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Ergonomia - conceitos e aplicações

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Ergonomia: 
Origens, Definições e Desenvolvimento 
1.1 INTRODUÇÃO, 11 
1.2 ORIGENS DA ERGONOMIA, 12 
1.3 O BATISMO DA ERGONOMIA, 14 
1.4 A ERGONOMIA E OS i'lOVOS CONFLITOS HOMEM X MÁQUINA, 16 
1.S DEFINIÇÕES DA ERGONOMIA, 1B 
1.6 UMA PROPOSTA DE DEFINIÇÃO, 21 
1.7 t N FASES DA ERGONOMIA, 27 
O Sistema homem-tarefa-máquina 
l,1 UMA DEflNIÇÂO DE SISTEMA, 35 
2.2 OUTRA DEFINIÇÃO DE SISTEMA, 36 
2.3 00 SISTEMA HOMEM-MÁQUINA AO SISTE MA HOMEM-TAREFA-MÁQUINA, 37 
2.4 CONCEITUAÇÃO DE SISTEMA HOMEM-MÁQUINA, 39 
2.5 CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS HOMENS-MÁQUINAS, 42 
2.6 O ENFOQUE CENTRADO NO USUÁRIO, 45 
2.7 AS ATIVIDAD ES DA TAREFA COMO DEFINIDORAS DAS INTERAÇÕES 
NO SISTEMA HOMEM-MÁQUINA, 47 
Cargas e custos humanos do trabalho 
3.1 INTRODUÇÃO, 49 
3.2 CARGAS DE TRABALHO, 52 
3.3 rERICULOSIDADE, INS,O,LUBRIDADE E PENOSIDADE DO TRABALHO, 56 
Métodos e técnicas da intervenção 
4.1 PR INCIPAIS TIPOS DE PESQUISAS USADAS n LA ERGONOMIA, 59 
4.2 MÉTODOS DE PESQUISA, 62 
4.3 MÉTODOS DA ENGENHARIA, 77 
V1 
e 
3 
OJ, 
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Ergonomia: 
Origens, Definições e Desenvolvimento 
1.1 :Introdução 
1 ) sde civilizações antiga&, o homem sempre buscou melhorar 
u s ferramgntas, os_ instrumentos e os utensílios que usa rta sua 
vida cotidiana. Existem exemplos de empunhaduras de foices, 
1 atadas de séculos atrás, que demonstram a preocupação em 
·tdequar a forma da pega às c~racterísticas da mão humana, de 
111odo a propiciar mais conforto durante sua utilização. 
Enquanto a produção se dava de modo artesanal, era pos-
'Ível obter formas úteis, funcionais e ergonómicas sem exces-
sivos requisitos projetuais. No entanto, a produção em série 
- em larga escala ou mes1no, em poucas unidades - impossibi-
lita técnica e economicamente a compatibilização e a adequa-
ção de produtos a partir do uso e de adaptações sucessivas. 
Paradoxalmente, a evolução tecnológica, con1 suas ma-
ravilhosas máquinas voqdoras, informacionais e inteligentes:, 
exigiu e enfatizou a necessidade de .conhecer o homem. 
Depois de contínuos avanços e1n engenharia, onde o 
homem s-e adaptou, mal ou bem, às condições impostas pelos 
maquinismos, evidenciou-se que os fatores humanos são pri-
mordiais. Maís ainda, em sistemas complexos, onde parte das 
funções classicamente executadas pelos homens pode ser aloca-
12 
-- -
da às máquinas, uma incorreta adequaçào às capacidades hu-
manas pode invalidar a confiabllidade de toda o sistema. Assim, 
faz-se necessário conhecer a priori os fatores determinantes da 
melhor adaptação de produtos, máquinas, equipame11tos, traba-
lho e ambiente, aos usuários, operadores, operários, indivíduos. 
A Ergonomia se constitu iu a partir da rewüão de psicó-
logos, fisiólogos e engenheiros. A psicologia e a fisiologia são 
as duas principais ciências que fornecem aos ergonomistas re-
ferências sobre o funcionamento fí sico, psíquico e cognitivo 
do homem. 
O desempenho do homem no trabalho é cada vez mais 
complexo e a Ergonomia ampliou progressivamente o campo 
de seus fundamentos científicos. A inteligência ar tificial, a se-
miótica a antropologia e a sociologia passaram a fazer parte 
do acervo de conhecimentos do ergonomista. 
1.2 Origens da Ergonomia 
Durante a II Guerra Mundial, o impulso acelerativo das mu-
danças tecnológicas - aviões cada vez mais velozes e radares 
para detectar aviões inimigos, submarinos e sonares - colocam 
o homem em situaçôe~ de extrema pressão ambiental, física e 
psicológica. 
Exacerbam-se as incompatibilidades en!Te o humano e o 
Lecnológico, já que os equipamentos mil itares exigem dos ope-
radores decisões rápidas e execução de atividades novas em 
condições críticas, que implicam quantidade de informações, 
novidade, complexidade e riscos de decisões que envolvem 
possibilidade de erros fatais. 
Ressaltam-se, então, as incompatibilidades entre o pro-
gresso humano e o progresso técnico. Como diz Chapanis 
(1959): 
1 
1 
1 
.. 
. 
"l l 111a Importante lição de engenharia, proveniente da l i Guerra 
Mundial, é que as máquinas não !utam sozinhas. A guerra soli 
ultou e produ?iu maquinismos e complexos, porém, geralmente, 
f ssas inovações nào faziam o que se esperava delas. Tal ocorria 
porque excediam ou não se adaptavam às características e ca 
pacidades humanas. Por exemplo, o radar fo i chamado olho da 
armada, mas o radar não vê. 
or mais rápido e preciso que seja, será quase inútil , se o epe 
rador não puder interpretar as informações apresentadas na tela 
e decidir a tempo. Similarmente, um avião de caça, por mais veloz 
e eficaz que seja, será um fracasso se o piloto não puder voá-lo 
com rapidez, segurança e eficiência". 
Cabe ao homem avaliar a informação, decidir e agir. 
i •nr se desconsideraremos fatores humanos, resultam ra lhas 
dos sistemas. O projeto de engenharia é eficaz, m as o desem-
jl~•nho não é eficiente. 
Buscam-se explicações e a solução mais fáci l é afi rm ar 
que a cu lpa é do homem - o erro humano, a falha humana, o 
,1lu inseguro. Acusar o homem de negHgência, descaso, deso-
hediêJJcía ou ignorância, no entanto, não resolve o problema. 
A fa lha humana propicia perdas para o sistema: aviões 
dlingidos pelos inimigos e que não rnmprem a sua missão de 
bombardear os alvos programados, ou cidades inteiras expos-
tas a ataques por não se detectarem a tempo as inform ,1ções 
sobre violações do espaço aéreo. 
Difícil selecionar o homem que não erre, principalmente 
quando se necessitam mais e m ais pUotos para conduzir o 
modernos bombardeiros. A urgêncía e a precisão de renova r 
os efetivos - pilotos de guerra n1orrem em combate e há que 
se renovar a Erota e a equipe - também impossibilitam in ten-
13 
14 
sificar e prolongar o treinamento para corrigir as deficiências 
da seleção. 
Aviões custam caro. Conquistar a confiança da população 
civil é fundamental para o esforço de guerra. Existe uma interface 
no sistema homem-máquina cujos aspectos técn icos devem-se 
considerar no momento do projeto há que se adaptar as máqui-
nas às características físicas, cognit ivas e psíquicas do homem. 
Engenheiros juntaram-se aos psicólogos e fisiólogos para 
adequar operacionalmente equipamentos, ambiente e tarefas 
aos aspectos neuro-psicológicos da percepção senso rial (visão, 
audição e tato), aos li mites psicológicos de memória, atenção 
e processamento de informações, as características cognitivas 
de seleção de informações, resolução de problemas e tomada 
de decisões, a capacidade fisiológica de esforço, adaptação ao 
frio ou ao calor, e de resistência às mudanças de pre são, tem-
peratura e biorritmo. 
Nasce a Ergonomia! 
1.3 O batismo da Ergonomia 
O termo Ergonom ia é utilizado pela p rimeira vez, como cam-
po do saber específico, com objeto próprio e objetivos parti-
cu lares, pelo psicólogo lnglês K. F. Hywell Muffel no dia 8 de 
julho de 1949, quando pesquisadores resolveram formar uma 
sociedade para o estudo dos seres humanos no seu ambiente 
de trabalho - a Ergonomíc Researcb Society (Pheasant 1997). 
Nesta data, em Oxford, criou-se a primeira sociedade de Ergo-
nomia, que congregava psicólogos, fisiologistas e engenheiros 
ingleses - pesquisadores interessados -nas questões relaciona-
das à adaptação do trabalho ao homem. 
Num sentido amplo, todavia, o termo trabalho aplica-se a 
qualquer atividade humana com o propósito, particularmente 
,, 1 l.i L'llVnlve algwn grau de experiência ou esforço. Ao definir 
1 11 c111o mia e m relação ao trabalho hum ano, em geral utiliza-
i ' 11 1111 h1v ra trabalh o com este significado. 
Buscava-se um termo de fácil tradução para outros idio-
111 1111, qw.: permitisse derivação de outras p alavras - ergonomis-
l 11 l' rgonõmico, etc, - e que não implicasse que uma disc ipl i 11a 
11,~~ L' mais impor tante que outra. O neologismo ergonomia, 
1111111n-ccnde os termos gregos ergo (trabalho) e nomos (nor-
111,11,, regras). Entretanto, a etimologia do vocábulo não define, 
111 l' , isa mente, o objetodesta disciplina. A origem do termo 
t' IJ.\Clll tlm ia, no entanto, remonta a 1857, quando o polonês V,.7. 
)1tNI rzebowski deu como titulo para uma de suas obras Esboço 
, 111 l\rgonomia ou ciência do trabalho baseada nas verdadeiras 
11va liações das ciências da nahueza. Define-se então a Ergono-
1111a t>mo a ciência de utilização das forças e das capacidades 
humanas. 
O termo ergonomia é utilizado nos países europeus, in-
, lu indo a Grã- Bretanha. Já nos Estados nidos e Canadá, as 
l ' x. pressões que mais se aproximam são: human factors (fatores 
l11 nnan os), human factots engineering (engenharia dos fato-
',·:; humanos), engineering psychology (esta expressão poderia 
~l!r traduzida por ergopsicologia), man-machíne engineering 
(engenharia homem-máquina) e human performance engi-
neering (engenharia do desempenho humano). Embora seja 
possível fazer distinções entre os termos Ergonomia e Fatores 
1-Lumanos (Montmolhn & Bainbridge, 1984), existe uma ten-
dência para a adoção do termo Ergonorn ia - este é empregado 
em todo o mundo, exceto nos Estados U nidos e Canadá. 
