana 
juridicamente protegida. 
O Direito brasileiro filiou-se à TEORIA NATALISTA, vingando a ideia de que a 
personalidade surge com o nascimento, ressalvando, todavia, os direitos do nascituro. Ao 
aprofundar nessa teoria, tem-se que nascituro não é pessoa, ainda que receba alguma proteção legal. 
Há também a DOUTRINA DA PERSONALIDADE CONDICIONAL, que defende o início da 
personalidade a partir da concepção, desde que a criança nasça com vida. Dessa forma, afirma que 
os efeitos da personalidade já existem, juridicamente, mas tais efeitos cessariam caso o nascituro 
nascesse sem vida. Finalmente, pela DOUTRINA CONCEPCIONISTA, a personalidade se iniciaria 
desde a concepção. Assim, o nascituro é pessoa, pois gerado, embora não nascido. 
A personalidade é atributo jurídico que permite que alguém seja sujeito de direitos e 
deveres e os direitos da personalidade, componentes da personalidade, têm por objeto os diversos 
aspectos da pessoa humana. Logo, há uma relação de titular e objeto de direito entre, 
respectivamente, a personalidade e os direitos da personalidade. A personalidade jurídica se 
extingue com a morte, consequentemente, extinguem-se todos os direitos e deveres que lhes são 
inerentes. 
OUTRAS CONSIDERAÇÕES 
Ainda que a vida seja um direito fundamental, pode ser relativizado. No Brasil, aborto 
resta permitido nos casos de risco de morte, gravidez resultante de estupro [Art. 128, CP] e 
anencefalia fetal [ADPF 54 e Resolução CFM n. 1.989/2012]. 
Segundo a RESOLUÇÃO CFM Nº 1.989/2012, o médico poderá, independentemente de 
autorização do Estado, interromper a gravidez em caso de diagnóstico inequívoco de anencefalia, 
desde que a pedido da gestante. 
As situações de aborto podem ser agrupadas em quatro grupos: (1) ABORTO EUGÊNICO, 
que se dá na tentativa preconceituosa de “melhoramento” da espécie. (2) INTERRUPÇÃO 
TERAPÊUTICA, que se dá em proteção à saúde da mãe, pois a continuidade da gestação põe em 
risco a integridade física e/ou psíquica da gestante. (3) INTERRUPÇÃO SELETIVA, nas hipóteses de 
anomalias fetais. (4) INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA, que se funda no exercício da autonomia da 
gestante e na liberdade de planejamento familiar. 
SLIPPERY SLOPE: Muitos vêm interpretando ser possível a extensão dos efeitos da 
decisão da ADPF 54 a fetos que padecem de outras anomalias graves. Contudo, há grande debate 
em cima deste tema, haja vista poder se considerar essa prática como eugenia. 
No Brasil, a Lei de Biossegurança [Lei n° 11.105/2005] determina que a utilização de 
células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos, produzidos por fertilização in vitro e 
não utilizados no respectivo procedimento, é permitida para fins de pesquisa e terapia, desde que 
sejam embriões inviáveis ou congelados há mais de 3 (três) anos. 
Para mais, a Resolução 1.995/2012 do CFM, Conselho Federal de Medicina, 
regulamentou a ortotanásia, ou não adiamento da morte natural, em que restou permitido ao 
médico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente em 
fase terminal, de enfermidade grave e incurável caso conferido consentimento para abreviar a vida. 
DIREITOS REPRODUTIVOS 
REPRODUÇÃO ASSISTIDA 
Consiste no conjunto de técnicas que favorecem a fecundação humana, a partir da 
manipulação de gametas e embriões, objetivando principalmente combater a infertilidade e 
propiciando o nascimento de uma nova vida humana” (RIBEIRO, Gustavo Pereira Leite). 
RESOLUÇÃO 2.294/2021 
II Pacientes das técnicas de Reprodução Assistida: 
1. Todas as pessoas capazes, que tenham solicitado o procedimento e 
cuja indicação não se afaste dos limites desta resolução, podem ser 
receptoras das técnicas de RA, desde que os participantes estejam de 
inteiro acordo e devidamente esclarecidos, conforme legislação 
vigente. 
2. É permitido o uso das técnicas de RA para heterossexuais, 
homoafetivos e transgêneros. 
3. É permitida a gestação compartilhada em união homoafetiva 
feminina em que não exista infertilidade. Considera-se gestação 
compartilhada a situação em que o embrião obtido a partir da 
fecundação do(s) oócito(s) de uma mulher é transferido para o útero 
de sua parceira. 
Essa Resolução rompe com a ideia de infertilidade como sendo o único critério 
justificador da reprodução assistida. Os direito reprodutivos devem seguir a lógica de intervenção 
mínima do Estado nas relações privadas, e envolvem, atualmente, o direito ao planejamento 
familiar e a pluralidade de entidades familiares. 
OBS.: A Resolução CFM n. 2013/2013 prescreve que as técnicas de RA podem ser 
utilizadas desde que exista probabilidade efetiva de sucesso e não se incorra em risco grave de saúde 
para a paciente ou possível descendente, e a idade máxima das candidatas à gestação de RA é de 50 
anos. Devido a esse limite trazido em um resolução, o TRF da 1ª Região seguiu a recomendação do 
Enunciado 41 da I Jornada de Direito da Saúde do Conselho Nacional de Justiça e julgou a limitação 
de idade como afrontaà liberdade constitucional do planejamento familiar. 
PROCEDIMENTOS DE REPRODUÇÃO ASSISTIDA 
A. FERTILIZAÇÃO IN VITRO – É o método que promove em laboratório o encontro 
entre os espermatozoides e um óvulo colhido após tratamento com indutores. 
Ocorrida a fertilização procede-se com a transferência do embrião para o útero. 
B. INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL – A inseminação artificial, é onde os espermatozoides 
são introduzidos no interior do útero da mulher, a fim de fecundar o óvulo. 
Há dois tipos de inseminação artificial, a intracervical e a intrauterina. Na inseminação 
artificial intracervical, o esperma é injetado no cérvix através de uma seringa. Esse método reproduz 
a forma como o esperma é depositado pelo pênis, no cérvix, no momento da ejaculação. 
Na inseminação artificial intrauterina, os espermatozoides passam por um tratamento, 
no qual somente os que estão aptos a fertilizar permanecem. Feito isso, os espermatozoides são 
depositados diretamente no útero, após a mulher passar por um tratamento que induz a ovulação. 
C. DOAÇÃO DE GAMETAS – A Resolução CFM n. 2013/2013 determina o anonimato 
do doador de gametas, bem como do receptor. 
