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1 CURSO DE CAPACITAÇÃO EM INSERÇÃO, MANUTENÇÃO E RETIRADA DO CATETER CENTRAL DE INSERÇÃO PERIFÉRICA (PICC) 2 CURSO DE CAPACITAÇÃO EM INSERÇÃO, MANUTENÇÃO E RETIRADA DO CATETER CENTRAL DE INSERÇÃO PERIFÉRICA (PICC) Apostila organizada pela enfermeira Anna Karoline Fossa para aplicação do Curso de Capacitação em Inserção, Manutenção e Retirada de Cateter Central de Inserção Periférica, promovido pela Hammes Cursos. 3 SUMÁRIO 1. HISTÓRICO DA TERAPIA INTRAVENOSA E DO PICC 5 2. ANATOMIA E FISIOLOGIA 7 2.1 Pele 7 2.1.1 Camadas da Pele 7 2.1.2 Funções da Pele 8 2.1.2 Microbiota Humana 9 2.2 Sistema Vascular 9 2.2.1 Sistema Venoso: Classificação das Veias 12 2.2.2 Principais Veias 12 2.2.3 Sistema Venoso do Recém-Nascido 15 3. CARACTERÍSTICAS FÍSICO QUÍMICAS DOS MEDICAMENTOS 18 3.1 PH da Solução de Perfusão 18 3.2 Osmolaridade 20 3.3 Tonicidade 20 3.4 Soluções Hipertônicas 20 3.5 Soluções Isotônicas 20 3.6 Soluções Hipotônicas 20 4. ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS DA UTILIZAÇÃO DE PICC 22 5. CATETER CENTRAL DE INSERÇÃO PERIFÉRICA 23 5.1 Características da composição do PICC 23 4 6. ESCOLHA DO DISPOSITIVO ADEQUADO PARA A TERAPIA 29 6.1 Fluxograma decisório para escolha do Cateter 30 7. INDICAÇÕES, CONTRAINDICAÇÕES E LIMITAÇÕES AO USO DO PICC 31 7.1 Indicações 31 7.2 Contraindicações 31 7.3 Limitações 31 8. ELEGIBILIDADE DO PACIENTE PARA USO DO PICC 32 9. VANTAGENS E DESVANTAGENS 33 10. PREPARO ANTES DA INSERÇÃO DO PICC 34 10.1 Preparo do Material 35 10.2 Mensuração do Cateter 36 11.TÉCNICA DE INSERÇÃO DO PICC 36 12. CURATIVO 39 13. MANUTENÇÃO DO PICC 43 13.1 Desobstrução do Cateter 44 13.2 Escolha da seringa adequada 46 14. RETIRADA DO CATETER 46 15. COMPLICAÇÕES/INTERVENÇÕES RELACIONADAS AO PICC 47 15.1 COMPLICAÇÕES IMEDIATAS 48 15.2 COMPLICAÇÕES TARDIAS 50 REFERÊNCIAS 55 ANEXOS 56 5 1. HISTÓRICO DA TERAPIA INTRAVENOSA E DO PICC Até meados de 1600 médicos e cientistas não entendiam como funcionavam os vasos sanguíneos. Acreditavam que o fígado era o centro do sistema circulatório do corpo humano e que veias e artérias possuíam sangue que fluía e refluía como a respiração. (PORTO, 2007). William Harvey, médico britânico, descreveu no século XVII, o sistema circulatório por meio de observação e da realização de experimentos em animais, em que o coração funcionava como uma bomba muscular produzindo uma circulação continua. Harvey constatou que, nos animais, o coração se contrai e enrijece, da mesma maneira que o bíceps quando se flexiona o cotovelo. Deduziu então que o coração é um músculo, um músculo diferente, já que é oco. Ele viu que esse músculo oco serve para lançar o sangue nos vasos e entendeu que, quando o coração se contrai para expulsar o sangue que lhe chegou através das veias, este é jorrado unicamente nas artérias. Logo, concluiu que as veias levam o sangue ao coração e este expulsa para as artérias quando há contrações cardíacas (HART, 2001). Em 1665 foi realizada a primeira demonstração de uma transfusão sanguínea com sucesso, pelo médico Richard Lower. Onde realizou a transfusão de uma artéria cervical de um cachorro para a veia jugular de outro. Após, em 1977, Nikolai Vladimirovich realizou uma experiência em cachorros criando uma fístula entre a veia porta e a veia cava inferior, dando início as tentativas de cirurgias vasculares (SANDRUSSI; MUSSA 2014). Observou-se que as vítimas de cólera perdiam enorme quantidade de água e soluções salinas e alcalinas, e em 1800 na Inglaterra, Thomas Latta realizou uma reposição de eletrólitos, colocou uma solução hipotônica de sódio, cloreto e bicarbonato através de um tubo de prata conectado a uma seringa (MILLAM, 1996). De 1835 a 1890 não houve avanços nas técnicas de terapia endovenosa. Os princípios de osmose foram documentados em 1824 e de pressão oncótica em 1877 (MILLAM, 1996). Em 1960, Christopher Wren produziu a primeira agulha hipodérmica (PHILLIPS, 2001). Logo após, em 1964 um médico alemão Johann Majors, utilizou uma agulha para realizar a infusão de substâncias impuras em humanos, não obtendo resultados satisfatórios (PHILLIPS, 2001). Durante a segunda parte do século XIX, grandes avanços na medicina ocorreram. Novos caminhos para os problemas enfrentados na medicina foram revelados. (NASCIMENTO; SOUZA, 1996). Em meados dos anos 50, a terapia intravenosa era utilizada para dois principais propósitos, que eram as grandes cirurgias e desidratação, quando eram infundidas soluções de glicose e água a 5% ou cloreto de sódio a 0,9%. Era utilizado agulha de aço reutilizável, fixada com auxílio de ataduras de couro, geralmente na região anticubital. Os tubos de borrachas reutilizáveis foram substituídos por dispositivos de plásticos descartáveis, diminuindo a incidência de infiltrações causadas pelas agulhas de metal, onde levaram ao desenvolvimento de cateteres de plásticos flexíveis, inseridos através da técnica de dissecção (PHILLIPS, 2001). 6 Em 1945 populariza a cateterização venosa prolongada, utilizando cateteres plásticos de polietileno, foi aprimorado e adaptado para a utilização de terapia intravenosa de longa duração, este dispositivo possui sob a agulha um cateter de plástico flexível. Deste modo inúmeras vantagens foram observadas aos pacientes como, administração de soluções intravenosas, com risco diminuído de infiltração, melhor fixação, permitindo ainda total mobilidade ao paciente, sendo que a agulha é retirada no momento da inserção do cateter, ficando somente o dispositivo plástico. (PHILLIPS, 2001). No final dos anos 50 começou-se a utilizar também a agulha de Rochester, que era um cateter de resina envolvendo uma agulha metálica, na qual o cateter deslizava da agulha para dentro da veia e a agulha era removida. Em 1957 os laboratórios MacGrow introduziram um dispositivo de punção venosa com asas dobráveis para apoio (PHILLIPS, 2001). As seringas de vidros foram utilizadas em 1957, onde os dispositivos de infusão eram de borrachas e trocados quando os gotejadores se impregnavam de glicose ou quando a eficácia já não era o suficiente, permaneciam instalados por uma ou até duas semanas (PEREIRA; CHAUD, 2004). Ainda em 1953 o radiologista Sven-Ivar Seldinger descreveu a técnica em que utilizava um kit de agulha, dilatador e o fio-guia flexível. Sua ideia foi obter acesso a um vaso utilizando um sistema de troca de agulha após a punção por um fio-guia e colocando um cateter sobre o fio-guia dentro do aparelho vascular do paciente (KNOBEL, 2013), sendo uma técnica bastante utilizada até os dias atuais. Começou-se a usar em 1958, o intracath, um cateter de plástico colocado através de uma agulha (PHILLIPS, 2001). O cateter de Hickman foi utilizado pela primeira vez em 1979, cateter este de longa duração, foi usado na quimioterapia. Após foi desenvolvido o cateter de poliuretano e silicone, que aumentou a tolerância de uso dos pacientes (SANDRUSSI; MUSSA, 2014). Cateteres centrais tuneilizados foram utilizados a partir da década de 1980, eram utilizados para infusão de nutrição parenteral e tratamento citotóxico (PHILLIPS, 2001). Iniciou-se o uso do PICC em 1970 em outros países, um cateter de 50 a 60cm de comprimento, inserido nas veias basílica, cefálica ou braquial, que apesar de ser inserido perifericamente, sua ponta fica em posição central, porção distal da veia cava superior. No Brasil o uso do PICC começou a ser utilizado somente em 1990 na neonatologia e 1995 em adultos (VIZCAYCHIPI; JUNIOR; SANCHES, 2013). 7 2. ANATOMIA E FISIOLOGIA 2.1 Pele A pele é o maior órgão do corpo humano, formando um envoltório para as estruturas do corpo e substâncias vitais (líquidos), desenvolve múltiplas funções de proteção do corpo contra o meio ambiente, dentre elas incluem a termorregulação através das glândulas sudoríparas e vasos sanguíneos, controle de infecção, apoio estrutural, sensibilidade por meio de nervos superficiais e suas terminações sensitivas (VISSCHER, 2009). A pele é um órgão, composto por um agregado de tecidos, que funcionam em conjunto. A epiderme e a derme constituem as principais camadas tegumentares, além de estruturas anexas (unha, pelos e glândulas), que auxiliam em suas funções, estes componentes formam o tecido tegumentar (Figura 1). 2.1.1 Camadas da Pele EPIDERME: É a camada mais extensa da pele, é avascular, formada por uma camada de células epiteliais sobrepostas, de quatro ou cinco camadas, que se ligam firmemente umas nas outras, fina, porém resistente. Contém terminações nervosas. É a 8 camada onde se encontra as bactérias, que são denominadas de flora residente e transitória (Figura 2). DERME: A derme é a segunda camada da pele, mais profunda e espessa, é vascularizada. Constituída principalmente por tecido conjuntivo, como o colágeno e fibras elásticas, tornando a pele resistente e elástica. Além disso, as fibras elásticas e o colágeno são organizados em padrões definidos no seu interior, produzindo linhas de tensão, garantindo o tônus. Reage ainda a estímulos dolorosos, alterações de temperatura e sensação de pressão. TECIDO SUBCUTÂNEO: Essa última camada não é considerada como pertencente à pele e por isso é chamada de tela, tecido subcutâneo ou hipoderme. É composto principalmente por tecido conjuntivo frouxo e tecido adiposo. Desempenhando duas funções principais: auxiliando o corpo a isolar variações extremas do meio ambiente e fixar a pele às estruturas subjacentes. 