Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 que!ões di"#es mell$us QUAL O CONCEITO ATUAL DE DIABETES MELITO DO TIPO 1? O diabetes do tipo 1 (DM1) corresponde ao diabetes associado à destruição quase total das células beta pancreáticas, que resulta em uma deficiência absoluta de insulina. Do ponto de vista etiológico, o DM1 é subdividido em: • tipo 1A: consequência de uma destruição autoimune das células betas pancreáticas; • tipo 1B: diabetes com características clinicas do DM1, mas sem evidência de autoimunidade contra as células betas. É FÁCIL DIFERENCIAR AS DUAS FORMAS DE DIABETES MELITO DO TIPO 1 (DM1)? Muitas vezes não é fácil diferenciar as duas formas de diabetes do tipo 1 (tipo 1A e tipo 1B) na primeira avaliação do paciente. O melhor critério diagnóstico para o DM 1A é a presença de auto-anticorpos anti-ilhotas, avaliados por ensaios altamente específicos. No início do DM 1 quase todos os pacientes possuem a lgum au to -an t i co rpo . Quat ro marcadores são medidos, GADA, IA-2A, IAA e ICA ou ZnT8A. Sobre o uso dos anticorpos na classificação do diabetes: sabe-se que a presença de auto- anticorpos anti-ilhota (ICA) é mais frequente nos pacientes magros, onde a progressão da doença com necessidade de insulinização exógena acontece mais rapidamente e com níveis de peptídeo-C menores. Em crianças com menos de 10 anos de idade o anticorpo (Anti IAA-anti insulina) pode preceder o aparecimento quando comparado aos demais. O DIABETES MELITO DO TIPO 1A (DM 1A) É TÃO FREQUENTE QUANTO O DIABETES MELITO DO TIPO 2? Não, o DM1A corresponde a aproximadamente 10% de todos os casos de diabetes e compromete cerca de 10 a 20 milhões de indivíduos no mundo. O DM1A é considerado a doença crônica mais comum da infância e adolescência, em 0.3% da população geral surge antes dos 20 anos de idade. A HISTÓRIA FAMILIAR DE DIABETES MELITO DO TIPO 1A (DM 1A) É FREQUENTE ENTRE OS CASOS DA DOENÇA? QUAL O RISCO EM DESENVOLVÊ-LA? Em torno de 80% a 90% dos indivíduos que desenvolvem o DM 1A não apresentam um parente em primeiro grau com a doença. O risco empírico para o desenvolvimento do DM1A, que é de 0,4% na população geral, tem um aumento significativo quando um dos membros da família tem diabetes do tipo 2, sugerindo uma possível interação genética entre os dois tipos de diabetes. O QUE É LADA? LADA: latent autoimune diabetes of the young adult - é caracterizada por uma doença com progressão e declínio da função da célula beta pancreática mais lento em comparação à crianças e adolescentes, sendo assim os pacientes utilizam antidiabético oral por um per íodo de tempo antes de começar a insulinização, geralmente magros e a idade varia entre 25 e 65 anos de idade. O anticorpo mais frequente nestes pacientes é Anti GAD - anti descaboxilase do ácido glutâmico. Os pacientes com LADA apresentam maior prevalência de outros auto anticorpos. EXISTE UM PADRÃO DE HERANÇA DEFINIDO PARA O DIABETES MELITO DO TIPO 1A (DM 1A)? O DM 1A é considerado por uns como uma doença poligênica e por outros, oligogênica, mas heterogênea. Vários destes locus relacionam-se também com a predisposição a outras doenças autoimunes, tais como, esclerose múltipla, doença celíaca, espondilite anquilosante e tiroidite de Hashimoto. A forma monogênica, que é menos frequente pode se apresentar isoladamente ou associada a duas raras condições: a Síndrome poliglandular autoimune do tipo 1 e a síndrome IPEX. Gabriela Reis Viol 2 O S F A T O R E S A M B I E N T A I S S Ã O IMPORTANTES PARA ECLOSÃO DO DIABETES MELITO DO TIPO 1A (DM 1A)? A concordância de apenas 50% entre gêmeos monozigóticos no desenvolvimento do DM 1A sugere a presença