PROVIMENTO 63/2017 DO CNJ - REGISTRO DE CRIANÇAS NASCIDAS 
POR REPRODUÇÃO ASSISTIDA 
Art. 17, § 3º o conhecimento da ascendência biológica não importará 
no reconhecimento do vínculo de parentesco e dos respectivos efeitos 
jurídicos entre o doador ou a doadora e o filho gerado por meio da 
reprodução assistida. 
D. CONGELAMENTO DE ÓVULOS, SÊMEN E EMBRIÕES 
E. GESTAÇÃO POR SUBSTITUIÇÃO – Forma clássica: homóloga/ Outra forma: 
heteróloga 
RESOLUÇÃO 2.294/2021 CFM 
As clínicas, centros ou serviços de reprodução podem usar técnicas de 
RA para criar a situação identificada como gestação de substituição, 
desde que exista um problema médico que impeça ou contraindique a 
gestação, ou em caso de união homoafetiva ou de pessoa solteira. 
1. A cedente temporária do útero deve ter ao menos um filho vivo 
e pertencer à família de um dos parceiros em parentesco 
consanguíneo até o quarto grau. Demais casos estão sujeitos a 
avaliação e autorização do Conselho Regional de Medicina. 
2. A cessão temporária do útero não poderá ter caráter lucrativo ou 
comercial e a clínica de reprodução não pode intermediar a escolha da 
cedente. 
PROVIMENTO 63/2017 DO CNJ - REGISTRO DE CRIANÇAS NASCIDAS 
POR REPRODUÇÃO ASSISTIDA 
Art. 17, §1º na hipótese de gestação por substituição, não constará do 
registro o nome da parturiente, informado na declaração de nascido 
vivo, devendo ser apresentado termo de compromisso firmado pela 
doadora temporária do útero, esclarecendo a questão da filiação. 
DESTINAÇÃO EMBRIONÁRIA - LEI 11.105/2005 
Art. 5º É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de 
células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos 
por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, 
atendidas as seguintes condições: 
I – sejam embriões inviáveis; ou 
II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da 
publicação desta lei, ou que, já congelados na data da publicação desta 
lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de 
congelamento. 
§ 1º em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores. 
RESOLUÇÃO 2.294/2021 
V - CRIOPRESERVAÇÃO DE GAMETAS OU EMBRIÕES 
2. O número total de embriões gerados em laboratório não poderá 
exceder a 8 (oito). Será comunicado aos pacientes para que decidam 
quantos embriões serão transferidos a fresco, conforme determina esta 
Resolução. Os excedentes viáveis serão criopreservados. Como não há 
previsão de embriões viáveis ou quanto a sua qualidade, a decisão 
deverá ser tomada posteriormente a essa etapa. 
3. No momento da criopreservação, os pacientes devem manifestar sua 
vontade, por escrito, quanto ao destino a ser dado aos embriões 
criopreservados em caso de divórcio, dissolução de união estável ou 
falecimento de um deles ou de ambos, e se desejam doá-los.” 
4. Os embriões criopreservados com três anos ou mais poderão ser 
descartados se essa for a vontade expressa dos pacientes, mediante 
autorização judicial. 
5. Os embriões criopreservados e abandonados por três anos ou mais 
poderão ser descartados, mediante autorização judicial. 
5.1 Embrião abandonado é aquele em que os responsáveis 
descumpriram o contrato preestabelecido e não foram localizados pela 
clínica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO E BIOÉTICA – II UNIDADE 
DIREITO E GENÉTICA 
Por meio da Revolução Científica, passou-se a ter acesso à informação genética. 
Consequentemente, tem-se hoje uma nova dimensão do direito à saúde através da medicina 
preditiva/preventiva. 
RELAÇÃO ENTRE DIREITO E GENÉTICA: Filiação; medicina legal e criminologia; 
prevenção e cura de doenças; planejamento sanitário e políticas públicas; patenteamento; 
experimentos e manipulação em genética; informações genéticas e relações contratuais; eugenia e 
neoeugenia, etc. 
DECLARAÇÃO UNIVERSAL SOBRE O GENOMA HUMANO E DOS DIREITOS HUMANOS 
(1997) – Nem sempre lidar com informações genéticas gerará efeitos positivos. Surgiu uma 
preocupação com o que estava acontecendo na execução do Projeto Genoma [terminou de ser 
sequenciado em 2022]. 
DECLARAÇÃO INTERNACIONAL SOBRE DADOS GENÉTICOS (2003) – Ascensão cada vez 
mais do universo científico. Buscou estabelecer um limite ético acerca do crescimento da ciência e 
da complexidade das questões éticas universais, levando em consideração os diferentes contextos 
econômicos e sociais do mundo. 
DERIVAÇÕES DO ACESSO À INFORMAÇÃO GENÉTICA 
Determinismo X Multifatorialismo – A genética não é determinista, mas multifatorial. O elemento 
da genética é probabilístico e não categórico, assim, a probabilidade de se ter determinada doença 
pode gerar um tratamento profilático específico. 
Expectativa X Acaso – Todos nós somos frutos do acaso genético. Todavia, atualmente já é possível 
fazer programações genéticas. 
DIREITO E GENÉTICA NO BRASIL 
Art. 225, CF. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente 
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade 
de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de 
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. 
§ 1º para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder 
público: 
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do 
país e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de 
material genético; 
É um dispositivo voltado ao patrimônio genético do meio ambiente. Não havia, naquele 
momento, a busca pela proteção do patrimônio genético humano, dentro das atuais possibilidades 
de alteração e manipulação desse material genético. 
LEI Nº 11.105/2005 – LEI DA BIOSSEGURANÇA 
Os bens jurídicos novos trazidos nessa lei, não estão proporcionalmente tratados em 
relação às penas, isso porque essa lei foi feita por uma pressão da bancada conservadora, e que traz 
uma reflexão sobre coisas que ultrapassam uma noção do que deveria ser redimensionado na ordem 
jurídica. 
COMERCIALIZAÇÃO DE MATERIAL BIOLÓGICO - Em países cujo desenvolvimento social 
é base, fala-se muito em autonomia privada para vender óvulos, espermatozoides, sangue e até 
mesmo cobrar pela gestação por substituição. No Brasil, isso não é plenamente possível, haja vista 
colocar nas mãos das iniciativas privadas, questões voltadas ao material genético do indivíduo que, 
muitas vezes, se encontram em situações de vulnerabilidade. Deste modo, o legislador buscou 
tutelar esses bens jurídicos em face da disponibilidade absoluta sobre o próprio corpo. 