2.1.2 Funções da Pele Protetora: tem o objetivo de proteger o organismo contra penetração de substâncias indesejadas, forma uma barreira que neutraliza e impede que a epiderme absorva substâncias irritantes, contra agressões físicas. Regulação de calor: fornece termo regulação do organismo. Imunitário: ela alberga diversos tipos de leucócitos. Há linfócitos que regulam a resposta imunitária e desenvolvem respostas especificas. Metabólicas: vitamina D. 9 Sensorial: apresenta inúmeras terminações nervosas, como células de Merckel, folículos pilosos. Tem capacidade de detectar sinais que criam as percepções da temperatura, movimento, pressão, dor. 2.1.2 Microbiota Humana A microbiota da pele normal é dividida em residente e transitória. Em geral, os microrganismos são transmitidos por contato direto ou indireto. A pele humana é propícia para o crescimento de bactérias, devido ao calor e proximidade com locais que produzem secreção. Microbiota residente: é composta por elementos que estão frequentemente aderidos nos estratos mais profundos da camada córnea, formando colônias de microrganismos que se multiplicam e se mantém em equilíbrio com as defesas dos hospedeiros. Os microrganismos mais comuns desta microbiota são o Staphylococcus coagulase negativo e micrococos. São microrganismos de difícil remoção e suas colônias possuem mecanismos de defesa contra remoção mecânica ou por agentes químicos. Muitos deles apresentam baixa patogenicidade. Microbiota transitória: é composta por microrganismos que se depositam na superfície da pele, provenientes de fontes externas, colonizando temporariamente. Geralmente é formada por bactérias gram negativas, como enterobactérias, Pseudomonas, bactérias aeróbicas formadoras de esporos, fungos e vírus, possuindo maior potencial patogênicos. São mais facilmente removidos da pele por meio de ação mecânica, por degermação com agentes antissépticos, porém também se espalham com maior facilidade pelo contato. MICROBIOTA RESIDENTE/COLONIZANTE MICROBIOTA TRANSITÓRIA/CONTAMINATE Colonizam camadas mais profundas da epiderme; Colonizam camadas mais superficiais da epiderme; Mais resistentes à remoção pelas técnicas de higienização; Removíveis pelas técnicas de higienização; É composta por bactérias normalmente presentes nas superfícies cutâneas. Adquiridos durante o cuidado aos pacientes e estão relacionados frequentemente às infecções hospitalares. Ex: Staphylococcus Coagulase negativo. Ex: E Coli; Enterococos. 2.2 Sistema Vascular O sistema circulatório é responsável por transportar elementos essências para os tecidos do corpo humano. Oxigênio para as células, hormônios para os tecidos, dióxido de carbono para eliminação nos pulmões, transporte do sangue para todas as partes do corpo e desta para o coração. 10 O sistema circulatório no ser humano é composto pelo sangue, condutores que são as veias, artérias e capilares e o coração. Artérias: são os vasos pelos quais o sangue sai do coração (rico em oxigênio), tem capacidade de contração, são controladas pelo sistema nervoso autônomo, suas paredes são mais espessas com capacidade elástica. Veias: são os vasos que trazem o sangue para o coração (sangue desoxigenado dos tecidos), possuem paredes mais finas e com diâmetro interno maior, no seu interior tem válvulas que impedem o refluxo venoso. Capilares: são vasos microscópicos com apenas uma camada de células e uma camada basal, que são responsáveis pelas trocas de gases e nutrientes entre o sangue e meio interno. ARTÉRIAS VEIAS CAPILARES Levam sangue do coração aos tecidos. Levam sangue dos tecidos ao coração. Vasos ideais para trocas entre sangue e tecidos. Camada média mais desenvolvida, parede mais delgada. Camada adventícia mais desenvolvida, paredes mais espessas. Camada simples de até três células endoteliais. Apresentam válvulas no seu interior. Válvulas venosas: agem de forma unidirecional para evitar o contra fluxo causado pela gravidade. Estas válvulas são constituídas de músculo esfíncter ou de duas ou três dobras membranosas, além de uma fina camada externa de colágeno, que auxilia na manutenção da pressão sanguínea e na prevenção do acúmulo de sangue. 11 Os vasos sanguíneos são formados normalmente por camadas chamadas de túnicas. Túnica íntima: camada mais interna, está diretamente em contato com o fluxo sanguíneo, constituída por superfície lisa, células endoteliais que se apoiam em tecido conjuntivo. Túnica média: formada por células musculares lisas e tecido elástico, apresenta- se mais espessa, permite que as veias suportem mudanças de pressão e fluxo, possibilitando distensão e contração muscular quando necessário. Túnica adventícia: é a camada externa dos vasos, formada por tecido conjuntivo principalmente, denso não modelado e tecido conjuntivo frouxo, reforçando a parede do vaso a fim de evitar o rompimento através da pressão. FONTE: BRASIL ESCOLA 12 2.2.1 Sistema Venoso: Classificação das Veias O sistema venoso é composto por uma parte mais profunda localizada ao nível muscular e outra parte superficial, localizada no tegumento, derme e hipoderme. Classificamos elas em veias profundas e veias superficiais. Veias profundas: geralmente paralelas ás artérias e normalmente possuem os mesmos nomes de sua artéria correspondente, exemplos como jugular interna, braquiocefálica, axilar, subclávia, tibial, poplítea e femoral. Veias superficiais: veias localizadas na tela subcutânea, muitas vezes possíveis de serem visualizadas, na extremidade superior podemos encontrar as seguintes veias superficiais: dorso da mão, cefálica, basílica, intermédia do cotovelo, safena, magna e parva. 2.2.2 Principais Veias No membro superior anastomoses digitais formam o arco venoso dorsal que formam a veia basílica, a veia cefálica, a veia intermédia do cotovelo e do antebraço. Veia cefálica: nasce na mão no lado radial do arco venoso dorsal, ascende pela face anterior do antebraço e sobe pelo braço correndo ao nível do ombro, no sulco deitopeitoral. Em seguida se aprofunda nos tecidos, unindo-se à veia axilar. Veia basílica: nasce na mão no lado medial do arco venoso dorsal e ascende na face posteromedial do antebraço. Na metade do braço a veia basílica perfura profundamente os tecidos e na região da axila se une à veia braquial, formando a veia axilar. Veia intermédia do cotovelo: próximo à prega de flexão do cotovelo a veia cefálica e a veia basílica se unem formando a veia intermédia do cotovelo, separando-se novamente em veia cefálica e veia basílica no braço. Veia intermédia do antebraço: as veias da região palmar formam a veia intermédia do antebraço, que se localiza entre a veia cefálica e a basílica, podendo unir- se a essas duas na prega de flexão do cotovelo. Ainda a veia intermédia do antebraço pode bifurcar-se na prega de flexão do cotovelo em veia mediana cefálica e veia mediana basílica que vão se anastomosar com a veia cefálica e veia basílica respectivamente. Veia axilar: continua na veia subclávia ao nível da borda externa da primeira costela, e forma com a veia jugular interna a veia braquiocefálica. A veia jugular externa começa próximo do ângulo da mandíbula, desce pelo pescoço, cruza o músculo esternocleidomastóideo, esvaziando-se na veia subclávia. As veias braquiocefálica direita e esquerda se unem formando a veia cava superior. A veia cava superior é muito curta e desemboca no átrio direito do coração, drenando o sangue que provém dos órgãos localizados acima do diafragma. 13 Veias dos membros inferiores à veia cava inferior: O sistema venoso superficial dos membros inferiores é composto pela veia safena magna e veia safena parva. Veia safena magna: origina-se na rede de veias da região medial do dorso do pé e estende-se para cima no lado medial da perna, joelho e coxa, desembocando na veia femoral próximo à virilha. À medida que ascende na perna e na coxa, a veia safena magna recebe diversas tributárias e comunica-se com a veia safena parva, o que resulta na formação de uma complexa rede venosa. 14 Veia safena parva: nasce da união das veias da margem lateral da região dorsal do pé, sobe pela linha mediana da face posterior da perna e na fossa poplítea (posterior ao joelho) aprofundasse para esvaziar em uma das veias poplíteas. Veia poplítea: é formada pelas veias tibiais, que drenam as veias do arco venoso plantar. A veia femoral é uma continuação da veia poplítea, que posteriormente se torna em veia ilíaca externa. A veia ilíaca interna e veia ilíaca externa se unem e formam as veias ilíacas comuns (direita e esquerda). A veia ilíaca direita comum e veia ilíaca esquerda comum se unem e formam a veia cava inferior. A veia cava inferior é mais longa que a veia cava superior e drena o sangue proveniente das partes do corpo abaixo do diafragma. Depois sobe e atravessa o diafragma desembocando no átrio direito do coração. Preferencialmente a avaliação dos vasos deve seguir, veias dos membros superiores, veia basílica, cefálica, cubital são de mais fácil acesso. As outras opções são: veia temporal, veia posterior auricular, jugular externa, safena. 