Mesmo assim, recentemente, a Human Factors Socíety -
Associação Americana de Ergonomia - realiza consul ta junto 
aos seus associados para a incorporação do termo Ergonomia 
15 
na ua d nominação oficial (Laughery, 1992), passando então 
a ser d nominada Human Factors and Ergonomics Society. 
o Bra il, adotou-se o uso do t rmo Ergonomia, consoli -
dado com a difusão dos primeir s livro aqui escritos: lida & 
Wicrzzbicki, Ergonomia (1968); Verdussen, Ergonomia: a ra-
cionalização humanizada do trabalho (1978). 
1.4 A Ergonomia e os Novos 
Conflitos Homem x Máquina 
A partir do anos 1980, a Ergonomia participa da renovação 
produzida pela Informática, já qu , mais uma vez, a preocu-
paçã com o fatmes humanos não a ompanhou pari passu o 
progresso tecnológico. Assim com.os enfatizava apenas o fun-
cionamento eficaz durante o projelo de máquinas energizadas 
a vapor, a eletricidade e o petróleo, com a microeletrônica o 
me mo acontece. O projeto de computadore , a implantação 
de centros d processamento de dado , a geração de sistema 
de informação, de multimídias, de hiperle to e de programa 
apli ali os contemplam principalm nte o funcionamento - a 
capac1dad e velocidade do componentes, a conservação, a 
manutenção das máquinas, a rapidez no uso. A interação entre 
as máquinas e os seus usuários raramente foi uma considera-
ção a priori - e, no caso da informatização, nada mudou. Daí a 
importância da Ergonomia. 
A in~ rmatização de postos d trabalho gera, nas diversas 
atividade profi ionais, mudança pr fundas nos hábitos, na 
atitude nos e quemas operatórios. As melhorias resultantes 
da implantação de computadore · e igiram o aumento do nível 
cullural dos trabalhadores e resultaram na mudança das aspi-
rações destes em relaçâo ao trabalh e na modificação da sua 
visão so bre as condições de trabalho. 
A atividade de entrada intensiva de dados, por exemplo, 
caracteriza por uma descentralização horizontal, acompa-
nhada de um aumento de trabalho repetitivo. Ocorre, então, 
uma desqualificação d trabalho ocasionada pelo parcelamen-
to da tarefa, pela faJta de significado da informação tratada, 
por uma especialização re rit a do operadores. 
O corolário ão, por um lado, uma obrecarga pela in-
tcnsificaçào do ritmo de trabalho e, por outro, uma subcarga 
p la monotonia. Na duas situações, incrementam-se füi pos-
sibilidades de erro e d problernas físicos e p íquicos para o 
<>pcrador. 
A automatização de istemas produtivo , como as indú -
1 rias de processo - química, cimento etc. - cr ia ituações de tra-
balho onde o operador responsável pelo contr Je regulação 
1 si tema permanec i olado e deve manter uma constante 
igilância por muita horas, seja durante o dia Olt a noite. Cabe 
.1 este operador acompanhar o bom andamento do processo 
de fabricação e iJ1tervir com rapidez em caso de incidentes. 
1: te tipo de tarefa, embora aparentemente não implique qual-
quer esforço do op rador, e casiona altos rúvei de lensào para 
o bomem. 
Os incidente ou acidentes são raros, mas quando ocor-
rem são de Larga pr por ão e acarretam sério risc para o 
istema e para o próprio operadores. São muitas as informa-
ções a selecionar, as variáveis a interpretar e várias as possibi-
lidades de solução. Tudo em muito pouco tempo e envolvendo 
decisões que são sempre urgentes. 
Parafraseando hapanis (1959), já em 1998, podemos 
dizer que uma importante lição de engenbaria, proveniente 
das catástrofes, é que a máquinas não controlam sozinhas. 
A automação olicitou produziu maquinismos novos e com-
7 
18 
plexos. Porém, geralmente, essas inovações não fazem o que se 
espera delas. Tal ocorre porque excedem ou não se adaptam às 
ca racterísticas e capacidades humanas. Por exemplo, o compu-
tador foi chamado sistema inteligente, mas o computador não 
pensa. Por mais r ápjdo e preciso que seja, será quase inútil, se 
o operador 11ão puder interpretar as informa.ções apresentadas 
na tela e decidir a tempo. 
Similarmen te, um sistema de controle, por mais Lnfor-
matizado e eficaz que seja, será um fracasso se o controlador 
não puder monitorá-lo regulá-lo com rapidez, s.egurança e 
eficiência. 
1.5 Definições da Ergonomia 
A Associação Internacional de Ergonomia (IEA - 'lhe Intema-
tional Ergonomics Association ), apresentado pela Associaçao 
Brasileira de Ergonomia (A.BERGO, 2007), adota a definição 
o ficial de ergonomia nos seguintes termos: 
"A Ergonomia (ou ratores Humanos) é uma disciplina cient ífica 
relacionada ao entendimento das interações entre os seres hu-
manos e outros eleméntos ou sistémas, e à aplicação de teorias, 
princípios., dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem 
estar humano e o desempenho global do -sistema. Os ergono-
mistas contribuem para o planejamento, projeto e a ava liaç~o de 
tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas de 
modo a tomá- los çompatlveis com as necessidades, habilidades 
e limitações das pessoas 
A palavra Ergonomia deriva do grego Ergon (trabalho) e nomos 
{normas, regras, le is}. Trata-se de uma disciplina o ri entada para 
urna abordagem s1stemica de todos os aspectos da atividade hu-
mana. Para darem conta da amplitude dessa dimensão ff poderem 
; 
' 
' 
1 
1 
intervir nas atividades do trabalho é preciso que os ergonomistas 
tenham uma abordagem holística de todo o campo de açáo da 
disciplina , tanto em seus aspectos fís icos e cognitivos, como so-
ciais, organizacionais, ambientais, etc. Freqüentemente esses pro-
fissiona is intervêm em setores particulares da economia ou e m 
domínios de apl icação específicos. Esses últimos caracterizam-se 
por sua constante mutação, com a criaçao de novos domlnim de 
ap licação ou do aperfeiçoamento de outros mai, antigos. 
De m,meira geral, os do mlnios de especialização da ergonomia são: 
• Ergonomia fís ica I está relac ionada com às características da 
anatom ia humana, antropometría, fisiologia e biomecânica em 
sua relaçao a atividade tisica. Os tópicos re levantes incluem o es-
tudo da postura no trabalho, manuseio de materiais, movimentos 
repetitivos, distúrbios músculo-esqueletais re lacionados ao tra-
balho, projeto de posto de trc1balho, segura nça e saúde. 
• Ergonomia cognitiva I refere-sé aos processos mentais, tais 
como per epção, memóric1, raciocln lo e resposta motora con-
forme afetem as interações entre seres humanos e outros ele-
mentos de .um sistema. Os tópicos relevantes incluem o estudo 
da carga mental de trabalho, tomada de decisão, desempenho 
especializado, interação homem computador, stress e treina-
mento conforme esses se relacionem a projetos envolvendo seres 
humanos e s istemas. 
• Ergonomia. organizacional I concerne à otlmiz~ção dos sistemas 
óciotêcmcos, incluindo suas estruturas organizadonais, pol íLic<1s 
e de processos. 0$ tópicos relevantes incluem comunicaçôes,ge-
renc:iamento de recursos de tripulações (CRM - domlnio aero-
náutico) , projeto de traba lho, organizaçao tempora l do trabalho, 
t rabalho em grupo, projeto participativo, novos paradigmas do 
trabalho, trabalho cooperativo, cultura organizacioml, organiza-
ções em rede, te le-t rabalho e gestão da qualidc1de." 
19 
o 
"A ünlca e espec1f1ca tecnologia d Ergonomia é ecnologia 
da interfac homem-sistema A Ergono 1a corno ciência trata de 
des nvolver conhecimentos sobre as capaodad s, limites e o ras 
características do des mpenho humano e que $e retac1onam com 
o proj o d in erfaces, en re ind du s e outros componentes do 
sistema. Como prática, a Ergonomia compr nde a pl1cação de 
tecnologia da interface homern-!>istema a proJ to ou mo f ca ões 
de sistemas para dume ar a segurança, conforto e e -e, nc1ado 
siste a e da qualidade de VJda·. 
"No m menta, esta t enologia ú111ta e especial possui pelo 
menos qua ro compone tes prrncpa1s dentificáve1s que, do mais 
a tigo ao mais rncente, são o s · guIntes: lff 01ogia da i terface 
homem m'quina ou Ergonomia de hardwar ; tecnologia d in-
terfac homem-a b1e te ou Ergonomia amb1entdl, lecno!og a da 
interface usuar:o-s1stema ou Ergonor ,ia d so ware e tecnologia 
da inte ace organização- áquina ou macroergonomia" (Hen-
dric , 1991 ). 
UA Ergonomia arrio 'Y1 con ecioa co o hurran fac-i0rs. é uma 
disciplina c1e ífica Iu trata da mternção ent,e os homens e a 
tecnologia. A Ergonomia r t gra o conhe 1m nto provenie te das 
e• l'lOas humanas para adap ar tarefas, síst mas, produtos am-
bientes às liab1l1da s e limitaç s .tis·cas e ment is das pessoas" 
(Karwowsk1, 199 6), 
"Ergonomia é um cor o de conhec1m n os sobre a 
JJ"llanas, h ita ões humanas e ou s caracterlsticas hu nas que 
s o rnlevan es para o design. Proj to ergonô lco é a aplicaç~o da 
1nfo1 r a ao ergonô 1ca ao design de errar tds, máQui as, sis-
temas. ta, f s, trabalho e ambie te!> para o uso huma10 uro, 
confortáv0I e efetivo. A p lavra s g ificante nestas definições é de-
srgn, porque ela nos separa e d1sc1plinas p ramente acad micas 
como antropologia. f1~oog1a e psicologia" (Ch panis, 1994). 
Segund Pheas nl (1997), a abordagem ergo ica em r I ção 
ao design pode s r resumida co o 
·o prin lpio do design centrado no usuário - Se um obJeto, um 
~istema ou urn ambie te é projetado para o JSO umano, então 
u des1 n deve se basear na caracteris 1cas ··sicas e m nta1s do 
seu usuário humano. O objetivo é alcançar a melhor I tegracão 
passivei entre o roduto e seus suános, no con exto da larefa 
(trabalho) que deve ser desempenhada. m outras palavtas. Ergo-
nomia é a ciência Que objetiva adaptar o trab lho ao trabalhador 
P oprorJuto ao usutmo." 
Para Meister ("998), "o aspecto s,ng lar que p ,culanza u r o-
nom1 - e que faz dela uma dis I hna especi'ica - é a mterse ~o 
do domin io compor amental om a tP.cnologia f lsica, pri 1pal-
en e o de:.ig de equipar e os Eu sei e muitos especialistas 
m Ergonomia qu a cor.s,der 1 como uma o a de psi olog,a, 
mas eu contesto es a assunção veementemente - ela desleg ima 
a Ergonomia. A ps,cologia não trdta da tecnologia, a en enharia 
nao s m eressa pelo compo a'Tlento hurrano, a não s r quando 
a [rgonom1a ex1 e, O foco principal da E.rgonomia é o d se vol-
virnen o e sistemas. que é a trndução dos princ1p1os co porta-
entaIs parõ o design de sI emas isicos". 