Art. 5º É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de 
células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos 
por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, 
atendidas as seguintes condições: 
§ 3º É vedada a comercialização do materialbiológico a que se refere 
este artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei nº 
9.434, de 4 de fevereiro de 1997. 
G1/ 2019: “Importação de esperma: por que a busca por sêmen no exterior cresceu 
vertiginosamente no Brasil” “Demanda acima da oferta no país e maior disponibilidade de 
dados sobre doadores internacionais estão entre os motivos, apesar do custo até três vezes 
maior, dizem especialistas.” 
Essa permissão vai de encontro à própria legislação da biossegurança brasileira, que 
proíbe a comercialização do material biológico. 
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9434.htm#art15
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9434.htm#art15
UTILIZAÇÃO ILEGAL DE EMBRIÕES – A Lei de Biossegurança traz a pena prevista para 
os casos de utilização de embrião humano em desacordo com o que dispõe o art. 5º desta lei, que 
prevê, inclusive, o consentimento dos genitores para o uso desses embriões. 
Art. 24. Utilizar embrião humano em desacordo com o que dispõe o 
art. 5º desta Lei: 
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. 
Art. 5º É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de 
células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos 
por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, 
atendidas as seguintes condições: 
I – sejam embriões inviáveis; ou 
II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da 
publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta 
Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de 
congelamento. 
§ 1º Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores. 
§ 2º Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa 
ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão 
submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos 
comitês de ética em pesquisa. 
Contudo, a Resolução 2.294/2021 do Conselho Federal de Medicina condicionou o 
descarte embrionário à autorização judicial, trazendo ainda uma série de observações contrárias à 
Lei de Biossegurança. O que prevalece é a legislação. 
CLONAGEM HUMANA – Carrega todas as informações genéticas e todas as questões que 
o indivíduo teve ao longo dos seus anos de vida. É possível clonar uma pessoa sem o patrimônio 
genético do homem. 
Art. 26. Realizar clonagem humana: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
Ex.: Pega uma célula qualquer de Paula, que tem 24 anos, e retira o seu núcleo (DNA). 
Pega então uma doadora de óvulos, e coloca o núcleo da célula de Paula. Pega-se então esse embrião 
e implanta na barriga de Ana. Todavia, todas as questões que Paula teve ao longo dos seus 24 anos. 
A clonagem terapêutica traduz a ideia de cultivar o embrião oriundo de clonagem em 
laboratório para obtenção de tecidos e órgãos. A lei também criminalizou essa espécie. 
PRATICAR ENGENHARIA GENÉTICA EM CÉLULA GERMINAL HUMANA, ZIGOTO OU 
EMBRIÃO – É possível fazer engenharia genética em célula somática. 
Art. 25. Praticar engenharia genética em célula germinal humana, 
zigoto humano ou embrião humano: 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
(PFARMA/2020) ANVISA aprova o primeiro registro de terapia genica no Brasil. 
“A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou na última semana o 
registro da primeira terapia genica no Brasil para pacientes com perda de visão decorrente 
da distrofia hereditária da retina (DHR) causada pela presença de uma mutação em ambas 
as cópias do gene RPE65, que tenham ainda suficiente quantidade de células de retina 
viáveis. Esse é um marco para a medicina nacional, já que representa a entrada da terapia 
gênica como tratamento disponível no país. A técnica age fornecendo o gene saudável, 
visando à correção da mutação causadora da doença presentes no DNA do paciente, com a 
introdução do material genético em tecidos e em células com fins terapêuticos. Ela pode 
atuar simplesmente na adição de genes ativos, ou na modificação ou supressão de genes 
defeituosos no código genético, visando a produção de proteínas funcionais”. 
EDIÇÃO GENÉTICA 
É um protocolo utilizado para fazer um corte na sequência do DNA para que haja a 
supressão do defeito genético. A terapia gênica e a edição genética são dois recursos que não estão 
disponíveis no Brasil, mas poderiam ser bastante úteis no tratamento de doenças. 
O excesso de judicialização do direito da saúde tem muito a ver com a forma que o 
Brasil estruturou as competências. A genética é a possibilidade de se discutir saúde na sua condição 
preventiva. 
SELEÇÃO GENÉTICA 
A prática da eugenia busca um resultado associado a uma escolha de características. A 
neoeugenia, ou eugenia liberal, é aquela calcada no consentimento dessa prática, que vai ganhando 
novas roupagem, de modo que se torna aceitável para muitas pessoas. 
Está associada à seleções que podem melhorar a qualidade de vida [eugenia negativa – 
nega características, para que o sujeito que vai nascer não tenha futuramente determinadas 
doenças]. Há também aquela em que se escolhe as características do sujeito que irá nascer [eugenia 
positiva – escolha da cor dos olhos, cor da pele, etc.]. 
FASE PRÉ-CONCEPTIVA – Aconselhamento genético pré-conceptivo para estabelecer 
uma probabilidade de o filho nascer com determinada doença ou não. Engenharia genética em 
células germinativas [não é permitida no Brasil]. Reprodução artificial heteróloga, escolha do 
doador com base nas características desse sujeito [no Brasil não há tantos doadores, por isso, 
geralmente há a importação do sêmen]. Inseminação caseira. 
Seleção em benefício de terceiro [bebê medicamento] – Resolução 2.294/21. As técnicas 
de RA também podem ser utilizadas para tipagem do sistema HLA do embrião, no intuito de 
selecionar embriões HLA compatíveis com algum irmão já afetado pela doença e cujo tratamento 
efetivo seria o transplante de células-tronco de acordo com a legislação vigente. 
FASE PRÉ-IMPLANTACIONAL OU EMBRIONÁRIA – Diagnóstico pré-implantacional 
embrionário, há a discussão acerca de quais doenças justificam o descarte. Art. 5º, Lei 11.105/2006. 
Há uma vedação da escolha do sexo do filho [na China é comum o estímulo a filhos homens, no 
Brasil essa situação não é permitida]. 
FASE FETAL – Anencefalia é uma forma neoeugênica justificada [direito pré-
estabelecido de interromper a gestação em caso de anencefalia diagnostica do feto; decisão do 
Supremo Tribunal Federal]. Qual é o tempo de sobrevida e a qualidade de vida da pessoa. 
FASE PESSOAL – Aconselhamento e testes genéticos. Seguros de saúde. Concurso 
público e contratos de trabalho. Esterilização de “anormais” e criminosos sexuais. Controle de 
natalidade estatal. Políticas imigratórias. 