15 2.2.3 Sistema Venoso do Recém-Nascido As principais veias para acesso venoso pediátrico incluem as veias das regiões cefálica, dorso da mão, antebraço e pé. Preferencialmente deve-se optar por puncionar as veias localizadas nos membros superiores, considerando como primeira opção as veias basílicas e as veias cefálicas, pois apresentam menores irregularidades em seu trajeto e como segunda opção, a veia intermédia do cotovelo. As veias da região cefálica utilizadas para punção venosa são: veia temporal, veia frontal e veia auricular posterior. A punção das veias da região cefálica pode ser realizada até 18 meses, a partir de quando a epiderme se torna endurecida e os folículos dos cabelos maduros. As veias localizadas na região cefálica e pescoço devem ser a última escolha de inserção do PICC em recém-nascidos pela dificuldade de fixação e risco de migração do cateter. 16 A punção da veia jugular externa ainda apresenta um risco adicional, de punção acidental da artéria carótida. Nos membros inferiores as opções são a veia poplítea, a veia safena e a veia femoral, porém devido à presença de muitas válvulas nessas veias pode ocorrer dificuldade de migração do cateter. 17 18 3. CARACTERÍSTICAS FÍSICO QUÍMICAS DOS MEDICAMENTOS Na terapia intravenosa, frequentemente precisamos fazer o uso de medicamentos cuja natureza pode comprometer a integridade física e a segurança da terapia intravenosa para o paciente. Estima-se que cerca de noventa por cento de todos os doentes hospitalizados recebe algum tipo de terapêutica por via intravenosa, sendo essencial levar em consideração as características da solução de perfusão quando da seleção do dispositivo de acesso vascular apropriado. 3.1 PH da Solução de Perfusão Uma das características mais importantes das drogas é o PH, chamado potencial de hidrogênio. A regulação da concentração de íons de hidrogênio é fundamental na manutenção do balanço ácido-básico, Há três mecanismos responsáveis pela manutenção de níveis adequados de pH: sistemas tampões, remoção de CO2 pelos pulmões e regulação renal do equilíbrio ácido-básico. O pH refere-se á acidez ou alcalinidade da droga, a qual pode contribuir para potenciais complicações e pode ser um fator determinante no que diz respeito ao tipo de dispositivo de acesso necessário para o doente. A relação pH versus concentração de íons de hidrogênio é inversamente proporcional, isto é, quanto maior o pH, menor a concentração de íons hidrogênio; quanto menor o pH, maior a concentração de hidrogênio. A escala de pH varia entre 0 e 14, sendo que o 7 representa um valor neutro. Os valores inferiores a 7 são ácidos; os valores superiores a 7 são alcalinos (base). O pH sanguíneo normalmente varia de 7,35 a 7,45. A água pura tem um pH de 7. Os fluídos e medicações administrados por via intravenosa podem situar-se em qualquer parte da escala de pH. Na prática, é praticamente impossível modificar o pH dos medicamentos, sob risco de comprometer sua eficácia. Considera-se o pH ideal para medicações o que fica em torno de 7,0. Já o pH em níveis extremos (baixo de 4,0 ou acima de 8,0) causa alterações histológicas severas no endotélio venoso. Essas medicações são chamadas na prática como vesicantes ou irritantes. Irritante: um agente capaz de causar comichão, flebite ou uma reação ao longo do vaso ou no local de injeção. Vesicante: um agente capaz de causar bolhas, descamação do tecido ou necrose quando se desvia do trajeto vascular previsto. Esta lista contém algumas medicações com propriedades irritantes ou vesicantes. São apenas uma referência: 19 Figura 4: Fonte MANUAL DO CCIP BARD ACCESS SYSTEMS 20 3.2 Osmolaridade Osmolaridade refere-se à concentração de solutos em um volume de solução, sendo normal para fluidos corporais em torno de 280 a 295mOsl. A osmolaridade refere-se à concentração de solutos numa solução por peso. É expressa como o número de miliosmoles (mOsm) por quilograma (kg) de solução. O termo osmolaridade é utilizado aquando da descrição de fluídos no organismo. 3.3 Tonicidade A tonicidade refere-se à concentração de moléculas dissolvidas presentes numa solução que afeta a pressão osmótica de uma solução. A pressão osmótica influência o movimento da água pela membrana celular. 3.4 Soluções Hipertônicas As soluções hipertónicas fazem com que a água presente numa célula se mova para o compartimento de fluído extracelular (FEC), onde a concentração de sal é superior, fazendo com que a célula encolha. As soluções hipertônicas têm uma osmolaridade igual ou superior a 375 mOsm/l. Estas soluções são utilizadas para substituir eletrólitos. Quando são utilizadas soluções de dextrose hipertónicas isoladamente, estas são também utilizadas para mudar o FEC do tecido intersticial para o plasma. Recomenda-se que soluções com uma osmolaridade >600 sejam perfundidas através de uma linha central. Por exemplo, soluções hipertónicas, como NaCL a 3%, são utilizadas como expansores de volume. 3.5 Soluções Isotônicas As soluções isotônicas têm a mesma osmolaridade que os fluidos normais do organismo. As soluções com uma osmolaridade de 250–375 mOsm/l são consideradas soluções isotônicas e têm um efeito mínimo no volume do fluído no interior da célula; a solução permanece no espaço do FEC. As soluções isotônicas são utilizadas para expandir o compartimento do FEC. Por exemplo, soluções isotônicas, como solução salina normal, são utilizadas em casos de traumatismo para repor o volume de fluídos. 3.6 Soluções Hipotônicas As soluções hipotônicas contêm menos sal que o espaço intracelular e, quando perfundidas, têm uma osmolaridade inferior a 250 mOsm/l. A água move-se para o interior da célula, provocando o seu inchaço e, possivelmente, a explosão da mesma. Ao 21 reduzir a osmolaridade sérica, os fluídos corporais deslocam-se dos vasos sanguíneos para o tecido intersticial e para as células. As soluções hipotônicas hidratam as células e podem esgotar o sistema circulatório. Por exemplo, soluções hipotônicas, como NaCL a 0,45%, podem ser utilizadas em casos de cetoacidose diabética para provocar o deslocamento dos fluídos para a célula. As soluções de perfusão com um pH inferior a 5, superior a 9 ou com mOsmol superior a 600 podem provocar danos na túnica íntima se perfundidas através de um PIV, pelo que deve ser ponderada uma perfusão através de uma linha central. Figura 5: fonte Manual do CCIP Bard Access Systems 22 4. ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS DA UTILIZAÇÃO DE PICC A terapia intravenosa é um processo complexo, onde o enfermeiro participa de ações de assistência e de cuidado, tais como a escolha, instalação e a manutenção do acesso venoso. O cateter venoso central de inserção periférica (CCIP/PICC) tem se demonstrado como cateter fundamental para uma terapia segura para pacientes adultos, crianças e recém-nascidos que requerem uma via para a administração de fluídos endovenosos. A Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, rege o exercício profissional dos trabalhadores de enfermagem e através do Artigo 11, inciso I, alínea “m”, o Enfermeiro exerce todas as atividades de Enfermagem, cabendo-lhe, privativamente, a execução de cuidados de Enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam conhecimentos de base científica e capacidade de tomar decisões imediatas. Desde 2001, o COFEN, por meio da resolução nº 258 (anexo 01), torna licita a inserção do PICC pelo enfermeiro, desde que tenha se submetido a qualificação e/ou capacitação profissional (COFEN, 2001). O Código de Ética de Enfermagem (anexo 02), nos responsabiliza a avaliarmos e aprimorarmos nossas competências técnica, científica, ética e legal para somente depois assumirmos atribuições, para garantir uma assistência livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência, como exige o código de ética de enfermagem (COFEN, 2007). No ano de 2014, o COFEN manifestou-se através da contribuição do parecer 15/2014 do COFEN orientando que além da responsabilidade legal em inserir o PICC, ao enfermeiro também cabe: [...] O Enfermeiro com curso de Capacitação/Qualificação para Inserção do PICC, em instituição que possua protocolo que normatize a aplicação de anestésico local pelo Enfermeiro, e treinamento do profissional para esta atividade, poderá realizar o procedimento de anestesia local, com a lidocaína 1% e 2% sem vasoconstritor, no tecido subcutâneo, com a finalidade de inserção do PICC. 23 5. CATETER CENTRAL DE INSERÇÃO PERIFÉRICA O cateter central de inserção periférica comumente denominado de PICC (Peripherally Inserted Central Venous Catheter) é um dispositivo intravenoso inserido através de uma veia periférica que progride