1.6 Uma proposta de definição 
e um o objt:tivo de eu lobar este: a pecto e explicitar o mpo 
cl ' atuaçao da Ergonomia, assim como seus objetivos, propôe-
Sl', a partir de Morae · Soare (198 ), a seguinte d finíçâo: 
ulll eitua- e a Ergonu a como te nologia pr jetual da· co-
mllni açõ s ntre h men e máquina., traha lho e ambi 11te. 
De ac rdo com a ela ificaçã de Mari Runge para tec-
n logia, a F.r anomia alua tanto como teoria t nológi a ubs-
lantiva quanto como t ria tecnol 'gi a perat i a. 
2 
mo teoria tecnológica operativa, a Ergonomfa objeti-
va, atravé da ação, resolver os problemas da re1ação entre ho-
mem, máquina, equipamentos, ferr mentas, programaçao do 
trabalho, instmções e informaçõ , solu ionando o conilitos 
entre o hLLmano e o tecnológic , entre a inteligência natural e a 
inteligência artificial nos sistemas h rnens-máquioas*. 
orno teoria tecnológica substantiva, a Ergonomia bt:i 
ca, atravé d pesquisas descritivas experímentais, sobre li-
miares, limite e capacidade humanas (a partir de dados da 
fi iol gia, da neurofisiologia, da p i ofi iologia, da psicologia, 
da p i opatologia, da biomecânica - primacialmente aplicada 
ao traba lh -, bem como da anatomia e da antropometria), 
forn er bases racionais e empírica para adaptar ao homem 
bens de consumo e de capital, m io e métodos de trabalho, 
planejamento, programação e controle e pmcessos de produ-
ção, i ema de informação. 
Tais onflitos se expres am através de custos humanos do 
trabalho para o operador - fadiga, doenças profissionajs, lesõe. 
temporárias ou permanente , mutilaç - , morte - e de acident 
incidente , erro · excessivos, paradas não ontroladas, lentidão e 
• Seg11n do f.,foir/11101U11 í/ 971), "·' com1111im,11/'.<' entn• o ho111c111 e a m t)ufoa deffrum o tra/Jn-
lho ri /'Gl'fif tfr Couffig,url (1966), m11for,m• "·' n111r,,/11,; rln â bem étiar defir, c-s,• r11,l,1u11111 
como rm, mr,~m~ma fi .~co ob1etivmioi que vi a a Sr•h~tL1u i1 11 lrnm r. m lla l!xec:~çno di' mno llf ÜIJ, 
-~pmli, ,J, M1C.'orm1Ckd>Sm1dtts (1982), Murr li (1~65) ~Shaác/ (1974), podc•seafir11u1rr1uc, q11urulo 
s. di:qut,, Jwmemfunciana como pane de 11m s1s1t1 ,a homem-mdqrw 1t'I o a mccito c.Qmum d( oJrfqit in tt 
i demi11ia11U11k'ftl~ ,,,1ri1iv . 
Co rform, as rdmn~111.s da d ·mi rica e l'flTII i=nes aufo,,.., "'8º'"'mi '"'· a pa/,., r., 111dq11itlll sig11(ffr, , 
,,,1,10. turfo m1mlo /li~ romp unde ~irw,J/m~ni, q1ml,1ua ti('<! d,, 01, ·.,,a fisiu 1, ,mefaro, 11parnto, d,,. 
pa<i1n•(),, 1•,1idp111,m1ta, 111naili<J, meio de rml>a/110, q11aJ 11u meca11is1110 fi~ica objcti,-ad aim o qwtl 0 
ind,vJdm, t-x.c, 11 1t1 a{gimw Htn·idade. corn um dml prcp ·s; o. 
Ne. sa n,:,•N 11,,, "lâp,'J com o qMol •scrtW11 ws, 11 r1tq 11ctc ,om que Jvgr.nios, pácom a qu<1I a,itimmns a 
jar'dw, , ~ e11,~mfo. o 111111·telo e trs ,rola, o br, /r/e tle "''" a ,. o pn ,lo ptilmro iilv leio má,711111a.sc1mm roo 
"1rr,, 011 fl bld clc tn qtie dhigimost o rormt u,erânJco1 <J ~crrn ,.dcuit;a nwnrw l, 1 corrtiia rran-s-pvrwdor,~, 
,1 pair,c/ rfo romro /e de 1mw ro:fitiari , n c,J1Yso/r, ,te mn 11 i1,1rapl d~ 1a1111 11sina, '""" rég11a de ,·á/culos, 
umu r..okuftldOM. um C~lllpuradur. 
1ulros problemas d des mp nho, assim como danifi ação e má 
mservação de máquinas e eqtiipamentos, que acarretam de-
~ r ~ cimos na produç~o, desperdício de matéria -primas, baixa 
,1ua lidade dos produto - o que acaba por comprom t r a produ-
t ,vidade e a qualidade do i tema homens-máquina . 
Com ba e no enfoques istêmico e i1úormacional, a 
l(rgonomia como tecnologia operativa trata d definir para 
projetos de produto ·, estações de trabalho, sistema de con-
1 role, sistemas de informação, diálogos computad rizados, 
organização do trabalh , operacionalização da tarefa e pro-
l' ramas instrucionais o seguintes parâmetros: interfa iais, 
1 nst rumentais, informacionais, acionais, comun icacionais, 
nitivos, mo imenta ionais, espaciais/arquit turai , fí ico-
1 mbientai , quimic -ambientais, securitários op racionai , 
organizacionais, instru ionais, urbanos e psico iais. 
• lnterfaciais I configuração, morfologia, arranjo fí ico, di-
mensões, alcanccsde máquinas, equipam nt , on ole , 
bancadas, painéi e mobiliár ios ; 
• Instrumentai J configuração, conformação, arra11jo fisico 
e topologia, pri rização, ordenação, padroniza ã , compa-
tibilização e con i tência, painéis de supervisã ( inópticos, 
mostradore ) e./Olt e mandos; 
• Informaciona i I visibilidade, legibilidade, compreensabili-
dade e quantidade de informação, prioriza ão ordenação, 
padronizaçao, e mpatibilização e consistência, componentes 
s.ignicos - caracteres alfanuméricos e símbolos iconográficos -, 
de sistema de sinalização de segurança ou de orientação, de 
painéis sinópticos, telas de monitores devfdeo e mostradores, 
de manuais opera ionai e apoio instruciooais; 
o.. 
V 
' 
• A ionajs I e nfiguraçüo, co11formação, apreensibílidad ·, 
d1mens . , m imentaçào e re i Lên ia de (lmando ma-
nuai ' pediosoli; 
municacionai I articulação e padr nizaç:io de mensagens 
v rbai p r aJt -falante , microfones e t I fonia; qualidade e 
quipamentos de comu ni -o l; 
• P icossociaic; 1 on.flito entre iudMdu · e grup s soei. ís; 
dificuldades de omunica õe e ínteraçõ interpc ais; 
falta d opç-e dcde nlra â e lazer. 
• ognitivos I compreensabilidade, 011 i tên ia da I i a de 
codificação e r prc cnLação, mpatib1lização de rep rtó-
nos, sigmficação as men agen · procc. snmento de in- r-
ma õe , e cren ia o e tí.muJo , d.u. m~tru ões e das a ões 
e decisões envolvida na tarefo, compat ibilídadc enlr a 
quantidade d informa ôe , e mplexida e e/ u risco'! i:n-
"' lvid ~ na tarefa; qua lificaça , omp ·l'Oncia e proficiéncia 
d operador; 
• Movimentacionai l limiles de peso para le.vantament e 
Lr· nsporle manual de carbra egundo adi tância b rit. n-
tal da carga em r lação À região l mba.r da coluna vertebral, 
curso erlical do levantament, ou aba1 amenl da carga, 
a confi rmação da carga, a frcqüênci, de manipulação da 
arga; 
• Espadai /arquitetural I aeraçâo, in olaçã iluminação 
natural do ambi •nle; i lamento acústi o e térmico; áre 
de irculação e la · ut de in talaçào das e taç- de lraba-
lho; ambiência gráfica ores do ambiente e dos elem ntos 
arquiteturais; 
• fi i o-ambientai I ilumin ção, ru ído, 1 mperatura vibra-
çà , radia ;o, prc são, dentro do limite da higiene e se-
guran a do lrabalho, e con id rando a e pe ifi idade!. da 
tarefa; 
• Químico-ambientai I toxicidade, vapor e aero<li per i-
de ; agente iológi os (mi r organi mos: b tér1a • fung e 
víru. ), quer . peitem dr- e de as epsia, higiene aúd ; 
• ecuritário I e ntr le d ri o. e a idente , la manu-
tenção dt' m.1qulna e equlpamenl ·, pelu utiliza ão de dis-
po iliv de rotcçã col ti a e, m ú] i o ca.c; , pelo u 
dt equipamento ' e pr tcção indi idua l adequado , p •la 
u enisão onstant da instala à o duto , alarmes e da 
planta industrial em geral; 
• Operad nais I rogramação da tarefa, int raç e orma1. 
e informais, ritmo, repetitividade, aut nomia pausas. ' ll-
p r · ão, prec1 ã e tol rãncia d ati idade da tarefa, 
controle de qualidade, <limen ionamenl de quipc : 
• Organizacionais I pare bment , i olamento, participaç:io, 
gesl o, avalia ·ão, jornada, horário, tum · e cala d traba-
lho, eleção e trdnament ara o trabalh ; 
• rbano I planejam nt pr j to do e paç da cida e, si-
nalização ttrbana e de transporte; terminais rodoviári , 
ferr v-iári metroviár i .; área • circulaçã e in e 
çiio, área de repouso e d laLer; 
• ln lrucion i I programa de treina ent procedim nt d 
ução da tarefa; reciclng ns e avaliaç , ; 
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26 
O objeto da Ergonomia, seja qual for a sua linha de atu­
ação, ou as estratégias e os métodos que utiliza, é o homem 
no seu trabalho trabalhando, realizando a sua tarefa cotidia­
na, executando as suas atividades do dia-a-dia. Esse trabalho 
real e concreto compreende o trabalhador, o operador, o ma­
nutenedor, o instrutor ou o usuário no seu local de trabalho, 
enquanto executa sua tarefa, com máquinas, ferramentas, 
equipamentos e meios de trabalho. Num determinado am­
biente físico e arquitetural, com seus chefes e supervisores, 
colegas de trabalho e companheiros de equipe, e mais as inte­
rações e comunicações formais e informais, num determinado 
quadro econômico-social, ideológico e político. 
A Ergonomia partilha o seu objetivo geral - melhorar as 
condições específicas do trabalho humano - com a higiene e a 
segurança do trabalho. Os organizadores do trabalho também 
estudam o trabalho real para determinar procedimentos mais 
racionais e formas mais produtivas de efetuar a tarefa. Variam 
as ênfases, as estratégias, alguns métodos e técnicas. Impres­
cindível se faz enfatizar que a Ergonomia orienta-se priorita­
riamente para a aplicação. 