PROBLEMAS DA NEOEUGENIA - A matéria da neoeugenia está tratada de maneira 
insipiente no Brasil, ficando à mercê de Resoluções do CFM. Diante desse cenário, é preciso mudar 
a autocompreensão da espécie, conforme Habermas. 
SAÚDE, CORPO E AUTONOMIA 
Os estudos atuais perpassem a ideia de saúde voltada para o bem-estar físico, psíquico 
e emocional, envolvendo uma saúde holística. Os novos conceitos de saúde estão, portanto, mais 
voltados para a liberdade sobre o corpo e a existência humana como um todo, não mais associada 
somente à uma doença previamente considerada. 
DIREITOS DA PERSONALIDADE – A liberdade de dispor sobre o próprio corpo é um 
reflexo dos direitos da personalidade. Esses direitos previstos no Código Civil, não taxativos, 
precisam atestar a evolução dinâmica e evolutiva da própria sociedade. 
Enunciado 274 da Jornada de Direito Civil: Os direitos da 
personalidade, regulados de maneira não exaustiva pelo Código Civil, 
são expressões de cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida 
no art. 1º, III, da Constituição Federal. 
DIREITO AO PRÓPRIO CORPO – A própria norma não consegue gerar uma atividade 
interpretativa razoável por trazerconceitos muito abertos acerca da saúde e do direito ao próprio 
corpo, não reside nela nenhuma conclusão objetiva acerca do que é possível fazer com o próprio 
corpo. 
Art. 13, CC. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição 
do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da 
integridade física, ou contrariar os bons costumes. 
Esse dispositivo traduz uma disposição relativa do corpo. A disposição sobre o corpo 
envolve uma série de questões relacionadas a como irá adotar a liberdade sobre o próprio corpo, 
mas vai além, como as motivações da recusa ao tratamento médico, por exemplo. 
Art. 15, CC. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco 
de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. 
Trata da recusa ao tratamento médico. Contudo, traz o pressuposto de risco de vida do 
procedimento. A norma resolveu submeter as pessoas a essa limitação, mas não existe isso na 
prática. Na doença terminal, o direito de recusa já está regulamentado, portanto, esse dispositivo 
fica ainda mais sem aplicabilidade prática. Assim, limita-se a eletividade, isto é, quando a pessoa 
tem condição de exercício de autonomia, em plena faculdade mental, e não está em estado de 
urgência e emergência. 
Isso gera um ambiente de insegurança para os profissionais de saúde, 
consequentemente, esses profissionais tendem a dar prioridade ao tratamento médico em relação 
a autonomia do indivíduo, haja vista as consequências judiciais decorrentes da omissão médica. 
Em relação ao incapaz, não se fala em direito de recusa terapêutica, haja vista a 
vulnerabilidade desse indivíduo. Nesse sentido, o Estado paternaliza o processo de modo a não 
permitir que um representante legal, por exemplo, decida em nome da criança. 
TRANSEXUALIDADE – Despatologização da transexualidade. Nessa área, o ativismo 
passa a ser única solução para restabelecer a falta de legislação ou sua ineficácia, assim como a falta 
ou ineficácia de políticas públicas. 
DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS 
Anteriormente, a lei autorizava que os profissionais da medicina retirassem os órgãos 
automaticamente com a morte, haja vista haver uma presunção de que as pessoas eram doadores 
órgãos. Quem não quisesse ser doador de órgãos e tecidos, deveria alterar o RG para dispor nesse 
sentido. Contudo, gerava diversas situações conflituosas com a família do falecido. 
Posteriormente, passou-se a entender que a doação precisa ser autorizada/consentida. 
Porém, ao invés de a lei determinar que essa decisão caberia a pessoa em vida e essa decisão seria 
respeitada, estabeleceu que a decisão seria da família no momento da morte, ainda que a pessoa, 
em vida, escolhesse ser doadora de órgãos. Essa é a determinação legal atual, reafirmada pelo 
Decreto n. 9.175/2017. 
Lei n. 9.434/97 – Lei que trata da doação de órgãos no Brasil. Dispõe sobre a remoção 
de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras 
providências. 
DOAÇÃO PESSOA MORTA - PESSOA VIVA (DISPOSIÇÃO POST MORTEM): Quando não é 
possível fazer o transplante com alguém em vida, ou não encontrou o doador. O Sistema Nacional 
de Transplantes é responsável pela fiscalização dessas situações. No Ministério da Saúde há uma 
lista de espera para cada órgão [fila de receptores]. O tempo de entrada na fila e o estado de 
gravidade da doença são os critérios utilizados para se saber a prioridade na fila de receptores. Deve-
se levar em conta ainda a compatibilidade entre as pessoas. 
Para que haja a doação de órgãos, deve-se observar o critério da constatação da morte 
encefálica [equipe de médicos que fazem essa avaliação, diferente da equipe que faz a análise de 
compatibilidade para transplante]. 
DOAÇÃO ENTRE PESSOAS VIVAS: A maioria dos órgãos não podem ser retirados em 
vida. Em relação aos menores de idade, somente é possível a doação de medula óssea e sangue. Não 
tem fila, mas tem que existir parentesco. Em relação a amigos, a discussão será feita judicialmente. 
Geralmente a doação entre pessoas vivas é de rins e medula óssea. O consentimento deve ser super 
apurado para realizar um transplante entre vivos. 
Art. 27, Decreto n. 9.175/2017. Qualquer pessoa capaz, nos termos da 
lei civil, poderá dispor de órgãos, tecidos, células e partes de seu corpo 
para serem retirados, em vida, para fins de transplantes ou enxerto em 
receptores cônjuges, companheiros ou parentes até o quarto grau, na 
linha reta ou colateral. 
Art. 28, Decreto n. 9.175/2017. As doações entre indivíduos vivos não 
relacionados dependerão de autorização judicial, que será dispensada 
no caso de medula óssea. 
TRANSPLANTE PAREADO: Transplante de rins. Situação em que há duas pessoas 
doentes e duas pessoas compatíveis em duas famílias. Assim, faz-se um termo de consentimento 
pareado, em que ambas as famílias autorizam o transplante na mesma hora, para que não haja a 
desistência de uma das famílias. Não há disciplina legal acerca desse tema no Brasil, pois não foi 
incorporado pela norma. 
TERMINALIDADE DA VIDA 
Dialoga com diversas áreas do Direito. Deve-se considerar ainda as perspectivas 
multiculturais para o estudo da terminalidade da vida. 