até a veia cava superior ou inferior, adquirindo características de um cateter venoso central. Seu posicionamento correto deverá ser na junção da veia cava superior com o átrio direito chamado de junção cavo atrial ou em terço superior da veia cava inferior, quando inserido em membros inferiores. Normalmente inserido a beira leito por enfermeiros ou médicos capacitados, tendo como principal benefício, sua praticidade no momento da inserção. Possui maior segurança com menores taxas de complicações graves. Há diferentes modelos de cateteres acessíveis no mercado, eles são construídos com diferentes tipos de materiais e configurações como: calibre, comprimento, gauge, número de lumens, tempo de permanência e radiopacidade entre outras. Estas diferenças possibilitam atender as inúmeras especialidades e tratamentos existentes. Sugere-se como de suma importância, que o profissional de saúde habilitado para passagem do PICC, reconheça as principais características estruturais e de uso prático de seus materiais hospitalares. Levando-se em conta, que muitas vezes o enfermeiro é o profissional responsável pela elaboração e acompanhamento de licitações para compra de materiais e na supervisão da qualidade do material utilizado para a passagem de PICC. 5.1 Características da composição do PICC O PICC é um cateter longo que pode variar até 65 cm de comprimento, flexível, biocompátivel e radiopaco, fabricado em poliuretano ou silicone e é inserido por punção venosa periférica, sendo a veia basílica o vaso de escolha principal por ser mais calibroso e possuir menos válvulas venosas. Características obrigatórias e desejáveis: Obrigatórias: biocompatibilidade, hemocompatibilidade, bioestabilidade, radiopacidade, ofereça segurança ao paciente. Desejáveis: trombo resistência, flexibilidade, resistência a dobras e deformações, termo sensibilidade e mínima aderência bacteriana. Diferenças entre Cateteres de Silicone e Poliuretano: Poliuretano: é um polímero termoplástico, empregado na sua maioria das vezes na fabricação de cateteres, apresentando como principais características a bioestabilidade, baixa trombogenecidade, moldabilidade, rigidez e resistência química. Silicone: é um polímero sintético utilizado na construção de vários artigos médicos hospitalares desde cateteres até implantes. Suas características variam de acordo 24 com o produto fabricado, dentre elas destacam-se elevada inércia química e força tênsil, resistência a temperatura e oxidação, alta resistência a dobras, alta biocompatibilidade e baixa aderência microbiana e trombogenecidade. SILICONE POLIURETANO Mais maleável Menos maleável, apresenta memória quando confeccionados em poliuretano de primeira geração. Paredes mais espessas Paredes mais finas Diâmetro interno reduzido Diâmetro interno maior Suporta menos pressão Suporta mais pressão Maior resistência a dobras e pinçamento repetidos Menor resistência a dobras e pinçamento repetidos Compatível com soluções antissépticas com base alcoólica Restrição ao uso de antissépticos com base alcoólica, apresenta risco de quebra do cateter Os cateteres possuem vários calibres de 1 a 6 French (Fr é a medida de do diâmetro externo cuja unidade é conhecida como French, equivale à 0.3mm), quanto maior o Fr do cateter, maior o seu calibre. Existe uma diferença entre o diâmetro externo do cateter e o diâmetro interno do cateter. Dependendo do material utilizado na confecção a espessura da parede pode sofrer variação. Na escolha do diâmetro do cateter deve-se levar em conta a largura do vaso e escolher o menor calibre possível para evitar traumas ao leito vascular. Lembrando que não podemos ocupar mais de 45% da luz do vaso, para que nosso cateter introduzido 25 permaneça com maior quantidade de sangue circulante em sua volta, evitamos assim as flebites mecânicas que podem ser ocasionadas com a escolha errada do calibre do nosso cateter. Gauge: é a medida do calibre da agulha, quanto maior o gauge, menor o calibre da agulha. Número de lúmens: lúmen é o interior ou canal do cateter, ele pode ser uma via única, de duplo ou de triplo lúmen, a ser escolhido de acordo com a necessidade terapêutica do paciente. Ponta do cateter: a ponta do cateter pode ser aberta ou valvulada. As de ponta aberta utilizam pinças ou clampes para fechamento, sendo recomendada a utilização de lavagens com solução fisiológica ou uso de solução heparinizada para evitar sua obstrução. Cateter valvulados impossibilitam o refluxo sanguíneo e a entrada de ar no sistema e sua manutenção deve ser feita somente pela lavagem com solução fisiológica após utilização (TAVARES; ALVES; EIRAS et al.,2009). 26 CATETER PONTA ABERTA CATETER COM PONTA DISTAL VALVULADA Técnica SAS ou SASH obrigatória após a utilização do cateter Não é necessário heparinizar após a lavagem Necessário Clampear quando não estiver em uso Não possui Clamp Necessário técnica de pressão positiva para flush A ação da válvula substitui a técnica de pressão positiva para flush Maior risco de embolia aérea Mínimo risco de embolia aérea Menor índice de obstrução Suporte a pressão: atualmente são disponibilizados cateteres centrais de inserção periférica, fabricados em poliuretano, que suportam altas pressões (em torno de 300 psi com fluxo de 6ml/seg, variando conforme a marca). PSI é uma unidade de medida de pressão. Radiopacidade: Capacidade de o cateter permitir visualização através de imagem /raios-X ou fluoroscopia. Esta característica é devida à adição de bário (elemento radiopaco) ao material de construção do cateter, para permitir a visualização do cateter sob fluoroscopia ou raios X (esta mistura não deve ultrapassar 30%, caso contrário, o material torna-se tóxico ao paciente, frágil e quebradiço). Introdutores: os introdutores para cateter possuem duas características fundamentais: peel away que descasca, compostos por uma bainha plástica com asas ao redor de uma agulha hipodérmica (bastante semelhante a um cateter periférico curto, tipo Insyte , o qual é rasgado após o término da introdução do cateter) ou são agulhas metálicas quebráveis com asas, possuindo um friso que separa as partes quando as asas são aproximadas. Ambos apresentam uma câmara para observação do refluxo sanguíneo após a punção venosa. A medida dos introdutores é a mesma das agulhas, gauge (quanto maior o gauge, mais fino é o introdutor / agulha). 27 Peel away Agulha de aço quebrável Introdutor para cateter Groshong: semelhante ao dispositivo intravenoso curto (jelco) porém normalmente mais calibrosos, já que são retirados posteriormente a inserção do cateter e não necessitando a quebra como os anteriores. Punção com Micro introdutor: utiliza a Técnica de Seldinger modificada, onde a punção venosa é realizada com uma agulha de gauge pequeno. Com ou sem fio guia (metálico ou plástico): Com exceção dos dispositivos intravenosos centrais para neonatologia (1.0, 1.9 e 2.0 Fr), os outros calibres normalmente apresentam estiletes metálicos ou plásticos, parecidos com um fio guia, para proporcionar firmeza ao cateter e facilitar sua introdução / progressão através da veia após a punção, os quais podem ou não vir pré-montados nos cateteres. Existem também os cateteres inseridos através da Técnica de Seldinger ou Seldinger Modificada. Dispositivo para irrigação: Grande parte dos cateteres e estiletes apresentam algum tipo de tratamento hidrofílico, ou seja, quando entram em contato com meio aquoso (solução fisiológica) tornam-se escorregadiços, favorecendo a introdutor do cateter pelo interior da veia e a sua retirada após o término do procedimento. Por este motivo é necessário que todos os cateteres sejam sempre “molhados e preenchidos com solução fisiológica” antes da inserção no sistema venoso. Muitos cateteres apresentam dispositivos para irrigação, permitindo que ele seja irrigado antes, durante e após o procedimento de inserção. 28 Com ou sem extensões / conectores: Determinados dispositivos apresentam conectores com injeção lateral, proporcionando a manipulação sem a necessidade de entrar em contato direto com o cateter. Kit para reparo: Alguns fabricantes de cateter oferecem a opção de kit para efetuar reparo no cateter quando ocorrem fraturas / quebras no segmento externo de um cateter que está permeável e funcionando bem, sem no entanto, ter que removê-lo. Geralmente estes kits constam de conectores extras, na medida do cateter que se quebrou. Com ou sem kit completo para inserção: Há diversas apresentações de cateteres, desde bandejas simples contendo o cateter, o introdutor ou agulha introdutora e o estilete, até kits completos contendo todo material necessário à execução da técnica (fita métrica, tesoura, introdutor, cateter, garrote, seringa, agulha hipodérmica, pinça delicada, fita adesiva para fixação, curativo transparente, campos cirúrgicos, campo fenestrado, compressas de gaze, swab com antissépticos, álcool e solução para preparo da pele). Por razões econômicas, muitas vezes opta-se pelas embalagens mais simples. 