Cumpre ressaltar que a singularidade da Ergonomia está jus­
tamente na sua praxis, que integra o estudo das características fí­
sicas e psíquicas do homem, as avaliações tecnológicas do sistema 
produtivo, a análise da tarefa, com a apreciação, o diagnóstico, a 
projetação, a avaliação e a in1plantação de sistemas homens-tare-
Co11fom-, Mrister o- R11bídeau (1965). o ríst,ma llomem-máquit,a wmprunde-se em situações difero,Jes. 
• A combinação homem + uteirsillos; o posto de trabalho (o din de um lromem + uma máquina); 
•O.sistema homens-máquinas - um conjunto d� elementos humanos e n6o fwmanos submetidos a 
i11teraçõcs (c<>mo, por exemplo, a torre de co11trolt de um aeroporto, uma central dt controle opera• 
âonol de uma usina, ns rota.tivas de impressão e os operadores encatregados de manlpulá•la e de 
mam,teni-la. a saln de operação t'Om o paci<!nte, o cirurgião, sua equipe, instnm,etJtadorts, eufe,·· 
meiros, apararas e equipamentos). 
fhs 111ágt1inas. O ergonomista junto com engenheiros, arqttitetos, 
1 ll·scnhistas industriais, analistas e programadores de sistema, or-
1\•' 11 izadores do trabalho, propõe mudanças e inovações, sempre a 
11,1 rti r de variáveis fisiológicas, psicológicas e cognitivas humanas 
, . sL'gundo critérios que privilegiam o ser humano. 
O atendimento aos requisitos ergonómicos possibilita 
maximizar o conforto, a satisfação e o bem-estar, garantir a 
.�egurança, minimizar constrangimentos, custos humanos e 
larga cognitiva, psíquica e física do operador e/ou do usuário 
,. otimizar o desempenho da tarefa, o rendimento do trabalho 
l' a produtividade do sistema homem-máquina. 
Finalmente, cabe asseverar que a Ergonomia tem como 
11.:ntro focal de seus levantamentos, análises, pareceres, diag­
nústicos, recomendações, proposições e avaliações, o homem 
torno ser integral. A vocação principal da Ergonomia é recupe-
1 .1 r o sentido antropológico do trabalho, gerar o conhecimento 
,1tuante e reformador que impede a alienação do trabalhador, 
valorizar o trabalho como agir humano através do qual o ho­
mem se transforma e transforma a sociedade, como livre ex­
pressão da atividade criadora, como superação dos limites da 
natureza pela espécie humana. 
1.7 �nfases da Ergonomia 
1 mpossível conceituar Ergonomia e contextualizá-la sem des­
nudar as linhas de intervenção existentes. Atualmente, a Ergo­
nomia apresenta dois enfoques bem característicos, segundo o 
tipo de abordagem do homem no trabalho: o enfoque ameri­
cano e o enfoque europeu. 
De acordo com Montmollin (1986), a linha européia pri­
vilegia as atividades se inicia com a observação do trabalho, em 
condições reais. Em seguida, tem-se a verbalização do traba-
27 
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28 
lho executado pelos próprios operadores especificamente nele 
envolvidos e considera-se a aprendizagem da tarefa e a com-
petência do trabalhador. Os ergonomistas americanos, por seu 
lado, preocupam-se, principalmente, com os aspectos físicos 
da interface homem-máquina (anatônücos, antropométricos, 
fisiológicos e sensoriais), objetivando dimensionar a estação 
de trabalho, facilitar a discriminação de informações dos mos-
tradores e a manipulação dos controles. Para tanto, realizam 
simulações em laboratórios (onde medem alcances, esforços, 
discriminação visual, rapidez de resposta), mantendo constan-
tes algumas variáveis - homens com dimensões extremas (5° e 
95º percentis), acuidade visual, nível de instrução etc. 
Ao se estudar, por exemplo, o trabalho em terminais de 
vídeo, o enfoque americano contempla as dimensões do mobi-
liário; alcances, conformação do teclado; radiaçãoe cor da tela.; 
altura, espessura e desenho dos caracteres alfanuméricos; visi-
bilidade e compreensibilidade dos símbolos iconográficos; ilu-
minação, ruído e temperatura ambiente. Os europeus enfatizam 
os aspectos semânticos e cognitivos da informação que aparece 
na tela, seu tratamento mais do que a apresentação, o conteúdo 
do trabalho, a percepção dos dados e as decisões implicadas. 
Ainda de acordo com Montmollin (1986), temos que o 
primeiro enfoque, o mais antigo e, hoje em dia, o mais ame-
ricano, considera a Ergonomia como a utilização das ciências 
para melhorar as condições do trabalho humano. A anatomia 
e a fisiologia permitem conceber cadeiras, telas e horários 
mais adaptados ao organismo humano, enquanto a psicologia 
e a semiótica possibilitam definir uma melhor apresentação 
das informações. 
O ergonomista oríenta-se, prioritariamente, para a con-
cepção de dispositivos técnicos: máquinas, utensílios, postos 
i 1 ' trabalho, telas, impressos, programas etc. O ergonomista 
desta corrente considera as características gerais do homem 
l'tn geral, a máquina humana, para adaptar melhor as má-
qu inas e os dispositivos técnicos a este homem. A concepção 
l lússica de sistemas homem-máquina, onde a análise ergonô-
111 i ca privilegia a interface entre os componentes materiais e os 
l nmponentes (ou fatores) humanos. 
Seguem-se as características da máqtlina humana que, 
s ·gundo o autor, os ergonomistas praticantes dessa linha con-
·1deram: 
, Características antropométricas I alturas, comprimentos 
e larguras de diferentes segmentos corporais; 
• Cuacterísticas ligadas ao esforço muscular I estudam-se 
as contrações musculares, diretamente (por eletromiogra-
fia), pelo consumo de oxigênio e pelo ritmo cardíaco; 
• Características ligadas à influência do ambiente físico 
1 o calor e o frio, a poeira, os agentes tóxicos, o ruído, as 
vibrações e, mais recentemente, as acelerações bruscas -
estes são domínios onde a Ergonomia se identifica com a 
medicina do trabalho; 
• Características psicofisiológicas I o o! ho e o desempenho 
visual, o ouvido e o desempenho auditivo, em diversas 
condições - visão noturna, a percepção do visual (limiar 
de discriminação de diferentes formas, por exemplo) ou, 
como a partir dos anos 1950 e 1960, a atenção e a vigilân-
cia (detecção de sinais raros e aleatórios); 
30 
• Características dos ritmos circadianos 1 (regulam a ativi-
dade biológica durante as 24 horas do dia), alternância vigí-
ha-sono, em particular, e a influência de suas perturbações 
(devidas ao trabalho em equipes alternantes, por exemplo) 
sobre o sono, e, mais genericamente, sobre a saúde. 
Paralelamente ao estudo das características citadas, estu-
dam-se os efeitos do envelhecimento, em particular os efeitos 
fisiológicos e psícofisiológicos. Os ergonomistas dessa corrente 
reuniram uma massa considerável de dados sobre a máquina 
humana e, em particular, sobre seus limites. 
Ainda segundo Montmollin (1986), a segunda corrente da 
Ergonomia, mais recente e mais francesa, a considera como o 
estudo específico do trabalho humano com o objetivo de melho-
rá-lo. Sem pretender constituir-se em ciência do trabalho com-
pletamente autônoma., ela reivindica, no entanto, a autonomia 
de seus métodos. Sob este aspecto, ela constitui indubitavelmen-
te mais uma tecnologia do que uma ciência. Essa Ergonomia 
enfatiza o conjunto da situação de trabalho do trabalhador, em 
detrimento do estudo de cadeiras e telas, tomadas isoladamen-
te. Nesta perspectiva, não se podem realmente ex.plicar e dimi-
nuir a fadiga e o erro, a não ser que se analise detalhadamente 
a tarefa espedfica do operador e a maneira particular como 
ele a realiza, considerando as singularidades existentes. Pode-
se descobrir, assim - para citar apenas um exemplo simples, 
que, se a cadeira é penosa, ou é porque as informações que 
aparecem na tela se apresentam de tal forma que impedem o 
operador de tirar os olhos do monitor, mesmo por pequenos 
períodos, o que implica uma postura rígida. 
O ergonomísta desta linha orienta-se essencialmente em 
direção à organização do trabalho: quem faz o que e (sobre-
tudo) como o faz, e se poderia fazê-lo melhor. Isto implica, 
111enos freqüentemente, uma modificação do dispositivo téc-
n i o e, mais usualmente, dos procedimentos de trabalho, da 
,\ lividade e das competências dos trabalhadores. Este enfoque 
, oncebe a Ergonomia não como a aplicação de conhecimentos 
gL' rais sobre o organismo humano na concepção de máquinas. 
'1 'rata de priorizar a atividade dos operadores específicos ao 
it•nl izar suas tarefas particulares. 
A Ergonomia francesa. muito mais psicológica e mesmo 
1 ognitiva do que antropométrica ou fisiológica, não resolve -
, umpre repetir - os mesmos problemas que a Ergonomia ame-
i t ·a na. Ela visa menos diretamente a concepção de máquinas 
pelos projetistas do que a intervenção sobre os próprios locais 
d11 produção. É na oficina, na sala de comando, no escritório 
1· 1rn serviço de métodos que intervém este ergonomista, a fim 
k melhorar localmente o trabalho, quer dizer, a interação 
t ·11 t re o operador e sua tarefa. 
O ergonomista francês não se preocupa em levantar uma 
11. la de características gerais da atividade do operador humano. 
() olbo é por toda parte o mesmo, mas não o olhar. O centro de 
) 1,n1vidade das pesquisas em Ergonomia se desloca: não é mais 
.i oleta de dados confiáveis sobre os fatores humanos em labo-
1 ,1 tório, mas a análise em campo das modalidades específicas 
d,1 atividade do operador na situação real existente. As publica-
' 1 ll'S e os manuais tratam de privilegiar os métodos de análise 
do t rabalho, os modelos e as teorias que os justificam. O con-
l 1 ,1s le é surpreendente: apenas uma ou duas páginas sobre aná-
1 li, ' do trabalho nos manuais clássicos, enquanto na literatura 
t' ll ropéia (e sobretudo francesa) este é o tema principal. 
Esta Ergonomia da atividade humana, esta Ergonomia de 
111 t • ração entre dois tipos de processos, - o do operador e o da 
3 
32 
máquina, torna evidente uma grave fraqueza, se nos coloca-
mos do ponto de vista da Ergonomia clássica: ela não permite 
estabelecer catálogos de dados gerais utilizáveis diretamente 
para a concepção de dispositivos técnicos. Ela está muito cen-
trada sobre a singularidade dos episódios do trabalho de um 
operador específico que ela observa longamente, para poder 
transferí-los a outras situações, mesmo aparentemente simila-
res. Por outro lado, pode-se retrucar que a Ergonomia clássica 
deixa de ser ú til onde os responsáveis pela produção necessi-
tam atualmente de maior número de conselhos: as situações 
críticas em que as c9mpetências dos operadores (e nã9 somen-
te seu conforto e sua visão) permitem evitar as catástrofes. 