A discussão sobre terminalidade da vida envolve cinco situações da Medicina: (I) Morte 
encefálica. (II) Estado vegetativo persistente – não houve morte encefálica, mas houve um 
comprometimento muito grande do organismo. (III) Estado terminal – pessoa tem uma doença 
grave que irá evoluir para a terminalidade. (IV) Coma. (V) Pacientes com mau prognóstico – 
paciente que tem uma doença incurável. 
Acerca da disciplina constitucional, há a discussão acerca do direito à vida e o direito à 
dignidade. Na disciplina penal, tem-se os crimes contra a vida. E na disciplina civil, discute-se a 
autonomia do indivíduo. 
EUTANÁSIA – Ato de terceiro que, tomado por sentimento de piedade e compaixão, 
provoca ou antecipa a morte de pessoa que sofre diante de uma doença incurável, com o seu 
consentimento ou, ante a impossibilidade, de pessoa habilitada para tanto. A eutanásia ativa traduz 
uma ação (ex.: injetar um remédio – morfina), enquanto a eutanásia passiva trata de omissão ou 
suspensão, tem natureza omissiva (ex.: deixar de medicar um paciente). 
O Código Penal Brasileiro trata a eutanásia como homicídio privilegiado (art. 122, CP). 
Art. 15, CC. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco 
de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. 
Art. 146, §3º, I, CP. Constranger alguém, mediante violência ou grave 
ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a 
capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o 
que ela não manda: Não se compreendem na disposição deste artigo: a 
intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou 
de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida. 
DISTANÁSIA – Conduta que coloca em sede de terminalidade, mas, em verdade, não se 
relaciona. Consiste no prolongamento artificial e indesejado do processo de morte com o uso 
desmedido de recursos inúteis e desproporcionais que não promovem qualquer melhoria do quadro 
clínico do paciente, mas apenas e tão somente prolongam o seu sofrimento e a sua agonia. 
A distanásia não é, objetivamente, objeto de um tipo penal. Entende-se pela proibição 
da tortura da pessoa, prevista na Constituição Federal, ainda que seja pelo prolongamento da vida 
por meio de uso de recursos inúteis. 
ORTOTANÁSIA – Diretiva Antecipada de Vontade (conhecido no mundo como 
testamento vital). Consiste na omissão ou suspensão de medidas fúteis e desproporcionais, com o 
consentimento do paciente ou família, por resultados inúteis para o indivíduo, no grau de doença 
em que se encontra, por ser sua morte um processo já instaurado e certo. Restam mantidos os 
cuidados paliativos. 
Eutanásia passiva X Ortotanásia – Na ortotanásia, há a aplicação de “medidas fúteis e 
desproporcionais”,não alinhadas com a perspectiva de alteração do quadro clínico. Quem vai dizer 
isso é a Medicina, não o Direito. Por isso é preciso da anuência do médico assistente. 
É regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina. Trata de uma conduta atípica, na 
seara penal. É, portanto, permitida. Mas ainda há diversas discussões. Há entendimento de que 
seria uma causa excludente de ilicitude, prevista no art. 23, CP, pelo exercício regular de direito. 
MISTANÁSIA – Morte sem assistência médica, devido à carência social. 
Responsabilidade médica institucional, está relacionada à atuação ou omissão do Estado. É uma 
esfera de responsabilidade, de fato. 
INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO AO SUICÍDIO – induzimento e instigação traz 
a lógica de criar a ideia e reforçar ideia já existente, no plano psicológico. Já o auxílio é quando uma 
pessoa, não dispondo de meios para consumar, por si mesma, o próprio óbito, reclama auxílio e a 
participação material de outrem para levar a contento a sua intenção. Art. 122, CP. 
DIRETIVAS ANTECIPADAS DE VONTADE – Res. 1995/2012 CFM. Tutela da última vontade 
da pessoa. Estão submetidas ao que é possível e permitido pelo ordenamento jurídico. Feito 
mediante prontuário médico. Tem que ter compatibilidade com o conceito de “medidas fúteis e 
desnecessárias”. 
Modelos da autonomia pura [o próprio sujeito decide; é difícil que esse modelo impere], 
autonomia substituta [quando a família decide] e modelo dos melhores interesses [quando o 
médico decide]. Vontade do paciente em conflito com a decisão da família [discussão sobre quem 
vai substituir a vontade do paciente]. 
Texto 09 “Transplantes hematológicos e seleção genética em projetos parentais” – Ana Thereza 
Meirelles Araújo e José Edson Oliveira Araújo Filho 
A seleção genética oferece a possibilidade de escolha de embriões capazes de gerar 
pessoas geneticamente compatíveis com outros seres humanos (os irmãos) que sofrem de doença 
genética grave, originada por comprometimentos celulares sanguíneos e revelada por meio de 
diagnósticos como leucemias, anemias de diversas ordens e talassemia, entre outras. Isto é, a 
seleção genética ora analisada contempla a possibilidade de uma pessoa ser gerada de maneira 
assistida com o propósito de beneficiar terapeuticamente o irmão. 
Contudo, deve-se ter em mente as possibilidades capazes de fundamentar a 
concretização de escolhas neoeugênicas. 
Apesar dos recentes avanços nas técnicas de coleta e uso do sangue periférico e de 
cordão umbilical como novas alternativas, deve-se ainda considerar que a medula óssea é a 
primordial fonte de coleta. A indicação do transplante de medula óssea está relacionada 
principalmente a tratamento de doenças que comprometem o funcionamento da medula. 
O transplante de células-tronco hematopoiéticas não é o tratamento de primeira linha 
na maioria dos pacientes, entretanto, em alguns contextos clínicos, configura-se como única 
possibilidade de cura. 
OBS.: Modalidade singênica, em que o transplante é feito entre irmãos 
gêmeos e, portanto, com padrão de compatibilidade ideal. 
Registra-se o fato de que o transplante de células-tronco hematopoiéticas pode ser uma 
possibilidade terapêutica para doenças hematológicas e não hematológicas, como miastenia gravis 
e artrite reumatoide. 
Antes de realizar o transplante de células-tronco hematopoiéticas, doses de 
quimioterápicos são usadas com o intuito de destruir as células doentes da medula óssea do 
receptor. Este receberá as células-tronco hematopoiéticas coletadas do doador (modalidade 
alogênica). 
“A probabilidade de um indivíduo obter um irmão compatível é de 25%, sendo 
influenciada pelo número de irmãos existentes em cada família. Para outros membros da família, a 
probabilidade é inferior a 5%”. 