29 6. ESCOLHA DO DISPOSITIVO ADEQUADO PARA A TERAPIA Para que possamos fazer uma escolha do dispositivo ideal para a terapia do paciente, necessitamos observar se o mesmo possui características básicas para um “dispositivo venoso adequado”, dentre quais deverá possuir a maior chance de permanecer durante todo o tempo previsto do tratamento, prestar-se aos requerimentos do tratamento, ser o menos invasivo possível, apresentar o menor calibre em relação à veia, utilização do menor número de cateteres para implementar o tratamento prescrito, apresentar uma relação custo x risco x benefício viável. A decisão em escolher um cateter venoso periférico ou central, deverá ser tomada de maneira sistematizada, de acordo com protocolo institucional e em conjunto com equipes multidisciplinares. As limitações técnicas do profissional responsável pela inserção, conforto do paciente assim como sua preferência, deverão ser consideradas no momento da escolha do cateter e do sítio de inserção. A seleção do cateter deve ter como base o objetivo pretendido, a duração da terapia, as características do fluido, e as condições da rede venosa periférica. Segundo as recomendações ANVISA 2017, devemos considerar um cateter central em casos de infusão contínua de produtos vesicantes, nutrição parenteral com dextrose acima de 10% ou outros aditivos que resultem em osmolaridade final acima de 900 mOsm/L, ou para qualquer solução com extremos de Ph e para terapias acima de seis (06) dias. Dobutamina pH 3.6 - 1.0 Ácido de mineração Vancomicina pH 2.4 Suco de limão Dopamina pH 2.5 - 3.0 Coca-cola Doxorrubicina pH 2.5 - 4.5 Coca-cola/ Cerveja Morfina pH 2.6 - 6.0 Vinagre/ Leite Gentamicina/ Cisplatina pH 3.0 - 5.5 Suco de laranja Nitroglicerina pH 3.0 - 6.5 Suco de laranja Ciprofloxacino pH 3.3 - 3.9 Suco de laranja Vincristina pH 3.5 - 5.5 Chá Amiodarona/ Potássio pH 4.0 - 4.5 Cerveja Claritromicina pH 4.8 - 6.0 Cerveja/ Leite Cloreto de Sódio pH 6.0 Leite Dipirona/ Estreptoquinase pH 6.0 - 8.0 Leite Dexametasona pH 7.0 - 8.5 Água potável Furosemida pH 8.0 - 9.3 Água do mar Ampicilina/ Bactrin pH 8.0 - 10.0 Sabão para as mãos Pantozol pH 9.0 - 10.5 Sabão para as mãos Fenitoína pH 10.0 - 12.5 Tira mancha Acyclovir pH 10.5 - 11.6 Sabão/ Água sanitária Ganciclovir pH 11.0 Água sanitária R ég u a 30 6.1 Fluxograma decisório para escolha do Cateter 31 7. INDICAÇÕES, CONTRAINDICAÇÕES E LIMITAÇÕES AO USO DO PICC 7.1 Indicações Programação de terapia intravenosa acima de seis dias; Infusões de soluções hipertônicas, vesicantes, irritantes ou com extremos de PH e osmolaridade; Nutrição parenteral; Antibioticoterapia; Drogas vasoativas; Drogas antineoplásicas; Hemocomponentes para cateteres acima de 3Fr; Recém-nascidos prematuros extremos; Recém-nascidos submetidos a cirurgias e recém-nascidos com síndromes e malformações. 7.2 Contraindicações Presença de edema, hematoma, tromboflebite, flebite e extravasamento químico no local a ser puncionado; Lesão ou infecção cutânea ou do tecido na área próxima ao local proposto para inserção; Em alterações anatômicas que possam impedir a progressão do cateter (dissecções, cirurgias prévias que possam ter alterado anatomia venosa e o retorno venoso, punções venosas prévias e malformações); Alterações ortopédicas ou vasculares como membros parético, fistulas arteriovenosas, veias esclerosadas; Pacientes que não possuam acesso venoso periférico visível ou palpável; Pacientes que estejam em estágio avançado de doença renal, devido necessidade de preservação dos vasos para posterior confecção de fistula arteriovenosa; 7.3 Limitações Difícil acesso venoso periférico; Distúrbios de coagulação; 32 Doença cardíaca com edema (neuropatia periférica); Mastectomia, circulação comprometida devido esvaziamento axilar; Obesidade, veias profundas e de difícil acesso; Fibrose cística (tem sido relatada uma incidência de dificuldade na remoção do cateter, sendo necessário intervenção cirúrgica em alguns casos), observar risco e benefícios da inserção. 8. ELEGIBILIDADE DO PACIENTE PARA USO DO PICC Deverá ser avaliada a elegibilidade do paciente para uso do PICC, durante uma consulta de enfermagem. O enfermeiro utilizará o prontuário médico e de enfermagem em mãos para avaliação da terapia prescrita e realizará um exame físico geral para determinação da estabilidade do paciente ao verificar sinais vitais, condições de mobilidade, possibilidade de alteração do decúbito do paciente, estado cutâneo, condições da rede venosa, eleição das possíveis veias de escolha para realização do procedimento e realização da medida para determinar o tamanho do cateter a ser introduzido. Na escolha do paciente para uso do PICC, o enfermeiro deve-se estar atento às indicações e contraindicações do procedimento, avaliando conjuntamente os benefícios que este procedimento pode trazer ao tratamento do paciente, junto à equipe médica responsável pelo paciente. O diagnóstico de indicação do uso do PICC geralmente parte do olhar e cuidados prestados pela equipe de enfermagem, principalmente sob atenção do enfermeiro no planejamento da terapia endovenosa para seu paciente. Este, juntamente com a equipe médica responsável pelos cuidados do indivíduo, promove a discussão em equipe para escolha do melhor dispositivo e técnica para promover a terapia endovenosa. Muitas vezes, o paciente em necessidade de utilizar o PICC é identificado pela equipe de enfermagem (auxiliares, técnicos de enfermagem e enfermeiros assistenciais) como um paciente necessitando de terapia endovenosa prolongada, e/ou uso de múltiplas infusões de soluções e/ou fragilidade venosa apresentada. Por outras vezes, a equipe médica ao prescrever soluções de osmolaridades e PH distintos dos valores aceitáveis por rede periférica, indica a realização da passagem de PICC para administração segura do medicamento. Para tanto, a consulta de enfermagem, cuidado esse que pode ser realizado apenas pelo enfermeiro enquanto lei do exercício profissional, é a melhor forma para planejamento da terapia intravenosa ao paciente. É importante ressaltar sempre que possível, a autonomia e escolha do paciente pelo seu cuidado e tratamento. Através da interação e comunicação com o paciente sobre as vantagens e desvantagens dos dispositivos utilizados para a terapia promove-se essa autonomia do indivíduo perante o cuidado prestado, direito do indivíduo em cuidado de saúde, em caso de pacientes adultos. No cuidado ao neonato e crianças, esse diálogo deverá ser realizado com os pais e/ou responsáveis pelo menor, solicitando também a sua autorização perante termo de consentimento livre e esclarecido. 33 9. VANTAGENS E DESVANTAGENS Vantagens: É considerado um dispositivo seguro quando realizado com assepsia correta, profissional capacitado e localização confirmada por exames de imagem; Maior tempo de permanência que outros cateteres centrais; A inserção do PICC é menos traumática que outros dispositivos centrais; Possui possibilidade de infusão de drogas irritantes, vesicantes e de osmolaridade e PH variados; Tem variadas portas de entrada (veias periféricas) disponíveis para inserção e quando instalado, preserva o uso de outras veias periféricas; Menor risco de infecção relacionada a cateter quando comparado a outros dispositivos, menor adesão de microrganismos. Menor custo; menor diminuição de mobilidade do paciente e de estresse por evitar múltiplas punções periféricas na internação; Elimina complicações como pneumotórax e hemotórax; É indicado para terapia domiciliar, podendo permanecer inserido por semanas, meses até um ano. Desvantagens: a grande maioria de desvantagens que encontramos ao utilizar o cateter do PICC é bastante subjetiva, pois se avaliado criteriosamente as “desvantagens” são métodos para garantir a qualidade do procedimento e da assistência prestada ao paciente. Requer capacitação técnico-cientifica do enfermeiro para realização do procedimento; Execução de protocolos de manutenção para prevenção de complicações; Demanda vigilância rigorosa do dispositivo incluindo cuidados diários; Apresenta restrição de movimentos quando inserido na fossa cubital e radiografia para confirmação da localização da ponta do cateter; Procedimento eletivo devendo ter preparação, data e hora para inserção, não devendo ser realizado em caso de emergência. 