de fatores ambientais na etiologia da doença. Entretanto, apesar de muitas pesquisas neste sentido, os fatores ambientais têm sido citados apenas como potencialmente envolvidos na etiopatogenia do DM 1A. P R I N C I PA I S FAT O R E S A M B I E N TA I S P O T E N C I A L M E N T E E N V O LV I D O S N A ETIOPATOGENIA DO DIABETES MELITO DO TIPO 1A (DM 1A)? Podem ser classificados em três grupos: • infecciosos; • alimentares; • tóxicos. Os vírus associados com o desenvolvimento do DM 1A em humanos, por meio de infecção citolítica, são os do grupo Coxsackie A. O da rubéola, o citomegalovírus, o da caxumba, o Epstein-Barr e os Coxsackie B4 podem levar ao diabetes ao desencadearem auto-imunidade. Os alimentos relacionados ao desenvolvimento do DM 1A são, até o momento, as proteínas do leite de vaca, as nitrosaminas, determinados cereais, o glúten e a deficiência de vitamina D. Entre os tóxicos, estão alguns inseticidas e quimioterápicos. AUTO-IMUNIDADE CONTRA AS CÉLULAS BETA NO DIABETES MELITO DO TIPO 1A (DM1A). O encontro de um infiltrado mononuclear ao redor e no interior das ilhotas de Langerhans no pâncreas de pacientes que faleceram logo após o diagnóstico do DM 1A, associado à presença de auto-anticorpos circulantes anti-células beta pancreáticas no soro de pacientes com DM1A de diagnóstico recente, são as bases para o conceito da patogênese auto-imune essa doença. Durante as últimas quatro décadas foi caracterizado um grande número de auto- antígenos alvos para o processo auto-imune que ocorre na história natural do DM 1A. Atualmente, os auto-antígenos sequenciados são a insulina, a descarboxilase do ácido glutâmico (GAD), a tirosina fosfatase ICA512/IA2, o I-A2beta (phogrin), a carboxipeptidase H e recentemente foi caracterizado o transportador de zinco. Entre estes os quatro utilizados em ensaios para detecção dos anticorpos anti-ilhotas são a insulina, a descarboxilase do ácido glutâmico, a tirosina fosfatase e o transportador de zinco. Componentes tanto da resposta imunológica humoral (auto-anticorpos) como da celular estão envolvidos na patogênese do DM 1A. As células T que compõem a resposta Th1 produzem interleucina-2 e o interferon-Υ e mediam as respostas de hipersensibilidade tardia. As células T que fazem parte da resposta Th2 produzem interleucinas 4, 5, 6 e 10, que mediam a imunidade humoral. FASE PRÉ-CLINICA NO DIABETES MELITO DO TIPO 1A (DM1A). O conhecimento dessa fase clinicamente s i lenciosa do DM1A surgiu pelo estudo prospect ivo de famil iares dos pacientes diagnosticados até a doença manifesta. Esta fase pode variar de alguns meses a vários anos. Os marcadores do processo auto-imune contra as células beta mais utilizados para a detecção da fase pré-clinica do DM 1A são os auto-anticorpos contra os quatro principais auto-antígenos das ilhotas, ou seja, a insulina (IAA), a descarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD65), o ICA 512/IA2 e anti-transportador de zinco. Pode-se sugerir que para as crianças pré-púberes a pesquisa dos auto-anticorpos poderia se iniciar pelos IAA e, nas pós- púberes e adultos, pelos anticorpos anti-GAD65. Quando estes forem positivos, deve-se completar o estudo com os auto-anticorpos restantes (anti-IA2 e anti- transportador de zinco). Um modo mais simples de predizer o DM 1A é a expressão de dois ou mais dos quatro anticorpos caracterizados bioquimicamente. JOVEM COM GLICEMIA AO ACASO DE 148 MG/DL.DIABÉTICO? Segundo normas da Sociedade Brasileira de Diabetes e da American Diabetes Association, o diagnóstico de DM1 ocorre com glicemia de jejum maior ou igual a 126 mg/d, glicemia ao acaso ou após sobrecarga oral de