OBS.: Na inseminação artificial, há a coleta do sêmen para introdução 
na cavidade uterina, de maneira que a fecundação (junção dos 
gametas) só ocorrerá no corpo feminino, não havendo manipulação 
extracorpórea do zigoto ou embrião. Já a fertilização in vitro demanda 
a coleta de óvulos para associá-los aos espermatozoides em 
laboratório, o que faz com que a fecundação ocorra fora do corpo 
feminino, possibilitando o manuseio e a manipulação dos zigotos ou 
embriões concebidos extracorporeamente. 
Por meio da fertilização in vitro, tendo em vista o uso do diagnóstico pré-
implantacional, é possível identificar se o embrião que originará novo indivíduo apresenta 
compatibilidade genética com o eventual receptor de um transplante. A evolução da técnica já 
possibilita a verificação de algumas informações genéticas, com o objetivo de identificar doenças 
que futuramente possam se desenvolver. 
SELEÇÃO GENÉTICA - A Lei n. 11.105/200529 proibiu a engenharia genética em células 
reprodutivas e a clonagem, mas não conferiu posição sobre a seleção genética. 
A lacuna na ordem jurídica foi parcialmente ocupada por recomendação de normativa 
do Conselho Federal de Medicina (CFM), cuja Resolução n. 2.168/201730 determina que as técnicas 
de reprodução assistida também podem ser utilizadas para tipagem do sistema HLA do embrião, 
no intuito de selecionar embriões HLA-compatíveis com algum irmão já afetado pela doença e cujo 
tratamento efetivo seja o transplante de células-tronco, de acordo com a legislação vigente. 
O diagnóstico genético-implantacional (em embriões antes da implantação) pode 
assumir feições distintas, podendo ter finalidade terapêutica, aperfeiçoadora ou de seleção de sexo. 
A finalidade terapêutica deve ser o único pressuposto admissível para concretização dos 
diagnósticos em embriões humanos. A justificação para a admissibilidade do aspecto terapêutico 
advém da busca natural da saúde. 
O procedimento assistido para benefício terapêutico de terceiro tem o objetivo de 
garantir a compatibilidade com o receptor. 
Os tribunais britânicos entenderam que a Human Fertilization and Embriology 
Authory (HFEA), entidade responsável por avaliar demandas em torno do processo assistido de 
fertilização, também poderia autorizar o procedimento para selecionar embriões compatíveis com 
irmãos gravemente doentes com o objetivo de usar as células do cordão umbilical do recém-
nascido, sendo as principais condições: as autorizações serão concedidas a partir da análise de cada 
caso, conforme os detalhes de cada situação individual; haver comprovação de que não há outra 
forma de tratamento; as condições de saúde do filho receptor devem ser graves; não se podem 
modificar os embriões geneticamente para conseguir a compatibilidade. 
Nem sempre a técnica poderá ser aplicada a enfermidade do tipo leucemia por questões 
ligadas ao tempo, sendo preferível tentar um doador já vivo, e pelo fato de não existir a necessidade 
de que as células do doador sejam exatamente iguais às do receptor. 
Conforme o artigo 9º da Lei n. 9.434/97 a transplantação entre vivos naturalmente 
demanda a manifestação do consentimento do doador, o que exige a condição da capacidade. 
Também prevê a possibilidade de que o indivíduo juridicamente incapaz, com 
compatibilidade imunológica comprovada, possa fazer doação nos casos de transplante de medula 
óssea, condicionada ao consentimento de ambos os pais ou de seus responsáveis legais, além da 
exigência de que o ato não ofereça risco a sua saúde. 
Entretanto, importa considerar a interpretação do imperativo categórico kantiano: 
considerar o ser humano sempre como um fim em si mesmo, e nunca como um meio. Assim, sabe-
se que a sustentação de um projeto parental onde alguém seja concebido para servir a outro é de 
extrema delicadeza para a ética. 
A existência de alguém não pode ser contingenciada por uma realidade que a 
estigmatize como o medicamento que servirá a outrem. A concepção de um filho não pode ser 
exclusivamente conduzida pelo desejo de salvar outro filho, posto que, antes de tal propósito, trata-
se de uma nova vida, da vida de uma nova pessoa. 
A doutrinaaponta para uma divisão entre os que entendem que a reprodução de um 
bebê-medicamento pode ser chancelada por argumentos de natureza ética e os que entendem que 
a ética rechaça a possibilidade de praticar a conduta. 
Seguindo o primeiro entendimento, os partidários da legitimidade da técnica 
consideram que ela é uma forma de materializar o princípio da beneficência, justificada pelo 
“imperativo ético de curar o irmão enfermo” diante da possibilidade de usar esse recurso, e 
justificada pelos efeitos que o uso da técnica ocasionará para o doador e para a família. A justificação 
ética estaria na possibilidade de encarar também a doação sob aspecto da alteridade, 
Os argumentos contrários ao projeto parental programado para doação também giram 
em torno da condição ontológica do embrião humano. restaria desrespeitado o estatuto moral do 
embrião humano. 
 
“Doação de órgãos e tecidos” - Maria de Fátima Freire de Sá e Bruno Torquato de Oliveira Naves 
A Lei n. 9.434/97 foi intitulada, em seu nascedouro, de “Lei de Doação Presumida de 
Órgãos”. Embora tenha apresentado pontos negativos em seus essência, referida lei, 
incontestavelmente, teve o mérito de instigar o debate acerca do tema. Devido aos impasses que 
foram surgindo, foi publicada a Medida Provisória 1.718, em 1998, e consequentemente foi publicada 
a Lei n. 11.211/2001, trazendo modificações consideráveis à matéria. 
Nas disposições gerais dessa lei traz como aspecto principal a permissão quanto à 
disposição gratuita de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano, para fins de transplante e 
tratamento, não compreendendo entre os tecidos, o sangue, o esperma e o óvulo. Isso porque 
muitas transfusões sanguíneas revestem caráter urgente e imediato, não podendo, por isso, serem 
precedidas dos formalismos que rodeiam os transplantes. 
Sobre a disposição de gametas humanos, há uma polêmica sobre a gratuidade de sua 
cessão, devido ao art. 199, parágrafo 4º, da Constituição Federal. 
Art. 199, §4º, CF. A lei disporá sobre as condições e os requisitos que 
facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins 
de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, 
processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado 
todo tipo de comercialização. 
Ademais, o art. 2º da Lei n. 9.434/97 dispõe que a realização dos transplantes ou 
enxertos somente poderá ser autorizada após efetivar, no doador, todos os testes necessários à 
triagem para diagnóstico de infecção e infestação. 
Art. 2º, Lei n. 9.434/97. A realização de transplante ou enxertos de 
tecidos, órgãos ou partes do corpo humano só poderá ser realizada por 
estabelecimento de saúde, público ou privado, e por equipes médico-
cirúrgicas de remoção e transplante previamente autorizados pelo 
órgão de gestão nacional do Sistema Único de Saúde. 