34 10. PREPARO ANTES DA INSERÇÃO DO PICC Identificar precocemente o membro a ser puncionado para inserção do PICC conforme protocolo institucional, ou com fita, gaze, para que este membro fique legível para a punção. Após a decisão de inserir o PICC, realizar a orientação para paciente/familiares sobre a necessidade da passagem do cateter, riscos e benefícios do procedimento, esclarecer dúvidas, solicitar assinatura no termo de consentimento (quando houver) e registrar sempre no prontuário do paciente. Para o profissional que será responsável pelo procedimento de inserção, o aspecto cognitivo da família é de extrema importância, esta conduta contribui para reduzir a ansiedade da família e facilita assim a adesão ao procedimento (OAKLEY; WRIGHT; REAM, 2000). Manter um ambiente previamente aquecido, por se tratar de um procedimento eletivo, essa preparação é fundamental que aconteça antes do procedimento, principalmente em relação ao uso do PICC em recém-nascido, pela perda de calor radiante ou do calor da incubadora durante o procedimento, evitando vasoconstrição e perda de peso do recém-nascido. Portanto, o ambiente deve estar climatizado prevendo uma possível hipotermia do paciente, adulto ou neonato e para facilitar a vasodilatação da rede periférica necessária para melhor visualização da veia de escolha. A realização do procedimento em neonato no berço aquecido é idealmente melhor para os profissionais que irão puncionar, pela melhor possibilidade de visualização e manipulação do RN, porém também poderá ser feito dentro da incubadora; Sala pronta antes do procedimento. Arrume o material e comunique as pessoas que circulam na sala para diminuir a rotatividade e barulho onde acontecerá o procedimento. Avise o restante da equipe, acompanhantes e visitantes que evitem circulação no local do procedimento, principalmente para proteção dos materiais estéreis; Posicione o paciente em decúbito dorsal de forma confortável. Cuidados para o alívio da dor no paciente durante inserção do PICC são fundamentais para o sucesso do procedimento. Deve-se acomodar o paciente confortavelmente no leito, em recém- nascidos poderá conter todo o corpo do bebê e oferecer de 1 à 2ml de solução sacarose à 25% por via oral, comprovadamente úteis no alívio da dor, quando oferecidas minutos antes de um procedimento doloroso; 35 Ressalta-se a importância da autorização do paciente, responsáveis e/ou pais para execução do procedimento. Realizar a contenção dos membros superiores e inferiores em caso de neonato e crianças, em caso de adulto e possibilidade de contar com a cooperação do paciente, comunica-lo sobre cada passo realizado para inserção do dispositivo; Medir a distância para estabelecer o tamanho do cateter a ser introduzido. A distância para o adulto e recém-nascido é a mesma. Radiografia ciente. Solicite que o técnico de radiologia posicione anteriormente ao procedimento a placa de raio-x embaixo do paciente para evitar contaminação dos campos estéreis após a introdução do cateter. 10.1 Preparo do Material 1 caixa de passagem de cateter estéril (tesoura, pinças para antissepsia do local de inserção e pinça para auxiliar a introdução do cateter); 2 compressas estéreis; 1 campo fenestrado estéril, 2 campos simples estéreis; 2 aventais estéreis; 2 gorros cirúrgicos; 2 máscaras cirúrgicas; 2 óculos de proteção; 2 pares de luvas cirúrgicas; Clorexidina degermante; Clorexidina alcoólica 0,5%; 100 ml de solução fisiológica 0,9%; 2 seringas de 10ml; 1 agulha hipodérmica 40X12; 1 garrote estéril; Gazes estéreis; 1 fita métrica não estéril; 1 cateter de calibre adequado ao paciente; 1 introdutor de calibre equivalente ao cateter; 1 curativo transparente de poliuretano; 1 par de luvas de procedimento; Saco plástico para resíduos; Carrinho para procedimento e hamper. 36 10.2 Mensuração do Cateter Deverá ser mensurado com fita métrica a partir do local de punção da veia de escolha até a altura da clavícula (manúbrio direito, independente de membro superior direito ou esquerdo) e daí até o terceiro espaço intercostal, sempre com o membro superior disposto em 90º. Para punções em membros inferiores (menos comum), mede-se o comprimento entre a região de punção, passando pela região inguinal até a umbilical, finalizando na região do apêndice xifoide. A cabeça do paciente deverá estar virada lateralmente para o lado onde será realizada a punção. Figura 6: The PICC Book Bard 11. TÉCNICA DE INSERÇÃO DO PICC Para a devida inserção do cateter PICC é necessário seguir os seguintes procedimentos: • lavar as mãos corretamente; • paramentação, utilizando Equipamento de Proteção Individual (EPI) como: gorro, óculos, máscara avental e luvas estéreis; • dispor os materiais estéreis em mesa auxiliar protegida por campo estéril. • preencher o cateter com solução fisiológica a 0,9%; • medir o cateter com fita métrica estéril e cortar conforme medida. 37 Após a organização dos equipamentos necessários, procede-se com a preparação do membro a ser puncionado, na seguinte ordem: • posicionar o membro no campo fenestrado estéril; • garrotear o membro com garrote estéril para visualização das veias; • realizar a degermação do local a ser puncionado com clorexidine alcoólica a 0,5%; • limpar com solução fisiológica a 0,9% e enxugar; • realizar o preparo do conjunto introdutor; Obtendo-se o retorno sanguíneo, manter firme o introdutor com os dedos indicador e polegar, com o dedo médio obstruir o retorno venoso e solicitar à pessoa que está auxiliando, soltar o garrote. Em seguida, realizar os seguintes procedimentos: • retirar a agulha do introdutor; • iniciar a introdução do cateter com auxílio da pinça sem tocar na extensão do corpo do cateter; • progredir o cateter com a pinça, lentamente, de 5 a 10 centímetros; • solicitar ao auxiliar para que mobilize a cabeça lentamente para o local da punção venosa, esta manobra muda o ângulo do cateter para baixo em direção à veia cava superior, evitando o posicionamento inadequado do cateter; • retirar o introdutor cuidadosamente para não tracionar o cateter; • quebrar o introdutor; • confirmar a introdução do cateter na medida correta; • verificar o retorno venoso e estabilizar o fluxo; • salinizar o cateter com soro fisiológico 0,9% com volume de 2x o priming do cateter, e fechar o cateter; • estancar o sangramento com leve pressão 38 • limpar o sítio de inserção com solução fisiológica, removendo resíduos de sangue; • fixar o cateter e aplicar o curativo transparente oclusivo e compressivo nas primeiras 24 horas. Após a inserção do PICC, o raio-x de tórax é de fundamental importância para se visualizar a posição do cateter e se certificar de que o mesmo não fez falso trajeto ou apresenta dobras que impossibilite seu uso (CAMARGO, 2007; CARDOSO et al., 2008; LAMBLET; CHIMIRRI, 2009). Cabe ressaltar que a ponta do cateter deve encontrar-se adequadamente instalada na veia cava superior (preferencialmente no 1/3 médio inferior da veia cava superior). E se o cateter for inserido no membro inferior, deve encontrar-se na veia cava inferior em posição terço médio superior. (CAMARGO, 2007; CARDOSO et al., 2008). Figura 7: The PICC Book Bard 39 12. CURATIVO Segundo SOBETI (2004), o curativo realizado no PICC cumpre duas funções: cria um ambiente que protege a área onde está inserido o cateter e evita que haja seu deslocamento. O curativo de PICC deverá ser estéril, oclusivo, o primeiro após a inserção deverá ser compressivo, de fácil aplicação e remoção, boa adesividade, manter o sitio do cateter seco e visível, confortável para o paciente. Atualmente os curativos transparentes (películas ou filmes semipermeáveis de poliuretano) são possibilidades que favorecem a fixação do cateter, apresentando diversos benefícios dentre eles podemos destacar a visibilidade do sitio de inserção, maior tempo de permanência (em torno de 7 dias), funciona como barreira contra contaminantes externos (impermeável a líquidos e microrganismos), aumenta o conforto do paciente (menos volumoso, menor número de trocas, permite banho de aspersão, reduz risco de alergias de contato por permitir a transpiração normal da pele) e segurança da equipe, menor custo ( menos trocas, menor tempo gasto de enfermagem e menor risco de trauma cutâneo), maior e melhor fixação do cateter, evitando assim lesões traumáticas, flebites, trombose e exteriorização do cateter. O cateter PICC deve ser manipulado apenas por pessoa treinada e capacitada e os curativos realizados por enfermeiro qualificado para o procedimento de inserção, manutenção e remoção do mesmo. O curativo deve ser trocado de acordo com o protocolo da instituição ou quando a integridade do curativo estiver comprometida. Técnica do curativo: ● Lavar as mãos; ● Calçar luvas de procedimento; ● Retirar o curativo anterior com cuidado evitando tocar no cateter e na área de inserção; ● Caso seja película transparente, puxá-la perpendicular à pele do paciente; ● Retirar a luva de procedimento; ● Lavar as mãos; ● Calçar luvas estéreis; ● Realizar a limpeza da área de inserção com gaze embebidas com solução salina (SF0,9%) removendo resíduos se houverem; ● Aplicar solução antisséptica padronizada pela instituição com auxílio de gaze estéril e esperar secagem espontânea; ● Certificar-se da posição do corpo do cateter para que não ocorra exteriorização acidental; ● Checar a medida do corpo do cateter; ● NUNCA reintroduzir o cateter caso ocorra a exteriorização acidental; 40 ● Inspecionar o sítio de inserção atentando-se para hiperemia, edema, dor, rubor, endurecimento, calor, secreção; ● Fechar o curativo, conforme técnica recomendada; ● Lavar as mãos; ● Colocar data no curativo; ● Fazer registros de Enfermagem. Procedimento de estabilização: Este método permite uma fixação segura do cateter, distribuindo a força de tensão de maneira uniforme sobre toda área do curativo. Cateter de um lúmen: Apoiar o conector do cateter na pele e posicionar a fita adesiva hipoalergênica sobre ele para fixá-lo à pele. EVITAR a colocação de fita adesiva diretamente sobre o corpo do cateter. Cobrir a área ao redor do sítio de saída e a fita adesiva com um curativo transparente amplo, procurando centralizar o cateter. Assegurar-se de que o curativo não oclua o conector do cateter. Posicionar uma fita adesiva longa por baixo do conector do cateter (com o lado aderente para cima), passando por baixo dele e bem rente à pele, logo após o final do curativo transparente já colocado (como se fosse uma gravata/ Chevron), cruzando-a sobre o conector e o curativo transparente. Figura 1 41 Para garantir maior segurança, colocar uma fita adesiva sobre o conector. Anotar / registrar em impresso próprio a troca do curativo (data, responsável, achados). Cateter de dois lúmens: Apoiar o conector do cateter na pele e posicionar a fita adesiva hipoalergênica sobre a bifurcação do cateter para fixá-lo à pele. EVITAR a colocação de fita adesiva diretamente sobre o corpo do cateter. Cobrir a área ao redor do sítio de saída e a fita adesiva com um curativo transparente amplo, procurando centralizar o cateter. Assegurar-se de que o curativo não oclua os conectores do cateter. 