A oposição entre uma Ergonomia de componentes hu-
manos (a melhor tradução da americana hurnan factors, na 
acepção francófona) e uma Ergonomia da atividade humana 
é um fato. No entanto, se uma síntese é improvável, uma ar-
ticulação é possível. Não há contradição entre conceber uma 
cadeira confortável e uma tela bem contrastada para o opera-
dor diante de seu terminal de computador e, por outro lado, 
buscar saber corno este operador compreende as mensagens 
que aparecem sobre a tela. Não é excludente propor um dese-
nho de um mostrador que permita a percepção exata de uma 
medida e saber por que num determinado momento da exe-
cução das operações o operador olha para um ou para outro 
mostrador. Cabe considerar o olho e olhar. 
As duas Ergonomias não sao contraditórias, mas comple-
mentares. Em princípio, o mesn10 ergonomista pode ser cha-
mado, em função das circunstâncias (ou seja, em função dos 
interlocutores, dos decisores e dos financiamentos), para co-
laborar com um engenheiro na concepção de uma máquina-
ferramenta ou, com um outro engenheiro, na implantação de 
t1 1n sistema informatizado. Naprática. no entanto, os ergono-
mistas. se especializaram de tal modo que os manuais, apenas 
l'X.cepcionalmente, tratam dos dois enfoques-. 
Meister (1985) acredita que a Ergonomia (human factors) 
,..:ja uma disciplina distintamente diferente - embora muito 
influenciada pela psicologia e pela engenharia, entre outras. 
l )s problemas ergonómicos exigem soluções específicas. As 
.'1 reas particulares de interesse, como carga de trabalho on in-
1 ·ração homem-computador, podem ser um ramo de pesquisa 
, l,1 Ergonomia, mas a Ergonomia é mais do que a soma de suas 
par tes. Além das suas áreas especificas de interesse, ela tem 
, uas próprias necessidades de pesquisa, que se orientam em 
lorno do conceito de sistema e de desenvolvimento e operação 
lt' sistemas. 
O Sistema homem-
ta ref a-máquina 
_, Uma definição de sistema 
1 > • acordo com Meister (1997), é um conceito crítico sem 
(, qual a Ergonomia não pode ser entendida. O conceito de 
t,i1'l ma já era utilizado por outras disciplinas, antes da Er-
gonomia utilizá-lo. Sua aplicação na ergonomia possibilitou 
1) iesenvolvimento de uma estrutura conceitua! formal. No 
< 1 ntexto da Ergonomia, o conceito de sistema significa que 
, , lesempenho humano no trabalho só pode ser corretamen-
1 t conceituado em termos do todo organizado e que, para o 
, 1 cse1npenho do trabalho, este todo organizado é o sistema 
l101nem-máquina. 
Para Reis et alii (1980), tal definição ainda guarda certo 
g r1u de generalidade. Cabe adicionar algo que, poderíamos 
1 izer, seriam requisitos para qualquer entidade 'sensu lato' ser 
, )t1siderada um sistema: 
1) Conjunto de partes interagentes: Implica que a mo-
dificação em uma ou mais resulta em alteração em pelo menos 
lllna outra parte do todo. 
2) Segundo um plano ou princípio: Envolve o conceito 
Jc organização. Sabendo que em tudo no nosso universo há 
u 111a tendência à catamorfose, a idéia de organização, inerente 
ao sistema, procura ir contra esta tendência, no sentido de um 
equilíbrio ou do desenvolvimento, a anamorfose. 
3) Atingir um determinado fim: A interação entre as 
partes visa a um determinado' fim. ( ... ) Enfatiza-se aqui o sen-
tido teleológico, isto é, de relàcionamento das partes com um 
fim, ou objetivo. 
• 
Explicitam-se, assim, os seguintes conceitos: 
Sinergia I ato ou esforço coordenado de vários órgãos na 
realização de uma função, associação simultânea de vá-
rios fatores que contribuem para uma ação coordenada; 
Holismo I tendência que se supõe seja própria do univer-
so de sintetizar unidades em totalidades organizadas; te-
leologia: estudo da finalidade, estudo dos fins humanos, 
doutrina que considera o mundo como um sistema de re-
lações entre meios e fins - da abordagem de sistemas; 
Anamorfose I corresponde à mudança no estado de um 
sistema tendendo ao desenvolvímento, à organização 
crescente - evolução contínua, sem etapas descontínuas 
ou saltos. A situação inversa é a catamorfose. 
Esta idéia de todo - holístico, sinergético e teleológico - é 
a base da :filosofia de sistemas que a utiliza nos mais diversos 
campos do conhecimento. 
2.2 Outra definição de sistema 
Uma definição comumente aceita para sistema, segundo 
Schoderbek (1990) é que um sistema é um conjunto de objetos 
junto com as relações entre os objetos e entre seus at ributos re-
lacionados uns com os outros e com o ambiente deles de modo 
a formar um todo. 
Por conjunto entende-se qualquer coleção bem definida 
1k d ementas ou objetos contidos dentro de um quadro/ mar-
1 11 / referencial de discurso. Tal significa que deve ser possível 
,1 l1r mar com segurança se um determinado objeto ou símbolo 
pt·1 1cnce ao conjunto. 
Objetos são os elementos do sistema. Do ponto de vista 
1 .. 1:ítico, os objetos de um sistema seríam as partes que for-
111a m o sistema. Entretanto, a partir da visão fnncional, os ob-
1 ·1ns do sisteína são as funções básicas desempenhadas pelas 
p.i rl es do sistema. Importam, portanto, não as partes em si 
11 1as !>im as funções das partes. 
2.3 Do sistema homem-máquina ao sistema 
homem-tarefa-máquina 
1\ 11oção do sistema homem-máquina s-empre se apresentou 
11 •1110 um dos conceitos básicos da Ergonomia, ao enfocar 
,1 in teração do homem (ser humano) ·com utensílios, equi-
p,1mentos, máquinas e ambientes . Quando a comunicação 
ltn111em-máquina passou a privilegiar a cognição em véz da 
1 •1 ·rrepção, os antigos modelos foram revistos e atualizados. 
A partir da evolução dos modelos do sistema homem-
111.1qu ina, introduzemse novos paradigmas, enfatizam-se as 
1 p 1 ·s tões cognitivas e de convergência na comunicação e da 
111 unuzía do homem. Propõe-se, então, o modelo sistema ho-
, 11 l' m-tarefa-máquina. 
Deste modo, explicita-se a pertinência da modelagem 
t l, ,s comunicações homem-máquina, como forma de garantir 
1 l onsideração das variáveis que propiciam a qualidade e evi-
l ,1111 os ruídos na comunicação. 
Como afinna Chapanis (1972), em quaisquer sistemas 
,ll' equipamentos utilizam-se ou envolvem-se pessoas, pois os 
7 
8 
sistemas de equipamentos são sempre elaborados com algum 
objetivo humano: 
Eles existem para atender a determinada necessidade 
humanai 
Eles são planejados e construídos pelo ser humano; 
São criaturas humanas que os manejam, supervisionan-
do-os, alimentando-os, observando-Lhes o funciona-
mento e cuidando de sua manutenção. 
Os sistemas não substituem as válvulas, os transistores 
ou as lâmpadas que queimam, nem soldam suas conexões. 
Tais incumbências são responsabilidades dos homens. Logo, 
pode-se afirmar que todos os sistemas de equipamentos são 
sistemas homem-máquina - embora varie enormemenka in-
tensidade com que os sistemas homem-máquina envolvem os 
operadores humanos. 
O sistema de sinais de trânsito que regula o fluxo de veí-
culos de qualquer grande cidade funciona independentemente 
de operadores humanos. Depois que se instalam os sinais e seus 
mecanismos reguladores, os sinais passam a acende, e a apagar, 
automahcamenle. Em sistemas desse tipo, o papel do homem é 
de projetista, construtor, implantador e manutenidor. 
O antomóvel é um bom exemplo de sistema altamente 
complexo, em que o operador desempenha ativo papel de 
comando e intervém diretamente no sistema a cada momen-
to. Um automóvel pode andar dura11te algum tempo sem 
motorista, mas, para servir ao seu propósito básico, como 
veículo para transportar algo ou alguém de um ponto a ou-
tro, a atuação constante de um motorista é absolutamente 
indispensável. 
Atualmente, falam-se maravilhas da automação e sonha-
,,,, mm o dia em que as máquinas possam fazer tudo sozinhas. 
\ l lato é que muitos sistemas automáticos têm que utilizar 
w 111pre o homem, seja de uma forma ou de outra. Na verdade, 
,1, pr. soas se enganam freqüentemente a respeito do montante 
.l t· lrnbalho que os operadores htm1anos executam em siste-
11 1,1s automáticos. Embora a proporção de homens seja bem 
11 1t· 11or em sistemas auton1áticos do que em unidades mecâni-
1 ,IS, há operadores trabalhando e participando ativamente da 
11 11 111 ipulação e do controle dos sistemas automatizados. 
.4 Conceituação de sistema homem-máquina 
1\ Ergonomia lida com sistemas homens-máquinas, ou seja, 
111111 sistemas em que ao menos um elemento é um homem 
, 1 ,, 11 uma certa função. 
Algumas definições a partir de Meister & Rabideau 
( 1%5), tem-se que: 
• Miller (1954), descreve o sistema homem-máquina como con-
sistindo de homens e máquinas somados aos processos pelos 
quais eles interagem dentro de um ambiente; 
• Fitts (1959) define um sistema homem-máquina como uma 
montagem de elementos, que estão engajados no cumpri-
mento de alguns propósitos comuns, e são unidos por uma 
rede de fluxos de infonnações comw1s, estando a saída do 
sistema em função não somente das caracterís ticas dos ele-
mentos, mas também das suas interações e interrelações; 
3 
40 
• Shapero e Bates(1959) descrevem o seu conceito de sistema 
em termos do que eles chamam de componentes do sistema, 
consistindo de mecanismos (equipamentos), componentes 
operacionais humanos_ (pessoal), disposições (instalações) 
e integradores; 
Em Montmollin (1971) aparece: UUm sistema homens-má-
quinas é uma organização cujos componentes são homens e 
máquinas que trabalham conjlll1tamente para alcançar um 
fim comum e estão unidos entre si por uma rede de comu-
nicações". 
Meister (1976) declara que Morgan et alii (1963) preferem 
dizer que é "qualquer grupo de hvmens e máquinas que ope-
ram como urna unidade para conduzir uma tarefa ou tarefas 
determinadas". 