Parágrafo único. A realização de transplantes ou enxertos de tecidos, 
órgãos e partes do corpo humano só poderá ser autorizada após a 
realização, no doador, de todos os testes de triagem para diagnóstico 
de infecção e infestação exigidos em normas regulamentares expedidas 
pelo Ministério da Saúde. 
Em se tratando de indivíduo morto, a retirada de tecidos, órgãos ou partes do corpo 
deverá, necessariamente, ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, contatada e registrada 
por dois médicos não integrantes das equipes de remoção e transplante. 
O critério para o diagnóstico de morte encefálica é a cessação irreversível de todas as 
funções do encéfalo, incluindo o tronco encefálico, onde se situam as estruturas responsáveis pela 
manutenção dos processos vitais autônomos, como a pressão arterial e a função respiratória. 
Atualmente vige o Decreto 9.175/2017, que determinou que o diagnóstico da morte 
encefálica será confirmado com base nos critérios neurológicos definidos em resolução específica 
do Conselho Federal de Medicina. Ademais, dispõe que a retirada de órgãos, tecidos, células e partes 
do corpo humano, após a mote, somente poderá ser realizada com o consentimento livre e 
esclarecido da família do falecido, consignado de forma expressa em termo específico de 
autorização. 
Quando da promulgação da Lei n. 9.434/97, a interpretação do caput do art. 4º era no 
sentido de que, a menos que houvesse manifestação em contrário, no intuito de não se autorizar a 
retirada de órgãos após a morte, o qual deveria se comprovar por meio da expressão “não doador 
de órgãos e tecidos”, gravada tanto na carteira de identidade civil quanto na carteira nacional de 
habilitação, o indivíduo, após o seu óbito, tornar-se-ia doador. 
Posteriormente, surgiu a Medida Provisória 1.718/98, acrescentando o parágrafo sexto 
no referido artigo, determinando que ainda que o pretenso doador não tivesse se manifestado 
expressamente em vida quanto à vontade de doar os seus órgãos, fato que, a princípio, levaria ao 
entendimento de que presumidamente aceitou a condição de doador, a família poderia manifestar-
se contrária à extirpação. Em 2001, com a promulgação da Lei n. 10.211, acabou com a presunção de 
doação e determinou ordem de prelação em relação à manifestação da família. 
Essa lei veda também a remoção post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo de 
pessoas não identificadas. 
Acerca da disposição de tecidos, órgãos e partes do corpo humano vivo para fins de 
transplante ou tratamento, tem-se que a retirada somente será permitida se corresponder à 
necessidade terapêutica comprovadamente indispensável e inadiável, do indivíduo receptor. Além 
do mais, essa doação só será permitida quando se tratar de órgãos duplos ou partes de órgãos, 
tecidos ou partes do corpo, cuja retirada não cause ao doador comprometimento das funções vitais 
e aptidões física ou mentais, nem lhe provoque deformação. 
Além do consentimento do doador, através de expressa autorização quanto da retirada 
de órgãos, presenciada por duas testemunhas, o receptor da doação também deverá expressamente 
dispor o seu consentimento, após aconselhamento médico sobre a excepcionalidade e os riscos do 
procedimento. 
Art. 10, Lei n. 9.434/97. O transplante ou enxerto só se fará com o 
consentimento expresso do receptor, assim inscrito em lista única de 
espera, após aconselhamento sobre a excepcionalidade e os riscos do 
procedimento. 
§1º Nos casos em que o receptor seja juridicamente incapaz ou cujas 
condições de saúde impeçam ou comprometam a manifestação válida 
da sua vontade, o consentimento de que trata este artigo será dado por 
um de seus pais ou responsáveis legais. 
Esse receptor deve se inscrever em lista única de espera. Contudo, há uma discussão 
acerca de se os familiares teriam o direito de doar o órgão, após diagnóstico de morte encefálica, 
para outra pessoa da família, em desrespeito a essa lista. Em que pese a lista ser o meio encontrado 
pelo Estado para controle e cadastramento dos necessitados, criando-se um meio democrático de 
distribuição dos órgãos que fossem disponibilizados, dentro do escopo altruístico da legislação, 
seria mais coerente que fosse autorizado que a família doasse o órgão para outro familiar do que 
não realizar a doação. 
O Capítulo V da Lei n. 9.434/97 dispõe acerca das sanções penais e administrativas. 
Art. 14. Remover tecidos, órgãos ou partes do corpo de pessoa ou 
cadáver, em desacordo com as disposições desta Lei [...] 
Art. 15. Comprar ou vender tecidos, órgãos ou partes do corpo humano: 
Art. 16. Realizar transplante ou enxerto utilizando tecidos, órgãos ou 
partes do corpo humano de que se tem ciência terem sido obtidos em 
desacordo com os dispositivos desta Lei [...] 
Art. 17 Recolher, transportar, guardar ou distribuir partes do corpo 
humano de que se tem ciência terem sido obtidos em desacordo com 
os dispositivos desta Lei [...] 
Art. 19. Deixar de recompor cadáver, devolvendo-lhe aspecto 
condigno, para sepultamento ou deixar de entregar ou retardar sua 
entrega aos familiaresou interessados [...] 
Art. 21. No caso dos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16 e 17, o 
estabelecimento de saúde e as equipes médico-cirúrgicas envolvidas 
poderão ser desautorizadas temporária ou permanentemente pelas 
autoridades competentes. 
 
“Eutanásia, suicídio assistido e diretivas antecipadas de vontade” - Maria de Fátima Freire de Sá e 
Bruno Torquato de Oliveira Naves 
Nos dias atuais, a nomenclatura eutanásia vem sendo utilizada como a ação médica que 
tem por finalidade abreviar a vida de pessoas. É a morte de pessoa – que se encontra em grave 
sofrimento decorrente de doença, sem perspectiva de melhora – produzida por médico, com o 
consentimento daquela. 
A eutanásia ativa, decorrente de uma ação, si divide em direta e indireta. A eutanásia 
ativa direta é caracterizada pela intenção de encurtar a vida do paciente, por exemplo, com uma 
injeção leta. A eutanásia ativa indireta tem por objetivo “aliviar o sofrimento do paciente e, ao 
mesmo tempo, abreviar o curso vital, o que se produz como efeito daquele primeiro objetivo 
principal (assim, por exemplo, a aplicação de morfina prejudica a função respiratória e, em altas 
doses, pode acelerar a morte). A intenção de realizar a eutanásia pode gerar uma omissão, ou seja, 
a não realização de ação que teria indicação terapêutica naquela circunstância. 