glicose igual Gabriela Reis Viol 3 ou maior que 200 mg/dl ou HbA1c > igual a 6,5%. QUAL O PACIENTE QUE INSPIRA MAIOR PREOCUPAÇÃO: PACIENTE COM GLICEMIA DE 430 MG/DL OU PACIENTE COM GLICEMIA DE 300 MG/DL E COM HÁLITO CETÔNICO? Apesar de ambos apresentarem hiperglicemia, a presença de hálito cetônico indica que o paciente está produzindo corpos cetônicos (acetoacetato, beta-hidroxibutirato ou acetona), que são exalados e produzem o hálito característico ecom risco de acidose metabólica. Por isso, neste caso, o paciente com glicemia menor, mas com cetose preocupam mais porque geralmente estão mais graves em relação à insulinopenia. SINAIS E SINTOMAS NO INÍCIO DA FASE CLÍNICA DO DIABETES MELITO DO TIPO 1A (DM 1A): O DM 1A manifesto geralmente se desenvolve dentro de meses. Durante este período há dificuldade de percepção dos sintomas, podendo ele ser suspeitado por enurese, poliúria discreta e esporádica e, eventualmente, redução na velocidade de crescimento. Entretanto, na maioria das vezes, o diagnóstico não é feito nesta fase inicial, havendo aumento progressivo do volume de diurese, que culmina com desidratação e acidose. Há formação de corpos cetônicos (cetogênese), que pode evoluir até para um quadro de cetoacidose diabética (CAD). TODO PACIENTE APRESENTA CETOACIDOSE DIABÉTICA NA PRIMODESCOMPENSAÇÃO DO DIABETES MELITO DO TIPO 1A (DM 1A)? Não. Sabe-se que nos países industrializados 20% a 40% dos pacientes com menos de 20 anos de idade se apresentam em CAD no diagnóstico. A CAD ocorre especialmente com os lactentes, pela dificuldade de se perceber a poliúria e polidpsia pelo uso das fraldas e pelo quadro geralmente mais agressivo. FIS IOPATOLOGIA DOS SINTOMAS DA CETOACIDOSE DIABÉTICA: A deficiência de insulina não consegue bloquear a produção hepática de glicose assim como não consegue promover a captação periférica da mesma. Fatores estes que levam a hiperglicemia, agravada pela gliconeogênese mantida através do aporte de aminoácidos e ácidos graxos livres (proveniente do aumento da lipólise). Quando a hiperglicemia ultrapassa a capacidade de reabsorção tubular renal de glicose, há glicosúria, com consequente diurese osmótica, caracterizada por poliúria. Estas são seguidas de desidratação e polidpsia. A lipólise periférica ativada, por falta de inibição da lipase lipoproteica pela insulina, aumenta o aporte de ácidos graxos livres ao fígado, onde são transformados em corpos cetônicos (acetoacetato, 3-β-hidroxibutirato e acetona), provocando o quadro de cetose, com náuseas, vômitos, dores abdominais, musculares e cetonúria. A des idra tação , assoc iada à fa l t a de tamponamento dos radicais ácidos provenientes d a d i s s o c i a ç ã o d o s á c i d o s o r g â n i c o s (acetoacetato e 3-β-hidroxibutirato) pelos mecanismos de tamponamento do organismo, provoca a acidose, além de estimular a secreção dos hormônios contra regulares insulínicos: epinefrina, glucagon, cortisol e hormônio de crescimento, que colaboram para perpetuar o distúrbio metabólico. CRITÉRIOS PARA O DIAGNÓSTICO DE CETOACIDOSE DIABÉTICA: • Glicemia >250mg/dl; • pH arterial < 7,3; • bicarbonato sérico <15 mEq/L; • cetonemia ou cetonúria. OBJETIVOS GERAIS NO TRATAMENTO AMBULATORIAL DO DIABETES MELITO DO TIPO 1 (DM1): O objetivo teórico do tratamento no DM1 é conseguir o retorno das funções metabólicas para o mais próximo do normal possível e evitar complicações sérias da terapêutica, como períodos de hiper e hipoglicemias sintomáticas. Entretanto, o tratamento deve também ter objetivos mais globais, tais como Gabriela Reis Viol 4 manutenção de um crescimento e desenvolvimento normal nas crianças e adolescentes, manter