42 Posicionar uma fita adesiva longa por baixo de cada conector do cateter (com o lado aderente para cima), passando por baixo deles e bem rente à pele, logo após o final do curativo transparente já colocado (como se fosse uma gravata/ Chevron), cruzando-a sobre cada conector e o curativo transparente. Para garantir maior segurança, colocar uma fita adesiva sobre os conectores. Anotar/registrar em impresso próprio a troca do curativo (data, responsável, achados). Uso do estabilizador: Esse dispositivo acompanha a maioria dos Kits do PICC; A troca deve acontecer a cada 7 dias; Seguir corretamente todos os passos para estabilização do PICC com Statlock. Técnica utilizando os 4 P’s; 1. Prep.: preparar o local; 2. Press: conectar o cateter ao dispositivo; 3. Peel: retirar a fita adesiva do dispositivo; 4. Place: aderir o dispositivo à pele. 43 13. MANUTENÇÃO DO PICC Na utilização do cateter PICC, o sucesso aumenta com o conhecimento dos profissionais sobre as propriedades dos cateteres e com a devida habilitação. Como falamos anteriormente o profissional enfermeiro é responsável pela inserção e manutenção deste dispositivo, cabendo a ele o treinamento da equipe para manuseio adequado e fiscalização diária do dispositivo. Sempre realizar a higienização das mãos antes de manipular o cateter. Aferição da circunferência dos membros puncionados é uma medida que visa auxiliar na identificação precoce do aparecimento de tromboses (o aumento superior a 2cm é um sinal precoce), condições de permeabilidade do cateter e extravasamento. A equipe de enfermagem deve ser orientada a fazer assepsia das conexões todas as vezes que o sistema for manipulado. Checar a medida do comprimento do cateter para identificar exteriorização acidental. NUNCA reintroduzir o cateter caso ocorra a exteriorização acidental Inspecionar o sítio de inserção quanto a hiperemia, edema, dor, rubor, endurecimento, calor, secreção. Manter via exclusiva para Nutrição Parenteral. Lavar o cateter sob baixa pressão antes e após administração de medicamento ou solução intravenosa com solução fisiológica 0,9%, o volume deve ser igual ao dobro da capacidade(priming) do cateter, incluindo conectores, extensões e cânulas. A recomendação de frequência da salinização segundo o CDC, 2007 é de no mínimo 12/12 horas, porem a frequência pode ser submetida aos protocolos institucionais. Utilizar a lavagem com pressão positiva/turbilhonamento, técnica que previne o retorno do sangue para o interior do cateter, quando sua ponta é aberta. O objetivo é manter a pressão da seringa no interior do cateter, formando assim uma coluna de liquido sob pressão positiva, quando infundir o último ml de solução, fechar o clamp simultaneamente, para criar e manter a pressão positiva no interior do cateter. Realizar a substituições de tampas, conexões e equipos conforme protocolo institucional e recomendações da ANVISA. Procedimento de Flushing: Salinização: Utilizar SEMPRE seringa de 10 ml; Utilizar 10 ml de solução salina SF 0,9% conforme sigla SAS com técnica pulsátil realizando o turbilhonamento do cateter; A frequência deve ser determinada pela instituição. Indica-se a salinização a cada pelo menos 12 horas, segundo CDC, 2007. 44 Quando houver impossibilidade de realização deste cuidado de enfermagem imediatamente após a administração de medicamentos intravenosos através do cateter, sugerimos incluir nas prescrições de enfermagem, podendo ser de 4/4 h, 6/6 h, 8/8 h ou 12/12 horas de acordo com a terapia intravenosa prescrita. Procedimento de Heparinização: Heparinização: Utilizar SEMPRE seringa de 10 ml; Utilizar 10 ml de solução salina SF 0,9% conforme sigla SASH com técnica pulsátil realizando o turbilhonamento do cateter; A frequência do uso da heparina deve seguir protocolo institucional e prescrição médica; A solução recomendada é 100 U/ ml - 9,8ml de SF0,9% para 0,2ml de Heparina (5000U/ml); Administrar 1,5 ml da solução final após o término das infusões a serem administradas (fármacos e fluidoterapias); Antes de utilizar o cateter novamente, deve-se aspirar e desprezar a solução anterior e lavar o cateter com 10ml de solução fisiológica 0,9%. Embora a literatura recomende uma lavagem com solução heparinizada de 5 a 10 UI/ml para pacientes pediátricos e neonatais e seja bastante comum utilização de solução de 100 UI/ml para adultos e crianças maiores do que 15 quilos a intervalos de 12 horas, tais procedimentos deverão ser ajustados às normas de cada instituição. Na prática, em neonatologia a utilização de heparina ou soluções heparinizadas é uma rotina pouco comum, sendo que normalmente o cateter é mantido com solução sob gotejamento contínuo (taxa de fluxo de 0.3 a 0.5 ml/h). 13.1 Desobstrução do Cateter Somente poderá ser realizado por enfermeiros habilitados; Técnica de Desobstrução Mecânica – “Técnica da Torneirinha”; Caso seja protocolo institucional, o médico deverá prescrever o agente trombolítico a ser utilizados, quantidade e tempo de ação; 45 Certifique-se que as conexões dos dispositivos sejam luerlock. Materiais: 1. Torneirinha de três vias estéril; 2. Uma seringa estéril de 10 ml vazia; 3. Uma seringa estéril de 5 ml com solução salina; 4. Luva estéril; 5. Gaze estéril embebida em álcool a 70%. Descrição da Técnica de Desobstrução: 1. Realizar fricção de limpeza no hub do cateter conforme protocolo institucional; 2. Conectar a torneirinha no cateter previamente preenchida com solução salina (SF0,9%); 3. Conectar de forma estéril duas seringas nas conexões da torneirinha conforme figura abaixo; 4. Abra o sistema para a seringa de 10 ml e exerça a pressão negativa; 5. NÃO empurrar o êmbolo; 6. Com a pressão negativa na forma de vácuo, segure o êmbolo e abra a conexão para a seringa de 5 ml com solução salina; 7. A quantidade de solução que irá infundir será o quanto o cateter suporta sem romper; 8. NÃO empurrar o êmbolo; 9. Repita o procedimento até que ocorra refluxo sanguíneo na seringa de 10 ml; 10. Após refluxo sanguíneo, realizar flushing conforme descrito anteriormente. 46 13.2 Escolha da seringa adequada Pressão: É a aplicação de uma força a um corpo por outro corpo em contato com ele / força exercida por um fluido em todas as direções; tensão. Exemplo: ao empurrar o êmbolo de uma seringa com o seu dedo polegar, você irá sentir certa resistência quando empurrar o êmbolo da seringa, o que irá resultar em uma pressão sobre o corpo da seringa. Se esta resistência for aumentada (por exemplo, adaptando uma agulha ou filtro à seringa), seu polegar terá que exercer uma força maior para conseguir empurrar o êmbolo, aumentando ao mesmo tempo a pressão sobre o corpo da seringa. PSI é uma unidade de pressão, que significa libras por polegada quadrada (PSI Pound Square Inch). 1 psi é equivalente a 50 mmHg. Seringa de 1 mL----150 PSI Seringa de 3 mL----120 PSI Seringa de 5 mL----90 PSI Seringa de 10 ml ----20 PSI Seringa de 20 ml ----10 PSI 14. RETIRADA DO CATETER Segundo a SOBETI (2004), as principais causas de remoção do cateter de PICC são: término da terapia proposta, ruptura ou quebra do cateter, posicionamento inadequado do cateter, extravasamento de líquidos, presença de processo infeccioso ou inflamatório. Técnica de retirada do PICC: Lavar as mãos; Calçar luvas estéreis; Colocar o paciente em posição supina e remover o curativo; Posicionar o braço do paciente em ângulo de 45 a 90 graus em relação ao corpo; 47 Orientar para que realize a manobra de valsava enquanto estiver removendo o cateter; caso o paciente esteja inconsciente, remover o cateter sempre durante a expiração; Examinar o local, quanto à presença de anormalidade; Remover o cateter lenta e delicadamente, exercendo tração firme e constante; Não aplicar pressão no local de saída durante a retirada; Aplicar compressão digital no sítio de saída após a remoção total do cateter por 5 - 10 minutos, dependendo do calibre do cateter; Aplicar curativo pequeno e levemente compressivo no local; Medir e examinar o cateter para a certificação da retirada completa do mesmo; Comparar o comprimento do cateter retirado com o comprimento documentado e anotado antes da inserção. Se for observada alguma discrepância no comprimento, notificar o médico imediatamente; Registrar o procedimento. Dificuldade de remoção do PICC: Em situações de venoespasmo, o enfermeiro deverá: Interromper o procedimento; Conversar e acalmar o paciente; Tentar nova remoção. Em caso de resistência, o enfermeiro deverá aplicar compressa úmida e morna na área acima do trajeto do cateter por 20 a 20 minutos para favorecer a vasodilatação e tentar a remoção novamente. Na segunda tentativa, se for mantida a resistência, refazer curativo mantendo técnica asséptica e tentar retirar após 12-24 horas. 