A distanásia configura-se pelo prolongamento do processo do morrer, quando o médico 
insiste na administração de tratamentos inúteis. José Eduardo Siqueira afirma que tratamento 
desproporcional é a intervenção médica efetuada em pacientes terminais, que consiste na utilização 
de métodos diagnósticos ou terapêuticos cujos resultados não trazem benefício ao paciente. 
A mistanásia é a morte miserável, fora e antes da hora, pelas condições sociais. 
O suicídio assistido a morte não depende diretamente da ação de terceiro, ela é 
consequência de uma ação do próprio paciente, que pode ter sido orientado, auxiliado ou apenas 
observado por esse terceiro. 
O Código Penal Brasileiro tipifica a eutanásia como crime, no parágrafo primeiro do 
art. 121, dispondo que se o agente comente o crime impelido por motivo de relevante valor social 
ou moral, (...) o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Ademais, o art. 122 proíbe a prática 
do suicídio assistido, ao tipificar como crime induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-
lhe auxílio para que o faça. 
As discussões que envolvem o “direito de morrer” não são pacíficas. Tradicionalmente, 
o que se sustenta é que a vida humana constitui bem jurídico de titularidade social, não individual, 
e o princípio da indisponibilidade da vida é consequência dessa assertiva. Porém, entendimento 
contrário é no sentido de ser necessário o respeito ao princípio da dignidade da vida de cada 
indivíduo trazido na busca por iguais liberdades fundamentais. 
A Resolução CFM 1.805/2006 regulamentou uma prática corriqueira nas UTI’s: a 
suspensão de procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente terminal. O juiz da 
14ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal deferiu a antecipação de tutela para suspender os 
efeitos dessa resolução, por entender tratar-se tal prática de homicídio por omissão e não exercício 
regular da Medicina. Todavia, o Ministério Público Federal, por intermédio de seu Procurador 
Geral, emitiu parecer pela improcedência do pedido, por entender que não se tratava de eutanásia, 
mas sim de ortotanásia. 
A Resolução CFM 2.217/2018, que dispõe o novo Código de Ética Médica, condena a 
prática de eutanásia ativa e de distanásia, visto que os cuidados paliativos devem ser oferecidos pelo 
médico. 
DIRETIVAS ANTECIPADAS DE VONTADE – O aparecimento dessas diretivas se deu pela 
defesa de limitação da intervenção médica não curativa a determinadas situações terminais ou de 
inconsciência irreversível. O Brasil não possui legislação sobre diretivas antecipadas de vontade, o 
que não impede a sua elaboração como negócio jurídico. 
A Resolução CFM 1.995 definiu diretivas antecipadas como o conjunto de desejos, 
prévia e expressamente manifestados pelo paciente, sobre cuidados e tratamentos que quer, ou não, 
receber no momento em que estiver incapacitado de expressar, livre e autonomamente, sua 
vontade. Diferenciam-se dos testamentos vitais, pois esses são usados para tratar da assistência ao 
paciente terminal, enquanto as diretivas são utilizadas para dispor sobre tratamentos médicos em 
geral, os quais podem recuperar o paciente ou não. 
Para a validade das diretivas, é necessário competência para manifestá-las: vontade 
livre, consciente e esclarecida; licitude e possibilidade física das escolhas expressas sobre a 
implementação, manutenção, limitação, suspensão ou interrupção de tratamentos e procedimentos 
de saúde. Por não haver forma prescrita em lei, o prontuário do paciente pode conter sua vontade. 
 
Texto 07 “As novas famílias por projetos parentais assistidos heterólogos: Uma ponderação sobre o 
acesso e os critérios concernentes à escolha do doador de gametas” - Ana Thereza Meirelles e Thais 
Novaes Cavalcanti 
Os procedimentos médicos de reprodução humana assistida, fortalecidos pelas 
descobertas que propiciaram a consolidação do conhecimento genético, podem ser concretamente 
considerados como instrumentos auxiliares para a formação da família contemporânea. 
A procura desses procedimentos se dá por: (i) impossibilidade biológica de procriação 
por um dos genitores; (ii) opção sexual do casal que deseja mover o projeto parental, de modo que 
duas pessoas do mesmo sexo podem optar pelo uso de material genético doado para concretizar 
uma gestação; e (iii) monoparentalidade programada, que consiste na decisão de uma única pessoa, 
conduta conhecida como “produção independente”. 
O recurso da doação de material germinativo é um instrumento capaz de contribuir 
significativamente para a formação de novas famílias. 
O Direito encontra dificuldade para alcançar e manter uma convergência de valores 
sobre certas matérias em um contexto de conflito e diversidade, porque o próprio antagonismo é 
estimulado nas sociedades democráticas. 
Descobertas do século XX: Possibilidade de manipulação genética, da clonagem, a 
formação dos bancos de dados genéticos e as inovações biotecnológicas em projetos assistidos de 
reprodução dentre outras. 
Pregar a busca e o respeito pela pluralidade, enquanto uma realidade atual, pressupõe 
o despertar de uma consciência sobre as múltiplas opressões históricas que se revelaram pela 
violação da autonomia dos seres humanos em diferentes espectros sociais e pessoais, se levados em 
consideração situações que podem envolver, por exemplo, o direito ao próprio corpo, à integridade 
psíquica e moral, à orientação sexual. 
 A forma com que o direito de família hoje caminha, seja no âmbito legal, jurisprudencial 
ou doutrinário, deslinda para sua plena libertação, pautado no reconhecimento da autonomia como 
elemento que não pode ser desconsiderado em prol da manutenção de excessivas intervenções 
estatais normativas em relações íntimas ou privadas que não se justificam. 
A autora, Giselda Hironaka, prossegue refletindo sobre o fato de que nossa legislação 
não tem se mostrado capaz de acompanhar “a evolução, a velocidade e a complexidade dos mais 
diversos modelos de núcleo familiares que se apresentam como verdadeiras entidades familiares”, 
e essa inércia do Poder Legislativo tem desembocado em “um proficiente ativismo do Poder 
Judiciário, cuja atuação eficiente tem estabelecido o liame imprescindível entre as expectativas 
sociais e o ordenamento jurídico”. Coube, sobretudo nos últimos dez anos, ao Judiciário atender às 
demandas sociais relacionadas às novas formas de constituição de famílias, seja em relação à 
formação de casais ou em relação à constituição de projetos parentais não convencionais e ao 
reconhecimento da filiação não biológica. 
Nesse liame, se não há empecilhos

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