Para McCormick (1980), "Pode-se definir um sistema 
homens-máquinçis como uma combinação operatória de um 
ou mais homens com wn ou mais componentes, que intera.tu• 
am para fornecer, a partir de elemen tos dados (input), certos 
resultados, considerando as limitações impostas por um am-
biente dado". 
Neste quadro de referência, o conceito comum de maquina, como 
se viu anterio rmente, é muito rest rito. 
"Máquina compreende virtua lmente qualquer tipo de objeto ff-
sico, dispositivo, equipamento, facilidade, coisa, ou seja lá o que 
fo r que as pessoas usam para realiza r alguma atividade que ob-
jetiva alcançar algum propósito desejado ou para desempenhar 
alguma função". (. .. ) 
"A natureza essencial do envolvimento das pessoas nos sistemas 
refere-se a um papel ativo, interagindo com o sistema para rea-
lizar a funçâo para a qual o sistema foi projetado". (McCormick 
& Sanders, 1982) 
De acordo com Meister (1976), o sistema homem-máqui-
11:i é essehcialmente um conceito baseado em certas suposi-
\llés; é uma abstração e não urna configuração física ou um 
1 i1w de organização. E basicamente urn.a estrutura para a ana-
11 ,4,; de sistemas: 
"O sistema é um conceito porque estçi organizado em torno de 
transfo rmações (de en tradas a saídas, de estimulas a respostas) 
que sào invisfveis; tudo que se vê sáo os produtos destas trans-
formações. Aquilo que é encontrado dentro do sistema, como o 
comportamento humano em gera l, pode ser deduzido somente 
pelas entradas antecedentes e pelas c:onseqüentes saídas. A na-
tureza da construçao do sistema é sugerida pelas várias manei ras 
nas quais ele foi defin ido." 
"O elemento comum de todçis as definições do SHM é o conceito 
de ser pro posita l. urna vez que o SHM é uma criação artific ial, as 
,uas caracterlsticas dependem do propósito do seu criador. (. .. ) 
O análogo do propósito humano é o requisito do sistema a partir 
rio qual podem-se deduzir, logicamente; a configuração do sis-
tema, as suas funções e as suas operações," 
Conforme Grandjean (1988), "Um sistema hornem-rná-
• 111 ina significa que o homem e a máquina têm uma relação 
11 ' l iprnca um com o outro". 
Num artigo (1974) para a Organização Mundial de Saú-
111·, Singleton (apud Grandjean, 1988) mellciona que a máqui-
11,1 i:, capaz de alta velocidade e grande precisão, além de ser 
1 ,1p;1'1, de muita força, e que o homem é vagaroso, libera so-
111t•nle pequenas quantidades de energia, mas, por outro lado, 
41 
42 
é muito mais flexível e adaptável. Homem e ináquina podem 
se combinar para formar um sistema, desde qLie se L1tilizem 
suas respectivas qualidades. 
Nos sistemas homens-máquinas, cabe enfatizar a i ntcra-
ção entre os homens e as máquinas. A Ergonomia não estuda 
o homem isolado nem a máquina isolada. Esta interação se 
dá através das comunicações entre o homem e máquina e se 
expressa a partir das atividades da tarefa. Mais aínd.i: a par-
tir do enfoque sistêmico, e com a visão do sistema homem-
máquina como um sistema aberto, o ergonomista considera 
as injunções da tecnologia, do quadro socioeconômico e da 
maturidade sindical. Aí reside sua originalidade, assim como 
a origem da sua eficiência - o ergonornista estuda o trabalho 
numa perspectiva centrada no sistema (no sistema homem-
tarefa-máquina) e sempre destaca os requisitos humanos de 
segurança, conforto e bem-estar. 
Kroemer & Grnndjean (1997), atualizam a expressão sis-
tema homem-máquina e declaram que "um sistema ser hu-
mano-máquina significa que o ser humano e a máqwna têm 
relações recíprocas um com o outro". 
2.5 Caracterização dos sistemas homens-máquinas 
Embora estas definições possam paTecer muito genéricas e 
pouco precisas, elas sugerem certas carnclerística · comuns aos 
sistemas. A partir de- Meister & Rabjdeau (J 965), tem -se que: 
1) As máquinas são necessárias parn se atingi r os ob -
jetivos do sistema. Existem, é claro, outros ~is tcnns (bioló-
gico, físico, matemático, social etc.) que ui il iiam poucas ou 
nenhuma máquina. A diferença básica do sistema homem-
máquina para os outros sistemas é que nos SI/ M as 111,1qui-
nas são usadas pelos homens con)() (J meio 11 • c:ss:l rio pa ra 
modificar o ambiente ou atingir um objetivo, enquanto nos 
outros sistemas o uso de máquinas é circunstancial ou ine-
xistente. Cabe ainda mencionar que qualquer organização 
do homem que envolve o extensivo uso de equipamentos ou 
máqu inas (por exemplo, um escri tório de cootahilidade, um 
hospital ou uma fábrica) pode ser considerada um sistema 
homem-máquina. 
2) Tanlo homens quanto máquinas são necessários para 
o desempenho do sistema. Não existe sistema completamente 
automático ou completamente manual; mesmo nos sistemas 
conhecidos como completamente automáticos (como os que 
podem ser encontrados em refinarias de produtos químicos), 
homens são necessários para a realização de tarefas diretivas, 
de monitoração, de controle, de regulação e de manutenção. 
Nas sociedades primitivas, ou mesmo em certos canteiros da 
construção civil, onde o trabalho manual é amplamente reali-
zado, alguns instrumentos são sempre utilizados. 
3) A relação homem-máquina é direcionada para um ob-
jetivo, um propósito. Como o sistema é uma criação do ho-
mem, ele existe para reahzar alguma c.oisa, para afetar algum a 
coisa. Um sistema completamente sem propósito seria, na me-
lhor das hipóteses, wna invenção sem sentido prático. 
4) O objetÍ\70 do sistema é efetuar mudanças ambientais 
a Cllrto, médio e/ou longo prazos. O sistema funciona de ma-
neira a modificar o seu ambiente externo (ou para modificar 
as suas relações com o seu ambiente) e o seu próprio ambiente 
interno, quando ocorrem disfunções, ou para cwnprir instru-
ções de manutenção preventiva. 
5) O sistema possui tanto um ambiente interno quanto 
um externo. °É óbvio que um sistema não pode ser conceitu-
ado sem a definição do seu ambiente, pois este diferencia as 
3 
44 
coisas que são do sistema daquelas que não . ão. A definição 
daquilo que constitu_i wn arnbiente para um sistema m parti-
cular depende de que objetos devem ou não ser considt:rados 
como parte do sistema. A demarcação entre o sístema e o seu 
ambiente externo, no entanto, pode apresentar dificuldades. 
O sistema também é considerado como tendo um ambiente 
interno constituído pelos componentes que fazem par te do 
sistema, Em relação ao sistema como um todo, os cquipamen• 
tos i.ndjviduais, as fiações i.nterconecta.das e os operadores de 
equipamentos constituem o ambiente ü1terno do sistema. 
Acorde Meister (1989), a Ergonomia busca entender e 
explicar como determinadas varáveis afetam o desempenho 
humano no trabalho. Deste modo, a Ergonomia diferencia-se 
de outras ciências a partir da sua ênfase sobre o trabalho. O 
objetivo da Ergonomia é otimizar o desempenho dos sistemas 
e melhorar tanto a eficiência humana quanto a do sistema, a 
parti r da modificação da interface entre o operador e os equi -
pamentos. A Ergonomia, certamente, preocupa-se com o in-
divíduo, mas também com a entidade da qu.al o indivíduo faz 
parte. Deve-se considerar, de fato, o bem estar do lndlvíduo 
• é um malogro pressionar o operador excessivamente, igno• 
rar sua motivação natur~l ou colocar em perigo sua segurança- mas esta preocupação não deve superar a consideração dos 
propósitos e requisitos do sistema do qual o trabalhador parti-
cipa. Os par tidários da qualidade de vida no trabalho podem 
questionar esta ênfase, mas a assunção é que se o sistema que 
inclui o homem como um demento essencial tem um bom de-
sempenho, o homem será contemplado. O oposto também é 
verdadeiro: se o homem não está sali8fei lo, o sistema não pode 
funcionar mm eficiência. 
2.6 O enfoque centrado no usuário 
Para Oborne (1995), a ênfase da Ergonomia moderna tem sido 
investigar o operador e o ambiente como parceiros dentro do 
sistema de trabalho como mna tota lidade, mais do que exa-
minar em mínimos detallles os componentes que constituem 
qualquer loop homem-maquina. A Ergonç,mia tradicional - a 
da primeira geração • buscava considerar aspectos do trábalho, 
além do enfoque botões emostradore.,, além do·paind, t ratan-
do do sis tema homem-máquina. Deste modo, considerava-se 
a interação entre o operador e o ambiente. Embora a Ergono-
mia moderna, centrada na pessoa, argumente que, para uma 
operação eficiente do sistema, indivíduos e seus sistemas de 
trabalho devem operar em ha_rmonia, o pensamento contem-
porâneo sugere que mesmo esta abordagem apresenta falhas. 
Argumentos recentes -propõem a tese de que o operador e o 
sistema não são parceiros iguais no trabalho. Considerá-los 
assim, na verdade, denigre de alguma forma o componente 
mais importante do sistema - a pessoa • e a reduz ao nível de 
um componente inanimado. Desta forma, a moderna visão da 
Ergonomia, centrada na pessoa, ·argumenta que é a pessoa que 
controla o sistema, que o opera, que dirige o seu curso e moni• 
tora as suas atividades. Ao fazer isso, é o operador quem tem 
metas e desejos e quem pode mudar o sistema através de habi-
lidades e caprichos. Resulta, naturalmente, que para o sistema 
ser efetivo ele deve ser projetado a partir do ponto de vista 
do operador e não da perspectiva de uma simbiose operador/ 
máquina. Em resumo, o conceito homem-máquina tradicio-
nal é muito simplista para abarcar a operação de modernos 
sistemas de trabalho que requerem que as as pessoas sejam o 
elemento central. 
5 
B -~ 
§ 
V 
.!!! 
E 
o 
e 
ó 
Jr 
Eason (1991, apud Oborne, 1995), ao discutir o domí-
nio da interação homem-computador, declara que o ponto de 
vísta básico homem-máquina "como uma forma de conver-
sação entre diferentes espécíes de participantes" prejudica a 
rica complexidade da interação. Eason assinala que, no mun-
do real, nós interagimos com máquinas não meramente para · 
trocar mensagens, mas para nos incumbir de tarefas comple-
xas. A interação homem-máquina tem um significado que está 
exterior e acima daquele que pode ser expresso por simples e 
diretas análises das partes dos componentes. Este significado é 
introduzido no sistema pelo operador; pela natureza da tarefa 
e pelos seus resultados. 