15. COMPLICAÇÕES/INTERVENÇÕES RELACIONADAS AO PICC Apesar de pouco frequentes, podem ocorrer complicações com o uso do PICC, como punção arterial, arritmia cardíaca, dificuldade na progressão, infecção, trombose e deslocamento do cateter (VIZCAYCHIPI; JUNIOR; SANCHES, 2013). As principais complicações e condutas em relação a elas são: 48 15.1 COMPLICAÇÕES IMEDIATAS Dificuldade de Progressão Sinais e Sintomas Causas Resistência ao avanço – cateter “enrola” externamente Posicionamento inadequado do paciente ou do introdutor; Mau posicionamento de cateter; Calibre inadequado do cateter; Dissecção prévia; Esclerose; PICC de encontro com válvula; Bifurcação venosa; Angulação venosa acentuada; Vasoconstrição Prevenção Intervenção Posicionar o paciente com braço formando um ângulo de 90 graus com o corpo; Avançar o cateter suavemente; Puncionar em cima e no sentido do vaso; Ambiente aquecido; Escolha correta do vaso; Nunca use força! (pare, espere e reinicie); Reposicione o braço do paciente; Faça leve rotação do braço; Abrir e fechar a mão do paciente; Lavar com SF a 0,9% o cateter; Remover o fio guia; Aplicar calor sem comprometer o campo estéril Hemorragia/Hematoma Sinais e Sintomas Causas Sangramento pela inserção de difícil controle; Inadequados calibres de agulha/cânula introdutora; Distúrbios de coagulação; Terapêutica anticoagulante; Inserção traumática. Prevenção Intervenção Conhecer a terapêutica prévia; Conhecer os resultados laboratoriais; Cuidados na punção. Aplicar pressão; Realizar curativo compressivo nas primeiras 24 horas; Agentes Hemostáticos Arritmia Cardíaca Sinais e Sintomas Causas Ritmo cardíaco irregular; Dispneia; Irritação do miocárdio pela ponta do cateter. 49 Palpitações; Hipotensão arterial Prevenção Intervenção Avaliar pulso e frequência cardíaca de base; Medir cuidadosamente o cateter; Cortar o cateter atentamente; Verificar a localização da ponta pelo RX. Prevenção; Retrair o cateter para a veia cava superior; Notifique o médico. Punção de artéria Sinais e Sintomas Causas Fluxo sanguíneo pulsátil; Coloração do sangue; Hipotensão; Hipovolemia. Não identificação da artéria; Abordagem profunda. Prevenção Intervenção Identifique a artéria; Punção mais superficial. Prevenção; Remover a agulha/introdutor imediatamente; Aplicar compressão direta; Curativo compressivo; Avaliar o desenvolvimento de hematoma Dano/estimulação de nervos Sinais e Sintomas Causas Dormência; Formigamento; Fraqueza da região. Dano direto pela agulha; Irritação de nervos durante a inserção; Posicionamento inapropriado do braço; Cateter fora da veia. Prevenção Intervenção Avaliação adequada; Posicionamento adequado; Avanço lento e cuidadoso; Apoiar o braço em posição confortável. Pare a progressão; Reinicie mais lentamente; Se as sensações persistirem o cateter deve ser removido; Realizar nova punção e inserção. 50 Fio guia difícil de retirar Sinais e Sintomas Prevenção Falta de irrigação prévia do cateter; Dobra do fio guia dentro do cateter. Preencher o cateter com solução fisiológica para ativar a camada hidrofílica do cateter; Não forçar a progressão do cateter. Mau posicionamento do cateter Sinais e Sintomas Causas Ângulos e dobras observáveis; Ausência de retorno de sangue; Percepções auditivas (no adulto) Cateter que não progrediu até a medida, (resistência) Cateter dentro da área cardíaca; Cateter localizado na região cervical ou cefálica; Outras localizações. Anatomia venosa irregular; Cirurgias ou lesões prévias; Posicionamento inadequado do paciente; Medida incorreta do trajeto e/ou do PICC. Prevenção Intervenção Avaliação cuidadosa; Ocluir jugular interna durante inserção); Medir atentamente; Verificar retorno sanguíneo; Nunca forçar a inserção. Verificação de posicionamento pelo RX; Medidas de reposicionamento pelo RX; Dê tempo ao paciente e ao cateter; Elevar paciente durante 24 horas, o cateter pode migrar. 15.2 COMPLICAÇÕES TARDIAS Oclusão do Cateter Sinais e Sintomas Possíveis Causas Resistência e dificuldade de infusão Impossibilidade de lavar o cateter Impossibilidade de aspirar sangue Lentificação ou interrupção da infusão Coágulo intraluminal Bainha de fibrina Formação precipitado Localização inadequada da ponta do cateter – trombose mural 51 Prevenção Intervenção Realizar manutenção adequada do cateter com flush conforme recomendações. Realizar transfusão e coleta de sangue apenas em cateteres acima de 3Fr Método SAS Método SASH Uso adequado de equipamentos de infusão continua. Verificação do posicionamento do cateter. Desobstrução – Técnica da torneirinha A oclusão do cateter é em razão de “flush” inadequado; refluxo sanguíneo excessivo; medicações incompatíveis formando cristais; baixa solubilidade (SOBETI, 2004). Fratura do cateter Sinais e Sintomas Causas Quebra visível; Embolia do cateter. Forca excessiva na lavagem; Fixação inadequada do cateter; Dano ao corpo do cateter; Retração do cateter pela agulha introdutora; Retirada agressiva do estilete; Aplicação de pressão excessiva; Falta de qualidade do material. Prevenção Intervenção 52 Nunca use força ao lavar; Utilizar seringas de 10 ml; Fixar o cateter seguramente; Evitar o uso de cortantes próximo ao cateter; Cuidado ao retirar o cateter pela agulha; Não utilizar fitas adesivas para a fixação do corpo do cateter. Atenção médica imediata (caso de fratura interna); Identificação da localização; Retenha o fragmento para prevenir migração; Aplicar pressão direta (mão ou garrote) acima do local de inserção; Acionar cirurgia vascular. Migração do cateter Sinais e Sintomas Causas Infusão lentificada; Alarmes frequentes; Exteriorização do cateter; Dor durante a infusão; Distúrbios neurológicos; Dispneia. Movimentação vigorosa da extremidade; Alterações da pressão intratorácica; Fixação inadequada do cateter. Prevenção Intervenção Fixação adequada do cateter; Posicionamento adequado da terminação em veia cava superior ou veia cava inferior. Observar sinais de funcionalidade do cateter; Notifique o médico; Verificar o posicionamento do cateter; Nunca reinsira um cateter que migrou; Reconsiderar nova inserção (novo cateter). Flebite mecânica Sinais e Sintomas Causas Dor; Calor; Eritema; Hiperemia de trajeto venoso; Edema; Endurecimento da veia. Material e tamanho do cateter inadequados e técnica incorreta de inserção; Característica da veia; Fatores inerentes ao paciente. Prevenção Intervenção 53 Técnica de inserção Evitar fluxo turbulento; Escolha apropriada do cateter. Iniciar o tratamento imediatamente; Repouso e elevação; Aplicação de calor local; Anti-inflamatórios não- esteroidais; Continuar o tratamento até a interrupção dos sintomas; Remoção do cateter. Flebite química Sinais e Sintomas Causas Medicações irritantes; Extremos de PH ou osmolaridade; Diluição inadequada; Migração do cateter; Talco e látex da luva. Prevenção Intervenção Assegure localização do cateter por confirmação de RX; não tocar no corpo do cateter com a luva durante a inserção. Notifique o médico; Aplique calor por 24 h; Observar de 2/2h se não houver melhora retirar o cateter. Flebite bacteriana Sinais e Sintomas Causas Lavagem de mãos Inapropriada; Preparo inadequado da pele; Técnica inadequada; Contaminação do cateter durante inserção; Progressão da flebite mecânica. Prevenção Intervenção Aderência às técnicas e procedimentos de controle de infecção. Hemoculturas; Notifique o médico; Tratamento de acordo com o agente etiológico e tipo de cateter; Remoção do cateter e nova inserção. Infecções do local de inserção (Celulite) 54 Sinais e Sintomas Causas Área de infecção afetando pele e subcutâneo; Drenagem pelo local de inserção; Eritema; Edema; Dor; Ausência de sintomas sistêmicos Contaminação do local de inserção; Preparo inadequado da pele; Manutenção inadequada do local de inserção; Condições clínicas; Técnicas inapropriadas de lavagem de mãos. Prevenção Intervenção Aderência às técnicas e procedimentos de controle de infecção. Notifique o médico; Tratamento de acordo com o agente etiológico e tipo de cateter; Cultura; Remoção do
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