os parâmetros de glicemia, HbA1c, lipídios e pressão arterial para prevenção das complicações crônicas micro e macroangiopáticas da doença. Deve-se buscar também uma boa integração da rotina do diabetes na família, na escola e nas atividades profissionais e recreativas do indivíduo. PRINCÍPIO GERAL NA ABORDAGEM DO INDIVÍDUO COM DIABETES MELITO DO TIPO 1A (DM 1A): O princípio geral no tratamento dos indivíduos c o m D M 1 A é c o n s e g u i r u m a e q u i p e multiprofissional, que inclui: médico, enfermeira, nutricionista, educador físico, psicóloga entre outros profissionais, que juntos procuram individualizar a terapêutica. Neste sentido é desenvolvido um plano de dieta, um plano de atividade física e exercício, o esquema de insulina, treinamento para automonitoração da glicemia e suporte para os familiares. As orientações básicas são fornecidas nas primeiras consultas e vão evoluindo com o acompanhamento, crescimento e desenvolvimento da criança e do adolescente. Consideramos que as orientações e os hábitos adquiridos nos primeiros meses de tratamento são muito importantes para o paciente em toda a história natural do diabetes. Um ponto que deve ser reforçado em todas as fases do tratamento é que, no momento, o diabetes não é curável, porém controlável. SUGESTÕES PARA ESTABELECIMENTO DE UM PLANO ALIMENTAR INICIAL PARA UM INDIVÍDUO COM DIABETES MELITO DO TIPO 1A (DM 1A): O estabelecimento do plano deve levar em consideração a idade, a fase de crescimento e desenvolvimento, o índice de massa corpórea, o esquema de tratamento com insulina utilizado, a frequência e o tipo de exercícios realizados, o es t i lo de v ida , o n íve l in te lec tua l e socioeconômico, o grupo étnico, entre outros fatores. Como participante da equipe multidisciplinar, a nutricionista, após discussão com os outros membros da equipe, estabelece um plano alimentar que deve ser reavaliado a cada três a seis meses nas crianças e entre seis e 12 meses nos adolescentes e jovens. PRESCRIÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA NESSES INDIVÍDUOS: A atividade física é um instrumento dentro da terapêutica mas, como qualquer outro tratamento, deve ser bem compreendida e avaliada antes de ser aplicada. Do ponto de vista prático, isso significa que a equipe multiprofissional necessita estar apta para analisar os riscos e os benefícios da atividade física para aquele paciente em particular. Nesse sentido esta equipe não deve ficar limitada ao médico, enfermeira, nutricionista e psicóloga, sendo importante a participação também de um profissional com formação em fisiologia do exercício. Para os pacientes com DM1 recomenda-se cerca de 30 minutos de atividade física moderada na maioria dos dias da semana e antes da prática do exercício fazer a glicemia capilar. O ajuste dos esquemas terapêuticos permite uma participação segura em formas de atividade física consistentes com o estilo de vida, com a cultura e com a fase do diabetes em que o paciente se encontra. DCCT (DIABETES CONTROL COMPLICATION TRIAL). O DCCT foi o estudo randômico e controlado mais longo já realizado sobre a relação entre o controle intensivo da glicemia e a prevenção primária e secundária das microangiopatias no DM1. Foram estudados 1.444 pacientes DM1 com dois modelos de tratamento insulínico: convencional (uma a duas aplicações diárias de insulina) e intensivo (múltiplas doses: três a quatro doses ou bomba de infusão de insulina). Ele demonstrou de maneira inequívoca que o tratamento insulínico intensivo diminui em torno de 48% a 70% as diversas complicações microvasculares comuns aos pacientes DM1. Gabriela Reis Viol
Compartilhar