Wisner _(1989, apud Oborne, 1995), considera este ponto 
de vista dentro do domínio da Ergonomia. Ele argumenta que 
o que é especifico à Ergonomia, assim como à psicologia, é que 
ela deve considerar mais do que as específicas propriedades 
do homem. A Ergonomia deve preferivelmente tentar enten-
der como o homem usa suas próprias propriedades em termos 
de uma história, sua própria história e a da Humanidade, a 
parte da Humanidade a qual ele pertence. Anseios e desejos 
individuais, motivos e experiências são trazidos para a situa-
ção de trabalho e devem ser entendidos quando se considera a 
adaptação. Fatores como backgrouod social e cultura desem-
penham um papel importante. 
A Ergonomia centrada na pessoa portanto considera a 
interação como controlada e conduzida pelo operador. No de-
senrolar destas interações, as pessoas trazem para o sistema 
um conjunto de fraquezas e qualidades inerentes (incluind? 
experiências, expectativa, motivação e assim por diante). Em 
geral, tais características serão para o b m do sistema, a partir 
de critérios como eficiência e segurança. mas algumas vezes 
elas incluirão a variabilidade, a falibilidade e talvez mesmo ca-
prichos1 que podem conduzir a erros e ineficiências. 
Em muitos aspectos, o enfoque tradicional e a perspecti-
va centrada no usuário podem ser vistas como variações em 
ênfases quanto ao componente mais importante do sistema. 
A visão tradicional enfatiza o homem corria subordinado ao 
sistema. A visão centrada na pessoa concentra-se no indivíduo 
como o único controlador do sistema. Ao assumir tal posição, 
contudo, o enfoque centrado na pessoá não abandona o ideal 
de criar um ambiente de trabalho que se adapte às habilidades 
e requisitos do operador humano. 
2.7 As atividades da tarefa como definrdoras 
das interações no sistema homem-máquina 
Objetivando explicitar os níveis de enfoque e a interação entre 
as diferentes zonas de relacionamento, construiu-se - a partir 
de Moraes (1992) - um modelo em que se procura sintetizar os 
modelos ·citados anteriormente - modelo sistêmico, expansio-
nista, comportamental e informacional. Cumpre observar os 
seguintes aspectos: 
• O enfoque centrado na pessoa com o destaque do humano; 
• O processamento da informação, a resolução de problemas e 
a tomada de decisões, envolvendo: as funções de detecção e 
discriminação de sinais do comportamento baseado em ha-
bilidades; as funções de identificação e interpretação de sig-
nos, do comportamento baseado em regras e as funções de 
símbolos, do comportamento baseado no conhecünento; 
• As atividades da tarefa como expressão da interação entre 
os dispo~itivos de inforniaçào e os mecanismos receptores 
humanos e entre os mecanismos efetores humanos e os dis-
positivos de contn)le do ambiente compreendem tomadas 
de informação, manipulações acionais, comunicações, des-
locamentos e assunções posturais; 
O ex:panslonisruo do modelo, no qual o sistema homem-
maquina - pode ser um posto de t.raba1ho, uma seção de 
fábrica, uma divisão ou uma empresa - sofre as in(luências 
de um ambiente físico I espacial I natural e de um ambiente 
organizacion~l. gerencial e social; 
, A eficiência ergonômica, que, além de considerar as entra-
das e saídas do sistema, privilegia como critério a economia 
do homem, através da mi.nimização dos custos humanos do 
traba lho. 
Cargas e custos 
humanos do 
trabalho 
3.1 Introdução 
As atividades implicadas no trabalho, se1,l ambiente físico 
e social, exercem sobre o trabalhador um certo número de 
constrangimentos, exigindo-lhe gastos de naturezas diversas: 
físico, mental, emocional, afetivo - e acarretando, portanto, 
desgastes e cusl'OS para o indivíduo. 
A atividade profissional -pode trazer praz:er e satisfação 
em graus muito diversos, que variam de acordo com a tarefa 
executada. No entanto, cabe colocar o problema das condições 
de trabalho em termos de custos que devem ser reduzidos, 
aproximando-nos assim, m.ais realisticamente, do modo corno 
se vive o trabalho. 
Os custos humanos do trabalho - mortes, mutilações, le-
sões permanentes e temporárias, doenças e fadiga - são resul-
tantes dos acidentes e incidentes, da carga de trabalho. A carga 
de trabalho, por sua vez, é conseqüência dos constrangimen-
tos impostos ao operador durante a realização da tarefa. 
Montmollin (1996), ao explicitar a questão dos constran-
gimentos e custos humanos do trabalho apresenta três níveis: 
50 
o nível das_ condições de trabalho, o nível da atividade, o nível 
dos efeitos da atividade. 
No nível das condições de trabalho têm-se as caracte-
rísticas do operador, sua capacidade de trabalho, o que com-
preende idade, sexo, condições físicas, condições psíquicas, 
escolaridade, proficiência, cultura e motivação. Ainda no ní-
vel das condições de trabalho situam-se os fatores que atuam 
sobre o operador durante o desempenho das atividades da ta-
refa: os objetivos e exigências da tarefa; o ambiente da tarefa 
(físico, químico e organizacional).No nível da atividade da tarefa têm-se as ações desempe-
nhadas pelo operador durante a execução da tarefa: tomada 
de informações, decisões, manipulações acionais, comunica-
ções, deslocamentos, movimentação de materiais, posturas 
assumidas. 
O desempenho das atividades da tarefa, em condições 
que implicam maiores ou menores constrangimentos, deter-
mina o nível dos efeitos da atividade. 
No nível dos efeitos da atividade apresentam-se a carga 
de trabalho, as conseqüências para o operador, os custos hu-
manos do trabalho. Paralelamente, têm-se o desempenho do 
operador, o rendimento do trabalho, a produtividade e a qua-
lidade do trabalho. 
A figura 01 ilustra os níveis descritos, bem como suas in-
terações. 
FIGURA 01 
Condições, constrangimentos, conseqüências, resultados 
e qualidade do traba lho (a partir de Leplat, 1977) 
CARACTERÍSTICAS 
DO OPERADOR 
OBJETIVOS E 
EXIG~NCIAS DA 
TAREFA 
AMBIENTE DA TAREFA, 
CONDIÇÕES DE EXECUÇÃO: 
1 Capacidade l d~ Trabalho 
NIVEL 
DE CONDIÇÕES 
DE TRABALHO 
• Física$ 
• Químicas 
• Organizacionais 
• ••••••• • ••• • 1 •••• ' • • ••• • • •••• ' • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • '. • • • • • •••• 
NÍVEL DA 
ATIVIDADE 
COMPORTAMENTO DA 
TAREFA, ATIVIDADES 
DO OPERADOR: 
• Tomada de Informações 
• Decisões 
• Acioname!ltos 
• Comunicações 
• Deslocamentos 
• Posturas Assumidas 
. .. ........ ... ···· ······· ········· ·• · .. .................... ,., .. , ... ...... ... .. ·· ···· 
NlVEL DOS 
EFEITOS DA 
ATIVIDADE CARGA DE 
TRABALHO 
CONSEQU~NCIAS 
PARA O OPERADOR 
CUSTOS HUMANOS 
DO TRABALHO 
DESEMPENHO DO 
OPERADOR 
RENDIMENTO DO 
TRABALHO 
PRODUTIVIDADE E 
QUALIDADE 
3.2 Cargas de trabalho 
Sperandio (Apud Laville, 1977) define carga de trabalho como 
"uma medida quantitativa ou qualitativa do nível de atividade 
(mental, sensório-motriz, .fisiológica etc.) do operador, neces-
sária à realização de um trabalho dado". Diz Laville (1977), 
em complementação: "a carga de trabalho deve ser distinguida 
das exigências -e constrangimentos da tarefa, isto é, da quanti-
dade e qualidade do trabalho e das limitações impostas". 
Tem-se, portanto, que dos constrangimentos da taréfa re-
sulta a cargade trabalho. 
a) Condicionantes da carga de trabalho 
A partir da proposição da Comissão de Pesquisa de Medicina 
do Trabalho da Organização Holandesa de Saúde (CARGO), 
em 1965, Kalsbeek (apud Zander, 1972), discrimína do seguin-
te modo a carga de trabalho: 
• Carga externa l será determinada pela combinação dos 
fatores que são inerentes à situação de trabalho e que 
causam reações no homem (ambiência física, operacio-
nal, organizacional); 
• Carga funcional J significa a combinação dos fenômenos 
implicados na carga externa; com as exigências e co.ns-
trangimentos da tarefa, com o desempenho das ativida-
des da tarefa; 
• Capacidade de trabalho I significa a maior energia possí-
vel que o homem é capaz de dispet1der de um dado modo 
de trabalho durante um certo período de tempo; 
• Grau de carga/ carga de trabalho J é a relação entre a 
carga funcional e a capacidade de traha1ho. 
A partir de Laville, Kalsbeek e Leplat, pode-se afirmar 
que carga de trabalho é a relação entre constrangimentos im-
postos pela tarefa, pela interface, pelos instrumentos e pelo 
ambiente (carga funcional), em conjugação com as atividades 
desempenhadas e a capacidade de trabalho do operador. Mais 
ainda: estas mesmas condições, além de determinarem a carga 
de trabalho, influenciam a performance do sistema - o rendi-
mento do trabalho, a produtividade e a qualidade. Logo, para 
incrementar a produtividade e a qualidade devem-se melhorar 
as condições de trabalho. 
A carga de trabalho se expressa quantitativamente atra-
vés dos índices fisiológicos (batimentos cardíacos, impulsos 
elétricos nos músculos, consumo de oxigênio, temperatura 
corporal). Resultam da carga de trabalho os custos humanos 
do trabalho, que se expressam em sintomas físicos e psíquicos, 
doenças profissionais e do trabalho, acidentes com morte, mu-
tilações e lesões permanentes ou temporárias. 
b) Os três aspectos da carga de trabalho 
De acordo com Wisner (1987), todas as atividades - entre 
elas, o trabalho - possuem ao menos três aspectos: o físico, o 
cognitivo e o psíquico. Cada um deles pode determinar uma 
sobrecarga ou um sofrimento. Tais aspectos encontram-se in-
terrelacionados, o que torna freqüente, embora não neçessário, 
que uma sobrecarga em um dos aspectos seja acompanhada 
por uma carga bastante elevada nos outros dois. Se a defini-
ção dos dois primeiros aspectos é bastante evidente, tal não 
ocorre para a dimensão psíquica. Esta última pode ser defini-
da em termos de níveis de conflitos no seio da representação, 
consciente ou inconsciente, das relações entre a pessoa (ego) 
e a situação (no caso, a organização do trabalho). Mas este é; 
5 
também, o nível em que o sofrimento e a fadiga física, a falta 
de sono, provocados pela distribuição dos períodos de traba-
lho no ritmo circadiano e a sobrecarga de trabalho cognitivo 
podem determinar àlterações de ordem afetiva. 
A discriminação da carga de trabalho (Moraes, 1992) 
está na -figura 02. 
FIGURA 02 
Discrrminação da car§a do trabalho 
CARGA EXTERNA TAREFA 
• Ambiente físico • Exigências 
• A n'I biente operaci o na 1 
• Ambiente organizacional 
• Constrangimentos 
CARACTERlST ICAS 
DO OPERADOR 
Capacidade de 
trabalho 
ATIVIDADES 
• Tomada de informações 
• Decisões 
• Adonamentos 
• Comunicações 
• Deslocamentos 
• Posturas aSStimidas 
CARGA FUNCIONAL 
GRAU DE CARGA / 
CARGA OE TRABALHO 
1 índice\ fisiol09icos] 
Cumpre ainda observar que não existe, ao contrário do 
que se difunde, atividade em que se coloque em jogo apenas o 
físico, a cognição e/ou a psiqué. Mesmo com diferentes ênfa-
ses, os três aspectos estão sempre presentes. 
Tem-se constatado freqüentemente que os trabalhadores 
que desempenham tarefas com carga mental predominante 
queixam-se de perturbações físicas, tais como dores nas costas 
e no pescoço e perturbações visuais (pruridos e sensações de 
queimadura oculares, etc.). Tais perturbações estão relaciona-
das com o alto grau de imobilidade exigido pela tarefa aliado 
a uma forte concentração mental. Laville (1968) demonstrou 
que, para as operadoras da indústria eletrônica, a rigidez da 
postura aumentava com a dificuldade da tarefa e com o au-
mento do ritmo de trabalho. Constatou ainda que, nessas con-
dições, a cabeça tendia a se aproximar da tarefa. Em situação 
de laboratório, o mesmo pesquisador demonstrou, graças à 
eletromiogra:fia (EMG), que a atividade dos músculos do pes-
coço aumentava com a freqüência e a complexidade dos sinais 
tratados pelas operadoras. Da mesma forma Duraffourg (1979) 
demonstrou que, para os operadores de vídeo de computador, 
o número de fixações visuais é proporcional à densidade de 
informação contida no texto - sendo que a duração das fixa-
ções é proporcional à dificuldade dos códigos utilizados. Des-
te modo, a necessidade de observar e de tratar os sinais leva 
à imobilidade postural, sendo que os olhos se aproximam da 
tarefa e os músculos posturais se contraem em excesso. Con-
seqüentemente, as dores aparecem nas costas e no pescoço. 
Constata-se, então, a importância do registro das postu-
ras e de sua duração para a avaliação das cargas físicas, psíqui-
cas e cognitivas do trabalho. 
55 
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3.3 Periculosidade, insalubridade 
e penosidade do trabalho 
a) Periculosidade 
Segundo Nascimento (1989), são coJ~sideradas atividades ou 
operações perigosas aquelas que, por sua natureza ou métodos 
de trabalho, impliquem o contato permanente com inflamáveis 
ou explosivos, em condições de risco acentuado (CLT, artigo 
193). Para esse fim, o Ministério do Trabalho baixou portaria 
{3214, de 8 de junho de 1978) com o quadrodas atividades que 
se enquadram como perigosas. O adicional de periculosida-
de foi estendido a alguns tipos de atividades, como a energia 
elétrica (Lei 7369/85) e o trabalho com radiações ioi:i,izantes 
(Portaria do Ministério do Trabalho 3393, de 1987). O traba-
lho nessas condições dá ao empregado o direito ao adicioná} 
de periculosidade. 
b) Insalubridade 
De acordo com Nascimento (1989), são consideradas ativida-
des ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, 
condição ou métodos de trabalho, expõem os empregados 
a agentes nocivos à saúde acima dos limites de tolerância fi-
xados em raz~ão da natureza e da intensidade do agente e do 
tempo de txposiçã.o aos seus efeitos (CLT, artigo 189). Para 
complementar a lei, o Ministério d0 Trabalho baixou portaria 
com os limites de tolerância aos agentes agressivos, os meios 
de proteção e o tempo máximo de exposição do empregado 
a esses agentes {CLT, artigo 190). O trabalho insalubre dá ao 
émpregado o direito a um acréscimo salarial, conforme o grau 
de insalubridade fixado de acordo com normas do MT. 
e) Penosidade 
A Constituição, em seu artigo 7, prevê o adicional de remu-
neração para as atividades penosas, mantendo também os 
adicionais por atividades insalubres e pedgosas. A nível da 
legislação previdenciária, a existência do trabalho penoso já 
é considerada desde 1960, pela Lei 3807. Ela prevê o direjto 
à aposentadoria especial aos 15, 20 ot1 25 a.nos de atividade 
profissional quando esta for considerada, pelo decreto que a 
regulamenta, penosa, perigosa ou insalubre. 
Esse decreto, de número 53831, de 1964, classifica como 
atividades penosas aquelas desenvolvidas por "professores, 
motoristas e cobradores de ônibus, motoristas e ajudantes de 
caminhão, motorneiros e condutores de bondes". Por isso, to-
dos têm direito de se aposentar ao completar 25 ,mos de tra-
balho. Aqueles que exercem "trabalho permanente no subsolo 
em operações de corte, furação, desmonte e carregamento nas 
frentes de trabalho" têm direito a se aposentar após 15 anos 
de trabalho, porque este é considerado insalubre, perigoso e 
penoso. Por fim, aqueles que exercem "trabalhos permanentes 
em locais de subsolo afastados das frentes de trabalho, gale-
rias, rampas, poços, depósitos etc.", cujas atividades são consi-
deradas insalubres e penosas, têm direito a aposentadoria aos 
20 anos. Cumpre observar que o fim das aposentadorias es-
peciais integrava as reformas propostas pelo atual presidente, 
Fernando Henrique Cardoso, eleito em 1995. Este item provo-
cou grande debate no país. 
Da mesma f~rina que a legislação previdenciária brasilei-
ra e a legislação trabalhista espanhola, a Organização Interna-
cional do Trabalho (OIT) também concebe o trabalho penoso 
como aquele que exige esforço físico. Mas aponta para a noção 
de que o traba1ho penoso implica esforço e desgaste mental, 
7 
58 
exemplificado pelo risco de acidente e pela organização do 
trabalho realizado em plataformas marítimas de extração de 
gás e óleo. Alguns estudos na área de saúde do trabalhador 
qualificam o trabalho penoso como causa de sofrimento e es-
forço físico. Outros o caracterizam como causa de sofrimento 
e esforço mental e ainda outros o identificam como causa de 
sofrimento e esforço físico e/ou mental. 
Se buscamos o significado da palavra penoso, verifica-se 
que ela também qualifica a sensação de incômodo, de dificul-
dade, de complicação. Caracteriza ainda aquilo que provoca 
dor, vivência de pena e castigo. Cabe ainda ressaltar que, em 
função da amplitude do conceito de trabalho penoso e da gama 
de expressões de sofrimento, esforço, dificuldade, complica-
ção, dor e incômodo, a caracterização da condição penosa de 
trabalho varia muito de situação para situação, de função para 
função, de categoria para categoria. 
A penosidade, no entanto, abarca o incômodo, o cons-
trangimento postural, o sofriinento, o esforço físico e men-
tal. Trabalhos que implicam carga psíquica e cognitiva 
implicam, portanto, penosidade. Conforto, bem-estar físico 
e mental - este sempre foi o objetivo da Ergonomia em rela-
ção ao trabalhador. 
" 
Métodos e técnicas 
da intervenção 
ergonomizadora 
4.1 Principais tipos de pesquisas usadas 
pela Ergonomia 
A Ergonomia, ao realuar suas pesquisas e intervenções, lança 
mão dos métodos em uso pelas ciências sociais e das técnicas 
propostas pela engenharia de métodos. 
As classificações de pesquisa em sociologia e psicologia 
baseiam-se, principalmel:)le, em métodos de pesquisa que in-
cluem diferentes abordagens lógicas para o projeto de investi-
gações, assim como a escolha de uma variedade de técnicas, 
tais como a construção de questionários e escalas de avaliação. 
As classificações vão desde a consideração de vários métodos 
para alcançar um único objetivo até a consideração de um 
único método para alcançar diversos objetivos. 
Pode-se citar, como exemplo, o uso de surveys (termo téc-
nico para designar um levantamento de informações ou opini-
ões por meio de um questionário administrado a uma amostra 
- geralmente aleatória - da população estudada) para verificar 
hipóteses, para descrever as características de um fenômeno e 
para buscar relações quantitativas entre variáveis indicadas. 
. !2 ,. 
g 
o 
Ê' 
ilJ 
60 
Há, em termos gerais, dois tipos de pesquisa - a pesqui-
sa descritiva e a pesquisa experimental. A diferença que ge-
ralmente se estabelecç entre os conceitos descrever e explicar 
pode, aproximadamente, indicar como a pesquisa descritiva se 
distingue da experimental. Descrever é narrar o que acontece . 
Explicar é dizer porque acontece. Assim, a pesquisa descritiva 
está interessada em descobrir e observar fenômenos, procu-
rando descrevê-los, classificá-los e interpretá-los. A pesquisa 
experimental pretende dizer de que modo ou por quais causas 
o fenômeno é produzido. 
Atualmente, face à colocação do poder do saber e do 
questionamento da hegemonia do pesquisador na condução 
da pesquisa - desde a definição do problema, passando pela 
escolha dos métodos, pela construção do modelo teórico, pela 
definição dos instrutnentos, até a avaliação dos resultados e a 
utilização destes resultados -, propõem-se as pesquisas par-
ticipantes. A pesquisa participante é descrita de modo mais 
comum como uma atividade integrada que combina investi-
gação social, trabalho educacional e ação. 
Por outro lado, tem-se, segundo Thiollent (1985), que a 
pesquisa-ação é organizada para realizar os objetivos práticos 
de um ator social homogêneo dispondo de suficiente auto-
nomia para encomendar e controlar a pesquisa. O ator é fre-
qüentemente uma associação ou um agruparnento ativo. Os 
pesquisadores assumem os objetivos definidos e orientam a 
investigação em função dos meios disponíveis. 
a) Pesquisas descritivas 
O pesquisador procura conhecer e interpretar a realidade, sem 
nela interferir para modificá-la; interessa-se em descobrir e 
observar fenômenos e procura descrevêlos, classificá-los e in-
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terpretá-los. O problema setá enunciado em termos de indagar 
se um. fenômeno acontece ou não, que variáveis o constituem, 
como dassificá-los, que semelhanças ou diferenças existem en-
tre determinados fenômenos etc. Os dados obtidos - qualitati-
vos on quantitativos - devem ser analisados e interpretados. 
A pesquisa descritiva apresenta diversas formas: pesquisas de 
opinião (ou pesquisas de atitude), pesquisas de motivação, es-
tudos de caso, pesquisas para análise do trabalho, pesquisas 
documentais. 
A Ergonomia, ao avaliar as condíções,de trabalho e ana-
lisar a tarefa, realiza pesquisas descritivas. 
b) Pesquisas experimentais 
O pesquisador manipula deliberadamente algum aspecto da 
realidade, dentro de condições previamente definidas, a fim 
de observar se produz um certo efeito, conforme o esperado -
pretende-se dizer de que modo ou por que causas o fenômeno 
se produz.

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